Tetralogia de Fallot Caso Clínico Apresentação: Thomaz V.Monclaro Coordenação: Sueli R Falcão Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS) SES/DF www.paulomargotto.com.br 31/5/2009 Tetralogia de Fallot • Identificação: – M.M.F.N. – 2 anos e 7 meses – Sexo masculino – DN: 16/10/06 – Procedência: Barreiras – BA • Queixa Principal: – “Criança ficou roxa e com cansaço ao nascimento” Tetralogia de Fallot Caso Clínico • História da Doença Atual: RN nascida de parto cesáreo, por DCP, a termo, que apresentavam ao nascimento dispnéia, cianose periférica e múltiplas malformações (fenda palatina, lábio leporino e anomalia do pavilhão auricular esquerdo). Foi transferida ao HRAN com 17h de vida e colocada no HOOD. No 9º DIH evolui com piora apresentando aspiração e piora do desconforto respiratório. Foi iniciado Ampicilina + Gentamicina. No 11º DIH foi transferido para UTIN do HRPa. Tetralogia de Fallot Caso Clínico Foi realizado acesso central, transfusão de concentrado de hemácias, pois apresentava anemia (Htc=30%), mantido HOOD com FiO2 = 60%. Foi auscultado sopro cardíaco e iniciado também investigação diagnóstica. Mantém dieta por SOG, bom ganho ponderal, hemodinâmica estável, com episódios breves de cianose aos esforços. Após realização de Raio-x Tórax, Eletrocardiograma, Ecografia Transfontanela e de Abdômen, Ecocardiograma, TC de crânio e tórax, e Cateterismo Cardíaco. Foi diagnosticado entre outras patologias cardiopatia congênita. No momento aguardando programação cirúrgica. Tetralogia de Fallot Caso Clínico • Antecedentes fisiológicos e patológicos: G2P2A0. Realizou pré-natal (13 consultas). Nega intercorrências na gestação. Criança nascida de parto cesáreo, a termo, não chorou ao nascer, com cianose central, sem informações sobre apgar no cartão, com peso de nascimento 3350g, estatura 49 cm. Vacinação Completa. • Antecedentes Familiares Nega consangüinidade. Irmã, 6 anos, saudável. Pais saudáveis. Relata malformações não definidas em família paterna. Tetralogia de Fallot Caso Clínico • ECG: – âQRS +120° – Ritmo Sinusal – Onda R dominante em precordiais • Rx tórax: – Hipotransparência em pulmão esquerdo – Pulmão direito sem alterações – Índice cardio-torácico normal Tetralogia de Fallot Caso Clínico • CT de Tórax: – Sinais de hipoplasia do pulmão esquerdo – Desvio de mediastino para o lado esquerdo – Pulmão direito possui transparência e desenvolvimento normais • Ecocardiograma com Doppler: – Dupla via de saída do ventrículo direito com CIV relacionada a Aorta, estenose de ramos pulmonares, CIA tipo ostium secundum Tetralogia de Fallot Caso Clínico • Cateterismo Cardíaco: – Ventrículo direito com hipertrofia acentuada – Cavidades esquerdas de tamanho e função normal – Estenose infundibular e supravalvar pulmonar (tronco pulmonar) – Artéria pulmonar direita de bom calibre – Artéria pulmonar esquerda com hipoplasia em todo o seu trajeto de grau moderado (associada a hipoplasia de pulmão esquerdo) – Presença de canal arterial chegando na parte superior do tronco pulmonar – Discreta dextroposição da aorta – CIV pequena (gradiente VD-VE) Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS Tetralogia de Fallot Internato em Pediatria – HRAS Docente: Dra. Sueli Falcão Interno: Thomaz V. Monclaro Tetralogia de Fallot Cardiopatias Congênitas • • • • Incidência 8/1000 nascidos vivos No Brasil, 20-30 mil crianças/ano 68% acianóticas x 22% cianóticas Tipos de manifestações clínicas a. b. c. d. CIANOSE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA AMBOS NENHUM (apenas SOPRO) Tetralogia de Fallot Cianose • Cor azulada da pele • Hemoglobina reduzida (ou desoxi-hemoglobina) com valores superiores a 5g/100ml • A cianose pode ser periférica (extremidades) ou central (mucosas) Tetralogia de Fallot Cianose - causas • SNC: Hemorragia Intraventricular, drogas, AVC, • • • • • • Hipóxia, Herniação, etc Respiratória: PNM, Asma, Atelectasia, pneumotórax, prematuros extremos, etc Infecciosa: Sepse, meningite, enterocolite necrotizante, etc Gastrointestinal: Esofagite, perfuração intestinal, etc Cardiovascular: Hipotensão, IC, Hipovolemia, CCC,etc Metabólica: hipoglicemia, hipocalcemia, acidose, etc Outras: Sono, Hipotermia, etc Tetralogia de Fallot Cianose • Origem cardíaca x outras origens: – 1. 2. 3. 4. Teste de hiperóxia, como se segue: Colher gasometria arterial em ar ambiente no MSD Aplicar 100% de 02 por 10 min Colher nova gasometria arterial P02 inalterado (<50mmHg )= provável CCC com hipofluxo ou circulação em paralelo P02 75-150mmHg = provável CCC com mistura comum – hiperfluxo P02 > 150mmHg = CCC improvável Tetralogia de Fallot Cardiopatias Congênitas Cianóticas (CCC) 1. 2. 3. 4. Clínica: Cianóticas ou Acianóticas? Exame Físico: Sopro? Raio-x: Hiperfluxo, Hipofluxo ou Normal? ECG: Hipertrofia de VD? VE? Biventricular? 5. Eco e Cateterismo para elucidar diagnóstico Tetralogia de Fallot Introdução • 1888 - Fallot • Prevalência de 0,21/1000 nascidos vivos • Mais frequente das CCC em criança maior • 2º CCC mais frequente entre RN • 3,36% das cardiopatias congênitas Tetralogia de Fallot Morfologia Desvio ântero-superior do septo infundibular Desalinhamento CIV Estenose Pulmonar Hipertrofia VD Dextroposição Aorta Tetralogia de Fallot Tetralogia de Fallot Fisiopatologia • Estenose Pulmonar – Infundibulovalvar (subvalvar) – Se discreta shunt E-D sem cianose – Se acentuada shunt D-E com cianose progressiva • CIV – Perimembranosa – Grande – Não restritiva Tetralogia de Fallot Fisiopatologia • Cavalgamento aórtico – Variável 15 a 50% (se >50% = dupla via de saída de VD Fallot extremo) • Alargamento aorta (muito fluxo sanguineo) • Artérias pulmonares normais ou hipoplásicas (pouco fluxo sanguineo) • Presença de Circulação Colateral e PCA – T4F + Atresia Pulmonar Fallot extremo • Associação outras anomalias cardíacas Tetralogia de Fallot Manifestações Clínicas • Cianose tardia obstrução média ao débito VD – Hipertrofia de VD • Cianose precoce obstrução severa ao débito VD – Refratária ao uso de O2 – Sat O2 <85% PaO2 <50mmHg • Posição Genito-peitoral (cócoras) • Dispnéia e cianose aos esforços • Baqueteamento digital Tetralogia de Fallot Manifestações Clínicas Aumento da Atividade Física Aumento da Demanda de O2 Espasmo Infundibular Crise Hipoxêmica Tetralogia de Fallot Crise Hipoxêmica • Situação grave, reconhecimento rápido e tratamento adequado • Choro inexplicado • Taquipnéia • Piora da cianose • Alterações da Consciência • Convulsão, Óbito • Tendência do sopro diminuir Tetralogia de Fallot Exame Físico 1. Precórdio Calmo 2. Sopros Sistólico, ejetivo, bem audível principalmente borda esternal esquerda, intensidade e frequencia inversamente proporcionais à estenose pulmonar 3. Bulhas Normofonéticas 4. 2a bulha Única Tetralogia de Fallot Exames Complementares • Raio-x – Área Cardíaca Normal – Elevação do ápex cardíaco hipertrofia VD – Bordo esquerdo côncavo art. pulmonar hipoplásica – “Tamanco Holandês” – Circulação Pulmonar geralmente diminuída, mas pode estar normal ou aumentada Tetralogia de Fallot Exames Complementares • ECG – Desvio para a direita – Hipertrofia Ventricular Direita (R dominante em precordiais direitas, T positiva em V1 e V4R) – Pode ocorrer sobrecarga de AD Tetralogia de Fallot Cardiopatias Congênitas Cianóticas 1. 2. 3. 4. Clínica: Cianóticas ou Acianóticas? Exame Físico: Sopro? Sistólico Raio-x: Hiperfluxo, Hipofluxo ou Normal? ECG: Hipertrofia de VD? VE? Biventricular? 5. Eco e Cateterismo para elucidar diagnóstico Tetralogia de Fallot Exames Complementares • Ecocardiograma – Tamanho e localização da CIV – Confluência e tamanho das artérias pulmonares – Lateralidade do arco aórtico – Suprimento sanguíneo pulmonar – Anomalias associadas – Origem e trajeto das artérias coronárias Tetralogia de Fallot Exames Complementares • Cateterismo Cardíaco – Invasivo – Indicação: ecocardiograma não elucidativo – Confluência dos ramos pulmonares – Colaterais sistemicopulmonares Tetralogia de Fallot Tratamento - Clínico • Controle rigoroso da hemoglobina • Propanolol (0,5 a 1,5 mg/kg/dia) promove relaxamento musculatura infundibular • Crises de Hipóxia – – – – – – – – Posição joelho-tórax - ↑ RVP Oxigenoterapia Morfina (0,2 mg/kg) - Abolir Taquipnéia Ketamina (1 a 3 mg/kg) - Sedação e ↑ RVP PROPANOLOL Manter Sat O2 > 75% e Hb = 15g/dL (ou Ht = 45%) Corrigir acidose e evitar desidratação Cirurgia paliativa • Fallot Extremo Prostaglandina E1 infusão contínua Tetralogia de Fallot Tratamento - Cirúrgico • Paliativo – Shunt Blalock-Taussig modificado: • Aumentar o fluxo sanguíneo pulmonar, • Conduto da subclávia à art. pulmonar homolateral • Indicações: Assintomáticos <3m; Fallot extremo ou urgência; anatomia desfavorável • Complicações: Quilotórax, síndrome de Horner e paralisia diafragmática – Correção Total: • • • • Evitar a hipertrofia de VD e fibrose miocárdica Fechamento CIV + infundibulectomia + homoenxerto (às vezes) Indicação: Assintomáticos entre 3-11m Complicação: Insuficiência Pulmonar Tetralogia de Fallot Shunt Blalock-Taussig Tetralogia de Fallot Shunt Blalock-Taussig-Vivian Tetralogia de Fallot Correção Total Tetralogia de Fallot Evolução • Não-operados – 23% chegam aos 10 anos – 30% morrem no 1º ano de vida – Embolia paradoxal, trombose cerebral e pulmonar, abscesso cerebral e endocardite infecciosa • Operados – Bom prognóstico – Arritmias, disfunção de VD, hipertensão pulmonar e morte súbita Tetralogia de Fallot Bibliografia • • • • • • • • • Tratado de Pediatria, 1ª ed, 2007 Nelson Textbook of Pediatrics, 17th ed Joseph K. Perloff, O Reconhecimento Clínico das Cardiopatias Congênitas, 3ª ed, 1990 Resumo 60º Curso de Atualização Nestlé, 2003 www.sbp.com.br Brickner M et al. Congenital heart disease in adults. N Engl J Med 2000;342:334-342 Šamánek M. et al. Congenital heart disease among 815,569 children born between 1980 and 1990 and their 15-year survival: a prospective Bohemia Survival Study. Pediatr Cardiol. 1999;20:411-7. Glen S. Van Arsdell et al. What is the Optimal Age for Repair of Tetralogy of Fallot? Circulation 2000;102;III-123-III-129 Frank A. Pigula et al. Repair of Tetralogy of Fallot in Neonates and Young Infants. Circulation 1999;100;II-157-II-161