Psicose lúpica sem diagnóstico por 2 anos sendo tratada como doença psiquiátrica primária‐ A importância
da avaliação clínica
Autores:Giovanni Possamai Dutra ¹; Aline Saraiva da Silva Correia²
¹Médico Residente do 2° ano do Serviço de Clinica Médica do Hospital Federal Cardoso Fontes.²Médica supervisora da Residência Médica do Serviço
de Clinica Médica do Hospital Federal Cardoso Fontes
Introdução
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença heterogênea, com uma grande variedade de manifestações clínicas e gravidade.
Assim, médicos de diversas especialidades podem se deparar com pacientes que apresentam sintomas iniciais decorrentes do
acometimento de um determinado órgão ainda sem diagnóstico de LES. Quando a manifestação clínica inicial é cutânea, articular,
hematológica ou renal, a hipótese diagnóstica de LES é sempre lembrada. Porém as manifestações neuropsiquiátricas do LES trazem
um desafio maior ao diagnóstico clínico.
A falta de um padrão ouro de diagnóstico e terminologia ambígua tem dificultado a investigação epidemiológica em lúpus
eritematoso sistêmico neuropsiquiátrico. (LESNP). Um estudo de revisão de 2012 mostrou que os sintomas psiquiátricos estão
presentes na maioria dos pacientes com LES. A depressão (39%) e disfunção cognitiva (80%) são as manifestações psiquiátricas mais
comuns, a psicose foi manifestação mais rara.
Objetivo: Relatar caso clinico de mulher jovem com transtorno psicótico secundário ao LES sem diagnóstico nem tratamento
específico durante 2 anos. Ressaltar a importância do especialista em clínica médica e sua capacidade de avaliar o paciente de forma
global para diagnóstico de doenças sistêmicas como o LES.
Método: Relato de caso clínico acompanhado pelo autor durante internação hospitalar
Relato: Mulher de 22 anos em tratamento psiquiátrico com antipsicóticos há 2 anos para controle de alucinações visuais, auditivas,
idéias delirantes e agressividade, foi atendida no ambulatório de hematologia para investigação de anemia. Devido à impossibilidade
de realizar biópsia de medula óssea ambulatorialmente pela não cooperação da paciente, a mesma foi internada na enfermaria de
clínica médica. Após anamnese e exame físico, constatou‐se artralgias, máculas hipercrômicas com margens irregulares no rosto e
membros, e hepatoesplenomegalia. Evoluiu com plaquetopenia e síndrome nefrótica durante internação. Anticorpos anti‐DNA dupla
hélice positivos, anticorpos anti SSA positivos e anti Sm positivos, sendo possível fechar critério diagnóstico de LES. O Lupus pode
afetar o sistema nervoso central de forma importante. Observa-se divergência entre autores quanto a importância dos traços de
personalidade e suas alterações no desencadeamento da doença lúpica.9,2 Após pulsoterapia com metilprednisolona apresentou
melhora das alterações comportamentais e sintomas psicóticos.
Discussão:A psicose,embora pouco frequente, pode ser a apresentação inicial da doença e frequentemente ocorre na atividade da
doença apresentando ressonância magnética normal.4
O vasto arsenal terapêutico de lúpus inclui analgésicos, anti-inflamatórios não hormonais, corticosteroides, imunomoduladores e
agentes biológicos.
Essas drogas mudaram a historia natural do lúpus ,aumentando a expectativa de vida dos pacientes ,além de atuarem em outras doenças
auto imunes e possibilitarem a viabilidade dos transplantes dos órgãos.3
Um estudo retrospectivo com pacientes lúpicos na cidade de Oslo comparou a atuação de reumatologistas e outras especialidades no
acompanhamento da doença. Os resultados mostraram que a menor parte dos pacientes é acompanhada por profissionais de outra
disciplina e que neste grupo a menor parte foi testada para anticorpos anti-fosfolipídeos e raramente foi prescrito
hidroxicloroquina.Portanto há evidencia que a maior comunicação entre as especialidades precisaria ser intensificada para que a
intervenção terapêutica não seja insatisfatória.10
Embora as alterações de personalidade tenham sido excessivamente estudadas nos pacientes com artrite reumatoide, poucos trabalhos
se referem ao Lupus.
A atividade da doença, o estresse psicológico e as medicações usadas para o tratamento parecem ser os possíveis desencadeadores
dessas alterações. Outrossim alguns estudos mostram comprometimento do SNC existindo a correlação da clinica a presença de alguns
anticorpos como anti-SSA e anti-DNA, anti-ribossomo P, entre outros.
O critério neurológico foi substancialmente reescrito a fim de incluir o maior numero de manifestações do que foi originalmente
incluída na definição American College of Rheumatology de convulsão e psicose.
Isso não inclui todas as definições de caso da neuropsiquiatria da ACR. Devido a ausência de especificidade da maioria daquelas para
LES.O SLICC foi melhor que o critério revisado da ACR em termos de sensibilidade mas não em especificidade.O critério da Lupus
International Collaborating Clinics foi feito para ser mais clinicamente relevante, permitindo a inclusão de mais pacientes com clinica
de Lúpus definida do que o critério da ACR.
Considerações finais: O desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências é necessário para melhorar o diagnóstico, prevenção e
tratamento destes quadros. A psicose lúpica se torna um desafio ainda maior quando é a apresentação inicial isolada do LES. Neste
contexto, o clinico geral desempenha um papel fundamental uma vez que é o profissional mais capacitado para avaliar o paciente de
forma integral formulando hipóteses diagnósticas que muitas vezes não são identificadas por médicos especialistas.
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