As prisões políticas do Estado Novo O Carácter Repressivo do Estado Novo Nos anos 30 do século passado, a Europa conheceu vários regimes conservadores e ditatoriais. Foi a época do Fascismo e do Nazismo. Na Itália, Mussolini impunha o Fascismo. Na Alemanha, Hitler impunha o Nazismo. Em Portugal, Salazar impunha o Estado Novo, um regime inspirado nos ideais fascistas de Mussolini, mas sem os exageros da violência nazi. O regime salazarista impôs-se através de um aparelho repressivo que fortalecia e perpetuava a sua acção, combatendo toda a contestação. Deste aparelho repressivo fazia parte a PIDE, polícia política do regime, apoiada numa vasta rede de informadores que fiscalizava, amedrontava a população e prendia os opositores. O destino dos opositores eram as prisões do regime espalhadas pelo país e nas colónias, onde aqueles eram torturados física e psicologicamente, quando não assassinados. As Prisões Politicas do Regime Prisão do Aljube Prisão de Caxias Prisão de Peniche Prisão da PIDE no Porto A Prisão de Peniche O Forte de Peniche, durante o Estado Novo, converteu-se numa prisão politica de alta segurança. Presos de Peniche Álvaro Cunhal Joaquim Gomes Carlos Costa Jaime Serra Francisco Miguel José Carlos Guilherme Carvalho Pedro Soares Rogério de Carvalho Francisco Martins Rodrigues E muitos outros… Joaquim Gomes Álvaro Cunhal Jaime Serra Francisco Martins Rodrigues A Fuga de Peniche – episódio insólito A 3 de Janeiro de 1960, deu-se a espectacular “Fuga de Peniche", protagonizada por prisioneiros comunistas como Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues. A operação foi organizada internamente por uma comissão de presos e no exterior, por outros dirigentes comunistas. Desenho de Álvaro Cunhal Na data combinada, ao final da tarde, um automóvel parou em frente ao Forte, com o porta-bagagens aberto. Esse era o sinal combinado para que, no interior da prisão, se soubesse que, no exterior, estava tudo a postos para a fuga. O carcereiro foi neutralizado com o emprego de uma anestesia e, com a ajuda de um sentinela – o guarda José Alves – que fazia parte do plano de fuga, os prisioneiros atravessaram o espaço mais exposto do percurso. Do piso superior desceram para o piso inferior com o recurso a uma árvore. Aqui correram para o pano exterior da muralha que desceram com o auxílio de uma corda feita com lençóis, até alcançarem o fosso exterior. Depois tiveram que saltar um muro para chegar à vila, onde se encontravam à sua espera os automóveis que os haviam de transportar para as casas clandestinas onde deveriam passar a noite. Cunhal passou a noite na casa de Pires Jorge, em São João do Estoril, onde ficou a viver clandestinamente durante algum tempo. Álvaro Cunhal Em 1931, com 17 anos, aderiu ao Partido Comunista Português. Estudava então na Faculdade de Direito de Lisboa. As suas primeiras tarefas partidárias foram ligadas à Liga dos Amigos da URSS, ao Socorro Vermelho Internacional e aos Grupos de Defesa Académica. Em 1934, foi eleito pelos estudantes de Lisboa seu representante no Senado Universitário. Teve a seu cargo a reorganização da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP) em Lisboa. Em 1935, foi eleito Secretário-Geral das Juventudes Comunistas e participou no IV Congresso da Internacional Juvenil Comunista, em Moscovo. Começava então a sua vida clandestina . Em1936, passou a integrar o Comité Central do Partido Comunista Português. Desenhos da prisão de Álvaro Cunhal Peniche no dia da Libertação Depois do derrube do regime, a 25 de Abril de 1974, a Prisão de Peniche foi utilizada como abrigo para os retornados das ex-colónias portuguesas da África que regressaram a Portugal quando se deu a descolonização. A prisão de Aljube A cadeia do Aljube foi uma prisão situada na freguesia da Sé, na cidade de Lisboa, Portugal. O estabelecimento prisional recebia presos comuns até o início da década de 1930, quando passou a ser lugar de reclusão de presos políticos do Estado Novo. O cárcere foi fechado em Agosto de 1965. Presos do Aljube Urbano Tavares Rodrigues António Borges Coelho Miguel Torga José Manuel Tengarrinha Luís de Sttau Monteiro Carlos Brito Vasco Granja José Medeiros Ferreira Miguel Torga Escritor português, acusado de defender ideias subversivas, foi preso pela PIDE e colocado na prisão do Aljube. Seria libertado em Fevereiro de 1940. Várias vezes nomeado para o Prémio Nobel da Literatura, tornou-se um dos mais conhecidos autores portugueses do século XX. Luís de Sttau Monteiro Em 1961, publicou a peça de teatro Felizmente Há Luar, distinguida com o Grande Prémio de Teatro. Foi proibida a representação da peça pela Censura. Só viria a ser representada em 1978 no Teatro Nacional. Foi preso em 1967 pela PIDE, no Aljube, publicação das suas peças de teatro. após a “Há homens que obrigam outros homens a reverem-se por dentro… Luís de Sttau Monteiro A prisão de Caxias Começou a ser utilizada como prisão politica em 1936. As condições físicas eram mais toleráveis do que no Aljube, embora existissem celas subterrâneas de castigo. Um irónico acontecimento ocorrido nesta prisão foi a fuga de oito detidos, todos altos funcionários do PCP . Presos de Caxias Albertina Diogo Albina Pato Aida Magro Aida Paula António Manuel Fernanda Tomás Hermínio Inácio Joaquim Gorjão Duarte José Magro Julieta Gândara Luísa Paula Marcos Rolo Antunes Mário Henriques Manuel M. Felizardo Maria Eugénia Varela Gomes Mateus Branco Natália David Nuno Teotónio Pereira Piedade Gomes Virgínia Moura Vítor Serra Lopes «Podem traçar meu corpo à chicotada Podem calar meu grito enrouquecido Para viver de alma ajoelhada Vale bem mais morrer de rosto erguido.» Fuga de Caxias No dia 4 de Dezembro de 1961, oito militantes comunistas evadiram-se do Reduto Norte da prisão de Caxias num carro blindado, perante o olhar impotente dos carcereiros. Realizada em poucos segundos e apenas com recursos do interior da prisão, tratou-se de uma das mais audaciosas fugas dos cárceres fascistas. Com os 8 homens dentro do carro, este arranca em direcção ao portão principal, que não resiste ao embate e cede. Dez segundos depois, o carro está fora da prisão e ruma à auto-estrada, sob os disparos da GNR. Chegados a Lisboa, a viatura é abandonada e os seus ocupantes refugiam-se em casas seguras. Presa em Caxias … Maria Eugénia Varela Gomes 1925 - Nasce em Évora, a 18 de Dezembro, filha e neta de militares. 1949 - O desejo de trabalhar com operários, leva-a para uma fábrica de cortiça no Seixal, mas a experiência é decepcionante devido às limitações impostas ao seu trabalho como assistente social. 1950 - Faz serviço social no Bairro da Boavista, em Lisboa, onde contacta com os meios mais miseráveis dos bairros de lata. 1951 - Casa com o Capitão João Varela Gomes, com quem tem quatro filhos : Paulo, João António, Maria Eugénia e Maria da Luz. 1956 – Dirige o Serviço Social do Hospital de Santa Maria, que é obrigada a abandonar, dois anos depois, devido a um processo disciplinar, por motivos políticos. 1958 - Participa activamente na Campanha eleitoral de Humberto Delgado. 1959 - Envolve-se directamente na Revolta da Sé e acompanha de perto o julgamento e a prisão dos implicados. revolta contra o regime salazarista. As reuniões conspiratórias ocorriam na Sé de Lisboa, com o conhecimento do pároco, o padre Perestrelo de Vasconcelos. Depois de julgados e presos, os implicados são repartidos por Caxias, Aljube, Trafaria e Elvas. 1962 - É raptada e presa pela PIDE, por alegado envolvimento no golpe de Beja. Nova revolta, visando o derrube de Salazar, dirigido pelo Capitão Varela Gomes (sector militar) e por Manuel Serra (sector civil). Tentativa frustrada Quartel de Beja de tomada do É mantida isolada desde Janeiro até Abril, na prisão de Caxias. É submetida à tortura do sono. Permanece presa, em Caxias até 1963. 1963 – É libertada. Liga-se à Frente Patriótica de Libertação Nacional, integrando uma célula onde estava também Jorge Sampaio, entre outros. 1964 – É presente como ré, ao lado do marido, no julgamento dos implicados de Beja. É condenada a dezoito meses de prisão, enquanto João Varela Gomes é condenado a seis anos. «Não participei nem na preparação nem no assalto ao Quartel de Beja, mas estou de alma e coração com o meu marido e os companheiros dele». Logo que alcançou a liberdade, passou a dedicar todas as suas energias à causa dos presos políticos. Funda, com outras personalidades de oposição, a CNSPP (Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos). 1969 - Participa na Campanha Eleitoral pelas listas da CDE e, um ano depois, é novamente presa por uma semana. 1973 - Participa na campanha eleitoral para a Assembleia Nacional. No final de um comício na Sociedade Nacional de Belas Artes, é brutalmente espancada pela policia de choque, juntamente com a filha mais nova. 1974 - Após o 25 de Abril, trabalha com advogados e membros da CNSPP na libertação dos presos políticos, bem como na posterior remodelação desta organização. 2003 – É publicada a obra: M. Eugénia Varela Gomes - Contra Ventos e Marés, uma biografia sob a forma de entrevista, conduzida por Maria Manuela Cruzeiro, do Centro de Documentação 25 de Abril da U. de Coimbra Caxias no dia da libertação O Campo da Morte do Tarrafal A Colónia Penal do Tarrafal, situada no lugar de Chão Bom do concelho do Tarrafal, na ilha de Santiago (Cabo Verde), foi criada pelo Governo português do Estado Novo em 1936. Em 18 de Outubro de 1936 partiram de Lisboa os primeiros 152 detidos, entre os quais se contavam os participantes na revolta de 18 de Janeiro de 1934, na Marinha Grande, e marinheiros que se tinham amotinado a bordo de um navio de guerra no Tejo. O Campo do Tarrafal ou Campo de Concentração do Tarrafal, como ficou conhecido, começou a funcionar em 29 de Outubro de 1936, com a chegada dos primeiros prisioneiros. Grupo de prisioneiros do Tarrafal O campo do Tarrafal foi inspirado nos campos de concentração nazis, que Hitler nessa altura começava a montar na Alemanha. No Tarrafal não havia câmaras de gás, como nos campos de concentração nazis, mas os presos eram submetidos a um regime de morte lenta - por isso ficou conhecido como o «Campo da Morte Lenta». Posto de socorros Cela da Morte Lenta Vista aérea do Campo do Tarrafal O Campo do Tarrafal encerrou em 1954, tendo sido reactivado em 1961, sob a denominação de Campo do Chão Bom, para receber prisioneiros oriundos das colónias portuguesas. Testemunhos do Tarrafal «Na Achada Grande do Tarrafal montou o governo fascista o campo de concentração. Na Achada Grande há pântanos, mosquitos e paludismo. Era a zona mais temida pela gente de Cabo Verde. Na ilha que o mar guardava melhor que o arame farpado e as armas dos carcereiros, o mosquito seria um executor discreto. Sem possibilidade de ferver a água inquinada, sem mosquiteiros, sem medicamentos, com má alimentação, trabalhos forçados, espancamentos, semanas na «frigideira», todas as resistências orgânicas se desmoronavam abrindo caminho fácil ao paludismo.» «As mortes dos antifascistas no Tarrafal foram premeditadas. Tão claro era o objectivo que o director do Campo não o escondeu. Afirmou-o para que todos os presos soubessem a que estavam destinados.» «E muitos morreram e lá ficaram no cemitério que tão perto estava do Campo» “Quem vem para o Tarrafal, vem para morrer…” Presos do Tarrafal Bento Gonçalves Joaquim Amaro Francisco Miguel Jaime de Sousa Sérgio Vilarigues Joaquim Montes Manuel da Costa António Guerra Joaquim Marreiros Bento Gonçalves Bento António Gonçalves nasceu a 2 de Março de1902, em Trás-os-Montes, e morreu em 1942 , no campo de concentração do Tarrafal, vitima de biliosa. Bento viria a filiar-se no PCP em 1928. Em 1935 foi preso no Arsenal da Marinha. Em 1936 foi enviado para o Tarrafal Sérgio Vilarigues Sérgio Vilarigues, militante comunista, foi um dos poucos sobreviventes do campo de concentração do Tarrafal. Integrou o grupo dos primeiros presos enviados para o Tarrafal em 1936. Saiu do Tarrafal em 1940. A “Frigideira” A frigideira era uma caixa de cimento com uma forma rectangular. O tecto era uma placa de betão. Uma parede dividia-a interiormente em 2 celas quase quadradas. Cada uma tinha uma porta de ferro. O percurso de uma parede a outra de cada cela era de 4 passos. Estava exposta ao sol de manhã à noite. A luz e o ar entravam com muita dificuldade pelos buracos na porta e em cima pela abertura junto ao tecto. «O sol batia na porta de ferro e o calor ia-se tornando sempre mais difícil de suportar. Íamos tirando a roupa, mas o suor corria incessantemente.» A frigideira teria capacidade para dois ou três presos por cela. «Chegámos a ser doze numa área de nove metros quadrados.» «Lá dentro era um forno.» Presos Políticos que morreram no Tarrafal FRANCISCO JOSÉ PEREIRA ARNALDO SIMÕES JANUÁRIO PEDRO DE MATOS FILIPE ALFREDO CALDEIRA FRANCISCO DOMINGOS QUINTAS FERNANDO ALCOBIA JAIME DE SOUSA ALBINO COELHO MÁRIO DOS SANTOS CASTELHANO RAFAEL TOBIAS AUGUSTO DA COSTA CANDIDO ALVES BARJA ABILIO AUGUSTO BELCHIOR JACINTO FARIA VILAÇA FRANCISCO ESTEVES CASIMIRO FERREIRA ALBINO ANTÓNIO CARVALHO EDMUNDO GONÇALVES ANTÓNIO OLIVEIRA E SILVA MANUEL ALVES DOS REIS ERNESTO JOSÉ RIBEIRO MANUEL DA COSTA JOÃO DINIS JOAQUIM MARREIROS HENRIQUE VALE DOMINGUES ANTÓNIO GUERRA BENTO ANTÓNIO GONÇALVES FRANCISCO NASCIMENTO GOMES DAMÁSIO MARTINS PEREIRA ANTÓNIO JESUS BRANCO PAULO JOSÉ DIAS JOAQUIM MONTES Extinção do Tarrafal A 26 de Janeiro de 1954, o Campo de Concentração do Tarrafal foi encerrado. Em 1962, o Campo de Concentração do Tarrafal foi reaberto, desta vez destinado aos patriotas dos movimentos de libertação das colónias portuguesas, capturados na Guerra Colonial. O Museu da Resistência Hoje, existe no local, o Museu da Resistência destinado a preservar a memória dos tempos em que não havia liberdade. O Fim da Ditadura O Estado Novo foi derrubado no dia 25 de Abril. Os presos políticos foram libertados, pondo fim a anos de perseguições. Membros da resistência antifascista regressaram a Portugal. A reconquista da liberdade de expressão percorreu as páginas dos jornais, a rádio e a televisão. Abria-se o caminho para o regime democrático. A Revolução de Abril Bibliografia MARQUES, A. H. de Oliveira, História de Portugal, das origens ao renascimento, Vol. I. Lisboa, 9 ed. Palas Editores, 1982. MAGRO, José, Cartas da Prisão (1 Vida Prisional), Edições Avante, 1975. Bibliografia http://www.youtube.com/watch?v=2HyjaBR-O0A http://mariamarcelino.tripod.com/migueltorga.htm http://purl.pt/13860/1/miguel-torga.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_torga http://www.dorl.pcp.pt/index.php?option=com_content& task=view&id=535&Itemid=64 http://pt.wikipedia.org/wiki/Fuga_de_Peniche http://www.citi.pt/cultura/politica/25_de_abril/ http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=Bibliotec a http://www.youtube.com/watch?v=DQTZKaeOygs http://www.youtube.com/watch?v=blaxcWTqffE http://www.pcp.pt/avante/20020307/475t1.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_de_Sttau_Mo nteiro http://mariamarcelino.tripod.com/sttaumonteiro.htm Trabalho Realizado por: Diogo Cambeiro nº 13 Francisco Cambeiro nº 15 Ricardo Moita nº 29