Defesa Social
MINAS GERAIS SEXTA-FEIRA, 1º DE JULHO DE 2011 - 8
DIVULGAÇÃO
Secretaria
assume a cadeia
de Boa Esperança
A administração da Cadeia Pública de
Boa Esperança, no Sul do Estado, foi assumida pela Secretaria de Defesa Social (Seds). A
guarda ou custódia dos 80 presos do local
agora está sob a responsabilidade da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). A
função até então era desempenhada pela Polícia Civil, que teve 10 policiais liberados para
retomar suas funções de investigação.
Com a mudança, a cadeia passa à condição
de presídio. A transição é marcada por alterações
na rotina da unidade, como a adoção de uniforme
obrigatório pelos presos e de novas normas de
visitação. Somente terá acesso permitido o visitante que se cadastrar na portaria com documentos
que incluem atestado de antecedentes criminais.
Benefícios
Ressocialização em cena
Presos de Minas ensaiam sua própria
recuperação por meio do teatro
ARA REPENSAR suas histórias pessoais e buscar novos
caminhos, 13 detentos de regime fechado e semiaberto e
outros três em cumprimento de prisão domiciliar ingressarem no grupo de teatro Vida Nova, da Penitenciária José
Maria Alkimin, em Ribeirão das Neves. Desde março de
2010, eles já se apresentaram para mais de oito mil pessoas na Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Os textos são escritos de forma
coletiva e abordam temas como as drogas, direitos humanos, esquizofrenia, ressocialização, bullying e política.
Os "atores" têm feito tanto sucesso que a agenda do grupo está
praticamente toda ocupada até o final do ano, incluindo participação
no show BH pela Paz, previsto para outubro, na Praça da Estação. Os
voos previstos para 2012 são ainda mais altos. A trupe já está inscrita
na Campanha de Popularização do Teatro e no Festival Internacional
de Teatro de Tiradentes.
P
Pré-requisitos
Existem dois pré-requisitos para o detento ingressar no grupo de
teatro Vida Nova. O primeiro é o bom comportamento e o outro, estar
estudando, uma vez que na penitenciária funciona a Escola Estadual
Cesar Lombroso. O incentivo já rendeu frutos. Dois integrantes do
grupo resolveram fazer prova do Enem e hoje cursam as faculdades de
Ciências Contábeis e Turismo.
Estudar é um tema perceptível também no conteúdo das peças. O
idealizador do grupo, Paulo Roberto de Azevedo, cumpriu 19 anos de
prisão e hoje tem prisão domiciliar. Ele continua participando das
apresentações e explica que o grupo faz pesquisas na internet e pede
ajuda a especialistas para escrever os textos. "Na peça sobre esquizofrenia, conseguimos esclarecer muitas dúvidas e mitos sobre a doença,
e isso tem surpreendido as pessoas", conta.
Mergulho
O Grupo Vida Nova teve o apoio do psicólogo Marcelo Arinos
Drummond, referência nacional em Psicologia na atenção básica,
como forma de introduzir subsídios para que eles pudessem repassar
ao público informações sobre sofrimento psíquico e esquizofrenia. Já
a peça sobre drogas enfoca o álcool, a maconha, a cocaína e o crack,
intercalando dramatizações de cenas do cotidiano com relatos de histórias de vida dos próprios atores.
A assistente social Sueli Valéria Ribeiro conta que se emociona ao
conhecer o passado e o presente dos presos por meio das peças. "Isso
me faz acreditar ainda mais na possibilidade de mudança. Não sei mais
quantas vezes assisti aos meninos nesta peça, mas sempre fico tocada,
mesmo que seja um ensaio", revela.
A trilha sonora das apresentações traz músicas compostas e cantadas pelos próprios presos, em que eles falam da própria vida, pedem
um minuto de atenção para refletir e até fazem um apelo, em ritmo de
rap: "Não quero ver você parar em uma prisão".
A maior parte dos integrantes cumpre pena do regime
semiaberto, mas os do regime fechado não são impedidos de participar, obtendo autorização da Justiça para as apresentações feitas fora da unidade prisional.
A segurança da unidade prisional passa a
ser feita por 40 agentes penitenciários, especialmente treinados para atuar na guarda e
escolta de presos.
Para o diretor interino de Segurança Interna
da Suapi, Anderson Leite, a transição fortalece o
papel do Estado na garantia da segurança a toda
a população. "A mudança traz uma série de
vantagens. Melhoria no controle da unidade prisional - em decorrência do aumento do efetivo
qualificado para a função, mais segurança para a
comunidade - devido ao retorno de policiais civis
às ruas e ainda o melhor atendimento às famílias
dos presos custodiados - que passa a ser realizada por uma equipe preparada", enumera.
Procedimento
A intervenção foi realizada por 20 agentes
penitenciários do Grupo de Operações Táticas
Especiais (Gote) e 11 agentes do Presídio de
Alfenas, com a participação da direção de Três
Corações e da segurança interna da Suapi. Os trabalhos foram acompanhados por representantes
do Poder Judiciário, da Prefeitura e das polícias
Civil e Militar.
A direção do Presídio de Boa Esperança foi
assumida por Bruno Tizo Pereira e Breno dos
Reis Megda Marques. Todos os detentos terão
atendimento jurídico, social, odontológico,
médico, psicológico e quatro refeições diárias,
com cardápio supervisionado por nutricionista.
Nos primeiros 30 dias após a mudança, as visitas
ficarão suspensas. A medida faz parte do Procedimento Operacional Padrão (POP), manual que
disciplina os direitos e deveres dos detentos, funcionários e visitantes, adotado em todas as unidades prisionais do Sistema de Defesa Social.
Até o final de 2011 a estimativa é que
outras 25 cadeias passem a ser custodiadas
pela Suapi. "A transferência de responsabilidade dá continuidade ao projeto do Governo do
Estado de transferir para a Defesa Social, até
2014, todas as cadeias que ainda se encontram
sob administração da Polícia Civil", destaca o
subsecretário de Administração Prisional,
Murilo Andrade de Oliveira.
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Presos de Minas ensaiam sua própria recuperação por meio do teatro