IV SãoPaulo, Paulo,123 123(150) (150) II ––São Diário Oficial Poder Executivo - Seção I terça-feira, 13 de agosto de 2013 É difícil classificar o cogumelo como vegetal, animal ou mineral. O melhor é tratá-lo como fungo, mesmo. No entanto, os produtores de Pinhalzinho, cidade vizinha a Bragança Paulista, não estão nenhum pouco interessados na polêmica. Há pouco mais de um ano, eles vendiam seu produto cozido e embalado em bombonas, como conserva, e hoje distribuem na forma in natura (fresco, cru) – e gostaram muito da mudança. FOTOS: PAULO CESAR DA SILVA Vegetal? Animal? Não, cogumelo Com a ajuda da Apta, agricultores da região de Pinhalzinho adquirem novas técnicas para a produção de cogumelos e ampliam sua renda Quem os assessorou no novo negócio foi a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), por intermédio do pesquisador Daniel Gomes, que resolveu inovar e fez uma série de reuniões com os plantadores para mostrar que poderiam também distribuir o cogumelo cru, pois havia mercado para esse tipo de produto. “No início, a maioria não acreditou, pois estava acostumada com a venda em conserva, sem ao menos saber que o fungo poderia ser comido cru, de várias maneiras – em salada, na maionese, na sopa, etc. ...”, lembra. Ele recorda que, na época, o plantio local de cogumelos estava também em declínio por causa da concorrência do similar chinês, muito mais barato. Sorvete de cogumelo – Grande parte dos produtores deixou o negócio. Gomes chegou, então, a convidar um gastrônomo (chef) do Sebrae para realizar um jantar especial tendo a famosa iguaria como principal ingrediente. “Havia receitas de todo jeito, até mesmo sorvete de cogumelo, para mostrar que o produto in natura propicia enorme variedade de pratos, além de realçar o sabor, porque em conserva fica mais difícil perceber o seu gosto”, observa. Inicialmente, poucos interessados aderiram à produção e comércio do in natura, mas os que aceitaram se deram bem, mesmo Maria da Penha tem dois galpões para plantio de cogumelos em sua propriedade, o que gera mais de 700 sacos por mês Com a palavra, o produtor Há um ano, Evandro Luiz Toricelli vende quase toda a sua produção na forma in natura. Ele consegue obter 500 sacos de cogumelos por mês, o que rende de 3 mil a 3,5 mil quilos a cada semana. O produto é vendido ao Ceagesp por R$ 9 o quilo ou pela metade, acondicionado em bandejas com 500 gramas. Ele é um dos integrantes do Grupo de Cogumelos In Natura de Pinhalzinho. Seu colega de associação, José Carlos de Oliveira, tem produção maior, quase o dobro por mês. Toda a sua família trabalha no corte, pesagem e embalagem. Ele ainda reserva 20% da produção ao cogumelo em conserva. Assim como seu amigo José Carlos, começou há pouco o plantio da variedade porto belo. “Por enquanto, apenas para conhecer o mercado”, diz. Maria da Penha Martins tem dois galpões para plantio em sua propriedade, o que rende mais de 700 sacos por mês. Ela, assim como os demais produtores, reclama da falta de mão de obra na cidade. “Quem mora no campo, em local isolado, não tem como arrumar gente para trabalhar por falta de condução. Ainda vou levar esse problema à nossa prefeitura”, lamenta. Uma de suas funcionárias é a jovem Maria Dalva Gomes da Silva. “Começamos ontem a colheita do segundo florão”, diz Dalva. A mão de obra é mais necessária na época do florão e o corte demora de dois a três dias. sem abandonar o tipo cozido em conserva. Daniel informa que, agora, mais ou menos 90% da produção da cidade é comercializada na forma crua, acondicionada em sacos ou em bandejas de meio quilo. O negócio se mostrou tão lucrativo que dez plantadores fundaram uma associação, o Grupo de Cogumelos In Natura de Pinhalzinho, que trata da venda e entrega do produto na Ceagesp, em São Paulo. Ele estima que existam 30 produtores na cidade e alguns na vizinha Monte Ale- gre do Sul, onde a Apta tem uma fazenda experimental, a Unidade Leste Paulista, onde ele trabalha. Mesmo assim, ressalva o pesquisador, o maior polo de cogumelos do Estado é a região de Mogi das Cruzes, onde são produzidos outros tipos de maior valor agregado, como o shimeji e o shitake. Mão de obra indispensável: Maria Dalva trabalhando na época do florão Guarda-chuva e guarda-sol – Em Pinhalzinho, o destaque é realmente o champinhom (Paris) e recentemente o porto belo, um primo do Paris, de cor amarelada e porte maior. Comparando os dois, o primeiro é um guarda-chuva e o outro, um guarda-sol. Gomes explica que o produtor compra o cogumelo em forma de culturas inoculadas em capim ou feno (o palheiro), dentro de um saco, e os guarda em estantes, no escuro, a uma temperatura de 25°C a 26°C por 15 dias, com uma cobertura de terra. Depois desse tempo, começam a nascer os cogumelos, um monte de pequenos chapéus branquinhos, como se fossem de algodão. A produtividade é fantástica. Cada saco gera centenas deles, por quatro vezes seguidas durante semanas. Cada processo de (re)nascimento é chamado de florão. “É uma atividade que exige muita mão de obra, para cortar os cogumelos, separar, embalar, etc.” Geralmente, o produtor trabalha em família. O palheiro restante é usado por agricultores que plantam verduras e legumes. “É um ótimo adubo orgânico, rico em nutrientes, pH alcalino e bom para corrigir o solo”, destaca Gomes. Entre as vantagens do consumo de cogumelo pelo ser humano, ele cita: pouco calórico, antioxidante, estimula o sistema imunológico, rico em fibras (bom para digestão), etc. Por ser um dos poucos especializados em cogumelo, Gomes está sempre em viagem, principalmente nas regiões de Mogi das Cruzes, Juquitiba, Jundiaí e Bragança Paulista. Otávio Nunes Da Agência Imprensa Oficial Evandro (produtor), Gomes (Apta) e José Carlos (produtor): aposta no cogumelo cru A IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO SA garante a autenticidade deste documento quando visualizado diretamente no portal www.imprensaoficial.com.br terça-feira, 13 de agosto de 2013 às 02:17:05.