ESCS/FEPECS – SES DF KERNICTERUS Caso Clínico Giselle Ma Araújo Felix e Vivian Gabrielle B. Amorim Coordenador: Dr. Paulo Margotto RELATO DE CASO HISTÓRIA CLÍNICA Identificação: RN de Maria do Carmo Alves de Jesus, com 84 horas de vida, masculino, natural de Brasília e procedente da Unidade Mista de São Sebastião (UMSS). Queixa principal: Icterícia hoje. 28/02/06 RELATO DE CASO HISTÓRIA CLÍNICA História da doença: Mãe relata que notou o surgimento de icterícia e recusa alimentar hoje. Criança não mama em seio materno há 6 horas. Nega febre. Procurou a UMSS onde foram realizados os seguintes exames: RELATO DE CASO BIOQUÍMICA: HEMOGRAMA: Ht Hb LEU Seg Bast Mono Plaq 37,1 12,0 9.200 55 0 5 277.000 BT BD BI 57,0 4,2 52,08 NEUTRÓFILOS: NT NI I/T 5060 (N) 0 (N) 0 (N) RELATO DE CASO HISTÓRIA CLÍNICA Antecedentes: Mãe de 34 anos, O +, realizou 5 consultas de pré-natal. Nascimento de parto normal, no HRAS, em 25/02/06, com IG: 39sem + 5d (Capurro). Alta hospitalar com 2 dias, em boas condições clínicas. Peso: 2970g Est.: 49 cm PC: 35 cm Apgar: 9/10 RELATO DE CASO HISTÓRIA CLÍNICA Exame físico: REG, corado, mucosas secas, leve taquipnéia, ictérico 4 +/4 + ( Zona IV), hipoativo, com hipertonia. Fontanela anterior: plana. AR: MVF s/ RA. FR: 68 ipm. ACV: RCR, em 2T, BNF, s/ sopro. Pulsos presentes. FC: 150 – 160 bpm. Abdome: globoso, flácido, s/ VMG, RHA presentes. Perfusão regular. RELATO DE CASO ZONAS DE KRAEMER ZONA 1 2 3 4 5 MÍN. 4,3 5,4 8,1 11,1 >15 MÁX 7,8 12,2 16,5 18,3 ----- MÉDIA 5,9 8,9 11,8 15,0 ----- Margotto, P: Assistência ao recém- nascido de risco. RELATO DE CASO HISTÓRIA CLÍNICA Hipóteses diagnósticas: RNT/ AIG Icterícia. Kernicterus ? Incompatibilidade por subgrupos? Distúrbio metabólico ? Deficiência de glicose 6fosfato ? Esferocitose ? RELATO DE CASO HISTÓRIA CLÍNICA Conduta: Dieta zero. Expansão com SF 0,9%: 20ml/kg. HV 120ml/kg/dia – TIG 4 Colhido: tipagem sangüínea, bilirrubinas, eletrólitos e reticulócitos. Exangüíneotransfusão (ET). Contactado com a cirurgia pediátrica para dissecção venosa. RELATO DE CASO GASOMETRIA pH: 7,34 pO2: 57,8 pCO2: 23,9 HCO3 : 15,8 RELATO DE CASO EVOLUÇÃO 01/03/06: Radiografia para visualização do cateter. ET, 480 ml, sem intercorrências. Fototerapia qúadrupla (2 Azuis/ Halogenas). Dieta zero e HV 120ml/kg/dia – TIG 4. RELATO DE CASO EVOLUÇÃO RELATO DE CASO EVOLUÇÃO 01/03/06: Criança evoluiu com choro neurológico, opistótono e hipertonia global, afebril, diurese de 2,8 ml/kg/h, Sat O2 =92%, FC: 170 bpm e FR: 48 ipm. Convulsão ? Fenobarbital: ataque 20ml/kg e, depois, 5 mg/kg. RELATO DE CASO EVOLUÇÃO 02/03/06: 0 Criança evoluiu com febre (38,2 C) e melhora dos sinais vitais e da saturação. Desmame da fototerapia. Amamentação. RELATO DE CASO EVOLUÇÃO 03/03/06: 0 Criança persistiu com febre ( 38,1 C) e hipertonia e bons sinais vitais. Transferida para ALCON. RELATO DE CASO EVOLUÇÃO 04/03/06 a 10/03/06: Criança evoluiu com muita sonolência e sucção débil ( Sonda oro-gástrica). Apresentou um episódio de apnéia (?) durante o teste do pezinho e 2 episódios de apnéia devido a sedação (Midazolam) para a realização da RNM, impossibilitando a realização deste exame. RELATO DE CASO Exames laboratoriais (Hemograma): 28/02 01/03 06/03 LEU 7600 17400 16400 Seg 75% 83% 61 Bast. 01 01 03 Linf. 18 13 35 Mono 04 - 01 Eos 01 02 - Retic. 4,2% 2% - Hb 12,8 11,7 12,8 Hto 37,6 32,9 36,2 Plaq 265000 106000 99000 RELATO DE CASO EVOLUÇÃO Neutrófilos: 01/03/06 NT NI I/T 28/03/06 NT NI I/T 5.776 (N) 76 (N) 0,013 (N) 14.616 174 (N) 0,011 (N) 06/03/06 NT NI I/T 10.496 492 (N) 0,046 (N) RELATO DE CASO Bioquímica: TGO/TGP BIL 28/02 01/03 02/03 06/03 54/14 46/24 - - 19,9 BD = 2,9 9,6 BD = 5,5 57,0 27,8 BD = 4,92 BD = 3,0 Na 146 - 143 137 K 4,8 - 4,9 4,9 Cl 110 - 109 104 Mg 2,0 - 2,0 - RELATO DE CASO EVOLUÇÃO Sorologias maternas: Toxoplasmose: Negativo. Chagas: Falta reagente. CMV: IgG: 65 UI/ml e IgM: Negativo. Rubéola: Falta reagente. Recebeu alta hospitalar no dia 17/03/06, em boas condições clínicas e mamando em seio materno com retorno previsto para 22/03/06. KERNICTERUS Ressonância Magnética RN a termo (39semanas, 5dias);84 hs de vida. Deu entrada na EM de Pediatria com 84 hs-Bilirrubina de 57mg%-Opístótono Hipertonia. Exsanguineo (2)-Deficiência de glicose 6 fosfato? (Paulo R. Margotto/HRAS-junho de 2006) KERNICTERUS DEFINIÇÃO É uma síndrome neurológica resultante do depósito de bilirrubina não-conjugada nos gânglios da base e diversos núcleos do tronco cerebral. A BI atravessa a barreira hematoliquórica do neonato. Maior predisposição: hipoglicemia, acidose, hipotermia hipóxia, infecção, hipoalbuminemia, drogas (benzoatos, ceftriaxona, sulfixazol, ibuprofeno). KERNICTERUS EPIDEMIOLOGIA Muito comum em 1940 e 1950 em associação com a eritroblastose fetal e doença hemolítica ABO. Surgimento da exsanguíneotransfusão. Introdução da imunoglobulina Rh e fototerapia. KERNICTERUS FISIOPATOLOGIA Regiões mais afetadas: núcleo subtalâmico e o globus pallidus, hipocampo, corpos geniculados, colliculus inferior, oculomotor, vestibular, coclear, núcleos olivares inferiores, cerebelo (núcleo denteado e vermis). – relação com o consumo de O2 Alves Filho N, Trindade Filho O, Miranda LEV, Miranda SBM (eds): Clínica de Perinatologia – Neurologia Perinatal. KERNICTERUS FISIOPATOLOGIA KERNICTERUS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Fase inicial: Leve estupor ( letargia, sonolência). Leve hipotonia, pobreza de movimentos. Sucção pobre, leve choro estridente. Alves Filho N, Trindade Filho O, Miranda LEV, Miranda SBM (eds): Clínica de Perinatologia – Neurologia Perinatal. KERNICTERUS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Fase intermediária: Estupor moderado: irritável. Tônus variável, geralmente aumentado, alguns com retrocolo-opistótono. Alimentação mínima e choro estridente. Alves Filho N, Trindade Filho O, Miranda LEV, Miranda SBM (eds): Clínica de Perinatologia – Neurologia Perinatal. KERNICTERUS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Fase avançada: Estupor profundo a coma. Tônus geralmente aumentado; retrocolo-opistótono pronunciado. Sem alimentação, choro histérico. Alves Filho N, Trindade Filho O, Miranda LEV, Miranda SBM (eds): Clínica de Perinatologia – Neurologia Perinatal. KERNICTERUS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Fase crônica: Anormalidades extrapiramidais: atetose. Anormalidades no olhar: olhar fixo para cima. Distúrbios intelectuais: retardo mental. Após período de aparente melhora KERNICTERUS DIAGNÓSTICO Ultra-sonografia transfontanelar A B Em (A), hemorragia subependimal. Em (B), com 50 dias de vida, hiperecogenicidade bilateral e simétrica em ambos globos pálidos (setas) KERNICTERUS DIAGNÓSTICO Manifestações clínicas Ressonância magnética: Sinal, simétrico, bilateral, de alta intensidade no globus pallidus, hipocampo e tálamo. KERNICTERUS DIAGNÓSTICO Ressonância magnética: Margotto, P: Neuroimagem no Kernicterus KERNICTERUS Bili-Mapa: Buthani e cl (1999):) Margotto, P: Assistência ao recém- nascido de risco. KERNICTERUS TRATAMENTO Fototerapia - indicações RN a termo, saudáveis, >2500g ao nascer, sem doença hemolítica Horas de Vida BI 24 – 48 h > 15 > 48 h > 18 KERNICTERUS RN < 2500 g ao nascer Peso (g) < 1500g 15001-2000 2001-2500 24-48h 6 8 12 72-96h 8 10 14 > 96 h 8 10 14 Fototerapia Precoce: RN < 1000g – BI de 5 – 6 mg% Fototerapia de alta intensidade: bilirrubina 1 –2 mg% dentro de 4 – 6 h. Dose mínima: 4 w/cm2/nm KERNICTERUS TRATAMENTO KERNICTERUS Fototerapia Luz branca x Luz azul Biliberço: Irradiância: 19 w/cm2/nm D Carvalho: Luz fluorescente branca bilibranket (fototerapia de fibra ótica): Colchão luminoso (25 e 60 w/cm2/nm) - coadjuvante Bilispot (25 – 35 w/cm2/nm) - RN < 2500 g RN maiores duas lâmpadas (halos tangenciais) KERNICTERUS TRATAMENTO Exsanguíneotransfusão (ET): 2 volemias – substituição de 85% das hemácias sensibilizadas – reduz 50% da bilirrubina. Procedimento invasivo e sujeito a complicações (arritmias, assistolias, tromboses, embolias, sepse, hemorragia, hipoglicemia, hipocalcemia, ECN, anemia tardia) mas seguro (mort.< 1%) Usar fototerapia de alta intensidade antes da ET RN com Kernicterus: Remover bilirrubina do cérebro minimizando a lesão neurológica irreversível KERNICTERUS ET – indicações Muito precoce (até 12h de vida): se BI > 5 mg%, ou se BI aumenta + de 0,5 mg%/h, se Hg < 12,5g% e Htc < 40% c/ Coombs +. Precoce ( até 24h de vida): BI aumenta + q 0,5 mg%/h Horas de Vida BI < 12 h > 10 < 18 h > 12 < 24 h > 14 KERNICTERUS Tardia – RN c/ peso ao nascer < 2500g Peso ao Nascer Sem Complicação Com complicação Gramas Bilirrubina Indireta (mg%) Bilirrubina Indireta (mg%)* < 1000 g 10 10 1000 – 1249 g 13 10 1250 – 1499 g 15 13 1500 – 1999 g 17 15 2000 – 2499 g 18 17 > 2500 g 22 20 KERNICTERUS Tardia RN a termo: avaliar Idade Gestacional / Peso ao nascer BI > 22 mg% ( AAP: >25 mg%) Se hemólise ou doença, o nível é 20 mg% RN a termo saudável que chega a Unidade com BI > 20 mg% : Fototerapia de Alta intensidade 2 bilispot Nova dosagem de bilirrubina sérica 6 h após KERNICTERUS Abordagem preventiva Bebê ictérico nas 1ªs 24h = dosar bilirrubina Interpretar todos os níveis séricos de bilirrubina de acordo com a idade das crianças em horas. Maior atenção os RN próximo ao termo Avaliar todos os RN antes da alta (em caso de dúvida, dosar bilirrubina). Reavaliar RN c/ alta antes de 72h, 1 a 3 dias depois Seguir normas publicadas para fototerapia e ET BT> 25mg/dl = emergência médica Consulte: Neuroimagem no Kernicterus Autor (s): Paulo R. Margotto Kernicterus, ainda um Desafio Autor (s): Paulo R. Margotto Kernicterus, ainda um desafio (Apresentação) Autor (s): Paulo R. Margotto Obrigada!!!