Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança CAPITULO I - ACOLHIMENTO 1 Conceituando o acolhimento O acolhimento tem como propósito identificar a população residente e o território de abrangência da unidade básica de saúde, reconhecer os problemas de saúde, organizar a porta de entrada e viabilizar o primeiro contato através da equipe de saúde, humanizando o atendimento e alcançando a satisfação do usuário. Tem como objetivo receber, escutar e oferecer atenção oportuna, eficaz, segura e ética aos cidadãos. A prática do acolhimento fundamenta-se no trabalho integrado, no comprometimento de toda a equipe de saúde, e não apenas de um grupo de profissionais, numa parte do processo de trabalho. O acolhimento não deve ser entendido como um procedimento isolado realizado pela enfermagem ou por parte da equipe, como um mecanismo de triagem, ou como um trabalho na sala de espera da unidade básica de saúde. O acolhimento modifica a lógica do atendimento, por ordem de chegada, na fila de espera da unidade de saúde, por um processo de identificação da clientela em situação de emergência ou de maior risco, priorizando-a para atendimento imediato, procurando, assim, diminuir a possibilidade de agravamento. Viabiliza também o atendimento das demais pessoas de forma organizada e racional, através da atenção agendada e programada. 2 Pactuando os princípios do acolhimento Acolher não é tarefa fácil, uma vez que implica a mudança da cultura organizacional, resultando na quebra das barreiras ao acesso, na agilização do atendimento e na responsabilização por parte das equipes, pela atenção primária da população adscrita às unidades básicas de saúde. Mas, para que a equipe de saúde possa reorganizar a sua prática assistencial e estabelecer novo processo de trabalho, faz-se necessário o desenvolvimento de novas tecnologias em saúde. 1 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Entre elas, encontram-se as tecnologias da gestão da clínica, os protocolos clínicos, a gestão de patologias, a gestão de casos, o prontuário da família e o sistema de informação gerencial – com o intuito de instrumentalizar os profissionais, estabelecendo um conjunto de atividades, desempenhos e fluxos, para a reorganização dos processos de trabalho nas unidades de saúde. Propõe-se também uma mobilização e o estabelecimento de um pacto em prol do acolhimento entre as equipes de saúde, o gestor e o Conselho Local de Saúde, além de outras representações da sociedade civil, com vistas à consolidação de um serviço que prime pelos princípios de solidariedade, equidade e ética social. A acessibilidade é o elemento estrutural do acolhimento e diz respeito à disponibilidade, à comodidade, ao custo e à aceitabilidade do serviço pelo usuário/comunidade. Exemplificando: o serviço está disponível no horário em que o usuário precisa de atendimento? Existe barreira que dificulte/impossibilite o acesso ao serviço? O custo do transporte coletivo é um impeditivo para acessar o serviço? O serviço é aceito pela comunidade? O atendimento é o elemento processual do acolhimento e implica responsabilidade; reconhecimento do problema pelos profissionais; identificação e proteção ao cidadão/família em risco; comunicação entre profissional/equipe e usuário; continuidade pessoal; qualidade da atenção clínica e registros adequados do atendimento (prontuário). Portanto, ao discutir a humanização nos serviços de saúde, há que se analisar os aspectos relacionados à acessibilidade aos serviços e ao atendimento realizado pelos profissionais e pelas equipes de saúde. A humanização deve resultar na quebra ou na minimização das barreiras geográficas, físicas e organizacionais, transformando os ambientes em locais mais acolhedores, racionalizando e otimizando os processos de trabalho, melhorando a comunicação, com vistas à efetivação do vínculo entre o profissional, a equipe, o usuário e a comunidade. 2 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 3 Organizando as formas de acesso e o fluxo do usuário O acolhimento inicia-se com o reconhecimento das pessoas/famílias adscritas à unidade básica de saúde (UBS), num processo de territorialização, identificando os problemas de saúde, as condições sócio sanitárias. Valendo-se do conhecimento da necessidade da população, propõe-se o dimensionamento dos serviços e a organização dos processos de trabalho na UBS. Com o objetivo de organizar as formas de acesso do usuário na UBS, propõe-se didaticamente a classificação em: Atenção à demanda espontânea. Atenção programada. Em qualquer horário, todas as situações de emergência deverão ser atendidas de imediato pela equipe de saúde. As situações que não se caracterizam como emergência deverão ter a queixa avaliada pelo profissional que poderá atendê-lo de imediato, ou agendar uma consulta ou encaminhá-lo para outro ponto de atenção, dependendo da sua necessidade e também da disponibilidade do serviço. Na atenção programada, procurar-se-á respeitar o critério de adscrição da clientela em relação à equipe da ESF, ou seja, o usuário deverá, preferencialmente, ser atendido pelo médico ou pelo enfermeiro de sua área de moradia. 3.1 Atenção à demanda espontânea Tem como objetivo identificar e atender o evento agudo, que exija intervenção imediata. Ao iniciar o atendimento na unidade básica de saúde, um membro da equipe deve fazer uma rápida explanação sobre a organização do serviço, apresentando os diversos serviços oferecidos pela unidade. 3 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança No segundo momento, passa-se a identificar os usuários, sendo solicitado a cada um que explicite qual o motivo de sua procura ao serviço. A identificação deve priorizar inicialmente as gestantes, as crianças e os idosos. Os usuários que têm retornos de consultas/atendimentos agendados, vacinas, curativos, exames, entre outros, devem ser encaminhados para os setores correspondentes. Os usuários que vêm para consulta, por DEMANDA ESPONTÂNEA, devem ser abordados por um profissional para a identificação rápida das queixas e a detecção de SINAIS DE ALERTA. Os SINAIS DE ALERTA sinalizam os casos que apresentam maior gravidade, dentro do pressuposto de que a ausência do atendimento possa acarretar o agravamento do quadro clínico, impondo dessa forma a necessidade imediata da consulta. Portanto, a presença de um ou mais SINAIS DE ALERTA aponta para a necessidade de consulta imediata. Na ausência de SINAIS DE ALERTA, o profissional deve analisar a necessidade do usuário e oferecer um atendimento ou consulta agendada, compatibilizando a disponibilidade do usuário e do serviço. A partir do atendimento, o usuário poderá receber um tratamento sintomático, ou ter a continuidade do tratamento ambulatorial, ou ficar em regime de observação, ou ser internado para tratamento hospitalar, ou ainda ser transferido para tratamento em outro ponto de atenção que o caso requeira. O atendimento à demanda espontânea deverá ocupar as primeiras horas de atendimento do profissional, devendo ser estabelecido o número máximo de consultas para cada profissional. 3.1.1 O atendimento à criança Avaliar a criança conforme a faixa etária: 4 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Até1 mês e 29 dias. 2 meses – 11 meses e 29 dias. 1 ano – 1 ano, 11meses e 29 dias. 2 anos – 5 anos. É importante lembrar que, na criança doente, quanto menor a faixa etária, maior poderá ser o risco de vida. Diante da queixa apresentada pela mãe e da avaliação do profissional de saúde, pode-se identificar os SINAIS DE ALERTA nas crianças de até 5 anos: Sinais de alerta nas crianças de até 5 anos de idade: • Sinais gerais de perigo: não ingesta de alimentos ou líquidos; vômitos incoercíveis; convulsões; letargia e inconsciência. • Queixas respiratórias: taquipnéia; tiragem subcostal; estridor em repouso; batimentos das asas do nariz. • Diarréia: letargia ou inconsciência; olhos fundos; sinal da prega (retorna muito lentamente); sangue nas fezes ou diarréia há 14 dias ou mais; • Febre: febre ou hipotermia (<35,5º C) em crianças menores de 2 meses de idade; rigidez de nuca; petéquias; abaulamento de fontanela. • Ouvido: tumefação dolorosa ao toque da orelha; secreção purulenta no ouvido independentemente do tempo. • Nutrição: emagrecimento acentuado; edema de pés; palidez palmar grave; não conseguir se alimentar. • Outras: pústulas grandes ou extensas e dor à manipulação. Em crianças menores de 2 meses de idade: • Não consegue beber ou mamar. • Vomita tudo que ingere. • Apresentou convulsões. • Está letárgica ou inconsciente. • Respiração rápida (> 60 mrm); 5 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança • Movimentando-se menos que o normal. • Febre (temperatura de 37,5º C ou mais) ou temperatura baixa (< 35,5º C). • Tiragem subcostal, batimentos de asas do nariz. • Cianose ou palidez importante. • Gemidos. • Fontanela abaulada. • Secreção purulenta do ouvido. • Umbigo hiperemiado (área mais extensa) e/ou com secreção purulenta; pústulas na pele; problemas de alimentação ou peso baixo. 3.2 O atendimento a criança por demanda espontânea Aos menores de 2 meses mesmo sem queixa e sem problemas identificados pelo profissional será sempre garantido o atendimento. As crianças de até 5 anos de idade que apresentarem um ou mais SINAIS DE ALERTA deverão ter sua consulta imediata assegurada. Para as crianças que não apresentarem SINAIS DE ALERTA: se houver disponibilidade de consultas de enfermagem ou médica, pode-se atendê-las no mesmo turno, ou então agendar as consultas na puericultura para o médico ou para o enfermeiro. 6 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Usuário procura a UBS Profissional pesquisa o motivo da vinda do usuário a UBS Usuário veio para realização de procedimento (vacina, exame, curativo, inalação, medicamentos, etc) Usuário apresenta um problema e deseja consultar-se Usuário é encaminhado para o setor competente para realização do procedimento Profissional pesquisa a queixa do usuário e realiza a avaliação inicial Profissional realiza o procedimento e orienta o usuário Usuário apresenta sinais de alerta NÃO SIM Consulta médica ou de enfermagem agendada Consulta médica imediata Profissional orienta o usuário para identificação de sinais de alerta ou piora Profissional define a conduta e presta orientações adequadas a cada caso Na identificação de sinais de alerta ou de piora o usuário deve retornar de imediato a UBS Educação em saúde para os usuários/famílias/comunidade Figura 1 – Atenção à demanda espontânea 7 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 3.3 O atendimento a criança por demanda programada Com o acolhimento, procura-se organizar o serviço através da demanda programada, pautando-se não mais pelos eventos agudos, mas pela abordagem dos problemas crônicos e/ou condições crônicas. A Atenção Programada abrange todos os ciclos de vida dos indivíduos/famílias desde o nascimento à velhice – estruturados pelos protocolos e operacionalizados por redes integradas de atenção, com o objetivo de promover a saúde, identificar precocemente e controlar as patologias de relevância, prestar assistência de forma integrada e resolutiva. Para a Atenção Programada, serão destinados atendimentos e consultas agendadas, em cada turno de atendimento, estabelecendo-se o limite máximo de consultas por turno. Os quantitativos de consultas e atendimentos programados deverão ser calculados valendo-se dos parâmetros estabelecidos pelos protocolos do ministério da saúde. O horário destinado para as consultas agendadas será aquele imediatamente após as consultas de demanda espontânea. Os usuários devem ser avisados do seu horário em cartão de aprazamento, evitando o acúmulo de todas as pessoas nos mesmos horários e os longos períodos de espera. A organização do atendimento dar-se-á de acordo com os ciclos de vida: SAÚDE DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DA GESTANTE, DO ADULTO E DO IDOSO. Dar-se-á HIPERTENSÃO, também por patologias DIABETES,TUBERCULOSE E de maior HANSENÍASE, relevância: CÂNCER, TRANSTORNOS MENTAIS, DST/HIV/AIDS, SAÚDE BUCAL E MENTAL. 8 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança ACS identifica e cadastra usuário/família ACS identifica usuário alvo para Atenção Programada e agenda atendimento na UBS Profissional da UBS avalia se o usuário faz parte da população alvo para a Atenção Programada NÃO SIM Profissional orienta o usuário quanto às medidas de promoção à saúde e prevenção de doenças Profissional inscreve o usuário e agenda o atendimento seguindo as diretrizes do protocolo. Profissional realiza o atendimento e procede o registro das ações, conforme as diretrizes do protocolo. Usuário falta ao atendimento? NÃO SIM Equipe de saúde realiza o monitoramento ACS realiza busca ativa e agenda novo atendimento para o usuário Equipe de saúde realiza ações de educação em saúde para o usuário/famílias/comunidade Figura 2 – Atenção à demanda programada 9 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 3.4 A atenção fora do ambiente da unidade básica de saúde Encaminhando a outro serviço: Durante o atendimento, pode-se constatar a necessidade de encaminhamento para outro ponto de atenção. Ex. interconsulta, referenciamento, internamento. Nos casos de emergência, o encaminhamento dar-se-á de forma a salvaguardar a vida do usuário, com ética, segurança e a maior agilidade possível. Vale lembrar que 85% dos casos que procuram uma unidade básica de saúde podem ser resolvidos pela atenção primária. Portanto, deve- se ter todo o cuidado de não transformar a unidade básica de saúde num balcão de encaminhamento para consultas especializadas. Na INTERCONSULTA, o profissional da unidade básica de saúde é responsável pelo cuidado e pode solicitar uma consulta com o profissional especialista, por exemplo, para confirmar o diagnóstico, solicitar uma segunda opinião através do Telessaúde, solicitar exames especializados, entre outros casos. Na INTERCONSULTA, após a consulta com o especialista, o usuário retorna para a unidade básica de saúde, com um plano de cuidado, para a continuidade do cuidado com o profissional da Atenção Primária à Saúde. No REFERENCIAMENTO, o profissional especialista é responsável pelo cuidado do usuário por um período de tempo, e o profissional da unidade básica tem papel auxiliar, porém recomenda-se a permanência do vínculo do paciente à equipe de Atenção Primária. Após o controle da patologia/condição, o especialista deve retornar o usuário para a unidade básica de saúde, com um plano de cuidado, para a continuidade com o profissional da Atenção Primária à Saúde, assinalando o aprazamento, caso haja a necessidade de retorno para o atendimento especializado. 10 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Profissional da UBS encaminha o usuário ao serviço especializado Profissional da UBS estabelece o motivo do encaminhamento Profissional da UBS deseja a confirmação diagnóstica ou terapêutica, ou exames especializados, ou a segunda opinião do especialista Profissional da UBS identifica necessidade de acompanhamento pelo especialista Profissional da UBS solicita interconsulta para o especialista Profissional da UBS solicita o referenciamento para o especialista Profissional especialista realiza interconsulta Profissional especialista realiza o acompanhamento do usuário por um determinado período e procura controlar a doença/condição Profissional especialista retornar o usuário para o profissional da UBS com um plano de cuidados Profissional especialista – ao controlar a doença/condição – retornar o usuário para o profissional da UBS com um plano de cuidados Equipe desenvolve educação em saúde para o indivíduo, família e comunidade Figura 3 – Encaminhamento para serviço especializado 3.5 As visitas, os atendimentos domiciliares e a educação em saúde O Programa Saúde da Família pressupõe uma assistência centrada na saúde e nas necessidades do indivíduo, da família e da comunidade e não 11 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança apenas voltada para a doença e, portanto, visa intervir diretamente nas condições de vida das famílias/comunidade. Desta forma, as visitas e os atendimentos domiciliares são instrumentos importantes na mudança dessa prática, na medida em que possibilita uma ação pró-ativa na identificação dos problemas e, portanto, na promoção da saúde e na prevenção de doenças. O acolhimento deve iniciar com o processo de identificação e cadastramento das famílias no domicílio, pela equipe de saúde, em especial pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS). A identificação e a captação do usuário/família portadora de patologia/condição, pelos profissionais de saúde, deve ser pró-ativa e deve se dar com base na aplicação dos instrumentos do SIAB entre outros. As atividades de educação em saúde devem ser estruturadas e direcionadas à clientela-alvo, para que, gradativamente se tenha uma comunidade mais orientada quanto a responsabilidade para com a saúde e de seus direitos. As atividades de educação em saúde têm como objetivo a mudança positiva e a incorporação de hábitos saudáveis de vida pelos indivíduos/famílias/comunidade. 4 Atribuições dos profissionais na UBS 4.1 São atribuições comuns a todos os profissionais, conforme Portaria Ministerial N°2.488, de 21 de outubro de 2011 I. Participar do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe, identificando grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos e vulnerabilidades. II. Manter atualizado o cadastramento das famílias e dos indivíduos no sistema de informação indicado pelo gestor municipal e utilizar, de forma 12 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança sistemática, os dados para a análise da situação de saúde considerando as características sociais, econômicas, culturais, demográficas e epidemiológicas do território, priorizando as situações a serem acompanhadas no planejamento local. III. Realizar o cuidado da saúde da população adscrita, prioritariamente no âmbito da unidade de saúde, e quando necessário no domicílio e nos demais espaços comunitários (escolas, associações, entre outros). IV. Realizar ações de atenção a saúde conforme a necessidade de saúde da população local, bem como as previstas nas prioridades e protocolos da gestão local. V. Garantir da atenção a saúde buscando a integralidade por meio da realização de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde e prevenção de agravos; e da garantia de atendimento da demanda espontânea, da realização das ações programáticas, coletivas e de vigilância à saúde. VI. Participar do acolhimento dos usuários realizando a escuta qualificada das necessidades de saúde, procedendo a primeira avaliação (classificação de risco, avaliação de vulnerabilidade, coleta de informações e sinais clínicos) e identificação das necessidades de intervenções de cuidado, proporcionando atendimento humanizado, se responsabilizando pela continuidade da atenção e viabilizando o estabelecimento do vínculo. VII. realizar busca ativa e notificar doenças e agravos de notificação compulsória e de outros agravos e situações de importância local; VIII. Responsabilizar-se pela população adscrita, mantendo a coordenação do cuidado mesmo quando esta necessita de atenção em outros pontos de atenção do sistema de saúde. IX. Praticar cuidado familiar e dirigido a coletividades e grupos sociais que visa propor intervenções que influenciem os processos de saúde doença dos indivíduos, das famílias, coletividades e da própria comunidade. X. Realizar reuniões de equipes a fim de discutir em conjunto o planejamento e avaliação das ações da equipe, a partir da utilização dos dados disponíveis. XI. Acompanhar e avaliar sistematicamente as ações implementadas, visando à readequação do processo de trabalho. 13 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança XII. Garantir a qualidade do registro das atividades nos sistemas de informação na Atenção Básica. XIII. Realizar trabalho interdisciplinar e em equipe, integrando áreas técnicas e profissionais de diferentes formações. XIV. Realizar ações de educação em saúde a população adstrita, conforme planejamento da equipe. XV. Participar das atividades de educação permanente. XVI. Promover a mobilização e a participação da comunidade, buscando efetivar o controle social. XVII. Identificar parceiros e recursos na comunidade que possam potencializar ações intersetoriais; e XVIII. Realizar outras ações e atividades a serem definidas de acordo com as prioridades locais. 4.1.1 Atribuições específicas do(a) médico(a) do programa de saúde da família I. Realizar atenção a saúde aos indivíduos sob sua responsabilidade. II. Realizar consultas clínicas, pequenos procedimentos cirúrgicos, atividades em grupo na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações e outros). III. realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea. IV. Encaminhar, quando necessário, usuários a outros pontos de atenção, respeitando fluxos locais, mantendo sua responsabilidade pelo acompanhamento do plano terapêutico do usuário. V. Indicar, de forma compartilhada com outros pontos de atenção, a necessidade de internação hospitalar ou domiciliar, mantendo a responsabilização pelo acompanhamento do usuário. VI. Contribuir, realizar e participar das atividades de Educação Permanente de todos os membros da equipe. VII. Participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da USB. VIII. Acolher a mãe estabelecendo vínculo com a mesma. 14 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança IX. Incentivar aleitamento materno exclusivo até o 6º mês, sempre que possível. X. Detectar risco de desmame precoce. XI. Identificar dúvidas e dificuldades da mãe procurando esclarecê-la. XII. Solicitar agendamento de retornos conforme risco da criança e de acordo com o protocolo. XIII. Preencher o gráfico de peso e estatura nos cartões da criança. 4.1.2 Atribuições específicas do(a) enfermeiro(a) da estratégia saúde da família I. Realizar atenção a saúde aos indivíduos e famílias cadastradas nas equipes e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações e outros), em todas as fases do desenvolvimento humano: infância, adolescência, idade adulta e terceira idade. II. Realizar consulta de enfermagem, procedimentos, atividades em grupo e conforme protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as disposições legais da profissão, solicitar exames complementares, prescrever medicações e encaminhar, quando necessário, usuários a outros serviços. III. Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea. IV. Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS em conjunto com os outros membros da equipe. V. Contribuir, participar, e realizar atividades de educação permanente da equipe de enfermagem e outros membros da equipe. VI. Participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da UBS. VII. Acolher a mãe estabelecendo vínculo com a mesma. VIII. Incentivar aleitamento materno exclusivo até o 6º mês, sempre que possível. IX. Detectar risco de desmame precoce; X. Realizar o 1º atendimento de puericultura, de preferência, até o 5º dia após o nascimento. 15 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança XI. Identificar dúvidas e dificuldades da mãe procurando esclarecê-las. XII. Identificar dificuldades no aleitamento materno. XIII. Realizar visita domiciliar para acompanhamento dos recémnascidos e consulta puerperal. XIV. Identificar os faltosos do programa e solicitar a busca ativa pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS). XV. Encaminhar para administração de vacinas conforme o calendário; XVI. Calcular cobertura vacinal. XVII. Conferir se a mãe realizou ou agendou consulta de revisão puerperal. XVIII. Verificar estado vacinal da mãe e da criança. XIX. Verificar se foi realizado o teste do pezinho, se não, encaminhar a coleta. XX. Preencher o gráfico de peso e estatura nos cartões da criança. 4.1.3 Atribuições do(a) agente comunitário de saúde I. Trabalhar com adscrição de famílias em base geográfica definida, a micro-área. II. Cadastrar todas as pessoas de sua micro-área e manter os cadastros atualizados. III. Orientar as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis. IV. Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea. V. Acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua responsabilidade. As visitas deverão ser programadas em conjunto com a equipe, considerando os critérios de risco e vulnerabilidade de modo que famílias com maior necessidade sejam visitadas mais vezes, mantendo como referência a média de 1 (uma) visita/família/mês. VI. Desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a população adscrita à UBS, considerando as características e as finalidades do trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividade. 16 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança VII. Desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e agravos e de vigilância à saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações educativas individuais e coletivas nos domicílios e na comunidade, como por exemplo, combate à Dengue, malária, leishmaniose, entre outras, mantendo a equipe informada, principalmente a respeito das situações de risco; e VIII. Estar em contato permanente com as famílias, desenvolvendo ações educativas, visando à promoção da saúde, à prevenção das doenças, e ao acompanhamento das pessoas com problemas de saúde, bem como ao acompanhamento das condicionalidades do Programa Bolsa Família ou de qualquer outro programa similar de transferência de renda e enfrentamento de vulnerabilidades implantado pelo Governo Federal, estadual e municipal de acordo com o planejamento da equipe. IX. Realizar a busca dos faltosos ao programa. X. Preencher o cartão sombra para acompanhamento do peso e imunização. É permitido ao ACS desenvolver outras atividades nas unidades básicas de saúde, desde que vinculadas às atribuições acima. 4.1.4 Atribuições do (a) auxiliar de enfermagem da estratégia saúde da família I. Participar das atividades de atenção realizando procedimentos regulamentados no exercício de sua profissão na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc). II. Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea. III. Realizar ações de educação em saúde a população adstrita, conforme planejamento da equipe. IV. Participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da UBS. V. Contribuir, participar e realizar atividades de educação permanente; VI. Colher o Teste do Pezinho. 17 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança VII. Encaminhar a consulta médica ou de enfermagem ao identificar situação de risco. 4.1.5 Do(a) Cirurgião(ã)-Dentista I. Realizar diagnóstico com a finalidade de obter o perfil epidemiológico para o planejamento e a programação em saúde bucal. II. Realizar a atenção a saúde em saúde bucal (promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, acompanhamento, reabilitação e manutenção da saúde) individual e coletiva a todas as famílias, a indivíduos e a grupos específicos, de acordo com planejamento da equipe, com resolubilidade. III. Realizar os procedimentos clínicos da Atenção Básica em saúde bucal, incluindo atendimento das urgências, pequenas cirurgias ambulatoriais e procedimentos relacionados com a fase clínica da instalação de próteses dentárias elementares. IV. Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea. V. Coordenar e participar de ações coletivas voltadas à promoção da saúde e à prevenção de doenças bucais. VI. Acompanhar, apoiar e desenvolver atividades referentes à saúde bucal com os demais membros da equipe, buscando aproximar e integrar ações de saúde de forma multidisciplinar. VII. Realizar supervisão técnica do Técnico em Saúde Bucal (TSB) e Auxiliar em Saúde Bucal (ASB). VIII. Participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da UBS. 4.1.6 Do(a) Técnico(a) em Saúde Bucal (TSB) I. Realizar a atenção em saúde bucal individual e coletiva a todas as famílias, a indivíduos e a grupos específicos, segundo programação e de acordo com suas competências técnicas e legais. II. Coordenar a manutenção e a conservação dos equipamentos odontológicos. 18 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança III. Acompanhar, apoiar e desenvolver atividades referentes à saúde bucal com os demais membros da equipe, buscando aproximar e integrar ações de saúde de forma multidisciplinar. IV. Apoiar as atividades dos ASB e dos ACS nas ações de prevenção e promoção da saúde bucal. V. Participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da UBS. VI. Participar do treinamento e capacitação de Auxiliar em Saúde Bucal e de agentes multiplicadores das ações de promoção à saúde. VII. Participar das ações educativas atuando na promoção da saúde e na prevenção das doenças bucais. VIII. Participar na realização de levantamentos e estudos epidemiológicos, exceto na categoria de examinador. IX. Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea. X. Realizar o acolhimento do paciente nos serviços de saúde bucal. XI. Fazer a remoção do biofilme, de acordo com a indicação técnica definida pelo cirurgião-dentista. XII. Realizar fotografias e tomadas de uso odontológicos exclusivamente em consultórios ou clínicas odontológicas. XIII. Inserir e distribuir no preparo cavitário materiais odontológicos na restauração dentária direta, vedado o uso de materiais e instrumentos não indicados pelo cirurgião-dentista. XIV. Proceder à limpeza e à anti-sepsia do campo operatório, antes e após atos cirúrgicos, inclusive em ambientes hospitalares; e XV. Aplicar medidas de biossegurança no armazenamento, manuseio e descarte de produtos e resíduos odontológicos. 4.1.7 Do(a) Auxiliar em Saúde Bucal (ASB) I. Realizar ações de promoção e prevenção em saúde bucal para as famílias, grupos e indivíduos, mediante planejamento local e protocolos de atenção à saúde. 19 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança II. Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea. III. Executar limpeza, assepsia, desinfecção e esterilização do instrumental, equipamentos odontológicos e do ambiente de trabalho. IV. Auxiliar e instrumentar os profissionais nas intervenções clínicas. V. Realizar o acolhimento do paciente nos serviços de saúde bucal. VI. Acompanhar, apoiar e desenvolver atividades referentes à saúde bucal com os demais membros da equipe de saúde da família, buscando aproximar e integrar ações de saúde de forma multidisciplinar. VII. Aplicar medidas de biossegurança no armazenamento, transporte, manuseio e descarte de produtos e resíduos odontológicos. VIII. Processar filme radiográfico. IX. Selecionar moldeiras. X. Preparar modelos em gesso. XI. Manipular materiais de uso odontológico; e XII. Participar na realização de levantamentos e estudos epidemiológicos, exceto na categoria de examinador. 20 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Inicia-se a Linha de Cuidado da Criança. Acompanhamento do C/D do recém-nascido. Mãe recebe alta e RN não Mãe e RN recebem alta Classificação de Risco Sem risco RN com peso ≥ 2.500 g Consulta médica/enfermagem Avaliação e rotina (médico e enfermeiro) Vacina básica Teste do pezinho Teste da orelhinha Teste do olhinho Suplementação e sulfato ferroso e vitamina A Consulta odontológica 92% da população alvo Primeira consulta na 1ª semana de vida 1º, 2º, 4º, 6º, 9º, 12º, 18º e 24º meses de vida De acordo com o protocolo de vacinação Primeiro exame Primeiro exame. Dependendo do diagnóstico, ré-teste com especialista 4º, 6º, 12º e 25º meses Casa de Apoio à gestante e ao bebe Com risco RN com peso < 2.500 g Serviço de follow-up Consultas de especialidades Exame (apoio diagnóstico e terapêutico) Consultas de atendimento/reabilitação 8% da população alvo RN egressos de UTI (prematuro) De acordo com o diagnóstico e necessidade De acordo co o diagnóstico e necessidade De acordo co o diagnóstico e necessidade Nos casos indicados A partir do primeiro dente Figura 4 – Linha de cuidado da criança até 2 anos de idade. 21 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 5 Primeira Semana de Saúde Integral - 5 dias - 5 ações A “Primeira Semana Saúde Integral” é uma estratégia de atenção a mãe e ao recém-nascido fundamental para a diminuição da morbidade e mortalidade materno-infantil. É um momento especial e de maior vulnerabilidade na vida da mulher e da criança. O pós-parto é um momento de cuidado especial e os serviços de saúde devem organizar-se para garantir esta atenção. Esta estratégia consiste em uma visita do Agente Comunitário de Saúde (ACS) e um profissional de nível superior médico(a) ou enfermeiro(a), em conjunto, até o domicílio da puérpera, na primeira semana pós-parto, para avaliação das condições de saúde da mãe e do recém-nascido. Além da visita à residência da família, faz parte da primeira semana de atenção integral, o bebê ser consultado pelo médico(a) ou enfermeiro(a) da equipe da ESF no máximo até o sétimo dia de vida, caso não apresente sinais de perigo. Durante a visita domiciliar deverá ser avaliado na criança: estado geral, se está ativa, corada, se tem icterícia (pele e mucosas amareladas), cianose (extremidades arroxeadas), febre ou hipotermia, pele (pústulas), se há placas brancas na boca, se está gemente, ou outro sinal de anormalidade; verificar aspecto do umbigo; checar com a mãe/responsável se existem queixas e se as eliminações (fezes e urina) estão normais (as fezes nos primeiros dias são de cor verde-escuras e depois clareiam, ficando amareladas). Observar se bebê está mamando bem. Se observada alguma alteração, adotar conduta segundo critério de classificação de risco. Oportunizar a verificação se o RN já possui o registro civil de nascimento, caso contrário orientar os responsáveis para fazê-lo no cartório mais próximo de sua residência, lembrando da gratuidade deste serviço. Na Unidade Básica de Saúde, se a criança está em bom estado geral, em aleitamento materno e sem queixas, orientar sobre os cuidados com o 22 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança recém-nascido e aleitamento e agendar consulta de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento com 30 dias (puericultura); se há alguma alteração, reavaliar conforme a gravidade da patologia e agendar consulta com Enfermeiro; se recém-nascido de alto risco (prematuro extremo e/ou com patologias graves) providenciar a referência para a Maternidade Escola Santa Mônica em Maceió. Neste caso é importante que a Unidade de Saúde continue o acompanhamento da criança. Faz parte desse primeiro atendimento checar na Caderneta de Saúde da Criança o estado vacinal (ver se foi feita a primeira dose da vacina antihepatite B) e a aplicação da vacina BCG. Se a criança não recebeu a vacina antihepatite B ela deve ser aplicada neste momento. Deve-se checar se o teste do pezinho foi realizado. Se o exame não foi colhido na maternidade, este é o momento para a coleta. Deve-se observar se os testes de emissões otoacústicas (teste da orelhinha) e do reflexo do olho vermelho foram realizados. Se não houver anotação sobre estes exames, realizar o exame do reflexo do olho vermelho neste momento e agendar o teste de emissões otoacústicas. Deve-se avaliar se a criança é de risco ao nascer através das seguintes informações: A Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e a Redução da Mortalidade Infantil sugere os seguintes critérios para identificação do RN de risco: Baixo nível socioeconômico. História de morte de criança menor de 5 anos na família. Criança explicitamente indesejada. Mãe adolescente (< 20 anos). RN pré-termo (< 37 semanas) RN com baixo peso ao nascer (< 2.500g). Mãe com baixa instrução (< 8 anos de estudo). 23 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Sugerem-se os seguintes critérios para identificar o RN de alto risco: RN com asfixia grave ao nascer (Apgar < 7 no 5º min). RN pré-termo com peso ao nascer < 2.000g. RN < 35 semanas de idade gestacional. RN com outras doenças graves. Residente em área de risco; Mãe HIV+. 6 Vigilância à saúde do RN Começa antes de seu nascimento, com a atenção à saúde da mulher e da gestante. O acompanhamento pré-natal iniciado em momento oportuno, com assistência qualificada e humanizada e integração com a atenção de saúde de média e alta complexidade (pré-natal de alto risco, quando necessário), constitui uma rede articulada de assistência para responder às necessidades da gestante e do RN. As seguintes ações devem ser desenvolvidas pelos serviços: Captação precoce e busca ativa para início do acompanhamento pré-natal. Acolhimento imediato para o acompanhamento pré-natal, conforme protocolo e atenção humanizada. Identificação da gestação de alto risco e referenciar para atenção especializada (Central de Regulação), mantendo-se o acompanhamento pela atenção básica. Visita domiciliar / busca ativa da gestante que não comparece às consultas pré-natais. Visita domiciliar no último mês de gestação. Continuidade da assistência até o final da gravidez e o parto, abolindo a “alta do acompanhamento pré-natal”. 24 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Vinculação da gestante à maternidade desde o acompanhamento pré-natal (Lei nº 11.634, 27/12/2007) é dever do serviço de saúde e direito das usuárias; Acolhimento imediato na maternidade, para evitar peregrinação em busca de vaga hospitalar durante o trabalho de parto e/ou urgências, com atraso da assistência. Garantia de transporte pré e inter-hospitalar quando necessário. Garantia de acesso a leitos de alto risco / cuidado intensivo para a mãe e o bebê pela Central de Regulação/Central de Leitos. Atenção qualificada ao parto, já que 98% dos partos no Brasil são hospitalares e mais da metade das mortes maternas e neonatais ocorre durante a internação para o parto. Deve-se considerar não apenas a estrutura hospitalar (equipamentos e recursos humanos), mas também o processo assistencial: acompanhamento adequado do trabalho de parto, utilização do partograma, promoção do trabalho de parto fisiológico evitando-se intervenções desnecessárias que interferem na sua evolução (como ocitocina endovenosa de rotina, restrição ao leito, jejum, entre outras) e assistência adequada na sala de parto. Destacam-se ainda: Direito a acompanhante da gestante e puérpera durante o trabalho de parto e puerpério; Lei Federal 11.108- Lei do Acompanhante; Promoção do contato mãe-bebê imediato após o parto para o bebê saudável, evitando-se intervenções desnecessárias de rotina e que interferem nessa interação nas primeiras horas de vida (estimular o contato pele a pele e o aleitamento materno na primeira hora de vida); Captação após a alta hospitalar - após o nascimento ou internação, com agendamento de atendimento na Atenção Básica. Na maternidade o RN deve receber a Caderneta de Saúde da Criança com registros sobre a história da gravidez e nascimento, Apgar, peso e altura ao nascer, evolução do bebê, intercorrências, procedimentos realizados, condição de alta e recomendações para o seu cuidado no domicílio. Esta é uma ação fundamental para uma boa compreensão 25 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança sobre a condição de saúde do bebê pela equipe de atenção básica ou especializada que dará continuidade a seu atendimento; Identificação do RN de risco, notificação da alta, agendamento de consulta na atenção básica, programação de visita domiciliar e agendamento para o ambulatório de seguimento do RN de alto risco, conforme protocolo local / Ministério da Saúde; Continuidade do cuidado/captação do RN pela atenção básica de saúde que deve ser realizada após atendimento do RN em serviços de urgência ou após alta hospitalar, por meio de agendamento por telefone, pelo envio de cópia/listagem da DNV, por meio de visita domiciliar e outros, para não haver descontinuidade da assistência. As crianças de risco deverão ter prioridade de atendimento e de vigilância. À criança de risco deverá ser garantido consulta com especialistas (pediatria, cirurgião cardiologista, pediátrico, geneticista) e neurologista, ser incluído neurocirurgião, em programa oftalmologista, de reabilitação (fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional). 26 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança CAPITULO II CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 1 Competências das equipes de atenção básica A equipe de atenção básica deverá: Conhecer a população infantil da área de abrangência da Unidade de Saúde ou da Equipe de Saúde da Família para programar e avaliar as ações de saúde (consultas do calendário de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, imunização, práticas educativas, medicamentos, etc.). Garantir a execução do calendário de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento para toda criança da área de responsabilidade da unidade ou equipe de saúde da família. Executar as ações de vigilância à saúde da criança, com busca ativa da criança faltosa na “Primeira Semana de Saúde Integral”, às consultas propostas no calendário de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento e retornos propostos pela equipe, da criança com vacinas atrasadas, da criança que foi hospitalizada. Toda criança até 6 anos de idade deve sair da UBS com a consulta de retorno para acompanhamento de puericultura agendada. Manter continuamente a prática de acolhimento/escuta de toda criança que procura o serviço, com intercorrências, demandas agudas ou de outra natureza, disponibilizando a resposta mais qualificada. Avaliar sinais de risco/perigo/alerta em toda criança que chega à Unidade, no domicílio, ou em instituição de educação infantil (creche, pré-escola) com priorização da criança grave e encaminhamento para atendimento imediato com enfermeiro/médico/urgência ou hospital. Avaliar integralmente a criança, sem restringir o atendimento apenas à queixa apresentada (não perder oportunidades para abordagem global da criança). Avaliar a Caderneta de Saúde da Criança em todas as 27 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança oportunidades, seja nas visitas domiciliares ou nas instituições de educação infantil ou na Unidade de Saúde, verificando a curva de crescimento, avaliação do desenvolvimento e estado vacinal. Se não preenchido adequadamente, pesar e medir a criança, preencher a curva de crescimento e intercorrências, avaliar o desenvolvimento e registrar no local específico e aplicar as vacinas necessárias. Se a criança não possui a caderneta de saúde da criança providenciar a sua entrega e preenchimento. Orientar a família para utilizar a caderneta de saúde da criança no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de suas crianças. Avaliar e observar a mamada quando da presença da criança na Unidade de Saúde, por qualquer motivo, para não haver perda de oportunidades para a prevenção do desmame. Manter funcionamento contínuo da imunização para não haver perda de oportunidades para a vacinação, quando da presença da criança na unidade. Manter funcionamento contínuo do fornecimento de medicamentos disponíveis na unidade para não haver perda de oportunidades e melhorar a resolubilidade da assistência, garantindo a primeira dose do antibiótico no momento do atendimento, quando necessário. Deve ser prioridade de agendamento de consulta: além do RN e puérpera, a criança menor de 01 ano sem acompanhamento, menor de 6 meses que não mama no peito; desnutrido ou criança com ganho de peso insuficiente ou com perda de peso recente sem acompanhamento, egresso hospitalar (prioridade para o < 5 anos); crianças com atendimento frequente em serviços de urgências, criança com asma sem acompanhamento; crianças com vacinas em atraso, criança vítima de violência doméstica, criança explicitamente indesejada, criança com diarréia persistente ou recorrente, criança com anemia, história de desnutrição nas outras crianças da família, criança com sobrepeso/obesidade,mãe sem suporte familiar; família sem renda; mãe/pai/cuidador com problemas psiquiátricos ou portadora de deficiência impossibilitando o cuidado com a criança, mãe/pai/cuidador em dependência de álcool/drogas. As crianças de risco (ao nascimento ou associados ou adquiridos) devem ser priorizadas para o desenvolvimento das ações de vigilância à saúde. É 28 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança obrigação das UBS a captação precoce e busca ativa para a manutenção do calendário de atenção à saúde da criança, segundo proposta de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança menor de 6 anos e segundo protocolos específicos (atenção ao desnutrido, criança com asma, etc.). Além da avaliação da assistência especial com retornos mais freqüentes e outros cuidados que a criança necessite, inclui-se ações intersetoriais (ex: encaminhamento ao Centro de Referência da Assistência Social - CRAS da região para avaliação da família). Observação: Os RN de risco serão acompanhados pelo enfermeiro(a) e médico(a) da microárea, com retornos precoces, dependendo da gravidade do caso. 2 Avaliação da criança 2.1 Anamnese A anamnese inicia-se desde o momento em que a família entra na sala de atendimento, quando pode-se observar alguns dados, como quem traz a criança, a maneira como é carregada e sua relação com seus cuidadores. É importante que a equipe conheça o nome das pessoas que trazem a criança. Referências como "mãe", "mãezinha", "tia" ou outras afins pecam pela impessoalidade, não levando em conta a subjetividade do acompanhante, a qual é fundamental para o estabelecimento de vínculo adequado entre a equipe de saúde e a família da criança. Nas diversas áreas de atendimento, não há acompanhantes, mas participantes da consulta. 2.2 Antecedentes pessoais Realização de pré-natal, idade gestacional de início, número de consultas, intercorrências gestacionais, uso de medicações, álcool ou drogas durante a gestação. 29 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Tipo de parto (indicação e intercorrências), idade gestacional, peso de nascimento e intercorrências neonatais. Agravos pregressos ao longo da vida da criança, idade de aparecimento, evolução e tratamento. 2.3 Antecedentes alimentares Duração do aleitamento materno, motivo do desmame, idade de introdução de outros alimentos. História de intolerância e/ou alergia alimentar. Registro da alimentação atual, com horários, modo de preparo dos alimentos, quantidades oferecidas e aceitas pela criança. 2.4 Antecedentes vacinais Averiguação da caderneta de saúde da criança, anotando-se as datas de aplicação de vacinas e a presença de eventos adversos. 2.5 Desenvolvimento A avaliação do desenvolvimento da criança deve ser realizada durante todo o período de consulta, quando se observa sua atitude, interação com a mãe ou cuidadora e a reação às outras pessoas. Em locais onde crianças são atendidas, é importante a presença de brinquedos ou outros objetos que chamem a sua atenção. É importante registrar as idades em que se iniciaram as principais aquisições e a percepção dos pais quanto ao desenvolvimento global de sua criança (motor, linguagem, socialização, habilidades). 2.6 Condições de vida Características do domicílio: se urbano ou rural, ventilação, insolação, número de cômodos, número de pessoas, presença de saneamento básico, luz elétrica e coleta de lixo. Presença de animais. Local onde a criança dorme. 30 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Grau de escolaridade dos pais e renda familiar. Rotina de vida da criança (quem cuida, horário das principais atividades). 2.7 Antecedentes familiares Idade dos pais e irmãos, profissão, horário de trabalho, antecedentes de consanguinidade, presença de moléstias importantes na família. 2.8 Aspectos psicológicos Buscar identificar a psicodinâmica familiar, planejamento familiar, situações de estresse, afetividade durante a consulta. 2.9 Hábitos Uso de chupeta, mamadeira, caneca, qualidade do sono, higiene. 3 Exame físico 3.1 Exame físico geral O exame físico geral é de suma importância na avaliação clínica do RN. Por vezes traz mais informações que o exame físico especial. Pela simples observação do RN, sem tocá-lo, já se conseguem diversas informações importantes, como a presença de malformações e fácies típicas de algumas síndromes (como trissomias do cromossomo 13, 18 e 21 e síndrome de Pierre-Robin). Sinais de angústia respiratória como gemidos inspiratórios ou expiratórios, batimento de aletas nasais, retrações de fúrcula ou torácica (caso a criança esteja despida), cianose e alteração da frequência respiratória também podem ser observados. A postura do RN, que normalmente é simétrica e fletida, semelhante à fetal, pode estar assimétrica se houver algum transtorno como fratura de clavícula ou membros, paralisia braquial, lues congênita (pseudoparalisia de Parrot), infecções ou comprometimento neurológico. 31 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança O aspecto geral, a atividade, a intensidade do choro, a movimentação e o estado de hidratação são outras informações que devem constar do exame físico geral. O RN apresenta normalmente choro forte, de timbre variável; o choro fraco ou gemência podem estar presentes nas infecções e no desconforto respiratório. Choro monótono, agudo, intermitente (grito cerebral) pode ser encontrado em lesões neurológicas graves. O timbre também pode auxiliar no diagnóstico de síndromes genéticas, como na síndrome do miado do gato (síndrome de Cri du Chat). Essas informações poderão ser obtidas no decorrer do exame físico, não se recomendando provocar o choro de uma criança que se encontra dormindo, apenas para registrar essa importante informação. 3.1.2 Pele A pele apresenta diversas características que devem ser atentamente observadas durante o exame físico do RN. Deve-se avaliar: Textura. Umidade. Cor. Presença de milium. Presença de lanugo. Presença de vérnix. Presença de mancha mongólica. Presença de icterícia. Presença de anomalias. 3.1.2.1 Textura e umidade A textura da pele depende muito da idade gestacional. O RN prétermo extremo possui pele muito fina e gelatinosa, o RN a termo tem pele lisa, brilhante, úmida e fina, e o RN pós-termo ou com insuficiência placentária, pele seca, enrugada, apergaminada e com descamação acentuada. Por esse motivo a textura da pele é um dos parâmetros utilizados na avaliação da idade gestacional. 32 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Nos casos de hipotireoidismo congênito pode-se observar pele seca e áspera. 3.1.2.2 Cor A pele normal do RN apresenta cor rosada, mais evidente nas crianças de pele clara. Crianças filhas de pais negros podem apresentar pele clara no nascimento. No entanto, pode-se detectar nesses RN maior quantidade de melanina nos mamilos, região periungueal, na pele da borda do umbigo e na genitália. Pletora é observada em RN policitêmicos, hiperoxigenados ou com hipertermia. A palidez acentuada pode ser um dado importante para o diagnóstico de anemia (aguda ou crônica), vasoconstrição periférica ou choque traduz situação grave e deve ter sempre investigada a causa de seu aparecimento. A presença de uma linha delimitando um hemicorpo com eritema e outro com coloração normal é conhecida como fenômeno de Arlequim. É uma ocorrência em geral benigna, não muito rara, de causa desconhecida, sugerindo algum grau de instabilidade vasomotora. Figura 5 - Criança apresentando fenômeno de Arlequim A cianose, coloração azulada decorrente da presença de pelo menos 5g de hemoglobina não saturada, é intercorrência relativamente comum no RN, que frequentemente possui níveis de hemoglobina acima de 15g/dL. É comum a presença de cianose de extremidades, que se apresentam frias ao toque. Essa condição costuma regredir com o aquecimento. A cianose central, no entanto, é preocupante e associa-se geralmente com doenças cardiorrespiratórias. 33 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Na vigência de líquido amniótico meconiado, a pele e o coto umbilical podem estar impregnados, apresentando cor esverdeada característica. Alguns achados comuns como presença de milium, lanugo, vérnix e mancha mongólica não têm repercussão clínica. Outros, também comuns, como eritema tóxico, hemangiomas e icterícia devem ser mais bem avaliados quanto ao diagnóstico diferencial e, eventualmente, adoção de medidas. 3.1.2.3 Milium sebáceo Está presente em 40% dos RN. Manifesta-se por pequenos pontos brancos (menor que 1mm), localizados na base do nariz, queixo e região frontal, devido à distensão e obstrução das glândulas sebáceas, decorrentes da ação do estrógeno materno; desaparecem em poucas semanas. 3.1.2.4 Lanugo É a denominação dada aos pelos finos que costumam recobrir a região do ombro e da escápula, encontrados de forma mais abundante nos RN prematuros; desaparecem em alguns dias. Figura 6 - Aspecto do ombro de RN com grande quantidade de lanugo 3.1.2.5 Vérnix caseoso Os RN prematuros entre 34 e 36 semanas costumam estar recobertos por material gorduroso e esbranquiçado, o vérnix caseoso, cujas funções primordiais são a proteção da pele e o isolamento térmico. Esse material pode ser retirado após o estabelecimento do controle térmico, geralmente após algumas 34 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança horas do nascimento. Nos RN a termo a quantidade costuma ser menor, podendo ser observado em locais protegidos como nas dobras dos membros e na genitália feminina, entre os pequenos e grandes lábios. 3.1.2.6 Manchas mongólicas São manchas azul-acinzentadas, localizadas preferencialmente no dorso e nas regiões glútea e lombossacra, podendo ser disseminada; traduz imaturidade da pele na migração dos melanócitos, relacionada a fatores raciais. São mais comuns nas raças negra e oriental e regridem nos primeiros 4 anos de idade. Essa mancha costuma despertar o interesse das mães. Figura 7 - Apresentações diversas de mancha mongólica Deve-se sempre estar atento para não mencionar o nome “mancha mongólica” devido ao estigma que o termo traz, podendo levar a constrangimentos desnecessários. 3.1.2.7 Eritema tóxico Geralmente aparece nos primeiros dias de vida sob a forma de lesões eritematosas multiformes (pápulas, máculas e até algumas vesículas), esparsas ou confluentes. O exame microscópico da secreção contida nas lesões mostra migração eosinofílica. Possui causa desconhecida e pode ser desencadeado por 35 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança estímulos mecânicos de atrito ou pressão na pele. Regride espontaneamente, muitas vezes em poucas horas. Tem aspecto facilmente confundível com o impetigo. 3.1.2.8 Impetigo É a infecção piogênica, mais comumente causada por Staphylococcus aureus. Inicia-se com lesões eritematosas puntiformes que em um ou dois dias evoluem para vesículas, que a seguir se pustulizam ou tornam-se bolhas (impetigo bolhoso). As lesões se propagam por inoculação e, quando se rompem, formam crostas amarelo-acastanhadas. Deve-se tomar cuidado para não contaminar outras crianças próximas. O tratamento pode ser tópico com soluções antissépticas e cremes antibióticos, chegando, nos casos mais graves, a ser necessária antibioticoterapia sistêmica. 3.1.2.9 Máculas vasculares São manchas de cor salmão que desaparecem à pressão, e estão presentes principalmente na nuca, pálpebra superior e região frontal. Não possuem importância clínica ou estética. As máculas de face desaparecem em alguns meses, e as da nuca podem persistir por mais tempo. Estão presentes em 25% dos adultos. 3.1.2.10 Hemangiomas São formas vasculares mais extensas e elevadas que podem ter significado patológico. Por exemplo, quando localizadas em segmento cefálico e face, com coloração vinhosa, podem estar associadas a angiomas das leptomeninges (síndrome de Sturge-Weber), estando relacionadas a convulsões e hemiplegias. Outra eventualidade é a presença de hemangioma cavernoso, composto de elementos vasculares maduros e grandes, que na maioria dos casos cresce durante o primeiro ano de vida, regredindo a seguir. Aproximadamente 50% dos hemangiomas desaparecem até os 5 anos de idade e 70% até os 7 anos de idade. 3.1.2.11 Icterícia 36 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Cor amarelada da pele decorrente de sua impregnação por bilirrubina. É achado comum, especialmente nas crianças com idade entre 48 e 120 horas de vida. Para sua mais fácil detecção o exame deve ser feito sob luz natural. Deve-se descrever a intensidade da coloração amarelada detectada e sua distribuição nos diferentes segmentos do corpo, haja vista a icterícia evoluir no sentido crânio-caudal. A icterícia sempre deve ter sua causa investigada se detectada nas primeiras 24h de vida ou quando apresentar-se de forma intensa. Quando detectada mais tardiamente, após 24h de vida, pode ser fisiológica ou patológica. 3.1.2.12 Equimoses São manchas comuns nos RN, sobretudo nos RN prematuros, e sua localização depende da apresentação e dos traumas sofridos, especialmente durante o parto. Equimose situada na face tem aspecto de cianose localizada e é chamada de máscara cianótica ou equimótica, geralmente sem relevância clínica. 3.1.2.13 Petéquias Localizadas, especialmente se restritas ao rosto, não são motivo de preocupação, mas quando generalizadas devem ser investigadas. A reabsorção do sangue extravasado pode contribuir para o aumento tardio dos níveis de bilirrubina. 3.1.3 Subcutâneo A quantidade de tecido subcutâneo pode ser aferida por meio da prega cutânea, que costuma ter cerca de 1cm nos RN a termo e ser uniformemente distribuída pelo corpo. Essa prega indica o depósito de gordura da criança, assim como o turgor da pele. Esse último, quando firme, está associado ao bom estado nutricional. Crianças emagrecidas podem apresentar turgor frouxo. O turgor pastoso, caracterizado pelo lento retorno do tecido subcutâneo após pinçamento do mesmo, típico de desidratação em crianças maiores, em RN está mais associado à desnutrição ao final da gestação, geralmente por insuficiência placentária. 37 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Na apresentação fetal pode ser observado edema, especialmente nas pálpebras. Nos RN prematuros pode haver edema duro, em membros inferiores e na região genital, que regride em alguns dias (linfedema). Em caso de edema acentuado no dorso das mãos e pés, a síndrome de Turner deve ser considerada. 3.1.4 Gânglios Deve-se procurar palpar todas as cadeias ganglionares: cervicais, occipitais, submandibulares, axilares e inguinais; e descrever o número de gânglios palpáveis, seu tamanho, consistência, mobilidade e sinais inflamatórios. Quando o ambiente não estiver adequadamente aquecido para a criança, a palpação deverá ser realizada à medida em que for feito o exame dos diversos segmentos corporais. Habitualmente o RN apresenta raros pequenos gânglios em torno de 3 mm. Lembrar que nas infecções congênitas pode haver hipertrofia ganglionar. 3.1.5 Mucosas Avalia-se cor, umidade e presença de lesões. O exame da mucosa conjuntival costuma estar prejudicado devido à irritação causada pela solução de nitrato de prata a 1% instilada nos olhos dos RN como medida de prevenção da conjuntivite gonocócica. O exame da mucosa oral é mais apropriado e pode ser feito em detalhes durante o choro da criança. 3.1.6 Musculatura São avaliados o tônus e o trofismo. Um RN normal a termo apresenta hipertonia em flexão dos membros. Em decúbito dorsal apresenta os membros superiores fletidos e os inferiores semi fletidos, cabeça lateralizada e mãos cerradas. O tônus muscular depende da idade gestacional; quanto mais próximo do termo, maior o tônus flexor. O trofismo pode ser averiguado pela palpação do músculo peitoral. Devido ao tônus flexor, quando se faz uma leve extensão do braço o músculo peitoral apresenta-se fácil à palpação. 38 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Considera-se a espessura em torno de 1cm como trofismo adequado. 3.1.7 Esqueleto e articulações Deve-se avaliar cuidadosamente a presença de deformidades ósseas, inadequações de mobilidade e dor à palpação de todos os ossos e articulações do RN. Não é infrequente o achado de polidactilia, especialmente nas mãos, com o dedo extranumerário fixado na face lateral da segunda ou terceira falange do dedo mínimo (autossômico dominante). Outras anomalias como sindactilia (dedos unidos), aracnodactilia (dedos muito longos), clinodactilia (dedos desviados do eixo), agenesias (de rádio, fêmur, tíbia, úmero, etc.) devem ser atentamente procuradas. No exame das mãos, atentar para as pregas palmares. Prega palmar única em ambas as mãos associada à ausência de prega falangiana no 5º quirodáctilo (dedo mínimo) é observada em situações de hipotonia fetal, como na síndrome de Down. A simetria e a adequação da movimentação dos membros devem ser bem avaliadas. Atenção especial deve ser dada à movimentação dos membros superiores, que pode estar comprometida por lesões traumáticas do parto. As paralisias decorrentes do estiramento exagerado do plexo braquial durante o parto podem apresentar-se de formas diversas, a depender do grau e topografia da lesão. O RN fica com o membro superior paralisado, em rotação interna, devendo ser descartadas fraturas de clavícula ou da região proximal do úmero, que podem coexistir com a lesão neurológica ou simulá-la. As lesões neurológicas podem ser leves (neuropraxia) quando o distúrbio motor é devido ao edema da raiz nervosa, e desaparece entre uma e duas semanas, com recuperação completa da função. Felizmente essa é a forma mais comum. Entretanto, quando há ruptura das fibras nervosas (axonotmese), a recuperação é mais lenta e incompleta. Nos casos mais graves há ruptura completa da raiz (neurotmese) e a recuperação espontânea nunca ocorre. 39 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança A manifestação clínica da paralisia vai depender da topografia da lesão. Quando ocorre nas raízes C5-C6 (paralisia de Erb-Duchenne) afeta preferencialmente os músculos do ombro e o cotovelo, preservando a mão. Quando a mão é afetada e a musculatura do ombro é preservada, a lesão encontra-se nas raízes C7-C8-T1 (paralisia de Klümpke). Na lesão total, todas as raízes são lesadas e o membro superior é balouçante, podendo inclusive haver paralisia diafragmática. A fratura de clavícula, intercorrência ainda mais frequente que as paralisias, pode causar restrições de movimentação do membro correspondente devido à intensa dor, podendo mimetizar uma paralisia obstétrica. O diagnóstico é feito pela palpação da clavícula; se houver fratura, pode-se sentir crepitação local e observar manifestação de dor no RN. A evolução clínica da fratura de clavícula costuma ser benigna e a simples utilização de tipóia e manipulação cuidadosa do membro envolvido já é suficiente para o seu tratamento. Não é necessária realização de exame radiológico, já que o achado não muda a conduta clínica. A articulação coxo-femural deve receber atenção especial. É importante que se afaste a presença de displasia do desenvolvimento do quadril. Nessa condição, há instabilidade da articulação coxo-femural ao nascimento devido ao fato de o acetábulo ser mais raso e a cápsula mais frouxa, o que permite mobilização inadequada da cabeça do fêmur que fica parcialmente desencaixada do acetábulo. Se não for adequadamente tratada no período neonatal por simples imobilização, a lesão poderá levar a graves limitações na deambulação futura e poderá até haver necessidade de correção cirúrgica. Pode-se encontrar assimetria das pregas glúteas e encurtamento do membro afetado no caso de displasia unilateral; porém, mais frequentemente a alteração não provoca deformidades, não limita os movimentos e é indolor, ou seja, o RN é aparentemente normal. Isso significa que a displasia só será diagnosticada se pesquisada. As manobras de Barlow e de Ortolani, além do exame ultrassonográfico, podem auxiliar no diagnóstico. Na manobra de Ortolani, a criança é colocada em decúbito dorsal, segurando-se os membros inferiores com os joelhos dobrados, e quadris fletidos a 90º e aduzidos (juntos à linha média). A partir dessa posição, faz-se a abdução das 40 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança coxas com leve pressão nos joelhos. A manobra deve ser repetida várias vezes, simultaneamente, para os dois lados dos quadris ou fixando-se um lado e testandose o outro, aplicando-se diferentes pressões. Quando existe instabilidade coxo-femural a manobra de Ortolani faz com que a cabeça do fêmur se encaixe no fundo do acetábulo; esse deslocamento é percebido nas mãos como um “click” (Ortolani positivo). O achado de pequenos estalidos (“clicks”) causados pela movimentação e pelo deslize de fáscia ou tendão sobre saliências ósseas é considerado normal. O tratamento consiste em fazer uma manobra de Ortolani, encaixar o quadril e manter-se a posição de abdução e flexão do quadril com o uso de aparelhos ortopédicos por 3 meses ininterruptamente. Obtém-se sucesso em 97% dos casos. No exame dos pés deve-se estar atento a seu posicionamento. Não é infrequente a detecção de pés tortos. É necessário diferenciar o pé torto posicional, decorrente da posição intra-útero, do pé torto congênito. Quando o pé torto é posicional, o examinador, com manobra delicada, pode corrigir a posição do pé para uma postura fisiológica. Assim, trata-se de caso benigno, cuja resolução se dá por meio de fisioterapia por manipulação diária. Por outro lado, o pé torto congênito, que em 50% dos casos é bilateral e simétrico, não é redutível por manobras e necessita de tratamento ortopédico. As deformidades encontradas no pé torto congênito são complexas e diversas. Assim, no pé eqüino, o calcanhar está elevado e o antepé caído; no pé varo, há torção do pé fazendo com que sua face plantar fique voltada medialmente; no pé aduto o ante pé está desviado medialmente; e no pé cavo forma-se uma prega transversal na planta do pé. Para mais detalhes sobre problemas ortopédicos. Ainda fazendo parte do exame osteoarticular, deve-se apalpar a linha média da coluna vertebral na busca de espinha bífida, meningocele e outros 41 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança defeitos, especialmente na região sacrolombar. Algumas lesões da coluna não são óbvias ao exame do RN e são chamadas de disrafismos ocultos da espinha. Em 25% desses casos existem manifestações cutâneas associadas como pilosidades locais, hemangiomas capilares, fossetas ou acúmulo anormal de gordura. É importante que se verifique a integridade da pele no fundo da fosseta, para se afastar a possibilidade de contaminação da espinha. É importante a determinação do sentido (cranial ou caudal) da fixação da fosseta, pois as fixadas no sentido cranial apresentam muito maior risco de possuírem extensão intraespinhal ou intradural. Por outro lado, quando o sentido da fixação é caudal há pouca significância clínica. Para verificar o sentido da fixação da fosseta faz-se um movimento da pele adjacente no sentido cranial e caudal. Quando o defeito fica menos óbvio com o movimento na direção cefálica e mais evidente com a tração da pele no sentido caudal, é indicativo de que a fixação é superior, o que significa maior risco. 3.2 Exame físico especial 3.2.1 Crânio Inicia-se o exame verificando assimetrias. Frequentemente encontram-se assimetrias transitórias, que variam de acordo com a apresentação fetal. Assim, o parto normal, especialmente na raça negra, pode causar o aumento do diâmetro antero posterior (dolicocéfalo). Por outro lado, no parto cesáreo, o crânio pode apresentar-se mais “arredondado”, já que a cabeça não sofre adaptação ou amoldamento no canal de parto. A seguir, faz-se a palpação das suturas cranianas. São comuns as sobreposições das bordas dos ossos do crânio (cavalgamentos), especialmente no parto normal, as quais desaparecem em poucos dias, bem como as disjunções de suturas, sem qualquer expressão patológica. Por outro lado, quando ocorre a fusão intrauterina das suturas, o osso para de crescer e ocorre afundamento local com assimetria do crânio, o que constitui a craniossinostose. 42 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Essa situação patológica pode requerer tratamento cirúrgico. Na palpação das fontanelas, deve-se atentar para o tamanho (medido em centímetros nas diagonais), tensão, abaulamentos ou depressões e pulsações. A fontanela bregmática, na forma de losango, formada na confluência dos ossos frontal e parietais, apresenta-se com tamanho variável no RN a termo. Quando abaulada sugere aumento da pressão intracraniana, como ocorre na meningite, hidrocefalia, edema cerebral ou hemorragia intracraniana. Quando deprimida, associa-se à desidratação. A lambdóide, entre os ossos parietais e occipital, geralmente é pequena (justaposta). Quando grande, pode estar associada a doenças como hipotireoidismo e síndrome de Down. Fazendo-se pressão suave sobre os ossos do crânio, pode-se detectar uma área de depressão, assemelhando-se à palpação de bola de pinguepongue (craniotabes). Costuma desaparecer nos primeiros meses de vida. Na palpação do couro cabeludo detectam-se abaulamentos com relativa frequência, como na bossa serossanguínea e no céfalo-hematoma. A bossa representa edema das partes moles na área da apresentação, não respeita o limite dos ossos do crânio, é deprezível e regride nos primeiros dias pós-parto. No céfalo-hematoma há rompimento de vaso sub periostal secundário ao traumatismo do parto. Sua consistência é de conteúdo líquido e restringe-se ao limite do osso, geralmente o parietal. O tamanho do céfalo-hematoma deve ser acompanhado, mas é raríssimo ser necessária alguma intervenção para estancar o sangramento ou drenar eventual abscesso decorrente de contaminação. 43 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Figura 8 - Aspecto de céfalo-hematoma parietal direito O perímetro craniano é informação indispensável e deve ser medido com fita métrica inextensível, passando pela glabela e proeminência occipital. No RN a termo varia de 33 a 37cm. Esse dado, juntamente com o peso e o comprimento, devem ser lançados no gráfico de crescimento. Se a criança for prematura, deve-se levar em conta sua idade cronológica corrigida. Essa é calculada subtraindo-se da idade real da criança do número de semanas que faltaram para que completasse 40 semanas de gestação. 3.2.1.1 Regiões da cabeça Quadro 1 – Resumo dos principais achados na região da cabeça Região Couro Cabeludo Bossa Serossanguinolenta Céfalo-hematoma Fontanelas Observar Observar higiene, crostas e lesões. O recém nascido pode apresentar: Acúmulo de líquido e sangue no couro cabeludo, sem limites específicos, pode aparecer petéquias no local, decorrentes da pressão da cabeça sobre o canal de parto, desaparecendo entre os primeiros dias de vida (24 a 48 horas). É o acúmulo de sangue na região subperióstea e aparece por volta de 24 horas após o nascimento, causado pelo rompimento de vasos, devido à fricção da cabeça sobre o canal do parto. Possui contornos nítidos e regressões lentas, desaparecendo entre o 1º e 2º mês de vida. É normal apresentarem-se planas em relação ao couro cabeludo. - Bregmática: encontra-se na região anterior, fechando-se 44 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Mensuração do Perímetro Cefálico (PC) por volta dos 18 meses de vida; se houver o fechamento antes do sexto mês, agendar consulta médica. - Lambdóide (posterior): encontra-se na região occipital, fechando-se entre o 2º e 3º mês de vida. Mede-se o PC colocando uma fita métrica acima das sobrancelhas, contornando a cabeça até as 02 proeminências ósseas na região occipital. Essa medida deve ser feita a cada consulta de puericultura. Em crianças a termo, o PC de nascimento é em torno de 34 a 35 cm. Em crianças pré-termo, o PC de nascimento é em torno de 33 cm. O aumento médio é de: - No 1º trimestre: 02 cm por mês - No 2º trimestre: 01 cm por mês - No 3º trimestre: 0,5 cm por mês - No 4º trimestre: 0,5 cm por mês Observação: O PC tem que ser verificado e comparado com os meses anteriores, observando a evolução do crescimento. Fonte: Adaptado de Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de Saúde.Vol.1/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.-Brasília: Ministério da Saúde,2011. 3.2.1.1.1 Fontanelas Figura 9 - Fontanelas 3.2.1.1.2 Olhos Os RN permanecem com os olhos fechados a maior parte do tempo. 45 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança As pálpebras geralmente encontram-se edemaciadas devido à instilação do nitrato de prata. Deve-se observar a distância entre os olhos, entre os cantos internos das pálpebras (distância intercantal interna) e a presença de sobrancelhas, cílios e epicanto. A fenda palpebral oblíqua para cima, por exemplo, está presente na síndrome de Down, e para baixo na de Apert. Elevando-se o RN à posição semi sentada, em movimento relativamente rápido, consegue-se a abertura dos olhos e verificação da mobilidade das pálpebras. Melhor ainda é esperar o momento durante o exame em que ocorre a abertura espontânea dos olhos. A conjuntiva pode estar hiperemiada devido à irritação pela instilação do nitrato de prata e frequentemente observam-se hemorragias subconjuntivais. A esclera é branca ou levemente azulada nos RN pré-termo. Cor azul mais intensa está associada à osteogênese imperfeita. Na esclerótica, também são comuns as hemorragias, em sua maioria benignas, decorrentes do parto e que desaparecem com o passar do tempo. Estrabismo transitório e nistagmo horizontal podem ser eventualmente verificados. Devem-se pesquisar exoftalmia (olhos saltados), microftalmia (com córnea menor que 9mm), opacificação da córnea, catarata, glaucoma congênito (com córnea maior que 11mm) e lacrimejamento anormal por obstrução do canal lacrimal (dacrioestenose). Com o auxílio de oftalmoscópio, em quarto escuro para melhor abertura das pupilas e a cerca de 40 a 50 cm de distância, deve-se pesquisar o reflexo vermelho do fundo do olho, que indica a adequada transparência da córnea e cristalino. Esse exame, também conhecido como teste do olhinho, já faz parte da rotina obrigatória do exame de RN em vários estados brasileiros, inclusive em Alagoas. Pode, ainda, auxiliar na identificação de eventuais “massas” esbranquiçadas intra-oculares. Devem ser investigadas a simetria entre as pupilas (isocoria ou anisocoria), a reatividade das pupilas ao estímulo luminoso e a presença de midríase (pupilas dilatadas) ou miose (pupilas puntiformes). 46 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 3.2.1.1.3 Ouvidos Deve-se verificar a forma, a consistência e implantação dos pavilhões auriculares, e a presença de condutos auditivos externos, fístulas retroauriculares e apêndices pré-auriculares. É necessário também avaliar a função do sistema auditivo. Para se considerar que a forma auricular foge dos padrões normais, é preciso que haja grande alteração do pavilhão, devido à variabilidade de formas consideradas normais. A consistência do pavilhão aumenta com a idade gestacional, assim como a presença de dobra na borda superior. Dessa forma, nos RN a termo, o pavilhão possui consistência cartilaginosa, voltando rapidamente à posição normal quando solto após ser dobrado. No RN pré-termo, o pavilhão não retorna à posição inicial após ser dobrado e é liso em sua borda superior. A adequada implantação pode ser aferida traçando-se um plano imaginário que passe pela fenda palpebral e se estenda horizontalmente em direção às orelhas. A borda superior da orelha deve estar pouco acima dessa linha. Geralmente a implantação baixa da orelha é acompanhada de rotação posterior do eixo do pavilhão auricular e está associada a defeitos renais, malformação do primeiro arco branquial e anomalias cromossômicas. Deve-se observar se o RN responde piscando os olhos à emissão de um ruído próximo ao ouvido (reflexo cócleo palpebral). Independente do resultado é obrigatório o rastreamento da deficiência auditiva por meio de medidas fisiológicas da audição (teste da orelhinha). 3.2.1.1.4 Nariz Quando o RN está calmo, dormindo e com a boca fechada, pode-se observar a permeabilidade nasal ao ar inspirado e expirado. Obstrução nasal e espirros frequentes são comuns e muitas vezes decorrentes do trauma causado pela aspiração das vias aéreas superiores ao nascimento. Batimentos das aletas nasais são visíveis em RN com dificuldade respiratória. 47 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Deformidades ou malformações, quando presentes, ocorrem por defeitos intrínsecos do osso próprio do nariz (observados nas trissomias do cromossomo 18 e 21) ou por pressão extrínseca intra-útero ou no momento do parto. A presença de coriza mucóide, mucopurulenta ou mucopiossanguinolenta é rara e sugere o diagnóstico de lues congênita (geralmente em torno da segunda semana de vida). 3.2.1.1.5. Boca A cavidade oral deve ser observada cuidadosamente. O exame pode ser feito durante o choro e, na maioria das vezes, não há necessidade de se utilizar abaixador de língua para sua melhor visualização. O estímulo da pressão suave na transição mucosa- pele do lábio inferior e leve tração da mandíbula para baixo facilita a abertura da boca do RN. O desvio da comissura labial durante o choro pode estar associado a paralisia facial decorrente de posturas anormais intra-útero ou trauma de parto, como por exemplo na compressão pelo fórceps. Deve-se observar inicialmente as mucosas. Pode-se encontrar aftas de Bednar, decorrentes de lesão traumática da mucosa por aspiração ou limpeza agressiva logo após o parto. A presença de saliva espessa é indicação de desidratação e a sialorréia pode ser sugestiva de atresia de esôfago. A seguir, deve-se avaliar a forma do palato, se normal ou em ogiva, e sua integridade. Fenda palatina pode ocorrer de forma isolada ou associada a lábio leporino. No palato pode-se ainda encontrar as pérolas de Epstein, que são pequenas formações esbranquiçadas junto à rafe mediana, compostas de restos celulares e sem repercussões clínicas. Avaliando-se o palato mole pode-se detectar ainda úvula bífida e tumores. Na gengiva, deve-se verificar a presença de cistos de retenção gengival e dentes supranumerários. Estes devem ser avaliados quanto à sua implantação, já que habitualmente são frouxos e com raízes fracas. Nessas condições devem ser extraídos, devido ao risco de aspiração. O tamanho e a 48 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança mobilidade da língua devem ser avaliados; macroglossia sugere hipotireoidismo ou síndrome de Beckwith-Wiedemann (macroglossia, gigantismo, onfalocele e hipoglicemia grave). Deve também ser avaliado o tamanho da mandíbula. Micrognatia ocorre isoladamente ou fazendo parte de alteração genética (sequência de Pierre Robin). Nessa situação, pode ocorrer glossoptose (queda da língua) com obstrução de vias aéreas e consequente cianose. 3.2.1.1.6 Orofaringe Observar a presença de: Estomatite: Agendar a consulta médica. Má formação congênita: Lábio leporino, fenda palatina, anquiloglossia (freio lingual curto); nesses casos, encaminhar para consulta médica, assim que possível. Língua Geográfica: A língua se apresenta com saliências, formando desenhos, que não significa patologia. Monilíase Oral (sapinho): Lesões esbranquiçadas em cavidade oral que não se desprendem com a limpeza. Quadro 2 - Conduta para tratamento de monilíase Região Cavidade Oral Mamas - Se Estiver em Aleitamento Materno Bicos de Mamadeiras e Chupetas Observar - Higiene com água fervida ou filtrada, utilizando gaze ou pano limpo; - Fazer embrocação com Nistatina solução oral; repetir três vezes ao dia por 07 dias (em média). -Higiene de mamilo e auréola com água filtrada ou fervida, utilizando gaze ou pano limpo, secá-los ao ar após as mamadas e expô-los à luz por pelo menos alguns minutos ao dia; - O tratamento inicialmente é local, com Nistatina ou Cetoconazol tópicos por duas semanas. As mulheres podem aplicar o creme após cada mamada e não precisa ser removido antes da próxima mamada. - São fontes importantes de re-infecção, por isso, caso não seja possível eliminá-los, eles devem ser fervidos por 20 minutos pelo menos uma vez ao dia. - Guardar em recipiente limpo e fechado. 49 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Orientações de Higiene - Orientar o responsável para promover a higienização da cavidade oral com gaze ou fralda embebida em água fervida ou filtrada, pelo menos 01 x ao dia. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar.série: A. Normas e manuais técnicos. Cadernos de Atenção Básica, n. 23).Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 3.2.1.1.7 Saúde bucal A boca tem um papel primordial no contato do recém nascido com o mundo. Possibilita satisfação pela amamentação, expressão de desconforto ou dor, reação a ameaças e promove a comunicação. É fundamental que a criança desfrute desde pequena de uma alimentação saudável e que não desenvolva hábitos danosos à saúde da boca e seus anexos. A gestante já deveria se abster de ingerir alimentos doces, visto que as papilas gustativas do feto estão se desenvolvendo, assim, ao nascer, o indivíduo já possui alguma experiência gustativa. As primeiras bactérias cariogênicas adquiridas pela criança provêm da sua mãe ou de seu cuidador, pois são estes que definem o padrão alimentar da criança. A cultura alimentar de determinado grupo ou classe social depende tanto da disponibilidade de condições concretas de cultivo e de produção ou industrialização como das condições sócio-econômicas próprias, que por sua vez determinam o acesso a bens e serviços. O padrão alimentar deve ser questionado e propostas alternativas viáveis de substituição por alimentação saudável. Existem evidências que o uso de pastas de dente contendo flúor e a fluoretação da água de abastecimento são efetivos na proteção 3.2.1.1.8 Erupção Dentária Entre 04 a 06 meses: Incisivos centrais inferiores. 50 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Figura 9 - ICI Entre 07 meses e 08 meses: Incisivos centrais inferiores – ICI e incisivos centrais superiores –ICM. Figura 10 – ICS e ICI Entre 08 a 09 meses: Incisivos laterais superiores – ILS. Figura 11 – ILS Entre 10 a 12 meses: incisivos laterais superiores – ILS e incisivos laterais inferiores – ILI. Figura 12 – ILS e ILI Entre 12 a 20 meses: primeiro molar superior 1º MS e/ou mais comum - primeiro molar inferior - 1º MI; caninos superiores e inferiores. 51 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Figura 13 – 1º MS e 1º MI Entre 02 a 04 anos: Vista oclusal dos dentes: segundo molar superior – SMS de “leite” e segundo molar inferior SMI. Figura 14 – 2º MI Dentição decídua total 20 dentes. Figura 15 – Dentição decídua 3.2.2 Região do pescoço No RN o pescoço é curto, dificultando o exame. A discreta extensão da cabeça permite sua melhor visualização. Deve-se palpar a parte mediana do pescoço a fim de se detectar o crescimento anormal da tireóide (bócio) e a presença de fístulas, cistos e restos de arcos branquiais. Em sua parte lateral, deve-se verificar a presença de estase jugular e palpar o músculo esternocleidomastoideo a fim de verificar a presença de contraturas (torcicolo congênito). É importante verificar a mobilidade e o tônus do 52 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança pescoço a fim de afastar anomalias das vértebras cervicais. A presença de pele redundante na nuca pode estar associada à síndrome de Down, e na parte lateral (o chamado pescoço alado) à síndrome de Turner. 3.2.3 Região do tórax Quadro 3 - Resumo dos principais achados na região do tórax Região Observar É considerada normal a presença de secreção e tumefação Glândulas Mamárias nas primeiras semanas de vida (devido à ação hormonal materna). Não deve ser feita a expressão do mamilo. São pequenas bolinhas avermelhadas causadas pelo excesso de calor que aparecem com maior freqüência em pescoço e tórax, às vezes há prurido. Conduta: Brotoeja (Sudâmina - Banhos com maior freqüência; ou Miliária Rubra) - Evitar agasalhar demais a criança; - Nos casos leves, recomendar banho com água e maisena dissolvida; Em casos resistentes às orientações, solicitar avaliação médica. Mensuração do Deve ser medido de uma saliência escapular a outra, Perímetro Torácico circundando o tórax, passando por cima dos mamilos. (PT) Fonte: Adaptado de Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de Saúde.Vol.1/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.-Brasília: Ministério da Saúde,2011. 3.2.4 Aparelho respiratório É importante que o exame do sistema cardiorrespiratório se faça com o RN calmo, já que o choro costuma alterar os parâmetros, que devem ser medidos em repouso. A respiração do RN é do tipo costo abdominal. São comuns as variações de frequência e rítmo respiratório, observando-se pausas respiratórias curtas (cerca de 5 segundos) nos RN prematuros. Configura-se apnéia quando o tempo de parada respiratória é maior que 20 segundos ou menor, mas associada à cianose ou bradicardia. 53 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança A frequência respiratória média é de 40 a 60 incursões por minuto (contada em 1 minuto). Frequência acima de 60 caracteriza a taquipnéia, que deve ser investigada. Presença de tiragem intercostal supra e infra-esternal é anormal, mesmo em RN prematuros. A palpação, percussão e ausculta devem ser feitas em toda a área de extensão do parênquima pulmonar. A percussão deve revelar o som claro pulmonar característico, exceto na área de projeção do fígado, onde o som pode ser submaciço ou maciço. Se por um lado a ausculta do murmúrio vesicular pode ser facilitada pela pequena espessura da parede torácica, por outro a respiração superficial pode dificultá-la. Estertores finos ou crepitantes são comuns logo após o nascimento, assim como roncos de transmissão, decorrentes de obstrução nasal. Assimetrias detectadas à inspeção, palpação, percussão ou ausculta são importantes indicadores de anormalidades, devendo se investigadas. 3.2.5 Aparelho cardiocirculatório O ictus cordis (pulsação do coração) em geral não é visível e, à palpação do precórdio, é pouco perceptível. No RN, a posição horizontalizada do coração faz com que o ictus, quando palpável, encontre-se no 4° espaço intercostal esquerdo, lateralmente, à esquerda da linha hemiclavicular. O deslocamento do ictus pode indicar doença; se deslocado para a direita, por exemplo, pode ser decorrente de pneumotórax hipertensivo à esquerda. Precórdio hiperdinâmico pode ser o primeiro sinal de persistência de canal arterial (PCA) em RN pré-termo. A detecção de frêmito é sempre sugestiva de cardiopatia, principalmente se associado a sopro. Em crianças maiores, se for mais intenso na borda esternal esquerda alta, sugere estenose pulmonar e de artérias pulmonares; na borda esternal esquerda baixa, comunicação intraventricular; na borda esternal direita alta, estenose aórtica; na fúrcula esternal, estenose aórtica, persistência do canal arteriar ou coarctação da aorta. Em RN essa diferenciação é difícil. 54 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança A frequência cardíaca varia, em média, de 120 a 140bpm. RN em repouso com frequência cardíaca acima de 160bpm (taquicardia) devem ser mais bem avaliados. A ausculta cardíaca deve ser sistematizada, realizada com a criança calma e repetidas vezes, avaliando-se as bulhas nos focos em que são normalmente mais audíveis. Assim, a primeira bulha (fechamento das valvas atrioventriculares no início da sístole ventricular) é mais bem avaliada nos focos do ápice; e a segunda, nos focos da base. A detecção de terceira e quarta bulhas (galope) são sugestivas de cardiopatia. Na ausculta da segunda bulha detecta-se frequentemente desdobramento inconstante por fechamento assincrônico das valvas semilunares, aórtica e pulmonar, nessa ordem. Esse desdobramento normalmente é associado à respiração, aumentando na inspiração e diminuindo ou desaparecendo com a expiração. Na ausculta cardíaca do RN, sopros ou arritmias podem ser transitórios. Sopro sistólico no nível do terceiro ou quarto espaço intercostal, ao longo da borda esternal esquerda, nas primeiras 48 horas de vida, pode ser verificado em RN a termo. Quando é um achado isolado, sem outros sinais associados, como taquicardia, taquipnéia ou cianose, costuma não ter repercussão clínica e, em geral, desaparece nos três primeiros meses de vida. Por outro lado, a ausência de sopros não afasta cardiopatia, já que em cerca de 20% das cardiopatias congênitas graves não se auscultam sopros de imediato. É importante lembrar que no útero, o ventrículo direito é mais requisitado que o esquerdo e, por isso, encontra-se hipertrofiado ao nascimento. Assim, por exemplo, nas comunicações intraventriculares pode não se auscultar sopro nos primeiros dias de vida. É fundamental a palpação cuidadosa dos pulsos periféricos. Pulsos cheios em RN prematuro sugerem persistência do canal arterial; pulsos femorais débeis ou ausentes apontam para coarctação da aorta. A pressão arterial é de difícil determinação, podendo ser aferida com 55 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança mais facilidade por meio de aparelhos que se valem do efeito Doppler. 3.2.6 Abdome 3.2.6.1 Inspeção À inspeção, o abdome do RN apresenta-se semi globoso, com perímetro abdominal cerca de 2 a 3 cm menor que o cefálico. Habitualmente, não se visualizam ondas peristálticas. A presença de abdome globoso, distendido, com ondas peristálticas visíveis sugere obstrução. Abdome escavado é sugestivo de hérnia diafragmática. A diástase dos músculos retos abdominais (aumento da distância entre os retos com presença de pequeno abaulamento herniário) é observação frequente e sem significado clínico. Habitualmente regride após o início da deambulação. Deve-se, ainda, inspecionar as condições do coto umbilical. Inicialmente gelatinoso, ele seca progressivamente, mumificando-se perto do 3º ou 4º dia de vida, e costuma desprender-se do corpo em torno do 6º ao 15º dia. Habitualmente o cordão umbilical apresenta duas artérias e uma veia. A presença de artéria umbilical única pode estar associada a anomalias renais ou problemas genéticos, principalmente trissomia do cromossomo 18. É importante pesquisar a presença de secreções na base do coto umbilical ou de eritema da pele ao redor da implantação umbilical. Secreção purulenta na base do coto, com edema e hiperemia da parede abdominal, sobretudo se formar um triângulo na parte superior do umbigo, indicam onfalite, infecção de alto risco para a criança. A higiene da região umbilical com álcool a 70% é um importante fator de proteção contra infecção. Imediatamente após a limpeza pode-se observar hiperemia transitória da pele, o que não apresenta risco para o RN. Na inspeção, pode-se ainda detectar defeitos da parede abdominal, 56 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança como a onfalocele e a gastrosquise. Na onfalocele ocorre herniação na linha média, recoberta por saco peritoneal, com o cordão umbilical inserido no centro dessa massa. Pode estar associada a trissomias ou outras anomalias congênitas. Na gastrosquise o defeito encontra-se à direita do umbigo, com as alças intestinais e outros órgãos abdominais podendo exteriorizar-se através dessa abertura, sem membrana peritoneal recobrindo o conteúdo exposto. A eliminação de mecônio costuma ocorrer nas primeiras 24 a 36 horas de vida. Trata-se de material viscoso, verde escuro, composto por sais biliares, células epiteliais de descamação, sucos digestivos e lanugo, sendo eliminado nos primeiros 3 a 4 dias de vida. Após esse período, as fezes, denominadas de transição, têm coloração amarelo-esverdeada, liquefeitas, podendo até ser confundidas com diarréia. O reflexo gastrocólico exacerbado, isto é, o relaxamento do esfíncter anal que ocorre com a distensão do estômago, aumenta o número de evacuações diárias, sobretudo no RN em aleitamento materno exclusivo sob livre demanda, que pode evacuar em cada mamada. 3.2.6.2 Percussão Com a percussão abdominal e torácica pode-se determinar o tamanho do fígado acompanhando o som sub-maciço. Caracteristicamente, encontra-se som timpânico no resto do abdome. Eventualmente, consegue-se delimitar o tamanho do baço, especialmente quando aumentado 3.2.6.3 Palpação A palpação abdominal fica tecnicamente mais fácil quando realizada com o RN dormindo. Assim, recomenda-se realizá-la logo no início do exame físico. Com as mãos limpas e aquecidas, a palpação deve ser suave e superficial no início, partindo-se da fossa ilíaca em direção ao rebordo costal. Após a palpação superficial, pode-se fazer uma palpação mais profunda. Em condições normais não se encontram massas abdominais e é possível a palpação da borda do fígado a cerca de 2cm do rebordo costal direito, na linha mamilar. 57 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Devem-se descrever as características do fígado: consistência (parenquimatosa, endurecida), superfície (lisa, granulada) e borda. No RN a borda do fígado é um pouco mais arredondada, diferentemente da borda fina encontrada em crianças maiores e adultos. Eventualmente, com a palpação superficial, consegue-se palpar o pólo inferior do baço no nível do rebordo costal esquerdo. Sempre que se consegue palpar o baço é necessária investigação, devido à possibilidade de infecção ou de incompatibilidade sanguínea. Com manobras cuidadosas e profundas, os rins podem ser palpados, principalmente em RN prematuros. Por vezes fica-se em dúvida se a massa que está sendo palpada é o rim ou o baço. Lembrar que quando se trata do baço, não se consegue palpar depressão entre o rebordo costal e o órgão (ele vem de baixo das costelas). Os rins podem estar aumentados na doença policística, hidronefrose ou trombose da veia renal, entre outras doenças. A presença de massas abdominais sugere alguma enfermidade. A massa pode ser decorrente de distensão da bexiga (bexigoma) causada por simples retenção urinária ou por uma real obstrução de saída da urina por um fecalito de cólon ou por alguma condição mais complexa como cistos ovarianos, cistos mesentéricos, neuroblastoma, tumor de Wilms, entre outras. Deve-se então descrever a localização, forma, tamanho, mobilidade, consistência e eventuais irregularidades de superfície. Ao auscultar o abdome, verifica-se que no RN os ruídos hidroaéreos são bem frequentes. Ruídos aumentados, que ocorrem nas situações de luta contra obstrução, ou ausência de ruídos são sinais preocupantes que indicam doença grave. 3.2.7 Aparelho geniturinário A primeira diurese costuma ocorrer na sala de parto ou nas primeiras 48h. Em mais de 90% ocorrem nas primeiras 24h. Eventualmente observam-se manchas avermelhadas nas fraldas, que devem-se à presença de 58 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança uratos na urina e não tem repercussão clínica. O exame da genitália deve ser detalhado e sempre que possível com a presença de um dos pais ou de um auxiliar. Se essa regra é fundamental para crianças maiores, não deixa de ser menos importante com um RN. Após inspeção geral, o exame deve começar com a palpação do canal inguinal para a detecção de massas ou testículo. 3.2.7.1 Sexo masculino O pênis normal de um RN mede de 2 a 3 cm. A glande não costuma ser exposta, nem com a tentativa de retração do prepúcio, e o orifício prepucial é estreito. A visualização do meato urinário na extremidade da glande nem sempre é possível. Existe a possibilidade de anormalidades na saída da uretra. Quando o orifício de saída encontra-se na face ventral do pênis dá-se o nome de hipospádia e, quando na face dorsal, de epispádia. A rafe peniana deve ser bem observada. Quando a glande estiver naturalmente exposta, deve-se atentar para o diagnóstico de epispádia ou hipospádia. A bolsa escrotal é rugosa no RN a termo. Sua palpação permite verificar a presença dos testículos, assim como sua sensibilidade, tamanho e consistência. Os testículos migram da cavidade abdominal para o escroto através do canal inguinal durante o final da gestação, sendo que no RN a termo os testículos são habitualmente encontrados dentro da bolsa escrotal. A não palpação dos testículos na bolsa pode significar criptorquidia. Quando a criptorquidia é bilateral e os testículos não são palpáveis nem na bolsa escrotal nem no canal inguinal, devese suspeitar de genitália ambígua. Os testículos têm consistência firme, parenquimatosa, com tamanho de cerca de 1cm, e não são hipersensíveis. O aumento dos testículos à palpação frequentemente é decorrente de hidrocele. Essa condição é comum e a reabsorção do líquido se dá nos primeiros meses de vida. Deve-se fazer a prova da transiluminação para confirmação do diagnóstico. 59 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Deve-se estar atento para o diagnóstico de genitália ambígua, torção testicular (coloração azulada e hipersensibilidade), assimetrias testiculares, malformações anorretais com fístula e eliminação de mecônio pela uretra ou períneo. 3.2.7.2 Sexo feminino No sexo feminino, o tamanho dos grandes lábios depende do depósito de gordura e da idade gestacional da RN. Assim, nas crianças pré-termo pequenas podem ser ou quase inexistentes, e nas RN a termo os grandes lábios chegam a recobrir totalmente os pequenos lábios. Afastados os grandes lábios, avalia-se o sulco entre os grandes e pequenos lábios, frequentemente recobertos de vérnix. Aderências de pequenos lábios são raras e requerem intervenção. Afastando-se os pequenos lábios examina-se o hímen. Deve-se observar a perfuração himenal por onde é comum a saída de secreção esbranquiçada ou translúcida em consequência da ação do estrógeno materno, e que costuma desaparecer ao final da primeira semana de vida. No segundo ou terceiro dia pode ocorrer discreto sangramento vaginal. A imperfuração do hímen leva a hidrocolpos, que se manifesta por hímen abaulado, em forma de bolsa, sendo necessária intervenção cirúrgica no período neonatal. A hipertrofia do hímen, com prolapso da parte distal para fora dos grandes lábios, é um achado comum e sem significado clínico. Figura 16 - Aspecto da imperfuração do hímen 60 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança O tamanho do clitóris é pequeno, porém em RN pré-termo, devido ao pouco desenvolvimento dos grandes lábios, ele pode sobressair-se, dando a impressão errônea de clitoromegalia. Fusão posterior dos grandes lábios e hipertrofia clitoriana são achados que requerem investigação. É importante observar os orifícios uretral e vaginal. Anomalias anorretais podem levar à eliminação de mecônio pela vagina ou uretra. 3.2.8 Região do abdome Quadro 4 - Resumo dos principais achados na região do abdome Região Abdome Coto umbilical Granuloma umbilical Hérnia umbilical Hérnia Inguinal Observar É normal apresentar-se de forma cilíndrica. Sua queda pode ocorrer do 4º ao 15º dia após o nascimento. - Observar presença de secreção, odor e hiperemia. - O curativo do coto deve ser feito diariamente. Após a sua limpeza com água e sabonete durante o banho, secar bem e passar álcool 70% com gaze ou cotonete na sua base, removendo a secreção (sem odor) que normalmente sai durante o processo de queda, evitar aplicar o álcool na pele do abdome, pois pode irritar e ficar hiperemiado e mascarar uma possível infecção (onfalite). Atenção: odor fétido da secreção, hiperemia Peri-umbilical e calor local podem ser sinais de onfalite. Após queda do coto umbilical pode ocorrer uma área não cicatrizada úmida de coloração amarelada. Neste caso está indicada a cauterização. Conduta para a Cauterização: - Limpar com soro fisiológico, usando técnica de curativo; - Passar vaselina ao redor da cicatriz umbilical; - Usar bastão de nitrato de prata 2% na lesão por 01 minuto contínuo, 01 vez ao dia, durante 03 dias. Se no final do 3º dia não houver cicatrização, solicitar avaliação médica. - Obs: nunca fornecer o bastão de Nitrato de Prata para a mãe fazer em casa. Freqüente em crianças pré-termos, sendo que na maioria dos casos regride espontaneamente. Caso persista até 02 anos de idade, encaminhar para avaliação médica. Deve ser encaminhada para avaliação médica. 3.2.9 Região do períneo Quadro 5 - Resumo dos principais achados na região do períneo 61 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Região Genital Feminino Genital Masculino Dermatite de Fraldas Monilíase Perineal (Cândida) Observar Os grandes lábios recobrem os pequenos lábios, aonde se encontram os meatos uretral e vaginal, que devem ser pérvios (perfurados). Pode ocorrer: - Corrimento vaginal: de coloração clara, às vezes com estrias de sangue, que é devido ao excesso hormonal da mãe. Considera-se normal até o 1º mês de vida. - Sinéquia de pequenos lábios: os pequenos lábios encontram-se aderidos. Neste caso, encaminhar para consulta médica. - Imperfuração anal: deverá ser encaminhado para avaliação médica com urgência. O prepúcio recobre a glande do pênis, apresentando o meato centralizado na extremidade. Normalmente os testículos estão na bolsa escrotal. Pode ocorrer: - Criptorquidia: é a ausência de testículos na bolsa escrotal. Deverá ser encaminhado para avaliação médica. - Hipospádia e epispádia: localização incorreta do meato uretral, deslocado para baixo (hipospádia), ou para cima (epispádia). Se presente, deverá ser encaminhado para avaliação médica. - Prepúcio irretrátil: freqüente até os 18 meses. - Fimose: persistência do prepúcio irretrátil após os 18 meses. Deverá ser agendado consulta médica para avaliação. Manchas hiperemiadas na região das fraldas, causadas por diarréia, uso de produtos químicos (amaciante, sabão, sabonete, água sanitária e talcos), troca infreqüente das fraldas e má higiene. Conduta: - Retirar o excesso de sabão, água sanitária e amaciantes; - Orientar lavar as fraldas preferencialmente com sabão neutro e enxaguar com água e vinagre; - Sempre que a criança urinar ou evacuar, procurar lavar bem com água morna, evitando uso de sabonete; - Expor área afetada ao sol em horário apropriado (até as 9h00min. da manhã e após 16h00min.), pois facilita a cicatrização. Observar horários de verão; - Em uso de fraldas descartáveis limpar bem a criança antes da troca da fralda; - Encaminhar para consulta médica, se persistir o problema. Esse tipo de dermatite é caracterizado por pele bem hiperemiada, às vezes com pontinhos vermelhos nas bordas (o que diferencia da dermatite de fraldas) e pode estar associada com a monilíase oral. Encaminhar para consulta médica. 3.2.10 Ânus O exame do orifício anal deve ser feito obrigatoriamente, podendose detectar anomalias anorretais e fístulas. 62 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Habitualmente faz-se apenas a inspeção, podendo-se verificar por palpação delicada o tônus anal. O ânus costuma distar cerca de 1cm da borda inferior da vulva ou da implantação do escroto. Não se recomenda, de rotina, toque ou introdução de sonda retal para verificação de sua permeabilidade. 3.2.11 Sistema nervoso Quando se inicia o exame físico geral do RN, inicia-se, simultaneamente, a avaliação neurológica, pois postura, movimentação espontânea, resposta ao manuseio e choro são parâmetros importantes dessa avaliação. Ao nascer, a criança costuma ficar durante cerca de 1 a 2 horas muito desperta, e a seguir habitualmente dorme profundamente por algumas horas, por vezes até 12 horas. Deve-se evitar a realização do exame neurológico nas primeiras 12 horas de vida, para minimizar a influência do estresse do parto, que pode mascarar algumas respostas normais, dando falsa impressão de comprometimento. Durante o exame, deve-se atentar para o estado de alerta da criança, que reflete a integridade de vários níveis do sistema nervoso central. Como o exame sofre grande influência do estado de sono/vigília, é importante aguardar a criança despertar para uma adequada avaliação. O tônus em flexão é relacionado à idade gestacional. RN a termo apresentam-se com hipertonia em flexão dos membros, com postura semelhante à fetal. Conseguem inclusive manter a cabeça no mesmo nível que o corpo por alguns segundos quando levantados pelos braços. Movimentam-se ativamente ao serem manipulados. Os reflexos primitivos característicos do RN devem ser avaliados, pois podem trazer informações importantes sobre seu estado de saúde. São caracterizados por resposta motora involuntária a um estímulo e estão presentes em bebês desde antes do nascimento até por volta dos seis meses de vida. São mediados por mecanismos neuromusculares subcorticais, que se encontram desenvolvidos desde o período pré-natal. O desaparecimento desses reflexos 63 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança durante o curso normal de maturação do sistema neuromuscular nos primeiros seis meses de vida é atribuído ao desenvolvimento de mecanismos corticais inibitórios. São diversos os reflexos primitivos encontrados no RN, porém não há necessidade de avaliação de todos durante o exame físico rotineiro do RN a termo. Outros reflexos são menos frequentemente pesquisados, como o de Magnus-De-Kleijn (do esgrimista) em que, com a criança posicionada em decúbito dorsal, o examinador com uma das mãos estabiliza a região anterior do tórax e com a outra vira a cabeça da criança para o lado. A resposta esperada é a extensão dos membros do lado para o qual a face está voltada e flexão dos membros voltados para o outro lado. Outro é o reflexo dos olhos de boneca, que é desencadeado quando se promove a rotação lateral da cabeça do RN, e os olhos seguem lentamente para o lado da rotação. O reflexo de Babkin é uma reação à pressão simultânea das palmas das mãos do bebê. Com esse estímulo a criança abre a boca e mantém a cabeça na linha média levantando sua cabeça. Pode também haver fechamento dos olhos e flexão do antebraço do bebê. Reflexos tendinosos podem ser avaliados utilizando-se o martelo com ponta de borracha ou o próprio dedo do examinador para o estímulo. O reflexo patelar costuma ser facilmente detectável. 3.2.12 Membros superiores e inferiores Devem ser simétricas, musculaturas firmes, movimentos livres. Podem ocorrer: Polidactilia (maior número de dedos). Má formação congênita. Assimetria de movimentos, coordenação e tamanho. Nesses casos, encaminhar para consulta médica. 4 Avaliação do crescimento e de desenvolvimento 64 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 4.1 Peso O peso é a medida antropométrica mais sensível às alterações nutricionais: a perda, assim como um ganho repentino de peso, pode ser um primeiro sinal de probabilidade de existência de uma patologia. O RN a termo pesa em média 3.000 a 3.500 g. A criança poderá perder, nos primeiros 10 dias, até 10% de seu peso, começando a recuperar esta perda em torno do 11º dia de vida. Os prematuros, nos primeiros meses de vida, em geral, não acompanham os padrões de peso de crianças nascidas a termo, podendo ser erroneamente classificados de desnutridos. No 1º mês de vida a criança ganha de 600 a 1.200 g de peso (em torno de 25 a 30 g por dia). 4.1.1 Ganho ponderal nos primeiros cinco anos de vida Quadro 6 – Ganho ponderal de 0 a 5 anos Período Peso 1º Trimestre 700 vg/mês 2º Trimestre 600 g/mês 3º Trimestre 500 g/mês 4º Trimestre 400 g/mês 01 a 02 anos 200 g a 300 g/mês 02 a 03 anos 1800 g a 2000 g/ano 03 a 04 anos 1800 g/ano 04 a 05 anos 1650 g/ano Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. (Série A. Normas e manuais técnicos. Cadernos de Atenção Básica, n. 11).Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2002. Observações: Crianças até 12 meses, completamente despidas e na presença da mãe ou do responsável (devem ser retirados, além das roupas, as meias, sapatos/sandálias, adereços de cabeça, etc.). Utilizar a balança pediátrica (é recomendável que as balanças pediátricas tenham precisão mínima de 10 gramas). 65 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança De 12 a 24 meses, devem ser pesadas descalças; retirar o excesso de roupa, deixando a criança apenas com calcinha, short ou cueca, na presença da mãe ou do responsável) . É recomendável que as balanças pediátricas tenham precisão mínima de 10 gramas). Crianças acima de 02 anos utilizar balança tipo plataforma. Associar a falta de ganho de peso com intercorrências (diarréia, vômitos, desmame, gripes e dentição). 4.1.2 Gráfico de PESO X IDADE (Caderneta de Saúde da Criança) Abaixo os procedimentos para marcação do gráfico: Colocar o nome da criança e seu peso ao nascer. Escrever o dia, mês e ano de nascimento no primeiro retângulo do gráfico, onde está escrito ”0” (zero). Escrever os meses, abreviados, nos retângulos seguintes até o 12º (que corresponde ao 1º aniversário). Marcar com um ponto ( . ) no encontro da linha correspondente ao peso observado (linha vertical) e da linha correspondente à idade da criança (horizontal). Nos meses seguintes, marcar o peso com um ponto sobre a linha vertical, correspondente ao mês do exame. Todas as vezes que a criança é pesada deve ser marcado o ponto no gráfico. Todos os pontos devem ser ligados com um traço ou linha contínua, formando, o traçado ou curva de crescimento da criança. No caso do intervalo entre duas pesagens ser igual ou superior a dois meses, a linha do traçado que liga esses dois pontos deve ser pontilhada e não contínua, para chamar a atenção. Anotar intercorrências (desmame, diarréia, IVAS, nova gravidez da mãe e outros) no mês correspondente. 4.1.2.1 Avaliação do Gráfico 66 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Para a avaliação do crescimento individual de uma criança deve ser considerado a posição do peso em relação aos pontos de corte superior e inferior da Curva de crescimento de referência da Caderneta de Saúde da Criança: Acima do percentil 97: classificar como sobrepeso. Entre os perecentis 97 e 3: faixa de normalidade nutricional. Entre os perecentis 10 e 3: classificar como risco nutricional. Entre os perecentis 3 e 0,1: classificar como peso baixo. Abaixo do percentil 0,1: classificar como peso muito baixo. Para analisar o gráfico: Verificar o peso registrado e analisar o posicionamento do ponto (• ), em relação às curvas padrão; Após duas verificações sucessivas do peso, traçar uma reta entre os dois pontos e verificar a inclinação. Observação: Utilizar como modelo o gráfico da Caderneta de Saúde da Criança. 4.1.2.2 Posição do peso em relação às curvas no gráfico Quadro 7 - Interpretação do gráfico e conduta Verificação do peso Observação e conduta Peso satisfatório. Seguir o calendário mínimo de consultas. Peso entre as curvas: superior e inferior. Criança de risco. Realizar nova consulta com intervalo máximo de 30 dias, observando a inclinação do traçado (item b) do crescimento. Peso abaixo da curva inferior. 67 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. (Série A. Normas e manuais técnicos. Cadernos de Atenção Básica, n. 11).Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2002. 4.1.2.3 Inclinação do traçado em pesagens consecutivas Quadro 8 - Interpretação do gráfico e conduta Verificação do peso Observação e conduta Crescimento satisfatório. Seguir o calendário mínimo de consultas. Traçado ascendente com inclinação pelo menos semelhante à da curva inferior do gráfico. Traçado descendente,horizontal ou ascendente com inclinação persistente menor do que a curva inferior do gráfico. Crescimento insatisfatório. Verificar possíveis causas, com atenção especial para o desmame, deficiência alimentar e intercorrências infecciosas, e procurar corrigi-las. Acompanhar a criança em intervalos mensais. Em casos de necessidade, referir para o médico ou nutricionista ou serviço de maior complexidade. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. (Série A. Normas e manuais técnicos. Cadernos de Atenção Básica, n. 11).Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2002. 4.1.3 O crescimento estrutural da criança no primeiro ano de vida 4.1.3.1 Estrutura Crianças até 02 anos deverão ser medidas em decúbito dorsal, utilizando-se uma régua antropométrica. Ao nascer, os recém nascidos a termo têm em média 49 cm de estatura. 68 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Quadro 9 – Crescimento estrutural da criança no primeiro ano de vida 1º mês Cresce em média 04 cm. 1º ao 6º mês Cresce em média 15 cm. 6º ao 12º mês Cresce em média 10 cm Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. (Série A. Normas e manuais técnicos. Cadernos de Atenção Básica, n. 11).Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2002. Observação: O peso e a estatura devem ser medidos em todos os atendimentos da criança na unidade. Como realizar a avaliação do crescimento: Medir o comprimento/altura da criança consiste em avaliar se o potencial de crescimento está sendo alcançado de acordo com o previsto para sua idade e seu sexo. Para a aferição da medida é necessário que a criança esteja descalça e com a cabeça livre de adereços (laço, boné, touca, enfeites, rabo-decavalo, etc.). Todas as vezes que é aferido o comprimento/altura da criança deve ser marcado o ponto no gráfico de Altura x Idade da Caderneta de Saúde da Criança. Para a avaliação do crescimento linear de uma criança deve ser considerado a posição do comprimento/altura em relação aos pontos de corte superior e inferior da Curva de crescimento de referência da Caderneta de Saúde da Criança: • Acima do perecentil 10: estatura adequada; • Entre os perecentis 10 e 3: classificar como risco nutricional; • Abaixo do percentil 3: classificar como baixa estatura. 4.1.4 Desenvolvimento neuropsicomotor O acompanhamento do desenvolvimento deve ser feito sistematicamente, uma vez que ele traduz o crescimento, integridade e maturidade do sistema nervoso central (SNC), alem da interação da criança com seu meio 69 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança ambiente. A avaliação do desenvolvimento deve ser realizada no decorrer da consulta, a criança deve estar confortável e alerta. Anotar as observações no prontuário da criança. 4.1.4.1 Ao nascer até 3 meses 4.1.4.1.1 Reflexo de Moro ou do abraço O reflexo de Moro é um dos mais importantes a serem avaliados, devido à grande quantidade de informações que pode trazer. É desencadeado por algum estímulo brusco como bater palmas, estirar bruscamente o lençol onde a criança está deitada, ou soltar os braços semi-esticados quando se faz a avaliação da preensão palmar. O reflexo consiste numa resposta de extensão-abdução dos membros superiores (eventualmente dos inferiores), ou seja, numa primeira fase os braços ficam estendidos e abertos, com abertura dos dedos da mão, e em seguida de flexão-adução dos braços, com retorno à posição original. Tem início a partir de 28 semanas de gestação e costuma desaparecer por volta dos seis meses de idade. A assimetria ou ausência do reflexo pode indicar lesões nervosas, musculares ou ósseas, que devem ser avaliadas. Figura 17 – Reflexo de Moro 4.1.4.1.2 Voracidade O reflexo da voracidade ou de procura manifesta-se quando é tocada a bochecha perto da boca, fazendo com que a criança desloque a face e a boca para o lado do estímulo. Este reflexo não deve ser procurado logo após a amamentação, pois a resposta ao estímulo pode ser débil ou não ocorrer. Está 70 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança presente no bebê até os três meses de idade. 4.1.4.1.3 Marcha A marcha reflexa e o apoio plantar podem ser pesquisados segurando-se a criança pelas axilas em posição ortostática. Ao contato das plantas do pé com a superfície, a criança estende as pernas até então fletidas. Se a criança for inclinada para a frente, inicia a marcha reflexa. 4.1.4.1.4 Fuga à asfixia O reflexo de fuga à asfixia é avaliado colocando-se a criança em decúbito ventral no leito, com a face voltada para o colchão. Em alguns segundos o RN deverá virar o rosto liberando o nariz para respirar adequadamente. 4.1.4.1.5 Reflexo de sucção A sucção reflexa manifesta-se quando os lábios da criança são tocados por algum objeto, desencadeando-se movimentos de sucção dos lábios e da língua. Somente após 32 a 34 semanas de gestação é que o bebê desenvolve sincronia entre respiração, sucção e deglutição, o que torna a alimentação por via oral difícil em RN pré-termo. 4.1.4.1.6 Reflexo de preensão palmar e plantar Figura 18 – Reflexo de preensão plantar e palmar 71 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Coloca-se um objeto cilíndrico (dedo) para que ele segure com os dedos ou pelo menos os flexione. Decúbito Dorsal (barriga para cima):Postura em flexão-assimetria da cabeça (gira a cabeça para direita e esquerda). 4.1.4.2 De três a seis meses 4.1.4.2.1 Decúbito Ventral (barriga para baixo) Início de peso sobre os antebraços e/ou apoiando o peso nos joelhos. Rola de decúbito ventral para dorsal, alcança objetos. 4.1.4.2.2 Decúbito Dorsal (barriga para cima) Figura 19 – Sustenta cabeça sem desabar Cabeça mantida na linha média, mãos junta, simetria. Eleva a cabeça, cabeça não cai mais. Sustenta a cabeça sem desabar, fazem ponte com os quadris em extensão, pés apoiados. Levantada pelos braços, ajuda com o corpo. Segura e transfere objetos de uma mão para outra. 05 meses: senta com apoio. Pode ficar em pé com apoio. Vira a cabeça na direção de uma voz ou objeto sonoro. Reconhece pessoas. 72 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 4.1.4.3 De seis a nove meses 4.1.4.3.1 Decúbito Ventral Apoio do peso nas mãos com braços entendidos. Postura de 04 pontos (gato). Apóia em uma das mãos, alcançando objetos. 4.1.4.3.2 Decúbito dorsal Segura os pés. Deitado reto, simetria do corpo. 4.1.4.3.3 Sentado Reações de proteção e apoio nos braços (apóia as mãos na superfície quando vai cair). Sentado sozinho no chão (com as mãos livres). Sentado, vira-se para brincar (pivô). Senta-se, inclina para frente e retorna a posição reta sozinho. Colocada de bruços, levanta e sustenta a cabeça, apoiando-se no antebraço. Alcança e pega objetos pequenos. Quando colocada em pé, flete as pernas. Emite sons, vocaliza. 4.1.4.4 De nove a doze meses 4.1.4.4.1 Decúbito Ventral Engatinha livremente. Semi-ajoelhado com apoio nas mãos. Marcha de urso (sobre as mãos e pés). De barriga para cima apóia o próprio braço e fica sentado. 73 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Figura 20 – Engatinha 4.1.4.4.2 Sentado Sentado em varias posições (realiza pivô na posição sentada). Sentado na cadeira sozinha inclina o tronco à frente. 4.1.4.4.3 Em pé Fica em pé e segura nos móveis. Desloca-se na lateral (anda com apoio). Anda sozinho e dá alguns passos e desaba. Senta-se sem apoio. Arrasta-se ou engatinha. Responde diferentemente às pessoas familiares e estranhos. 4.1.4.5 De doze a dezoito meses 4.1.4.5.1 Decúbito Ventral Sobe engatinhando em cama/mesa, sobe escadas engatinhando para frente e para trás. Levanta-se e fica em pé sem apoio. 4.1.4.5.2 Sentado Senta-se em bancos baixos. 74 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Passa de sentado para posição de pé. Sem segurar, agacha-se ao brincar. Faz rabiscos. 4.1.4.5.3 Em pé Figura 21 – Anda com apoio. Em pé inclina-se para baixo e retorna. Anda, segurando-se com uma das mãos. Ou anda sozinho. Carrega um objeto. Sobe escadas segurando-se sem alternar passos. Faz gestos com a mão e cabeça (de tchau, de não, bate palmas, etc.). Emprega pelo menos uma palavra com sentido (mamã, papá). 4.1.4.6 Dois anos 75 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Figura 22 – Brinca ativamente. Fica em pé, chuta bola, arremessa bola, corre, anda pára e virase (pivô), pula no lugar com os dois pés juntos. Reconhece diferença sexual, relaciona partes do corpo. 4.1.4.7 Três anos Figura 23 – Veste-se com ajuda Salta em um só pé. Sobe escadas alternando os passos. Começa a usar tesoura. Anda de velocípede. 4.1.4.8 De quatro a cinco anos 76 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Figura 24 – Distingue cores e figuras. Equilibra-se numa das pernas. Veste-se sozinho. Anda sobre linha reta, anda entre paralelas, passa por cima de bastão, anda para trás. Brinca com crianças (simpatia e antipatia). Distingue cores e figuras. 4.1.4.9 Reflexos Quadro 10 - Principais reflexos do nascimento aos 15 meses Reflexo Presente Moro Nascimento Preensão palmar Nascimento Preensão plantar Nascimento Sustentação da cabeça 02 - 06 meses Ausente 04 meses 03 meses 08 -15 meses Persiste voluntariamente Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. (Série A. Normas e manuais técnicos. Cadernos de Atenção Básica, n. 11).Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2002. 4.1.5 Linguagem 4.1.5.1 Crianças até dois anos 4.1.5.1.1 Audição Teste da orelhinha - verificar se realizou, caso não tenha sido feito 77 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança encaminhar para a realização. Aos 06 meses a criança deve localizar o som em diferentes posições (em cima/ embaixo/ do lado direito e esquerdo). Histórico de otites e medicações ministradas. Investigar o comportamento da criança diante de diferentes estímulos sonoros, ambientais e linguísticos. 4.1.5.1.2 Desenvolvimento da linguagem 4.1.5.1.2.1 Aos seis meses Os sons são menos diferenciados (guturais). A partir de 06 meses – a criança apresenta o balbúcio cada vez mais rico devido ao prazer de se ouvir, os sons são mais diferenciados e repetitivos (dada, gugu, agu, mãmãmã, etc). 4.1.5.1.2.2 Com um ano Surgimento das primeiras palavras (normalmente são sons labiais: papai, mamãe, papá). Compreende frases simples compatíveis com o seu meio (ex: vai com a vovó, cadê o au-au?). 4.1.5.1.2.3 Com um ano e seis meses Usa palavras isoladas para representar suas idéias. Por enquanto é tolerável que apenas os pais ou quem cuida da criança entenda a maior parte de suas expressões. 4.1.5.1.2.4 Aos dois anos Ocorre o surgimento de frases simples (duas palavras). Ex: qué água, dá papá mim, não qué, naná. 4.1.5.1.2.5 Aos dois anos e seis meses A criança deve estar comunicando-se bastante oralmente e já 78 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança sendo entendida também por pessoas que não são de seu convívio diário. 4.1.5.1.3 Respiração Investigar se é de modo nasal ou oral. 4.1.5.1.4 Alimentação O aleitamento materno além dos aspectos nutricionais é o melhor estímulo para o desenvolvimento da musculatura facial. Caso necessário o uso de mamadeira (deve ser oferecida na posição sentada, de bico ortodôntico com furo que permita o gotejamento do conteúdo – deve variar conforme a consistência). Investigar a textura da dieta de acordo com a idade (quanto mais sólido maior o exercício muscular). 4.1.5.1.5 Hábitos orais 4.1.5.1.5.1 Uso de chupeta Deve-se estimular o não uso, porém quando a resistência da família for evidente, orientar para que se faça uso somente nos horários de início do sono e angústia, evitando um maior prejuízo para o desenvolvimento da fala; a retirada deve ocorrer por volta dos 02 anos. 4.1.5.1.5.2 Sucção de dedo É comum a criança até por volta dos 08 meses levar a mão à boca e fazer a sucção de um ou mais dedos, tanto com a finalidade de explorar seu corpo, como para aliviar suas angústias. Na medida em que a criança se desenvolve, ela muda seus interesses, levando menos a mão até a boca, pois seu foco passará a ser outro, por exemplo, segurar seu chocalho. 4.1.5.2 Crianças de três a seis anos 4.1.5.2.1 Audição 79 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Histórico de otites e medicações ministradas. Investigar o comportamento da criança diante de diferentes estímulos sonoros, ambientais e linguísticos. 4.1.5.2.2 Desenvolvimento da linguagem Observar como é a comunicação da criança (o grau de compreensão e a fala de acordo com o contexto). A partir dos 03 anos: observar a fluência – a disfluência (gagueira) é freqüente, sua recuperação espontânea até os 06 anos é elevada se o meio (família) for favorável. Fala: deve ser inteligível para a maioria das palavras, mesmo com trocas de alguns sons. Gradativamente deve-se esperar um discurso mais claro. A partir de 04 anos e 06 meses: pode estar apresentando todos os sons da fala corretamente. Deve-se tolerar até os 05 anos e 06 meses os sons de “r” e grupos consonantais, como por exemplo: pr, pl, etc. 4.1.5.2.3 Respiração Observar e investigar se é de modo nasal ou oral. Observar características típicas do respirador oral (face alongada, olheiras, tônus de bochechas e lábios diminuído), assim como ronco e baba freqüentes. 4.1.5.2.4 Mastigação Investigar se realiza de forma eficiente, pois a ineficiência da mastigação pode estar relacionada com a respiração oral (preferência por alimentos moles; solicita líquido para facilitar a deglutição). 4.1.5.2.5 Deglutição Observar dificuldade para deglutir sólido (principalmente carnes e verduras/ legumes crus). 80 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 4.1.5.2.6 Voz Observar possíveis alterações na qualidade vocal (a mais freqüente é a rouquidão); Investigar se a criança faz abuso vocal (grita muito, fala muito), observar as situações em que o mesmo ocorre, assim como os modelos (os pais, avós, etc). Sempre que houver dúvida quanto ao desenvolvimento dos aspectos fonoaudiológicos encaminhar para o serviço de fonoaudiologia. 5 Verificação de sinais vitais em pediatria 5.1 Frequência respiratória É o número de movimentos respiratórios num espaço de tempo. No lactente e, sobretudo, no recém-nascido prematuro, os movimentos respiratórios podem ser irregulares, arrítmicos, intermitentes e ainda com alternância da profundidade Existem dois tipos de movimentos respiratórios: torácico (costal) e abdominal (diafragmático). No lactente é normal a respiração abdominal. A respiração torácica nessa idade indica anormalidade. O tipo torácico predomina após os sete anos. 5.1.2 Valores normais de referência Quadro 11 – Frequência respiratória Faixa etária Frequência respiratória (IRPM) Recém-nascido 35 a 40 Lactente 25 a 35 Pré-escolar 20 a 25 Escolar 18 a 20 12 anos 15 a 20 Fonte:LONDRINA.Prefeitura do Município. Saúde da Criança: protocolo/.Prefeitura do Município. Autarquia Municipal de Saúde-1.ed.- Londrina,PR,(S.M),2006. 5.1.3 Determinação da freqüência e características respiratórias 81 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Observar durante um minuto cada inspiração/expiração como um movimento respiratório. Verificar a respiração antes dos outros sinais vitais em decorrência das alterações provocadas pelo choro. Observar dificuldade respiratória e presença de secreções. Efetuar o registro das condições respiratórias. Tomar providências, caso haja alteração: consulta médica ou encaminhamento. 5.2 Frequência cardíaca É o número de batimentos de uma artéria por minuto, que corresponde ao número de contrações do músculo cardíaco. 5.2.1 Determinação da frequência cardíaca e características Lactente e escolares: colocar o estetoscópio entre o mamilo esquerdo e o externo, verificar a FC durante 01 (um) minuto. Observar: freqüência (bradicardia, monocardia e taquicardia) e ritmo (rítmico e arrítmico), é comum em crianças a ocorrência de uma diminuição da freqüência cardíaca durante a expiração por estimulação vagal caracterizando em arritmia sinusal. 5.2.2 Variação da frequência cardíaca conforme a idade da criança Quadro 12 – Frequência cardíaca Idade Variação (BPM) 0 a 30 dias 120 a 160 01 a 12 meses 110 a 140 01 a 03 anos 110 a 130 03 a 06 anos 110 a 125 Fonte:LONDRINA.Prefeitura do Município. Saúde da Criança: protocolo/.Prefeitura do Município. Autarquia Municipal de Saúde-1.ed.- Londrina,PR,(S.M),2006. 5.3 Temperatura 82 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança A temperatura corporal normal representa uma estabilidade entre o calor produzido e o perdido pelo corpo. O valor normal considerado para adultos e crianças varia em torno de 36,7º C. Quando a temperatura axilar estiver até 37,5º C dar banho e observar o estado geral da criança. Se acima de 37,7° medicar na unidade com paracetamol, 01 gota/Kg, avaliar o estado geral e agendar consulta. 5.4 Pressão arterial 5.4.1 Verificação de pressão arterial em crianças Recomenda-se verificação de pressão arterial rotineiramente em crianças: uma vez ao ano a partir do 1º ano de vida até a adolescência. Deve-se verificar pressão arterial em crianças com queixas freqüentes de: cefaléia, tontura, náusea, vômito, parestesia, palpitação, cansaço e visão turva. A aferição de pressão arterial em crianças deve ser realizada com manguito adequado para a idade, (deve cobrir 1/3 do braço). Caso não haja manguito adequado, usar o de adulto na coxa da criança seguindo a mesma técnica e auscultando os ruídos na artéria poplítea, na dobra interna do joelho. 5.4.2 Condições nas quais deve ser feita a aferição da PA em paientes pediátricos Em lactentes com: Déficit de crescimento. Convulsões. Insuficiência cardíaca. Sopro abdominal. Massa abdominal. Coartação da aorta. 83 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Hiperplasia adrenal congênita. Neurofibromatose. Em uso de corticóides e/ou hormônio adreno-corticotrófico (ACTH). Suspeita de doença renal. Síndrome de Turner. Obrigatória em crianças de qualquer idade: Sintomáticas (cefaléia, déficit de crescimento, convulsão). Em salas de emergência. Em unidades de terapia intensiva. Na avaliação clínica pré-operatória. Em uso de fármacos que interferem na PA (anovulatórios, corticóides). 5.4.3 Interpretação dos resultados da PA De acordo com o percentil de PA obtidos nas tabelas padronizadas, classificam-se os valores conforme o quadro abaixo. Quadro 13 – Percentil de pressão arterial (PA) Pressão arterial Normal Normal alta Alta ou hipertensão arterial Definição PA sistólica e diastólica < percentil 90 com medidas obtidas em três ocasiões diferentes. PA sistólica média e/ou diastólica média entre o percentil 90 e 95 com medidas obtidas em pelo menos três ocasiões diferentes. PA sistólica média e/ou diastólica média ≥ percentil 95 com medidas obtidas em pelo menos três ocasiões diferentes. Fonte: health care guidelines: preventive services for children and adolescents. Institute for Clinical Systems Improvement. Valores sequenciais de PA altos tendem a cair como resultado de: Efeito de acomodação (redução da ansiedade de uma visita para outra). 84 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Fenômeno não biológico chamado de regressão à média. Observação: Medidas de PA elevada em uma única ocasião são insuficientes para classificar os pacientes como hipertensos. 5.4.4 Conduta após a medida PA PA normal em três ocasiões: medir a PA, em 3 ocasiões, a cada ano. PA normal-alta em três ocasiões: acompanhar cuidadosamente a PA, medindo-a em todas as consultas, que devem ser realizadas a cada 3 a 6 meses. Instituir medidas não-farmacológicas de prevenção de HAS. PA alta ou HAS: confirmar se as medidas foram feitas obedecendo rigorosamente à técnica padronizada. Confirmar se o tamanho do manguito é adequado. Instituir tratamento não farmacológico. Encaminhar a criança para consulta com especialista em HAS pediátrica. Não prescrever medicamento anti-hipertensivo. Observações: A principal causa de HAS na infância é erro na técnica de medida de PA. Causas secundárias de HAS são mais freqüentes em crianças menores de 6 anos, especialmente na ausência de história familiar de HAS. 6 Exames complementares 6.1 Hemograma Não há evidências para triagem rotineira de crianças de baixo risco. Para crianças de alto risco (prematuridade, baixo peso, aleitamento artificial, baixo nível sócio-econômico), recomenda-se determinar a hemoglobina e o hematócrito entre 9 e 12 meses de idade. 6.2 Colesterol 85 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Está indicado solicitar para crianças a partir de 2 anos de idade que tenham familiar em 1º grau com doença cardiovascular precoce (antes de 55 anos para homem e dos 65 anos para mulher) ou pais com níveis de colesterol acima de 240 mg/dl. Dosa-se o colesterol total sem jejum. 86 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança CAPITULO III CUIDADOS BÁSICOS 1 Higiene A higiene corporal do RN é indispensável, pois a falta desta contribui para o aparecimento de várias afecções, comprometendo o estado geral da criança. Vale lembrar que as condições de higiene dependem das condições de vida: moradia, educação, cultura, saneamento básico, transporte, renda familiar, etc. 1. 1 Orientações gerais A criança poderá receber banho de imersão desde o nascimento, mesmo antes da queda do coto umbilical. Iniciar o banho pelo rosto, cabeça e depois o corpo, para evitar escorrer água nos ouvidos, sujar a água do banho com fezes e restos de urina e possível resfriamento desnecessário. Deve-se dar banho na criança no horário mais quente do dia, usando sabonete neutro. Enxugar a pele da criança sem esfregar, com tecidos macios para evitar lesões. Enxugar com cuidado as dobrinhas e secar o coto umbilical. Limpar nariz e ouvidos com a ponta de uma fralda, evitando o uso de cotonetes. Após a evacuação, lavar os genitais apenas com água corrente, ou limpar os resíduos de fezes e urina com uma fralda umedecida com água, pois o excesso de sabão pode causar irritação de pele. Fazer higiene bucal várias vezes ao dia, após cada mamada e principalmente antes de dormir, com a ponta de uma fralda limpa, umedecida com água fervida ou filtrada; reforçar as necessidades desta higiene após o aparecimento dos dentes. 87 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Evitar o uso de óleos, pois podem causar alergias;. Manter as unhas curtas e limpas, para evitar arranhadura. Não agasalhar demais a criança; usar o mínimo de roupa em dias quentes, dando preferência às de malhas de algodão. Evitar o uso de talcos, pois piora assaduras e possibilita acidentes como a aspiração. 1. 2 Higiene em crianças maiores Banho diário de aspersão. Observar e orientar higiene bucal. Uso de roupas apropriadas ao tamanho da criança, de modo que permita liberdade de movimentos e que agasalhe de acordo com a temperatura ambiente e a situação de saúde da criança. Lavagem das mãos antes e após às refeições, após utilizar o banheiro e sempre que necessário. Orientar manter as unhas sempre aparadas e limpas;. Orientar higiene íntima nas meninas de frente para traz e nos meninos expor a glande para limpeza. Estimular o uso de calçados. 2 Sono e vigília Durante as primeiras horas após o nascimento, o RN experimenta, gradualmente, alterações previsíveis nas características fisiológicas e nas respostas comportamentais, refletindo os períodos de reatividade neonatal. Os dois períodos são separados por um estágio de sono (considerado um período discreto de reatividade). Em cada período de reatividade, os sinais vitais, o estado de alerta e as respostas aos estímulos externos se alteram. 2.1 Período de reatividade neonatal 88 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança O primeiro período pode durar até 6 horas, porém nos primeiros 30 minutos o RN estará alerta, chorando vigorosamente e muito interessado no ambiente. Depois desse estágio inicial entra num segundo estágio desse mesmo período, na qual se encontra em um estado de sono e relativa tranquilidade, normalmente neste período ele é poupado de manipulações. O segundo período começa quando o RN acorda deste sono profundo, pode durar de 2 a 5 horas e representa uma ótima oportunidade de interação com o RN. 2.2 Período de sono e vigília 2.2.1 Sono profundo Os olhos do RN estão fechados e não aparecem os movimentos rápidos dos olhos (REM), durante essa fase é recomendável deixá-lo sossegado, pois a simples tentativa de acordá-lo para mamar será frustrada. 2.2.2 Sono leve Os olhos estão fechados e entra no estágio de sono REM, o padrão respiratório fica variável e ocorrem movimentos aleatórios e de sucção que caracterizam o sono leve. Estímulos externos podem acordá-lo nesse período. 2.2.3 Estado de sonolência transicional O RN tenta tornar-se alerta, os olhos ficam abertos ou fechados e as pálpebras podem agitar-se freqüentemente. Os movimentos musculares são suaves, com atividades espontâneas e sustos intermitentes. Os estímulos táteis ou auditivos podem estimular uma resposta, mas esta pode ser lenta até que o RN se aproxime do estado de vigília. 2.2.4 Estado de vigília Os olhos estão abertos, brilhantes e consegue focalizar a fonte de estímulo. Está consciente e responsivo ao ambiente, faz movimentos e mostra uma boa coordenação dos olhos. Este estado é uma ótima oportunidade para estimular 89 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança o RN, ideal para o contato com os pais e iniciar a amamentação. Apesar de minimamente ativo, ele permanece alerta e responsivo a estímulos visuais e auditivos por períodos prolongados. 2.2.5 Estado ativo Os movimentos do RN aumentam o estado de atividade e os estímulos externos causam movimentos oculares e corporais. 2.2.6 Estado de choro Nesse estágio o RN responde a estímulos externos e internos. Em geral começa com choramingos leves, progredindo a intensidade do choro e da movimentação. Normalmente a alimentação e o colo aconchegante acalmam o RN. 2.3 Distúrbios do sono 2.3.1 Primários Quando o distúrbio do sono é o principal ou único sintoma. Ex: insônia, terror noturno, pesadelos. 2.3.2 Secundários O distúrbio do sono é somente parte do primeiro problema clinico complexo. Ex: depressão, esquizofrenia, disfunção da tireóide. 2.3.3 Parassonais São atividades consideradas normais durante a vigília, porém não visuais durante o sono. Ex: sonambulismo, sonilóquio, bruxismo, enurese noturna. Observação: Para toda criança com distúrbio de sono deve-se agendar uma consulta com o pediatra. 90 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 3 Eliminações intestinais e vesicais 3.1 Evacuação É importante conhecer as características normais das fezes, consistência, coloração, quantidade, freqüência e aspecto para evidenciar uma possível anormalidade intestinal, levando em conta o hábito intestinal anterior da criança. O recém-nascido apresenta, em geral, episódios de evacuação de consistência semi-líquida várias vezes ao dia. O mecônio é o produto da degradação do líquido amniótico corado pela bile; é eliminado por volta de 1 a 2 dias. As fezes de transição (após início das mamadas com restos de mecônio, heterogêneas, liquefeitas após 36h de alimentação). Fezes definitivas, geralmente a partir do 4º dia de vida, quando alimentadas com leite materno, apresentam-se amarela pastosa ou semi-líquidas não fétidas, enquanto que com leite artificial apresentam-se amarela ou acastanhada, mais endurecidas e odor fétido). As crianças em aleitamento materno evacuam mais que aquelas em aleitamento artificial; As crianças em aleitamento materno exclusivo podem evacuar a cada 03 a 04 dias, sendo de consistência semi pastosa (amolecida). Caso haja sintomas associados (distensão abdominal, vômitos e não eliminação de flatos) encaminhar para consulta médica. Em torno do 3º mês, o hábito intestinal vai se regulando e a medida em que se inicia a introdução de outros alimentos, o aspecto e a consistência vão se modificando. O controle esfincteriano pode aparecer entre o 18º e o 24º mês. 3.2 Micção Para caracterizar a eliminação vesical como normal, deve-se observar a quantidade, o número de micções, aspecto e odor, além da quantidade de líquidos ingeridos. 91 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança CAPITULO IV ALIMENTAÇÃO 1 Aleitamento materno É incontestável que o melhor e o único alimento que deverá ser oferecido nos primeiros seis meses de vida da criança é o leite materno, e que a partir desta idade deverão ser incluídos outros alimentos líquidos (sucos, água) e sólidos (frutas e papa salgada), porém, o leite materno continuará fazendo parte da alimentação do bebê até os dois anos de idade ou mais, segundo orientações da OMS, UNICEF e Ministério da Saúde . As taxas de morbimortalidade infantil sofrem influência direta do desmame precoce, razão pela qual é importante implementar ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno na atenção pré-natal e pós-parto nos serviços públicos de saúde. Em 2008, O Estado de Alagoas com o objetivo de melhorar o índice de aleitamento materno e conseqüente redução da mortalidade infantil, priorizou a implantação da estratégia da Rede Amamenta Brasil, Iniciativa Hospital Amigo da Criança e a Rede Alagoana de Bancos de Leite Humano. A Rede amamenta tem como proposta que todos os profissionais que trabalhem em serviços de saúde( do porteiro ao diretor) sejam capacitados e sensibilizados para acolher a nutriz e apoiá-la Na manutenção da amamentação, a equipe de saúde desempenha papel fundamental: mantendo-se atualizada sobre o tema e sistematizando ações e condutas. O entusiasmo e o comprometimento destes profissionais com a 92 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança amamentação sem dúvida contribuem para o aumento do número de mães que amamentam, garantindo que as dificuldades apresentadas sejam resolvidas prontamente, favorecendo a manutenção da amamentação exclusiva até o sexto mês de vida do bebê. Todavia, é imprescindível que a equipe consiga proporcionar além dos conhecimentos técnicos da amamentação, o apoio psicológico individual a cada nutriz. Para o sucesso da amamentação, o serviço de saúde e equipe devem garantir: Levar a usuária para um local adequado (com privacidade) para o atendimento. Sentar próximo a mesma de preferência sem mesa entre o profissional e a usuária, devendo ficar na mesma altura, para que possa olhar nos olhos. Não emitir juízo de valor. Nunca dar ordens. Oferecer uma ou duas sugestões, intervindo somente o necessário. Solicitar para que ela coloque o bebê para mamar, podendo o profissional assim observar tudo que a nutriz está fazendo de adequado ou não, intervindo apenas naquilo que estiver dificultando o processo. Elogiar tudo que a nutriz estiver fazendo adequadamente. Garantir a ela a continuidade no atendimento, sempre que a nutriz ou o profissional julgarem necessário. Orientar para que não seja oferecido ao bebê, chupetas, mamadeiras ou qualquer outro bico, pois eles poderão interferir na sucção e dificultar o aleitamento materno, bem como evitar infecções, entre outros. 1.1 Manejo clínico da amamentação e nutrição A alimentação e nutrição corretas constituem um dos aspectos mais importantes para a saúde da criança, principalmente no início da vida. Os primeiros anos são marcados por um crescimento rápido, o que faz com que energia e nutrientes sejam necessários em quantidades adequadas. 93 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Desta forma, é importante enfatizar o aleitamento materno, por considerá-lo alimento indispensável e praticamente insubstituível a ser oferecido de forma exclusiva nos primeiros 6 meses de vida. É recomendado aos lactentes, além do aleitamento materno exclusivo, apenas a exposição diária ao sol, para que a oferta de vitaminas seja adequada. Não são necessários, neste período, outros alimentos e/ou líquidos como água, chás ou sucos, pois o leite materno já tem água suficiente. Portanto fica claro que a introdução de outros leites ou alimentos durante o primeiro semestre de vida não deve ser feita, salvo sob recomendação de médico pediatra ou nutricionista que acompanhem o lactente, e apresentem contraindicação permanente ou transitória para o aleitamento materno. 1.2 Vantagens da amamentação Para o bebê: O leite de cada mãe é especialmente adequado para o seu filho. O colostro é o primeiro e o melhor alimento para o bebê. Proporciona uma nutrição superior e um ótimo crescimento. Fornece água adequada para hidratação. Favorece o vínculo afetivo e o desenvolvimento. Protege contra infecções e alergias. Alimento Completo. Bom para dentição e a fala. Sempre pronto e na temperatura certa. Proteção contra diabetes e câncer na infância. Melhor resposta a vacinação. Recuperação mais rápida nas doenças. Melhor desempenho em testes de QI. Para a mãe: Ajuda o útero a recuperar seu tamanho normal, reduzindo o risco de hemorragia. 94 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Aumenta as reservas de ferro. Reduz o risco de câncer de mama e de ovário. Ajuda a retardar uma nova gravidez. O aleitamento materno torna conveniente as viagens e as mamadas noturnas. A depressão pós parto é reduzida. É mais prático e menos trabalhoso. O leite está pronto, não necessita preparo. O leite não estraga e não é preciso se preocupar com a falta de estoque. É mais econômico. Figura 25 – Aleitamento materno Para a família, profissionais e nação: Melhor saúde e nutrição resultam em melhor ambiente psicossocial e bem estar. Menos gastos com cuidados à doença. A economia que se gera pode ser revertida em outros benefícios. Menor taxa de morbimortalidade. Maior espaçamento entre filhos. Melhoria da qualidade de vida da criança. 95 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Menos danos ao meio ambiente. Redução da mortalidade infantil. 1.4 Posicionamento e pega adequados, conforme a OMS 1.4.1 Pontos-chave do posicionamento adequado Rosto do bebê de frente para a mama, com nariz na altura do mamilo. Corpo do bebê próximo ao da mãe. Bebê com cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido). Bebê bem apoiado. Figura 26 – Exemplo de posição para amamentar 1.4.2 Pontos-chave da pega adequada1 Mais aréola visível acima da boca do bebê. Boca bem aberta. Lábio inferior virado para fora. 1 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. (Série A. Normas e manuais técnicos. Cadernos de Atenção Básica, n. 23) Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 96 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Queixo tocando a mama. Figura 27 – Pega adequada 1.5 Sinais de que um bebê está recebendo uma quantidade suficiente de leite Mama pelo menos oito vezes em 24 horas. O ritmo da sucção muda durante uma mamada. É possível ouvir ou ver a deglutição. Fica alerta e contente entre as mamadas. Tem bom tônus muscular e uma pele saudável. Molha a fralda seis ou mais vezes em 24 horas. O ganho de peso é constante, totalizando, em média, 18 a 30 gramas por dia. A mãe pode sentir uma sensação de descida do leite, leite vazando do peito contralateral e mudanças na sensação de plenitude das mamas. 1.6 Ganho Ponderal Insuficiente Considera-se que bebês têm ganho de peso insuficiente em aleitamento materno exclusivo após alta hospitalar, quando próximo à duas semanas de idade, o bebê apresenta peso abaixo do nascimento ou ganha menos que 18g/dia. 97 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Situações que podem ser avaliadas/observadas com base em queixas maternas e como intervir: "Dorme muito no peito" (ordenhar o leite da própria mãe e oferecer no copinho). "Não fica satisfeito após a mamada" (normalmente quando só retira leite anterior, e apresenta com maior freqüência cólicas. Orientar para o esvaziamento completo da mama pelo bebê). "Chora muito" (observar mamada e lembrar de outras causas como calor, frio, fralda suja, refluxo gastro-esofágico, causas maternas, etc). "Quer mamar com muita freqüência" / "Leite fraco" (não mantém sucção efetiva capaz de retirar o leite posterior, então ordenhar o leite posterior da própria mãe e oferecer no copinho. Orientar alternar as mamas de acordo com a produção e mamadas do bebê). Não existe leite fraco; "Bebê permanece muito tempo no peito" (acordar o bebê antes de iniciar a mamada, e orientar à mãe que o retire da mama quando não estiver efetivamente mamando). "Recusa-se a mamar / Não gosta do leite da mãe” (realizar uma breve anamnese sobre: a gestação atual, especialmente aspectos psicosociais, antecedentes familiares em relação à amamentação e se houve experiência em gestações anteriores, condições maternas de saúde e confirmar o desejo da mulher de amamentar o seu filho). "Diurese reduzida" na maioria dos casos não é produção insuficiente, e sim mamadas ineficientes. Orientar para mamadas mais prolongadas, estimulando o bebê. 1.7 Com relação ao desmame precoce Para que seja evitado o desmame desnecessário e precoce, as mães antes de retornarem ao trabalho ou quando forem orientadas sobre alimentação complementar, a partir do 6º mês, precisarão receber informações de como oferecer estes alimentos de copo e/ou colher. O profissional de saúde precisa executar o procedimento, para que a mesma possa aprender de maneira que se sinta segura para fazer em casa. 98 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança É necessário também passar as informações sobre como coletar e armazenar o leite materno (folder "Dicas e procedimentos para coleta e armazenamento de leite materno". Ministério da Saúde,). 1.7 Tipos de mamilos e problemas precoces e tardios enfrentados pelas mães 1.7.1 Tipos de mamilos 1.7.1.2 Mamilo semi protuso Figura 28 – Mamilo semi protuso 1.7.1.3 Mamilo pseudo invertido Figura 29 – Mamilo pseudo invertido 1.7.1.4 Mamilo protuso 99 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Figura 30 – Mamilo protuso 1.7.1.5 Mamilo hipertrófico Figura 31 – Mamilo hipertrófico 1.7.1.6 Mamilo invertido Figura 32 – Mamilo invertido 1.7.2 Traumas mamilares 1.7.2.1 Possíveis causas Pega e posição inadequada. Ingurgitamento mamário. 100 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Uso de pomadas, cremes ou óleos. Higienização excessiva dos mamilos. Sucção inadequada. Sucção prolongada. Monilíase mamária. Malformações do mamilo. 1.7.2.2 Classificação FISSURA: - Em geral acomete mamilos protusos na junção mamiloareolar. - Resultante de pega inadequada. Figura 33- Fissura de mamilo 101 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança EROSÃO - Característica de mamilos invertidos - Desgaste ou remoção de toda epiderme Figura 34 – Erosão de mamilo DICERAÇÃO: - Apresenta aspecto “rasgado” - Resultado de bombas tiraleite - Acomete qualquer tipo de mamilo Figura 35 – Dilaceração 102 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança ESCORIAÇÃO: - Esfoliação do mamilo tipo raladura - Resultante de pega inadequada - Mamilos semi-protusos ou pseudo invertidos Figura 36 – Escoriação de mamilo 103 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança VESÍCULAS: - Lesões arredondadas podem ser integras ou rotas - Resultante de pega inadequada Figura 37 – Vesículas 1.7.2.3 Sinais e sintomas Dor, principalmente durante a mamada. Presença de lesão. 1.7.2.4 Como orientar Manter a região mamilo-areolar seca e aerada. Expor os mamilos ao sol do inicio da manhã ou final da tarde. Fazer expressão do leite no final da mamada, passando-o em toda região mamilo-areolar e deixar secar naturalmente. 1.7.3 Problemas tardios 1.7.3.1 Ingurgitamento mamário Estase Láctea ou congestão vascular e/ou linfática. 104 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Acúmulo de leite e edema – “leite empedrado”. 1.7.3.1.1 Aspecto Aumento do volume. Dolorosas. Quentes. Vermelhas. Brilhantes. 1.7.3.1.2 Fatores predisponentes Leite residual pós mamada. Produção aumentada de leite. Dor ao amamentar por traumas. Fatores emocionais. Intervalos longos entre as mamadas. Separação da mãe/filho. Suspensão abrupta da amamentação. Amamentação sob livre demanda. Esvaziamento adequado das mamas. Amamentar nas duas mamas. Aumentar a frequência das mamadas. Manter amamentação exclusiva. Ordenhar manualmente após as mamadas. Favorecer a técnica correta da amamentação. Favorecer a confiança materna. 1.7.3.1.3 Tratamento Massagem e ordenha manual. Uso de sutiã. Uso de analgésicos, se necessário. Antinflamatórios, se necessário. 1.7.3.2 Mastite 105 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Reação inflamatória ou processo infeccioso. Formação de abcesso do tecido glandular. Resultante de um ingurgitamento mamário, fissura do mamilo ou obstrução do ducto. Geralmente é unilateral. 1.7.3.2.1 Fatores predisponentes Mamadas com horários irregulares. Mudança súbita no número de mamadas. Longo período de sono do bebê à noite. Uso de chupetas e mamadeiras. Não esvaziamento completo das mamas. Criança com sucção débil. Desmame abrupto. Produção excessiva de leite. Separação entre mãe e bebê. Freio de língua curto. Figura 38 – Mastite 1.7.3.2.2 Agentes etiológicos 106 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Estafilococos, estreptococos, anaeróbicos e outros. 1.7.3.2.3 Formas de contaminação A própria puérpera, através das mãos, fossas nasais, higienização precária ou infecção de pele. O recém-nascido, através da oronasofaringe ou infecção de pele. Os profissionais de saúde, através das mãos. Objetos contaminados, como protetores de mamilos, bombas tira leite, sutiãs sujos e outros. 1.7.3.2.4 Sintomatologia Aumento localizado da temperatura, dor contínua, vermelhidão localizada, edema, mal estar, febre, taquicardia, calafrios, fadiga, náuseas e vômitos, infartamento glanglionar axilar, presença de pus no leite, mialgia e outros. 1.7.3.2.5 Tratamento 1.7.3.2.5.1 Mastite em fase inicial Amamentar em livre demanda. Ordenha manual após cada mamada para remoção do leite residual. Ordenha manual a cada três horas, caso o bebê não mame à noite. 1.7.3.2.5.2 Mastite moderada Ocorre com ou sem eliminação de pus pelos poros mamilares. Eliminação de pus em grande quantidade, suspender temporariamente a amamentação na mama comprometida; orientar ordenha manual a cada 3 horas. Usar antibiótico e/ou antinflamatório e/ou analgésico. Colher amostra do leite para cultura e antibiograma. 1.7.3.2.5.3 Mastite grave ou abcesso mamário 107 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Suspender ou não temporariamente a amamentação na mama comprometida. Amamentar com maior freqüência na mama comprometida , ou ordenhar a cada 3 horas com cautela. Aguardar a formação de postos de flutuação. Usar antibiótico, antinflamatório e antitérmico/analgésico. 1.8 Situações difíceis em relação à amamentação Enfermidades infecciosas. Infecções bacterianas. Infecções maternas com agentes de alta patogenicidade: HIV; Psicose ou doença mental grave da mãe. Neoplasias. Uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação. Alcoolismo. 1.9 Contra indicação para a amamentação Quadro 14 – Drogas em uso e possíveis feitos colaterais Droga em uso Drogas psiquiátricas e anticonvulsivantes Cloranfenicol, tetraciclinas, metronidazol, quinolona, antibiótico (ex: ciprofloxacina). Sulfomidas, dapsona. Sulfametoxazol+trimetropina. Estrógenos, incluindo contraceptivos que contém estrógenos. Diuréticos tiazídicos. A maioria das drogas comumente usadas, como analgésicos e antipiréticos; tratamentos curtos com paracetamol, ácido acetilsalicílico, ibuprofeno; doses ocasionais de morfina e petidona. Antibióticos: ampicilina, amoxilina, cloxacilina e outras penicilinas; eritromicina. Tuberculostáticos e hansenostáticos (veja dapsona acima). Efeitos colaterais possíveis Monitore sonolência do bebê. Use drogas alternativas, se possível. Observe o bebê quanto à icterícia. Use drogas alternativas (podem inibir a produção de leite). Seguros na dosagem atual. Monitore o bebê. 108 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Anti-maláricos, anti-helmínticos e anti-fúngicos. Brocondilatadores (ex: sibutamol), corticosteróides, antihistamínicos, anti-ácidos, drogas para diabetes, a maioria dos anti-hipertensivos, digoxina, suplementos nutricionais de iodo, ferro e vitaminas. Fonte: OMS. Amamentação e medicação materna: recomendações sobre drogas da 8ª lista básica de medicamentos da OMS. IBFAN/Brasil e Instituto de Saúde. 1996 2 Centro de Lactação - Banco de Leite Humano (CL-BLH) O Banco de Leite Humano (BLHs) têm se configurado como um dos mais importantes elementos estratégicos da política pública em favor da amamentação. O BLH é um serviço especializado vinculado a um hospital de atenção materno- infantil e execução de atividades de coleta da produção lática da nutriz, seleção, classificação, processamento, controle de qualidade e distribuição, sendo proibida a comercialização dos produtos por ele distribuídos. Em Alagoas existem 5 BLHs : Maternidade Escola Santa Mônica, Hospital Universitário Professor Alberto Antunes- UFAL, Santa Casa de Misericórdia de São Miguel , BLH Ivete França (Arapiraca) , Hospital Santa Rita e Maternidade Santa Olímpia – Palmeira dos Índios e 2 Postos de Coleta : Casa maternal Denilma Bulhões e Hospital Nossa Senhora da Guia. O 1º Banco de Leite de Alagoas foi a Maternidade Escola Santa Mônica criado em 1987, com o apoio da LBA (Legião Brasileira de Assistência) e apoio Técnico do IFF/ Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ. Em 2011, foi assinado o Convênio de Cooperação Técnico Científica para os Bancos de Leite Humano do Estado de Alagoas, entre a SESAU/ FIOCRUZ. Os Bancos de Leite devem cumprir a RDC/Anvisa nº171/2006. Fluxo de trabalho do Banco de Leite: Higiene pessoal. Recebimento ou coleta de Leite humano ordenhado. 109 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Estocagem de leite humano ordenhado cru. Degelo e seleção. Classificação. Reenvase. Pasteurização. Liofilização (quando houver). Controle de qualidade microbiológica. Estocagem de leite humano ordenhado pasteurizado. Distribuição. Porcionamento (quando ocorrer no BLH). 2.1 Endereços dos bancos de leite humano e horários de funcionamento Maternidade Escola Santa Mônica. Endereço: Avenida Comendador Leão, s/n°, Poço, Maceió, Alagoas. Funcionamento: 24 horas. Fone: (82) 3315.4401. Hospital Universitário Professor Alberto Antunes Endereço: Avenida Lorival Melo Mota, s/n°, Tabuleiro dos Martins, Maceió, Alagoas. Funcionamento: Das 07h30min. às 18h00min. e plantão aos sábados de 08h00min. às 18h00min. Fone: (82) 3322.3717. Santa Casa de Misericórdia de São Miguel dos Campos. Endereço: Praça Dr. José Inácio, n° 43, Centro, São Miguel dos Campos, Alagoas. Funcionamento: Das 07h00min. às 12h00min. e de 14h00min. às 17h00 min. Fone: (82) 3271.9439. 1. Hospital Regional Santa Rita e Maternidade Santa Olímpia. Endereço: Avenida Deputado Medeiros Neto, n° 76, São Cristóvão, Palmeira dos Índios, Alagoas. 110 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Funcionamento: 24 horas. Fones : (82) 3421.9000 e 3421.9015. Banco de Leite Humano Ivete França Lima Endereço: Rua Padre Cícero, s/n°, Centro, Arapiraca, Alagoas Funcionamento: Das 7h00min. às 17h00min. Fone: (82) 3522.2820. 3 Amamentação - direitos da mulher no trabalho A Constituição Brasileira e a Consolidação das Leis Trabalhistas garantem uma série de direitos às mães que trabalham fora. A legislação de proteção ao AM no Brasil é uma das mais avançadas do mundo. É muito importante que o profissional de saúde conheça as leis e outros instrumentos de proteção do AM para que possa informar às mulheres que estão amamentando e suas famílias os seus direitos. Além de conhecer e divulgar os instrumentos de proteção da amamentação, é importante que o profissional respeite a legislação e monitore seu cumprimento, denunciando as irregularidades. Licença maternidade – À empregada gestante é assegurada licença de 120 dias consecutivos, sem prejuízo do emprego e da remuneração, podendo ter início no primeiro dia do nono mês de gestação, salvo antecipação por prescrição médica (Constituição Federal de 1988, artigo 7º - inciso XVIII). A Lei Federal no 11.770, de 9 de setembro de 2008, cria o Programa Empresa Cidadã, que visa prorrogar para 180 dias a licença-maternidade prevista na Constituição, mediante incentivo fiscal às empresas. A empregada deve requerer a licença-maternidade até o final do primeiro mês após o parto e o benefício também se aplica à empregada que adotar ou obter guarda judicial por fins de adoção de criança. O Decreto no 6.690, de 11 de dezembro de 2008, regulamenta a extensão da licença maternidade prevista na lei 11.770 para as servidoras da 111 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Administração Pública Federal. Muitos estados e municípios estão concedendo a licença maternidade de 180 dias para suas servidoras. Direito à garantia no emprego – É vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa da mulher trabalhadora durante o período de gestação e lactação, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto (Ato das disposições constitucionais transitórias – artigo 10 inciso II, letra b). Direito à creche – Todo estabelecimento que empregue mais de trinta mulheres com mais de 16 anos de idade deverá ter local apropriado onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência os seus filhos no período de amamentação. Essa exigência poderá ser suprida por meio de creches distritais mantidas, diretamente ou mediante convênios, com outras entidades públicas ou privadas como SESI, SESC, LBA, ou entidades sindicais. (Consolidação das Leis do Trabalho – artigo 389 – parágrafos 1º e 2º). Pausas para amamentar – Para amamentar seu filho, até que este complete seis meses de idade, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a dois descansos, de meia hora cada um. Quando assim exigir a saúde do filho, o período de seis meses poderá ser expandido a critério da autoridade competente. (Consolidação das Leis do Trabalho – artigo 396 – parágrafo único). Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras - NBCAL (Portaria do Ministério da Saúde n° 2.051/2001 e duas Resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a RDC n° 221/2002 e a RDC n° 222/2002) e Lei no 11.265, de 3 de janeiro de 2006. Esses instrumentos regulamentam a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância (até os 3 anos de idade) e produtos de puericultura correlatos. A legislação traz regras como a proibição de propagandas de fórmulas lácteas infantis, de uso de termos que lembrem o leite materno em rótulos de alimentos preparados para bebês e fotos ou desenhos que não sejam necessários para ilustrar métodos de preparação do produto. Além disso, torna obrigatório que as embalagens dos leites destinados às crianças tragam inscrição advertindo que o produto deve ser incluído na alimentação de menores de 1 ano, apenas com indicação expressa de médico, assim como os riscos do preparo 112 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança inadequado do produto. A lei também proíbe doações de mamadeiras, bicos e chupetas ou sua venda em serviços públicos de saúde, exceto em casos de necessidade individual ou coletiva. 4 Aleitamento artificial2 Quando o desmame não pode ser revertido após orientações e acompanhamento dos profissionais ou em situações e que a mãe não está recomendada a amamentar, a melhor opção para crianças totalmente desmamadas com idade inferior a quatro meses é a alimentação láctea. O uso de leite de vaca e/ou fórmula infantil deve ser avaliado pelo profissional de saúde, de forma individualizada. É conveniente evitar o leite de vaca não modificado no primeiro ano de vida em razão do pobre teor e baixa disponibilidade de ferro, o que pode predispor à anemia, e pelo risco maior de desenvolvimento de alergia alimentar, distúrbios hidroeletrolíticos e predisposição futura para excesso de peso e suas complicações. 4.1 Tipos de leite artificial Fórmulas lácteas (leite de vaca modificado). Leite de vaca: esterilizado, pasteurizado. 4.1.1 Critérios para seleção do tipo de leite Condições socioeconômicas da família. Leite a que a família tem mais fácil acesso devido ao local de moradia (zona urbana ou rural). Condições de conservação do leite em casa. Idade e saúde geral do lactente. 2 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. (Série A. Normas e manuais técnicos. Cadernos de Atenção Básica, n. 23).Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 113 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 4.1.2 Fórmulas infantis ou leite de vaca modificado As fórmulas infantis caracterizam-se por terem menor osmolaridade, gorduras de mais fácil digestibilidade com substituição de parte da gordura por óleo vegetal, menor teor e melhor qualidade de proteínas, baixo conteúdo de sais e são acrescidas de vitaminas, ferro e oligoelementos, além de manterem uma melhor relação entre o cálcio e o fósforo. Estes produtos, especificamente elaborados para atender as necessidades nutricionais do lactente no primeiro ano de vida, seguem a recomendação do Codex Alimentarius FAO/OMS (1994). 4.1.2.1 Tipos de fórmula “De partida” – indicadas para o 1° semestre. “De seguimento” – indicadas para o 2° semestre. 4.1.2.2 Riscos Intolerância; Constipação, flatulência, consistência das fezes, agitação, regurgitação e vômitos; Diluição excessiva da fórmula; Utilização de água contaminada para reconstituição; Acréscimo inadequado de cereais e açúcar; Procedimentos práticos para adequação da dieta. 4.1.2.3 Cálculo as necessidades de energia e proteínas Quadro 15 – Taxas calóricas (em kcal/kg/dia) Idade Kcal/Kg/dia 0 a 3 meses 116 3 a 6 meses 99 6 a 9 meses 95 9 a 12 meses 101 Fonte: FAO/OMS/1985. 114 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 4.1.3 Para crianças completamente desmamadas Crianças afastadas da aleitamento materno, sem possibilidade de relactação, investigar o tipo de leite utilizado e a forma de preparo. Se a criança tiver idade inferior a 5 meses, perguntar à mãe a diluição usada, o volume de leite normalmente oferecido em cada mamada e se é habitual acrescentar algum outro alimento ao leite (açúcar, adoçantes, cereais ou achocolatados). Identificar as práticas de higiene usadas na manipulação e no preparo da mamadeira. 4.1.4 Como orientar as mães Deve-se garantir que a criança não receba leite de vaca cru (sem tratamento térmico adequado), leites desnatados ou achocolatados. As fórmulas lácteas, ou leite de vaca modificado, são a melhor opção para crianças desmamadas, pois sua composição está adequada às necessidades nutricionais do lactente, mas nem sempre constituem uma opção viável para a família devido ao seu elevado custo. Contudo, nas situações em que for possível usá-las, deve-se proceder a orientação de preparo à mãe de acordo com a indicação do fabricante e respeitando o volume aceito pela criança. Para reconstituição das fórmulas, a água deve ser previamente fervida, colocada na mamadeira e então adicionado o leite em pó. A mamadeira deve ser então vedada e agitada para completa dissolução da mistura. Quando a opção possível for o leite de vaca integral fluido ou em pó, a mãe deve ser orientada em relação à diluição adequada para a idade do lactente e utilização de água previamente fervida para diluir o leite. O leite fluido pasteurizado deve ser fervido antes de utilizado, mas em caso de uso de leite esterilizado a mãe deve ser orientada a apenas aquecê-lo. 115 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança O leite de vaca deve ser diluído para atender às limitações fisiológicas do lactente em especial em relação a proteínas, cálcio e eletrólitos, que estão presentes no leite em quantidades excessivas. Não há necessidade de acréscimo de açúcar ao leite e a utilização de cereais deve ser feita apenas sob recomendação do médico pediatra ou nutricionista. A mamadeira e bicos usados para oferta do leite devem ser corretamente higienizados após cada mamada. Deve-se fervê-los por 10 minutos em panela limpa com água. Cada mamadeira deve ser preparada imediatamente antes de ser oferecida e a mãe não deve aproveitar restos de mamadas anteriores. Deve-se assegurar que todos os lactentes em aleitamento artificial recebam água nos intervalos de mamada Deve haver um cuidado especial em relação ao ferro, pois freqüentemente crianças alimentadas com leite de vaca apresentam deficiência de ferro ou anemia ferropriva. Assim sendo é recomendado o uso de suplementação de ferro para crianças em aleitamento artificial com o objetivo de prevenir a depleção dos estoques de ferro, o que será recomendado à mãe pelo médico pediatra. 4.1.5 Riscos associados ao uso do leite de vaca Alergias alimentares. Elevada carga de solutos. Digestibilidade difícil para o lactente. Presença de ferro pouco utilizado pelo organismo do lactente. Deficiências de ácido fólico, vitamina c, zinco e outros nutrientes. Oferece maiores riscos de infecções gastrintestinais e respiratórias. O lactente pode apresentar ganho de peso e comprimento inadequados em relação aos padrões de referência. 116 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Fatores econômicos, que podem levar a diluição excessiva do leite. Utilização de água contaminada para diluição. Acréscimo inadequado de cereais e açúcar. O Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que, durante o primeiro ano de vida, e somente na impossibilidade do aleitamento materno, a fonte láctea oferecida aos lactentes sejam as fórmulas infantis. O uso do leite de vaca não é recomendado durante todo o primeiro ano de vida. O Departamento de Gastroenterologia da Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que não seja utilizado o leite de vaca integral, líquido ou em pó, na alimentação durante o primeiro ano de vida, nem mesmo em suas preparações diluídas. Alerta para as seguintes conseqüências do uso do leite de vaca nas crianças com menos de um ano de vida: pobre teor e baixa disponibilidade de ferro e perda de sangue pelas fezes, aumentando o risco de anemia ferropriva; elevado teor de eletrólitos e proteínas podendo levar a distúrbios hidroeletrolíticos; exposição à proteína heteróloga, predispondo ao surgimento de doenças alérgicas; quantidades inadequadas de algumas vitaminas e ácido linoléico e maior predisposição futura para obesidade, aterosclerose, dor abdominal recorrente e catarata. É importante reforçar que o leite de vaca integral fluido ou em pó não é recomendado para criança menor de um ano. Diante da impossibilidade de impedir a utilização desse alimento para o lactente, o profissional de saúde deve orientar a mãe quanto aos procedimentos que incluem a diluição adequada até os 4 meses de idade, a correção da deficiência de linoléico com óleo nos primeiros 4 meses e a suplementação com vitamina C e ferro. Se a criança estiver recebendo preparação com leite de vaca, seguir o seguinte esquema: com 2 meses – suplementação com vitamina C (30 mg/dia) – suco de fruta ou suplemento medicamentoso; na idade de 2 a 3 meses – suplementação co ferro (1 a 2 mg por kg de peso/dia) até que a alimentação complementar seja introduzida e supra as necessidades desses minerais.Após 117 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança completar 4 meses de idade o leite de vaca integral líquido não deverá ser diluído e nem acrescido de óleo, já que nessa idade a criança receberá outros alimentos.3 5 Dez passos para alimentação saudável de crianças menores de dois anos recomendados pelo Ministério da Saúde 5.1 Passo 1 Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer águas, chás ou qualquer outro alimento. O leite materno contém tudo que a criança necessita até o 6° mês de idade, inclusive água, além de proteger contra infecções. A criança que recebe outros alimentos além do leite materno antes dos seis meses, principalmente através de mamadeira, incluindo água e chás, adoece mais e pode ficar desnutrida. 5.2 Passo 2 A partir dos 6 meses, oferecer de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais. A partir dos 6 meses, o organismo da criança já está preparado para receber alimentos diferentes do leite materno, que são chamados de alimentos complementares. Mesmo recebendo outros alimentos, a criança deve continuar a mamar ao peito até os dois anos ou mais, pois o leite materno continua alimentando a criança e protegendo-a contra doenças. 3 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. (Série A. Normas e manuais técnicos). - 2. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 118 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Com a introdução do alimento complementar, é importante que a criança beba água nos intervalos das refeições. A água oferecida deve ser tratada, filtrada e fervida. A alimentação deve complementar a o leite materno e não substituílo. Portanto, a introdução das refeições não deve substituir as mamadas no peito. Quadro 16 - Esquema para introdução dos alimentos complementares Idade Até completar 6 meses Ao completar 6 meses Ao completar 7 meses Ao completar 8 meses Ao completar 12 meses Tipo de aleitamento Aleitamento materno exclusivo. Leite Materno, papa de fruta* e papa salgada**. Segunda papa salgada**. Gradativamente passar para a alimentação da família. Comida da família *Papa de fruta: A expressão “papa de fruta” tem como objetivo salientar a consistência com que deve ser oferecido esse alimento, ou seja, amassado ou raspado. **Papa Salgada: A expressão “papa salgada” é utilizada para diferenciá-la das papas de frutas, é importante salientar que o objetivo do uso do termo “salgada” não é adjetivar a expressão, induzindo ao entendimento de que a papa tenha muito sal ou que seja uma preparação com utilização de leite acrescido de temperos/sal. Expressões como “papa de vegetais com carne” ou outra que dê idéia de consistência (de purê) e variedade também podem ser empregadas como outras estratégias para uma boa comunicação em saúde. Fonte: Adaptação da Sociedade Brasileira de Pediatria (2006). 5.3 Passo 3 Ao completar 6 meses de idade os alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes)devem ser oferecidos três vezes ao dia (papa de fruta, papa salgada e papa de fruta), pois contribuem com o fornecimento de energia, proteína e micronutrientes, além de preparar a criança para a formação dos hábitos alimentares saudáveis no futuro. Ao completar 7 meses deve ser acrescentado ao esquema alimentar a segunda papa salgada. A partir do momento que a criança começa a receber qualquer outro alimento, a absorção do ferro do leite materno reduz significativamente; por esse motivo a introdução de carnes, vísceras e miúdos (fígado, coração, moela), mesmo 119 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança que seja em pequena quantidade, é muito importante no mínimo uma vez por semana. O ovo cozido (clara e gema) pode ser introduzido ao completar 6 meses, mas seu uso deve ser avaliado pela equipe de saúde. É importante considerar a história familiar de alergias alimentares e a disponibilidade financeira da família para oferecer outras fontes protéicas. Algumas crianças precisam ser estimuladas a comer, nunca forçadas. Quadro 17 - Esquema alimentar para os dois primeiros anos de vida das crianças amamentadas Ao completar 6 meses Leite materno sob livre demanda. Papa de fruta. Papa salgada. Ao completar 7 meses Leite materno sob livre demanda. Papa de fruta. Papa salgada. Papa de fruta. Papa de fruta. Leite Materno. Papa salgada. Ao completar 12 meses Leite materno e fruta ou cereal ou tubérculo Fruta Refeição básica da família Fruta ou pão simples ou tubérculo ou cereal. Refeição básica da família. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. (Série A. Normas e manuais técnicos). - 2. ed. - Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. Quadro 18 - Alimentos que podem ser oferecidos à criança como pequenas refeições Ao completar 6 até 12 meses Ao completar 12 meses Frutas (banana, manga, abacate, caju, maçã, caqui, mamão, priorizar alimentos regionais). Frutas (banana, manga, abacate, caju, maçã, caqui, mamão, priorizar alimentos regionais).Cereais (arroz, milho, aveia,etc) ou tubérculo (inhame, batata doce, cará). Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. (Série A. Normas e manuais técnicos). - 2. ed. - Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 120 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 5.4 Passo 4 A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança. Crianças amamentadas no peito em livre demanda desenvolvem muito cedo a capacidade de autocontrole sobre a ingestão de alimentos, aprendendo a distinguir as sensações de saciedade após as refeições e de fome após o jejum (período sem oferta de alimentos). Esquemas rígidos de alimentação interferem nesse processo de autocontrole pela criança. Este aprendizado precoce é fundamental na formação das diferenças nos estilos de controle de ingestão de alimento nos primeiros anos de vida. O tamanho da refeição está relacionado positivamente com os intervalos entre as refeições. Grandes refeições estão associadas a longos intervalos e vice-versa. É importante que as mães desenvolvam a sensibilidade para distinguir o desconforto do bebê por fome de outros tipos de desconforto (sono, frio, calor, fralda molhada ou suja, dor) para que elas não insistam em oferecer alimentos à criança quando esta não tem fome. É recomendável oferecer a alimentação complementar, sem rigidez de horários, com intervalos regulares (2 a 3 horas) para que a criança sinta a necessidade de se alimentar (fome). Nos primeiros dias de oferta de alimentos complementares a mãe pode oferecer leite materno, caso a criança demonstre que não está saciada. Para as crianças já desmamadas, devem ser oferecidos três refeições e dois lanches, assim distribuídos: no período da manhã (desjejum), meio da manhã (lanche), almoço, meio da tarde (segundo lanche), final da tarde ou início da noite (jantar). 121 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança São desaconselháveis práticas nocivas de gratificação (prêmios) ou coercitivas (castigos) para conseguir que as crianças comam o que eles (os pais ou cuidadores) acreditam que seja o necessário para ela. 5.5 Passo 5 A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a sua consistência até chegar à alimentação da família. No início da alimentação complementar, os alimentos oferecidos à criança devem ser preparados especialmente para ela, sob forma de papas, purê de legumes, cereais ou frutas. A partir dos 8 meses, podem ser oferecidos os mesmos alimentos preparados para a família, desde que amassados, desfiados, picados ou cortados em pedaços pequenos. As refeições, quanto mais espessas e consistentes, apresentam maior densidade energética (caloria/grama de alimento), comparadas com as dietas diluídas, do tipo sucos e sopas ralas. Como a criança tem capacidade gástrica pequena e consome poucas colheradas no início da introdução dos alimentos complementares, é necessário garantir o aporte calórico com papas de alta densidade energética. Deve-se evitar o uso da mamadeira, pois a mesma pode atrapalhar a amamentação e é importante fonte de contaminação e transmissão de doenças. Recomenda-se o uso de copos (copinhos) para oferecer água ou outros líquidos e dar o alimento semi sólido e sólido com prato e colher. Aos 6 meses, a trituração complementar dos alimentos é realizada com as gengivas que já se encontram suficientemente endurecidas (devido a aproximação dos dentes da superfície da gengiva). A introdução da alimentação complementar espessa vai estimular a criança nas funções de lateralização da língua, jogando os alimentos para os dentes trituradores e no reflexo de mastigação. 122 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Com 8 meses, a criança que for estimulada a receber papas com consistência espessa, vai desenvolver melhor a musculatura facial e a capacidade de mastigação. Assim, ela aceitará, gradativamente, com mais facilidade a comida da família a partir dessa idade. 5.6 Passo 6 Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida. Desde cedo a criança deve acostumar-se a comer alimentos variados. Só uma alimentação variada evita a monotonia da dieta e garante a quantidade de ferro e vitaminas que a criança necessita, mantendo uma boa saúde e crescimento adequados. As carnes e o fígado, além de conter o ferro orgânico de alto aproveitamento biológico, facilitam a absorção do ferro inorgânico contido nos vegetais e outros alimentos, mesmo que adicionados em pequenas porções. O fígado é também uma excelente fonte de vitamina A. As vísceras podem ser recomendadas para consumo, no mínimo uma vez na semana. O feijão e outras leguminosas também são importantes fontes de ferro inorgânico, quando consumidos junto com uma fonte de vitamina C. Para que o ferro presente nos vegetais folhosos e feijão seja melhor absorvido, os mesmos têm que ser consumidos com algum alimento rico em vitamina C e/ou carnes. As carnes também aumentam a absorção do ferro dos outros alimentos. A formação dos hábitos alimentares é muito importante e começa muito cedo. É comum a criança aceitar novos alimentos apenas após algumas tentativas e não nas primeiras. O que pode parecer rejeição aos novos alimentos é resultado do processo natural da criança em conhecer novos sabores e texturas e da própria evolução da maturação dos reflexos da criança. 123 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Os alimentos devem ser oferecidos separadamente, para que a criança aprenda a identificar as suas cores e sabores. Colocar as porções de alimento no prato sem misturá-los. 5.7 Passo 7 Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições. As crianças devem acostumar-se a comer frutas, verduras e legumes desde cedo, pois esses alimentos são importantes fontes de vitaminas, cálcio, ferro e fibras. Para temperar os alimentos recomenda-se o uso de cebola, alho, óleo, pouco sal e ervas (salsa,cebolinha e coentro). As frutas, legumes e verduras são as principais fontes de vitaminas, minerais e fibras. Normalmente, no início, as crianças aceitam melhor os alimentos com sabor doce. As frutas devem ser oferecidas in natura, amassadas, ao invés de sucos. O consumo de suco natural deve ser limitado por conterem menor densidade energética e, se for oferecido, em pequena quantidade, após as refeições principais para ajudar a absorver melhor o ferro inorgânico. Se a criança recusar determinado alimento, deve-se oferecer novamente em outras refeições. Lembrar que são necessárias em média, oito a dez exposições a um novo alimento para que ele seja aceito pela criança. Técnicas inadequadas usadas na introdução dos alimentos complementares podem também prejudicar a aceitação desses alimentos como: O uso de misturas de vários alimentos, comumente liquidificados ou peneirados, dificulta à criança testar os diferentes sabores e texturas dos novos alimentos que estão sendo oferecidos. A substituição da refeição por bebidas lácteas quando ocorre a primeira recusa do novo alimento pela criança e ofertada com freqüência pode 124 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança causar anemia e excesso de peso. Já foi demonstrado cientificamente que a criança, mesmo pequena, condiciona-se à oferta de um substituto para a alimentação recusada. Até completar um ano de vida, a criança possui a mucosa gástrica sensível e, portanto, as substâncias presentes no café, chás, mate, enlatados e refrigerantes podem irritá-la, comprometendo a digestão e a absorção dos nutrientes, além de terem baixo valor nutricional. 5.8 Passo 8 Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas, nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação. O sal iodado, além de fornecer o iodo, é importante para que a criança se adapte à alimentação da família, porém seu uso deve ser moderado e restrito àquele adicionado às papas salgadas. A criança não deve comer alimentos industrializados, enlatados, embutidos e frituras, pois estes alimentos contêm sal em excesso, aditivos e conservantes artificiais. As frituras são desnecessárias, especialmente nos primeiros anos de vida. A fonte de lipídeo (gordura) para a criança já está presente naturalmente, no leite, nas fontes protéicas e no óleo vegetal utilizado para o cozimento dos alimentos. O óleo usado para as frituras sofre superaquecimento, liberando radicais livres que são prejudiciais à mucosa intestinal do bebê e, a longo prazo, tem efeitos danosos sobre a saúde. O consumo de alimentos não nutritivos (refrigerantes, salgadinhos, açúcar, frituras, doces, gelatinas industrializadas, refrescos em pó, temperos prontos, margarinas, achocolatados e outras guloseimas) está associado à anemia, ao excesso de peso e às alergias alimentares. O mel é totalmente contra-indicado no primeiro ano de vida pelo risco de contaminação com Clostridium botulinum, que causa botulismo. 125 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 5.9 Passo 9 Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequada. Enquanto o aleitamento materno exclusivo protege as crianças contra a exposição a microorganismos patogênicos, a introdução de outros alimentos as expõem ao risco de infecções. Quando a criança passa a receber a alimentação complementar aumenta a possibilidade de doenças diarréicas que constituem importante causa de morbidade e mortalidade entre crianças pequenas. Os maiores problemas dessa ordem são a contaminação da água e alimentos, durante sua manipulação e preparo, inadequada higiene pessoal e dos utensílios, alimentos mal cozidos e conservação dos alimentos em temperatura inadequada. Os alimentos consumidos pela criança ou utilizados para preparar as suas refeições devem ser guardados em recipientes limpos e secos, em local fresco, tampados e longe do contato de moscas ou outros insetos, animais e poeira. O uso de mamadeira é um risco de contaminação do alimento pela dificuldade para limpeza e adequada higienização. O ideal é utilizar copos ou xícaras. Nos alimentos preparados, a proliferação de microrganismos pode ocorrer se os mesmos permanecerem à temperatura ambiente ou se o refrigerador não for mantido em temperatura adequada (abaixo de 5º C). Orienta-se que os alimentos sejam preparados em quantidade suficiente para o momento do consumo. Recomenda-se preparar a porção (quantidade de alimento) que normalmente a criança ingere. Se, após a refeição, sobrar alimentos no prato (restos), eles não podem ser oferecidos posteriormente. 5.10 Passo 10 126 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando sua aceitação. Nos casos das crianças febris e/ou com diarréia, a oferta de líquidos e água deve ser aumentada, oferecidos nos intervalos das refeições e, de preferência, em xícaras ou copos. O uso de mamadeira aumenta o risco de infecções e diarréia. Para a criança com pouco apetite oferecer os alimentos da sua preferência, um volume menor de alimentos por refeição e aumentar a freqüência de oferta de refeições ao dia. Não forçar a criança a comer. Isso aumenta o estresse e diminui ainda mais o apetite. As refeições devem ser momentos tranqüilos e felizes. No período de convalescença, o apetite da criança encontra-se aumentado. Por isso recomenda-se aumentar a oferta de alimentos nesse período, acrescentando pelo menos mais uma refeição nas 24 horas. A criança com infecção ingere menos alimentos pela falta de apetite, porque está vomitando ou porque sente cólicas e gasta mais energia devido à febre e ao aumento da produção de alguns hormônios e anticorpos. Episódios frequentes de infecção podem levar ao atraso no desenvolvimento e a certas deficiências nutricionais (vitamina A, zinco e ferro). Esses fatores aumentam a vulnerabilidade da criança a novos episódios de infecção, formando um ciclo vicioso, que vai comprometer o seu estado nutricional. O aleitamento materno é a melhor e mais eficiente recomendação dietética para a saúde da criança pequena. O leite materno protege contra as infecções e contribui para que elas sejam menos graves, fornecendo agentes imunológicos eficazes e micronutrientes que são melhor absorvidos e aproveitados. 127 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança A prioridade dietética para a criança doente é a manutenção da ingestão adequada de calorias, utilizando alimentos complementares pastosos ou em forma de papas com alta densidade energética. Uma boa prática para aumentar o teor energético diário da alimentação de crianças que apresentarem baixo peso para a estatura é acrescentar, às refeições salgadas, uma colher das de sobremesa de óleo para crianças menores de um ano e uma colher das de sopa para maiores de um ano. 6 Outras considerações sobre Alimentação complementar do lactante Deve-se assegurar ainda que a criança amamentada receba os novos alimentos em colher e que sejam respeitados o uso dos alimentos mais comuns à região e ao hábito alimentar da família e observados o baixo custo, os alimentos da época, cuidados com a higiene ao manusear e preparar as refeições. É importante que a mãe saiba: No início a criança pode aceitar pequenas quantidades dos novos alimentos e isto é normal até que ela esteja completamente adaptada. Por isso deve-se oferecer o peito após a refeição (lanche da manhã e da tarde), e em todos os outros horários do dia. . Em relação às papas de frutas, iniciar com uma colher de chá e aumentar progressivamente para 2 a 4 colheres de sopa. Deve-se usar uma fruta por vez, para permitir que a criança conheça os diferentes sabores e nunca utilizar sucos artificiais. É aconselhável o uso de frutas cítricas no início, mas não é uma indicação exclusiva. As papas devem ser preparados imediatamente antes de oferecer à criança, para reduzir a perda de valor nutritivo. A partir do momento em que a criança passou a receber alimentos, além do leite da mãe, também deve receber água, filtrada ou fervida, oferecida em copo ou utensílio rígido devidamente higienizado, nos intervalos das refeições. As papas de frutas não devem ser adoçados com açúcar ou adoçantes, pois as frutas já têm um açúcar natural, a frutose. 128 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Os legumes (cenoura, abóbora, abobrinha, chuchu e outros) devem estar cozidos e a consistência pastosa deve ser obtida com auxílio de um garfo para garantir textura que estimule a mastigação, favorecendo desta forma a transição de uma alimentação líquida para alimentos oferecidos em grãos ou pedaços. Nunca liquidificar os alimentos, pois ficando liquefeitos, como no caso de sopas ralas, a refeição oferecerá menos energia e não vai estimular o ato da mastigação. Deve-se, de início, oferecer um legume de cada vez para permitir que a criança reconheça cada alimento (cheiro, sabor) até que numa refeição estejam presentes vários alimentos. Pode-se acrescentar aos legumes pedaços de carnes frescas, de fígado ou miúdos de galinha(não usar tabletes de caldo de carne ou galinha). A quantidade oferecida deve respeitar a aceitação pela criança e ser aumentada gradativamente à medida que os alimentos forem melhor aceitos. Pode-se iniciar a oferta com 1 colher de sobremesa. Seguem-se algumas recomendações: É recomendável que, nos primeiros dias da oferta dos novos alimentos, a mãe ofereça o peito após a refeição. Tão logo a criança se adapte às novas refeições as mamadas devem ser realizadas em horário distinto, mantendo pelo menos 2 horas de intervalo, para que seja assegurada uma oferta adequada de nutrientes. Recomenda-se que a mãe lave as mãos antes de preparar qualquer alimento. Devem ser utilizados alimentos frescos (frutas, hortaliças e carne), estando os mesmos bem lavados e descascados. Usar sempre água fervida ou filtrada para o preparo das refeições. Utilizar o mínimo de água possível no cozimento, e adicionar pouco sal. Podem ser utilizados salsinha e cebolinha mas moderar o uso de cebola e alho. Cozinhar os alimentos por tempo suficiente até ficarem bem macios, evitando a cocção prolongada, pois esta destrói boa parte das vitaminas. 129 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Acrescentar óleo vegetal (soja, milho, girassol) na medida de 1 colher de café inicialmente e à medida que a criança aceitar quantidades maiores passar a 1 colher de chá. Preparar cada refeição imediatamente antes de ser oferecida, para evitar a perda excessiva de vitaminas e a contaminação. 6.1 Acrescentando novos alimentos à papa salgada Em torno dos 7 meses acrescentar sempre que possível carnes (bovina, frango, fígado, peixe, ovo, miúdos de galinha) às papas, como fonte de proteínas de origem animal. Estas devem ser misturadas aos legumes, desfiadas ou picadas. Para lactentes em aleitamento artificial este procedimento deverá ocorrer em torno dos 6 meses. O ovo inteiro e cozido pode ser introduzido aos 6 meses. Iniciar a oferta do jantar, adicionando outros alimentos. A batata, a mandioca, mandioquinha, arroz, macarrão passam a fazer parte da refeição básica do almoço e jantar. Em torno dos oito meses a refeição salgada é constituída de um alimento básico fonte de carboidratos como o arroz, o macarrão, a batata ou a mandioca. Acrescentam-se os alimentos fonte de proteínas de origem vegetal como as leguminosas a exemplo do feijão, lentilha, ervilhas, grão de bico, soja e podem ser usadas as folhas verdes. Os alimentos já podem ser deixados em pedaços pequenos ou em grãos ao invés de completamente amassados. Entre os dez e doze meses de vida, os alimentos preparados para a refeição da família como o arroz, feijão, cozidos de carne ou legumes podem ser oferecidos à criança. Deve haver cuidado para que os alimentos estejam levemente amassados, procurando já deixar pedaços mais inteiros ou desfiados e que não sejam preparados com muito sal, óleo ou com condimentos picantes. É importante que a mãe saiba: 130 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Ao invés de formar uma lista gigantesca de compras, deve-se optar pelos alimentos de uso comum da família. O prato deve ser constituído por alimentos de cores fortes como abóbora, couve associados a alimentos de cores amenas como chuchu, abobrinha e macaxeira, inhame. Este cuidado assegura a oferta de diferentes nutrientes em uma mesma refeição, principalmente fontes de vitaminas A e C. Deve-se introduzir um alimento novo a cada dia e não vários de uma só vez. Sempre que possível oferecer carne às refeições, pois oferece grande quantidade de ferro facilmente utilizável pelo organismo da criança. Alimentos ricos em vitamina C (tomate, manga,acerola, goiaba, laranja, abacaxi, limão) são importantes fontes de vitamina C e devem ser oferecidas junto à refeição principal ou após a refeição para aumentar a absorção do ferro presente. É recomendável que a mãe não ofereça mais o peito em seguida ou em horário próximo ao das refeições, pois isto pode fazer com que a criança não aproveite o ferro de forma adequada. O leite deve ser usado pelo menos 2 horas antes ou depois do almoço e jantar. Os cereais podem ser usados em adição às papas de frutas, no lanche da tarde, dando-se preferência aos enriquecidos com ferro e indicados para o segundo semestre de vida. O lactente que mama no peito não deve receber alimentos derivados do leite de vaca, como iogurtes, queijos e outros. O lactente deve receber pelo menos 3 refeições com alimentos complementares por dia. Não oferecer à criança sobras de alimentos da refeição anterior, por isso prepare-os apenas no momento em que vão ser usados. A criança deve ser colocada à mesa para que realize as refeições junto à família, e desta forma, a utilização de alimentos pelos familiares estimula a criança a consumi-los. Não se deve estabelecer horários rígidos para as refeições, e sim permitir que o lactente demonstre sensação de fome. 6.2 Alerta da Organização Mundial da Saúde às mães 131 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Líquidos e bebidas devem estar livres de contaminação. Então a água utilizada para o preparo dos alimentos deve ser tratada, filtrada e fervida, As frutas, legumes e verduras devem ser lavados em água corrente e colocados de molho por 10 minutos, em água clorada, utilizando produto adequado para esse fim (ler rótulo da embalagem), na diluição de uma colher de sopa do produto para cada litro de água. Depois enxaguar em água corrente, antes de serem descascados, mesmo aqueles que não sejam consumidos com casca. Todo utensílio que vai ser utilizado para oferecer a alimentação à criança precisa ser lavado e enxaguado com água limpa. A mamadeira é o maior veículo de contaminação, aumentando o risco de infecções e diarréia. Orientar a higienização adequada. Deve-se lavar todos os alimentos que serão refrigerados tais como verduras, legumes e até algumas frutas, antes de colocá-los no refrigerador. Bebidas tipo sucos e chás claros (camomila, erva doce) não devem substituir o leite materno ou os alimentos sólidos. Qualquer líquido deve ser oferecido após as refeições e em pequena quantidade. Chá preto, chá mate e café não devem ser oferecidos à criança, pois prejudicam a absorção do ferro, principalmente quando oferecidos em horário próximo ao das refeições. 6.3 Alimentos que NÃO devem ser usados no primeiro ano de vida Os de difícil mastigação e digestão: frituras, lingüiça, grãos de milho e outros. Os que oferecem riscos de engasgo e asfixia: batata frita, pipoca, frutas com sementes, casca ou bagaço. Os potencialmente alergênicos: leite de vaca cru (sem tratamento térmico), ovo cru, amendoim. Os que oferecem maior risco de contaminação: enlatados, conservas e embutidos. Produtos com corantes artificiais como sucos artificiais, biscoitos recheados e outros. Produtos industrializados com conservantes. 132 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Açúcar e doces, especialmente os industrializados. Chocolates e achocolatados. Mel. Refrigerantes, café, chá mate e chá preto. Os que contêm nitrato (industrializados ou naturais) como presunto, embutidos em geral. Alimentos com muito sal a exemplo dos salgadinhos tipo chips, amendoim salgado, biscoitos tipo aperitivo e outros. 6.4 Atitudes que podem favorecer a formação de bons hábitos alimentares Oferecer as refeições em ambiente calmo e apropriado. Colocar a criança sentada de forma a ficar com o tronco reto e sentar-se à sua frente para oferecer-lhe a refeição. Deixar sempre uma colher à disposição da criança. Permitir que a criança explore os alimentos, tocando-os com as mãos, sentindo sua textura, seu cheiro e paladar. Respeitar as preferências da criança, sem manifestar desagrado quando ela não aceita algum alimento. Permitir que a criança estabeleça seu próprio limite e recuse parte do que é servido Sempre que possível, fazer com que as refeições da criança sejam realizadas à mesa e de preferência, no mesmo horário que o restante da família. Procurar oferecer alimentos sem adição de açúcar, preferindo frutas que não precisam ser adoçadas (laranja, pêra, maçã, banana, mamão, manga, goiaba, melancia). A criança não deve “experimentar” todos os alimentos consumidos pelo restante da família como iogurtes industrializados, macarrão instantâneo, frituras, salgadinhos, refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Nestas situações procurar oferecer à criança frutas, sucos naturais ou cereais. Os irmãos maiores devem ser orientados a não oferecer doces, sorvetes ou refrigerantes à criança pequena. Ao final do primeiro ano de vida a alimentação da criança deve ser semelhante à da família, mas é importante que aqueles que participam das refeições 133 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança diárias, principalmente o responsável pelo preparo dos alimentos, estejam conscientes de que uma alimentação saudável deve ser mantida por todos, na medida do possível. Os alimentos, grupos alimentares e tipos de preparações sugeridos para a criança, devem ser apresentados à mesa para toda a família, pois do contrário, em pouco tempo a criança, estará copiando os hábitos alimentares praticados em casa. A mãe deve ser orientada a ler o rótulo dos alimentos antes de comprá-los para evitar oferecer à criança alimentos que contenham aditivos e corantes artificiais. 6.5 Aos profissionais da equipe de saúde É muito importante prestar atenção ao que a mãe fala e estimular que ela expresse suas dúvidas e preocupações. Evite escrever enquanto a mãe fala. É recomendável não julgar o comportamento da mãe e reforçar positivamente as atitudes que forem corretas. As orientações devem ser divididas de forma a facilitar a assimilação pela mãe. A cada encontro deve-se priorizar as informações relevantes para aquele momento. 7 Suplementação de ferro e vitaminas A carência de ferro é atualmente um dos mais graves problemas nutricionais mundiais em termos de prevalência, sendo determinada, quase sempre, pela ingestão deficiente de alimentos ricos em ferro ou pela inadequada utilização orgânica.4 No Brasil se conhece bem a prevalência de anemia em crianças menores de 5 anos e tem sido verificadas elevadas prevalências de anemia 4 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. UNICEF. Carência por micronutrientes. (Série A. Normas e manuais técnicos. Caderno de Atenção Básica, n. 20).Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007. 134 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança principalmente entre as crianças de 6 a 24 meses. Diversos estudos isolados mostram que as prevalências variam de 30 a 70% dependendo da região e estrato sócio-econômico. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (2006), mostrou que a prevalência de anemia entre crianças brasileiras menores de 5 anos foi de 20,9%. Estudo realizado em Alagoas (Vieira et al.,2010) mostrou que a anemia, em crianças com idade entre 6 e 60 meses, apresentou magnitude (45,0%) que a caracteriza como grave problema de saúde pública. A prevalência de anemia mostrou-se mais elevada (75,2%) na faixa etária de 6 a 12 meses.5 O leite materno quando oferecido exclusivamente, apesar de ter um conteúdo baixo de ferro, supre as necessidades desse micronutriente no lactente nascido a termo nos primeiros 6 meses de vida. Após esse período, vários estudos confirmam um balanço negativo de ferro em crianças que continuaram sendo amamentadas exclusivamente, havendo a necessidade de suplementação de ferro ou através de alimentos complementares, ou de ferro medicamentoso. A educação alimentar e nutricional deve ser realizada pelos profissionais de saúde junto à população, buscando o aumento do consumo de ferro, melhorando a ingestão dos alimentos-fonte ou dos alimentos habituais com densidade de ferro adequada. O Brasil adotou, a partir do ano de 2004, a fortificação universal das farinhas de trigo e milho disponibilizadas para venda que passaram a estar fortificadas com ferro e ácido fólico visando a prevenção da deficiência de ferro em grandes segmentos populacionais.6 Na prática da puericultura é sugerido que para crianças prematuras o ferro seja suplementado a partir de oito semanas de vida. Nas crianças nascidas a termo, amamentadas com leite materno, suplementar a partir dos 6 meses ou a 5 Fonte: VIEIRA, R.C.S. et al.Prevalência e fatores de risco para anemia em crianças pré-escolares do Estado de Alagoas, Brasil. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant. Recife, 10(1): 107-116 jan./mar.,2010. 6 Fonte:Brasil. Ministério da Saúde. UNICEF. Carência por micronutrientes. (Série A. Normas e manuais técnicos. Caderno de Atenção Básica, n. 20). Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007. 135 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança partir do momento do desmame até um ano de idade. A dose utilizada de sulfato ferroso é de 1 mg de ferro elemento/kg/dia, que corresponde a 1 gota/kg/dia nas apresentações disponíveis na rede de atenção básica de saúde no estado de Alagoas. Prematuros e gemelares devem receber 2mg/kg/dia. Ante os dados apresentados anteriormente, estratégias que visem ao adequado controle e à prevenção da anemia por deficiência de ferro devem merecer destaque. Esse problema deve ser uma das prioridades na área de alimentação e nutrição, com ações e intervenções a curto, a médio e a longo prazos em relação à suplementação de grupos de risco, a fortificação de alimentos e as ações educativas que visem a diversificação alimentar. No ano de 2005, o Ministério da Saúde instituiu o Programa Nacional de Suplementação de Ferro destinado a suplementação preventiva com ferro para todas as crianças de 6 a 18 meses de idade. O produto (xarope de sulfato ferroso) é distribuído pelo Ministério da Saúde com todos os municípios brasileiros que, por sua vez, realizam a entrega e acompanhamento das crianças na rotina das unidades básicas de saúde. Como regra do programa, todas as crianças devem ser suplementadas ininterruptamente dos 6 aos 18 meses de idade. Se a criança não estiver em aleitamento materno exclusivo, a suplementação poderá ser realizada dos 4 aos 18 meses de idade. Nos casos em que a suplementação seja iniciada muito tardiamente, a partir dos 12 meses, orienta-se que a criança permaneça no programa por 6 meses. Para os casos de anemia com sintomas clínicos clássicos ou casos já diagnosticados, o tratamento deve ser prescrito de acordo com a conduta clínica para anemia, definida pelo profissional de saúde responsável.7 7 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. UNICEF. Carência por micronutrientes. (Série A. Normas e manuais técnicos. Caderno de Atenção Básica, n. 20).Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007. 136 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Em geral, a criança amamentada excluivamente por uma mãe bem nutrida não necessita de suplementação vitamínica, com exceção da vitamina K (que é utilizada universalmente nas maternidades). Há controvérsias em relação a necessidade de suplementação de vitamina D. A Unicef reconhece que a suplementação de vitamina D (200 a 400 UI/dia) é necessária quando a luz solar é inadequada e que alguns bebês tem um risco mais alto de deficiência que outros. Estima-se que a quantidade de luz solar necessária para prevenir a deficiência de vitamina D seja de 0,5 a 2 horas por semana (17 minutos por dia), com exposição apenas da face e mão do bebê e 30 minutos por semana (4 minutos por dia) se o bebê estiver usando apenas fraldas. É importante lembrar que crianças com pele escura podem requerer 3 a 6 vezes a exposição de bebês de pele clara para produzir a mesma quantidade de vitamina D. Ainda assim, a recomendação da Academia Americana de Pediatria é de ser feita a suplementação rotineira em todas as crianças iniciando durante os dois primeiros meses de idade. A magnitude do problema deficiência de vitamina A no Brasil foi investigada pela Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (2006), que encontrou uma prevalência de 17,4% de hipovitaminose A entre crianças brasileiras menores de 5 anos, condição que caracteriza a deficiência de vitamina A como um problema de saúde pública no Brasil. Estudo realizado em Alagoas (VASCONCELOS; FERREIRA, 2009) para investigar a deficiência de vitamina A em crianças menores de 5 anos da região semi-árida, encontrou uma prevalência de hipovitaminose A (44,8%) 2,2 vezes maior que aquela (20%) estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para caracterizar a situação como um grave problema de saúde pública.8 Para prevenir e controlar a deficiência de vitamina A, desde 1983 o Ministério da Saúde distribui cápsulas de 100 mil UI dessa vitamina para crianças de 6 a 11 meses de idade e de 200 mil UI para crianças de 12 a 59 meses de idade nos 8 Fonte: VASCONCELOS, A.M.A.; FERREIRA, H.S.Prevalência de hipovitaminose A em crianças da região semi-árida de Alagoas (Brasil) 2007. Archivos Latinoamericanos de Nutrición, v.59, p. 152158,2009. 137 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Estados da Região Nordeste e região norte de Minas Gerais por meio do Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A. Em Alagoas, o programa está implantado no âmbito da atenção básica desde o ano de 1998, com o repasse anual do produto para os 102 municípios que, por sua vez, realizam a administração entre as crianças menores de 5 anos e o acompanhamento na rotina das unidades básicas de saúde. A suplementação preventiva em crianças de 6 a 59 meses e puérperas no pós-parto imediato com vitamina A tem se mostrado a medida mais efetiva, a curto prazo, no controle da Deficiência de Vitamina A, além de extremamente promissora como medida de diminuição da mortalidade e morbidade. Conjunto de estudos relacionados a ação de suplementação com vitamina A em crianças de 6 meses a 5 anos verificou que esta poderia reduzir as taxas de mortalidade infantil em 23% nas situações de risco da deficiência, sendo o maior impacto obtido nas mortes relacionadas à diarréia e ao sarampo. Outro tipo de ação relevante para o controle e prevenção da hipovitaminose A é a orientação, aos cuidadores/responsáveis pelas crianças, sobre a necessidade do consumo de alimentos disponíveis localmente que sejam fonte de vitamina A, como leite integral e derivados, folhas de cor verde escura, frutos e raízes de cor alaranjada e óleos vegetais. Para o lactente a melhor fonte de vitamina A é o leite materno.9 9 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. UNICEF. Carência por micronutrientes. (Série A. Normas e manuais técnicos. Caderno de Atenção Básica, n. 20). Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007. 138 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança CAPITULO V AÇÕES PREVENTIVAS 1 Triagem auditiva e visual Lei Federal 12.303 de 2 de agosto de 2010 torna obrigatório a triagem auditiva nas maternidades. Lei Estadual nº 7.304 de 15 de dezembro de 2011 torna obrigatório a triagem auditiva e visual nas maternidades públicas e privadas de Alagoas. 1.1 Triagem auditiva 1.1.1 Período neonatal A prevalência e a importância da surdez justificam sua triagem entre 0 a 29 dias de vida. Deve-se pesquisar os fatores de risco para diminuição da acuidade auditiva: Internação em unidade de cuidados intensivos neonatais por mais de 48 horas. Sinais associados com síndrome que inclua perda auditiva neurossensorial ou condutiva. História familiar de surdez neuro sensorial. Anomalias craniofaciais, incluindo orelhas. Infecções intra-uterinas, como citomegalovírus, herpes, toxoplasmose ou rubéola. Peso de nascimento inferior a 1.500g. Meningite bacteriana. Hiperbilirrubinemia com níveis que requerem exanguinotransfusão. 139 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Asfixia grave: Apgar 0 - 3 (05° min). Medicação ototóxica por mais de 05 dias. Verificar no primeiro atendimento se foi realizado o teste de emissão otoacústica e resposta auditiva de tronco (teste da orelhinha); se não, encaminhar para realização do mesmo. 1.1.2 De trinta dias a dois anos Considerar os fatores de risco para os encaminhamentos: Todos os fatores de alto risco para recém-nascidos. Preocupação dos pais quanto à audição, fala ou desenvolvimento. Infecções pós-natais associadas com perda auditiva, incluindo meningite. Agendar consulta para avaliar surdez e encaminhar para fonoaudiologia. 1.2 Triagem visual Toda criança em idade escolar deve ser submetida a triagem de acuidade visual. Quando detectado alguma anormalidade, encaminhar ao oftalmologista. 1.2.1 Critérios para encaminhamento ao oftamologista 1.2.1.1 Critério de encaminhamento prioritário Caso algum examinado no momento da triagem apresente ou relate algum dos problemas listados abaixo, deverá ter prioridade no encaminhamento ao oftalmologista: Acuidade visual inferior a 0,1 em qualquer dos olhos. Quadro agudo (olho vermelho, dor, secreção abundante, dentre outros sinais e sintomas). Trauma ocular recente. 140 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 1.2.1.2 Critérios para encaminhamento regular10 Acuidade visual inferior ou igual a 0,7 em qualquer olho. Diferença de duas linhas ou mais entre a acuidade visual dos olhos. Estrabismo (olho torto ou vesgo). Paciente com mais de 40 anos de idade, com queixa de baixa acuidade visual para perto (ex: não consegue ler, não consegue enfiar linha na agulha). Paciente diabético. História de glaucoma na família. Outros sintomas oculares (prurido, lacrimejamento ocasional, cefaléia. 1.3 Triagem metabólica neonatal – teste do pezinho O programa de triagem neonatal tem por objetivo o desenvolvimento das ações de triagem neonatal, diagnóstico precoce, acompanhamento e tratamento das seguintes doenças congênitas: Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Doenças Falciformes e outras Hemoglobinopatias e Fibrose Cística. Hipotireoidismo congênito: é uma doença causada pela deficiência de produção dos hormônios da tireóide. Fenilcetonúria: é uma doença do metabolismo das proteínas, a criança nasce sem uma enzima que transforma a proteína fenilalanina. Se não tratada, leva a déficit cognitivo ; se tratada precocemente a criança desenvolve-se preservando as funções cognitivas. Anemia falciforme: são doenças hereditárias onde a criança nasce com hemoglobinas defeituosas e que prejudicam o transporte do oxigênio no sangue. A 10 Fonte: Projeto Olhar Brasil - TRIAGEM DE ACUIDADE VISUAL MANUAL DE ORIENTAÇÃO. Brasília – DF 2008 141 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança doença leva a criança a um quadro de anemia, e lesões em órgãos como o cérebro, ossos, pulmões, rins e outros. Fibrose cística: é uma doença hereditária que afeta as glândulas secretoras do corpo gerando problemas nos pulmões, pâncreas, fígado, sistema digestivo e reprodutor. Nesta doença a criança produz um muco muito viscoso que prejudica a respiração e a absorção dos alimentos. Deficiência de biotinidase: é uma doença hereditária do metabolismo da biotina que é uma vitamina do complexo B. A deficiência da enzima biotinidase prejudica o metabolismo de outras substâncias no organismo e, se não tratada, leva ao déficit cognitivo. O exame deve ser coletado a partir 24h de vida até o sétimo dia preferencialmente. Verificar no 1º atendimento se o teste foi colhido, se não, proceder ao agendamento da coleta orientando a mãe da importância do mesmo. 2 Vacinação 2.1 Programa de imunização O programa de imunização em Alagoas segue as diretrizes e normatizações do Programa Nacional de Imunização. Atualmente o programa abrange todas as faixas etárias, crianças, adolescentes, adultos, mulheres em idade fértil e idosos. Tem como objetivo a ampla extensão da cobertura vacinal, para alcançar adequado grau de proteção imunitária da população contra as doenças imunopreveníveis. Para isto deve-se atingir 95% de cobertura vacinal para cada vacina do programa de Imunização. Coberturas vacinais abaixo do preconizado podem ocasionar acúmulo de suscetíveis e consequentemente casos da doença, surtos ou epidemias. As metas de cobertura vacinal são pactuadas entre o gestor municipal, estadual e federal, e atualmente estão vinculadas a repasse financeiro ao município. Para alcançar a meta de cobertura e consequentemente manter sob controle as doenças imunopreveníveis é importante que a população tenha fácil 142 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança acesso às atividades do Programa de Imunização, especialmente à sala de vacina para garantia do calendário de rotina, bem como nunca perder a oportunidade de observar a caderneta de vacina, mesmo quando a busca do serviço não esteja ligado a intenção de vacinação. Alguns processos de trabalho podem melhorar a cobertura vacinal, como: Busca ativa de faltosos. Busca ativa e monitoramento da cobertura por meio da declaração de nascidos vivos. Avaliar a carteira de vacina da criança nos diversos comparecimentos ao Serviço de Saúde. Avaliar a carteira de vacina da criança nas atividades de visitas Monitorar as taxas de cobertura vacinal. domiciliares. 2.2 Atividades do programa de Imunização Vacinação de rotina. Campanhas e/ou intensificação. Controle de surtos e epidemias. Vacinação de imunobiológicos especiais. Para dar a qualidade necessária ao imunobiológico, o controle da rede de frio em todos os níveis é fundamental. 2.3 Vacinação de rotina O calendário vacinal adotado corresponde ao proposto pelo Programa Estadual de Imunização, do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) da Secretaria de Estado da Saúde. Este calendário pode sofrer alterações que dependem da situação epidemiológica de cada doença ou da inclusão de novos imunobiológicos. 2.3.1 Calendário oficial de vacinação para o Estado de Alagoas 143 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança BCG-ID: previne as formas graves da tuberculose( principalmente nas formas miliar e meníngea). DT: Vacina dupla, tipo adulto, contra a Difteria e o Tétano. DPT: Vacina contra a difteria, a Coqueluche e o Tétano. SCR: Vacina contra o sarampo, Caxumba e Rubéola; Hepatite B: vacina contra Hepatite B; Tetravalente: vacina contra difteria, tétano, coqueluche,meningite e outras infecções por Haemophilus influenzae tipo b; VOP: vacina oral contra a poliomielite; VORH: vacina contra diarréia por rotavírus; Vacina pneumocócica 10( conjugada): vacina contra pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas por pneumococo. Vacina meningocócica C ( conjugada): vacina contra doença invasiva causada por Nesseria meningitidis do sorogrupo C. Quadro 19 - Vacinas Idade Ao nascer 1 mês 2 meses 3 meses 4 meses 5 meses 6 meses 9 meses 12 meses 15 meses 4 anos 10 anos Vacinas BCG (1), Hepatite B (2) Hepatite B, preferencialmente nas primeiras 12 horas do nascimento Poliomelite, Tetravalente, Rotavirus, Pneumocócica 10 (conjugada) Meningocócica C Poliomelite, Tetravalente, Rotavirus (3), Pneumocócica Meningocócica C (conjugada) Poliomelite, Tetravalente, Rotavirus, Pneumocócica 10 (conjugada) Fbre amarela Tríplice viral (SCR) Tríplice Bacteriana (DTP), Poliomelita, Meningocócica C (conjugada) DTP, SCR Febre amarela, DT Fonte: Ministério da Saúde. Secretaria de assistência em saúde. Calendário Básico de Vacinação: Ministério da Saúde. Disponível em: HTTP//WWW.portalsaude.gov.br. 144 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 2.3.2 Eventos adversos após as vacinações É esperado a ocorrência de eventos adversos após a vacinação pois nenhuma das vacinas é totalmente isenta de riscos. A incidência destes eventos varia de acordo com as características do produto utilizado e da pessoa que o recebe. Alguns eventos adversos são observados com freqüência relativamente alta e raramente ocorrem reações graves como aparecimento de sequelas ou óbito. Havendo associação temporal entre a aplicação da vacina e a ocorrência de determinado evento adverso, considera-se possível a existência de vínculo causal entre os dois fatos. É, portanto, indispensável criteriosa avaliação clínica e laboratorial desses casos, para estabelecimento rigoroso do diagnóstico etiológico, com a finalidade afastar ou confirmar se o evento adverso foi ocasionado pela vacina ou não. Estes casos devem ser imediatamente notificados à vigilância epidemiológica mediante preenchimento de ficha específica. Para maiores detalhes, pode-se consultar o Manual de Vigilância Epidemiológica dos Eventos Adversos PósVacinação, publicado pelo Ministério da Saúde. 2.3.2 Atividades de campanha e/ou intensificação São estratégias que visam o controle de doenças de maneira intensiva ou a extensão da cobertura vacinal para complementação das atividades de rotina. Na campanha e na intensificação, as orientações para execução de vacinação são adequadas à estratégia em questão. 2.3.3 Surtos ou epidemias Na vigência de surto ou epidemia podem ser desencadeadas medidas de vacinação da população alvo. A indicação e as determinações técnicas destas medidas seguem o que for determinado pelos órgãos de vigilância epidemiológica de forma conjunta pelo Município, Estado e Ministério. 145 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 2.3.4 Imunobiológicos especiais11 São imunobiológicos de moderna tecnologia e alto custo, disponibilizados pelo Ministério da Saúde, em centros especializados (CRIE - Centro de Imunobiológicos Especiais). As indicações desses imunobiológicos estão disponíveis no “Manual dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais Ministério da Saúde”. Em Alagoas, o CRIE está instalado no Hospital Universitário Abílio Antunes. Quando a criança necessitar de um imunobiológico especial, a indicação sempre deve estar de acordo com o normatizado, sendo encaminhado ao CRIE com uma ficha de encaminhamento. As orientações sobre especificidades de cada vacina, as contra – indicações, as associação de vacinas e eventos adversos, indicação dos imunobiológicos especiais e rede de frio, podem ser consultadas nos diversos manuais impressos e em versão eletrônica, do CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) e do Ministério da Saúde. 11 Endereço da versão eletrônica: CVE - www.cve.saude.gov.br 146 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança CAPITULO VI INTERVENÇÕES COMUNS E INFECÇÕES 1 Abordagem do Recém-Nascido de Mãe Soropositiva para o Vírus do HIV Em torno de 12.000 crianças brasileiras são expostas anualmente à infecção materna pelo HIV, com risco de aquisição de infecção. Quando não praticado o aleitamento materno, em 1/3 dos casos a transmissão vertical do HIV pode ocorrer durante a gestação e em 2/3 dos casos durante o trabalho de parto. Na vigência de aleitamento materno, esse representa um risco adicional de transmissão de 15 a 20%. Sem intervenções profiláticas, as taxas de transmissão vertical oscilam de 12% a 42%. Em países com programas de prevenção bem sucedidos, a transmissão foi reduzida para menos de 2%, com a implementação das seguintes medidas principais: Aconselhamento e triagem pré-natal. Profilaxia antirretroviral. Cesárea eletiva. Suspensão do aleitamento materno. Dados brasileiros mais recentes (2003 a 2007) relativos a alguns centros de referência indicam taxas de transmissão vertical variando de 1 a 3,5%. Vários esforços vêm sendo feitos no Brasil para a implementação das medidas de prevenção, tais como o Projeto Nascer e mais recentemente a Rede Cegonha, disponibilizando a realização de teste rápido para HIV no pré-natal e na maternidade, em parturientes não testadas durante a gestação. 1.1 Cuidados com o RN São diversos os cuidados a serem tomados com RN de mães soropositivas para o HIV. 147 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 1.2 Cuidados na sala de parto Os profissionais devem adotar as precauções básicas e universais para evitar a sua própria contaminação na manipulação de sangue e secreções. Recomenda-se o uso de luvas, máscaras, óculos e aventais de proteção. O trabalho de parto e o parto são os momentos nos quais se transmite a maior parte das infecções pelo HIV da mãe para o RN. A transmissão ocorre devido à exposição de mucosas do RN às partículas virais presentes no sangue e secreções maternas. Dessa forma, devem ser tomados cuidados no sentido de se evitar o prolongamento dessa exposição ou lesões de mucosas que rompam barreiras protetoras à penetração viral. A aspiração de boca, narinas ou vias aéreas deve ser evitada. Caso tenha havido deglutição de sangue ou mecônio, pode-se promover a lavagem gástrica cuidadosa, evitando-se traumas de mucosas tanto durante a passagem da sonda gástrica quanto durante a aspiração. O RN deve ser banhado com água e sabão logo após o parto, assim que esteja estável. Somente após a remoção de secreções maternas pode-se administrar medicações injetáveis. 1.3 Identificação dos RN expostos à infecção materna pelo HIV e instituição da profilaxia antirretroviral (ARV) Quando o teste sorológico anti-HIV não tiver sido realizado na gestante segundo as recomendações vigentes (na primeira consulta pré-natal e, sempre que possível, repetido no início do 3° trimestre, utilizando-se testes rápidos, se necessário), o profissional que a atende no momento da resolução da gravidez deve garantir que a parturiente seja testada, preferencialmente antes do parto. Dessa forma, será possível adotar medidas profiláticas recomendadas: ARV intraparto, parto cesáreo eletivo quando indicado e ARV para o RN. Quando não for possível testar a mãe, o RN deverá ser avaliado laboratorialmente como uma maneira indireta de conhecer o estado sorológico 148 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança materno. Nessa situação, deve-se utilizar o teste rápido, uma vez que as; intervenções por meio do uso de ARV são mais eficazes quanto mais precocemente administradas à mãe e ao RN. 1.4 Abordagem do RN de mãe soropositiva para o HIV A profilaxia com ARV deve ser administrada à criança logo após o nascimento, dentro de 12 horas de vida, preferencialmente nas primeiras 2 horas, mesmo que seja indicada com base apenas em um resultado positivo de teste rápido. Não é necessário aguardar testes confirmatórios. Quando os resultados dos testes confirmatórios forem conhecidos, as medidas devem ser reavaliadas. A parturiente deve receber zidovudina por meio de infusão endovenosa desde o início do trabalho de parto (devendo ser iniciada no mínimo 3 horas antes do parto cesáreo), na dose de 2mg/kg na primeira hora, seguida de infusão contínua de 1mg/kg/hora até a ligadura do cordão. O ARV atualmente aprovado para uso na criança é a zidovudina (AZT), que está disponível como solução oral ou endovenosa. As doses preconizadas para a criança estão apresentadas no Quadro 20. Mesmo se a infecção materna for diagnosticada entre 12 e 48 horas após o parto, a profilaxia deve ser iniciada. O início da administração de zidovudina ao RN após 2 dias do nascimento provavelmente não é eficaz para a prevenção. Há estudos avaliando outras opções de ARV para o RN em situações de não realização, retardo ou falha de profilaxia materna. A duração do uso de zidovudina para o RN é de seis semanas. A medicação deve ser fornecida pelo serviço de referência com instruções cuidadosas para o seu uso. 149 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Quadro 20 - Doses de zidovudina a serem administradas para o RN para profilaxia da transmissão vertical do HIV Idade gestacional ao nascer (semanas) > 35 Dose oral (mg/Kg/dose) Dose endovenosa (mg/Kg/dose) 2 1,5 30 – 35 2 1,5 < 30 2 1,5 Frequência da dose Duração (semanas) A cada 6 horas. A cada 12 horas, avançando para cada 8 horas com 2 semanas de idade pós-natal. A cada 12 horas, avançando para cada 8 horas com 4 semanas de idade pós-natal. 6 6 6 Fonte: Adaptado de Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de Saúde. Intervenções comuns, icterícia e infeccções.Vol.2/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.-Brasília: Ministério da Saúde,2011. 1.5 Cuidados com a alimentação A transmissão do HIV por meio da ingestão de leite de mães infectadas é bem documentada. As taxas adicionais de transmissão com aleitamento materno prolongado são de 9 a 15%. Estima-se que o risco aumenta 0,5 a 2,0% a cada mês adicional de amamentação. Até que se conheçam métodos alternativos seguros para o aleitamento materno de mulheres infectadas pelo HIV e sempre que a oferta de leite artificial possa ser feita de maneira segura, recomenda-se não amamentar, após aconselhamento materno. O Ministério da Saúde do Brasil, por meio do Programa Nacional de DST/AIDS, disponibiliza fórmula infantil durante seis meses para filhos de mães infectadas pelo HIV. 150 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Além da garantia do fornecimento da fórmula alimentar, é fundamental que haja orientação cuidadosa sobre as causas da contra-indicação do aleitamento materno e os cuidados com relação ao preparo do leite, procurando reduzir o risco de doença no RN. O profissional de saúde deve certificar-se de que a maternidade em que atua mantenha condições para realização do teste rápido em todas as parturientes que não tenham sido testadas no terceiro trimestre gestacional e que o resultado do mesmo esteja disponível em 30 minutos. Dessa maneira, poderá proteger os RN da infecção pelo HIV, sem privá-los desnecessariamente dos benefícios da amamentação logo após o nascimento. Nas situações em que o resultado do teste rápido não estiver disponível até o momento da primeira mamada, a orientação da amamentação, antes do conhecimento do resultado do teste, deve ser analisada individualmente. Nessa situação, deve-se levar em consideração a história e o risco de exposição da mãe ao HIV, os riscos e benefícios da privação do aleitamento materno imediatamente após o parto e os riscos e benefícios do oferecimento de outros leites que não o materno. Essa decisão deve ser compartilhada com a família e documentada no prontuário médico. Para subsidiar a tomada de decisão do profissional quanto à amamentação quando o resultado do teste rápido anti-HIV não estiver disponível até o momento do nascimento da criança, é importante levar em consideração os seguintes dados: Um estudo quantificou o risco de transmissão do HIV por volume de leite ingerido e por dia de amamentação. Segundo esse estudo, a probabilidade de transmissão do HIV foi de 0,00064% por litro de leite materno ingerido e de 0,00028% por dia de amamentação. O volume de leite materno consumido por um RN nas primeiras 24 horas de vida é, em média, de 37 ml, variando de 7 a 123ml. e corresponde a 14ml em cada mamada. 151 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Assim, considerando essas estimativas, o risco de transmissão do HIV via leite materno por uma mulher soropositiva seria, em média, de 0,000024% no primeiro dia de vida, e menor ainda nas primeiras horas de vida. Avaliação de co-infecções maternas. Várias outras infecções devem ser pesquisadas na mãe soropositiva para o HIV com a finalidade de se identificarem riscos a que o RN foi exposto e planejar a profilaxia, seguimento e/ou tratamento. Devido à possibilidade de imunodeficiência materna, pode ocorrer reativação de infecções latentes com transmissão para o RN. Dessa maneira, as mulheres com maior prejuízo de sua função imunológica representam o maior risco para o RN. 1.6 As principais co-infecções maternas a serem consideradas Tuberculose; Toxoplasmose. Sífilis. Hepatite B. Hepatite. Citomegalovírus. Infecção por vírus herpes simples. Infecção por HTLV-1. Essas devem ser consideradas para todos os RN de mães HIV+. Em serviços de referência de atendimento do para mãe-filho, geralmente são realizados testes laboratoriais com essa finalidade, além da completa abordagem do histórico materno de infecção e doença. 1.7 Vacinação A criança exposta à infecção materna pelo HIV deve receber todas as imunizações rotineiras do calendário vacinal. Ao RN devem ser administradas as vacinas contra hepatite B e BCG. A vacina da hepatite B deve ser combinada à imunoglobulina hiperimune contra o vírus da hepatite B quando a mãe for portadora do antígeno de 152 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança superfície do vírus da hepatite B (AgHBs). Adicionalmente, nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) estão disponíveis algumas vacinas fora do calendário rotineiro para essas crianças. Quando a criança possuir contato com pessoa portadora de deficiência imunológica, deve-se optar, quando disponível, pela vacina inativada injetável contra poliomielite, que substitui a vacina oral. O calendário especifico para crianças expostas a infecção materna pelo HIV é apresentado no Quadro 21 Para crianças portadoras de infecção pelo HIV, há adaptações que devem ser feitas nesse calendário. Detalhes da administração dessas vacinas e vacinação da criança infectada pelo HIV podem ser consultados na referência. Quadro 21 - Calendário vacinal da criança exposta à infecção materna pelo HIV Idade (em meses) RN 1 2 4 6 7 12 15 18 Vacinas* HepB, BCG HepB DTP ou DPTa, Hib, VIP ou VOP, PNc, Rtv, MenC conj DTP ou DPTa, Hib, VIP ou VOP, PNc, Rtv, MenC conj HepB, DTP ou DPTa, Hib, VIP ou VOP, PNc, Rtv, MenC conj Infl. HepB, PNc, SRC, VZ, HepA DTP ou DPTa, Hib, VIP ou VOP, VZ HepA * HepB = hepatite B; Hib = Haemophilus influenzae tipo b; DTP = difteria, tétano e coqueluche; DTPa = difteria, tétano e coqueluche acelular; VIP = vacina injetável contra pólio; VOP = vacina oral contra polio; PNc = vacina contra pneumococo conjugada; Rtv: vacina oral contra rotavirus; MenC conj. = vacina contra meningococo tipo C conjugada; Infl = vacina contra influenza; HepA = hepatite A; SRC = vacina contra sarampo, caxumba e rubéola; VZ = vacina contra varicella zoster Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de Saúde. Intervenções comuns, icterícia e infeccções.Vol.2/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.-Brasília: Ministério da Saúde,2011. 1.8 Monitoramento da toxicidade de drogas antirretrovirais usadas pela mãe e pelo RN durante a profilaxia da transmissão vertical pelo HIV Apesar de serem essenciais para prevenir a transmissão da infecção pelo HIV, os ARVs podem causar efeitos indesejáveis aos RN, sejam os usados pela mãe, por serem transferidos pela placenta, como aqueles usados pela própria 153 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança criança. Muitos desses efeitos ainda não são conhecidos completamente. No entanto, os benefícios do uso dessas drogas superam os riscos já relatados na literatura médica. 1.8.1 Principais efeitos colaterais dos ARVs 1.8.1.1 Alterações hematológicas Anemia e neutropenia. Aumento do lactato sérico. Alterações de enzimas hepáticas. 1.8.1. 2 Outras condições possivelmente relacionadas ao uso dos ARVs Prematuridade. Resistência à insulina. Malformações. Síndrome da morte súbita do lactente. Os principais efeitos já documentados são relacionados ao sistema hematológico, incluindo queda da hemoglobina e diminuição da contagem de neutrófilos e linfócitos. Os riscos de anemia e neutropenia são maiores nas crianças cujas mães recebem terapêutica ARV combinada. A anemia é também frequente em crianças cujas mães usaram zidovudina e que receberam seis semanas dessa droga após o nascimento. Entretanto, é pouco comum que a anemia seja clinicamente significativa no RN. Geralmente, ela é transitória e resolve-se após a suspensão da droga. Crianças de maior risco são os RN prematuros com condições associadas, que devem ser monitorados de perto. A decisão de interrupção dos ARVs nessas situações deve ser individualizada, considerando-se o risco de infecção pelo HIV, preferindo-se utilizar medidas alternativas para controle da anemia (eritropoietina ou transfusões sanguíneas). Alterações metabólicas tais como hiperlactatemia consequente a possíveis alterações tóxicas mitocondriais podem ocorrer transitoriamente. Caso o RN desenvolva sinais clínicos de origem indefinida, particularmente sinais neurológicos, deve-se medir o pH sanguíneo e a concentração de lactato sérico. Da 154 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança mesma maneira, alterações de enzimas hepáticas podem ser consequência da exposição ao ARV, devendo ser consideradas na vigência de manifestações sugestivas de disfunção hepática. Outras condições já sugeridas como consequência da exposição aos ARVs, no entanto ainda não confirmadas, são prematuridade, resistência à insulina, malformações e síndrome da morte súbita, entre outras. 1.9 Testes diagnósticos para determinar se a criança é portadora da infecção pelo HIV Os testes sorológicos rotineiros para detecção de anticorpos não auxiliam no diagnóstico da criança antes dos 18 meses de idade, já que, durante a gestação, ocorre transferência dos anticorpos maternos IgG contra o HIV para o feto. Esses anticorpos são usualmente detectados por meio de ensaio imunoenzimático (ELISA) a partir do nascimento em todos os RN. Em 50% das crianças não infectadas pelo HIV eles desaparecem até 12 meses e em 100% delas até 18 meses de idade pós-natal. Para o diagnóstico mais precoce, são necessários ensaios que detectem frações nucleotídicas do DNA ou RNA do HIV. Para isso, pode ser utilizada a técnica de amplificação de ácidos nucléicos – reação em cadeia da polimerase (PCR). Com esses testes, de alta sensibilidade, o diagnóstico pode ser estabelecido nas primeiras semanas em crianças que não estejam sendo amamentadas. Recomenda-se que sejam feitos dois testes de detecção de RNA viral (carga viral) em amostras de sangue (plasma), sendo o primeiro em torno de 4 semanas de idade. Se o resultado for negativo, deve-se repetir o segundo teste em torno de 12 semanas de idade. Dois testes negativos (carga viral indetectável), na ausência de manifestações clínicas sugestivas de infecção pelo HIV, permitem o diagnóstico presumível de não infecção. 155 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Para que o diagnóstico de ausência de infecção seja confirmado é necessária a demonstração de teste de detecção de anticorpos (ELISA ou outra técnica) contra HIV negativo após 18 meses de idade. A presença de um teste virológico positivo (> 10.000 cópias virais) indica imediata repetição do mesmo. Testes com resultados positivos, mas inferiores a 10.000 cópias também devem ser rapidamente repetidos, pois existe a possibilidade de que sejam falso-positivos. Quando o RN tiver sido exposto a risco elevado de aquisição de infecção pelo HIV durante a vida intra-uterina (ausência de profilaxia materna e/ou AIDS ou imunodeficiência avançada), deve-se realizar o teste de detecção de RNA viral nos primeiros dias de vida do RN. A positividade desse teste, repetidamente documentada por meio de um segundo teste realizado imediatamente após, indica infecção intra-útero. Quando negativo, o teste deve ser repetido com 3 a 4 semanas de vida. Se tiver ocorrido transmissão da infecção durante o trabalho de parto ou parto, um teste negativo ao nascer tornar-se-á positivo após duas semanas, devendo ser imediatamente repetido para confirmação de infecção. 1.10 Planejamento do seguimento ambulatorial Todo RN cuja mãe é infectada pelo HIV deve ser acompanhado em serviço preparado para realizar esse seguimento, incluindo-se os testes para diagnóstico da infecção pelo HIV e co-infecções, além de testes complementares para monitoramento de condições associadas. Especial atenção deve ser dada às condições sociais, psicológicas, de moradia e de saúde da mãe e familiares. Em Alagoas crianças expostas ao HIV, filhos de mães HTLV e RN com sífilis congênita devem ser acompanhados nos Serviços de Atenção Especializada (SAE). Essas crianças têm garantido fórmula láctea como substituto do aleitamento materno. 1.11 Notificação É obrigatória a notificação de gestantes infectadas pelo HIV e de RN exposto à infecção materna. Assim como para sífilis, as instruções encontram-se no 156 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança sítio do Ministério da Saúde do Brasil: (http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMIS4A323161PTBRIE.htm). 2 Sífilis congênita 2.1 Definição de caso Toda criança, ou aborto, ou natimorto de mãe com evidência clínica para sífilis e/ou com sorologia não-treponêmica reagente para sífilis com qualquer titulação, na ausência de teste confirmatório treponêmico realizada no pré-natal ou no momento do parto ou curetagem, que não tenha sido tratada ou tenha recebido tratamento inadequado. Todos os casos de sífilis congênita, aborto ou natimorto por sífilis devem ser notificados de acordo com o Diário Oficial da União nº 240 de 10 de dezembro de 2003, página 81, Seção 1). A sífilis congênita, causada pela bactéria Treponema pallidum, é transmitida ao feto por mãe portadora de infecção ativa em qualquer estágio (principalmente nos estágios primário e secundário). Raramente é adquirida por meio do contato com lesão genital ou mamária. A sífilis congênita pode ser prevenida ou tratada eficientemente intra-útero, desde que seja realizado o diagnóstico e o tratamento da gestante, em tempo oportuno, e se evite a sua re-infecção. A prevalência de sífilis congênita é um evento sentinela em saúde porque reflete a eficácia tanto dos programas de controle, quanto dos serviços que oferecem assistência pré-natal. No Brasil, a sífilis, durante a gestação, ainda é observada em uma proporção significativa de mulheres. Apesar dos esforços do projeto brasileiro para redução da incidência de sífilis congênita para um caso ou menos a cada 1.000 nascidos vivos, dados epidemiológicos do estudo sentinela de parturientes de todas 157 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança as regiões do País, no ano de 2004, mostraram prevalência de soropositividade geral para sífilis de 1,6%. Estima-se ter havido cerca de 50 mil parturientes infectadas e 12 mil nascidos vivos com sífilis congênita no Brasil no ano de 2005. Houve constante crescimento da notificação de casos de sífilis congênita no País, resultando em incremento na taxa de incidência, de 1,7 para 1,9 por 1.000 nascidos vivos de 2003 para 2005. Reconhecendo as deficiências na qualidade da assistência pré-natal e ao RN em todo o País, em 2007 o Ministério da Saúde lançou o Plano para Redução da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis no Brasil, que propõe a melhoria da qualidade da atenção à saúde da mulher e do seu filho, durante a gestação e o puerpério. No entanto, ainda não estão disponíveis avaliações dos resultados dessa iniciativa. Mais recentemente tem-se a Rede Cegonha. A iniciativa é garantir segurança a todas as mulheres, desde o início da gestação até os dois anos de vida do bebê. Alagoas foi o primeiro estado a implantar o programa do governo federal, que abrange a assistência obstétrica com foco na gravidez, no parto e pós-parto como também a assistência integral à criança, dentro de uma linha de cuidados. 2.2 Quadro clínico e diagnóstico materno A lesão genital da sífilis primária é indolor e geralmente passa despercebida (sífilis primária). Após semanas ou meses, podem surgir lesões cutâneo-mucosas e, algumas vezes, manifestações sistêmicas (sífilis secundária). Em seguida, essas lesões desaparecem e inicia-se o estágio latente (sífilis terciária).O T. pallidum é difícil de ser visualizado em microscopia de campo escuro. A técnica de imunofluorescência direta para análise microscópica de tecidos (lesão cutâneo-mucosa, biópsias, placenta ou cordão umbilical) apresenta maior sensibilidade. No entanto, os testes sorológicos permanecem sendo os mais importantes para a triagem e diagnóstico da sífilis. Há dois tipos principais de testes sorológicos para sífilis: não treponêmicos e treponêmicos. 2.2.1 Testes não treponêmicos (reagínicos) 158 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança São eles o VDRL (Venereal Diseases Research Laboratory) e o RPR (Rapid Plasma Reagin). No Brasil, o VDRL é o teste mais comumente utilizado. É um teste quantitativo, cujo resultado se dá em diluições (1:8, 1:16, 1:32, etc.). É de fácil realização e baixo custo, mas deve ser cuidadosamente interpretado. 2.2.1.1 Vantagens São altamente sensíveis (78 a 100%). A quantificação permite estimar o estágio da infecção e a resposta à terapêutica, quando dois ou mais testes são feitos em diferentes momentos. Nas fases primária e secundária são detectados os títulos mais altos. A evolução para fase latente acompanha-se de queda progressiva dos títulos, ao longo dos anos, mesmo sem tratamento. Após tratamento eficaz, há tendência à negativação, que é tanto mais rápida quanto mais precoce for o estágio da doença e menores os títulos iniciais. Apesar da queda dos títulos, pode não haver negativação quando o tratamento for feito nas fases tardias da doença. 2.2.1.2 Desvantagens Podem resultar em falso-positivos devido à coexistência de infecções agudas e crônicas e nas doenças auto-imunes. A presença de títulos elevados de anticorpos, principalmente observados nas fases recentes da infecção em grávidas, pode causar o efeito prozona se o teste for feito em amostra não diluída e, assim, o teste ser falso-negativo. Para se evitar esse efeito, deve-se proceder à análise com soro diluído. Dessa maneira, quando houver suspeita de infecção na presença VDRL foi feito com diluição prévia da amostra do soro materno. 2.2.2 Teste treponêmico O Ministério da Saúde do Brasil preconiza realizar o VDRL na primeira consulta pré-natal, idealmente no primeiro trimestre da gravidez, e no início do terceiro trimestre (28ª semana), sendo repetido na admissão para parto ou aborto. Na ausência de teste confirmatório (treponêmico), deve-se considerar para o 159 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança diagnóstico de sífilis as gestantes com VDRL reagente, em qualquer titulação, desde que não tratadas anteriormente de forma adequada. 2.3 Transmissão vertical da sífilis O T. pallidum dissemina-se através da placenta, cordão umbilical, membranas e fluido amniótico para o feto. Ocasionalmente, o RN pode ser infectado pelo contato com lesão genital materna. O aleitamento materno não resulta em transmissão, a não ser que haja lesão na mama. A transmissão pode ocorrer em qualquer período da gestação, sendo mais comum nos trimestres finais. O risco de infecção fetal é menor e o acometimento pela doença é menos grave quanto maior a duração da infecção materna. Mães com sífilis primária ou secundária ou com sífilis adquirida nos últimos quatro anos, não tratadas, representam o maior risco de prematuridade, morte Peri natal (18–40%) e infecção congênita (70–100%) quando comparadas àquelas com sífilis latente adquirida há mais de quatro anos, em que o risco de infecção congênita é de 23 a 40%. 2.4 Quadro clínico e diagnóstico no RN A sífilis congênita é uma infecção de vários órgãos, que pode causar morte fetal ou neonatal, sequelas neurológicas e esqueléticas. Considerando-se que a maioria das crianças (mais de 60%) é assintomática ou apresenta poucos sinais ao nascer, os profissionais devem basear-se na história materna para determinar se o RN possui risco de ser portador de sífilis congênita. Quando sintomáticos ao nascer, os RN podem apresentar as seguintes manifestações, em ordem decrescente de frequência: Hepatoesplenomegalia. Prematuridade. Restrição do crescimento intra-uterino. Lesões cutâneo-mucosas (pênfigo palmoplantar, exantema maculopapular, rinite serossanguinolenta). Lesões ósseas (periostite, osteíte ou osteocondrite, que podem causar dor e pseudoparalisia dos membros). 160 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Adenomegalia generalizada. Lesões pulmonares (pneumonia alba). Lesões renais (síndrome nefrótica). Edema, hidropsia. Meningoencefalite assintomática. Anemia. Manifestações clínicas que ocorrem após o nascimento são arbitrariamente divididas em precoces (que aparecem nos primeiros 2 anos de vida) e tardias (após 2 anos de vida). As manifestações da sífilis congênita precoce são semelhantes àquelas dos RN, devendo-se valorizar a descarga nasal que geralmente ocorre uma a duas semanas após o exantema maculopapular e se associa à hepatoesplenomegalia e icterícia. A sífilis congênita tardia apresenta-se com lesões ósseas, articulares, dentárias, neurológicas e oculares, que são progressivas e prejudicam o desenvolvimento. Os achados laboratoriais mais frequentes na sífilis congênita incluem alterações radiológicas de ossos longos e alterações no líquor cefalorraquidiano (LCR), hematológicas (anemia, leucopenia ou leucocitose e trombocitopenia) e de enzimas hepáticas. O diagnóstico de meningoencefalite é baseado nas alterações sorológicas, citológicas e/ou bioquímicas do LCR, sendo utilizadas para diagnóstico de neurosífilis. Essas alterações geralmente estão presentes nas crianças sintomáticas, mas também podem ocorrer nas assintomáticas. O diagnóstico de sífilis congênita em RN sintomáticos é possível quando os antecedentes e exames laboratoriais maternos confirmam a infecção ativa ou quando se demonstra o treponema em lesões, secreções, tecidos, placenta ou cordão umbilical (pela microscopia de fase de campo escuro ou teste de inoculação em coelhos). 161 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Em RN assintomáticas, a história e os testes sorológicos maternos em combinação com os testes sorológicos e exames complementares no RN devem ser considerados para nortear a conduta. Deve-se, no entanto, considerar que a detecção de anticorpos no RN, por meio dos testes sorológicos mais facilmente disponíveis, pode refletir somente os anticorpos maternos transferidos passivamente. Testes para detecção de anticorpos IgM e IgA antitreponema ou teste da reação da polimerase em cadeia (PCR) para detecção de sequências nucleotídicas do treponema não são amplamente disponíveis. A avaliação complementar do RN com suspeita de sífilis congênita deve incluir: VDRL (realizado em sangue periférico do RN e não no sangue do cordão umbilical). Radiografia de ossos longos (metáfises e diáfises de tíbia, fêmur e úmero). Líquor cefalorraquidiano. Hemograma. Dependendo das manifestações clínicas: dosagem de bilirrubinas, enzimas hepáticas, Rx de tórax, função renal, etc. Quadro 22 - Interpretação conjunta dos testes sorológicos da mãe e do RN Teste reagínico (VDRL) Mãe RN Teste treponêmico (TPHA, FTA-ABS ou ELISA) Mãe - - - + + - + + + + - + Possíveis interpretações Sem sífilis ou com sífilis em incubação na mãe e RN. Mãe sem sífilis, teste reagínico falsopositivo na mãe com transferência passiva para o RN. Sífilis materna recente ou latente com possível infecção do RN. Mãe tratada para sífilis durante a gestação. Sífilis materna recente com possível infecção do RN. Mãe tratada para sífilis durante a gestação. 162 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança - - + Mãe tratada com sucesso para sífilis durante a gestação. Teste treponêmico falso-positivo. Infecção materna recente com VDRL falso-negativo (efeito prozona ou títulos baixos). + = Teste Positivo. - = Teste Negativo Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de Saúde. Intervenções comuns, icterícia e infeccções.Vol.2/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.-Brasília: Ministério da Saúde,2011. Os títulos de VDRL podem ajudar na interpretação. Geralmente são elevados nas infecções recentes, (>1:16, >1:32), apesar de poderem ser menores ou até negativos nas infecções maternas muito recentes. Quando estiver disponível mais de um teste no período pré-natal, pode-se identificar a conversão de negativo para positivo ou incremento dos títulos. Nas infecções latentes ou anteriormente tratadas, os títulos são usualmente menores (< 1:8) e estáveis com o passar do tempo. O teste VDRL negativo no RN não exclui a possibilidade de sífilis congênita. Se não há outros elementos sugerindo sífilis congênita, deve-se repetir o teste com intervalo de 30 dias para confirmar a ausência de infecção. 2.5 Interpretação do histórico de tratamento materno O quadro abaixo esquematiza o tratamento materno atualmente preconizado e a evolução sorológica esperada. 163 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Quadro 23 - Resumo do tratamento para sífilis preconizado durante a gestação e evolução esperada de testes sorológicos Evolução sorológica Tratamento esperada (repetida mensalmente) Primária (cancro Penicilina G Benzatina: 2,4 milhões Queda de 4 X no título de duro) UI12 dose única. VDRL em 3 a 6 meses. Penicilina G Benzatina: 2,4 milhões Secundária ou < Queda de 4 X no título de UI + 2,4 milhões UI (intervalo de uma 1 ano VDRL em 3 a 6 meses. semana entra as doses). Penicilina G Benzatina: 2,4 milhões > 1 ano ou VDRL<1:4 estável ou UI x 3 (7,2 milhões de UI) (intervalo desconhecido declinando. de uma semana entre as doses). Estágios da sífilis Toda vez que ocorrerem as seguintes situações, o tratamento materno deve ser considerado inadequado: Uso de terapia não penicilínica ou penicilínica incompleta (tempo e/ou dose). Instituição de tratamento dentro dos 30 dias anteriores ao parto ou término da terapia preconizada menos de 30 dias antes do parto. Manutenção de contato sexual com parceiro não tratado. Ausência de confirmação de decréscimo dos títulos reagínicos. Evidência de re-infecção (incremento dos títulos reagínicos em pelo menos quatro vezes). 2.6 Interpretação da radiografia de ossos longos e exame de líquor (LCR) A importância da avaliação dos ossos longos deve-se ao fato de que são encontradas lesões em 75% a 100% das crianças que se apresentam com evidências clínicas de sífilis congênita. Podem também representar a única alteração 12 Uma ampola de 1.200.000 UI aplicada em cada glúteo. Esquemas alternativos (não penicilínicos) podem ser encontrados em Diretrizes para o Controle da Sífilis Congênita, Ministério da Saúde do Brasil, 2005. (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sifilis_congenita_preliminar.pdf). 164 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança em RN sem outros sinais de infecção (em 4 a 20% dos casos). Sinais radiológicos de periostite, osteíte ou osteocondrite podem ser facilmente identificados. Alterações liquóricas também são mais comuns em crianças portadoras de outras manifestações. O exame pode identificar alterações em pequena proporção de crianças assintomáticas e auxiliar na orientação do tratamento e seguimento. No entanto, sua indicação tem sido questionada por alguns em locais onde sua realização seja difícil. A detecção de VDRL positivo no LCR confirma o diagnóstico de neurosífilis, porém sua ausência não o exclui. Os seguintes valores obtidos no LCR são considerados como limítrofes da normalidade: RN - células brancas: 25/mm³; proteínas: 150mg/dl. Crianças > 28 dias - células brancas 5/mm³; proteínas 40mg/dl. A meningoencefalite é frequente nas crianças sintomáticas e menos frequente nas assintomáticas. A notificação e a investigação de todos os casos detectados, incluindo os natimortos e os abortos por sífilis, são obrigatórias em todo o território nacional. As instruções para notificação podem ser encontradas no site do Ministério da Saúde do Brasil. (http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMIS4A323161PTBRIE.htm). 2.7 Tratamento do RN Todo RN com sífilis congênita confirmada ou provável deve ser tratado e acompanhado até a confirmação da cura. O regime terapêutico preferencial em casos de infecção provável é o uso de penicilina cristalina, podendo-se utilizar a penicilina procaína, preferencialmente nos casos com exame de LCR normal. A penicilina G benzatina pode ser utilizada nos casos de infecção pouco provável. 165 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Quadro 24 - Regimes de tratamento RN até 4 semanas de idade 50.000 UI/Kg/dose, 2 doses por dia (12/12 horas) na 1ª semana. Penicilina G Cristalina (EV) 3 doses por dia (8/8 horas) entre 2ª e a 4ª semanas. Duração do tratamento: 10 dias. Penicilina G Procaína (IM) 50.000 UI/Kg/dose, dose única diária, 10 dias. Penicilina G Benzantina (IM) 50.000 UI/Kg/dose, dose única. CRIANÇAS COM IDADE MAIOR QUE 4 SEMANAS Penicilina G Cristalina (EV) 50.000 UI/Kg/dose, 4/4 horas, 10 dias. Penicilina G Procaína (IM) 50.000 UI/Kg/dose 12/12 horas, 10 dias. Penicilina G Benzantina (IM) 50.000 UI/Kg/dose, dose única. Fonte: Adaptado de Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de Saúde. Intervenções comuns, icterícia e infeccções.Vol.2/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.-Brasília: Ministério da Saúde,2011. 166 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Para análise do conjunto de informações indicando a probabilidade do diagnóstico de sifilis congênita no RN, a necessidade e o modo do tratamento indicado, sugerese uso de fluxograma abaixo. Mãe com VDRL +* FTAAbs ou TPHA Falso + Não avaliar o RN FTA-Abs ou TPHA+* Mãe não tratada ou inadequadamente tratada Mãe adequadamente tratada RN sintomático RN sintomático RN assintomático LCR normal LCR alteradoneurosífilis) Raio-X ossos, punção lombar e hemograma LCR normal LCR alteradoneurosífilis Exames normais VDRL normal Tratar (cristalina/ procaína) Tratar (cristalina) VDRL Tratar (cristalina) ≤ Materno Tratar (cristalina/ procaína) RN assintomático > Materno Negativo Tratar (benzina) Raio-X ossos, punção lombar e hemograma Exames normais LRC normal LCR alteradoneurosífilis Exames alterados LRC normal Tratar (benzina) Tratar (cristalina) Tratar (cristalina/ procaína) Infecção pouco provável Tratar (benzina) ou observar 2 VDRL negativos até 24 semanas VDRL títulos ascendentes Não infectado Infectado Na impossibilidade de realizar teste confirmatório e na ausência de testes sequenciais na gestação, a mãe deve ser considerada portadora de sífilis. Todas as crianças, tratadas ou não, devem ter garantido o retorno para documentação da cura (dois testes VDRL negativos com intervalo mínimo de 30 a 40 dias). Figura 39 – Fluxograma para diagnóstico e tratamento da sífilis Fonte:Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de 167 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Saúde. Intervenções comuns, icterícia e infeccções.Vol.2/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.-Brasília: Ministério da Saúde,2011. 2.8 Acompanhamento do RN É importante que todos os RN tratados para sífilis congênita confirmada ou suspeita sejam acompanhados, para assegurar que o tratamento foi efetivo. Os testes sorológicos reagínicos devem ser verificados a cada 2–3 meses após o tratamento, até que sejam documentados dois títulos negativos com intervalo mínimo de 30 a 40 dias entre eles. Em RN sintomáticos adequadamente tratados no período neonatal, as manifestações clínicas resolvem-se em três meses. Nesses RN, os testes reagínicos devem declinar até a idade de 3 meses e negativar em até 6 meses. No entanto, a resposta sorológica pode ser mais lenta em crianças tratadas após o período neonatal. Títulos estáveis ou que mostrem elevação (de quatro vezes) sugerem falha terapêutica e a criança deve ser reavaliada e tratada. Os testes treponêmicos não devem ser usados para avaliar a resposta ao tratamento, pois podem persistir positivos, apesar da terapêutica adequada. Diferentemente, os anticorpos treponêmicos passivamente adquiridos da mãe negativam-se após a idade de 15 meses. A persistência desses, após 18 meses de idade, é diagnóstico de sífilis congênita e deve ser acompanhado de teste reagínico positivo. Se houver alterações liquóricas no início do tratamento, deve-se repetir o LCR de 3 a 6 meses após o final do mesmo tratamento, para documentação da normalização desse exame. A persistência de alterações indica a necessidade de reavaliação clínica, laboratorial e terapêutica. Outras avaliações necessárias para a verificação da extensão do acometimento incluem exames oftalmológico (fundoscopia), neurológico e de 168 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança acuidade auditiva periodicamente a cada 6 meses e até os 2 anos (ou mais se necessário). A sífilis congênita adequadamente tratada evolui para a cura. Todos os esforços devem ser empregados para garantir o seguimento adequado e a documentação da cura. Todas as mães devem ser esclarecidas sobre os riscos de não identificação, tratamento e seguimento inadequados de uma criança com sífilis. Sequelas neurológicas (déficit de aprendizado, retardo mental), deformidades ósseas e dentárias, surdez, perda visual podem ocorrer de modo insidioso e comprometer o desenvolvimento da criança. 2.9 Prevenção da sífilis congênita A prevenção da sífilis congênita insere-se nas ações para prevenção das infecções sexualmente transmissíveis de maneira geral, nas medidas de identificação e no tratamento de gestantes infectadas por sífilis e na prevenção da re-infecção das mesmas. É muito importante a realização da triagem sorológica no primeiro trimestre de gestação, com repetição no terceiro trimestre e no momento do parto. Essa triagem pode ser difícil de ser realizada em grupos populacionais de maior risco, tais como adolescentes, usuárias de drogas ilícitas e mulheres infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana, que com maior frequência não realizam acompanhamento pré-natal. O sucesso da prevenção da sífilis congênita, portanto, reside na organização dos serviços de saúde, que devem visar à ampla cobertura das necessidades e especificidades populacionais. Aspectos importantes da sífilis congênita: Todas as gestantes devem ser submetidas à triagem sorológica por meio de teste reagínico (VDRL, RPR) no início da gestação, no início do terceiro trimestre e no parto. 169 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Deve ser reforçada a necessidade de tratamento de parceiros sexuais da gestante infectada. Devem ser encorajadas modificações de comportamento de risco e uso de preservativos. Aproximadamente dois terços dos RN com sífilis congênita são assintomáticos ao nascer. Os profissionais de saúde devem estar atentos quanto à possibilidade de sífilis congênita. A penicilina continua sendo o tratamento mais eficaz para a sífilis congênita. Crianças com sífilis confirmada, provável ou suspeita devem ser prontamente tratadas. Crianças submetidas a tratamento de sífilis devem ser acompanhadas para confirmação de cura. 3 Toxoplasmose Congênita O Toxoplasma gondii é um protozoário capaz de infectar a maioria das espécies de sangue quente, incluindo o homem. A toxoplasmose afeta cerca de um terço da população mundial, mas tem prevalência variável em diferentes populações, dependendo da combinação de fatores tais como clima, hábitos higiênicos, população de gatos e hábitos de preparação e ingestão de alimentos. No Brasil, a prevalência de toxoplasmose é considerada alta, 50 a 80% das gestantes e mulheres em idade fértil já foram infectadas e 4 a 5% correm risco de se infectar durante a gestação. Em adultos, a infecção aguda é tipicamente assintomática e auto limitada, sendo de difícil identificação. Dez a 20% das pessoas podem apresentar linfadenopatia cervical, mal estar e febre baixa. Após a infecção aguda, o parasita persiste por toda a vida do hospedeiro sob a forma de cistos teciduais, sem apresentar repercussões clínicas em pessoas imunocompetentes. O ser humano pode ser infectado pelo Toxoplasma principalmente por meio da ingestão de cistos teciduais, presentes em carne animal crua ou malpassada, ou de cistos presentes em mãos, alimentos e água contaminados por fezes de gatos infectados. 170 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Transfusões de sangue e transplantes de órgãos contaminados são formas mais raras de transmissão. Quando a infecção aguda pelo Toxoplasma ocorre em gestantes, pode ocasionar transmissão do parasita ao feto pela via hematogênica transplacentária. Tal transmissão também pode ocorrer, muito mais raramente e principalmente em mulheres portadoras de deficiência imunológica, após reativação da toxoplasmose latente durante a gestação ou re-infecção. Cerca de 40% das gestantes com toxoplasmose aguda transmitirão o Toxoplasma ao feto. O risco de ocorrência de infecção congênita aumenta significativamente conforme a idade gestacional em que a mulher é infectada, sendo estimado em 17% quando a infecção aguda ocorre no primeiro trimestre, 25% no segundo e 65% no terceiro trimestre. De maneira inversa, a doença é mais grave quando o feto é infectado no primeiro trimestre de gestação, e geralmente leve ou assintomática no feto infectado durante o terceiro trimestre. A determinação da idade gestacional em que a gestante foi infectada pode ajudar a estimar tanto o risco de infecção fetal quanto o de doença clinicamente aparente na criança. Estudos para verificar a prevalência de infecção congênita pelo Toxoplasma em RN brasileiros têm mostrado taxas variando entre 3 e 20 casos por 10.000 nascidos vivos, com diferenças regionais. Esses valores são considerados altos quando comparados com os encontrados em outras regiões do mundo. Apesar de não ser uma condição muito frequente, o alto risco de sequelas tardias torna a toxoplasmose congênita relevante e indica a necessidade de identificação e tratamento das crianças acometidas. 3.1 Quadro clínico Aproximadamente 85% dos RN com toxoplasmose congênita não apresentam sinais clínicos evidentes ao nascimento. No entanto, uma avaliação mais detalhada pode mostrar alterações tais como restrição do crescimento intrauterino, prematuridade, anormalidades liquóricas e cicatrizes de retinocoroidite. Quando presentes, as manifestações clínicas podem ser encontradas no período neonatal ou ao longo dos primeiros meses de vida, podendo também haver 171 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança surgimento de sequelas da doença previamente não diagnosticada apenas na adolescência ou na idade adulta. No RN, as manifestações clínicas são diversas e inespecíficas. A tríade clínica clássica – associação de hidrocefalia, calcificações cerebrais e retinocoroidite – não é comum As alterações mais encontradas são: Retinocoroidite. Hidrocefalia. Hepatoesplenomegalia. Linfadenopatia. Icterícia. Anemia. Estrabismo. Crises convulsivas. Hidrocefalia. Calcificações cerebrais. Macro ou microcefalia. Restrição do crescimento intra-uterino. Prematuridade. Distermias. Sangramentos. Erupção cutânea. Sequelas tardias são muito frequentes na toxoplasmose congênita não tratada. Mesmo entre RN assintomáticas ao nascimento, estima-se que 85% apresentarão cicatrizes de retinocoroidite nas primeiras décadas de vida, e 50% evoluirão com anormalidades neurológicas. As sequelas são ainda mais frequentes e mais graves nos RN que já apresentam sinais ao nascer, com acometimento visual em graus variados, retardo mental, crises convulsivas, anormalidades motoras e surdez. Mais de 70% desses RN desenvolverão novas lesões oftalmológicas ao longo da vida. 172 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Estudos brasileiros recentes, no entanto, mostram que as lesões oftalmológicas são mais frequentes, manifestando-se já ao nascimento, chegando a ocorrer em 80% dos RN. Além disso, maior gravidade tem sido identificada, possivelmente devido à exposição a cepas mais virulentas do Toxoplasma ou a maior suscetibilidade da população. Dessa forma, nos últimos anos, tem-se dado maior atenção à detecção precoce de alterações oftalmológicas e ao acompanhamento por longo prazo das crianças infectadas. 3.2 Exames complementares Considerando-se que tanto as gestantes quanto os RN infectados são usualmente assintomáticos, a realização de exames laboratoriais torna-se imprescindível para investigação e definição diagnóstica. Os diagnósticos de toxoplasmose aguda gestacional e de toxoplasmose congênita podem ser comprovados pela detecção direta do parasita em amostras biológicas, utilizando-se técnicas histológicas e de isolamento. Na prática clínica, os testes sorológicos para detecção de anticorpos de classe IgG e IgM são mais utilizados, pois são mais disponíveis e têm resultados mais rápidos. A interpretação dos resultados, no entanto, é complexa e leva com frequência à necessidade de realização de múltiplos testes. 3.3 Diagnóstico no RN O diagnóstico sorológico no RN é dificultado pela presença de anticorpos de classe IgG maternos transferidos por via transplacentária durante a gestação. Em geral, os títulos de testes sorológicos para detecção de IgG no RN são bastante semelhantes aos títulos maternos no momento do parto. Títulos na criança quatro ou mais vezes maiores que os títulos maternos (preferencialmente em testes realizados pelo mesmo ensaio e em paralelo com o da mãe) podem sugerir infecção congênita, mas essa ocorrência não é comum e pode acontecer em crianças não infectadas. Os anticorpos IgG transferidos da mãe durante a gestação são gradativamente degradados pela criança ao longo do primeiro ano de vida. 173 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Quadro 25 - Definições de casos de infecção pelo toxoplasma gondii em gestantes Comprovada - Soroconversão gestacional. - Detecção do DNA do toxoplasma em líquido aminiótico pela PCR. Provável - IgG+, IgM+, baixo índice de avidez (colhido em qualquer idade gestacional). - Aumento progressivo nos títulos de IgG e IgM - IgM+ e história clínica sugestiva de toxoplasmose aguda gestacional. Possível - IgG+, IgM+, índice de avidez alto (colhido após 12 semanas de gestação) ou indeterminado. - IgG+, IgM+, em amostra única colhida em qualquer idade gestacional, sem realização de índice de avidez. Improvável - IgG+, IgM+ ou -, índice de avidez alto (colhido após 12 semanas de gestação) ou indeterminado. Ausente - IgG-, IgM- durante toda gestação. - IgG+ antes da concepção. - IgM+, sem aparecimento de IgG. + = positiva; - = negativa Fonte:Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de Saúde. Intervenções comuns, icterícia e infecções.Vol.2/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.-Brasília: Ministério da Saúde,2011. Anticorpos de classe IgM não atravessam a barreira placentária e, portanto, são indicativos de toxoplasmose congênita quando encontrados no RN. No entanto, os testes sorológicos para detecção de IgM Antitoxoplasma, que idealmente devem ser confirmados em sangue periférico em torno de dois a cinco dias de vida, podem detectar no máximo 75% dos RN infectados, independentemente da presença de sinais ou sintomas. A sensibilidade desses testes ao nascimento é ainda menor quando a mãe recebeu tratamento para toxoplasmose durante a gestação com sulfadiazina e pirimetamina, pois essas medicações interferem na cinética e na produção de IgG e IgM Antitoxoplasma pelo RN e lactente. Também há redução da sensibilidade da IgM quando a infecção 174 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança aguda ocorreu na primeira metade da gestação. Além disso, podem ocorrer resultados falso-positivos nos primeiros dias de vida, devido à presença de fator reumatoide ou contaminação por sangue materno durante a coleta de sangue de cordão. Entre os testes sorológicos disponíveis no Brasil, o ELISA de captura de IgM é considerado o de melhor sensibilidade e deve ser preferencialmente utilizado, pois evita testes falso-negativos ou falso-positivos quando há excesso de IgG passivamente adquirida da mãe ou produzida pelo feto. O teste de imunofluorescência indireta tem sensibilidade de apenas cerca de 25%. Na ausência de IgM e/ou IgA ao nascimento, o diagnóstico de toxoplasmose congênita pode ser feito por meio do acompanhamento periódico dos títulos de IgG Antitoxoplasma ao longo do primeiro ano de vida, observando-se a ocorrência de persistência da positividade da IgG após o desaparecimento da IgG materna.Nas crianças não infectadas, o título dos anticorpos IgG diminui gradativamente, até que ocorra negativação em torno de um ano de vida. Considerando-se as dificuldades existentes na interpretação dos resultados de testes sorológicos realizados no período neonatal, em muitos RN o diagnóstico de toxoplasmose congênita só pode ser confirmado ou descartado por meio do acompanhamento da evolução dos títulos de IgG ao longo do primeiro ano de vida. Assim, podem ser consideradas com toxoplasmose congênita comprovada: Crianças com IgM Antitoxoplasma positiva entre dois dias e seis meses de idade. Crianças que, durante o acompanhamento, apresentem persistência de positividade de IgG após 12 meses de vida, independentemente da presença de sinais ou sintomas da doença. Crianças com sinais e/ou sintomas sugestivos de toxoplasmose congênita, filhas de mães com IgG positiva para toxoplasmose, após exclusão de outras possíveis etiologias (sífilis, citomegalovirose, rubéola). 175 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Crianças cujas mães apresentaram PCR positiva para toxoplasmose no líquido amniótico. O diagnóstico de toxoplasmose congênita pode ser excluído definitivamente pela ocorrência de negativação dos títulos de IgG Antitoxoplasma antes de 12 meses de idade. A soronegativação deve ser confirmada com novo exame, colhido após dois meses de intervalo. Em crianças que receberam tratamento, a soronegativação só deve ser considerada definitiva seis meses após a suspensão das drogas antiparasitárias. 3.4 Avaliação complementar do RN O RN deve ser submetido à avaliação clínica cuidadosa, com atenção especial à possível presença de anormalidades sugestivas de toxoplasmose congênita ao exame físico. A investigação complementar inicial deve incluir hemograma completo, fundoscopia ocular e ultrassonografia transfontanelar em todos os RN com suspeita de infecção congênita Em crianças sintomáticas, é útil descartar a ocorrência de outras infecções congênitas que podem acarretar quadro clínico semelhante, notadamente citomegalovirose, sífilis e rubéola. Em crianças com toxoplasmose congênita comprovada e em filhos de mulheres com toxoplasmose aguda comprovada ou provável durante a gestação, deve-se adicionalmente realizar análise de líquido cefalorraquidiano (bioquímica e celularidade), tomografia computadorizada (sem necessidade de uso de contraste radiológico) ou ultrassonografia de crânio, caso a tomografia não seja disponível, avaliação da função hepática e avaliação auditiva, utilizando o exame de emissões otoacústicas (teste da orelhinha), complementado pelo teste de audiometria de tronco cerebral (BERA) quando indicado. 3.4.1 Recomendações para avaliação clínica e laboratorial inicial de RN e lactentes com suspeita de toxoplasmose congênita Avaliação oftalmológica (fundoscopia ocular). Avaliação neurológica. 176 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Avaliação auditiva. Ultrassonografia transfontanelar ou tomografia computadorizada de crânio (sem contraste). Hemograma completo. Análise de líquido cefalorraquidiano (bioquímica e celularidade). Sorologia para toxoplasmose (IgG e IgM ) da mãe e da criança. Em crianças sintomáticas: avaliar função hepática e descartar outras infecções congênitas (sífilis, citomegalovirose, rubéola). 3.5 Tratamento 3.5.1 Toxoplasmose gestacional e fetal Os objetivos do tratamento da toxoplasmose aguda ocorrida durante a gestação são evitar a transmissão materno-fetal e, caso a infecção fetal tenha ocorrido, reduzir os danos acarretados ao RN. A espiramicina parece reduzir a ocorrência de transmissão vertical, e tem sido utilizada quando existe suspeita ou comprovação de toxoplasmose gestacional. Recomenda-se que seja introduzida preferencialmente nas primeiras três semanas após a infecção aguda e que seja utilizada até a resolução da gestação. A eficácia da utilização da espiramicina, no entanto, tem sido questionada, devido à inexistência de estudos clínicos controlados. Quando a infecção do feto é confirmada ou altamente suspeita (após resultado positivo na PCR realizada no líquido amniótico ou detecção de anormalidades características na ultrassonografia obstétrica), é indicado o uso da associação de sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico pela mãe para tratamento fetal. Alguns serviços utilizam essa associação também em infecções gestacionais comprovadas no último trimestre de gestação, devido ao elevado risco de transmissão materno-fetal 3.5.2 Toxoplasmose congênita após o nascimento Considerando-se as dificuldades diagnósticas, sugere-se iniciar o tratamento desde o nascimento em RN com toxoplasmose congênita comprovada 177 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança (conforme os critérios citados anteriormente) e em filhos de mulheres com toxoplasmose gestacional comprovada ou provável, principalmente quando ocorrida no final da gestação. Todas as crianças com toxoplasmose congênita comprovada devem receber tratamento durante 12 meses, independentemente da presença de sinais e/ou sintomas da doença. As drogas recomendadas atualmente para tratamento da toxoplasmose congênita são sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico, utilizados continuamente durante todo o primeiro ano de vida. Havendo presença de retinocoroidite em atividade ou de hiperproteinorraquia (proteína no liquor cima de 1.000mg/dL), deve-se associar prednisona ou prednisolona, que deve ser mantida até que ocorra melhora do quadro. Quadro 26 - Medicamentos utilizados para tratamento da toxoplasmose congênita durante o primeiro ano de vida Medicamento* Posologia Sulfadiazina 100 mg/Kg/dia divididos em duas doses diárias, durante (comprimidos de 500 mg) um ano. 1 mg/Kg/dia em uma dose diária, durante dois a seis Pirimetrina meses, dependendo da intensidade do acometimento. (comprimidos de 25 mg) A seguir 1 mg/Kg três vezes por semana, até completar um ano de utilização do medicamento. 10 mg administrados três vezes por semana. Na ocorrência de neutropenia: - Se < 1000 neutrófitos/mm³, aumentar a dose para 20 mg diários. Acído Fólico) - Se < 500 neutrófitos/mm³, suspender a pirimetamina (comprimidos de 15 mg) até que ocorra recuperação. Manter por mais de uma semana após a interrupção do uso da pirimetamina. Atenção: O ácido fólico não deve ser utilizado em substituição ao ácido folínico. 1 mg/Kg/dia em duas doses diárias, se houver retinocoroidite em atividade e/ou se proteinorraquia ≥ Predinisona ou 1000 mg/dl. Predinisolona Utilizar em associação com sulfadiazina e pirimetamina. Realizar retirada gradual após estabilização do processo inflamatório. Neutropenia, anemia (frequentes), trombocitopenia, Efeitos Adversos hiperbilirrubinemia, reações de hipersensibilidade, 178 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança intolerância cutânea. gastrointestinal, cristalúria, erupção * Utilização por via oral.Medicamentos disponíveis apenas sob a forma de comprimidos. Podem ser produzidas soluções em farmácias de manipulação com as seguintes concentrações: Sulfadiazina 100 mg/ml. Pirimetamina 2 mg/ml. Ácido folínico 5 mg/ml (ou fracionamento para comprimidos com 5 mg cada).Recomenda-se observar cuidadosamente a icterícia clínica e monitorar os níveis de bilirrubina quando a sulfadiazina for utilizada em RN. Fonte:Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de Saúde. Intervenções comuns, icterícia e infeccções.Vol.2/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.-Brasília: Ministério da Saúde,2011. A instituição do tratamento com sulfadiazina e pirimetamina ao longo do primeiro ano de vida pode levar à diminuição de sequelas tardias da doença. Em geral, nenhuma terapêutica é recomendada após 12 meses de idade, exceto em casos de reativação da doença ocular. 3.6 Acompanhamento do RN com infecção suspeita ou confirmada A Figura 40 apresenta um fluxograma geral de decisão inicial frente ao RN com suspeita de toxoplasmose congênita e assintomática. Crianças assintomáticas, filhas de mulheres com diagnóstico possível ou inconclusivo, deverão realizar sorologias a cada dois meses, sendo a decisão de iniciar o tratamento baseada na evolução dos títulos de IgG ao longo dos meses. Caso ocorra estabilização ou aumento comprovado dos títulos ao longo do acompanhamento, deve-se iniciar o tratamento e mantê-lo durante 12 meses. Em crianças infectadas, é muito frequente a ocorrência de elevação dos títulos de IgG após a interrupção do tratamento, fato habitualmente não relacionado à reativação da doença. Filhos de mulheres com toxoplasmose gestacional improvável não necessitam de investigação e/ou acompanhamento adicional. O efeito colateral mais comum do tratamento é a neutropenia reversível, que pode ocorrer em até 58% das crianças tratadas. O ácido folínico é associado ao tratamento para prevenir e tratar a toxicidade medular da pirimetamina. Assim, recomenda-se a realização semanal de exames hematológicos durante os 179 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança primeiros dois meses de tratamento. Havendo estabilização da contagem de neutrófilos periféricos, a avaliação hematológica pode ser espaçada para cada duas semanas, durante mais dois meses e, a seguir, mantida mensalmente até o final do tratamento. A periodicidade de realização dos exames deve ser reavaliada a cada consulta, de acordo com os resultados laboratoriais. Crianças com toxoplasmose congênita comprovada deverão ser submetidas a avaliações oftalmológicas semestrais até a idade escolar, mantendose exames anuais a seguir, pois podem surgir novas lesões de retina ou ocorrer recidiva de lesões cicatrizadas em qualquer momento da vida. 180 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança RN Assintomático Toxoplasmose materna comprovada ou provável Toxoplasmose materna possível Sorologias maternas inconclusivas INICIAR TRATAMENTO - Elisa IgG e IgM (RN e mãe) - Fundoscopia ocular - US e CT do crânio - LCR - Hemograma - Função hepática - Avaliação auditiva Resultados normais Repetir sorologias da criança a cada 2-3 meses Sorologias, US, CT ou fundoscópia e/ou LCR alterados CRIANÇA INFECTADA Tratamento durante 1 ano Estabilização ou aumento nos títulos IgG CRIANÇA NÃO INFECTADA - Elisa IgG e IgM (RN e mãe) - Fundoscopia ocular - US do crânio - Hemograma Quebra progressiva nos títulos IgG até negativação Sorologias, US ou fundoscópia alterados - CT do crânio - LCR - Hemograma - Função hepática - Avaliação auditiva CRIANÇA INFECTADA Tratamento durante 1 ano Suspender ou manter tratamento Repetir sorologias a cada 2 meses 2 Sorologias subseqüentes negativas Na descontinuidade do tratamento pela negativação dos anticorpos IgG, repetir a sorologia em 1 mês.Em crianças que receberam tratamento, confirmar soronegativação 6 meses após a suspensão dos medicamentos. Figura 40 - Fluxograma geral de decisão inicial frente ao RN com suspeita de toxoplasmose congênita e assintomática Fonte: Adaptado de Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de Saúde. Intervenções comuns, icterícia e infecções.Vol.2/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.-Brasília: Ministério da Saúde,2011. 3.7 Prevenção 181 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Considerando-se o risco elevado de sequelas tardias nos indivíduos acometidos, mesmo quando tratados, tem sido enfatizada a necessidade de instituição de medidas para controle da toxoplasmose congênita. A abordagem mais eficaz para prevenção da doença deve incluir ações em diversas etapas: Identificação de mulheres suscetíveis à toxoplasmose por meio da realização de testes sorológicos antes e durante a gestação. Nas gestantes suscetíveis, isto é, aquelas com sorologias negativas para toxoplasmose, fornecimento de orientação a respeito das medidas preventivas (prevenção primária) e, idealmente, repetição periódica dos testes sorológicos para identificar a ocorrência de toxoplasmose aguda durante a gestação. Identificação dos casos de toxoplasmose aguda gestacional e implementação precoce de tratamento. Diagnóstico e tratamento da infecção fetal. Diagnóstico e tratamento da infecção no RN e lactente. A maneira mais simples de diminuir a ocorrência da toxoplasmose congênita é orientar as gestantes, especialmente as soronegativas, como evitar a aquisição da doença. As orientações pré-natais parecem ser efetivas para adequar os hábitos alimentares e de higiene dessas mulheres e reduzir a ocorrência de soro conversão gestacional, mas o impacto de diferentes estratégias educacionais ainda não está bem estabelecido. Orientações às gestantes para prevenção da toxoplasmose aguda gestacional: Não ingerir qualquer tipo de carne crua ou mal passada. Não consumir água que não seja filtrada ou fervida. Lavar cuidadosamente frutas e verduras antes do consumo. Evitar contato com fezes de gato. Evitar mexer em areia, terra ou jardins (usar luvas caso necessário). 182 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Higienizar muito bem as mãos após manipular alimentos (carnes e vegetais), terra e antes de comer. Evitar acesso de insetos à cozinha. Lavar muito bem facas e outros utensílios de cozinha logo após o uso. 4 Dengue A infecção pelo vírus da dengue causa uma doença de amplo espectro clínico, incluindo desde formas inaparentes até quadros graves, podendo evoluir para o óbito. Entre estes, destaca-se a ocorrência de hepatite, insuficiência hepática, manifestações do sistema nervoso, miocardite, hemorragias graves e choque. Na dengue, a primeira manifestação é a febre, geralmente alta (39ºC a 40ºC) de início abrupto, associada à cefaléia, adinamia, mialgias, artralgias, dor retro-orbitária, com presença ou não de exantema e/ou prurido. Anorexia, náuseas, vômitos e diarréia podem ser observados por 2 a 6 dias. Alguns pacientes podem evoluir para formas graves da doença e passam a apresentar sinais de alarme da dengue, principalmente quando a febre cede, que precedem as manifestações hemorrágicas graves. As manifestações hemorrágicas, como epistaxe, petéquias, gengivorragia, metrorragia, hematêmese, melena, hematúria e outros, bem como a plaquetopenia, podem ser observadas em todas as apresentações clínicas de dengue. É importante ressaltar que o fator determinante na febre hemorrágica da dengue é o extravasamento plasmático, que pode ser expressado por meio da hemoconcentração, hipoalbuminemia e ou derrames cavitários. 4.1 Atendimento ao paciente com suspeita de dengue A suspeita clínica e a notificação de dengue podem ser feitas por profissional médico, enfermeiro ou auxiliar/técnico de enfermagem, de acordo com os critérios clínicos a seguir: Paciente com febre há menos de 7 dias, acompanhados de pelo menos dois dos seguintes sintomas: 183 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Cefaléia. Dor retro-orbitária. Mialgia. Artralgia. Prostração. Exantema. A classificação clínica inicial dos casos suspeitos, a solicitação de exames, a orientação do paciente em relação a sinais de alerta, importância da hidratação adequada e a prescrição de sais de re-hidratação oral podem ser feitas por profissional enfermeiro ou médico. A interpretação dos resultados de hemograma e plaquetas deve ser realizada por profissional médico. 4.2 Aspectos clínicos na criança A dengue na criança, na maioria das vezes, apresenta-se como uma síndrome febril com sinais e sintomas inespecíficos: apatia, sonolência, recusa da alimentação, vômitos, diarréia ou fezes amolecidas. Nos menores de 2 anos de idade, especialmente em menores de 6 meses, os sintomas como cefaléia, mialgias e artralgias podem manifestar-se por choro persistente, adinamia e irritabilidade, geralmente com ausência de manifestações respiratórias, podendo confundir com outros quadros infecciosos febris, próprios desta faixa etária. As formas graves sobrevêm geralmente em torno do terceiro dia de doença, acompanhadas ou não da defervescência da febre. O início da doença pode passar despercebido e o quadro grave ser identificado como a primeira manifestação clínica. O agravamento geralmente é súbito, diferente do adulto, no qual os sinais de alarme de gravidade são mais facilmente detectados. O exantema, quando presente, é maculopapular, podendo apresentar-se sob todas as formas (pleomorfismo), com ou sem prurido, precoce ou tardiamente. 4.3 Etapas a serem seguidas no atendimento inicial ao paciente com suspeita de dengue 184 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Pesquisar situações que aumentam o risco de evolução desfavorável e ficar atento ao diagnóstico diferencial. Pesquisar sinais e sintomas de alerta durante a anamnese e exame físico. Medir: • Pressão arterial em duas posições(deitado/sentado e em pé). • Frequência e pulso. • Temperatura axilar. Realizar prova do laço. Quando necessário, coletar sangue para a realização de hemograma e plaquetas na urgência. Coletar sangue para sorologia e /ou isolamento viral no momento apropriado. Preencher o cartão da dengue. Notificar em ficha de Investigação Epidemiológica, todo caso suspeito, em duas vias (uma para a epidemiologia e uma para o laboratório/sorologia). Em caso de solicitação de isolamento viral preencher 3ª via para o laboratório. 4.4 Considerações gerais sobre o quadro clínico e diagnóstico diferencial Considerando-se que a dengue tem um amplo espectro clínico, as principais doenças que fazem diagnóstico diferencial são: influenza, enteroviroses, doenças exantemáticas (sarampo, rubéola, parvovirose, eritema infeccioso, mononucleose infecciosa, exantema súbito, citomegalovirose e outras), hepatites virais, abscesso hepático, abdome agudo, hantavirose, arboviroses (febre amarela, Mayaro, Oropouche e outras), escarlatina, pneumonia, sepse, infecção urinária, meningococcemia, leptospirose, malária, salmonelose, riquetsioses, doença de Henoch-Schonlein, doença de Kawasaki, púrpura auto-imune, farmacodermias e alergias cutâneas. Outros agravos podem ser considerados conforme a situação epidemiológica da região. 185 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 4.5 Sinais e sintomas de alerta Dor abdominal intensa e contínua Vômitos ou diarréia persistentes. Hipotensão arterial. Hipotensão postural( queda maior que 20mmHg na PA sistólica ou 10 mmHg na PA diastólica em um intervalo de até 3 minutos após o paciente se colocar de pé). Lipotímia. Hepatomegalia dolorosa. Hemorragias importantes (hematêmese e/ou melena). Prostração intensa, sonolância e/ou irritabilidade. Diminuição da diurese. Diminuição repentina da temperatura corpórea ou hipotermia. Aumento repentino do hematócrito. Queda abrupta de plaquetas. Desconforto respiratório. Pulso fino. Taquicardia (RN: maior que 160 bpm; Crianças de 1 a 10 anos: maior que 120 bpm; crianças acima de 10 anos: maior que 100bpm). 4.6 Sinais de choque Hipotensão arterial. Pressão arterial convergente (PA diferencial < 20mmHg). Extremidades frias, cianose. Pulso rápido e fino. Enchimento capilar lento (> 2 segundos). 4.7 Classificação dos casos suspeitos de dengue 186 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Quadro 27 – Classificação dos casos suspeitos de dengue Grupo A Grupo B1 Grupo B2 Grupo C Grupo D Não Sim Sim Sim Sim Não > 1000.000 ou não realizada Não Não Sim Choque Entre 50.000 e 1000.000 < 50.000 Independente do valor Hematócrito Normal ou não realizada Normal ou elevação em até 10% do basal Elevação maior que 10% do basal Independente do valor Independente do valor Leucócitos 1.000 ou não realizada > 1.000 < ou = 1.000 Independente do valor Independente do valor Manifestações Hemorragia leve/prova do laço Sinais de alerta Plaquetas Independente do valor Os valores de plaquetas e leucócitos estão apresentados em células/mm³. Fonte: BELO HORIZONTE. Prefeitura do Município. Protocolo de Atendimento aos Pacientes com Suspeita de Dengue.2010. 4.8 Valores de referência de hematócrito em crianças 1 mês: 51%. 1 mês: 43%. 2 a 6 meses: 35%. 6 meses a 2 anos incompletos: 36%. 2 a 6 anos incompletos: 37%. 6 a 12 anos: 38%. 4.9 Prova do laço A prova do laço deverá ser realizada obrigatoriamente em todos os casos suspeitos de dengue durante o exame físico: Desenhar um quadrado de 2,5 cm de lado (ou uma área ao redor da falange distal do polegar) no antebraço da pessoa e verificar a PA (deitada ou sentada. Calcular o valor médio: (PAS+PAD)/2; 187 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Insuflar novamente o manguito até o valor médio e manter por cinco minutos em adulto (em crianças, 3 minutos) ou até o aparecimento de petéquias ou equimoses. Contar o número de petéquias no quadrado. A prova será positiva se houver 10 ou mais em crianças. A prova do laço é importante para a triagem do paciente suspeito de dengue, pois é a única manifestação hemorrágica do grau I de FHD representando a fragilidade capilar. 4.9.1 Profissionais responsáveis pela realização da prova do laço Pode ser realizada por profissional médico ou enfermeiro. O auxiliar/ técnico de enfermagem pode realizar o procedimento desde que adequadamente treinado e supervisionado, mas a interpretação deve ser realizada por profissional médico ou enfermeiro. 4.10 Verificação de sinais vitais e avaliação da dor 4.10.1 Valores normais de temperatura Oral - 36,4 a 37,4º C. Retal - 36,2 a 37,8º C. Axilar - 35,9 a 36,7º C. 4.10.1.1 Variações anormais de temperatura Hipotermia - Abaixo de 36º C. Febre - 37,8 a 39º C. Estado febril - 37,5 a 37,7º C. Hiperpirexia - 39,1 a 42º C. 4.10.2 Freqüência do pulso normal Recém-nascido - 120 a 170 bpm (90 a 160 bpm). Lactente - 80 a 160 bpm. Criança de 1 a 5 anos - 80 a 110bpm 188 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Criança 6 a 10 anos – 90 bpm. Adolescentes - 60 a 90 bpm. Fonte: TRALDI, 2004 4.10.3 Frequência cardíaca Quadro 28 – Frequência cardíaca Fonte: TRALDI, 2004 4.10.4 Frequência respiratória Quadro 29 – Frequência respiratória Fonte: TRALDI, 2004 4.10.5 Verificação de Pressão arterial 189 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Atenção! Diferentemente do que ocorre em outras doenças que levam ao choque, na dengue, antes de haver uma queda substancial na pressão arterial sistólica (menor que 90 mmHg, em adultos), poderá haver um fenômeno de pinçamento da pressão arterial, ou seja, a diferença entre a pressão arterial sistólica e a diastólica será menor ou igual a 20 mmHg, caracterizando a pressão arterial convergente. A verificação do tempo do enchimento capilar é mandatório em todos os casos atendidos como suspeitos de dengue. O enchimento capilar se faz normalmente em um tempo de até dois segundos. Para sua verificação pode se comparar o tempo de enchimento do paciente com o do examinador. Quadro 30 – Pressão arterial Fonte: Pediatric Advanced Life Support, 1997; Murahovschi, J. 2003. Em crianças, usar manguito apropriado para a idade e peso. Quando não for possível aferir o peso, utilizar a fórmula aproximada: Para lactentes de 3 a 12 meses: P = idade em meses x 0,5 + 4,5. 190 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 4.10.6 Escala de intensidade da dorde 1 a 8 anos: P = idade em anos x 2 + 8,5. Para crianças Figura 41 – Escala de intensidade de dor Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Diretoria Técnica de Gestão.Dengue: manual de enfermagem – adulto e criança / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Diretoria Técnica de Gestão. – Brasília : Ministério da Saúde, 2008. 48 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). 4.10.6.1 Escala de dor visual-numérica Figura 41 – Escala de dor visual-numérica 5 Cartão de dengue 191 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Figura 42 – Cartão da dengue (frente) Figura 43 – Cartão da dengue (verso) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Diretoria Técnica de Gestão.Dengue: manual de enfermagem – adulto e criança / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Diretoria Técnica de Gestão. – Brasília : Ministério da Saúde, 2008. 48 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Para seguimento do paciente, recomenda-se a adoção do “Cartão de Identificação do Paciente com Dengue”, que é entregue após a consulta 192 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança ambulatorial e onde constam as seguintes informações: dados de identificação, unidade de atendimento, data de início dos sintomas, medição de PA, prova do laço, hematócrito, plaquetas, sorologia, orientações sobre sinais de alarme e local de referência para atendimento de casos graves na região. 6 Condução dos casos do grupo A 6.1 Caracterização Febre por até sete dias, acompanhada de pelo menos dois sinais e sintomas inespecíficos (cefaléia, prostração, dor retroorbitária, exantema, mialgias, artralgias) e história epidemiológica compatível. Prova do laço negativa e ausência de manifestações hemorrágicas espontâneas. Ausência de sinais de alarme. 6.2 Solicitação de exames Pacientes com suspeita clínica de dengue devem realizar exames para confirmação diagnóstica, de acordo com a orientação a baixo: Todos os casos suspeitos de dengue: solicitar sorologia para dengue a partir do 6º dia de início dos sintomas. Casos suspeitos de dengue com prova de laço positiva ou manifestações hemorrágicas: solicitar isolamento viral nos primeiros 4 dias de início dos sintomas. A realização do hemograma completo está recomendado pela Secretaria de Vigilância em Saúde/MS à lactentes (menores de 2 anos), com coleta no mesmo dia e resultado em até 24 horas. 6.3 Conduta terapêutica 6.3.1 Orientação para hidratação oral de pacientes com suspeita de dengue Importante: Deve-se realizar hidratação oral dos pacientes com suspeita de dengue ainda na sala de espera, enquanto aguardam consulta médica. 193 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 6.3.1.1 Volume da hidratação oral Crianças (menores de 13 anos de idade): orientar paciente e o cuidador para hidratação, de preferência por via oral com volume de líquidos estimados de acordo como peso( Regra de Holliday-Segar): 100 ml/Kg/dia até 10Kg de peso corporal. 1.000 ml mais 50 ml/Kg para cada Kg entre 10 e 20 KG. 1.500 ml mais 20 ml para cada Kg de peso corporal acima de 20 Kg. Observação: acrescentar 50 a 100 ml (crianças menores de 2 anos) ou 100 a 200 ml (crianças maiores de 2 anos de idade) para eventuais perdas por vômitos e diarréia. Oferecer 1/3 na forma de soro de reidratação oral (SRO ou soro caseiro) e o restante através da oferta de água, sucos e chás. Especificar em receita ou no cartão da dengue o volume a ser ingerido por dia. Manter a hidratação durante todo o período febril e por até 24 - 48 horas após a defervescência da febre. A alimentação não deve ser interrompida durante a hidratação, mas administrada de acordo com a aceitação do paciente. O aleitamento materno deve ser mantido e estimulado. Orientar sobre sinais de alarme e de desidratação. 6.3.2 Sintomáticos Os usos destas drogas sintomáticas são recomendados para pacientes com febre elevada ou com dor. Deve ser evitada a via intramuscular. 6.3.2.1 Antitérmicos e analgésicos. Dipirona - Crianças: 10 - 15 mg/kg/dose até de 6/6 horas (respeitar dose máxima para peso e idade). Paracetamol - Crianças: 10 – 15 mg/kg/dose até de 6/6 horas (respeitar dose máxima para peso e idade); 194 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Os salicilatos não devem ser administrados, pois podem causar sangramentos. Os antiinflamatórios não hormonais (ibuprofeno, diclofenaco, nimesulida) e drogas com potencial hemorrágico não devem ser utilizados. 6.3.2.2 Antieméticos Metoclopramida - Crianças < 6 anos: 0,1 mg/kg/dose até 3 doses diárias. Bromoprida - Crianças: 0,5 a 1 mg/kg/dia em 3 a 4 doses diárias. Parenteral: 0,03 mg/kg/dose. Dimenidrinato - Crianças: 5 mg/kg/dose, até 4 vezes ao dia, via oral. 6.3.2.3 Antipruriginosos O prurido na dengue pode ser extremamente incômodo, mas é autolimitado, durando em torno de 36 a 48 horas. A resposta à terapêutica antipruriginosa usual nem sempre é satisfatória, mas podem ser utilizadas as medidas a seguir: banhos frios, compressas com gelo, pasta d’água, etc. 6.3.2.4 Drogas de uso sistêmico Dexclorfeniramina - Crianças: 0,15mg/kg/dia até de 6/6 horas. Cetirizina - Crianças de 6 a 12 anos: 5ml(5mg) de 12/12 horas, via oral. Loratadina - Crianças: 5mg uma vez ao dia para paciente com peso ≤ 30 kg; Hidroxizine - Crianças (acima de 2 anos): 2mg/kg/dia de 8/8 horas. 7 Condução dos casos do Grupo B 7.1 Caracterização 195 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Todos os pacientes do grupo B( prova do laço positiva ou manifestações hemorrágicas leves( PETÉQUIAS, EPISTAXE, GENGIVORRAGIA) devem realizar hemograma e plaquetas e o resultado deve ser avaliado no mesmo dia. Enquanto o paciente aguarda o resultado de hemograma e plaquetas, deve ser hidratado preferencialmente na unidade de saúde por via oral, de acordo com as recomendações da situação clínica A. Em caso de intolerância à hidratação oral, deve-se hidratar por via venosa, com soro fisiológico 0,9%. A classificação em B1 ou B2 será definida a partir da chegada do resultado dos exames. Caso o paciente apresente sinais de alerta e/ou choque durante este período, conduzir como grupo C ou D. 7.2 Grupo B1 Caso o hematócrito esteja normal ou até 10% acima do valor basal, as plaquetas estejam acima de 50.000cels/mm³ e os leucócitos acima de 1.000cels/mm³, preencher “cartão da dengue”, liberar para o domicílio com prescrição de paracetamol( e/ou dipirona) e orientações sobre hidratação oral vigorosa conforme grupo A e oferecimento de leite materno, o que ajuda muito na recuperação da criança. Fornecer as seguintes orientações: • Procura imediata de serviço de urgência em caso de sinais de alerta. • Retorno diário para avaliação médica até o 7º dia de doença. • Orientar sobre limpeza domiciliar de criadouros do aedes aegypt. Prencher ficha de notificação. E avisar imediatamente a Vigilância Epidemiológica, por telefone. Repetir hemograma com plaquetas nas consultas de retorno, de acordo com a avaliação clínica. Dar alta após 7º dia de doença se ausência de sinais de alerta. 196 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 7.3 Grupo B2 Caso o paciente apresente elevação do hematócrito acima de 10% do valor basal ou plaquetas abaixo de 50.000cels/mm³ ou leucócitos abaixo de 1.000cels/mm³, conduzir conforme grupo C. 8 Indicações para internação hospitalar Presença de sinais de alarme. Recusa na ingesta de alimentos e líquidos. Comprometimento respiratório: dor torácica, dificuldade respiratória, di-minuição do murmúrio vesicular ou outros sinais de gravidade. Plaquetas < 20.000/mm³, independentemente de manifestações hemorrágicas. Impossibilidade de seguimento ou retorno à unidade de saúde. Co-morbidades descompensadas como diabetes mellitus, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca,uso de dicumarínicos, crise asmática, etc. Outras situações a critério médico. 9 Infecções Respiratórias Agudas 9.1 Vias Aéreas Superiores 9.1.1 Resfriado Comum O resfriado comum é uma doença viral na qual os sintomas de rinorréia e obstrução nasal são proeminentes, há também tosse, mas não há tiragem ou retração subcostal ou taquipnéia. Sintomas sistêmicos como mialgia ou febre estão ausentes ou são leves. É um quadro autolimitado. 9.1.1.1 Etiologia Rinovírus principalmente. Também podem ser coronavírus, vírus sincicial respiratório e mais raramente influenza, adenovírus e enterovírus. 197 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 9.1.1.2 Epidemiologia Ocorrem durante todo o ano, mas a incidência é maior do início do outono até o final do inverno. Crianças (lactentes) podem apresentar em média 6 a 7 resfriados por ano, cerca de 10 a 15% têm pelo menos 12 infecções por ano. Crianças que freqüentam creche durante o primeiro ano de vida apresentam 50% mais resfriados do que as crianças que são criadas somente em casa. 9.1.1.3 Patogênese/Transmissão Contato direto e gotículas de saliva. 9.1.1.4 Quadro Clinico Início dos sintomas 1 a 3 dias após infecção viral. Frequentemente garganta irritada ou “arranhando“ acompanhado por obstrução nasal e rinorréia. Tosse - ocorre em 30% dos resfriados. Pode ocorrer febre. Duração em torno de 1 semana (auto-limitado). 9.1.1.5 Diagnóstico História + exame clínico. Fazer diagnóstico diferencial. 9.1.1.6 Achados laboratoriais Não são úteis. 9.1.1.7 Tratamento É basicamente sintomático: Febre: antipirético. Obstrução nasal e rinorréia: limpeza nasal com soro fisiológico. Garganta irritada: não é severa, se necessário analgésicos. Tosse: sua supressão não é necessária. 9.1.1.8 Complicações 198 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Otites: 5 a 30% dos casos de crianças resfriadas podem evoluir para esta complicação. Sinusite: ocorre em 0,5 a 2% nos adultos; 5 a 13% nas crianças. Exacerbação da asma. 9.1.2 Sinusites A sinusite é uma doença que se manifesta quase sempre como complicação de infecção de vias aéreas superiores.Existem dois tipos de sinusite aguda: viral e bacteriana, sendo que, é difícil estabelecer o diagnóstico diferencial entre elas. Os seios etmoidal e maxilar estão presentes ao nascimento, porém somente os seios etmoidais estão pneumatizados. Os seios maxilares não estão pneumatizados até os quatro anos de idade. Os seios esfenoidais surgem por volta dos 5 anos de idade, enquanto os seios frontais começam a se desenvolver entre os 7-8 anos de idade e não estão completamente desenvolvidos até a adolescência. Os seios paranasais normalmente são estéreis, mantidos pelo sistema de limpeza mucociliar. 9.1.2.1 Classificação Agudas: sintomas por 6 a 8 semanas. Crônicas: mais de 12 semanas de sintomas. Recorrentes: mais de 3 episódios em um ano. 9.1.2.2 Etiologia Patógenos bacterianos: Streptococcus pneumoniae - 30%; Haemophylus influenzae não tipificável - 20%; Moraxella catarrhalis - 20%; Outros: Staphylococcus aeureus, outros estreptococos e anaeróbios. Observação: Cerca de 25% das infecções por S. pneumoniae são resistentes à penicilina. 199 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 9.1.2.3 Epidemiologia Fatores predisponentes incluem: infecções virais de trato respiratório superior, rinite alérgica e exposição à fumaça de cigarros. 9.1.2.4 Patogênese A infecção viral prévia do trato respiratório superior, produz uma rinossinusite viral. As IVAS provocam edema da mucosa respiratória, obstruindo a ventilação sinusal, ao mesmo tempo que dificulta a drenagem das secreções e alteram o sistema de defesa da mucosa, facilitando a instalação de uma infecção bacteriana. 9.1.2.5 Quadro Clínico Incluem: queixas inespecíficas de congestão nasal, secreção nasal (unilateral ou bilateral), febre e tosse. Sintomas menos comuns são: diminuição da sensação dos odores, halitose e edema periorbital. Queixas de dor facial e cefaléia são raras em crianças, mas comum em adolescentes e adultos. 9.1.2.6 Diagnóstico O diagnóstico clínico é habitualmente baseado nas evidências clínicas e na duração dos sintomas. Sintomas persistentes de infecção de trato respiratório superior, incluindo secreções nasais e tosse, por mais de 10 a 14 dias, ou severos sintomas respiratórios, incluindo temperatura de 39°C e secreção purulenta nasal por 3 a 4 dias consecutivos, são sugestivos de sinusite bacteriana aguda. Na sinusite crônica, a tosse noturna ou diurna, secreção nasal ou congestão nasal e cefaléia duram 12 semanas ou mais de 90 dias. A radiografia de seios da face não é necessária para o diagnóstico, e em crianças principalmente pela dificuldade de sua interpretação. A radiografia fica reservada para os casos de dúvida, se interpretada, em conjunto com o quadro clínico. Incidências: 200 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Caldwell (fronto-placa): seios frontais e etmoidais. Waters (mento-placa): seios maxilares. Hirtz (axial): seios etmoidais e esfenoidais. Perfil (lateral): seios esfenoidais, frontais e etmoidais. A cultura do aspirado dos seios é o único método preciso de diagnóstico, mas não é prática para o uso de rotina. Tomografia computadorizada é um excelente meio para avaliar os seios da face, mas como é um método caro e de maior tempo de exposição à irradiação, está indicado, principalmente, em três situações: Sinusite aguda que não responde ao tratamento com antibióticos. Avaliação pré-operatória dos pacientes com indicação cirúrgica. Presença de possíveis complicações da sinusite, sejam orbitárias ou intracranianas. Ressonância magnética está indicada em suspeita de sinusite fúngica ou de neoplasia de seios da face. Observação: episódios repetidos de sinusite sugerem a existência de fatores associados que devem ser corrigidos: hipertrofia de adenóides, hipertrofia de cornetos, polipose nasal, corpo estranho e rinopatia alérgica. 9.1.2.7 Tratamento As rinosinusites agudas podem ser tratadas inicialmente com amoxicilina (40 mg/kg/dia) sendo efetiva e segura na maioria dos casos. É importante lembrar que a sinusite aguda na criança apresenta resolução espontânea em 40% a 50% dos casos. Outros tratamentos para pacientes alérgicos à penicilina ou casos mais graves ou recidivantes ou alta prevalência de germes produtores de ß-lactamase: Amoxicilina com clavulanato. Sulfametoxazol-trimetropim. Cefaclor. 201 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Cefuroxime axetil. Cefprozil. Cefixima. Claritromicia. Azitromicina. O tempo de tratamento utilizado é em torno de 10 a 14 dias, e os índices de cura giram em torno de 90%. 9.1.2.8 Complicações Celulite periorbitaria e celulite orbitária. Intracranianas: meningite, trombose de seio cavernoso, empiema subdural, abscesso cerebral. Outras: osteomielite do seio frontal (tumor de Pott-puffy). 9.1.3 Otite É uma infecção do ouvido, que afeta primariamente lactentes e crianças pequenas, sendo menos freqüente em crianças maiores e adolescentes e relativamente infrequente nos adultos. 9.1.3.1 Classificação Otite média aguda: quadro prévio de IVAS arrastando-se há alguns dias e subitamente o aparecimento de otalgia (que é o sintoma mais comum); temperatura maior que 38° C, irritabilidade, vômitos e anorexia. Otite média secretora: inflamação da orelha média em que há uma coleção líquida no seu espaço. Este líquido pode apresentar-se com aspecto seroso, mucoso ou purulento. A membrana timpânica está intacta; A queixa principal da criança é a diminuição da audição ou a sensação de ouvido “entupido”. A perda de audição é percebida pelos pais ou pela professora. Otite média recorrente: caracteriza-se por três episódios de otite média aguda em seis meses ou quatro episódios em 12 meses; a recorrência e cronicidade da otite 202 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança média aguda e também da otite média secretora levam a efeitos adversos na fala, linguagem e desenvolvimento cognitivo; provavelmente causados por uma perda flutuante de audição. 9.1.3.2 Etiologia Streptococcus pneumoniae - 40%. Haemophilus influenzae - 25%. Moraxella catarrhalis - 12%. Outros: Streptococcus beta-hemolítico do grupo A e Staphilococcus aureus. A porcentagem de Streptococcus pneumoniae resistentes vem aumentando. Não esquecer que a vacina com H. influenzae é dirigida à prevenção do tipo b (que dificilmente causa otite). 9.1.3.3 Epidemiologia/fatores de risco A otite média é uma doença de alta prevalência, com morbidade elevada e baixa mortalidade. Cerca de 70% das crianças terão pelo menos um episódio de otite média antes de completar 5 anos de idade. É mais comum em população urbana do que rural. Quanto à variação sazonal, a incidência da otite é mais alta no inverno e mais baixa no verão. 9.1.3.4 Fatores de risco Infecção (viral ou bacteriana de vias aéreas superiores). Fatores anatômicos (disfunção da tuba auditiva, fenda palatina). Curta duração do aleitamento materno. Deficiência imunológica (principalmente primárias). Alergia/atopia (pouco). Fatores ambientais e sociais (creche, fumante passivo). Refluxo gastroesofágico. Hipertrofia e infecção das adenóides. 203 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Posição da alimentação com a mamadeira (tuba auditiva é menor e mais horizontalizada). 9.1.3.5 Quadro Clínico O diagnóstico da otite média na criança é determinado pela história e exame físico. 9.1.3.5 Diagnóstico e exames complementares Na otoscopia, a membrana timpânica está em posição neutra, é transparente, de cor pérola-acinzentada, podendo ficar hiperemiada com o choro da criança. Na otite média aguda, a membrana timpânica está hiperemiada, opaca, abaulada e com aumento da vascularização e diminuição da mobilidade da membrana timpânica. De todos estes sinais, o abaulamento é o mais importante. A perfuração da membrana timpânica, quando presente, é pequena e de difícil visualização devido ao edema e presença de secreção (normalmente purulenta), que ocorre na otite média aguda supurada. Na otite média secretora, a membrana timpânica (MT) está retraída, geralmente opaca, com protrusão do cabo do martelo. Quando transparente, pode-se perceber um nível líquido, nível hidroaéreo ou bolhas de ar. Exames audiométricos e impedanciometria são utilizados para avaliação auditiva na otite média secretora. 9.1.3.6 Tratamento A amoxicilina é a droga de escolha para o tratamento da otite média aguda, por 10 a 14 dias. Sua única desvantagem é a fragilidade diante das ßlactamases produzidas por algumas cepas de H. influenzae e M. catarrhalis. Obs: o pneumococo não é produtor de ß-lactamase. Se a criança é alérgica à penicilina, pode-se usar os derivados sulfadiazídicos ou os macrolídeos. A adição de ácido clavulânico estende o espectro da amoxicilina, inclui cepas H. influenzae, M. 204 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança catarrhalis e S. aureus produtores de ß-lactamase e também anaeróbios. As cefalosporinas de 1ª geração não devem ser utilizadas no tratamento da otite média. As cefalosporinas de 2ª geração são eficazes contra S. pneumoniae, H. influenzae e M. catarrhalis, inclusive os produtores de ß-lactamases. Otite média recorrente (OMR): vários estudos sugerem que a quimioprofilaxia é eficaz em crianças com OMR, porém alguns aspectos devem ser avaliados antes de indicar quimioprofilaxia. Seguir alguns critérios: Três episódios de OMA em 6 meses ou 4 episódios em 1 ano. Amoxicilina e trimetropim/sulfametozaxol são escolha. A dosagem é metade da dose terapêutica, 1 vez ao dia, ao deitar. Tempo: realizar nos meses frios (maior chance de infecções do trato respiratório). Reavaliação a cada 4 a 6 semanas. Infecções agudas devem ser tratadas com antibiótico de grupo diferente do profilático. Otite média secretora: a maioria das crianças com otite média secretora cura espontaneamente, portanto, a melhor conduta a seguir em crianças assintomáticas é a observação. Existem situações em que a miringotomia com colocação de tubo de ventilação é o mais adequado. 9.1.4 Faringoamigdalites Processo inflamatório que acomete as amígdalas e que se estende pela parede da orofaringe. É um processo inflamatório da região com eritema, exsudato ou ulceração, sendo a dor de garganta um sintoma universal. 9.1.4.1 Etiologia Pode ter etiologia viral, geralmente em menores de 3 anos, ou bacteriana, em crianças maiores. A diferenciação se faz através de critérios clínicos e exame físico. 205 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Agente bacteriano mais comum é o estreptococo ß-hemolítico do grupo A, sendo menos comum outros agentes como estreptococos dos grupos C, G e H. Influenzae, S. pneumoniae, M. catarrhalis, S. aureus, bacteróides anaeróbios em geral. Entre os vírus, os mais comuns são: parainfluenzae, vírus sincicial respiratório, influenzae A e B, adenovírus tipos 1 a 3 e 5, rinovírus e coxsackie. O Epstein Baar vírus causa a mononucleose infecciosa e faringite exsudativa em adultos jovens. 9.1.4.2 Quadro Clínico As manifestações clínicas são variadas, podendo apresentar desde sintomas e sinais clássicos até uma infecção leve ou inaparente. Após período de incubação de 1 a 4 dias, a doença inicia-se de modo abrupto, principalmente em crianças de 5 a 11 anos de idade, com febre, dor de garganta, mal estar geral e cefaléias. Essas queixas acompanham-se de náuseas, vômitos e dor abdominal. Ao exame físico observa-se presença de exsudato sobre as amígdalas, em 50% a 90% dos casos, e gânglios linfáticos cervicais anteriores edemaciados e dolorosos. A diferenciação entre faringoamigdalite viral e bacteriana, através de parâmetros clínicos situa-se ao redor de 50%. O quadro viral apresenta sintomatologia mais leve que a bacteriana e pode se acompanhar de tosse, rinorréia e conjuntivite. A presença de vesículas, ulcerações e pústulas no palato sugere a etiologia viral. Em crianças menores de 3 anos, a faringite exsudativa é raramente devida ao estreptococo do grupo A. 9.1.4.3 Diagnóstico No leucograma o número de leucócitos pode estar aumentado nas infecções virais, mas uma contagem baixa torna pouco provável a infecção estreptocócica. A cultura de material de orofaringe é o “padrão ouro” para o 206 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança diagnóstico, mas em nosso meio é pouco utilizado. A diferenciação como já dito se faz através de critérios clínicos e exame físico. 9.1.4.3 Tratamento A penicilina benzatina permanece como a droga de escolha, desde as últimas 4 décadas. Podendo também ser usada a penicilina oral por 7 a 10 dias. A penicilina também é o tratamento de escolha na profilaxia das infecções recorrente pelo estreptococo e nos portadores de febre reumática. A eritromicina, os novos macrolídeos e as cefalosporinas são úteis nos casos de falha terapêutica ou de alergia à penicilina. 9.1.5 Laringite É um processo inflamatório agudo da laringe com edema subglótico e conseqüente obstrução local ao fluxo aéreo (componente inspiratório, basicamente). 9.1.5.1 Etiologia Os agentes virais são responsáveis pela maioria dos casos. Em ordem decrescente de freqüência: Vírus Parainfluenzae tipo 1; Parainfluenzae tipo 3 1 e 2;Vírus Sincicial Respiratório. Influenzae tipo A e B; adenovírus e Mycoplasma pneumoniae. basicamente). 9.1.5.2 Patogênese e fisiopatologia Existe um tropismo viral pelo epitélio ciliado e após a infecção do epitélio respiratório ocorre resposta inflamatória ao vírus com influxo de células inflamatórias e conseqüente edema e congestão vascular. Com a cronicidade da inflamação, o epitélio infectado pelo vírus é destruído e pode ocorrer ulcerações da superfície e exposição das terminações nervosas com conseqüente espasmo muscular. Pacientes com história de laringite espasmódica (recorrente) podem apresentar posteriormente hiper-reatividade das vias aéreas. 207 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 9.1.5.3 Quadro clínico A doença viral pode envolver a laringe (laringite), laringe e traquéia (laringotraqueíte) ou também os brônquios (laringotraqueobronquite - LTB). Há antecedentes de IVAS com febre baixa alguns dias antes (3-4 dias), desenvolvendo a seguir tosse rouca (“de cachorro”), estridor inspiratório com ou sem febre. 9.1.5 Epiglotite Doença causada principalmente pelo Haemoplylus influenzae tipo (Hib). Atualmente rara desde a introdução da vacina anti Hib. Diferencia-se da laringite viral por ser um quadro agudo (menor que 24 h de doença) com toxemia importante, febre alta, disfagia e sialorréia, afonia (raramente rouquidão). Deve-se manusear o paciente o mínimo possível para não precipitar a obstrução das vias aéreas e consequente parada cardiorespiratória (não tentar visualizar a epiglote e manter o paciente sentado); administrar oxigenioterapia, encaminhá-lo à UTI Pediátrica e iniciar antibioticoterapia (Ampicilina + Cloranfenicol ou Ceftriaxona). 10 Anemia ferropriva Causada por um defeito na síntese de hemoglobina, a conseqüência do déficit de ferro é a anemia mais comum em crianças, freqüente em atenção primária. A idade mais freqüente de apresentação da anemia ferropriva é entre 06 e 24m, devido ao aumento da necessidade de ferro pelo crescimento e incorporação de alimentos sólidos que, em muitas dietas, carecem de ferro, sendo a etiologia carêncial a mais prevalente. Numerosos estudos demonstram que crianças pequenas com anemia ferropriva apresentam resultados inferiores no desenvolvimento corporal, cognitivo e motor. A associação de Anemia ferropriva e o déficit cognitivo incentivam a idéia de prevenção da Anemia ferropriva nas crianças, mediante a administração profilática de ferro. 208 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Segundo o Comitê de Nutrição da Academia Americana de Pediatria (A.A.P), há recomendação: Administração preventiva de 1 mg/kg/dia de ferro ate no máximo 15 mg/dia, em crianças nascidas a termo dos 04 meses aos 02 anos de idade. Nas crianças com baixo peso ao nascer, a dose recomendada é de 02 mg/kg/dia, iniciando aos 02 meses terminando aos 12 meses. A dose aumenta para 3 mg/kg/dia se pesarem entre 1 kg e 1,5kg ao nascer e para 4 mg/kg/dia para crianças que pesarem 1kg. Além dessa profilaxia, recomendam-se as seguintes medidas gerais de prevenção: Estimular o aleitamento materno exclusivo ate o sexto mês e manter o aleitamento ate pelo menos dois anos de idade. Na introdução dos alimentos sólidos, oferecer aqueles ricos em ferro (fígado, gema de ovo, grão de bico, espinafre, feijão e carnes vermelhas). Em relação à administração de ferro nas crianças é melhor administrá-lo longe das refeições, onde sua absorção é maior. Outra observação importante é orientar mudança da coloração das fezes. 11 Anemia falciforme13 11.1 Diagnóstico laboratorial das doenças falciformes em neonatos Realizado através da triagem neonatal (teste do pezinho fase II), seguido de aconselhamento genético, avaliação familiares e orientações clínicas. Não há tratamento específico das doenças falciformes. Assim, medidas gerais e preventivas no sentido de minorar as conseqüências da anemia crônica, crises de falcização e susceptibilidade às infecções são fundamentais na terapêutica destes pacientes. Estas medidas incluem boa nutrição; profilaxia, 13 Fonte:Manual deDiagnóstico e Tratamento de Doenças Falciformes.Agência Nacional de Vigilância Sanitária Brasília - 2002 209 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança diagnóstico e terapêutica precoce de infecções; manutenção de boa hidratação e evitar condições climáticas adversas. Além disso, acompanhamento ambulatorial 2 a 4 vezes ao ano e educação da família e paciente sobre a doença são auxiliares na obtenção de bemestar social e mental. É importante também orientar pacientes e mães da necessidade de procurar tratamento médico sempre que ocorrer febre persistente acima de 38,3ºC; dor torácica e dispnéia; dor abdominal, náuseas e vômito; cefaléia persistente, letargia ou alteração de comportamento; aumento súbito do volume do baço; priapismo. Exames de rotina como, urina I, protoparasitológico, R-X de tórax, eletrocardiograma e se possível ecocardiograma, creatinina e clearance, eletrólitos, ultra-som de abdome, proteinúria, provas de função hepática e visita ao oftalmologista com pesquisa de retinopatia devem ser realizados anualmente e repetidos sempre que necessário. Hemograma deve ser realizado pelo menos duas vezes ao ano, pois redução nos níveis basais de hemoglobina podem indicar insuficiência renal crônica ou crise aplástica. 11.2 Profilaxia contra infecções 11.2.1 Penicilina profilática Penicilina profilática previne 80% das septicemias por S. pneumoniae (Pneumococo) em crianças com anemia falciforme até 3 anos de idade. O impacto da profilaxia é enorme e deve ser iniciado aos 3 meses de idade para todas as crianças com doenças falciformes. A terapêutica deve continuar até 5 anos de idade. Pode-se utilizar a forma oral (Penicilina V) ou parenteral (Penicilina benzatina), na seguinte posologia: 11.2.2 Penicilina V 210 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 125 mg VO (2 vezes ao dia) para crianças até 3 anos de idade ou 15 kg. 250 mg VO (2 vezes ao dia) para crianças de 3 a 6anos de idade ou com 15 a 25 kg. 500 mg VO (2 vezes ao dia) para crianças com mais de 25 kg. 11.2.3 Penicilina benzatina Administrar IM a cada 21 dias: 300.000 U para crianças até 10 kg. 600.000 U para crianças de 10 a 25 kg. 1.200.000 U para indivíduos com mais de 25 kg. Em casos de alergia à penicilina, administrar 20 mg/kg de eritromicina etilsuccinato via oral, 2 vezes ao dia. 11.3 Imunização A imunização deve ser realizada como em qualquer outra criança, contra agentes virais e bacterianos. Entretanto, particular ênfase deve ser dada à vacinação contra Pneumococo, Haemophilus influenzae e Hepatite B . Desde que septicemia por Pneumococo e H. influenzae tipo B são freqüentes na doença. Falciforme, a imunização deve ser precoce. Entretanto, a vacina contra Pneumococo atualmente no mercado não é imunogênica antes de dois anos de idade. Já a vacina contra hepatite B pode ser realizada ao nascimento. Assim, para estes agentes, recomenda-se o seguinte esquema de vacinação: 11.3.1 Hepatite B Deve ser administrada em 3 doses de 1 ml (20 µg/dose), ao nascimento, 1 mês e 6 meses de vida. Os reforços podem ser feitos a cada 5 anos 211 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança após término do esquema ou quando os títulos estiverem abaixo do nível de proteção. 11.3.2 Haemophilus A idade mínima para administração é de 2 meses. Até 6 meses de idade: devem ser administradas 3 doses em intervalos de 2 meses. 7 meses a 1ano de idade: administrar 2 doses com intervalos de 2 meses. Em ambos os casos, o reforço deve ser administrado com 1ano e 3 meses de idade A partir de 1 ano até 18 anos de idade: administrar em dose única. 11.3. Pneumococos A idade mínima para administração é de 2 anos com reforço a cada 5 anos. Não realizar reforços em intervalos menores do que 5 anos pois os efeitos adversos da vacina podem ser exacerbados. É indiscutível o impacto da doença falciforme no crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente. As anormalidades incluem déficits precoces no peso e estatura (significativos já no primeiro ano de vida), atraso na maturação sexual e prejuízo no desempenho escolar. A etiologia destas alterações envolve vários fatores como função endócrina, nutrição , taxa metabólica basal e níveis de hemoglobina fetal. A demanda metabólica, pelo aumento da taxa de eritropoese e do trabalho cardíaco devido à anemia crônica, aumenta as necessidades de proteína, energia e minerais. Além disso, mesmo nos períodos sem crises ou complicações (Steady-state), a hemólise crônica contínua bem como a vasooclusão subclínica resultam em alteração de provas de fase aguda, aumento no metabolismo protéico e balanço nitrogenado negativo. Tudo isso faz com que a taxa metabólica basal do paciente com anemia falciforme seja 20% maior que na população normal. 212 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Portanto, mesmo com uma ingestão alimentar adequada quando comparada com controles normais, o paciente falciforme é considerado relativamente subnutrido. 213 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança CAPITULO VII AIDIPI 1 Considerações iniciais Neste capítulo serão expostas as estratégias adotadas no programa Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) para o período neonatal. A AIDPI, dirigida a crianças de 2 meses a 5 anos, foi lançada em 1994 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ). Tem sido utilizada no Brasil desde 1996 como uma das estratégias para a redução da mortalidade infantil. No ano de 2000, com o objetivo específico de contribuir para a redução da mortalidade no período neonatal, foi incorporado ao programa o componente neonatal, dirigido a crianças de zero a dois meses de idade.No Brasil, as primeiras oficinas de AIDPI neonatal ocorreram em 2005, no estado do Pará,em cujos municípios os profissionais têm recebido, desde então, um contínuo processo de capacitação, e a partir de 2009 passaram a ocorrer também em outros estados, sobretudo das regiões Norte e Nordeste. 1.1 Princípios da AIDPI neonatal Esta estratégia compreende um conjunto integrado de ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e manejo dos agravos que, realizadas por profissionais de saúde que atuam no nível primário e comunitário, proporcionam atenção de qualidade às crianças, suas famílias e comunidades. O processo de atenção integrada de casos envolve a detecção de casos por meio da observação de sinais clínicos simples, classificação adequada e tratamento em tempo hábil. 214 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Os tratamentos são indicados com base em classificações dos casos (em lugar de diagnósticos exatos), que abrangem as doenças mais prováveis representadas em cada classe. Os modelos oferecem instruções sobre como avaliar sistematicamente uma criança por meio da observação de sinais gerais de doenças frequentes. A avaliação consiste em entrevista com a mãe ou o responsável, reconhecimento dos sinais clínicos, escolha do tratamento apropriado e orientações com relação à prevenção. Em cada agrupamento de sinais clínicos, o profissional de saúde deve seguir o processo de atenção integrada de casos, que consiste em avaliar, classificar e tratar: Avaliar a criança, detectando em primeiro lugar sinais de risco, mediante formulação de perguntas, exame da criança e avaliação da nutrição e do estado de vacinação. Classificar as doenças conforme tabelas de classificação. Tratar de acordo com a classificação. Com relação ao tratamento, há 3 possibilidades, de acordo com o nível de complexidade dos casos: Tratamento e encaminhamento urgente para assistência de maior complexidade. Tratamento médico específico com orientação. Orientação sobre o tratamento que pode ser realizado em casa. Se uma criança requer encaminhamento urgente, deve-se, sempre que possível, tomar algumas medidas iniciais antes de transferi-la, como administrar primeira dose do antibiótico nos casos classificados como doença grave, para não atrasar o início do tratamento. Quando houver possibilidade de tratamento domiciliar, deve ser elaborado um plano integrado de tratamento, com administração da primeira dose 215 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança dos medicamentos sob orientação e supervisão do profissional de saúde. Se estiver indicada vacinação, devem-se administrar as vacinas prontamente. É importante dar instruções práticas para o tratamento. Deve-se orientar a mãe ou o responsável pela criança como administrar os medicamentos por via oral, como alimentar e oferecer líquidos durante a doença, e como tratar infecções localizadas em casa. Além de avaliar, classificar e tratar, cabe ao profissional de saúde: Agendar retorno, solicitando ao responsável pela criança que retorne para seguimento em uma data marcada e orientá-lo como reconhecer os sinais de perigo, que indicam que a criança deve retornar imediatamente ao serviço de saúde (Quadro 31). Avaliar a alimentação, incluindo as práticas relativas ao aleitamento materno, e oferecer orientação para resolver qualquer problema identificado. Deve-se aproveitar a oportunidade para orientar a mãe sobre sua própria saúde. O programa AIDPI almeja, também, que as famílias incorporem boas práticas para proporcionar às crianças um desenvolvimento saudável, por meio de medidas preventivas, e que elas ofereçam cuidados adequados às crianças em casa, quando estão doentes e, o mais importante, que detectem oportunamente os sinais de perigo que requerem encaminhamento urgente da criança a um serviço de saúde (Quadro 31). Se a família não souber reconhecer os sinais de perigo que requeiram atendimento imediato da criança, a possibilidade de morte é maior. Por isso, é importante orientar a família sobre os sinais de perigo, o momento e o local onde buscar assistência adequada e oportuna. 216 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Quadro 31 - Medidas preventivas em relação às quais os pais/responsáveis devem ser orientados Medidas • Iniciar a amamentação logo após o nascimento e manter aleitamento materno exclusivo, à vontade, oferecendo as mamas em torno de 8 a 10 vezes ao dia. Deixar o bebê mamar até esvaziar bem a primeira mama para então trocar de mama. Na mamada seguinte oferecer primeiro a mama que ofereceu por último na mamada anterior. • Lavar as mãos antes de tocar o bebê. • Limpar o umbigo com álcool 70%, 3 vezes ao dia. Não cobrir e não aplicar outras substâncias no umbigo. • Dar banho diariamente. • Vestir o RN com roupas limpas e confortáveis, de acordo com o clima. • Colocar o bebê para dormir de barriga para cima. • Proporcionar afeto, conversando, sorrindo e acariciando o bebê. • Caso a criança não esteja em aleitamento materno exclusivo, ensinar a mãe como preparar outros leites e limpar os utensílios para prevenir problemas de infecção e/ou nutrição. • Orientar líquidos adicionais além do leite materno nos episódios de diarreia para prevenir desidratação. • Levar o bebê para as consultas de rotina. • Obedecer ao calendário de vacinação. • Aprender a reconhecer os sinais de perigo. • Não fumar dentro de casa. Sinais de perigo em crianças menores de 2 meses • Peso ao nascer abaixo de 2.500 g. • Sucção do seio materno débil ou ausente. • Dificuldade respiratória. • Secreção purulenta no umbigo. • Apatia (estar pouco reativo, “largado” ou “não estar bem”). • Diarreia ou fezes com sangue. • Febre ou hipotermia. • Vômitos em grande quantidade. • Icterícia. • Cianose. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coes Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. 1.2 Risco ao nascer Antes do parto, é fundamental obter da mãe informações relacionadas a sua saúde e às condições da gestação para melhor avaliar o risco de problemas ao nascimento. O Quadro 32 lista as principais informações para a classificação do risco ao nascer. 217 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Quadro 32 - Informações utilizadas para classificar o risco ao nascer Perguntar Observar • Gestação a termo? • Líquido amniótico claro? • Houve ruptura prematura de membranas? Há quanto tempo? • A mãe teve ou tem febre? • A mãe teve doenças durante a gravidez? (*TORCHS, hipertensão, infecção urinária, diabetes, doença sistêmica grave) • O RN necessitou procedimentos de reanimação? • Cor • Respiração • Choro • Vitalidade • Anomalias congênitas • Sinais de infecção intrauterina (*TORCHS - microcefalia, petéquias, equimoses, catarata, hepatomegalia, esplenomegalia, etc.) • Lesões graves decorrentes do parto Determinar • Peso e idade gestacional • Temperatura axilar • Frequência respiratória *TORCHS - toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes, HIV, sífilis. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coes Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. Com base nessas informações, é possível classificar o grau de risco e, assim, determinar as medidas mais adequadas a serem adotadas em relação ao RN (Quadro 33). Quadro 33 - Classificação do risco ao nascer Avaliar os sinais Se estiver presente ao menos um dos seguintes sinais: • Peso ao nascer < 2.000 g ou > 4.000 g. • Idade gestacional < 35 semanas. • Temperatura axilar < 36 ou > 37,5° C. • Dificuldade respiratória, frequência respiratória > 60 ou < 30 irpm. • Febre materna ou corioamnionite. • Ruptura prematura de membranas > 12 horas ou mais antes do parto. Classificar como Medidas a serem tomadas ALTO RISCO AO NASCER • Encaminhar urgentemente para um hospital de acordo com as normas de estabilização e transporte (Atenção à Saúde do RN,Guia para profissionais de saúde-volume 1). • Favorecer o contato pele a pele quando as condições da criança e da mãe permitirem. • Iniciar a amamentação, se possível, exceto se mãe HIV+. • Manter o RN aquecido. • Se a ruptura prematura de membranas tiver ocorrido mais de 12h antes do parto, iniciar a primeira dose dos antibióticos recomendados (Atenção à saúde do RN,Guia para profissionais de saúde-volume 1). 218 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança • Palidez ou pletora (bebê muito vermelho). • Infecção intrauterina (TORCHS). • Anomalias congênitas maiores. • Lesão grave devido ao parto. • Reanimação com ventilação com pressão positiva ou massagem cardíaca. • Verificar o cumprimento dos cuidados de rotina em sala de parto (Atenção à saúde do RN,Guia para profissionais de saúde-volume 1). • Orientar a mãe sobre os motivos da transferência. Se estiver presente ao menos um dos seguintes sinais: • Peso ao nascer entre > 2.000 g e < 2.500 g. • Idade gestacional entre > 35 e < 37 semanas. • Idade gestacional ≥ 42 semanas. • Anomalias congênitas menores. • Procedimentos de reanimação sem necessidade de ventilação com pressão positiva ou massagem cardíaca. MÉDIO RISCO AO NASCER Se o RN apresentar: • Respiração regular. • Choro forte. • Pele e mucosas rosadas • Boa atividade. • Peso ao nascer > 2.500 g e < 4.000 g. • Idade gestacional > 37 e < 42 . BAIXO RISCO AO NASCER • Encaminhar para consulta médica especializada. • Colocar o RN em contato pele a pele com a mãe. • Iniciar amamentação na primeira hora de vida, se possível, exceto se mãe HIV+. • Orientar a mãe a manter o RN aquecido. • Verificar o cumprimento dos cuidados de rotina em sala de parto (Atenção à saúde do RN,Guia para profissionais de saúde-volume 1). • Orientar a mãe quanto a medidas preventivas e sinais de perigo que requerem retorno imediato (Quadro 31). • Consulta de seguimento em 3 dias. • Colocar o RN em contato pele a pele com a mãe. • Iniciar amamentação na primeira hora de vida, se possível, exceto se mãe HIV+. • Orientar a mãe a manter o RN aquecido. • Verificar o cumprimento dos cuidados de rotina em sala de parto (Atenção à saúde do RN,Guia para profissionais de saúde-volume 1). • Orientar a mãe sobre os cuidados com o RN em casa. • Orientar a mãe quanto a medidas preventivas e sinais de perigo que requerem retorno imediato (Quadro 31). • Agendar consulta de seguimento em 3 dias. • Indicar vacinação de acordo com o esquema do Ministério da Saúde. 219 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. Um dos parâmetros utilizados para classificação do risco ao nascer é a idade gestacional do RN. O cálculo utilizando a data da última menstruação (DUM) muitas vezes não é possível, por falta dessa informação. O profissional pode estimar a idade gestacional utilizando-se da avaliação de sinais físicos e neurológicos. O método de Capurro³ é prático e baseia-se na observação de cinco características físicas e duas neurológicas para estimar a idade gestacional do RN. É bastante adequado para bebês com 29 semanas de gestação ou mais. Na determinação da idade gestacional para classificar o risco ao nascer, caso a DUM não seja conhecida, utiliza-se o método de Capurro somático, avaliando-se somente as cinco características físicas do método (Quadro 34). Quadro 34 - Avaliação da idade gestacional pelo método de Capurro Forma da orelha Tamanho da glândula mamária Formação da aréola mamária Textura da pele Pregas plantares Chata, disforme. Pavilhão não encurvado Pavilhão parcialmente encurvado na borda superior Pavilhão encurvado em toda a borda superior Pavilhão totalmente encurvado 0 Não palpável 8 Palpável: menor que 5 mm 16 Palpável: entre 5 e 10 mm 24 Palpável: maior que 10 mm 0 Apenas visível 5 Diâmetro menor que 7,5 mm. Aréola lisa e chata 0 Muito fina e gelatinosa 5 Fina e lisa 0 Sem pregas 5 Marcas mal definidas na metade CÁLCULO = Somar os pontos das 5 características e acrescentar a constante 204. Dividir o resultado por 7 = Idade gestacional em semanas 10 15 Diâmetro Diâmetro maior que 7,5 maior que 7,5 mm. Aréola mm. Aréola ponte aguda ponte aguda e borda não e borda elevada elevada 10 15 Algo mais Grossa, Grossa, grossa. marcas enrugada, com Discreta superficiais, marcas profundas descamação descamação superficial nas mãos e pés 10 Marcas bem definidas na metade 15 Sulcos na metade anterior 20 Sulcos em mais da 1/2 anterior 220 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 0 anterior anterior. Sulcos no 1/3 anterior 5 10 15 20 Forma da orelha: observar a curvatura do pavilhão da orelha. Tamanho da glândula mamária: utilizar fita métrica, palpar e medir o tecido mamário. Formação da aréola: com uma fita métrica medir o diâmetro da aréola mamária. Textura da pele: examinar a pele e verificar a presença de descamação. Pregas plantares: observar pregas e sulcos nas plantas dos pés. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. 1.3 Reconhecimento de doença grave ou infecção localizada É importante saber reconhecer as crianças que estão desenvolvendo doença grave ou infecção localizada. Os sinais clínicos podem variar desde o mais sutil, como “o bebê não vai bem” ou “não quer sugar o seio” até sinais evidentes como convulsões ou insuficiência respiratória. Em estudo multicêntrico, publicado em 2008, foram avaliadas 3.177 crianças de 0 a 6 dias e 5.712 crianças de 7 a 59 dias, sendo encontrados os seguintes sinais clínicos como preditores de doença grave nessa faixa etária: Dificuldade de alimentação. Convulsões. Movimentação só com estímulo. Frequência respiratória > 60 irpm. Tiragem intercostal acentuada. Temperatura retal maior ou igual a 37,5º C ou menor que 35,5º C. Enchimento capilar lento. Alguns sinais clínicos que podem ser observados no exame físico e que são mais específicos no RN são descritos a seguir. 1.3.1 Convulsão14 14 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. 221 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Os RN muitas vezes não apresentam convulsões típicas como as crianças maiores, podendo manifestar apenas tremores muito finos de um braço ou de uma perna, piscar persistente de olhos ou movimentos repetidos de sucção. A convulsão pode passar despercebida se não houver perspicácia na busca e observação desses sinais. 1.3.2 Apneia O RN tem padrão respiratório irregular e apresenta, com frequência, pequenas pausas respiratórias. Considera-se apneia quando há pausa respiratória de 20 segundos ou mais, ou inferior a 20 segundos, quando acompanhada de repercussão sistêmica (frequência cardíaca menor que 100bpm e/ou cianose central, ou seja, de lábios, mucosa oral, língua, tórax ou cianose generalizada). 1.3.3 Icterícia A icterícia é clinicamente visível quando os níveis séricos de bilirrubina estão acima de 4-5 mg/dL. Sua gravidade está relacionada ao momento do aparecimento e a sua intensidade. A icterícia que aparece antes de 24 horas de vida (precoce) deve ser considerada patológica e necessita de avaliação rigorosa. Se aparecer após 24 horas de vida (tardia) e a área acometida restringir-se à face e tórax, pode tratar-se de icterícia fisiológica, sendo necessária reavaliação periódica para observar se a área ictérica se estendeu além do umbigo ou para as extremidades. A Figura 43 mostra a classificação do grau de icterícia, baseada na inspeção do RN. Auxilia na estimativa empírica dos níveis de bilirrubina no sangue e pode ser útil principalmente nos locais onde não há disponibilidade de dosagens laboratoriais. 222 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Figura 43 – Zonas de icterícia de Kramer 1.3.4 Candidíase oral A presença de placas esbranquiçadas na mucosa oral do RN é geralmente devida a infecção por Candida albicans, e é conhecida como candidíase oral ou monilíase oral. 1.4 Doença grave versus infecção localizada Para determinar se existe possibilidade de doença grave ou infecção localizada em crianças menores que 2 meses, deve-se utilizar as informações contidas no Quadro 35. O risco deve ser identificado e, a seguir, classificado e estabelecidas às condutas de acordo com o Quadro 36. Quadro 35 - Investigação de doença grave ou infecção localizada Perguntar • Pode sugar o seio ou tomar leite? • Tem vômitos? • Tem dificuldade para respirar? • Tem febre ou hipotermia? • Tem convulsões? Observar se existem • Letargia, inconsciência, flacidez, ou se o bebê “não vai bem”. • Vômitos. • Tiragem subcostal acentuada. • Apneia. • Batimentos de asas nasais. 223 • Gemido, estridor ou sibilância. • Cianose, palidez ou icterícia. • Pústulas ou vesículas na pele. Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança • Equimoses, petéquias ou hemorragia. • Secreção purulenta no umbigo, olhos ou ouvidos. • Distensão abdominal. • Movimentos anormais. • Presença de placas esbranquiçadas na boca. • Outros problemas (ex: anomalias congênitas). Determinar • Peso. • Frequência respiratória. • Temperatura axilar. • Enchimento capilar. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coes Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. Quadro 36 - Determinação de presença de doença grave ou infecção localizada Avaliar os sinais Se houver ao menos um dos seguintes sinais: • Bebê “não vai bem”. • Recusa alimentar. • Vômitos repetidos. • Temperatura axilar < 36° ou > 37,5° C. • Convulsões. • Letargia/inconsciência ou flacidez. •Tiragem subcostal acentuada. • Apneia. • Batimentos de asas nasais •Gemido, estridor ou sibilância. • Cianose central. • Palidez intensa. • Icterícia até região abaixo do umbigo ou de aparecimento antes de 24 horas de vida. • Manifestações de sangramento: equimoses, petéquias e/ou hemorragias. • Secreção purulenta no umbigo (com eritema que se estende para a pele) ou secreção purulenta no Classificar como Medidas a serem tomadas DOENÇA GRAVE • Encaminhar urgentemente ao hospital segundo as normas de estabilização e transporte. (Atenção à saúde do RN, Guia para profissionais de saúde-volume 1. Apêndice A desta obra). • Administrar a primeira dose dos antibióticos recomendados (Atenção à saúde do RN, Guia para profissionais de saúde-volume 1. Apêndice A desta obra), exceto em anomalias congênitas sem exposição de vísceras e no RN com peso < 2.000 g. • Administrar oxigênio se houver cianose central. • Prevenir hipoglicemia (Atenção à saúde do RN, Guia para profissionais de saúde-volume 1. Apêndice A desta obra). • Dar acetaminofen para febre > 38° C Atenção à saúde do RN, Guia para profissionais de saúdevolume 1. Apêndice B desta obra). • Prevenir hipotermia (Atenção à saúde do RN, Guia para profissionais de saúde-volume 1. Apêndice A desta obra). • Recomendar à mãe que continue 224 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança ouvido. • Distensão abdominal. • Peso < 2.000 g. • Frequência respiratória > 60 ou < 30 irpm. • Pústulas ou vesículas na pele (muitas ou extensas). • Enchimento capilar lento (> 2 segundos). •Anomalias congênitas maiores. Se houver ao menos um dos seguintes sinais: •Secreção purulenta conjuntival. •Umbigo eritematoso com secreção purulenta sem estender-se para a pele. • Pústulas na pele (poucas ou localizadas). • Placas brancas na boca. Se não houver nenhum dos sinais anteriores. a amamentação, possível. sempre que • Prescrever antibiótico ou nistatina, quando indicados. • Tratar os mamilos e aréola da mãe em caso de monilíase (Atenção à saúde do RN, Guia para profissionais de saúde-volume 1. Apêndice B desta obra). • Aplicar tratamento local (antibiótico tópico). • Orientar a mãe a tratar as INFECÇÃO infecções locais em casa (Atenção LOCALIZADA à saúde do RN, Guia para profissionais de saúde-volume 1. Apêndice B desta obra). • Orientar a mãe quanto a medidas preventivas e sinais de perigo que requerem retorno imediato (Quadro 31). • Aconselhar a mãe a prosseguir com o aleitamento materno exclusivo, sempre que possível. • Reavaliar a criança em 2 dias • Aconselhar a mãe a prosseguir com o aleitamento materno exclusivo, sempre que possível. SEM DOENÇA • Nenhum tratamento adicional. GRAVE • Orientar a mãe quanto a medidas OU preventivas e sinais de perigo que INFECÇÃO requerem retorno imediato LOCALIZADA (Quadro 31). • Orientar a mãe quanto ao retorno para nova consulta. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coes Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. Caso haja suspeita de que uma criança com menos de 2 meses de idade possa ter doença grave ou infecção localizada, a recomendação do programa 225 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança AIDPI é (1) não perder tempo fazendo exames ou outros procedimentos; (2) iniciar o tratamento com antibiótico parenteral e medicação de urgência, quando indicado; e (3) transferir o RN para um centro especializado. 2 Diarreia em menores de 2 meses Para que se faça adequado diagnóstico de diarreia nos dois primeiros meses de vida, é importante lembrar que bebês que recebem aleitamento materno exclusivo e que se encontram clinicamente bem podem apresentar de 6 a 8 evacuações líquidas ao dia. Essas fezes características são consideradas normais para a criança que recebe só leite materno. A mãe, em geral, reconhece quando há mudança no padrão habitual das evacuações da criança. Nas diarreias que causam desidratação, na maioria das vezes, há fezes líquidas. Em uma criança menor que dois meses a diarreia aguda pode provocar desidratação e levar à morte. Já a diarreia prolongada pode ocasionar problemas nutricionais que contribuem para a mortalidade. A diarreia com sangue, nesta faixa etária, pode ser consequência de doença hemorrágica do RN secundária à deficiência de vitamina K, de outros problemas de coagulação, como a coagulação intravascular disseminada, ou de enterocolite necrosante. Outras vezes, o sangue nas fezes pode ser secundário a fissuras anais ou alergia ao leite de vaca. A lavagem das mãos, o aleitamento materno exclusivo e o tratamento rápido e adequado são medidas importantes. Para orientar o diagnóstico e a conduta em caso de criança menor que 2 meses com diarreia, recomenda-se utilizar o Quadro 37. Quadro 37 - Investigação de diarreia Perguntar • A criança evacua quantas vezes ao dia? • Qual é a consistência das fezes? • Há quanto tempo? Observar se a criança apresenta sinais de desidratação • Letargia, inconsciência ou irritabilidade • Olhos fundos • Sinal da prega cutânea 226 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança • Há sangue nas fezes? Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. Com as informações obtidas, deve-se classificar e orientar o tratamento conforme o Quadro 38. Quadro 38 - Avaliação, classificação e tratamento da criança com diarreia Avaliar os sinais Classificar como Medidas a serem tomadas Se houver ao menos dois dos seguintes sinais: • Encaminhar urgentemente para um • Letargia ou hospital, com a mãe e/ou profissional inconsciência. de saúde oferecendo soro oral com • Inquietude ou frequência durante o caminho. DESIDRATAÇÃO Irritabilidade. • Dar líquidos para desidratação grave: • Olhos fundos. Plano C (Figura 36). • Sinal da prega • Aconselhar a mãe a continuar cutânea. oferecendo o peito, se possível. • Sucção débil ou ausente. • Dar líquidos para prevenir a desidratação em casa: Plano A (Quadro 39). • Orientar em que situações deverá voltar para reavaliação imediata. Se não há sinais • Orientar a mãe quanto a medidas suficientes para NÃO TEM preventivas e sinais de perigo que classificar como DESIDRATAÇÃO requerem retorno imediato. desidratação. • Orientar a mãe a reconhecer os sinais de perigo e as medidas preventivas (Quadro 31). • Se a diarreia continuar, retornar em dois dias. 227 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Se tem diarreia há 7 dias ou mais. Se tem sangue nas fezes. DIARREIA PROLONGADA DIARREIA COM SANGUE • Encaminhar urgentemente ao hospital, com a mãe e/ou profissional de saúde, oferecendo soro oral no caminho. • Aconselhar a mãe a continuar dando o peito, se possível. • Encaminhar urgentemente ao hospital, com a mãe e/ou profissional de saúde, oferecendo soro oral no caminho. • Aconselhar a mãe a continuar amamentando, se possível. • Administrar uma dose de 1mg de vitamina K por via intramuscular. • Administrar, via parenteral, a primeira dose. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. Após o quadro clínico diarreico ter sido classificado, pode-se optar basicamente por duas condutas terapêuticas: tratamento da diarreia em casa (Plano A - Quadro 39) ou tratar rapidamente a desidratação grave (Plano C - Figura 36). Observação: Não existe plano B para tratamento de diarreia no programa AIDPI neonatal. O plano B deve ser a aplicado apenas a crianças maiores. 2.1 Tratamento da diarreia em casa - Plano A A melhor maneira de administrar mais líquidos à criança menor que dois meses e continuar a alimentação é amamentar com maior frequência e por mais tempo em cada mamada. A solução de reidratação oral (SRO) e a água potável são líquidos adicionais que podem ser oferecidos. Se a SRO for administrada em casa para uma criança menor que dois meses, é importante mostrar à mãe a quantidade que deve ser oferecida após cada evacuação diarreica e lembrá-la de que deve interromper a administração de SRO quando a diarreia tiver cessado. 228 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Quadro 39 - Tratamento da diarreia no domicílio - Plano A Orientar a mãe sobre as regras do tratamento no domicílio: aumentar a ingestão de líquidos, continuar oferecendo o seio, observar sinais e sintomas que indiquem necessidade de retorno imediato e retornar para reavaliação na data agendada. 1. Aumentar a ingestão de líquidos (tanto quanto a criança queira tomar): • Amamentar a criança com frequência e durante mais tempo em cada mamada • Se a criança é exclusivamente amamentada, oferecer SRO e água pura além do leite materno. • Se a criança não é exclusivamente amamentada, continuar oferecendo o peito, oferecer SRO e água pura e orientar a alimentação. ENSINAR A MÃE COMO PREPARAR E ADMINISTRAR O SRO. DISPONIBILIZAR À MÃE 2 PACOTES DE SRO PARA USAR EM CASA. Mostrar à mãe a quantidade de SRO que deve ser dada à criança além do leite materno: 50 a 100 ml depois de cada evacuação. Orientar a mãe a: • Oferecer a solução à criança com um copinho, em goles pequenos e freqüentes. • Se a criança vomitar, esperar 10 minutos. Continuar depois, porém mais lentamente. • Seguir oferecendo mais líquidos que o usual até que cesse a diarreia. 2. Continuar alimentando a criança. 3. Retornar. • Imediatamente, se a criança apresentar sinais de perigo (Quadro 38). • Em 2 dias para reavaliação. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coes Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. 2.2 Tratamento imediato da desitratação - Plano C O tratamento de reidratação mediante líquidos por via intravenosa ou por meio de sonda orogástrica (SOG) é recomendado somente para crianças com desidratação. O tratamento dessas crianças depende: Do tipo de equipamento que está disponível em seu serviço de saúde. Da capacitação do pessoal de saúde. Da capacidade da criança de ingerir líquidos. 229 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Pode dar o líquido intravenoso (IV) de imediato? SIM NÃO Reavaliar a criança a cada 1- 2 horas. Se não melhorar o estado de hidratação, repetir a primeira etapa. Dê também o SRO (5 mg/Kg/hora) tão logo a criança possa beber. Existe tratamento IV em local próximo, distante até 30 minutos do local da origem? Reavalie a criança após 6 horas. Classifique a desidratação e escolha o plano adequado (A ou C) para continuar o tratamento. Envie o paciente URGENTEMENTE ao hospital para tratamento intravenoso. Se a criança aceitar o soro oral, dê a mãe SRO e mostre-lhe como oferecer à criança goles freqüentes durante a viagem. SIM NÃO Tem pessoal capacitado para usar uma sonda orográstica (SOG) para hidratação? SIM NÃO A criança beber? pode NÃO Comece a solução intravenosa de imediato. Se a criança pode beber, administre SRO enquanto se instala o soro venoso. Dê 100 ml/Kg de ringer lactato ou soro fisiológico: - Primeiro: 30 ml/Kg em 1 hora. - Depois: 70 ml/Kg em 5 horas. SIM Comece a reidratação por sonda (ou via oral) com SRO. Dar 20 ml/Kg/hora durante 6 horas (total 120 ml/Kg). Reavaliar a criança a cada 1- 2 horas. Se os vômitos se repetem ou há maior distensão abdominal, administre a solução mais lentamente. Se o Estado de hidratação não melhorar depois de 2 horas, envie a criança para que receba terapia intravenosa. Envie a criança URGENTEMENTE ao hospital para tratamento IV ou SOG. NOTA: Toda criança menor que dois meses, com desidratação, deve ser referida para um hospital ou ficar em observação por, no mínimo 6 horas após a reidratação, para se ter a segurança de que mãe/cuidador possa manter a hidratação da criança em casa, oferecendo-lhe SRO. 230 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Figura 44 - Esquema de tratamento desidratação grave- Plano C Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. 3 Nutrição A identificação e o tratamento de crianças com baixo ganho ponderal ou peso em declínio, assim como com problemas na alimentação, contribuem para prevenir muitas doenças graves e morte. O Quadro 40 deve ser utilizado para avaliar o estado nutricional da criança menor que dois meses. A seguir deve-se utilizar quadro de classificação que orienta o tratamento (Quadro 41). Quadro 40 - Avaliação do estado nutricional da criança menor que dois meses Perguntar Observar e determinar A criança: • O peso para a idade usando as curvas de • Tem alguma dificuldade para se crescimento propostas pelo Ministério da Saúde alimentar? • A pega e a posição na amamentação • Deixou de comer? Desde quando? • Mama ao seio? Quantas vezes por dia? • Recebe outros alimentos? Quais e com que frequência? • Toma outro tipo de leite? Qual? Como é preparado esse leite? Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. Quadro 41 - Classificação do problema de nutrição ou de alimentação Avaliar os sinais Classificar como Medidas a serem tomadas • Encaminhar urgentemente ao hospital segundo as normas de Se: estabilização e transporte (Atenção à • Perda de peso saúde do RN,Guia para profissionais PROBLEMA GRAVE maior que 10% na de saúde-volume 1. Apêndice A. DE NUTRIÇÃO primeira semana de • Prevenir hipoglicemia (Atenção à vida. saúde do RN,Guia para profissionais de saúde-volume 3. Apêndice A • Prevenir hipotermia (Atenção à 231 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Presença de, ao menos, um dos seguintes sinais: • Tendência de crescimento. horizontal ou em declínio ou baixo ganho ponderal • Peso/idade abaixo de -2 escores Z (ou P3). • Pega o peito com dificuldade. • Não mama bem. • Alimenta-se ao peito menos de 8 vezes ao dia. • Recebe outros alimentos ou líquidos. • Recebe outro leite. PROBLEMA DE NUTRIÇÃO OU DE ALIMENTAÇÃO Se: • Peso/idade normal e sem problemas de alimentação. • Tendência ascendente da curva de crescimento. NÃO HÁ PROBLEMA DE NUTRIÇÃO OU DE ALIMENTAÇÃO saúde do RN,Guia para profissionais de saúde-volume 4. Apêndice A • Se peso/idade na curva de peso está abaixo de -2 escores Z (ou P3), com tendência horizontal, em declínio ou com baixo ganho ponderal, encaminhar para consulta especializada. • Aconselhar a mãe que dê o peito sempre que a criança quiser e pelo tempo que quiser, de dia e de noite, ao menos 8 vezes ao dia. • Se a criança tem pega incorreta ou não mama bem, orientar a mãe quanto à pega e posição corretas. • Se recebe outros alimentos ou líquidos, aconselhar a mãe a dar o peito com maior frequência e reduzir a oferta dos outros alimentos e líquidos até eliminá-los completamente Orientar a não usar mamadeira. • Se a criança não se alimenta ao peito, encaminhar para orientação sobre aleitamento materno e possível relactação. • Iniciar suplemento vitamínico quando recomendado. • Caso necessário, orientar a mãe sobre o preparo correto dos outros leites e a usar o copinho. • Reavaliar a criança em 2 dias. • Pesar novamente a criança em 7 dias • Se a mãe apresentar algum problema nas mamas, indicar e orientar o tratamento. • Orientar a mãe quanto a medidas preventivas e sinais de perigo que requerem retorno imediato (Quadro 31). • Elogiar a mãe por estar alimentando bem seu filho. • Fazer uma visita de seguimento segundo normas estabelecidas para vigilância do crescimento e do desenvolvimento. • Orientar a mãe quanto a medidas preventivas e sinais de perigo que requerem retorno imediato (Quadro 31). 232 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. 3.1 Causas de perda de peso A criança normalmente perde até 10% de seu peso de nascimento nos primeiros dias de vida, mas deve, até o 10º dia, ter recuperado esse peso. Isso ocorre devido à eliminação de líquidos e diminuição de edema. Influem muito na perda de peso a idade gestacional, o peso ao nascer, o tipo e modo de alimentação da criança e outros fatores associados à morbidade nos primeiros dias de vida. Uma perda maior que 10% do peso de nascimento após o 10º dia de vida deve ser considerada como problema grave de nutrição ou desidratação e a criança deve ser referida urgentemente a um hospital. É necessário avaliar a alimentação de todas as crianças menores de 2 meses de idade, e em especial daquelas: Que não estejam recebendo aleitamento materno exclusivo. Que estejam recebendo outros alimentos. Que tenham peso baixo para sua idade. Apêndice A Encaminhamento urgente O quadro TRATAR resume os passos prévios ao encaminhamento urgente, que devem ser realizados na unidade básica de saúde, incluindo administração parenteral intramuscular de medicamentos, medidas para impedir a hipoglicemia e frequência e dosagem dos medicamentos que a criança necessite, caso não possa ser levada ao hospital. 1 Antibióticos para doença grave A combinação de penicilina (G procaína ou G cristalina) ou ampicilina com aminoglicosídeo (gentamicina ou amicacina) está indicada como terapia inicial para infecções neonatais suspeitas ou comprovadas. A via 233 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança intramuscular pode ser usada em locais onde não existe pessoal capacitado para obtenção de acesso venoso nessa faixa etária. (Quadro 42). Uma criança menor que dois meses de idade classificada como tendo doença grave deve ser encaminhada após receber a primeira dose de antibióticos. Caso não seja possível encaminhá-la, continuar administrando o antibiótico seguindo o esquema apresentado no Quadro 42, preferencialmente pela via endovenosa. No RN, a medicação intramuscular deve ser aplicada no músculo vasto lateral da coxa. Quadro 42 - Antibióticos, doses, vias de administração, apresentações, frequência e doses para crianças de 2 a 5 kg Penicilina G Cristalina Dose: 100.000 UI/kg/dia EV ou IM Para um frasco de 5.000.000 UI adicionar 8 ml de água destilada = 10 ml, logo 1 ml = 500.000 UI Dose (ml) Frequência Peso (kg) a b c 2,0 0,2 0,13 0,1 2,5 0,25 0,16 0,12 3,0 0,3 0,2 0,15 a. < 1 semana a cada 12 horas. b. 1 - 3 semanas a cada 8 horas. 3,5 0,35 0,23 0,17 c. > 3 semanas a cada 6 horas. 4,0 0,4 0,26 0,2 4,5 0,45 0,3 0,22 5,0 0,5 0,33 0,25 Ou Ampicilina Dose: 100mg/kg/dia EV ou IM Para um frasco de 500 mg, adicionar Para um frasco de 1g, adicionar 5 ml de água destilada = 5 ml, logo 10 ml de água destilada = 10 ml, logo 1 ml = 100 mg 1 ml = 100 mg Dose (ml) Frequência Peso (kg) a b c 2,0 1,0 0,7 0,5 2,5 1,25 0,85 0,6 3,0 1,5 1,0 0,75 a. < 1 semana a cada 12 horas. b. 1 - 3 semanas a cada 8 horas. 3,5 1,75 1,2 0,9 c. > 3 semanas a cada 6 horas. 4,0 2,0 1,4 1,0 4,5 2,25 1,5 1,1 5,0 2,5 1,6 1,25 Penicilina G Cristalina Dose: 50.000 UI/kg/dia IM Para um frasco de 400.000 UI adicionar 1,6 ml de água destilada = ml, logo 234 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 1 ml = 200.000 UI Dose (ml) Frequência 0,5 0,6 0,7 A cada 24 horas 0,9 1,0 1,1 1,2 Associado a Gentamicina Dose: 4 mg/kg/dia IM Para uma ampola 80 mg (2 ml), Para uma ampola 40 mg (1 ml), adicionar adicionar 2 ml de água destilada = ml, logo 1 ml de água destilada = 2 ml, logo 1 ml = 20 mg 1 ml = 20 mg Dose (ml) Frequência Peso (kg) 2,0 0,4 2,5 0,5 3,0 0,6 < 37 semanas a cada 36 horas. > 37 semanas a cada 24 horas. 3,5 0,7 4,0 0,8 4,5 0,9 5,0 1,0 Ou Amicacina Dose: 15 mg/kg/dia IM Para uma ampola 100 mg (2 ml), Para uma ampola 500 mg (2 ml), 1 ml = 50 mg 1 ml = 250 mg Dose (ml) Frequência Peso (kg) 50 mg/ml 250 mg/ml 2,0 0,6 0,12 2,5 0,7 0,15 3,0 0,9 0,18 < 37 semanas a cada 36 horas. > 37 semanas a cada 24 horas. 3,5 1,0 0,21 4,0 1,2 0,24 4,5 1,35 0,27 5,0 1,5 0,3 Peso (kg) 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. 2 Prevenção de hipoglicemia A hipoglicemia pode produzir dano cerebral irreversível. Para sua prevenção recomenda-se: Se a criança não consegue sugar o peito vigorosamente: Orientar a mãe dar o peito com uma frequência maior. 235 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Se a criança não consegue sugar o peito mas pode deglutir: Dar leite materno ordenhado ou outro leite. Se não for possível, dar à criança de 30 a 50ml de água com açúcar antes de ser transferida. Para preparar a água com açúcar, dissolver 4 colheres de chá de açúcar (20g) em um copo com 200ml de água. Se a criança não consegue deglutir: Dar 50ml de leite ou água com açúcar por sonda orogástrica. Se for possível, administrar solução endovenosa com soro glicosado a 10% (80-100ml/kg/dia). Observação: Quando não tiver disponível soro glicosado a 10%, este pode ser preparado misturando-se 89 ml de soro glicosado a 5% com 11 ml de glicose a 50% = 100 ml de soro glicosado a 10%. 3 Prevenção da hipotermia Vestir conforme o clima. O RN deve ser transportado em incubadora de transporte. Caso não seja possível, colocar em contato pele a pele com a mãe ou aquecer com ataduras, touca e meias. O RN prematuro pode ser transportado dentro de um saco plástico, dentro da incubadora para prevenir maior perda de calor e hipotermia. 4 Encaminhamento ao hospital O encaminhamento ao hospital deve ser sempre realizado em veículo apropriado, com pessoal de saúde qualificado, segundo as normas de transporte. Caso não seja possível, é importante seguir as seguintes orientações: A transferência somente deverá ser feita se a criança for receber melhor atenção em outro estabelecimento. Em alguns casos, dar à criança a melhor atenção que está à disposição no local é melhor que submetê-la a uma viagem 236 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança longa a um hospital que talvez não possua os medicamentos necessários ou pessoal com experiência para assisti-la. Passos necessários para enviar uma criança ao hospital: • Explique para a mãe a necessidade de transferir a criança ao hospital e obtenha seu consentimento. Se você suspeita que ela não quer levá-lo, identifique suas razões, ajude-a a acalmar seus temores e resolva outras dificuldades que possa ter. • Faça um laudo de encaminhamento para que a mãe o apresente no hospital, em que constem: O nome e a idade da criança. A data e a hora do encaminhamento. A descrição dos problemas da criança. O motivo para a transferência da criança ao hospital (sintomas e sinais de classificação grave). O tratamento que você já administrou. Qualquer outra informação que o hospital necessite para o cuidado da criança, como as vacinas que sejam necessárias. Seu nome e de seu serviço. • Encaminhe a criança acompanhada de profissional de saúde orientado para atendê-la com observação criteriosa dos itens abaixo: a) Manter o ambiente térmico neutro, para prevenir a hipotermia Explique à mãe e ao profissional de saúde do transporte como manter a criança aquecida durante a viagem. Podem ser utilizados o contato pele a pele, campos aquecidos, fonte de aquecimento, incubadora ou outro método seguro (ataduras, touca e meias). O RN prematuro pode ser transportado dentro de um saco plástico, dentro da incubadora, para prevenir maior perda de calor e hipotermia. b) Previna a hipoglicemia 237 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Oriente a mãe a continuar amamentando, caso a condição da criança permita. Podem ser usados leite materno ou água açucarada, solução intravenosa com soro glicosado a 10% (80-100 ml/kg/dia, em equipo de µgotas; correr 3 a 4 µgotas/kg por minuto). Se a criança tem desidratação leve ou grave e pode ingerir líquidos, entregue SRO ao profissional de saúde que acompanhará o transporte, para que a criança beba ou para que seja administrada pela sonda orogástrica com frequência no trajeto ao hospital. c) Mantenha a oxigenação adequada (segundo disponibilidade e necessidade) por meio de: Hood, cânula nasal ou máscara, ventilação com balão e máscara ou ventilação mecânica. d) Administre a primeira dose dos medicamentos indicados nos quadros: Antibiótico parenteral, sais de reidratação oral (SRO) ou vitamina K. e) Outros cuidados importantes: Se a criança tem distensão abdominal, colocar uma sonda orogástrica e deixá-la aberta, em drenagem espontânea. Toda criança com dificuldade respiratória deve ser transportada com sonda orogástrica aberta. Se a criança tem alguma doença como exposição de vísceras ou mielomeningocele, envolvê-las com filme plástico transparente de PVC. Se a criança tem uma fratura ou trauma, imobilizar a extremidade afetada. Apêndice B Medicamentos de administração oral 238 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança O êxito do tratamento em casa depende da maneira com que você se comunica com a mãe ou com a pessoa responsável pela criança. Ela necessita saber como administrar o tratamento, assim como compreender a importância do mesmo. 1 Febre e dor Dar paracetamol (acetaminofen) se houver febre (>38º C) ou dor de ouvido (Quadro 43). Quadro 43 - Dose de acetaminofen (paracetamol), apresentação, frequência e dose para crianças de 2 a 7 kg Peso (Kg) 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 100 mg/ml 4 6 8 12 14 16 Acetaminofen Dose: 12mg/Kg/dose Dose (gotas) 200 mg/ml 300 mg/ml 2 1 3 2 4 3 6 4 7 5 8 6 Frequência A cada 8 horas A cada 6 horas Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. 2 Infecção localizada As infecções localizadas são aquelas que se iniciam na pele e/ou mucosas e que não oferecem risco à vida da criança, a menos que se disseminem. Há 4 tipos de infecções localizadas que a mãe ou a pessoa responsável pela criança pode tratar em casa: Onfalite: umbigo avermelhado ou com presença de pus (quando não se acompanha de outros sinais de perigo). Pústulas de pele (quando poucas e localizadas). Conjuntivite. Candidíase oral. 239 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Essas infecções são tratadas com antibiótico oral ou tópico ou nistatina (Quadro 44) Quadro 44 - Antibióticos de uso oral e antifúngico tópico, dose, apresentação, e frequência e dose para crianças de 2 a 5Kg Cefalexina Dose: 50 mg/Kg/dia. Apresentação: 250 mg/5 ml (1 ml = 50 mg) Peso (Kg) 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 Dose (ml) 0,5 0,6 0,7 0,9 1,0 1,1 1,2 Frequência A cada 6 horas Nistatina Dose: 100.000 UI/ml de 6/6 horas Apresentação: 100.000 ml/5 ml (1 ml = 100.000 UI) Peso Dose Frequência (Kg) (ml) 2,0 0,5 2,5 0,6 3,0 0,7 A cada 6 horas 3,5 0,9 4,0 1,0 4,5 1,1 5,0 1,2 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coes Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do RN: Guia para profissionais de saúde. Volume 1, 2011. a) Orientar a mãe como tratar as infecções localizadas: Explicar como se administra o tratamento. Observá-la enquanto administra a medicação pela primeira vez no serviço de saúde. Orientá-la para que administre a medicação 4 vezes ao dia. Orientá-la a voltar imediatamente com a criança ao serviço de saúde se a infecção piorar. b) Para tratar pústulas de pele ou infecção de umbigo a mãe deve: Lavar as mãos antes e após manipulação do bebê. 240 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Lavar suavemente com água e sabão para tirar o pus e as crostas. Secar o local. Aplicar o antibiótico tópico prescrito com cotonete, 3 vezes ao dia. Evitar o uso de pós, cremes, corantes e loções. c) Para tratar as infecções dos olhos a mãe deve: Lavar as mãos antes e após manipulação do bebê. Limpar os olhos da criança com um pano limpo, 3 vezes ao dia. Abaixar a pálpebra inferior da criança para aplicar o antibiótico tópico prescrito, 3 vezes ao dia, em ambos os olhos. Aplicar o antibiótico até que desapareça a secreção purulenta. d) Para tratar candidíase oral a mãe deve: Lavar as mãos antes e após manipulação do bebê. Limpar a boca da criança com um pano suave enrolado em um dedo e umedecido com água e sal ou bicarbonato de sódio. Agitar bem o frasco antes de aplicar a nistatina na boca da criança; não misturar com o leite. Aplicar 1 (um) conta-gotas de nistatina a cada 6 horas na boca da criança. Observar e aplicar, sempre, nistatina no mamilo e aréola de 6/6 horas. 241 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança CAPITULO VIII PREVENÇÃO DE ACIDENTES NA INFÂNCIA 1 Regras que norteiam a prevenção de acidentes na infância A prevenção de acidentes na infância é uma responsabilidade das mais importantes dos pais e responsáveis, tantos são os riscos e perigos com que convivemos diariamente. Os acidentes estão entre as cinco principais causas de morte e podem deixar importantes seqüelas físicas e psíquicas, comprometendo irremediavelmente o futuro e o desenvolvimento da criança. Ao contrário do que muitos pensam, os acidentes não são fatalidades nem obras do destino. Noventa por cento deles podem ser perfeitamente evitados. Existem três regras básicas que norteiam a prevenção de acidentes na infância, que o profissional de saúde pode orientar à família. Regra n° 1: Desenvolver senso de realidade. Não deixar que a família se entregue ao pensamento mágico de que o seu filho é imune a este tipo de problema. Oriente-os a ficar sempre atento a todos os possíveis riscos e evitá-los. Regra n° 2: Manter o ambiente seguro. Orientar a família a retirar do ambiente em que a criança vive todos os possíveis riscos. Guardar, em lugar inacessível, objetos pontiagudos e cortantes, produtos químicos de limpeza, remédios, objetos pequenos que possam ser ingeridos ou inalados, objetos que possam cair, sacos plásticos, cordões e fios capazes de sufocá-la, e tampe as tomadas acessíveis com os dispositivos apropriados. Regra n° 3: Vigilância constante e responsável. 242 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Ajude a família a antecipar os movimentos da criança. Mantenha-a sempre sob suas vistas. Não delegue responsabilidade a pessoas incapacitadas de efetiva vigilância, como crianças ou pessoas idosas. 2 Principais acidentes por faixas etárias, que ocorrem no dia-a-dia, e quais são as maneiras de evitá-los 2.1 De 0 a 6 meses Quadro 45 - Principais acidentes e maneiras de evitar Acidentes Afogamento Intoxicação Queimadura Como ocorre Ocorre durante o banho Ingestão de medicamentos, antissépticos e inseticidas domésticos Temperatura quente da água durante o banho - fósforo e cigarro Sufocação e Engasgo Criança deitada no berço e durante a amamentação. - aspiração de talcos ou pós- cosméticos Trauma Queda do colo, do leito e do carrinho Ingestão e aspiração de Brinquedos pequenos, que se soltam com Cuidados -Nunca deixe a criança sozinha na banheira. -Manter medicamentos e inseticidas domésticos longe do alcance das crianças. Não reaproveitar embalagens que confundam o seu conteúdo. -Testar a temperatura com o cotovelo. -Fumar longe de crianças. Manter cinzeiros e fósforos fora do alcance das mesmas. -Após as mamadas, colocar o bebê para arrotar, amamentar sempre no colo. -No berço mantê-lo em decúbito dorsal. -Observar o tamanho do furo do bico da mamadeira. -Evitar uso de chupetas, na insistência da família, orientar quanto ao tamanho para não ter perigo de engasgar. -Transportar em bebê conforto ou conversível, no banco de trás dos carros; - Redobrar atenção no manuseio do bebê. -Evitar brincadeiras de jogar ou sacudir o bebê. - colocar grades protetoras ou outro tipo de proteção. -Brinquedos grandes para não ser engolidos, fortes, difíceis de quebrar, 243 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança corpos estranhos facilidade não devem ter pontas duras e nem cortantes; serem laváveis e não tóxicos Fonte:LONDRINA.Prefeitura do Município. Saúde da Criança: protocolo/.Prefeitura do Município. Autarquia Municipal de Saúde-1.ed.- Londrina,PR,(S.M),2006. 2.2 De 6 meses a 1 ano Quadro 46 - Principais acidentes e maneiras de evitar Acidentes Afogamento Intoxicação Queimadura Como ocorre Ocorre durante o banho Substancias tóxicas ao alcance da criança ao engatinhar Líquidos muitos quentes ou produtos químicos ao alcance da criança Sufocação e Engasgo Alimentação deitada ou devido a brinquedos inadequados. Trauma Queda do colo, do leito e do carrinho Ingestão e aspiração de corpos estranhos Choque Quedas Hábito da criança levar tudo na boca, podendo engolir ou aspirar objetos pequenos Tomadas sem proteção e fios desprotegidos Durante o engatinhar, tentar ficar de pé, Cuidados -Nunca deixe a criança sozinha durante o banho. -Manter medicamentos e produtos de uso doméstico em lugares altos, fora do alcance da criança -Manter produtos de uso domésticos (sodacáustica,solventes...) protegidos em lugares altos e fechados -Após as mamadas colocar o bebê para arrotar, amamentar sempre no colo. -No berço mantê-lo em decúbito dorsal. - Evitar uso de chupetas, na insistência da família, orientar quanto ao tamanho para não ter perigo de engasgar. -Não deixar a criança sozinha com a mamadeira introduzida na boca; pode ocorrer engasgo e aspiração, podendo provocar pneumonia por aspiração. -Colocar grades protetoras no berço ou cama ,ou outro tipo de proteção. -Redobrar atenção no manuseio do bebê. -Evitar brincadeiras de jogar ou sacudir o bebê. -Transportar em bebê conforto ou conversível, no banco traseiro do carro. -Brinquedos grandes para não ser engolidos, fortes, difíceis de quebrar, não devem ter pontas duras e nem cortantes; laváveis e não tóxicos. -Colocar protetor de segurança em tomadas, não deixar fios soltos no chão ou ligados em aparelhos elétricos. Evite móveis que possam cair sobre a criança. 244 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança rolando no leito sem -manter objetos fora do alcance de proteção crianças. -Colocar grades e porteiras em escadas mantendo-as sempre trancadas. Fonte:LONDRINA.Prefeitura do Município. Saúde da Criança: protocolo/.Prefeitura do Município. Autarquia Municipal de Saúde-1.ed.- Londrina,PR,(S.M),2006. 2.3 De 1ano a 3 anos Quadro 47 - Principais acidentes e maneiras de evitar Acidentes Como ocorre Risco passa a ser em Afogamento piscinas, praias, rios,lagoas Ingestão de medicamentos,antisépticos e inseticidas Intoxicação domésticos que tiver ao alcance da criança e até plantas Fogo, choque e ácidos Queimadura ou substâncias corrosivas Insetos, aranhas e Picadas escorpiões dependendo venenosas do ambiente onde a criança vive Cadeiras, escadas, Quedas e janelas Colisões com colisões obstáculos variados. Tomadas descobertas, fios desencapados, Choque aparelhos elétricos em geral Ingestão ou aspirações Ingesta e de corpos estranhos e aspirações de introdução de objetos corpos estranhos pequenos em nariz e ouvido.s Cuidados -Vigiar sempre a criança quando estiver na água, seja em piscina, praia, rio ou lagoa. -Manter todos os produtos químicos bem fechados e fora do alcance das crianças. Plantas venenosas devem ser retiradas do alcance das crianças -Manter produtos de uso domésticos ( soda cáustica, solventes...) protegidos em lugares altos e fechados. -Vigilância do ambiente, dedetização segura. -Colocar grades de proteção em todas as janelas, dificultar acesso a escadas e portões. -Colocar protetor de segurança em tomadas, não deixar fios soltos no chão ou ligados em aparelhos elétricos -Brinquedos grandes para não ser engolidos, fortes difíceis de quebrar, não devem ter pontas duras e nem cortantes, laváveis e não tóxicas. Fonte:LONDRINA.Prefeitura do Município. Saúde da Criança: protocolo/.Prefeitura do Município. Autarquia Municipal de Saúde-1.ed.- Londrina,PR,(S.M),2006. 245 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 2.4 De 3 anos 7 anos Quadro 48 - Principais acidentes e maneiras de evitar Acidentes Afogamento Intoxicação Queimadura Picadas venenosas Quedas e colisões Choque Ferimentos Mordeduras Acidentes de trânsito Como ocorre Cuidados -Vigiar sempre a criança quando estiver Em piscinas, praias, na água, seja em piscina, praia, rio ou rios, lagoas lagoa. Ingestão de medicamentos, anti-Manter todos os produtos químicos bem sépticos e inseticidas fechados e fora do alcance das crianças. domésticos que tiver Plantas venenosas devem ser retiradas ao alcance da criança do alcance das crianças e até plantas venenosas. Fogo, choque e ácidos -Manter produtos de uso domésticos ou substâncias (soda cáustica, solventes...) protegidos corrosivas, além do em lugares altos e fechados e cuidados risco de fogos de com fogos de artifícios e fogueiras artifícios e fogueiras Insetos, aranhas e escorpiões e -Vigilância do ambiente, dedetização pendendo do ambiente segura. onde a criança vive Em casa, na rua, na -Orientar criança quanto aos cuidados escola, etc primários. Tomadas descobertas, -Colocar protetor de segurança em fios desencapados, tomadas, não deixar fios soltos no chão aparelhos elétricos em ou ligados em aparelhos elétricos geral Agressão, uso de -Manter objetos cortantes e armas fora objetos cortantes e do alcance das crianças em lugares armas fechados. Evitar que crianças brinquem com Cães em geral animais que ela não conheça e que podem ser agressivos. Transporte inadequado da criança Uso adequado do cinto de segurança, (carro, moto e capacete em motos e bicicletas com bicicleta). cadeiras e equipamentos de proteção. - Falta de orientações - orientações de segurança no trânsito. de trânsito Fonte:LONDRINA.Prefeitura do Município. Saúde da Criança: protocolo/.Prefeitura do Município. Autarquia Municipal de Saúde-1.ed.- Londrina,PR,(S.M),2006. 246 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 3 Transporte de criança no trânsito Segundo a Resolução 277/08 do Contran: As crianças com até um ano de idade deverão utilizar, obrigatoriamente, o dispositivo de retenção denominado “bebê conforto ou conversível”. Figura 45 – Bebê conforto Fonte: Resolução CONTRAN 277/2008. Disponível em :HTTP//www.denatran.gov.br As crianças com idade superior a um ano e inferior ou igual a quatro anos deverão utilizar, obrigatoriamente, o dispositivo de retenção denominado “cadeirinha”. Figura 46 – Cadeirinha 247 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Fonte:Resolução CONTRAN 277/2008. Disponível em :HTTP//www.denatran.gov.br As crianças com idade superior a quatro anos e inferior ou igual a sete anos e meio deverão utilizar o dispositivo de retenção denominado “assento de elevação”. Figura 47 – Assento de elevação Fonte:Resolução CONTRAN 277/2008. Disponível em :HTTP//www.denatran.gov.br As crianças com idade superior a sete anos e meio e inferior ou igual a dez anos deverão utilizar o cinto de segurança do veículo. Figura 48 - Cinto de segurança veicular Fonte:Resolução CONTRAN 277/2008. Disponível em :HTTP//WWW.denatran.gov.br 248 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança CAPITULO IX VIOLÊNCIA NA INFÂNCIA 1 Considerações A rede de serviços do SUS constitui-se num espaço privilegiado para a identificação, acolhimento, atendimento, notificação, cuidados e proteção de crianças e adolescentes em situação de violência, bem como para a orientação às famílias, independente de raça/etnia, sexo, diversidade cultural e religiosa, e orientação sexual, dando igual tratamento às pessoas com deficiências, dentre outras peculiaridades. Alguns grupos sociais são mais vulneráveis à ocorrência de violência. Este capítulo chama a atenção para as especificidades dessas pessoas, buscando alertar os profissionais para vulnerabilidades, riscos e possibilidades de prevenção, cuidados e proteção. Sabe-se que a violência pode gerar problemas sociais, emocionais, psicológicos e cognitivos capazes de impactar fortemente a saúde das pessoas ao longo de sua existência. Isso reforça a importância de orientar as ações e pactuar estratégias para a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violência de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências, da Política Nacional de Promoção da Saúde e da Política Nacional de Atenção Básica entre outras. Essas ações e diretrizes são articuladas com as políticas sociais e de direitos humanos e são pactuadas entre as instâncias colegiadas da gestão do SUS, nas três esferas de governo, por intermédio do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS) e do Conselho Nacional dos Secretários 249 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Municipais de Saúde (CONASEMS), e no âmbito estadual, municipal e do Distrito Federal nos conselhos locais. Em que pesem os avanços na atenção integral à saúde de crianças e adolescentes, ainda são grandes os desafios para lidar com questões complexas que envolvem aspectos relativos à moral, à ética, à ideologia e à cultura, exigindo do profissional e dos gestores da saúde outras habilidades não adquiridas durante sua formação acadêmica. Considera-se a violência na infância um problema grave e prevalente na convivência com outras crianças, no relacionamento familiar e ao contato com estranhos. Crianças que sofrem maus tratos ou negligência, geralmente são tímidas, sem iniciativas, com medo e tem sua alta estima diminuída. 2 Classificação etária segundo Estatuto da Criança e do Adolescente e segundo Ministério da Saúde Classificação etária da infância e da adolescência para o ECA, a criança é a pessoa até 11 anos de idade e o adolescente entre 12 e 18 anos. O Ministério da Saúde considera criança a pessoa de 0 a 9 anos e o adolescente de 10 a 19 anos. A divisão em ciclos de vida, adotada pelo Ministério da Saúde, visa atender as especificidades nas fases de crescimento e desenvolvimento da criança e o início da puberdade. 3 Prevenir a violência na família e na comunidade Prevenir a violência contra a criança é possível e quanto mais cedo se inicia a prevenção maiores são as chances de proteger os membros da família deste problema. Desde o pré-natal, é possível criar Vínculos seguros que facilitam a formação da auto-estima, da resiliência e da visão positiva do mundo. Vínculos pouco amorosos ou inseguros conduzem a problemas emocionais posteriores. O vínculo seguro significa amor com sensibilidade, aconchego, sintonia, reparar 250 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança rupturas, negociar caminhos de vida atravessando adversidades e superando obstáculos. Outra forma de prevenir a violência é identificar as situações familiares que podem gerar maior vulnerabilidade às práticas violentas, pelas dificuldades e desgaste que ocasionam. Situações como perda de emprego, uso abusivo de álcool e outras drogas, separação conjugal, morte de um de seus membros requerem atenção redobrada à família no sentido de ajudá-la a lidar com tais adversidades e a minimizar a busca da violência como forma de enfrentá-las. A violência sexual também deve ser trabalhada preventivamente, junto aos familiares, crianças e adolescentes. É possível abordar, com linguagem apropriada às faixas etárias, a questão da sexualidade e dos toques corporais socialmente adequados e inadequados entre uma criança e alguém mais velho do que ela ou adulto. Há ainda a possibilidade de fazer prevenção evitando que as violências que já ocorreram voltem a acontecer, seja nas relações atuais ou se perpetuando pelas gerações futuras (violência intergeracional- diz respeito à reprodução e transmissão da violência através de gerações familiares). Inicia-se pela adoção de medidas preventivas à ação violenta, demonstrando com a necessária firmeza que crianças são sujeitos de direitos e, portanto, a sociedade não tolera que sejam alvos de violações. Nessa perspectiva, a ação dos profissionais ganha um papel crucial e para isso é indispensável proporcionar a educação permanente dos técnicos que atuam nos serviços. A identificação da violência fetal permite a intervenção e a prevenção precoces da violência. É aquela praticada pela gestante contra o feto (gestante drogadita, alcoolista e/ou negligente com o pré-natal, tentativa de aborto e outros), assim como quando a gestante sofre alguma forma de violência física por outra pessoa, através de pontapés, socos na barriga e outras formas de agressões, inclusive, a negligência” (CURITIBA, 2008, p. 33). 251 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 4 Promoção da saúde e prevenção de violências - atuação do profissional de saúde Propiciar troca de experiências entre pais que já passaram ou estão passando pela mesma fase da criação dos filhos; Criar espaços e grupos nos quais os pais e cuidadores possam compartilhar as experiências e tirar dúvidas. Ouvir os relatos de situações difíceis e as formas de enfrentá-las ajuda a perceber que suas dificuldades já foram vividas e superadas por outras famílias. Orientar as famílias sobre a ressignificação das relações familiares em prol da tolerância e da formação de vínculos protetores; Acompanhar e apoiar as famílias no processo de construção de novos modos de agir e de educar as crianças e adolescentes; Buscar apoio de outros profissionais, quando julgar pertinente, e articular as ações desenvolvidas no serviço com a rede de cuidados e de proteção social no território. A prevenção da violência também pode ser feita ao se buscar reduzir os efeitos deletérios e suas consequências. Espera-se do profissional habilidades para analisar cada caso e construir junto à família e à equipe de sua unidade um projeto terapêutico para a criança ou adolescente e para o autor da agressão. Finalmente, estratégias desenvolvidas no espaço do território também se mostram eficientes. Destacam-se as voltadas para a organização de redes e de mobilização da comunidade e pessoas (vizinhos, amigos outros familiares), tendo como principal meta seu fortalecimento; a utilização e mentores (orientadores) para as crianças e adolescentes em situação de risco; e a promoção de atividades de recreação. Outras ações de prevenção na comunidade implicam a atuação de outros atores da rede de atenção, cuidado, defesa e garantia dos direitos de crianças e adolescentes e, por serem de importância fundamental para minimizar a violência, o profissional de saúde deve buscar meios para acioná-las. Um exemplo de medida preventiva desse tipo é a redução da presença ou do acesso às drogas, ao álcool e às armas. 252 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 4.1 Vulnerabilidades às violências e proteção de crianças O conceito de vulnerabilidade enfatiza o contexto de vida social e histórico dos grupos sociais e está estreitamente relacionado ao esforço de superação por meio das práticas preventivas de saúde apoiadas no conceito e risco. Considera a chance de exposição das pessoas ao adoecimento e a outros agravos sociais como resultante de um conjunto de aspectos individuais, coletivos e programáticos (BRASIL, 2009b). Assim, o conceito de vulnerabilidade permite repensar as práticas de saúde, de maneira crítica e dinâmica, para contribuir na busca de mudanças políticas, culturais, cognitivas e tecnológicas, por meio do trabalho trans-disciplinar com diferentes setores da sociedade, que promovam impacto nos perfis epidemiológicos (SÁNCHEZ; BERTOLOZZI, 2007). Desde a gestação, a criança precisa de tempo, espaço e condições favoráveis para se desenvolver bem. As características do ambiente que convive são decisivas para favorecer ou dificultar o alcance de todo seu potencial de desenvolvimento. Igualmente, algumas circunstâncias da vida, as características do lugar onde vive, de sua família e da própria criança ou adolescente podem deixá-los mais vulneráveis, dando margem para que a violência ocorra; ou, ao contrário, podem torná-los mais protegidos, dificultando o acometimento da violência. Durante a gestação, o bebê é capaz de sentir-se amado e seguro, o que o torna mais fortalecido e protegido. O acompanhamento pré-natal e da saúde materno-infantil é o recurso que mais pode oferecer apoio, suporte e proteção para a criança e sua família. Nesse período, a desvinculação da mãe com o bebê que está sendo gestado ao lado do relacionamento hostil ou agressivo entre os pais e as atitudes agressivas ou indiferentes em relação ao bebê são os fatores que mais sinalizam para o profissional sobre o risco da ocorrência de violência atual e no futuro. Se essas condições permanecem após o nascimento da criança, é grande a sua vulnerabilidade à violência. Outras situações que sinalizam nesse mesmo sentido podem ser a dificuldade excessiva para a maternagem ou paternagem, a recusa em 253 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança amamentar, o desmame precoce sem motivos aparentes, o cansaço e a insegurança persistentes, as queixas exageradas às demandas da criança e a suposição injustificada de doenças. 4.2 Alguns sinais de risco ou vulnerabilidades durante a gravidez Gravidez decorrente de violência sexual. Não aceitação da gravidez. Não reconhecimento da paternidade. Falta dos preparativos habituais para o acolhimento do filho. Retardo no reconhecimento da gravidez e, em casos mais graves, do bebê. Dificuldades constantes ou desinteresse no acompanhamento do pré-natal. Não seguimento dos tratamentos ou recomendações médicas propostos. Referências negativas ao filho, visto como causador de dor, cansaço. O cuidado, a atenção e o carinho são aspectos protetores essenciais durante todo o período da infância e da adolescência. Além disso, a proteção da gestante também é importante, especialmente quando se trata de crianças e adolescentes grávidas, algumas vezes, em decorrência de violência sexual, situação na qual passam por momentos difíceis e com isso podem ter sentimentos negativos em relação ao bebê e à maternidade. O serviço de saúde precisa estar preparado para acolher e oferecer espaço para que elas possam expressar seus sentimentos e esclarecer suas dúvidas. Na infância, a aquisição da linguagem e a crescente percepção do mundo possibilitam à criança absorver com maior intensidade os estímulos que recebe. Nessa fase, aspectos relativos à família são os principais responsá-veis pela segurança e proteção da criança, evitando assim a exposição às situações de vulnerabilidades para a violência. 254 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Até o terceiro ano de vida, a criança tem pouca capacidade de entendimento do relacionamento ou cuidado que lhe é dispensado, não conseguindo se opor a atitudes violentas como formas de convivência. Como depende do mundo adulto para sobreviver, reage a ele pelo que lhe é ensinado, pelo que recebe e pelo que percebe. Mas, independente da idade, a criança e o adolescente costumam agir com os outros do mesmo modo que as pessoas agem com eles, reproduzindo a violência ou o afeto que recebem. Fatores protetores caracterizam-se por atributos pessoais, familiares ou sociais que minimizam ou neutralizam o impacto do risco. Quanto mais atuantes, maior é o seu efeito positivo na vida das crianças e dos adolescentes (ASSIS; AVANCI, 2009). O apoio às mães e às famílias se reflete em respostas positivas às solicitações da criança e em maior afetividade. O cuidado caloroso, afetuoso e respeitoso dado à criança é um privilegiado fator protetor no desenvolvimento de potencialidades fundamentais, como auto-estima, sentimento de confiança (em si e no mundo), autonomia, aprendizado dos limites e potencial de superação de problemas, os quais são também importantes fatores de proteção à situação de violência. Ser menino ou ser menina também pode significar risco ou proteção a determinadas formas de violência. Crianças do sexo masculino estão mais sujeitos a sofrerem violência física, ao passo que as do sexo feminino correm mais risco de sofrerem violência sexual (BRASIL, 2009a). O ambiente familiar é o que mais pode proteger ou expor crianças e adolescentes à violência. Em muitas famílias, a violência é uma forma de comunicação, com este padrão de convivência vindo inclusive de gera-ções anteriores. Este cenário é muito prejudicial ao desenvolvimento da criança e do adolescente. É papel do profissional orientar as famílias sobre outras formas de educar e se comunicar com seus filhos, e acompanhá-las com respeito e atenção. 255 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Contudo, há aspectos do contexto social e econômico que transcendem o comportamento individual ou familiar, atuando em toda uma comunidade ou grupo social e agindo sobremaneira na vida de crianças e adolescentes e de suas famílias. É fundamental o papel das redes sociais de apoio como frentes importantes para o trabalho e a interação com a família na perspectiva da proteção, defesa e garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. A ausência de políticas de geração de renda, habitação, saneamento básico, dentre outras, são fatores determinantes de uma maior exposição à violência. A presença ativa do Estado em prol da defesa e da proteção da população e o monitoramento no cumprimento de leis de proteção aos direitos da criança e do adolescente pelos órgãos responsáveis e pela sociedade civil são exemplos de ações protetoras geralmente presentes em comunidades unidas por forte “vínculo” social. 5 Conceito de violência O Ministério da Saúde adota o conceito de violência utilizado pela Orga-nização Mundial da Saúde, segundo o qual: Violência é o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (KRUG et al., 2002, p.5). Para a violência que acomete crianças e adolescentes, o Ministério da Saúde define: Quaisquer atos ou omissões dos pais, parentes, responsáveis, instituições e, em última instância, da sociedade em geral, que redundam em dano físico, emocional, sexual e moral às vítimas (BRASIL, 2001). 256 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Para realçar os aspectos e as relações entre os diferentes tipos e natureza da violência, será utilizado o modelo proposto pela Organização Mundial da Saúde (KRUG et al., 2002). Esta proposta classifica a violência em três grandes categorias, divididas em tipos de violência mais específicos, segundo a violência praticada contra si mesmo (auto provocada), por indivíduos ou grupos (interpessoal), e por organizações maiores (coletiva) praticada por estados, grupos armados, milícias e grupos terroristas. Esses tipos são relacionados à sua natureza física, sexual e psicológica, além da negligência/abandono, conforme o Quadro abaixo. Quadro 49 – Tipos de violência 257 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança A seguir, são apresentadas as violências segundo sua natureza: 5.1 Violência física Caracterizada como todo ato violento com uso da força física de forma intencional, não acidental, praticada por pais, responsáveis, familiares ou pessoas próximas da criança ou adolescente, que pode ferir, lesar, provocar dor e sofrimento ou destruir a pessoa, deixando ou não marcas evidentes no corpo, e 258 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança podendo provocar inclusive a morte (BRASIL, 2004). Pode ser praticada por meio de tapas, beliscões, chutes e arremessos de objetos, o que causa lesões, traumas, queimaduras e mutilações. Apesar de subnotificada, é a mais identificada pelos serviços de saúde.Exemplo: 5.1.1 Síndrome do bebê sacudido É causada por violenta movimentação da criança, segurada pelos braços ou tronco. Esta ação provoca o choque entre a calota craniana e o tecido encefálico deslocado, ocorrendo desde micro hemorragias, por rupturas de artérias e veias, até hemorragias maciças e rompimento de fibras do tecido nervoso. 5.1.2 Síndrome de Munchausen por procuração É caracterizada pela simulação ou criação, por um dos responsáveis ou cuidador (com grande frequência a mãe), de sinais ou sintomas que caracterizam doenças em seus filhos. É considerada uma forma de violência física por exigir dos profissionais da área da saúde a execução de uma série de exames e investigações extremamente penosos para a criança. Esses responsáveis chegam a falsificar o material colhido para exames, induzindo o médico a tratamentos desnecessários ou investigações cada vez mais complexas e agressivas. 5.2 Violência psicológica É toda ação que coloca em risco ou causa dano à auto-estima, à identidade ou ao desenvolvimento da criança ou do adolescente. Manifesta-se em forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança exagerada, punições humilhantes e utilização da criança ou do adolescente para atender às necessidades psíquicas de outrem (BRASIL, 2004). 5.3 Violência sexual É todo ato ou jogo sexual com intenção de estimular sexualmente a criança ou o adolescente, visando utilizá-lo para obter satisfação sexual, em que os autores da violência estão em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou adolescente. Abrange relações homo ou heterossexuais. 259 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Pode ocorrer em uma variedade de situações como: estupro, incesto, assédio sexual, exploração sexual, pornografia, pedofilia, manipulação de genitália, mamas e ânus, até o ato sexual com penetração, imposição de intimidades, exibicionismo, jogos sexuais e práticas eróticas não consentidas e impostas e “voyeurismo” (obtenção de prazer sexual por meio da observação) (BRASIL, 2004). É predominantemente doméstica, especialmente na infância. Os principais perpetradores são os companheiros das mães, e, em seguida, os pais biológicos, avôs, tios, padrinhos, bem como mães, avós, tias e outros que mantêm com a criança uma relação de dependência, afeto ou confiança, num contexto de relações incestuosas. 5.4 Negligência Caracteriza-se pelas omissões dos adultos (pais ou outros responsáveis pela criança ou adolescente, inclusive institucionais), ao deixarem de prover as necessidades básicas para o desenvolvimento físico, emocional e social de crianças e adolescentes (BRASIL, 2004). Inclui a privação de medicamentos; a falta de atendimento à saúde e à educação; o descuido com a higiene; a falta de estímulo, de proteção de condições climáticas (frio, calor), de condições para a frequência à escola e a falta de atenção necessária para o desenvolvimento físico, moral e espiritual (BRASIL, 2004). O abandono é a forma mais grave de negligência. A negligência não está vinculada às circunstâncias de pobreza, podendo ocorrer em casos em que recursos razoáveis estão disponíveis para a família ou o responsável. Cabe lembrar que uma criança ou um adolescente pode ser afetado por mais de um tipo ou natureza de violência, especialmente, em situações crônicas e graves, inclusive porque muitas dessas situações se relacionam. Por exemplo, a violência física ocorre quase sempre junto com a psicológica; e uma criança que sofre violência sexual e psicológica em casa pode também ser envolvida em situação de exploração sexual. 260 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 6 Alerta para os sinais e sintomas de violência contra crianças e adolescentes Os sinais da violência se traduzem em consequências que podem ser distintas segundo a etapa do desenvolvimento. Quanto mais precoce, intensa ou prolongada a situação de violência, maiores e mais permanentes serão os danos para a criança e o adolescente. Nesse sentido, a idade, o grau de desenvolvimento psicológico, o tipo de violência, a frequência, a duração, a natureza, a gravidade da agressão, o vínculo afetivo entre o autor da violência e a vítima, a representação do ato violento pela criança ou pelo adolescente, ou ainda as medidas em curso para a prevenção de agressões futuras, determinam o impacto da violência à saúde para esse grupo etário. Algumas crianças podem, em uma observação superficial ou imediata, demonstrar um estado de aparente calma logo após a violência, o que não significa que não houve sequelas. Especial atenção deve ser dada aos casos de bebês e crianças muito pequenas, abaixo de 3 anos, nos quais as consequências e a exteriorização do sofrimento dificilmente acontecem de imediato. É importante saber que, em qualquer idade, nem sempre os sintomas são bem definidos. O que ocorre é que eles irão se acumulando e se potencializando a medida que progride a violência e/ou a ausência de tratamento. É preciso lembrar que a infância é a fase de absorção de valores básicos, na forma de conceitos morais e éticos que determinarão a formação e a estruturação da personalidade. A violência contra a criança e o adolescente, quando não reconhecida nem tratada, deixa marcas e imprime valores distorcidos. Seus danos poderão influenciar as reações, os impulsos e as escolhas para o resto da vida, e se perpetuar pela reprodução da violência na relação com as gerações futuras. 6.1 Violência psicológica A violência psicológica na infância pode desencadear sintomas agudos de sofrimento e, progressivamente, vir a bloquear ou a impedir o curso 261 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança normal do desenvolvimento, num processo crônico que deixará sequelas em vários níveis de gravidade. Surgem como sinais de angústia e ansiedade que acabam por determinar problemas comportamentais, que fogem ao padrão habitual e motivam a procura dos serviços de saúde. Há que se considerar, no entanto, que as outras formas de violência, seja ela física, sexual ou negligência, habitualmente, também desencadeiam sofrimento, determinando sinais gerais comuns a todas elas. Os sinais deste sofrimento podem ser notados mesmo quando ainda não existe o controle da linguagem pela criança, que reage de acordo com as suas possibilidades de entendimento, absorção e elaboração da situação. Mais precisamente a partir dos 5 anos de idade, os sinais gerais de violência e, mais especificamente, da violência psicológica, vão depender se as agressões iniciaram nessa idade ou se representam uma continuidade de situações de violência sofridas anteriormente ou, ainda, se decorrem de sequelas de violências anteriores não tratadas. Nas duas últimas situações, os sintomas apresentados serão crescentes e cumulativos, levando ao maior prejuízo pela ação negativa que desvia, bloqueia ou impossibilita o desenvolvimento atual, tanto pela agressão em si como também pelas faltas ou falhas das etapas evolutivas anteriores. Sintomas de depressão, ansiedade e agressividade são muito comuns em crianças e adolescentes que vivem situações de violência. Esses sintomas são mais facilmente identificados na adolescência, embora ocorram com frequência na infância, sendo importante que os profissionais de saúde estejam atentos para sua ocorrência. Dentre os problemas de saúde mental decorrentes da violência, destaca-se também o transtorno de estresse pós-traumático, o qual comumente é desencadeado por uma situação violenta. Esse transtorno envolve intenso medo, impotência ou horror, com revivência do episódio violento através de recordações e sonhos aflitivos, sofrimento intenso e fuga de situações relacionadas àquele evento. 262 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 6.2 Violência física15 De acordo com o tipo de instrumento utilizado, intensidade, local do trauma e distribuição da lesão, é possível identificar sinais gerais e específicos dos traumas secundários à violência física.Contudo, é preciso, inicialmente, afastar a possibilidade de que as lesões ou cicatrizes apresentadas pela criança sejam consequentes de traumatismos não intencionais. São mais propensas ao risco de lesões não intencionais as áreas de extensão e de maior proeminência (que primeiro chegam ao chão ou são atingidas por qualquer objeto acidentalmente), como fronte, nariz e queixo, palma de mãos, área de extensão de braço e cotovelo, região anterior de perna, ponta do pé. O atraso na procura de atendimento ao trauma deve ser interpretado como um sinal, no mínimo, de negligência e/ou de tentativa de ocultação da violência ou, ainda, de manter a lesão sem tratamento para provocar maior dor. Histórias inconsistentes ou conflitantes entre os responsáveis, ou entre eles e a criança, para explicar o trauma, ou mesmo que vão sendo contadas de formas diferentes com o decorrer do tempo, devem sempre indicar necessidade de maior investigação da situação. Além dos sinais gerais de danos emocionais citados anteriormente, há que se suspeitar de violência física quando a criança ou adolescente apresentar os seguintes sinais gerais físicos: Lesões ditas como “acidentais” não compatíveis com a idade ou desenvolvimento psicomotor da criança: fraturas de crânio em crianças abaixo de 4 meses, que ainda não têm capacidade de rolar ou se arrastar, com história de queda acidental do trocador ou berço. Lesões que não podem ser explicadas pelo acidente relatado: fraturas de fêmur em crianças abaixo de 4 anos, referidas como consequência de 15 Fonte: PFEIFFER; WAKSMAN, 2004. 263 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança queda de bicicleta quando ela não teria capacidade de andar em bicicleta tão alta da qual a queda poderia provocar um trauma tão intenso a ponto de provocar uma fratura. Lesões em vários estágios de cicatrização ou cura: evidências de traumas sucessivos, como a presença de hematomas em áreas diversas e com colorações diferentes, ou o encontro de fraturas recentes e antigas. Lesões bilaterais ou simétricas: indicação de menos dois traumas sucessivos ou um planejamento para provocar a lesão. É o caso de lesões bioculares, fraturas de crânio bilaterais, fraturas simétricas de costelas, se acontecimento de grandes traumatismos, como acidentes de trânsito. Lesões em áreas habitualmente cobertas ou protegidas do corpo: regiões laterais de tronco, interna de braços ou coxas, região perineal ou genital, pescoço, axilas. 6.2.1 Como sinais específicos de violência física Lesões de pele: diagnosticadas com maior frequência, havendo características próprias que as diferenciam das lesões não intencionais, como: • Lacerações, eritemas, hematomas ou queimaduras que reproduzem o instrumento agressor (marcas de fios, cinto, mãos, cigarro). • Lesões circulares, como em pulseira, tornozeleira ou colar, indicando possíveis amarras. • Queimaduras por líquidos quentes cuja distribuição na pele não respeita a ação da gravidade. • Queimaduras em forma de luvas (nas mãos) ou meias (nos pés). • Queimaduras em região de nádegas ou períneo: castigo aplicado em crianças que não conseguem controlar esfíncteres. Fraturas: constituem o segundo achado mais comum da violência física. Certos tipos de fraturas são fortemente suspeitas de lesão intencional, como: • Fraturas em região próxima às articulações. 264 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança • Fraturas em alça de balde, que são fraturas metafisárias por arrancamento em ossos longos. • Fraturas em espiral. • Fraturas de costela em crianças abaixo de 2 anos. • Fraturas de arcos costais posteriores. • Fraturas bilaterais de clavícula. • Fraturas de escápula e esterno. • Fraturas de vértebras, sem história de trauma não intencional de alto impacto. • Fraturas diversas em estágios diferentes de cicatrização ou cura. Lesões crânio-encefálicas: podem deixar sequelas permanentes no sistema nervoso central e comumente levam à morte, por contusões, lacerações, micro-hemorragias, hematomas e grandes sangramentos. Especialmente na criança abaixo de 2 anos é possível encontrar a Síndrome do Bebê Sacudido, causada por violenta movimentação da criança, segurada pelos braços ou tronco. Esta ação, em face à fragilidade da musculatura do pescoço e ao grande volume cerebral, provoca o choque entre a calota craniana e o tecido encefálico deslocado, ocorrendo desde micro-hemorragias por rupturas de artérias e veias até hemorragias maciças e rompimento de fibras e tecido nervoso. Há comprometimento grave do sistema nervoso central, com convulsões ou paralisias, sem sinais infecciosos ou inflamatórios que os justifiquem, acompanhado de hemorragia de retina (essa última está presente em apenas 3% dos traumas cranianos consequentes a outros tipos de lesões). Lesões de face: • Lesão bi-ocular, especialmente quando sem lesão de nariz, indicando dois momentos de trauma. 265 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança • Hemorragia de conduto auditivo, sem sinais de corpo estranho ou otites perfuradas, indicando barotrauma por socos ou fortes pancadas, com possível fratura de osso esfenóide. • Lesões de orelha, por torções ou grandes puxões, levando desde a lacerações até arrancamentos e fraturas da cartilagem (orelha em couveflor). • Lesões dentárias, como quebras ou arrancamentos. Lesões abdominais: são mais frequentes na criança maior, que se mantém em pé ou já anda, e no adolescente. Habitualmente, são provocadas por socos ou pontapés. Representam uma importante causa de mortalidade por violência na infância. Podem levar a: • Sangramentos e ruptura de vísceras maciças. • Hemorragia digestiva. • Hematoma de parede de intestino delgado, levando a síndromes de oclusão intestinal. • Hemorragias de pâncreas, podendo desencadear a insuficiência do órgão e diabetes. Envenenamentos e intoxicações: imposição ou administração à criança ou ao adolescente de substâncias tóxicas, cáusticas, ácidas ou medicamentosas, na tentativa de controlá-la, maltratá-la ou mesmo levá-la à morte. As crianças e adolescentes com doenças crônicas ou com deficiências são de alto risco para violência, pois seus responsáveis têm disponíveis vários tipos de medicamentos receitados pelo médico. 6.2.2 Sinais de envenenamento ou de intoxicações intencionais Indícios de grande ingestão de produto tóxico ou cáustico, que, em casos de ingestão acidental, não seriam tomados em grande volume pela criança devido ao gosto ser ruim ou pela dor que provoca. Caso agudo ou crônico de origem obscura e sintomas complexos, que envolve comprometimento de vários órgãos ou sistemas, como sistema nervoso 266 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança central, dos mecanismos de coagulação, digestório, ou acompanhado de sinais de depressão respiratória, sem que se possa enquadrá-los em doença conhecida. Criança trazida pelos responsáveis com queixa de envenenamento acidental, mas com relato do acidente confuso e discordante entre os pais, habitualmente associado à ausência de preocupação pela identificação do agente tóxico, com sinais de uso de grandes quantidades. Demora na procura do atendimento após envenenamento dito como “acidental”, sem demonstração de preocupação dos responsáveis pelo tempo perdido para tratamento. O profissional de saúde deve dar especial atenção aos quadros de crises convulsivas, especialmente quando nunca foram presenciados por mais de um familiar ou pessoa da convivência diária, ou ainda perante uma evolução não esperada para o quadro apresentado. Essas situações podem ser indícios de Síndrome de Munchausen por Procuração. 6.3 Negligência A negligência e a omissão de cuidados é mais comum em crianças, mas também pode ocorrer na adolescência e caracteriza-se: Pelo descaso com o bem-estar e a segurança da criança ou do adolescente, com a afetividade, a educação ou a detecção de atrasos de desenvolvimento sem causa orgânica aparente. São indícios de que se deve realizar uma investigação detalhada da situação familiar. Pela recusa dos pais em aceitar as orientações do calendário vacinal, tratamentos medicamentosos, orientação educacional e preventiva. 6.3.1 Indicativos de negligência – omissão de cuidados Comportamentos dos pais/responsáveis: • Descaso com a higiene e o aspecto pessoal da criança. • Descuido na guarda, no preparo ou na oferta dos alimentos à criança. 267 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança • Ausência de acompanhamento ou preocupação dos responsáveis com o rendimento escolar. • Culpabilização da criança e do adolescente ou ainda da unidade educacional quanto às dificuldades apresentadas por ela. • Descuido com a segurança da criança e ocasionalmente do adolescente e ausência de medidas na prevenção de acidentes. • Descaso no acompanhamento e seguimento do calendário vacinal, de higiene e nutrição. • Demora inexplicável na procura de recursos médicos diante de sinais de doença, não seguimento de recomendações ou escolha por tratamentos inadequados para a criança e o adolescente. • Falta ou acompanhamento irregular dos tratamentos medicamentosos ou de habilitação ou reabilitação da doença crônica ou da deficiência. • Falta de proteção ou defesa contra acidentes e/ou violência praticada por outros. • Ausência de preocupação na escolha ou com a segurança dos locais onde a criança e/ou o adolescente é deixado ou com os escolhidos como seus cuidadores – terceirização do cuidado. Atenção! Os profissionais devem ficar atentos para as internações frequentes, seja por doenças agudas ou crônicas e que evoluem de forma diferente da esperada para a doença, seja por enfermidades ou acidentes que poderiam ser evitados. Sinais de ausência de cuidados que podem ser identificados na criança e, ocasionalmente, em adolescentes • Doenças parasitárias ou infecciosas frequentes. • Lesões de pele frequentes ou dermatite de fraldas de repetição (sem tentativas eficientes de tratamento). • Cáries dentárias (sem procura ou persistência no tratamento). 268 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança • Déficits de crescimento e desenvolvimento sem problema de saúde que os justifiquem. • Desnutrição sem doença básica aparente. • Obesidade por descuido ou imposição nutricional. • Uso de roupas inadequadas à idade, ao sexo, ao clima ou à condição social. • Atraso no desenvolvimento psicomotor e ou relacional. • Faltas frequentes à unidade de educação infantil, ensino fundamental e médio. • Dificuldade de aprendizagem, sem demonstração de apreensão dos responsáveis em encontrar causa e/ou soluções. • Atraso na escolaridade, por não procura ou por fracasso. • Problemas de adaptação social. 6.4 Violência Sexual Provoca sinais e sintomas físicos e psíquicos. Em geral, o ato sexual com penetração acontece depois de algum tempo de sedução do adulto em relação à vítima 6.4.1 Sinais indiretos de erotização precoce A falta de preocupação dos pais com a exposição da criança às intimidades do casal. A exposição a atitudes de exibicionismo, como falas inadequadas à idade sobre atitudes sexuais pessoais e de outros. Imagens ou outros materiais eróticos ou pornográficos. Incentivo ao desenvolvimento precoce sexual, através de vestimentas que expõem o corpo, brinquedos ou jogos que objetivam aguçar a curiosidade sexual, dentre outros. 6.4.2 Sinais indiretos mais frequentes de violência sexual em crianças e adolescentes Atitudes sexuais impróprias para a idade. 269 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Demonstração de conhecimento sobre atividades sexuais superiores à sua fase de desenvolvimento, através de falas, gestos ou atitudes. Masturbação frequente e compulsiva, independente do ambiente em que se encontre. Tentativas frequentes de desvio para brincadeiras que possibilitem intimidades, a manipulação genital, ou ainda que reproduzem as atitudes do abusador com ela. Mudanças de comportamento. Infecções urinárias de repetição. Para o profissional de saúde, apesar de, na maioria das vezes, não existir evidências físicas diretas da violência sexual, alguns sinais são relevantes: Existem dificuldades para se firmar este diagnóstico em crianças e adolescentes, visto estarem muitas vezes à mercê do autor de violência e dele depender física e psiquicamente. 6.4.3 Sinais da violência sexual em crianças e adolescentes Edema ou lesões em área genital, sem outras doenças que os justifiquem, como infecções ou traumas acidentais evidenciáveis. Lesões de palato ou de dentes anteriores, decorrentes de sexo oral. Sangramento vaginal em pré-púberes, excluindo a introdução pela criança de corpo estranho. Sangramento, fissuras ou cicatrizes anais, dilatação ou flacidez de esfíncter anal sem presença de doença que o justifique, como constipação intestinal grave e crônica. Rompimento himenal. Doenças sexualmente transmissíveis. Gravidez. Aborto. 270 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança 7 Como atuar 7.1 Anamnese inicial Tem como finalidade estabelecer uma boa relação entre o profissional e os responsáveis. Não acusar, nem censurar, no intuito de proteger a criança de novas agressões. A abordagem deve trazer empatia, já que o atendimento tem como um dos objetivos a reorganização dos vínculos familiares. O registro dos dados é muito importante, principalmente do ponto de vista legal. Agir com ética, privacidade, confidencialidade e sigilo. 7.2 Notificação A notificação deve ser realizada como um instrumento importante de proteção e não de denúncia e punição. É um direito da criança, do(a) adolescente e da família viver em um ambiente que promova o bem-estar físico, social e emocional livre de qualquer forma de violência, opressão ou negligência. No dia a dia de trabalho, o profissional de saúde muitas vezes desconfia ou mesmo identifica que aquela criança ou adolescente está sofrendo violências, seja na sua família, seja na comunidade onde vive. Essa situação pode deixar os profissionais com sentimento de impotência e perplexos pelo medo que a violência promove, por isso temem identificar a situação, bem como comunicar ao Conselho Tutelar. Portanto, é importante que esses contem com o apoio da equipe de saúde da qual pertence ou dos serviços que fazem parte da rede de cuidados e de proteção social no território. Independente das condições socioeconômicas das famílias, quando houver negligência ou qualquer outra forma de violência por parte dos pais ou responsáveis, é necessário realizar a notificação e a tomada de decisão a favor da proteção da criança ou do(a) adolescente. O Conselho Tutelar e os serviços que 271 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança compõem a rede de cuidados e de proteção social acionada podem ajudar a família e proteger a criança. A notificação é uma das dimensões da linha de cuidado, cabendo ao serviço de saúde, por meio da equipe, avaliar qual o melhor momento de registro na ficha de notificação, da responsabilização pelo preenchimento, bem como o seu encaminhamento ao Conselho Tutelar. Mesmo se a família não quiser ou não aceitar a notificação, o profissional de saúde deverá informá-la de que irá notificar o caso aos órgãos competentes, amparado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (artigos 13 e 245). Em casos de suspeita ou confirmação de violência contra crianças e adolescentes, a notificação é obrigatória e deve ser feita em três vias, sem prejuízo de outras providências legais (Portaria MS/GM nº 1.968, de 25/10/ 2001). Para que os profissionais dos serviços que estão estreitamente envolvidos com as comunidades se sintam mais seguros quanto à notificação, recomenda-se que busquem o apoio da Equipe de Saúde da Família (ESF) ou dos serviços definidos pelo gestor como unidade de referência para atenção integral às vítimas de violência que integram a rede de cuidados e de proteção social, de modo a tornar mais “neutra” as ações necessárias para a proteção da criança ou do adolescente. A partir de 2006, o Ministério da Saúde estruturou o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), em dois componentes: (i) vigilância de violência doméstica, sexual e/ou outras violências interpessoais e auto provocadas (Viva-Contínuo), e (ii) vigilância de violências e acidentes em emergências hospitalares (Viva - Sentinela). A implementação do sistema de Vigilância de Violências e Acidentes, em seu componente do Viva Contínuo, é responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde (SES), em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde (SMS) e com o apoio do Ministério da Saúde. O registro dos dados no módulo do Sinan-Net é atribuição da Vigilância em Saúde/Epidemiológica do município ou outra área/setor que o gestor local definir. A sistematização dos dados permite caracterizar os tipos e a 272 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança natureza das violências cometidas contra crianças e adolescentes, o perfil das vítimas e dos(as) prováveis autores(as) de agressão. 8. O que mais fazer além de notificar? Os profissionais de saúde não devem deixar para depois as medidas emergenciais (suturas, analgésicos, etc), sendo de grande importância avaliar o risco imediato de recorrência dos maus tratos. Todos os casos devem receber atenção especial, mantendo-se o acompanhamento por uma equipe multiprofissional. Dar seguimento na rede de cuidado e de proteção social Referenciar a Maternidade Escola Santa Mônica para a continuidade do cuidado, de acordo com a necessidade apresentada, de forma a instituir medidas profiláticas em tempo oportuno. 9 Seguimento na rede de cuidado e de proteção social Para dar continuidade ao acompanhamento, é preciso que os serviços de saúde e profissionais estejam capacitados para os cuidados clínicos e psicológicos de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violência, com protocolos e fluxos definidos, e rede de saúde organizada nos três níveis de atenção. A organização do serviço pressupõe a existência de fluxo interno de deinterconsultas, frequência dos retornos, realização e avaliação dos resultados de exames complementares, reuniões da equipe de saúde e intersetorial para avaliar a evolução e o prognóstico clínico e social do caso, entre outras ações para as crianças/adolescentes/família, para garantir eficácia nas ações de proteção, de cuidados e de prevenção. Durante todo o acompanhamento do caso, as discussões em equipe são fundamentais para: 273 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Avaliar a adesão/aceitação da família aos atendimentos feitos pelos diferentes serviços e profissionais. Analisar as necessidades específicas de cada caso e elaborar as estra-tégias indicadas. Favorecer a capacitação da equipe de saúde para abordagens e intervenções. Definir as responsabilidades na divisão de tarefas entre os profissionais. Contribuir para o processo de análise dos dados das entrevistas com-partilhando impressões. Promover a articulação com profissionais de outros setores ou insti-tuições engajados na defesa dos direitos da criança e do adolescente e planejar a alta do acompanhamento. Planejar a organização de grupos de acolhimento e de orientação aos pais e responsáveis, contribuindo para otimizar a atenção. Fortalecer os vínculos dos serviços com as famílias, possibilitando que os retornos possam coincidir com outras atividades e ações programadas para as crianças, os adolescentes e suas famílias, evitando o abandono do tratamento e a descontinuidade dos cuidados. Nos municípios onde os serviços de saúde de média e alta complexidade estão organizados regionalmente, a Secretaria Municipal de Saúde deve-rá pactuar ações de co responsabilização para evitar a descontinuidade da atenção. Nos casos de violência sexual, algumas medidas podem ser implemen-tadas na Atenção Primária, visando prover os cuidados necessários para a proteção das DST virais e bacterianas, profilaxia HIV e hepatite B e prevenção da gravidez, tais como: Capacitar profissionais de saúde para atuar como referência dos cui-dados profiláticos e tratamentos de situações de violência sexual no município. 274 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Estabelecer fluxos de forma regionalizada para os atendimentos rela-cionados à interrupção de gravidez decorrentes de violência sexual e situações de abortamento. Embora o atestado pericial não seja uma atribuição dos profissionais de saúde, mas de peritos médicos legistas, os profissionais da saúde podem contribuir encaminhando à Delegacia de Polícia, diretamente ou por meio do Conselho Tutelar (o Boletim de Ocorrência é pré-requisito para a realização do exame de corpo de delito), ou até mesmo realizando o exame corpo de delito, quando o serviço dispuser do médico capacitado para esse fim. É importante destacar que não há obrigatoriedade de se fa-zer exame de corpo de delito para comprovação da violência sexual para fins de permissão do abortamento legal. O procedimento médico deve ser feito independente de ter ou não o procedimento policial (boletim de ocorrência), que tem por objetivo punir o culpado pela violência (BRA-SIL, 2005). É necessário tomar todos os cuidados para que a criança ou o adolescente não seja re vitimizado no serviço se saúde. No caso de o município não contar com o IML e nem dispor de médico que passou por capacitação, é possível adotar algumas alternativas tais como: Estabelecer parceria com a Secretaria de Segurança Pública do município mais próximo que dispõe de IML. Solicitar a presença de um legista para realizar os exames no serviço de saúde que prestou o atendimento, principalmente quando se tratar de crianças e adolescentes; ou ainda identificar médicos no serviço de saúde, com o apoio do Ministério Público e do Gestor da Saúde local, para fazer cursos de perícia habilitando-os para realizar o exame de corpo de delito no caso de violência. Estabelecer parceria com outros serviços de saúde, assistência social, educação, Conselho Tutelar ou outras autoridades, bem como organizações não governamentais que atuam no município. Cabe destacar que a saúde, por excelência, é um setor que favorece o primeiro contato com as pessoas que sofrem violência, seja no territ-rio, por 275 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança intermédio dos Agentes Comunitários de Saúde, ou pela busca do atendimento nos serviços de saúde. No entanto, a complexidade da violência exige que os serviços de saúde, assistência social, educação, segurança, defesa e proteção atuem de forma articulada e intersetorial, permitindo a flexibilidade e a ampliação do fluxo em todas as dimensões do cuidado: acolhimento, atendimento (diagnóstico, tratamento e cuidado), notificação e seguimento na rede de cuidado e de proteção social, de forma a promover a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências. É função do gestor local pactuar e organizar o fluxo intersetorial do seguimento da criança, adolescente e suas famílias em situação de violências. As informações relativas ao fluxo da rede de cuidados e de proteção social devem ser divulgadas e afixadas em locais públicos de fácil acesso, serviços de saúde, assistência social, escolas, shoppings, rodoviárias, hotéis e outros locais de grande circulação. No caso de famílias em situação de violência, essas informações deverão ser fornecidas por escrito, com endereços, horário de atendimento, formas de acesso aos serviços da rede no território. Nas situação em que a criança ou adolescente esteja desacompanhado, essas mesmas orientações devem ser passadas ao Conselho Tutelar ou às autoridades responsáveis. Em todas as situações o profissional de saúde deve estabelecer previamente contato com o serviço para o qual encaminhou a família, comunicando o encaminhamento e enviando relatório sobre o caso com a descrição dos procedimentos já adotados. 10 Rede intersetorial Além dos serviços de saúde, existem outros serviços no território que atendem crianças e adolescentes em situação de violência que devem estabelecer um fluxo referenciado, dialógico e permanente de informações com todos os serviços disponíveis no município e, na ausência desses, recomenda-se 276 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança buscar interlocução com serviços de municípios vizinhos para fazer parte da rede de cuidados e de proteção social. No espaço do território o Sistema Único de Saúde (SUS) dialoga com os sistemas de proteção social, justiça e direitos humanos, segurança pública, entre outras políticas, a fim de planejarem, conjuntamente, as ações que melhor atendem as necessidades desse público. A seguir destacam-se alguns dos equipamentos que compõem a rede intersetorial no território que atende crianças e adolescentes. 10.1 Sitema Único da Assistência Social (SUAS) O Suas integra uma política pactuada nacionalmente, que prevê uma organização participativa e descentralizada da assistência social, com ações e serviços voltados para o fortalecimento da família. Entre eles, dois são fundamentais para o cuidado e a proteção social de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências: 10.1.1 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) É uma unidade pública da política de assistência social, de base municipal, integrante do SUAS, localizado em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social. Destina-se à prestação de serviços e programas sócio-assistenciais de proteção básica às famílias e aos indivíduos, e à articulação desses serviços no seu território de abrangência à ação intersetorial na perspectiva de potencializar a proteção social. Algumas ações da proteção social básica devem ser desenvolvidas necessariamente nos Cras, como o Programa de Atenção Integral as Famílias (Paif), entre outras ações. 10.1.2 Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) Constitui-se numa unidade pública e estatal onde se ofertam serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos nas diversas situações de violação de direitos. Como unidade de referência, deve promover a Rede de cuidado e de proteção social para a atenção integral às crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências. 277 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança O Creas deve articular os serviços de média complexidade e operar a referência e a Contra referência com a rede de serviços sócio-assistenciais da proteção social básica e especial, com as demais políticas públicas setoriais e com os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos. 10.2 Sistema de justiça e de direitos humanos O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 145, dispõe que “os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões”. Em alguns estados existem Delegacias Especializadas para apurar crimes contra crianças e adolescentes, bem como Varas da Infância e da Juventude que atuam na proteção e defesa dos direitos de crianças, adolescentes e suas famílias. O Conselho Tutelar (CT) “é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente” (art. 131) e tem como atribuições, entre outras, requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e emprego, exercendo função importante na interlocução com a autoridade judiciária para o efetivo cumprimento destes direitos (arts. 98, 101, 131 e 136, ECA/90). 10.3 Sistemas de ensino O sistema de ensino é formado pela rede de educação federal, estadual, distrital e municipal complementada pelo sistema privado. São equipamentos desse sistema os Centros de Educação Infantil (creches e pré-escola), Escolas de Ensino Fundamental e Médio e Instituições de Ensino Superior. 278 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança Na Rede de Cuidados e de Proteção Social, a comunidade escolar é, sobretudo, um espaço de prevenção e de promoção da cultura de paz. Vem sendo chamada, também, a contribuir com a identificação, a notificação e o encaminhamento de casos de violação de direitos de crianças e adolescentes, em cumprimento ao que determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 13, 56 e 245) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394/96, que estabelece: “O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, observada a produção e distribuição de material didático adequado”. 10.4 Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) O SUSP foi criado para articular as ações federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal na área da segurança pública e da justiça criminal, de forma a integrá-los na prática, sem interferir na autonomia dos órgãos de segurança no âmbito local. Os estados podem participar do SUSP por meio da assinatura de um protocolo de intenções entre governo do Estado e Ministério da Justiça. São alguns dos órgãos que compõem este sistema no território: Delegacia Especial de Proteção à Criança e ao Adolescente, Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher, Delegacias de Polícia Civil e Militares, Postos da Polícia Rodoviária Federal, Guardas Municipais, Instituto Médico Legal (IML). 10.5 Sociedade civil organizada A sociedade civil também deve compor a rede intersetorial. Essa participação se dá por meio dos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, presentes em todos os estados da federação, no Distrito Federal e na maioria dos municípios brasileiros. Os conselhos são órgãos paritários com representação do governo e da sociedade civil organizada e desempenham papel importante no processo de formulação, deliberação, acompanhamento e avaliação de políticas voltadas para esse público. As representações são de vários seguimentos da sociedade: ONGs, Comissão de Direitos Humanos, centros de ensino e pesquisa, instituições 279 Protocolo Clínico e Assistencial de Atenção à Saúde da Criança religiosas, lideranças comunitárias, associação de moradores, pastoral da criança, entre outras. Figura 49 – Ficha de notificação de violência 280