AS ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS DE QUEM APRENDE E DE QUEM ENSINA1 The metacognitive strategies learners and teachers Evelise Maria Labatut Portilho RESUMO O presente artigo objetiva destacar a importância do “conhecer do próprio conhecer” na prática educativa, isto é, a relação que se estabelece entre aquele que aprende e aquele que ensina. Ao tomar consciência e adquirir controle sobre sua aprendizagem, acreditase que o aluno possa chegar a melhores e mais significativos resultados em seu trabalho acadêmico. E o professor, utilizando-se do ensino estratégico, ao conhecer a dinâmica das estratégias metacognitivas no contexto da atividade pedagógica, poderá eleger, com mais cuidado e responsabilidade ética, os conteúdos a serem trabalhados, observar os conhecimentos prévios, assim como variar seu estilo de ensinar conforme os estilos diferentes de aprendizagem de seus alunos. PALAVRAS-CHAVE: aprendizagem; estratégias de aprendizagem; metacognição; ensino estratégico. ABSTRACT This article aims to emphasise the importance of knowing the learning process in education, especially in the relation established between that who learns and that who teaches. It is believed that the student might achieve better and more meaningful results in his academic work when he becomes aware and responsible for his own learning. The teacher, on the other hand, by utilizing strategic teaching and by knowing the dynamics of metacognitive strategies in the context of the pedagogic activity the teaching context, will be able to choose the contents to be explored, to analyse those previously used and to vary her teaching approaches according to her students' different learning styles more carefully and with more ethical responsibility. Key Words: learn; strategies of learning; metacognition; strategic teaching. 1 Trabalho publicado no livro Aprendizagem. Tramas do conhecimento, do saber e da subjetividade. Petrópolis: Vozes. 2006, p. 47-59. METACOGNIÇÃO: CONHECER DO PRÓPRIO CONHECER O estudo sobre a metacognição parece estar ligado a própria existência do ser humano, e as palavras de Sócrates “conhece-te a ti mesmo”, vêm confirmar esta necessidade quando nos convidam a conhecer o seu significado. Hoje se fala muito que uma das metas do processo aprendizagem-ensino é estimular o aprendiz a ser autônomo, isto é, sujeito do seu próprio aprender. E logo vem a pergunta: isso pode ser ensinado? Com certeza, o ensino deve estimular a pessoa a parar, refletir sobre sua própria maneira de ser, pensar, agir e interagir, assim como também convidá-la, conscientemente, a mudar quando for necessário melhorar sua aprendizagem. Segundo essa perspectiva, o que é a metacognição? Quando se expressa um conhecimento sobre a realidade externa, como por exemplo ‘o cachorro é um mamífero’, está se expressando um conhecimento em si. Trata-se de um conhecimento denominado declarativo, resultante de uma informação previamente armazenada na memória. No entanto, quando o conteúdo do conhecimento se refere ao nosso mundo interior como, por exemplo, ‘eu gosto de cinema’, pode-se falar de metacognição, pois trata-se de um conhecimento procedimental sobre o próprio conhecimento, mesmo que esse seja obtido, como no primeiro caso, de uma informação previamente armazenada. O termo metacognição tem seu início, na literatura, no começo da década de setenta, sendo Flavell1, especialista em psicologia cognitiva infantil e um dos seus precursores. Foi quem o aplicou inicialmente à memória, estendendo seu estudo a outros processos mentais, como a linguagem e a comunicação, percepção e atenção, compreensão e solução de problemas, como confirma a sua definição. A metacognição se refere ao conhecimento que alguém tem sobre os próprios processos e produtos cognitivos ou qualquer outro assunto relacionado a eles, por exemplo, as propriedades da informação relevantes para a aprendizagem. Pratico a metacognição (metamemória, metaaprendizagem, metaatenção, metalinguagem, etc.) quando me dou conta de que tenho mais dificuldade em aprender A que B; quando compreendo que devo verificar pela segunda vez C antes de aceitá-lo como um fato... (1976, p. 232)2. Os pesquisadores Nickerson, Perkins e Smith3 ressaltaram que a metacognição é o conhecimento sobre o conhecimento e o saber, incluindo o conhecimento das capacidades e limitações dos processos do pensamento humano; do que se pode esperar que os seres humanos saibam em geral e das características da pessoa em si, em especial, de si mesma enquanto conhecedora e pensante. Esse conhecimento inclui a capacidade de planejar e regular o emprego eficaz dos próprios recursos cognitivos. Na perspectiva metacognitiva, ao realizar-se a reflexão da reflexão, faz-se referência à complexidade do pensamento humano que surge da reflexão sobre o conhecimento produzido. A esse respeito, Portilho e Tescarolo4 destacam que “quando temos consciência do que sabemos, pensamos e sentimos tornamo-nos virtualmente aptos a exercer controle sobre a nossa experiência, processo denominado metacognição”. Burón5, quando estuda a metacognição, também faz referência ao ‘conhecimento e regulação de nossas próprias cognições e nossos processos mentais’, o que denomina conhecimento auto-reflexivo, ou seja, o conhecimento da própria mente adquirido pela auto-observação. Este “volver-se sobre si mesmo” é o ponto chave desta teoria, que apesar de não ser nada nova, é pouco conhecida e pouco trabalhada no que tange ao processo de aprendizagem. Nos estudos de Mayor6, há uma definição sintética de metacognição - ‘cognição sobre a cognição’, considerando cognição ou conhecimento como o objeto da atividade metacognitiva. O grupo de pesquisa de Mayor e o trabalho de Portilho7 propõem um modelo de atividade cognitiva, que além de conter os dois componentes básicos presentes em todos os modelos apresentados, isto é, a consciência e a regulação ou controle, incorporam um outro componente que faz a articulação entre os dois, que é a chamada autopoiese. Esses três elementos serão utilizados neste estudo como sendo as estratégias metacognitivas. ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM O conceito de estratégias de aprendizagem está relacionado a um conjunto de operações mentais que requerem planificação e controle na hora de serem executadas. O fato do conceito de estratégias estar relacionado ao aspecto procedimental de nossos conhecimentos, leva-nos a considerar que uma seqüência de ações encaminhadas a conseguir uma determinada meta seria impensável sem a atuação de mecanismos reguladores. Nenhuma estratégia pode desenvolver-se sem um mínimo de planejamento, controle e avaliação, o que quer dizer que ao fazer referência sobre o conceito de estratégias, está se falando de uma atividade consciente e intencional por parte do sujeito, sobre o que e como ele encaminha os procedimentos apropriados para realizar uma determinada atividade. Carles Monereo Font e Montserrat Castelló Badia8 apresentam sua posição com relação às estratégias de aprendizagem, dizendo que elas são sempre conscientes, supõem uma resposta socialmente situada, têm um caráter específico e podem incluir diferentes procedimentos. Na prática, reforçam a idéia de que um estudante, para utilizar uma determinada estratégia de aprendizagem, tem que planejar, regular e avaliar suas ações. A aquisição das estratégias de aprendizagem tem lugar, desde as coordenadas construtivistas atuais, mediante um processo de interiorização muito próximo ao conceito vygotskyano de zona do desenvolvimento proximal, como lembra Flavell9, e quer dizer que o sujeito desenvolve o seu processo de aprendizagem baseando-se em estratégias cada vez mais específicas conforme a tarefa que está realizando. Seguindo a ordem estabelecida por Flavell, pode-se afirmar que o uso de uma estratégia requer que o aprendiz seja jogador antes de ser treinador, deve aplicar e praticar uma técnica para refletir sobre ela e adquirir um controle crescente sobre seu uso. Mateos10 ao fazer uma diferenciação entre aqueles que obtêm ou não sucesso em suas atividades, reforça a importância de incentivarmos o trabalho direcionado à metacognição. Os aprendizes mais competentes planejam as estratégias que consideram mais adequadas para alcançar as metas desejadas, partindo do conhecimento que possuem sobre seus próprios recursos para aprender, as demandas da tarefa e a efetividade das estratégias alternativas, dando-se conta de quando não estão aprendendo e buscando soluções para superar as dificuldades detectadas, e avaliando os resultados de seus esforços. Ao contrário, os aprendizes menos competentes, raramente planejam e avaliam sua própria aprendizagem para poder ajustá-la às demandas da tarefa e conseguir, assim, um rendimento mais satisfatório (p. 71). Sendo assim, quando nos referimos a tomada de consciência e controle de nossas possibilidades cognitivas, seu planejamento e avaliação, visando a uma aprendizagem significativa e transformadora e, consequentemente, a um ensino, antes de tudo, voltado à qualidade de quê e de como o aluno aprende, está se falando de metacognição. ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS Ao falar de metacognição, é oportuno que se volte ao significado de avaliação, ou melhor, de auto-avaliação. No exercício metacognitivo, Grégoire11 escreve sobre avaliação da aprendizagem, em especial sobre avaliação formativa, baseada no aporte das ciências cognitivas, e destaca a auto-avaliação como um elemento muito estudado nos últimos anos, que parece persistir, e até resistir, a todas as outras teorias. Ao se colocar de forma paralela os dois conceitos – metacognição e auto-avaliação – está se destacando em ambos, o ‘saber que se sabe fazer’ ou o ‘saber que não se sabe fazer’. Grégoire aponta essa atividade como sendo o avaliar com justiça. Por outro lado, esse autor afirma que a metacognição parece cada vez mais suscetível de ser “educável” ou “pedagogizável”, além do desenvolvimento próprio da idade. “... a metacognição já se apresenta como um centro de interesse tanto para a pesquisa dos próximos anos como para a prática pedagógica (p. 168)”. A possibilidade do sujeito para elaborar suas próprias ações de regulação é, sem dúvida, a apropriação mais significativa do conhecimento. Com vistas a uma aprendizagem mais consciente, controlada, reflexiva e transformadora, voltamos à proposta do grupo de Mayor, na qual se encontram as três estratégias metacognitivas – consciência, controle e autopoiese. de Consciência – a tomada de consciência implica toda a atividade Recursividade C1. Estratégia Intencionalidade Introspecção e Feedback Ação AutoControle O verbalização Níveispassa de dirigida aosexecutivo A controle Dialética metacognitiva que desde diferentes níveis de consciência e de intencionalidade consciência N metas U C T vão da até aI introspecção. Os níveis de consciência com suas diferentes funções O Ê P consciência vaga ou meramente funcional à consciência reflexiva ou penetrante. N O C I um IA Psicologia Cognitiva admite que o sistema cognitivo não é meramente E A organismo mecânico, mas que o ser humano é capaz de adquirir consciência S de si E mesmo, de regular sua própria atividade e refletir sobre suas próprias produções. Amparo Moreno, apud Pozo12, distingue três sentidos para o termo consciência: um sistema de atenção de capacidade limitada, um sistema de controle e regulação do funcionamento cognitivo e um sistema de reflexão ou metaconhecimento sobre os próprios processos e produtos do sistema cognitivo. Ao se tratar da atenção, somente pode-se designar recursos cognitivos a uma pequena parte dos estímulos ambientais, ou seja, quando alguém está realizando uma determinada tarefa, a capacidade de atenção para outras atividades se reduz, porque a quantidade de elementos de informação que se pode manter simultaneamente ativos é muito reduzida. Os aprendizes, de maneira geral, poderiam obter um melhor resultado em suas atividades se distribuíssem, melhor, seus limitados recursos, enfocando sua atenção àqueles aspectos mais relevantes e que podem ajudá-los a adquirir, mais adiante, outros conhecimentos. Esta limitação na capacidade de atenção é uma das características que mais influi nas dificuldades de aprendizagem, ainda que nada impeça a versatilidade que o ser humano tem para aprender. Um outro sentido dado para a consciência é o controle ou a regulação dos próprios processos cognitivos. O próprio Pozo recorda que nenhuma conduta humana complexa poderia acontecer com eficiência se alguns de seus componentes já não estivessem automatizados como conseqüência da aprendizagem, como é o caso da produção e compreensão de um texto, do dirigir ou cozinhar. O objetivo deste tipo de consciência é saber como se exerce esse controle e como se pode aprender a fazê-lo melhor. Isto se refere ao aspecto procedimental da consciência, que implica aprender a realizar certas tarefas com os próprios recursos cognitivos de maneira estratégica para atingir as metas determinadas. O terceiro sentido para a consciência é a reflexão sobre os próprios processos de memória e atenção, assim como sobre os resultados de nosso processamento, o que nos ajuda a tomar consciência sobre o dinamismo do nosso sistema cognitivo. A reflexão supõe que a pessoa, além de falar do novo conhecimento, saiba como empregá-lo, isto é, tenha intencionalidade. “E não é casual que a mente humana, o único sistema capaz de se autoprogramar, de refletir sobre si mesmo, seja a máquina de aprender mais potente que se conhece não só pelo ótimo uso que faz de seus recursos limitados, (...) como também porque pode aprender de uma forma mais controlada e reflexiva que o resto dos sistemas que conhecemos12 (p. 159)”. 2. Estratégia de Controle – qualquer atividade, mesmo que realizada de maneira automática, conserva ou até mesmo exige certo grau de regulação ou controle cognitivo. A automatização não pode levar a perda do controle, pelo contrário, devemos exercer um controle em um nível mais elevado. Quando aprendemos a dirigir, passamos por várias etapas e mesmo quando temos muitas funções já automatizadas, sabemos que teremos sempre que ativar a estratégia de controle, para nos adaptar às novas circunstâncias ou surpresas. Ao falarmos de controle estamos nos referindo à ação dirigida a metas, ou seja, o sujeito que aprende é o responsável pela seleção das estratégias a serem utilizadas para que o objetivo proposto se realize. O controle executivo é o próprio controle ou supervisão da atividade cognitiva no curso da tarefa e a regulação de tal atividade. O autocontrole é o uso das estratégias que a pessoa utiliza com o propósito de otimizar sua aprendizagem. A estratégia metacognitiva de controle ou regulação é o que ajuda o estudante a conhecer seu estilo predominante de aprendizagem, porque, do contrário, pouco se pode fazer se o aluno não assumir a responsabilidade de regular a aquisição do conhecimento e o desenvolvimento de suas habilidades. O conceito de auto-regulação também foi estudado, durante o início da perspectiva cognitivo-social, por Bandura13 e seu grupo de trabalho, que a concebiam como um ganho do processo de socialização e como a capacidade para controlar as próprias ações. Estes autores afirmam que a auto-regulação é um tipo de aprendizagem progressiva na qual a pessoa adquire a capacidade para reproduzir, cada vez com mais autonomia e sem a necessidade de estar presente, as condutas observadas em um modelo. É um processo que começa fora, é externo e, portanto, está controlado num primeiro momento por forças físicas e sociais; posteriormente passa a ser interno, pois o sujeito o dirige e o centra nas reflexões sobre seu próprio pensamento. Vygotsky14 reconheceu a importância da auto-regulação identificando-a como a segunda fase no desenvolvimento do conhecimento. Quando o sujeito adquire o conhecimento e resolve o problema de uma maneira automática indica que está na primeira fase; já na segunda fase, as ações são conscientes e dirigidas a uma meta; o sujeito que aprende emprega estratégias para lembrar e usar o que necessita para resolver problemas, o que lhe proporciona um maior controle sobre seu crescimento cognitivo. A metacognição ou o conhecimento do próprio funcionamento cognitivo possibilita que as pessoas auto-reguladoras se planejem e se organizem antes de iniciar uma atividade; que realizem os ajustes necessários durante a atividade, monitorando cada passo a ser dado; e que avaliem a si mesmos, a tarefa e a estratégia adotada, nas revisões que fazem depois de finalizar as diferentes etapas da aprendizagem (Flavell, 1971; Brown, 1987). É possível observar que a auto-regulação é um processo gradual, muito ativo e prático, interno e com uma projeção externa, mais consciente e intencional que inconsciente ou automática, cheia de juízos e adaptações, que dirige o pensamento e a conduta, evitando que as ações da pessoa que aprende estejam dominadas pela impulsividade cognitiva ou motora, assim como por uma execução claramente dependente. Este sistema de controle da ação baseado no metaconhecimento cumpre, de acordo com Brown15 e como é lembrado por Moreno16, as seguintes funções quando a pessoa aprende: prediz as limitações na capacidade do sistema de controle, sendo consciente de seu repertório de rotinas heurísticas e seu campo apropriado de utilidade; identifica e caracteriza o problema que trata; planifica e organiza temporariamente as estratégias apropriadas de solução de problemas; controla e supervisiona a eficácia das rotinas empregadas; avalia essas operações frente a um possível êxito ou fracasso com o fim de dar por terminadas as atividades quando se faz necessário. 3. Estratégia de Autopoiese – esta terceira estratégia metacognitiva proposta por Mayor, oriunda da palavra grega “auto-poiein”, tem como significado o autofazer-se, a produção de si mesmo ou a auto-organização de um sistema orgânico. Baseando-se nos estudos de Maturana e Varela17, Mayor explica que os seres vivos, literalmente se constroem eles mesmos, estrutural e funcionalmente, em decorrência de seletivas transações informais, materiais e energéticas com o seu ambiente, e por meio de processos construtivos internos. Um dos subsistemas que maior capacidade autoconstrutiva tem é, precisamente, o subsistema cognitivo, graças a seu mecanismo metacognitivo. Esta estratégia metacognitiva é composta de três subcomponentes: o primeiro é a análise e a síntese, duas categorias fundamentais da dialética que estão centradas na resolução da antinomia entre a dualidade e a unidade. O segundo subcomponente consiste na recursividade, que permite a incrustação progressiva e sistemática da metacognição no curso da cognição. E o terceiro sub-componente da autopoiese é o processo de retro-alimentação ou feedback, que implica em adaptação, autoaprendizagem e auto-organização, permitindo a metacognição alimentar-se a partir dos efeitos que produz no próprio ambiente, em um movimento circular e aberto, uma síntese entre a autogeneração e a interação com o mundo. Isso nos leva a concluir que a metacognição vem sendo aplicada tanto na tomada de consciência do conhecimento que a pessoa tem sobre suas possibilidades e limitações (diferentes níveis de consciência), como no controle da própria atividade cognitiva, com o fim de melhorá-la. E Mayor6, citando Bruner, amplia estas dimensões incluindo a autopoiese, porque acredita que graças a ela a atividade metacognitiva, não somente é consciente de si mesma e controla a si mesma como também vai além da consciência e do controle, construindo-se a si mesma (p. 59). Flavell18 quando estrutura o metaconhecimento ou o conhecimento metacognitivo, com relação à consciência metacognitiva, refere-se ao conhecimento que adquirimos sobre as variáveis que caracterizam a natureza da pessoa (seus recursos cognitivos), as diferentes tarefas cognitivas e as possíveis estratégias que podem ser aplicadas para a solução das diversas atividades, considerando os conhecimentos que as pessoas possuem para executar uma série de ações com a finalidade de resolver uma tarefa. O controle metacognitivo, de acordo com a maioria das propostas descritas na literatura, inclui os processos de planejamento das estratégias mais adequadas na hora da resolução de um problema, da supervisão ou regulação do uso que a pessoa faz destas estratégias para atingir as metas estabelecidas e a avaliação dos resultados que obteve. E a autopoiese aparece como o movimento de articulação entre a consciência e o controle, possibilitando um novo momento na atividade metacognitiva – o da transformação, reconstrução ou ressignificação. O ENSINO ESTRATÉGICO Na estratégia metacognitiva denominada consciência, Mateos10 explica a primeira avaliação AUTOPOIESE tarefa supervisão CONSCIÊNCIA CONTROLE estratégias planejamento das variáveis, o conhecimento queMETACOGNIÇÃO a pessoa tem de si mesma como aprendente e pessoa pessoa pensante. É importante saber que para acontecer uma mudança cognitiva é necessário que a pessoa realize um movimento e um esforço mental deliberado para que possa obter melhores resultados na sua aprendizagem. Com certeza, isto não é nada fácil de praticar, uma vez que não nos é ensinado a voltar os olhos ao interior de nós mesmos. Talvez seja por isso que adotar a auto-avaliação como instrumento sistemático no processo de ensino formal, tenha sido, sempre, muito difícil. Outra situação que pode e deve ser ensinada pelos professores desde muito cedo, é com relação ao metaconhecimento e a amplitude da memória. O aprendiz que confia demasiadamente em seu poder de memória, pode ser que não dedique o tempo suficiente para compreender e memorizar melhor a informação ou não se preocupe em trabalhar em um ambiente que contribua para sua concentração na hora de estudar. Uma característica diferente do metaconhecimento da pessoa se refere ao aspecto afetivo, isto é, a valorização que a pessoa tem de si mesma. Moreno16, citando as pesquisas de Schmeck, comprova que quanto mais auto-estima o sujeito possuir, mais elaboradas serão as estratégias e os estilos que utilizará para aprender. Mateos10 ressalta as pesquisas realizadas com crianças de cinco e seis anos que geralmente tendem a supervalorizar suas capacidades e seu rendimento, porque acreditam que nunca esquecem nada, enquanto que as crianças de nove e onze anos são mais realistas e reconhecem que uns se recordam com mais facilidade das coisas, enquanto outros lembram com menos facilidade. Ao conhecer-se cada vez um pouco mais, a pessoa abre possibilidades de analisar as exigências próprias da tarefa e relaciona-as com a realidade que se apresenta. Pode refletir sobre a informação, averiguar o objetivo da atividade que tem a realizar, observar o que existe de novidade e familiar, e detectar os níveis de dificuldade, tornando-se assim autônoma diante de suas aprendizagens. Com relação ao conhecimento metacognitivo da atividade que se tem a realizar, aquele que se tem sobre os seus objetivos e as suas características, o importante encontra-se na possibilidade de se escolher a estratégia mais adequada a adotar. Por exemplo, as crianças com aproximadamente seis anos, começam a ter uma compreensão mais ampla sobre os fatores que afetam a memória, como a quantidade de matéria a lembrar, o barulho ou o tempo a ser dedicado ao estudo. No entanto, estas mesmas crianças não são conscientes de que as tarefas de reconhecimento são mais fáceis que as de memória. É a partir dos nove ou dez anos que as crianças começam a reconhecer, ou seja, é quando percebem que é mais fácil lembrar uma lista de palavras colocadas em categorias do que uma lista desordenada de palavras. Para que a aprendizagem aconteça é importante que o professor auxilie o aluno a ativar sua atenção, lembrando que a manutenção dela depende do próprio êxito das atividades de aprendizagem. Uma aprendizagem significativa pede que o sujeito que quer aprender processe, ativamente e de forma relevante, o material de aprendizagem. Desta forma, ao apresentar materiais interessantes na sua forma e conteúdo e selecionando as informações mais relevantes, o professor estará atraindo a atenção dos alunos, ativando neles a motivação, requisito para a atenção. A apresentação de algo novo ou discrepante sempre será bem recebida, principalmente porque rompe com a rotina e a monotonia didática. Moreno16 reforça a idéia de que o professor não deve esperar que seus alunos compreendam os propósitos da tarefa fazendo exercícios metacognitivos, mas que, de forma mais simples, o mesmo professor explicite o que pretende. No início de cada atividade ou disciplina, o professor poderá apresentar um quadro ou esquema sobre os propósitos de sua matéria e informar aos alunos sobre sua maneira de trabalhar, ou seja, explicitar seu estilo de ensinar, de modo que eles não se percam ou sintam-se desorientados. No que se refere ao conhecimento estratégico, a variável que requer que a pessoa aprenda a escolher qual o conjunto de estratégias melhor para realizar uma atividade e como deve aplicá-las, os estudos indicam que, com a idade, este conhecimento vai se aprimorando. As pesquisas de Schneider e Pressley, apud Mateos10, afirmam que as crianças em idade pré-escolar possuem um conhecimento, mesmo que elementar, das estratégias de memória, principalmente as relativas à vida cotidiana. Conforme a idade vai avançando, percebe-se que as crianças vão conhecendo um número maior de estratégias, sendo assim mais eficientes em suas atividades. Ainda que com doze anos, muitas crianças ou pré-adolescentes não parecem ser conscientes com relação à diversificação das estratégias a serem utilizadas conforme a atividade a ser desenvolvida. Estas informações parecem anunciar a necessidade de instigarmos as crianças, desde muito cedo, a refletirem sobre situações reais da vida, porque mesmo os menores já possuem um certo grau de conhecimento sobre o assunto. É importante salientar que ao avaliarmos a nossa própria atividade metacognitiva, seja com a idade que for, dificilmente abandonamos nossas emoções, como a dúvida, a ansiedade, os medos, a confiança ou o orgulho. O que em hipótese alguma pode ser desconsiderado, uma vez que o conjunto de crenças e autopercepções, o próprio conhecimento tácito que temos e colocamos em jogo na hora de elegermos as melhores estratégias metacognitivas a utilizar, são também necessários para uma aprendizagem de melhor qualidade. Portanto, para que os alunos desenvolvam estratégias metacognitivas é importante que os professores sejam estratégicos, isto é, que percebam e ajam para além do ser ensinante. Como ensinantes são também aprendentes e, conseqüentemente, é necessário que transformem o ensino a partir de exigências diferentes com relação à aprendizagem a que se esteve acostumado por muito tempo. Essas exigências apresentam algumas características, que segundo Ontoria19 fazem diferença no ensino estratégico: • o processo de aprendizagem deve estar centrado na compreensão e não apenas na aquisição de informação e conteúdos, promovendo o aprender a aprender; • deve-se potencializar a aprendizagem a partir da valorização do pensamento autônomo, criativo e divergente, favorecendo a reflexão e o sentido crítico diante das diferentes informações; • implica a flexibilidade no processo aprendizagem-ensino, priorizando relações mais humanas e pessoais, onde a pluralidade de estilos de ensinar favoreçam os diferentes estilos de aprender; • a pessoa deve ser a base para a aprendizagem, conseqüentemente o ensino e o ambiente escolar devem estar voltados para a valorização de cada estudante, sem rótulos e discriminações. Essas características, apontadas por Ontorria, em hipótese alguma devem ser entendidas como oriundas de um pensamento pragmatista, utilitarista ou funcionalista. Pelo contrário, nosso apelo é justamente outro. Não basta obter o conhecimento cognitivo sobre algo. É necessário e urgente, segundo as palavras de O’Sullivan20 “desenvolver uma postura interior que permite profunda compreensão relacional de tudo o que podemos experimentar dentro e fora de nós”. O convite em conhecer melhor o nosso conhecimento, em se volver sobre si mesmo e se questionar, deve levar-nos a uma reflexividade social, isto é, a um compromisso no cuidado com o outro e no sentimento de confiança nas pessoas e nas instituições humanas. REFERÊNCIAS 1. Flavell, JH. First discussant’s comments: What is memory development the the development of? Human Development, 14, 272-278, 1971. 2. Flavell, JH. Metacognitive aspects of problem solving. In LB Resnick (ed.), The nature of intelligence, p. 231-235. Hillsdale, N.J.: Erlbaum, 1976. 3. Nickerson, R., Perkins, D., Smith, E. Enseñar a Pensar. Madrid: Paidós, 1994. 4. Portilho EML, Tescarolo R. Metacognição e Ética Planetária. 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