CASO CLÍNICO NEFROLITÍASE Apresentação:Carla Silveira – Interna Coordenação:Luciana Sugai Hospital Regional da Asa Sul Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS) www.paulomargotto.com.br Brasília, 24 de fevereiro de 2011 • Admissão: 05/02/11 • Identificação: JWSF, masculino, 12 anos, pardo, estudante, natural e procedente de Riacho Fundo – DF • Queixa Principal: “ Dor nas costas há 2 dias” • HDA: Criança refere lombalgia direita há 2 dias, de início súbito,forte intensidade, persistente, com irradiação para quadrante inferior de abdome, associada a vômitos e febre não aferida. Eliminações fisiológicas mantidas. Nega disúria e trauma local. • Revisão de Sistemas: Nega outras alterações • Antecedentes: • • • • • • Condições de gestação, nascimento e desenvolvimento neuropsicomotor não informadas. Aos 4 anos, foi submetido a procedimento invasivo para retirada de cálculo em rim direito. Apresentou cinco internações prévias por quadro de litíase renal, sendo a última há 2 meses. Faz acompanhamento ambulatorial na nefrologia e urologia do HUB. Refere uso recorrente de cefalexina (dose não especificada), porém nega uso crônico de medicamentos. Nega história familiar de nefropatias. • Hábitos de vida: Alimentação normoprotéica e normolipídica. Nega animais domésticos e fumantes domiciliares • Ao exame físico: BEG, eupnéico, hidratado, corado, afebril, acianótico, anictérico ACV: RCR 2T BNF sem sopros AR: MVF sem RA, ausência de esforço respiratório, FR: 20 irpm ABD: flácido, doloroso à palpação de hipocôndrio direito, sem visceromegalias, RHA+, Giordano positivo à direita Ext: bem perfundidas, sem edema SN: sem sinais de meningismo, ativo e reativo Hipóteses Diagnósticas • Apendicite • Pielonefrite aguda • Cistite bacteriana • Nefrolitíase • Conduta: Hidratação venosa (75% Holliday) Ceftriaxona: 2g 1 vez/dia Enema glicerinado Sintomáticos EAS + urocultura Ecografia de trato urinário 05/02 05/02 Ureia 29 Hg 12 Creatinina 0.8 HT 35.2 Na 142 Plaquetas 293.000 K 4.1 Leucócitos 15.500 Cl 106 Neutrófilos 81 EAS CED: 20, numerosos Bastões leucócitos Linfócitos 3 11 05/02- Urocultura: negativa 07/02 - Ecografia: Moderada dilatação pielocaliciana direita, mais evidente nos cálices. Não foram identificados cálculos renais. 09/02 - Encaminhado ao HBB para realização de ureteroscopia. Retorna com TC: presença de ureterolito distal direito com pequena hidronefrose a montante. Cicatriz renal direita NEFROLITÍASE Formação de cálculos • Etapas: • • • • supersaturação urinária nucleação crescimento agregação • Fatores inibidores: citrato, magnésio, proteína de Tamm-horsfall, nefrocalcina, glicosaminoglicanos Composição • • • • • Oxalato de cálcio Fosfato de cálcio Estruvita Ácido úrico Cistina Composição • Oxalato de cálcio: • • • • mais frequente precipitação favorecida por: concentração de cálcio e oxalato, nucleação evitar: redução de oxalato e cálcio na urina, aumento dos inibidores cristais urinários: ovalados • Fosfato de cálcio: • • • • cálculos mistos de hidroxiapatita e carbonato-apatita precipitam em pH alcalino evitar: manter solubilidade urinária , com redução da saturação de cálcio e redução do pH cristais urinários: octaédricos • Estruvita: • hexaidrato de fosfato de magnésio e amônio • aspecto coraliforme favorecida por: concentração NH3 e ph alcalino induzida por ITU ação da urease : • • • Ureia NH3 + CO2 H2O NH4 OH pH urinário H2CO3 + Estruvita e carbonato apatita CO3 • Ácido úrico: • produto do metabolismo das purinas • cálculo radiotransparente induzido por: redução do pH e do volume urinários • • Cistina: • • • cistinúria – doença genética ocorre em pH urinário alcalino cristais hexagonais Condições clínicas relacionadas à Nefrolitíase • Cálculos de cálcio: Causas: 60% - distúrbios metabólicos 20% - idiopáticos 20 % - acidose tubular renal, síndrome má absorção, hiperparatireoidismo, imobilização prolongada, diuréticos de alça • Hipercalciúria Idiopática: • Aumento da excreção de cálcio, na ausência de hipercalcemia • Pode ou não haver hiperuricosúria CAUSAS Aumento primário da absorção intestinal de cálcio, da reabsorção óssea e da síntese de vitamina D Diminuição da reabsorção tubular de cálcio e de fosfato Distúrbios tubulares renais QUADRO CLÍNICO Hematúria macroscópica recorrente ou microscópica intermitente/persistente Dores abdominais vagas ou em flancos Assintomáticos • Hipercalciúria Idiopática - Tipos: • Absortivo: Aumento ingestão Ca aumento transitório da absorção PTH hidroxilação vit D no rim limita absorção Ca intestinal Calciúria normal - aumento da absorção e excreção de cálcio - restrição dietética: calciúria normal - supressão PTH : aumenta calciúria • Hipercalciúria Idiopática - Tipos: • - Renal: calcemia normal e aumento da excreção de Ca no jejum Redução da capacidade tubular em reabsorver Ca Perda crônica Ca: PTH, AMPc urinário, hidroxilação vit D absorção intestinal de Ca, saída Ca do osso Calcemia normal • Acidose tubular tipo I: - redução da acidificação urinária - perda óssea de Ca hipercalciúria - pH urinário alcalino + hipocitratúria + hipercalciúria = Cristais Ca - nefrocalcinose • Diurético de alça: reabsorção de Na e Ca hipercalciúria • Imobilização: perda óssea de Ca e estase urinária • Alterações dietéticas: dieta hiperssódica e hiperprotéica excreção de Ca Condições clínicas relacionadas à Nefrolitíase • Cálculos de ácido úrico: - idiopáticos - quando há redução pH urinário e hiperuricosúria: Doença mieloproliferativa Quimioterapia Erro Inato do Metabolismo Retocolite ulcerativa e ileostomia Condições clínicas relacionadas à Nefrolitíase • Cálculos de oxalato: - absorção de oxalato varia inversamente com a ingestão de Ca - tipos: 1) Hereditária ou primária: • deficiência AGT (peroxissomos hepáticos) = oxalato = litíase, pielonefrite, IRC, doença óssea, nefrocalcinose • deficiência D-gliceratodesidrogenase (enzima mitocondrial) = litíase branda sem IRC • 2) Secundária ou entérica: hiperabsorção intestinal de oxalato por doença intestinal Condições clínicas relacionadas à Nefrolitíase • Estruvita: - bactérias: Proteus, Klebsiella, Pseudomonas, Serratia, Micoplasma - EAS: piúria, bacteriúria, cristalúria • Anormalidades do aparelho urinário: - obstrução funcional ou anatômica = estase e infecção - defeito da acidificação tubular distal como complicação da obstrução Manifestações Clínicas • Sintomas mais frequentes: - dor abdominal ou lombar - hematúria - ITU - crise nefrética: criança maior Investigação • História clínica • Avaliação laboratorial inicial: Avaliação Laboratorial Sangue: eletrólitos, ureia, creatinina, Ca, P, Mg, fosfatase alcalina, ácido úrico, PTH, gasometria venosa Urina: EAS, urocultura, urina 24hs – Ca, P, Mg, oxalato, cistina, Na, citrato, ácido úrico, creatinina Radiografia de abdome USG rins e vias urinárias Urografia excretória Análise química do cálculo Tratamento Geral • Analgesia: dipirona ou morfina • Hidratação venosa • Cateter de Foley: casos de obstrução vesical Tratamentos específico e invasivos • Hipercalciúria idiopática: restrição salina , tiazídicos • Invasivos: - LECO ( litotripsia extracorpórea por ondas de choque) - Ureteroscopia - Nefrolitotripsia percutânea - Cirurgia aberta LOCE ANTES LOCE 1° DIA 2° DIA Ureteroscopia Ureterolitotomia Bibliografia • A litotripsia extracorpórea no tratamento de cálculos urinários em crianças - J. Pediatr. (Rio J.) vol.78 no.5 Porto Alegre Sept./Oct. 2002 • Pediatria Básica – 9 ed. Tomo III- Marcondes • Pediatria, diagnóstico e tratamento – Murahovschi • Tratado de Pediatria – 16 ed. Nelson