Castigos e
Trabalhos forçados
“A parte da Ordem do Dia que era lida na nossa presença dizia invariavelmente: «Fulano de tal … é castigado em … dias de isolamento (era assim que designavam o castigo na Frigideira), com
dias alternados». A alimentação em dias alternados significava
um dia a pão e água quente e outro dia a pão e água fria. (…) O
castigo na Frigideira consistia, portanto, em isolamento, fome,
asfixia lenta, desidratação, calor sufocante de dia, arrefecimento
brusco de noite e, muitas vezes, espancamentos.”
Gilberto de Oliveira, Memória viva do Tarrafal, Edições Avante, 1987
Os castigos e o trabalho forçado foram duas das armas
mais utilizadas pelos carcereiros do Tarrafal, tentando
assim vergar a resistência dos presos políticos para ali
desterrados.
O isolamento, o segredo, a ração reduzida foram, além
dos espancamentos, prática comum – devidamente ordenada e aprovada pelas cúpulas do regime fascista.
O trabalho forçado, em especial na construção dos próprios abarracamentos do campo de concentração, constituíu outra marca fundamental da política repressiva ali
executada.
Tais circuntâncias somavam-se às condições precárias
das instalações, ao clima difícil e às condições de insalubridade geral da “Colónia Penal”, com o objectivo evidente de aniquilamento moral e físico dos presos.
Excerto das considerações do Eng. Delegado das Obras da Colónia
Penal de Cabo Verde da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais sobre a utilização dos presos nas referidas obras, em
que exprime algumas divergâncias com o director do campo, tendo
em conta que aqueles presos "são elementos caracteristicamente
revolucionários e que têm este dilema - Hoje nós, amanhã vós". No
mesmo relatório, aliás, exprime ainda considerações sobre a "indolência" da mão-de-obra local e sobre as "circunstâncias próprias
da mistura de raças negra e branca". (Relatório n.º 1, de Dezembro de 1936).
Recorte do jornal avante!
de Maio de 1937.
Gravura de Rogério Amaral representando a frigideira.
Tratava-se de um bloco de cimento, construído a cerca de 50 metros fora
do campo, com duas divisões acanhadas de 3 x 3 metros, "contendo
cada uma delas como entrada uma estreita porta blindada de ferro com
um pequeno buraco respiratório na parte superior."
(in testemunho manuscrito de José de Almeida, intitulado "Tarrafal Campo de Suplício e de morte lenta")
Mapa discriminativo dos castigos (oficiais) aplicados aos presos do
campo de concentração do Tarrafal no ano de 1939 - totalizando
985 dias!
Gravura da autoria de Casquilho representando o castigo do arame - "uma prisão-castigo dentro do próprio campo, de pequenas dimensões, que consistia num emaranhado
de arame farpado de onde era impossível sair-se e ali eram metidos durante toda a noite
os presos recalcitrantes às suas brutais ordens." - "foi esta prisão que originou o sobriquete (alcunha) de Manuel dos Arames ao carcereiro fardado de capitão."
(in testemunho manuscrito de José de Almeida, intitulado "Tarrafal - Campo de Suplício
e de morte lenta")
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