22 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, DOMINGO, 20 DE JULHO DE 2014 Polícia ADILSON ROCHA ADVOGADO “Prisão é uma escola de crime” OAB Crítica é de jurista que estará esta semana em Vitória para evento da OAB que vai discutir soluções para sistema carcerário brasileiro Elis Carvalho uristas renomados de todo o Brasil estarão reunidos nas próximas quinta e sexta-feira, em Vitória, com o objetivo de discutir propostas de um novo modelo de execução penal. Para Adilson Rocha, presidente da Coordenação de Acompanhamento do Sistema Carcerário do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o sistema prisional atual funciona como uma “escola de crime”. A TRIBUNA – Qual o maior problema do sistema carcerário brasileiro? E quais seriam as soluções? ADILSON ROCHA – O maior problema é a superlotação, seguido da incompetência dos gestores das unidades. A gestão prisional no Brasil é improvisada. Normalmente os gestores não possuem nenhuma visão que possa solucionar até mesmo os problemas mais simples. Qualquer pessoa vira gestora de unidade prisional. Aliado a isso, temos o absoluto desrespeito aos direitos humanos dentro das unidades. Apenas mantemos os detentos presos, mas isso não resolve o problema. Essa visão já está muito ultrapassada. J > Quais propostas serão debatidas no Congresso Nacional 30 Anos da Lei de Execução? Basicamente pretendemos apresentar propostas e soluções para que aqueles que executam a gestão carcerária das unidades possam melhorar a condição do sistema. > Quais países possuem modelos ideais de presídio? No requisito gestão podemos citar a Argentina. Lá, para que uma pessoa possa ser diretora de um presídio ela tem de fazer curso superior de quatro anos, estudando tudo sobre o sistema prisional. Só após a aprovação nesse curso, ela se torna habilitada para estar em uma direção, por menor que seja a unidade. Já a Alemanha traz exemplos de respeito e direitos humanos nas unidades. O país tem uma execução penal eficaz, envolvendo todas as instituições do Estado. Diferentemente do Brasil, onde pessoas são presas injustamente. > Para grande parte da sociedade, justiça significa prisão. Como seria resolvido isso? Infelizmente ainda vivemos no tempo do olho por olho e dente por dente. A sociedade não quer justiça, ela quer vingança. A justiça, no estado democrático, é a cor- A unidade para menores é uma bomba-relógio. Estando superlotada como está, eu não sei como ainda não explodiu “ FERNANDO RIBEIRO - 28/04/2014 ” TROPA DE CHOQUE pronta para entrar em unidade de internação de menores no Estado e conter rebelião ADILSON ROCHA diz que gestão prisional no País é improvisada. “Qualquer pessoa vira gestora de unidade prisional” reta aplicação da Lei, o que provoca paz social. Que fique claro, executar corretamente as penas não significa soltar qualquer detento. Mas muitos deles não precisavam estar presos e poderiam aguardar seus julgamentos em liberdade. > Acredita em ressocialização nas unidades prisionais brasileiras? Não. Hoje em dia a prisão é uma escola de crime. E isso acontece pela falta de interesse do governo. O governo não tem interesse em mudar o sistema porque isso não dá voto. Eles querem o detento preso e ponto. Mas esquecem que além do preso ser muito caro para o estado, ele sai da unidade para nos violentar com mais força. O sistema humilha a pessoa, o sistema é bruto, acaba com a autoestima, destrói tudo de bom que a pessoa teve um dia. Os detentos no Brasil vivem como animais. Sem contar que ao sair, eles ainda encontrarão dificuldade para con- seguir emprego. É complicado, mas há solução. > Superlotação, rebeliões e fugas nas unidades de menores são uma realidade no Estado. Acredita que elas funcionam como uma bomba-relógio? A unidade para menores é uma bomba-relógio, sim. Estando superlotadas como estão e com a gestão inadequada eu não sei como ainda não explodiu. Provavelmente porque a tortura psicológica e física que eles sofrem diariamente faz com que a autoestima deles fique tão baixa e destruída que eles não conseguem se Detentos vivem como animais. Ao sair, eles encontrarão dificuldade para conseguir emprego. Mas há solução “ ” rebelar de forma mais grave. Mas isso pode acontecer a qualquer momento. O fato é que o estado alimenta e estimula o crime. SERVIÇO 30 Anos da Lei de Execução Penal CONGRESSO > DIAS: Quinta-feira, das 18h às 22h, e sexta-feira, das 9h às 22h > LOCAL: Hotel Golden Tulip > ENDEREÇO: Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, n° 635, Enseada do Sua, Vitória - ES. > I N S C R I Ç Ã O : www.abf.org.br (27) 3232-5606 > ESTARÃO PRESENTES: Gilvan Vitorino, pres. da Comissão de Políticas Criminal e Penitenciária da OAB-ES; e os criminalistas Salo de Carvalho, Thiago de Carvalho e Maíra Fernandes, da OAB-RJ, entre outros. O QUE ELES DIZEM SOBRE O SISTEMA CARCERÁRIO “Ampliar a remissão” “Responsabilização” “Descriminalizar a droga” “Banalização da prisão” “Hoje, o maior problema é a superlotação carcerária. O que agrava essa superlotação é o excesso de presos provisórios. Cerca de metade da população carcerária juridicamente é inocente e grande parte dela poderia aguardar o processo em liberdade. Uma alternativa é ampliar a remissão pelo trabalho e estudo. Alguns estados já possuem remissão pela leitura”. “O sistema carcerário brasileiro vive uma crise sem precedentes. Há vários problemas que precisam ser enfrentados: superlotação, má gestão, corrupção dos agentes penitenciários, violação dos direitos dos presos e omissão dos poderes públicos. Uma alteração que creio ser importante para mudar este quadro é a criação de mecanismos de responsabilização das autoridades públicas pela violação dos direitos dos presos”. “O maior problema é a superlotação carcerária. O sistema prende muito e prende mal. Normalmente as prisões são por tráfico e crimes patrimoniais, enquanto taxas de homicídio crescem. Nossa Lei de Drogas funciona como instrumento de criminalização da pobreza. Precisamos descriminalizar a droga e prender apenas quando necessário, como delitos que representam uma afronta ao bem da vida”. “A superlotação carcerária traz todos os demais problemas. Quanto mais pessoas são presas, menos as unidades carcerárias conseguem oferecer serviços básicos. É a banalização da prisão. A prisão deve ser exceção e não regra. Uma solução seria prestar mais atenção ao egresso do sistema prisional. Pois se não tiverem oportunidades, voltarão para o crime. Thiago de Carvalho, advogado criminalista Maíra Fernandes, advogada criminalista, representante da OAB-RJ Gilvan Vitorino, Presidente da Comissão de Políticas Criminal e Penitenciária da OAB-ES Salo de Carvalho , advogado criminalista