Ventilação Não Invasiva para Síndrome de Angústia Respiratória: Um Ensaio Clínico Randomizado HRAS ESCS Noninvasive Ventilation for Respiratory Distress Syndrome: A Randomized Controlled Trial Jucille Meneses, Vineet Bhandari, Joao Guilherme Alves and Delia Herrmann Pediatrics. 2011 Feb;127(2):300-7 Apresentação: Luciana Meister, Rosenelle Araújo, Suellen Mendes. Coordenação: Paulo R. Margotto www.paulomargotto.com.br Brasília, 12 de abril de 2011 Luciana Meister, Suellen Mendes, Rosenelle Araújo Introdução Uso de ventilação não invasiva tem sido usada com o objetivo de reduzir ventilação mecânica em recém-nascidos (RN) pré-termo e com isso reduzir a incidência de displasia broncopulmonar (DBP); A combinação do uso precoce de surfactante através do INSURE (intubação-surfactanteextubação) seguida por uso de NCPAP (CPAP nasal) reduz o risco de ventilação invasiva e demonstra uma tendência de redução na incidência de DBP. Introdução NIPPV (ventilação nasal com pressão positiva intermitenteVNPPI) é ventilação não invasiva que aumenta os efeitos benéficos do CPAP, combinando-o com inflações, diminuindo a necessidade de ventilação mecânica Pode ser usada de forma sincronizada (SNIPPV) ou não sincronizada A SNIPPV diminui o trabalho respiratório (Aghai e t al); aumenta o volume corrente e o volume minuto em comparação ao NCPAP(Moretti et al); reduz o movimento toracoabdominal assincrônica em comparação co o NCPAP (Kiciman et al) Ensaios clínicos tem demonstrado que o NIPPV diminui as taxas de falha de extubação, sem complicações gastrintestinais adversas em pré-termos comparados com o NCPAP Introdução A iniciação da VM nos primeiros dias de vida é o maior fator para a DBP e as morbidades associadas ao ventilador Kugelman et al e Sai Sunil Kishore et al relataram menor necessidade de intubação nas primeiras 72 e 48 hs com o uso da NIPPV em relação ao usa do NCPAP Objetivos Determinar em RN com Síndrome Angústia Respiratória (SDR) se a VNPPI precoce comparada com CPAP diminuiu a necessidade de ventilação mecânica Metodologia Ensaio clínico randomizado, unicêntrico, de agosto de 2007 a setembro de 2009 no Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e aprovado pelo comitê de ética. Metodologia Critérios de inclusão: RN com idade gestacional de 26 e 33 semanas e evidência clínica de SDR. Critérios de exclusão: anormalidades congênitas importantes; presença de instabilidade cardiovascular; intubação na admissão na UTI; consentimento não fornecido ou recusado; indisponibilidade do ventilador. Metodologia Intervenção RN foram alocados aleatoriamente no grupo do VNPPI e no grupo do CPAP e mantidos por 72h com parâmetros previamente estabelecidos; Foi administrado surfactante na dose de 100mg/kg – tratamento de resgate sendo em seguida extubado; Após extubação retornavam para o grupo alocados inicialmente; Não era admitido crossover entre os grupos antes de 72h; Após 72h foi realizado o desmame VNPPICPAPcânula nasal e CPAPcânula nasal. Metilxantina profilática foi usada em todos os RN. Metodologia Critérios de falha: pH= 7,2 e PaCO2= 60mmHg; Apnéia recorrente, com mais de 3 episódios por hora associada a bradicardia; Episódio único de apnéia que necessitou de ventilação com AMBU; PaO2 = 50 mmHg com fração inspirada de O2 maior que 0,5. Metodologia Desfechos Secundário: duração total de ventilação por tubo endotraqueal; duração total no CPAP; tempo em suplementação de O2; incidência de pneumotórax; Incidência de DBP. Metodologia Outros desfechos: incidência de patência de ducto arterioso; enterocolite necrosante; hemorragia intraventricular graus 3 e 4; retinopatia da prematuridade ≥ estágio 3; tempo para dieta enteral plena; duração da internação hospitalar. Metodologia Tamanho de amostra de 100 RN por grupo: Poder do teste: 80%; Nível de significância (α): 5%. Qui-quadrado ou o teste de Fisher: variáveis categóricas Teste T de Student foi: variáveis continuas com distribuição simétrica Teste de Mann-Whitney: distribuição assimétrica. A análise foi feita de acordo com o princípio da intenção de tratar. Resultados Resultados A tabela 01 mostra características clínicas e demográficas dos dois grupos e não houve diferenças significativas entre os dois grupos Resultados As taxas referentes ao desfecho primário não diferiram significativamente entre os dois grupos. A análise posthoc do desfecho primário mostrou uma diferença significativa entre os grupos de VNPPI e CPAP no período de 24 a 72h e nas crianças com peso ao nascer maior que 1000g. Resultados As taxas referentes aos desfechos secundários não diferiram significativamente entre os dois grupos. Resultados As taxas referentes ao desfecho primário entre os dois grupos que receberam surfactante precoce não diferiram significativamente. Resultados Não foi observada diferença com significância estatística entre os dois grupos com relação aos demais desfechos clínicos ou seja, o VNPPI não traz efeitos adversos adicionais quando comparado ao CPAP. Observe em destaque que o intervalo de confiança contém a unidade e/ou p > 0,05. Resultados RN com peso >1000g tiveram uma significativa diminuição na taxa de falha no grupo do VNPPI quando comparado com os do grupo do CPAP (tabela 2) No grupo do CPAP 18% de RN não necessitaram de intubação e nem de surfactante e no grupo VNPPI essa taxa foi de 19%. Resultados No grupo VNPPI, a ventilação não-invasiva falhou para 25 crianças nas primeiras 72h e 75 RN foram desmamados para o CPAP. Desses 75 RN 44% necessitaram de VM por volta do 13° dia de vida. No grupo CPAP a ventilação não-invasiva falhou para 34 crianças nas primeiras 72h e 66 RN foram capazes de permanecer no CPAP.Desses 66 RN 45% necessitaram mais tarde de VM por volta do 12° dia de vida. A taxa geral de displasia broncopulmonar (DBP) foi a mesma em ambos os grupos. Não foi observada diferença significativa entre os 2 grupos de tratamentos para desfechos respiratórios secundários. Os outros resultados clínicos (efeitos adversos) também não foram diferentes. Discussão No Centro estudado, não houve diferença significativa para a necessidade de intubação e ventilação mecânica (VM) entre os grupos; No entanto, análise posthoc de subgrupos para melhor entendimentio das razões do sucesso /falha usando a ventilaçao nasal nas primeiras 72 hs, foi observado menor necessidade de intubação e VM entre 24 e 72 horas no grupo que recebeu VNPPI; este achado foi semelhante no grupo de RN que requereram surfactante Dentre todos os RN que necessitaram de intubação e VM, 47,5% deles o fizeram dentro das primeiras 24 horas. As primeiras 24 horas de vida é um período crucial para os RN prétermos com SDR (muitos responderam ao suporte respiratório e a terapia cm surfactante Discussão Cerca de 20% dos RN não responderão bem ao suporte ventilatório e surfactante; Há um grupo de “RN doentes” com fatores que podem contribuir com insuficiência respiratória mais progressiva que requer ventilação mecãnica, como:, como: São outros motivos para falha terapêutica e necessidade de VM: Corioamnionite; Reanimação na sala de parto; Sepse precoce; Doença respiratória grave. Discussão Os RN que falharam a ventilação não invasiva nas primeiras 24 horas tiveram um curso respiratório mais severo devido a maior necessidade de cuidado agressivo na sala de parto, com mais suporte respiratório e doses de surfactante, com subsequente mais necessidade de VM.Estes RN possivelmente são mais pronos a atelectasia precoce. Estudo de Moretti et al demonstrou maior sucesso na extubação para SNIPPV (pressão positiva nasal intermitente sincronizada) quando comparado com NCPAP (94% versus 61%) Possível vantagem da SNPPI sobre o CPAP seria o estímulo ao drive respiratório do RN recém-extubado, evitando apnéia e hipercapnia. O relativo sucesso do NIPPV sobre o NCPAP após 24 horas poderia ser devido a: -Melhor mecânica pulmonar e recrutamento alveolar no grupo submetido à VNPPI Discussão O presente estudo demonstrou melhor resultado em RN com peso ao nascer superior a 1000 g(no entanto, o número de RN <1000g e <750g foi muito pequeno) Menor ocorrência de DBP em RN submetidos ao VNPPI em comparação com intubação e VM. No entanto, dois trials multicêntrico randomizados não evidenciaram diminuição da DBP quando foram comparadas as duas estratégias (Avery ME e Van Marter) O trial COIN (Colin Morley) evidenciaram menor dependência de O2 aos 28 dias, mas sem diferenças NA DEPENDÊNCIA DE O2 COM 36 SEMANAS PÓS-CONCEPÇÃO com o uso do NCPAP ao nascer O trial SUPPORT(Surfactant Positive Airway and Pulse Oximetry Randomized Trial) Pressure não evidenciou diferença na morte ou DBP entre os RN submetidos a NCPAP precoce ou surfactante precoce e VM Discussão Ramanathan et al relataram significante redução da DBP (clínica e “fisiológica”) no grupo NIPPV Portanto, os resultados destes estudos evidenciam que a NIPPV é viável e segura e resulta em menor incidência de DBP quando comparado com VM. Bandari et al, relataram significantemente menor incidência de DBP no grupo de RN com peso entre 500-750g (p=0,01), assim como morte/DBP (p=0,01) no grupo submetido a SNIPPV em relação ao NCPAP Kugelman et al relataram significantemente menos DBP no grupo de RN <1500g(15% x 33%-p=0,04) submetido a NIPPV em relação ao NCPAP. O presente estudo não evidenciou diferenças na incidência e severidade da DBP ou na sobrevivência sem DBP para os RN submetidos a NIPPV versus NCPAP.No entanto, neste estudo não Discussão São limitações do estudo Possível viés de seleção; Não-consentimento em 20% da amostra inicial; Exclusão de 18% da amostra inicial por indisponibilidade de ventiladores; Diferença entre taxa de falha do CPAP estimada (baseada em taxas prévias do serviço utilizadas para o cálculo do tamanho da amostra) e encontrada possível erro no cálculo do tamanho da amostra; Troca para outras modalidades de suporte ventilatório após 72 horas. Pontos fortes do estudo: Ensaio clínico randomizado; Conclusão Os resultados do nosso estudo sugerem que a VNPPI é plausível e segura e pode ter efeitos benéficos quando comparada ao CPAP, particularmente para RN com peso ao nascer superior a 1000g. Os autores sugerem estudos adicionais randomizados e controlados com poder adequado para determinar se a NIPPV nos RN <1000g como forma inicial de suporte (iniciado logo após o nascimento) ou após breve intubação e surfactante precoce pode afetar a DBP e desfechos a longo prazo. Consultem: :: Ventilação não invasiva do pré-termo (I Congresso Paraibano de Saúde Materno-Infantil, Campina Grande, 30/3-1/4/2011) Autor(es): Jucille Meneses (PE) Clicar aqui! Consultem também: Ventilação não invasiva: evidências e dúvidas (XX Congresso Brasileiro de Perinatologia, 2224/11/2010, Rio de Janeiro) Autor(es): Guilherme Sant´Anna. Realizado por Paulo R. Margotto Clicar aqui! Ventilação por pressão positiva intermitente nasal no recém-nascido: revisão da literatura e diretrizes baseadas em evidências Autor(es): V Bhandari. Realizado por Alexandre Serafim OBRIGADO Luciana Meister, Suellen Mendes, Rosenelle Araújo, Paulo R. Margotto Ponto de vista: Ventilação não invasiva (ventilação por pressão positiva intermitente nasal) Paulo R. Margotto A ventilação não invasiva (ventilação por pressão positiva intermitente nasal) conhecida no nosso meio como VNI, nada mais é do que a aplicação de uma pressão positiva em um recém-nascido (RN) não intubado. A melhor forma de fazê-lo é através de cânulas binasais. Apesar de existirem mais dúvidas que evidências, as evidências nos orienta a usar a VNI na extubação, principalmente para os RN com peso abaixo de 1500g. Quando possível, usar a VNI de forma sincronizada, principalmente em freqüências de 40/ipm, embora mais estudos sejam necessários para avaliar se estas maiores freqüências não causam efeitos adversos. Para as freqüências de 20 ou menos, parece que a ventilação e as trocas gasosas não diferem muito entre as modalidades. Sabemos as dificuldades em sincronizar estes RN em VNI. Os dados da literatura ainda não dão apoio ao uso da VNI como primeira escolha para o suporte respiratório. Os resultados do estudo de Meneses et al são animadores, principalmente quando a VNI é usada entre 24 e 72 horas e para os RN com peso ao nascer >1000g. Os estudos que demonstraram melhores resultados com o uso precoce da VNI foram aqueles que tinham altos níveis de falha do CPAP nasal. Na prevenção e/ou tratamento da apnéia da prematuridade também não há evidência para esta prática de rotina Assim, a grande indicação da VNI é para diminuir as taxas de falhas de extubação. Metanálise da Cochrane mostra uma diminuição da falha de extubação em 79%, necessitando colocar 3 RN na VNI para evitar uma falha de extubação. Usamos a VNI não sincronizada nos primeiros 3 dias após a extubação nos RN abaixo de 1500g, passando a seguir para o CPAP nasal e posteriormente Hood. O uso prolongado possivelmente poderia acarretar atraso na maturação da deglutição. Os parâmetros que usamos: freqüência respiratória de 20 cmH2O, PEEP de +5cmH2O, Pressão inspiratória máxima de 2 cm a mais da que estava em ventilação convencional (VMC), fluxo:8 l/min, tempo inspiratório de 0,4 segundos, FiO2 a mesma da VMC. Todos os cuidados do RN no CPAP nasal também devem ocorrer com os RN em VNI, estando atendo aos escapes (boca aberta, deslocamento da pronga). Os resultados do estudo Canadian Institute Health Research com previsão de publicação este ano darão mais subsídios a esta prática.