CASO CLÍNICO: Tetralogia de Fallot Escola Superior de Ciências da Saúde/SES/DF Curso de Medicina Internato em Pediatria – HRAS - 2012 Apresentação: Marcello Eduardo Campelo Coordenação: Sueli R.Falcão Brasília, 28/4/2012 www.paulomargotto.com.br Caso clínico • Identificação: 2 anos e 2 meses, DN 24/12/2009, natural de Samambaia-DF, procedente da Asa Norte (DF). Informações obtidas da mãe com dificuldades • Q.P.: “Cansaço e falta de ar desde que nasceu.” Caso clínico • HDA (em 29/03): Mãe acompanhante relata que a criança apresenta quadro de cansaço desde que nasceu, precipitado durante os períodos de mamada, e que melhorava depois que parava de se amamentar. Aos 6 meses, foi diagnosticado sopro cardíaco durante consulta de rotina com pediatra. Aos 7 meses, durante consulta ambulatorial, constatou-se oximetria em níveis muito baixos, acompanhada de hematêmese, dispneia e cianose, sendo então encaminhada para o setor de internação do INCOR, onde foi realizada, no dia seguinte, cirurgia cardíaca paliativa. Há 9 meses, foi internada por cianose de extremidades, obtendo boa recuperação. Permaneceu assintomática desde então. Há 11 dias, relata início de quadro de tosse produtiva, associada a hematêmese, epistaxe, melena e dispneia. Há 9 dias, foi internada nesta unidade, onde evoluiu com 2 episódios convulsivos, sendo a primeira marcada por movimentos de difícil caracterização, em paciente desacordada, em dimídio direito, com paralisia facial à direita e diminuição da força muscular do mesmo lado, além de sinal de Babinski à direita, associada a um pico febril de 38,9°C, dispneia e taquicardia. A segunda crise convulsiva teve duração de 5 minutos, caracterizada por movimentos tônico-clônicos de MMSS e MMII, melhorando com uso de diazepam. Após a crise, iniciou novo episódio de hemoptise, epistaxe e melena, além de cianose de extremidades e perioral. Apresentou também à internação dispneia, que melhorava com uso de oxigenioterapia sob CN. Nega dor abdominal, constipação intestinal, alterações urinárias, coriza, obstrução nasal. Caso clínico • Antecedentes pessoais fisiológicos: – Nasceu de parto normal, a termo. Sem intercorrências. – PN iniciado no 3º trimestre. Realizou apenas 4 consultas de pré-natal, nega intercorrências. – Refere uso de ATB durante gestação para tratar furunculose (cefalexina) e corrimento vaginal (não se recorda), mas não se lembra em que período gestacional. Teve boa recuperação. – Nega tabagismo e etilismo na gestação. – Não realizou sorologias na gestação, mas sim após parto (HIV e sífilis, ambas NR). – G2Pn1Pc1A0. – IG: 37 semanas + 6 dias. – Chorou ao nascer. – Apgar 9, 10. – Peso ao nascer 2620 g, estatura ao nascer 48 cm, PC ao nascer 33 cm. – Marcos do desenvolvimento (lembrados pela mãe): sustentou o pescoço aos 5 meses, sentou com apoio aos 5 meses, sentou sem apoio aos 7 meses, engatinhou aos 10 meses, deambulou com 1 ano, falou com 2 anos. – Não possui ainda controle esfincteriano. – Vacinação completa. – Teste do pezinho realizado, normal. – Ortolani (-). Caso clínico • Antecedentes pessoais patológicos: – Nega doenças de infância: sarampo, varicela, caxumba, coqueluche, difteria, rubéola, asma, bronquite. Teve PNM após cirurgia, abaixo citada, com boa recuperação. – Internações prévias: • (1) Por cirurgia cardíaca, com duração de 29 dias, em agosto de 2010, no INCOR. Permaneceu na UTI após cirurgia, por ter contraído PNM, onde foi tratada. • (2) Por cianose de extremidades, com duração de 14 dias, em junho de 2011, no HRAN. – – – – Cirurgia prévia: cardíaca, em agosto de 2010. Nega traumas prévios. Nega alergias alimentares e medicamentosas. Transfusões sanguíneas: durante cirurgia cardíaca. Caso clínico • Antecedentes familiares: – Mãe, hígida, alérgica à penicilina. – Pai e tio materno: sopro cardíaco. – Nega doenças hematológicas. • Hábitos de vida: – Aleitamento materno exclusivo até os 6 meses. – Alimentação atual: • Café-da-manhã: leite oferecido na mamadeira (mucilon ou farinha láctea ou Ovomaltine). • Lanche da manhã: oferecido pela creche. • Almoço: oferecido pela creche. • Jantar: arroz, feijão, carne, verdura, legume OU sopa. • Ceia: leite oferecido na mamadeira (mucilon ou farinha láctea ou Ovomaltine) + fruta. – -Mora com a mãe na casa dos patrões, com 09 cômodos, com 06 pessoas, saneamento completo. – Nega tabagismo familiar. – Nega animais domésticos. – Padrão habitual de sono. Caso clínico • Exame físico de admissão hospitalar (em 20/03/2012): – REG, hipocorada++/4+, hidratada, cianose de extremidades e perioral, anictérica, irritada ao exame. – AR: MV rude, com roncos. FR: 42 irpm com tiragem subcostal, retração de fúrcula leve, Sat O2 em ar ambiente 74% e com O2 sob CN 2L/min 90%. – ACV: RCR, 2T, presença de sopro sistólico 3+/6+, FC: 98bpm. – Abdome: normotenso, sem VMG, RHA (+). – Extremidades: Bem perfundidas, sem edemas, petéquias ou equimoses. Caso clínico • Exame físico em 29/03/2012: – Paciente em BEG, anictérica, acianótica, hipocorada 1+/4+, hidratada, ativa, reativa, dispneica leve. – Sinais vitais: FC 122 bpm, FR 39 rpm (Sat O2 89% em ar ambiente), T°C 36,3. – Linfonodos: ausência de gânglios palpáveis. – Boca e cavidade bucal: ausência de lesões. Palato íntegro, sem alterações. Orofaringe sem exsudatos, inflamação ou presença de pus. – ACV: Ausência de abaulamento precordial. Ictus cordis com localização, intensidade e ritmo normais. Ausência de turgência jugular. RCR, BNF, 2T, sopro sistólico em foco mitral 3+/6+. Pulsos periféricos palpáveis e simétricos. – AR: Tórax sem abaulamentos e retrações. Presença de tiragem em fúrcula moderada e intercostal leve, sem batimento de asa de nariz. Expansibilidade pulmonar preservada. MV rude, sem RA. – Abdome: Plano, flácido, normotenso. Ausência de abaulamentos e retrações, herniações, nodulações, tumorações. RHA (+). Traube livre. Fígado a 3 cm do RCD. Baço impalpável. Ausência de VMG. Ausência de sensibilidade dolorosa à palpação superficial e profunda. – Extremidades: Ausência de edema e bem perfundidas. Presença de baqueteamento digital com cianose habitual. Tempo de enchimento capilar normal. Caso clínico 20/03 Hemácias Hemoglobina Hematócrito VCM HCM CHCM RDW Leucócitos Segmentados Bastonetes Eosinófilos Basófilos Monócitos Linfócitos Plaquetas VHS 28/03 Valor de referência 5,06 x 106/µl 13,8 g/dl 40,6% 80,2 fl 27,3 pg 34,0 g/dl 15,3% 15800/µl 79,0% 0,0% 0,0% 0,0% 5,0% 16,0% 22/03 HEMOGRAMA 4,36 x 106/µl 12,0 g/dl 35,4% 81,2 fl 27,5 pg 33,9 g/dl 16,1% 12000/µl 77,0% 0,0% 0,0% 0,0% 7,0% 16,0% 4,83 x 106/µl 14,2 g/dl 41,5% 85,9 fl 29,4 pg 34,2 g/dl 15,5% 12400/µl 46,0% 0,0% 1,0% 0,0% 3,0% 50,0% 4,20 – 5.50 11,5 – 14,0 28,0 – 40,0 75,0 – 80,0 28,0 – 30,0 33,0 – 37,0 12,0 – 17,0 6500 – 18000 25,0 – 40,0 0,0 – 5,0 1,0 – 5,0 0,0 – 3,0 2,0 – 10,0 50,0 – 80,0 265000/µl 10 mm/h 228000/µl Material 155000/µl - 150000 - 450000 0-20 Caso clínico Glicemia Amilase Proteína total Albumina Globulina Relação albumina/globulina Bilirrubina total Bilirrubina direta Bilirrubina indireta Cálcio Cloreto Magnésio Potássio Sódio Tempo de coagulação Tempo de sangramento Prova do laço Retração do coágulo TAP TTPa 20/03 22/03 28/03 Valor de referência 52 UI/l 6.6 g/dl 4,1 g/dl 2,5 g/dl 1,6 g/dl BIOQUÍMICA E ELETRÓLITOS 82 mg/dl - - 70 - 99 0 - 125 6,0 – 8,0 3,5 – 5,5 1,4 – 3,2 1,4 – 2,2 - 0,00 - 1,00 0,00 – 0,20 0,20 – 0,80 8,4 – 10,5 98 - 109 1,9 – 2,5 3,6 – 5,0 135,0 – 148,0 - 4 - 10 1 -5 Negativa Completa > 70 16,0 – 40,0 0,13 mg/dl 0,08 mg/dl 0,05 mg/dl - 8 min 2 min Não realizada Parcialmente retrátil 16,6 s (70,3%) 29,8 s 9,0 mg/dl 98 mg/dl 1,5 mg/dl 4,51 mg/dl 134 mg/dl COAGULOGRAMA 7 min 1 min e 30 s Negativa Incompleta - Caso clínico • RX de tórax em 23/03/2012 Caso clínico • Endoscopia digestiva alta (EDA) em 21/03/2012: – Paciente foi submetida a EDA no HBDF, sem intercorrências. – "Introdução do aparelho sob visão direta sem intercorrências. Nota-se presença de sangramento proveniente de laringe. – ESÔFAGO: Curso e calibre preservados. Mucosa era íntegra. Junção mucosa esôfago-gástrica coincidindo com o pinçamento diafragmático. Não havia hérnia de hiato. – ESTÔMAGO: conteúdo líquido do estômago espesso com secreção mucóide amarronzada. Mucosa do corpo e do antro macroscopicamente normal. Realizada manobra de retroversão que evidenciou mucosa de fundo gástrico macroscopicamente normal. Cárdia fechada. Piloro regular e pérvio. – DUODENO: bulbo de configuração anatômica e mucosa macroscopicamente normal até a segunda porção. – CONCLUSÃO: Exame normal. – Obs: provavelmente está ocorrendo deglutição de sangue proveniente da via aérea." Caso clínico • Rx de tórax em 23/03: – Cardiomegalia, com trama peri-hilar aumentada, sugestivo de aumento do VD. • Avaliação da fonoaudiologia em 24/03/2012: – Paciente apresenta aceitação parcial da dieta oral. Fica um pouco cansada durante a ingesta com queda da SpO2 (aceitável até o momento).Se alimenta de forma fracionada ao longo do dia, porém come bem. Apresenta dinâmica da deglutição efetiva sem sinais aparentes de broncoaspiração durante a ingesta. – CD: Acompanhamento. • Cultura de Swab retal, colhido na admissão da UTIP em 23/03/2012: – Resultado: NEGATIVO. Caso clínico • Broncoscopia em 27/03/2012: – Realizada laringotraqueoscopia flexível por acesso transnasal e através do TOT nº4,5 , com a criança sob anestesia geral em centro cirúrgico. Achados: – Mucosa nasal congesta, hiperemia e sangrante ao toque do aparelho. Fossas nasais pérvias. – Laringe com aspecto normal. – Traquéia com revestimento mucoso de aspecto habitual. – Carena principal centrada e com aspecto normal. – Árvore brônquica direita e esquerda sem alterações. – Não foi observado sinais de sangramento em via aérea inferior. • TC de crânio em 27/03/2012: – – – – – – – – – Exame realizado sem e com injeção intravenosa de contraste. O parênquima cerebral tem densidade preservada. Não foram observadas coleções intra ou extra-axiais. Não há desvio das estruturas da linha média. Sistema ventricular e espaço subaracnóide com dimensões normais para a faixa etária. Não foram observadas calcificações patológicas. Não há sinais de realce anômalo pelo meio de contraste. Conclusão: Exame normal. Obs: Velamento dos seios maxilares e etmoidais bilateralmente. Caso clínico • Ecocardiograma transtorácico com Doppler colorido em 31/08/2010: – – – – – – – – – – – – Situs solitus com levocardia. Concordância veno-atrial e AV. Via de saída única aórtica (atresia pulmonar). FO pérvio medindo 4 mm com shunt direita-esquerda. Valva tricúspide com folhetos redundantes e regurgitação de grau discreto. Presença de CIV subaórtica medindo 11 mm com shunt bidirecional não restritiva. CIV muscular medindo 1,7 mm. Aorta cavalga o septo em 50%. VD hipertrófico e dilatado. VE com boa função sistólica. Shunt sistêmico-pulmonar do tronco braquiocefálico direito para artéria pulmonar direita com fluxo contínuo, sendo gradiente sistêmico máximo de 54 mmHg e diastólico de 9 mmHg. Ampliação da artéria pulmonar esquerda que mede 6 mm e a artéria pulmonar direita mede 8 mm. Arco aórtico desce à esquerda, sem obstruções. Fluxo sistólico em aorta descendente com VTI anterógrado de 12 cm e fluxo reverso de 6,4 cm. Ausência de derrame pericárdico. Caso clínico • Alta médica em 29/03/2012: – – – – – Orientações. Relatório médico de alta. Receita de sulfato ferroso 4mg/kg/dia e SF nasal. Continuar acompanhamento no INCOR (consulta marcada no dia 26/04/12). Regulado ecocardiograma para avaliar fluxo pelo Blalock (pedido de regulação com a mãe). Orientada a procurar avaliação ambulatorial de otorrinolaringologista para avaliar epistaxe. • Hipótese diagnóstica: – Cardiopatia congênita cianótica (CIV e colaterais sistêmico-pulmonares + atresia pulmonar – correção cirúrgica 1º tempo-Blalock Taussing à direita + ampliação da artéria pulmonar direita aos 7 meses de idade). – Hematêmese e epistaxe (HDA) a/e. – Coagulopatia/distúrbio de coagulação? – AIT? Hipóxia cerebral? – AVC? – Abscesso cerebral. – Epistaxe resolvida, lesão em laringe? (com hematêmese e melena por sangue deglutido). TETRALOGIA DE FALLOT Tetralogia de Fallot • Cardiopatia congênita mais frequente em crianças > 1 ano. – 10% de todas as cardiopatias congênitas. – 50% das cardiopatias cianóticas. • Conhecida por Étienne-Louis Arthur Fallot (1888). Tetralogia de Fallot • (1) Estenose da via de saída do VD (infunbibular) com hipoplasia. • (2) CIV. • (3) Dextraposição e aorta aumentada de calibre. • (4) Hipertrofia do VD. Brickner M et al. N Engl J Med 2000;342:334-342 Quanto ↑ estenose, ↑ cianose,↑ gravidade Tetralogia de Fallot Desvio anterior do septo infundibular + distorção Desalinhamento do septo conotroncal com septo interventricular CIV Estenose infundibular Hipertrofia de VD Dextroposição da aorta Tetralogia de Fallot http://www.paulomargotto.com.br/busca_resultado.php?busca=tetralogia+de+fallot Tetralogia de Fallot • (1) Ocorre retorno venoso normal para o átrio direito (AD) e VD. • (2) Quando o VD se contrai, o sangue pobremente oxigenado é desviado, em grande parte, para as cavidades esquerdas e aorta, gerando cianose. • (3) O fluxo pulmonar extremamente restrito devido à obstrução do VD pode ser complementado (compensado) por colaterais provenientes da circulação brônquica pelo canal arterial patente. • A cianose pode não ser uma manifestação precoce, pois a persistência do canal arterial, por exemplo, permite um fluxo pulmonar adequado. • Posteriormente, com o seu fechamento associado ao aumento da atividade física e hipertrofia progressiva do infundíbulo, ocorrerá cianose. Tetralogia de Fallot Fatores que elevam a resistência pulmonar Choro Esforço físico Despertar do sono Taquicardia Movimentos intestinais Catecolaminas Aumento do DC (não ocorre fluxo pulmonar) ↑ do fluxo direitaesquerda + ↓ da resistência sistêmica Infecção, calor, hipotensão, anemia, drogas Cianose + acidose metabólica (↑ pCO2, ↓ pH, ↓ pO2) +↑ viscosidade sanguínea Crise de hipóxia (hipercianótica) Óbito ↑↑ do fluxo direitaesquerda + ↓↓ da resistência sistêmica Convulsões, AVC Tetralogia de Fallot • Crise hipoxêmica: – Alteração fisiológica básica: diminuição do fluxo sanguíneo pulmonar com consequente maior aporte de sangue insaturado na circulação sistêmica, ou seja, aumento do shunt direitoesquerdo. – Causa cianose aumento da pressão pulmonar liberação de catecolaminas vasoespasmo infundibular aumento da cianose. – Geralmente ocorrem pela manhã e são imprevisíveis e espontâneas. – Durante a crise o sopro sistólico (SS) pode diminuir ou desaparecer. – A incidência das crises cianóticas é maior em torno dos 18 meses de idade. Cianose generalizada Dispneia Anemia Hiperpneia paroxística Síncope Convulsões Tetralogia de Fallot • Quadro clínico se relaciona com o grau de insaturação do O2, decorrente da obstrução pulmonar e shunt direita-esquerda, resultando em cianose. Grau de estenose Idade do aparecimento da cianose Shunt Paciente acianótico (Pink Fallot) Discreta 1-2 anos Esquerdadireita Paciente cianótico (Fallot clássico) Moderada Primeiros meses Direitaesquerda Paciente cianótico (Fallot extremo)* Extrema + atresia pulmonar Primeiras horas de vida Direitaesquerda pela CIV *O fluxo pulmonar é dependente da permeabilidade do canal arterial ou da existência de circulação colateral sistêmico-pulmonar. Tetralogia de Fallot • Exame físico: – Hipodesenvolvimento pondo-estatural. – Hipocratismo digital (mais tardio). – Posição de cócoras/genupeitoral (lactentes): aumenta retorno venoso e da resistência sistêmica. – HAS após anos de cianose e policitemia. – Aorta palpável em região de fúrcula. – 1ª bulha: hiperfonética na área tricúspide (por hipertensão ventricular direita). – 2ª bulha: intensidade aumentada em área pulmonar (por dextraposição da aorta. É maior na área tricúspide. – Sopro sistólico: • Entre 2º e 4º EIE. • Por fluxo através da estenose pulmonar, principalmente a infundibular. • Intensidade inversamente proporcional ao grau de estenose. – Hepatomegalia e edema de MMII: em crianças com cianose marcada e hipóxia tecidual. Tetralogia de Fallot • Complicações: – Hemorragias: epistaxe, gengivorragia, equimoses e sangramento pulmonar. – Tromboses: pulmonares e cerebrais. – Abscesso cerebral. – Endocardite infecciosa → tromboembolismo. – Insuficiência cardíaca: a longo prazo. Tetralogia de Fallot • Radiologia: – Trama vascular pulmonar diminuída, principalmente em 1/3 médio. – Área cardíaca normal. – Arco aórtico à direita (25% dos casos). – Arco pulmonar escavado (tamanco holandês ou coração de Sabot). – Contorno direito: VC superior deslocada pela aorta dextraposta. • ECG: – SAD. – SVD, com QRS desviado para QID http://www.paulomargotto.com.br/busca_resultado.php?bus ca=tetralogia+de+fallot Tetralogia de Fallot • Ecocardiograma: – – – – – Aorta cavalgando o septo. Dextraposição da aorta. Dilatação da aorta. Hipertrofia de VD e do septo interventricular. CIV. • Cateterismo: – Exame complementar pré-operatório nos casos com: • Suspeita de anomalia de coronária. • Estenose pulmonar severa ou atresia pulmonar. • AP pequena: no intuito de identificar melhor a vasculatura pulmonar e verificar a existência de circulação sistêmico-pulmonar. • Verificar deformidades produzidas pela s artérias pulmonares pela cirurgia anterior. – Pode produzir crise de hipóxia quando o cateter passa pela via de saída do VD. Tetralogia de Fallot • Tratamento clínico – – – – Fallot Extremo Prostaglandina E1 infusão contínua. Suplementação com Fe oral. Ht deve ser > 45-50% e < 60%. Evitar uso de vasodilatadores, principalmente os nasais de ação sistêmica, β-adrenérgicos, digitais. – Controle rigoroso da Hb. – Posição genupeitoral – Crises de Hipóxia: – – – – – Posição joelho-tórax - ↑ RVP. Oxigenoterapia. Morfina (0,2 mg/kg) - Abolir Taquipnéia. Ketamina (1 a 3 mg/kg) - Sedação e ↑ RVP. Propanolol (0,5 a 1,5 mg/kg/dia) promove relaxamento musculatura infundibular. – Manter Sat O2 > 75%. – Corrigir acidose e evitar desidratação. – Cirurgia paliativa. Tetralogia de Fallot • Advento do shunt de Blalock-Taussig: 1944 (Dr. Alfred Blalock e Dra Helen Taussig e o técnico Vivien Thomas). • Quanto mais precoce a correção cirúrgica, maior a possibilidade de haver maior desenvolvimento da vasculatura pulmonar. • Correção é realizada a partir dos 6 meses de idade. • Objetivos do tratamento cirúrgico paliativo: – – – – – Aumentar a perfusão pulmonar. Interromper o processo de hipertrofia de VD Controlar o quadro cianótico. Melhorar a saturação de O2. Estabilizar o paciente para uma futura correção cirúrgica definitiva. Tetralogia de Fallot • Formas de tratamento paliativo: – Tratamento de Blalock-Taussig clássico: • Anastomose da artéria subclávia (AS) + AP direita. • Vantagens: efeito paliativo de longa duração • Não causa sobrecarga ventricular direita. – Shunt de Blalock-Taussig modificado: • Usado em larga escala. • Interposição de enxerto de Gore-Tex (politetrafluoroetileno 4-5 mm entre as AS e AP OU entre tronco braquiocefálico e AP. – Shunt de Glenn: • Anastomose da VCS com AP direita. • Desvantagens: não correção completa da cianose e formação de fístulas arteriovenosas no pulmão direito (hemoptise). – Shunt de Glenn bidirecional ou hemi-Fontan: • Anastomose da VCS com tronco pulmonar. • Vantagem: a perfusão aumenta nos 2 pulmões. – Procedimento de Fontan: • 1º passo: shunt de Glenn bidirecional. • 2º passo: anastomose da VCI com tronco pulmonar. Todo o sangue do corpo é drenado para o pulmão sem passar pelo coração direito. Tetralogia de Fallot • Shunt de Blalock-Taussig é ainda mais eficiente do que o tratamento corretivo inicial: – Melhora clínica imediata. – Baixo risco cirúrgico em comparação às outras. http://www.paulomargotto.com.br/busca_resultado.php?busca=tetralogia+de+fallot Tetralogia de Fallot • Prognóstico: – 60% sobrevivem ao 1º ano de vida. – 49% sobrevivem após 3 anos. – 24% sobrevivem além dos 10 anos. – Raros pacientes alcançam idades avançadas. ATRESIA PULMONAR COM CIV Atresia pulmonar com CIV • 1% das cardiopatias congênitas. • Predomínio em sexo masculino. • Anatomia: – (1) Ausência de conexão entre VD e AP: via de saída de VD fechada. – (2) Via de saída única para aorta. – (3) Tronco pulmonar e anel valvar são hipoplásicos. – (4) Infundíbulo de VD pode ser normal, atrésico (70%) ou estreitado. – (5) VD hipoplásico com hipertrofia das paredes e diminuição da luz da cavidade. – (6) Canal arterial de calibre diminuído. – (7) Aorta dilatada ou cavalgando o septo. Atresia pulmonar com CIV • Ocorre incapacidade das AP em distribuir-se pelos segmentos vasculares pulmonares. Nesse caso recebem suplência pulmonar através do canal arterial (CA). • Não havendo CA persistente, os segmentos pulmonares passam a ser conectados/supridos pelos: – Ramos das artérias pulmonares centrais. – Artérias colaterais sistêmicos pulmonares: origem da aorta descendente. Atresia pulmonar com CIV • Aspectos hemodinâmicos e clínicos: – Cianose e hipoxemia dependem do fluxo esquerda-direita, por meio do canal arterial (CA): • Se CA tiver diâmetro pequeno: inadequação para manter o débito pulmonar. • Se CA tiver diâmetro grande: paciente fica acianótico por tempo prolongado, com sopro contínuo. Atresia pulmonar com CIV http://www.paulomargotto.com.br/busca_resultado.php?busca=atresia+pulmonar Atresia pulmonar com CIV • Quadro clínico: – Cianose severa nas 1ªs horas de vida ou mais tardiamente (na dependência do fechamento do canal arterial). – Acidose metabólica. – Crises de hipóxia tecidual. – IC direita: nos pacientes com excessivo fluxo pulmonar. • Exame físico: – – – – – Taquipneia. 1ª bulha: seguido de clique aórtico por dilatação da raiz aórtica. 2ª bulha: única em foco pulmonar. Sopro cardíaco ausente ou discreto. Frêmito: geralmente ausente. Atresia pulmonar com CIV • Radiologia: – – – – Área cardíaca geralmente normal ou aumentada. Arco pulmonar escavado. Coração em bota. Diminuição da trama vascular. • ECG: – SVD. – SBV. – QRS: desviado para direita. • Ecocardiograma: – – – – – Valva pulmonar espessada, atrésica. Demonstra shunt. Demonstra morfologia de VD. CIV. Aorta de tamanho aumentado Atresia pulmonar com CIV • Cateterismo: – Indicações: • Estudar melhor a circulação coronariana. • Identificar estenoses ou interrupções das coronárias. • Tratamento clínico: – Tratar hipoxemia. – Tratar distúrbios metabólicos e eletrolíticos. – PGE: garantir permeabilidade do canal. Atresia pulmonar com CIV • Tratamento cirúrgico: – Paliativo: • Cirurgia de Blalock-Taussig modificada: estabelecer shunt pulmonar-sistêmico e fluxo pulmonar. – Definitivo: estabelecer continuidade entre VD e artérias pulmonares. • Anastomose sistêmico-pulmonar. Referências bibliográficas • • • • • • MACRUZ, R., SNITCOWSKY, R. Cardiologia Pediátrica. 2ª ed. São Paulo: Sarvier. 1984. MARTINS, G.M., DE ARAÚJO, T.C.V.N., FERNANDES, B.M., MELO E SILVA, A.J. Tetralogia de Fallot: anátomo-fisiologia cardíaca, tratamento paliativo e técnica operatória definitiva. XI Encontro de Iniciação à Docência – UFPB. Campina Grande, XXXX. MORAES NETO, Fernando et al. Tratamento cirúrgico da tetralogia de Fallot no primeiro ano de vida. Rev. Bras. Cir. Cardiovasc., Jun. 2000, vol.15, n° 02, p.143-153. M. Elizabeth Brickner, M.D., L. David Hillis, M.D., and Richard A. Lange, M.D. N Engl J Med 2000; 342:334-342. Croti, U. A; Barnero-Marcial, M.; Jatene, M. B.; Riso, A. A.; Tanamati, C.; Aiello, D.; Dallan, L. A.; Oliveira, S. A. Classificação anatômica e correção cirúrgica da atresia pulmonar com comunicação interventricular. Rev. Bras. Cirurgia Cardiovascular, out/dez. 2000, vol.16, n° 04. www.paulomargotto.com.br/ (em PEDIATRIA ESCS/DISTÚRBIOS CARDIOLÓGICOS)