Agência Nacional de Energia Elétrica 3ª EDICION DEL CURSO DE REGULACION ENERGETICA DE ARIAE SOBRE REDES ENERGETICAS Experiência Brasileira com as Revisões Tarifárias Periódicas 22 DE NOVEMBRO DE 2005 CARTAGENA DE INDIAS – COLÔMBIA CONTEÚDO I – Características do Setor Elétrico Brasileiro II – Segmentação das Atividades III – Características da Função Reguladora IV – Mecanismos para alterar as tarifas V – Metodologia para Revisão das Tarifas VI – Regulação por incentivos VII – Composição das Tarifas VIII – Considerações Finais I – Características do Setor Elétrico Brasileiro Principais Características Segmento de Geração: Térmica 20% Nuclear 2% Hidráulica 70% Importação 8% Usina Hidrelétrica 69.223 MW PCH (< 30 MW) 1.391 MW Usina Termelétrica 18.030 MW Usina Nuclear 2.007 MW Eólica 29 MW SUBTOTAL 90.680 MW Importações (com Itaipu) 8.170 MW Usinas Emergenciais 1.703 MW TOTAL 100.553 MW Principais Características Segmento de Distribuição: Nº Consumidores = 55.437.740 Nº de Concessionárias = 65 Faturamento = US$ 23,5 bilhões (receita do serviço) = US$ 8,3 bilhões (tributos) = US$ 31,8 bilhões Mercado = 270.285.881 MWh Principais Características Segmento de Transmissão: Tensão entre 230 kV e 750 kV 80.007 Km de linhas 815 circuitos de transmissão 321 Subestações 36 Empresas Transmissoras US$ 2,8 bilhões de Receita anual II – Segmentação das Atividades Segmentação das Atividades Regulação voltada para a competição G Competição T Monopólio Natural Forte Regulação D Regulação voltada para a competição C Competição Segmentação das Atividades Segmentação das atividades (G, T, D e C) Competição na geração e comercialização Produção independente de energia Livre acesso e uso das redes elétricas Serviços de transmissão e distribuição fortemente regulados Liberdade de escolha (consumidor livre) III – Características da Função Reguladora Caracterização da função Reguladora O grau de interferência do Estado, por meio da regulação, depende da intensidade do interesse público envolvido e da capacidade do mercado em atendê-lo com efetividade. Mercados competitivos – menos intervenção Monopólios naturais – forte intervenção Por que Regular? Os mercados falham em produzir a otimização do bem estar: Poder de mercado: falhas na ação da concorrência (efetiva ou potencial) ofertante tem poder sobre os preços, que são superiores aos competitivos menos consumidores participam do mercado os que participam têm de deixar de consumir ou reduzir o consumo de outros produtos Condições de produção nas quais a sociedade perde ou gasta mais recursos para satisfazer um menor nível de bem estar. Como se Regula? conjunto de instrumentos pelos quais o Estado interfere direta ou indiretamente na atividade econômica e na alocação dos recursos, alterando o livre jogo dos mecanismos de mercado para realizar o interesse público. proteger e estimular a concorrência onde ela existe controle de estruturas (Lei antitruste) repressão a condutas infrativas à concorrência simular a concorrência onde ela não é viável quantidade de ofertantes preços qualidade Qual é o objetivo? Produzir os efeitos da competição onde ela não existe: regulação serve como substituto do mercado Equilíbrio entre os interesses privados e públicos: operação eficiente justa e eficiente alocação de custos entre consumidores atrair investimentos objetivos obtidos espontaneamente em mercados competitivos Como se Regulam as Tarifas? Utilizando-se as técnicas disponíveis dentro da lei para replicar a ação da concorrência regimes tarifários: Custo do serviço (taxa de retorno) Regulação por incentivos (preços máximos) Custo do Serviço Os preços são fixados a qualquer tempo, por solicitação da empresa ou por iniciativa do regulador, com o objetivo de manter uma “taxa de retorno adequada”. Os preços são fixados com base em custos razoáveis, incluindo os custos de operação e de investimentos. O enfoque é o controle dos lucros da empresa regulada (não pode ganhar demais!). Custo do Serviço: Problemas falta de incentivos para alcançar operação eficiente e minimização dos custos; falta de incentivos para inovações; incentivo ao excesso de investimentos; assimetria de informações; alto custo regulatório. Como superar essas limitações? Regime de Regulação por Incentivos (Preços Máximos) Regulação por incentivos – O que é? conjunto de regras regulatórias concebido para promover inovação, eficiência e redução de custos; regime tarifário que permite o compartilhamento de eficiência entre a empresa regulada e os consumidores; variante da regulação pelo custo do serviço. Regime de Preços Máximos empresa se defronta com tarifas máximas estabelecidas inicialmente, em geral, com base no custo do serviço. regras de variação previamente estabelecidas: Reajuste anual: tarifas máximas reajustadas por um índice de preços a cada ano (manter o valor real). Revisão tarifária: em intervalos de tempo definidos as tarifas são revistas de acordo com os custos e são fixadas metas de eficiência que se refletirão nos reajustes futuros. Preços Máximos Como é no Brasil? Regime de Preços Máximos Brasil Preços máximos fixados inicialmente foram as tarifas vigentes na asinatura do contrato de concessão. As tarifas (preços máximos) são reajustadas anualmente mediante fórmula específica, que separa os custos em “gerenciáveis” e “não-gerenciáveis”. A cada intervalo de 4 ou 5 anos as tarifas são revistas de acordo com os custos e são fixadas metas de eficiência que se refletirão nos reajustes seguintes (Fator X). Cláusula de revisão extraordinária. IV – Mecanismos para Alterar as Tarifas Contratos de Concessão de Distribuição Concepção do contrato: 1995 – aprovado pelo CND; Criação da ANEEL: 1997 – Implementar as disposições estabelecidas nos contratos de concessão; Mecanismos de alteração das tarifas previstos nos contratos (cláusula econômica) reajuste tarifário anual revisão tarifária extraordinária revisão tarifária periódica Contrato de Concessão Mecanismos para alterar as tarifas D Tarifas de Distribuição de Energia Elétrica Reajuste anual Revisão Extraordinária Revisão Periódica O contrato de concessão define a fórmula de reajuste anual das tarifas Em qualquer data, desde que comprovado o desequilíbrio econômico financeiro O contrato de concessão estabelece diretrizes gerais Mecanismos de Alteração das Tarifas Assinatura do contrato Reajuste tarifário anual Revisão tarifária periódica 2000 2002 1996 1999 2001 Revisão tarifária extraordinária 2003 Contrato de Concessão Mecanismos para alterar as tarifas Reajuste Tarifário Anual (IRT) Receita = Parcela A + Encargos Tarifários + Compra de Energia Parcela B IGP-M Contrato de Concessão Mecanismos para alterar as tarifas Reajuste Tarifário Anual (IRT) Parcela A Despesas não gerenciáveis pela distribuidora Define a nova PA na data do reajuste + Parcela B Receita da = Distribuidora (RA0 ) Despesas que variam conforme a gestão da distribuidora A nova PB é atualiza por índice de variação da inflação +oufator X PA1 + PB0 (IVIX) IRT = RA0 Reajuste tarifário anual Fórmula dos Contratos de Concessão IRT = PA1 + PB1 RA0 = RA1 RA0 PB 1 = PB0 (IGPM +/- X) PB0 = RA0 - PA0 Fator X = 0 (até a ocorrência da primeira revisão tarifária periódica) Reajuste tarifário anual Fórmula dos Contratos de Concessão VPA1 VPB0 IGPM X reajuste(%) RA0 reajuste(%) RA1 RA0 VPB0 RA0 VPA0 VPB1 VPB0 X IGPM RA1 VPA1 VPB1 RA = Receita Anual VPA = Valor da Parcela A VPB = Valor da Parcela B Contrato de Concessão Mecanismos para alterar as tarifas Diretrizes para a Revisão Tarifária Periódica No momento da Revisão Tarifária as tarifas são reconstruídas e o Fator X é calculado. Devem ser considerados: alteração na estrutura de custos; alteração na estrutura de mercado; nível das tarifas em empresas similares no contexto nacional e internacional; estímulo à eficiência; e estímulo à modicidade tarifária. Revisão tarifária periódica Reposicionamento Tarifário Objetivo: redefinir o nível das tarifas de fornecimento de energia elétrica, considerando: custos operacionais eficientes; adequada remuneração sobre investimentos prudentes. Fator X Objetivo: compartilhar com os consumidores os ganhos de produtividade derivados do crescimento do mercado do serviço regulado previstos para os períodos compreendidos entre as revisões. Revisão Tarifária Periódica RECEITA REQUERIDA RR = Custos da Parcela A + Custos da Parcela B Compra de Energia + Transporte de Energia + Encargos Setoriais Custos Operacionais + Remuneração + Depreciação V – Metodologia para Revisão Tarifária Metodologia para Revisão Tarifária custos operacionais + remuneração do capital Perspectiva do prestador do serviço Como estabelecer tarifas justas ? Sustentabilidade Eficiência TARIFA Perspectiva do consumidor qualidade universalização modicidade competitividade Equidade Conciliar as perspectivas do consumidor e da distribuidora Evitar os problemas da assimetria de informações RECEITA DO SERVIÇO RECEITA DO SERVIÇO = PARCELA A + PARCELA B Custos Custos Não Gerenciáveis Gerenciáveis Parcela B Base de Remuneração Líquida x Base de Remuneração Bruta Taxa de retorno Remuneração (R$) + x Quota de Reintegração Parcela B Empresa de Referência Taxa de Deprec. + Custos de operação Metodologia para Revisão Tarifária custos operacionais remuneração do capital Depreciação Metodologia da Empresa de Referência Metodologia para definir a estrutura do capital Metodologia para definir Custo do Capital Metodologia para definir Base de remuneração Metodologias para Revisão Tarifária Metodologia da Empresa de Referência - ER: Defini-se uma empresa com gestão eficiente considerando as características da área de concessão (particularidades de cada região, ex: concentração da população, áreas rurais, número de cidades, etc) As atividades do serviço de distribuição de energia elétrica são mapeadas (ex: atendimento ao público, manutenção de linhas, entrega de faturas, etc.) A cada atividade são associados parâmetros que representam custos eficientes (ex: salários, custo de m2 alugado, despesa com material de escritório por empregado, etc) Fica estabelecido o “custo operacional eficiente” para a empresa de referência. Este é o custo reconhecido na tarifa Metodologias para Revisão Tarifária Metodologia da Empresa de Referência - ER: O Regulador minimiza o problema da assimetria de informações (não usa os dados da empresa) Para algumas empresas são necessários ajustes nos parâmetros considerados, devido a particularidades da área de concessão não capturadas. Exemplo da aplicação da ER no cálculo da tarifa de uma distribuidora ER Distribuidora 1o Resultado $ 142.173.696 $ 257.359.512 Resultado após ajustes $ 145.601.583 $ 158.936.943 Metodologias para Revisão Tarifária Metodologia da Base de Remuneração: O conceito chave da Resolução ANEEL no 493/2002 é refletir os investimentos prudentes na definição das tarifas dos consumidores. Investimentos requeridos para que a concessionária possa prestar o serviço de distribuição cumprindo as condições do contrato de concessão (em particular os níveis de qualidade exigidos), avaliados a “preços de mercado” e “adaptados” através dos índices de aproveitamento definidos na referida Resolução. Metodologias para Revisão Tarifária Metodologia da Estrutura de Capital: Objetivo: definir qual a melhor proporção de capital próprio e de capital de terceiros. É considerada a melhor proporção aquela que reflete o menor custo do capital empregado na concessão. Premissa: as empresas buscam o grau ideal de alavancagem. Para isso são considerados: • o custo de utilizar o capital de terceiros (mais barato); e • o custo por utilizar o próprio capital da empresa (mais caro). ESTRUTURA ÓTIMA DE CAPITAL CAPITAL PRÓPRIO CAPITAL DE TERCEIROS 50% 50% Metodologias para Revisão Tarifária Metodologia do Custo do Capital: Objetivo: definir qual o custo de oportunidade do investidor. Premissa para a definição do custo do capital próprio: Atrair e manter o investidor no negócio de distribuição de energia elétrica (percepções de riscos, alternativas de investimento, ativos livres de risco, prêmio exigido pelo risco do investimento). Método: CAPM - Capital Asset Pricing Model Custo do capital próprio considerado: 14,72% Metodologias para Revisão Tarifária Metodologia do Custo do Capital: Premissa para a definição do custo do capital de terceiros: Similar ao custo do capital próprio considerando os riscos do negócio, outras alternativas de investimento e adicionalmente associado ao risco do empréstimo. Método: CAPM - Capital Asset Pricing Model Custo do capital próprio considerado: 13,05% Metodologias para Revisão Tarifária Metodologia do Custo do Capital: Definição da Taxa de Retorno do Capital Investido Considera o custo de capital próprio e o custo de capital de terceiros ponderados pela estrutura ótima do capital Método: WACC – Weighted Average Cost of Capital Retorno do capital investido: 11,26% (taxa real depois de impostos) Outros Mecanismos para a Regulação Econômica FATOR X O Fator X é calculado na data da revisão tarifária periódica para aplicação nos reajustes anuais subseqüentes Objetivo: Compartilhar com o consumidor os ganhos de produtividade da distribuidora obtidos em função do aumento da demanda na área servida (maior consumo e/ou maior número de consumidores) Fator X 1º período tarifário: X = 0; Inflação = 0 2º período tarifário: X > 0; Inflação = 0 Ganhos de eficiência efetivos Tarifa T1 Ganhos de produtividade T2 T3 Custos de operação e remuneração do capital (Parcela B) Custos não-gerenciáveis (Parcela A) 1998 1999 2000 2001 2002 Ganhos de eficiência 2003 2004 2005 2006 2007 Fator X Fator X = f(Xe , Xc , Xa) Xe = Ganhos de produtividade derivados da mudança na escala do negócio por incremento da demanda da área servida (tanto por maior consumo dos clientes existentes, como pela incorporação de novos usuários) Xc = Avaliação dos consumidores sobre a sua concessionária, obtido como resultado da pesquisa IASC. (entre –1% e 1%) Xa = Estabelecido pela Resolução CNPE n.º 1, de 04/04/03. O Fator X deve considerar, para o componente mão-de-obra da Parcela B, índice que reflita a remuneração deste recurso. VI – Regulação por Incentivos Regulação por Incentivos Limite de repasse para o preço da energia comprada Valor Normativo - VN e Valor de Referência - VR: incentivo para que as compras de energia sejam feitas por valores inferiores ao VN ou VR (é o próprio limite). A diferença entre o preço da compra e o valor repassado às tarifas fica para o investidor. O&M da Empresa de Referência Incentiva a gestão da empresa com custo inferior ao reconhecido para a Empresa de Referência. Nesta situação, a diferença é do investidor. Regulação por Incentivos Tratamento regulatório para a inadimplência O problema da inadimplência dos consumidores é reconhecido nas tarifas como parte dos custos operacionais. No entanto, a ANEEL considera uma trajetória descendente, partindo de 0,5% do faturamento bruto até o patamar de 0,2%. Perdas não técnicas: limite e trajetória descendente As perdas não técnicas não são consideradas na totalidade pleiteada pelas empresas. São admitidos limites máximos definidos por análise do histórico, comparação com distribuidoras similares. Para os casos mais graves é estabelecida trajetória descendente. VII – Composição das Tarifas Componentes das Tarifas TUSD – FIO B Remuneração + Depreciação+O&M TUSD – FIO A TUSTRB + TUSTFR + Conexão + Uso Redes outras D’s + PERDASRB TUSD – ENCARGOS DO SERVIÇO DE DISTRIBUIÇÃO RGR + TFSEE + P&D + ONS Componentes das Tarifas TUSD – DIVERSAS TUSDPERDAS TÉCNICAS + TUSDPERDAS NÃO TÉCNICAS + TUSDCCC + TUSDCDE + TUSDPROINFA TE – Tarifa de Energia Compra de Energia + Geração Própria + ITAIPU + ESS Formação da Receita do Distribuidor Receita do Serviço Consumidores cativos A2 A3 A4 TUSD TUSD FIO TUSD ENCARGO B1 B2 B3 Consumidores livres B4 A2 A3 A4 TUSD TE TUSD FIO TUSD ENCARGO TUSD – Tarifa de uso dos sistemas de distribuição TE – Tarifa de Energia (exclusiva para o consumidor cativo) Composição das tarifas (%) Geração Transmissão 31,77% 7,80% Distribuição 26,43% Encargos/Tributos 34,00% Composição da Receita (%) ITENS COMPOSIÇÃO % RECEITA NECESSÁRIA 100 PARCELA “A” 48,14 ENERGIA COMPRADA PARA REVENDA 32,29 ENCARGOS SETORIAIS 8,05 TRANSPORTE DE ENERGIA 7,80 PARCELA “B” 26,43 PIS/COFINS e ICMS 25,95 MODICIDADE 0,52 VIII – Considerações Finais Experiência no Brasil 61 empresas com contrato de concessão terão passado por processo de revisão tarifária ao final de 2005 56 já passaram pelo 1º processo de revisão tarifária periódica Estão sendo estudados aprimoramentos metodológicos para o segundo ciclo que inicia em 2007. Considerações Finais O regime de regulação por incentivos estimula as concessionárias de distribuição a buscar eficiência e redução de custos ao longo do primeiro período tarifário. Em face das abordagens adotadas pelo regulador na revisão tarifária, o reposicionamento tarifário e o Fator X obrigam-nas a prestar o serviço com eficiência para não incorrerem em prejuízos no segundo período tarifário; As abordagens adotadas pela ação regulatória podem afetar interesses setoriais específicos. Contemplar tais interesses foge ao escopo do regime regulatório, pois que constitui objetivo de políticas de governo; Considerações Finais Tais abordagens têm gerado algumas manifestações contrárias por parte de agentes no setor elétrico em diferentes instâncias; Alguns porque tinham expectativa de receber uma remuneração sobre o valor pago na privatização e ter cobertura tarifária sobre custos reais ou mesmo uma estrutura de capital incompatível com a prestação do serviço público de forma eficiente; Outros porque tinham expectativa de redução considerável das tarifas de energia elétrica. Considerações Finais Ao regulador compete cumprir as disposições da legislação e dos contratos de concessão e garantir de forma equilibrada os direitos dos consumidores e das concessionárias do serviço público de distribuição de energia elétrica. Agência Nacional de Energia Elétrica www.aneel.gov.br 0800-727-2010 Fone: (61) 2192-8803 [email protected] MUITO OBRIGADA