Conceder ou não conceder? Eis a questão! - Márcio Miranda A concessão faz parte do dia-a-dia, muito mais ainda quando falamos em negociação. Por ser função básica da natureza humana e ligada à sobrevivência, muitas pessoas sentemse mal quando abrem mão de algo, especialmente quando se trata de um bem material. Sem levar a defesa da tese para o lado religioso, mas aproveitando os ensinamentos da religião, a afirmação de que “É dando que se recebe” pode ser aceita e adotada como uma técnica de negociação. Tal como o jogador de xadrez, o negociador sabe que precisará sacrificar alguns peões para abrir caminho e chegar ao rei adversário. Por isso, o faz sem medo, sabendo que lá adiante conseguirá o seu intento. É por esse motivo que o processo de negociação pode ser definido como a arte de trocar. É exatamente nesse ponto que reside um dos mais importantes fundamentos da negociação — a concessão consciente. A elaboração da estratégia deve ser montada de forma a considerar a existência de “peões” que serão os primeiros a ser sacrificados, dependendo da evolução da negociação e da competência do oponente. Essas concessões serão usadas inicialmente, servindo de proteção ao objetivo maior. Existem dois “contínuos” que precisam ser bem entendidos — o da “Firmeza-Flexibilidade” e o da “Resistência-Concessão”. Quanto mais o negociador estiver preparado para utilizar esses Princípios, melhores serão os resultados. Estar preparado significa ser capaz de se ajustar a cada um dos pontos dos contínuos. Não existe uma fórmula que oriente a utilização dessas técnicas. A determinação do seu padrão de comportamento dependerá da forma como o oponente faz seu jogo e o direcionamento que dá às suas jogadas. Utilizando a minha experiência, vou tentar mostrar as consequências da utilização no momento adequado. Duas perguntas que me fazem nos cursos são — “Devo ser firme ou flexível”? “Devo ser duro ou conceder”? Você deverá ser firme e flexível, resistir e conceder, dependendo do momento e da situa- ção. Você deve estar perguntando — mas não existe uma orientação mais precisa? Não existe! Então, sem ser muito rígido, tente adotar as seguintes orientações. Continuo da Firmeza:Flexibilidade-Firmeza Inicie a negociação demonstrando Firmeza nos seus posicionamentos e decisões. Não dê sinal de que o desconto é 10, mas pode ser negociado. Na mente do cliente esse 10 já sobe para 15 ou 20. Comece a flexibilizar à medida em que o cliente demonstrar a mesma disposição. Tudo isso deverá seguir as metas definidas no seu planejamento - “Minimax”. Chegará o momento em que o oponente exigirá mais de você. Essa é a hora de agir novamente com Firmeza para não correr o risco do oponente consumir toda a sua gordura ou ainda mais. Continuo da Resistência: Concessão-Resistência Da mesma forma, no início da negociação você deverá ser resistente para absorver as investidas do oponente e se abrir para concessões ao longo da negociação, conforme a necessidade e exigência do oponente. Novamente você deverá ter o “Minimax” como referência. A resistência deverá voltar à cena um pouco antes de você ter concedido o desconto máximo previsto no seu planejamento. Como acabou de ver, Firmeza e Flexibilidade em um extremo e Resistência e Concessão no outro, são posturas que fazem parte do repertório do negociador. Um lado luta para obter concessão, o outro luta para não fazê-la. [email protected]