Martha Gonçalves Vieira HRAS SES –DF www.paulomargotto.com.br Brasília, 18 de julho de 2011 HUMANIZAÇÃO HÁBITOS ! PENSAR FALAR SENTIR AGIR PENSAR AVALIAR SENTIR ESCOLHER CERTO “BOM” X ERRADO “RUIM” Qual o critério usado nessa escolha? Juntos, sentimento e pensamento podem escolher melhor quando tem conhecimento Humanizar inclui esclarecer sentimentos e pensamentos... Conhecimento O conhecimento das causas e consequências gera reflexões. Refletir gera a mudança de atitude. O conhecimento é necessário para basear a Ética: Apenas sabendo alguém pode escolher corretamente. Falaremos hoje sobre um ser humano que ainda não FALA. O que muda quando um ser humano não fala? Ele deixa um pouco de ser humano por causa disso? HISTÓRIA Estudos iniciais do desenvolvimento fetal difundiram a crença de que o feto e o recémnascido humanos não sentiam dor ou não a percebiam como os adultos. (McGraw 1943, Levy, 1960). Devido a esses conceitos, pouca ou nenhuma importância foi dada à prevenção e tratamento da dor em neonatos até o final da década de 80. PERCEPÇÃO DA DOR Receptores sensoriais começam a surgir na pele em volta da boca na 7ª semana. Neurônios sensitivos estão presentes na medula antes da 13ª semana. Na 20ª semana já estão presentes em todas superfícies cutâneas e mucosas. As vias de condução da dor até o cérebro estão completamente mielinizadas na 30ª semana. O prematuro conduz a dor até o cérebro igual a um adulto, porém as vias descendentes inibitórias só amadurecem mais tardiamente, o que faz com que o RNPT sinta dor mais prolongada e intensa. Anand, 1993, Fitzgerald 1993 Recentes progressos no estudo da dor neonatal confirmam que ... existe um aumento da sensibilidade da dor em neonatos com bases neurofisiológica e clínica; a hiperalgia prolongada que segue estímulo doloroso agudo em prétermos, leva à dor crônica ou prolongada; existe associação potencial entre seqüelas comportamentais e no desenvolvimento resultantes de experiências dolorosas repetidas durante a internação AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS E A FUNÇÃO DO CÉREBRO Inúmeros estudos evidenciando a importância das primeiras experiências e a estrutura e a função do cérebro no futuro. Sofrimento, dor, não ser consolado, solidão, desconforto – aumento de cortisol - afeta o metabolismo, o sistema imunológico e o cérebro. Pediatrics 2004 (113):846-857. RECONHECIMENTO DA DOR Balda e cols, 2000; Prkachin & Craig, 1997; Forrest e cols., 1989; Mc Grath e cols, 1998; Mason, 1981; Ahn, 2007;Slater, 2008; Woodward, 2008; Experiência clínica Conhecimento Proximidade com o paciente Experiência pessoal O recém-nascido pré-termo é menos capaz de responder à dor (embora a sinta mais intensamente) Ele é menos capaz de modular suas respostas fisiológicas em resposta à dor Johnston & Stevens, 1997 AVALIAÇÃO DA DOR Indicadores Comportamentais Choro Atividade motora – movimento corporal: braços, corpo, pernas Expressão Facial: fronte saliente, fenda palpebral estreitada, sulco naso-labial aprofundado, lábios entreabertos, boca estirada no sentido horizontal ou vertical, língua tensa e tremores de queixo Mas o que é a DOR? DOR é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão de tecido real ou potencial ou descrita em termos de tal lesão. A dor é sempre subjetiva. (Associação Internacional para o estudo da Dor, 1979) AVALIAÇÃO DA DOR Indicadores Biológicos Frequência respiratória; Pressão arterial; Frequência cardíaca; Saturação de oxigênio; Sudorese palmar; Pressão intracraniana; Acidose metabólica (dosagens hormonais). COMO RECONHECER A DOR NO RECÉM-NASCIDO? Stevens, 1996; Abu-Saad e cols, 1998; Larsson, 1999; AAP, 2002 A dificuldade de avaliação e mensuração da dor no lactente pré-verbal constitui-se no maior obstáculo ao tratamento adequado da dor nas unidades de terapia intensiva neonatais (Ruth Guinsburg, 1999) Utilização de escalas: NFCS, PIPP, MAX, CSS, IBCS, BPS, NIPS LIDS, MITPI, CRIES, COMFORT, EDIN Cada unidade deve avaliar qual escala melhor se adapta para implementação em seu serviço… EDIN Escala de dor e desconforto do RN COMO ANDA A AVALIAÇÃO DA DOR EM UNIDADES NEONATAIS? Manejo da Dor em UTIN Francesas (Pain Management in French neonatal intensive care units.) Ainda Machucamos Recém –Nascidos? Um Estudo Prospectivo da Dor em Procedimentos e Analgesia nos Neonatos. (Do we still hurt newborn babies? A - 30% possuem escore de dor - Não há sistematização da conduta. - Acta Paediatr 2002; 9(17):822-6 prospective study of procedural pain and analgesia in neonates) A equipe da unidade neonatal considera os procedimentos dolorosos. Mas apenas 30% dos RN recebem alguma intervenção para analgesia. Arch Pediatr Adolesc Med 2003; 157(11): 1058-64. COMO ANDA O MANEJO DA DOR EM UNIDADES NEONATAIS? Manejo da Dor Aguda em Procedimentos na UTIN (Management of acute procedural pain in the NICU - Dublin) Apesar do crescente e difundido conhecimento sobre dor no RN 20% têm diretrizes para manuseio da dor 40% usam sucrose para analgesia Woodward, 2008 Variabilidade nas Diretrizes de Práticas Clínicas Relativas a Agentes Adoçantes no RN Submetido a Procedimentos Dolorosos (Varibility in clinical practice guidelines for sweeting agents in newborn infatns undergoing painful procedures) Apenas 2/3 das NICU do Canadá usam sucrose Doses variadas Sem diretrizes Taddio, 2009 QUAL A IMPORTÂNCIA DA PREOCUPAÇÃO COM A DOR NAS UNIDADES NEONATAIS Isquemia e hemorragia intracraniana: controle da dor e do estresse, além de outras medidas. Identificado como “boa prática” – tendência de identificação de novas condutas em unidades neonatais.Pediatrics 2003 Apr; 111(4 Pt 2): e497-503. IMPORTÂNCIA DA PREOCUPAÇÃO COM A DOR NAS UNIDADES NEONATAIS “A resposta à dor é influenciada pelo número de procedimentos dolorosos previamente experimentados e pelo intervalo de tempo entre os procedimentos.” Johnston e cols., 1997 Após estímulos dolorosos em PREMATUROS, ocorrem estados prolongados de HIPERALGIA com diminuição do limiar de dor. Qualquer outro estímulo neste período como: manuseio, exame físico ou procedimentos de enfermagem, será interpretado como nocivo criando um estado de dor crônica e estresse fisiológico prolongado. (Alodinia) MANUSEIO NA UNIDADE NEONATAL Período de hospitalização na UTI neonatal: 50 a 150 procedimentos potencialmente dolorosos por dia. Paciente pesando menos de 1000g sofrem cerca de 1000 ou mais intervenções dolorosas ao longo da internação (Guinsburg,1999) Simons et al, 2003 – 14 procedimentos dolorosos/dia Prestes, 2004 – 3 a 5 pd/d COMO COMEÇAR A DIMINUIR A DOR NA UNIDADE NEONATAL? EVITAR procedimentos desnecessários PREVER episódios que possam ser dolorosos AGIR para prevenir ou minimizar a dor Não-farmacológico Farmacológico PREVENIR É o melhor: É mais fácil evitar que o bebê chegue a um estado de estresse e desorganização de seus sistemas do que revertê-lo depois de instalado.. Há necessidade de inúmeras gasometrias e avaliações de glicemia por fita? Podemos nos organizar para manipularmos menos? FATORES AMBIENTAIS ESTRESSANTES (interação cuidador-criança limitada/negativa; barulho, alta luminosidade) Condições Clinicas: DPB Apnéia Bradicardia Deficiência de T4 Hiperbilirrubine mia Deficiência de AGL Regiões Cerebrais Vulneráveis: Neurônios Sublaminares Gânglios da Base Tálamo Hipocampo Injúria Cerebral Primária: Hemorragia/ Isquemia Severa – Lesão na Substância Branca INTERVENÇÕES NO AMBIENTE (Corff e cols, 1994; MC Intosh e cols, 1995; Stevens e cols., 2000; Pediatrics & Child Health, 2000; Cochrane Review, 2002) Contenção Facilitada (Facilitated tucking) pequenos procedimentos Otimização de procedimentos Redução de estímulos externos – contingência Massagem Agrupar procedimentos Quando a família segura – melhor (contenção facilitada pelos pais facilitated tucking by parents) Clin J Pain 2009 CUIDADOS Intervenções no meio ambiente Desenvolvimento e avaliação das características comportamentais do neonato Cuidado e manuseio individualizado Melhoria geral nas condições de atendimento ao RN (Qualidade do material, número de profissionais, etc) NA ORGANIZAÇÃO Dobra de lençol Conexões de soro/torneiras = lençol molhado = hipotermia/acidose Troca de posição Diferença do cuidado com o adulto Organização ROTINA DE TRABALHO Compressão de equipamentos Lesões de sensor, oximetro, fixação de jelco – o bebê não “avisa”. Infiltração Observação e verificação constante Planilha de checagem Qualidade do material NO AMBIENTE Rádio Celular Conversas/cantos Colocação de objetos na incubadora Round/passagem de plantão Retirar água do circuito do respirador Atender os alarmes rapidamente Luz NO BANHO Tem que chorar? Pode ser tranqüilo? A mãe pode ajudar? Preciso ficar conversando com os colegas? Posso conversar com bebê? PROCEDIMENTOS Desenvolvimento e avaliação das características comportamentais do neonato Cuidado e manuseio individualizado PROCEDIMENTOS Respeitar o momento Conforto e dor Colocar-se no lugar Conhecer fisiologia – risco de hemorragia intracraniana Rotina de troca de fralda, coleta de sangue PROCEDIMENTOS Paciente neonatal x adulto – acesso vascular - PICC Dor: estratégias não farmacológicas e farmacológicas Singularidade Capacitação Risco PREVER INTENSIDADE DA DOR Cignacco et al,Swiss Med Wkl 2009; 139(15-16):226-232. Muito doloroso (7-10 pontos): aspiração de TT, punção de calcanhar, venopunção, inserção de PICC, entubação, punção suprapúbica, injeção IM ou SC, dreno de tórax, avaliação oftalmológica, remoção de dreno de tórax, punção lombar. Doloroso (4 – 6 pontos): colocação de CPAP, aspiração de VAS, remoção de sensor de oxímetro de pulso, remoção de eletrodos, inserção de sonda gástrica, extubação, inserção de sonda vesical. POR QUE TRATAR? Aliviar a dor Propiciar conforto ao RN Prevenir complicações Facilitar a recuperação do RN Diminuir o tempo de internação hospitalar Prevenir danos no neurodesenvolvimento Propiciar satisfação aos pais CONSEQUÊNCIAS TARDIAS DA DOR NO RECÉM-NASCIDO Alterações no desenvolvimento, com piora das funções: Cognitiva Linguagem Visual Motora Aprendizagem Comportamento Trabalhos que abordam intervenção em dor enfatizam ... Atenção à Dor Crônica Cuidado Individualizado Contato corpo a corpo, estimulação multi-modal Ludington-Hoe & Swinth, 1996. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO (Stevens e cols., 1997; Blass, 1997; Zanardo e cols, 2001; Gray e cols, 2000; Cignacco, 2009) Sucrose: 0,24 g (2 ml de sucrose a 12%) a 0,5g (2ml de sucrose a 25%) por seringa ou por sucção 2 minutos antes < 1000g: 0,1 ml/kg e > 1000g: 0,5 ml/kg Leite: concentração de B-endorfinas Sucção não nutritiva Método Canguru – contato pele a pele GLICOSE Sucrose é segura e efetiva para procedimentos dolorosos – punção de calcanhar e venopunção. Dose ainda indeterminada. Cochrane Database Syst. Rev. 2004 2 ml de glicose a 24% - efetiva na prevenção de dor em procedimentos de rotina na unidade neonatal. Pediatrics 2009; 123: e425-e429. Lembrete: Glicose 25% não é padronizada na SES. Há apenas glicose 10% ou 50%. Não há estudos com glicose 50%. Deixar preparada a solução a 25% por um período de horas favorece contaminações. CONTATO PELE A PELE Procedimentos dolorosos no colo da mãe – diminui o escore de avaliação de dor Superior à glicose/sucção Arch Pediatr Adolesc Med 2003 Nov; 157(11): 28-33 BMC Pediatr 2008 Apr 24: 8:13 – * * Pain 2008 Sep 30: 139(1): 28-33. Evaluation of analgesic effect of skin-to-skin contact compared to oral glicose in preterm neonates. Freire NB, Garcia JB, Lamy ZC. CONTATO PELE A PELE Posição canguru antes de injeções diminui a dor nos RN. Kashaninia, 2008 Diminui o choro em prematuros durante a punção de calcanhar. Kostandy, 2008. Colocar em contato pele a pele (canguru) 30 minutos antes e mantendo 10 minutos depois – é efetivo para diminuir a dor em procedimentos invasivos. Akcan, 2009. Técnicas anti-nociceptivas (Gray e cols, 2000; Feldman & Eldman, 2000) Contato corpo a corpo Depende do contexto; age por mais tempo; alcança resultados diferentes quando comparado ao segurar o bebê no colo Efeito analgésico do contato corpo a corpo Variação da freqüência cardíaca Sucção não-nutritiva (Blass , 1994) Reduz o gasto de energia, a freqüência cardíaca, a atividade motora e diminui a reatividade a estimulação nociva Induz a uma sensação de calma, exercendo um profundo efeito comportamental Deve ter ritmo, força, duração. LEITE MATERNO Concentração de beta-endorfinas no leite 10 Níveis de B-endorfina (pmol/l) 8 6 4 2 0 4 dias Parto vaginal a termo 10 dias 30 dias Parto vaginal pré-termo Cesárea a termo Zanardo e cols, 2000 Leite materno - analgesia Leite materno melhor que sucrose na analgesia de punção de calcanhar Pediatrics 2008 Sep; 122(3): e716-21 Leite materno alivia a dor em procedimentos invasivos Cochrane Database Syst Rev 2006 Jul 19: 3: CD 004950 Construção da Segurança: Crianças quando expostas a situações estressantes e foram amamentadas têm mais armas para combater a ansiedade. Archives Disease in Childhood – TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Analgésicos não-opióides: paracetamol (tylenol), dipirona Analgésicos opiódes: morfina, fentanil, tramadol Anestésicos locais: EMLA e lidocaína Rotinas da unidade IMPLANTAÇÃO DO CUIDADO HUMANIZADO Importância das lideranças -trabalhar em equipe Não pode haver “o” responsável pela humanização Time Interdisciplinar Pediatrics 2003 (111):e482-e488. IMPLANTAÇÃO DO CUIDADO HUMANIZADO A humanização do serviço passa por humanização das condições de trabalho, de recurso, com o risco do DISCURSO não chegar à PRÁTICA. ESFORÇO colaborativo entre os vários setores envolvidos no serviço de saúde. IMPLANTAÇÃO DO CUIDADO HUMANIZADO O que há por trás da Equipe – a importância da Retaguarda Os profissionais que lidam com o RN devem ser ouvidos (são A VOZ do RN) A Educação Continuada: Saber para poder escolher ( Construção da Ética) O DESAFIO . . OBRIGADA!