Posição prona reduz débito cardíaco e eleva resistência vascular sistêmica em neonatos Prone positioning decreases cardiac output and increases systemic vascular resistance in neonates M Ma, S Noori, J-M Maarek , DP Holschneider, EH Rubinstein and I Seri Journal of Perinatology 2015: 35, 424–427 Internato Pediatria – Universidade Católica de Brasília Amanda Kleszcz e Priscila Lessa Coordenação: Paulo R. Margotto Brasília, 19/06/2015 F.BrunoI; J.P.PivaI; P.C.R. GarciaI; P.EinloftI; R.FioriI; S.M.Barreto. Efeito a curto prazo da posição prona na oxigenação de crianças em ventilação mecânica. J. Pediatr. (Rio J.) vol.77 no.5 Porto Alegre Sep./Oct. 2001 Introdução • POSIÇÃO PRONA: ▫ Prática comum na UTIN; ▫ Melhora da oxigenação em prematuros extremos com doença pulmonar crônica e em RN com IResp;1,2 ▫ Diminuição do resíduo gástrico e melhora da tolerância alimentar;3 ▫ Melhora do estado de sono e diminuição de comportamentos de estresse;4 • EFEITOS ADVERSOS DA POSIÇÃO PRONA: ▫ Diminuição da oxigenação cerebral em prematuros estáveis e neonatos a termo ao dormirem na posição;5,6 ▫ Dormir de bruços é um fator de risco significativo para síndrome da morte infantil súbita. • Não há conhecimento sobre o impacto da posição prona sobre o débito cardíaco (DC) e a circulação periférica nos neonatos; • OBJETIVO investigar os efeitos cardiovasculares da posição prona de curto prazo em neonatos hemodinamicamente estáveis; • HIPÓTESE a posição prona seria associada a uma queda em débito cardíaco e perfusão periférica*. *Baseando-se nos estudos com adultos. Métodos • Estudo prospectivo, aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Infantil de Los Angeles e Centro Médico Hollywood Presbyterian-CHA; • Incluídos os neonatos hemodinamicamente estáveis que foram admitidos na UTIN; • Excluídos os RN com grandes malformações congênitas, pequenos para a IG (peso ao nascer < P5) e/ou estavam recebendo ventilação mecânica; Nota RN de 39 semanas/peso;2420g: PIG <p5) Estatura:48 cm Subclassificação:peso/ compr3 x 100=2,1 (PIG assimétrico) Margotto,PR, 1995 • Incluídos 30 RN: ▫ ▫ ▫ ▫ ▫ Desconforto respiratório (14); Prematuridades IG < 35 sem (9); Hipoglicemia (3); Baixo peso ao nascer < 2.250g (2); Intolerância alimentar (2). • Coleta de dados: ▫ Posição supina; 10 min cada período ▫ Posição prona; ▫ Retorno para posição supina. • Monitoramento: ▫ ▫ ▫ ▫ ▫ ▫ Frequência cardíaca (FC); Volume sistólico (VS); Débito cardíaco (DC); Fluxo sanguíneo de pele (FSP); Pressão arterial (PA); Resistência vascular sistêmica (RVS). • FC, VS e DC foram monitorados por velocímetro elétrico, utilizando o monitor de ICON (Cardiotronic, La Jolla, CA, EUA); • 4 eletrodos eletrocardiográficos são colocados sobre a testa, no lado esquerdo do pescoço, linha axilar média esquerda ao nível do apêndice xifóide e coxa esquerda; Informados a cada 10seg • Fluxo sanguíneo de pele (FSP) avaliado continuamente na testa ou pé usando tecnologia de laser Doppler (PeriFlux 5000, Ardmore, PA, EUA); • PA foi medida depois de concluída a coleta de dados em cada posição para minimizar o potencial impacto da inflação do manguito sobre a função cardiovascular e movimentação do paciente;* • RVS foi calculado como média PA/DC.* *PA e RVS foram colhidos apenas nos últimos 21 pacientes. Análise estatística • Os dados são apresentados como a média ± S.D. ou mediana (intervalo interquartil); • Uma forma de análise de variância (ANOVA) foi utilizada para determinar a significância estatística das alterações na função cardiovascular; • O valor de P < 0.05 foi estatisticamente significativo. considerado Resultados • CARACTERÍSTICAS DOS NEONATOS EM ESTUDO: • FC não se alterou em resposta a alterações na posição ▫ 138 ± 17 vs 138 ± 18 batidas por minuto, P = 0,9 • 26 neonatos (87%) tiveram uma diminuição no VS e DC quando colocados em posição prona ▫ A redução média do VS foi de 13% (1,5 ± 0,3 vs 1,3 ± 0,3 ml/kg, P < 0.01) ▫ Como a FC não se alterou, DC também diminuiu em posição prona (206 ± 44 vs 180 ± 41 ml/kg/min, P<0.01) • FSP também diminuiu em RN colocados em posição prona ▫ 0,54 ± 0,30 vs 0,44 ± 0,29 U de perfusão, P < 0.01 Quando os RN foram colocados de volta à posição supina, VS, DC e FSP voltaram aos valores iniciais. • Não ocorreu alteração estatisticamente significativa na PA em resposta à mudança de posição ▫ Houve uma tendência para um aumento na diastólica (41 ± 7 vs 45 ± 7 mmHg, P = 0,054) e PA média (54 ± 7 vs 57 ± 6 mmHg, P = 0,059) quando RN foram colocados a partir de supina para posição prona. • RVS aumentou quando RN foram colocados da posição supina para posição prona; ▫ 0,25 ± 0,06 vs 0,30 ± 0,07 mmHg/ml/kg/min, P<0.01) • Voltou à linha de base ao serem reposicionados à posição supina ENTENDENDO BOXPLOT • Caixa é formada pela mediana (linha central) e pelos quartis inferior e superior (percentis 25 e 75), que são obtidos pelos métodos Tukey´s Hinges. • A mediana dá uma estimativa de tendência central; a altura das caixas (percentil 75percentil 25 é a amplitude interquartil (interquatile range) e estima a variabilidade dos dados. • A presença ou não de simetria é dada pela posição da mediana (central ou mais próxima dos quartis). • As linhas verticais que saem da caixa são conhecidas como whiskers (bigodes de gato em inglês). • Nas séries assimétricas, os dados máximos e mínimos distanciam-se das hinges de Tukey (percentil 75-percentil 25), sendo os seus valores assinalados separadamente no boxplot com um pequeno círculo (outlines) -Valores que se distanciam substancialmente são considerados extremos (extremes) e são assinalados com um asterisco • A tabela Test of Normality mostra o resultado de dois testes de normalidade: Kolmogorov-Smirnov e o Shapiro-Wilk. Os dois testes testam a hipótese de que os dados apresentam uma distribuição normal. No caso de amostras menores (<50 casos), o teste Shapiro-Wilk é mais poderoso. Um valor abaixo da significância indica um desvio na distribuição dos dados em relação à Curva Normal (de preferência deve estar abaixo de 0,05 ou mesmo 0,01) (Figura 21) Estatística computacional: Uso do SPSS - o essencial Autor(es): Paulo R. Margotto Vejam que a idade gestacional Tem uma distribuição assimétrica! E no presente estudo?Analise os boxplot! Gráfico Boxplot de idade gestacional e uso de corticosteróide pré-natal A IDADE GESTACIONAL NÃO SEGUE A DISTRIBUIÇÃO NORMAL! Discussão • A posição prona de curto prazo em BEBÊS: ▫ Diminui VS, DC e FSP ▫ Aumenta RVS ▫ Não altera FC • Redução do DC em neonatos = adultos para cirurgia de coluna7 DC = FC x VS • Adultos: ▫ Volume diastólico final em pronação está diminuído: diminuição da pré-carga com diminui DC. 8,10 ▫ Aumento de norepinefrina + aumento da FC ocorreram em adultos saudáveis em pronação aumento compensatório na atividade simpática em resposta a diminuição do DC. 11 • Bebês: não alterou FC ▫ Foram estudados durante o sono (diminui a atividade simpática) ▫ Regulação autônoma da função cardíaca é imatura em recém-nascidos (a resposta simpática induzida pelo estresse cardiovascular aumenta com avanço da idade pósnatal) 18 • Curiosamente: ▫ Estudos sobre influência da pronação na FC dos bebês tem resultados variáveis. ▫ Houve ligeiro aumento da FC em: prematuros, bebês de baixo peso19,20 e termos de 2-3 meses de idade21,22 ▫ Porem, bebês de 2-4 semanas não alteraram FC! 21 ▫ Mesmo sabendo que PA diminuiu em ambas as faixas etárias (2-4 semanas e 2-3 meses), somente houve aumento da FC entre 2-3 meses. 21 • Posição prona: ▫ E fator de risco para síndrome da morte súbita em neonatos. ▫ VS diminuído em posição prona é intrigante. • Adultos: ▫ Diminuição do VS desencadeia mecanismos de compensação Gera aumento do tônus simpático Aumenta FC e pressão de perfusão nos órgãos vitais. • Neonatos: ▫ Imaturidade neurológica e autônoma diminuem o VS ▫ Na presença de algum evento neutralizador do aumento compensatório do tônus vascular (ambiente superaquecido ou infecção viral), pode haver potencial comprometimento cardiovascular síndrome da morte súbita! • Importante lembrar que os estudos foram projetados apenas para posição prona de curto prazo, diferente do que acontece quando se deixa o neonato dormir nesta posição por mais tempo. • Mais estudos são necessários para dizer se diminuição de VS em posição prona é fator predisponente para síndrome da morte súbita. Limitações do estudo: • Embora VE (velocímetro elétrico) seja comparável ao ecocardiograma para estimar DC, ambos podem ter erros de medição significativos16 ▫ Porem, a maioria dos bebês apresentou diminuição do DC quando em pronação. Logo, "estimativa errada" se torna uma explicação altamente improvável para o estudo. ▫ Além disso, o FSP apresentou redução simultânea medido por tecnologia diferente (Laser Doppler), o que sugere que as mudanças observadas estavam corretas. • Não se sabe o efeito da posição prona sobre a bioimpedância torácica. ▫ Porem, o VS e o DC encontrados utilizam a combinação das informações do VE (Velocímetro elétrico) e do LS (Laser Doppler). • Tamanho relativamente pequeno da amostra ▫ Porem, foi possível demonstrar alterações estatisticamente significativas nas funções cardíaca e vascular. • Embora minimizada a ocorrência de artefatos de movimento (pacientes estavam em bastante repouso ou dormindo sem movimentos aparentes), a tecnologia Laser Doppler e bastante sensível ao movimento. • Em resumo: ▫ Houve diminuição significativa de VS, DC e FSP em bebês colocados em posição prona de curto prazo. ▫ Essas alterações regressaram a linha de base quando os bebês voltaram a posição supina. ▫ Foi evidenciado que o tônus vascular sistêmico aumentou com a posição prona aumento da RVS e tendência ao aumento da PA. ▫ O aumento do tônus vascular sistêmico é uma resposta compensatória à diminuição do DC. • Perspectiva futura: ▫ “Estudos futuros utilizando monitoramento cardiovascular global e com foco em alterações na oxigenação cerebral, alterações respiratórias e estados do sono juntamente com períodos mais longos de posicionamento, vão avançar a compreensão de alterações hemodinâmicas em resposta à posição prona.” Referências (em forma de links!) • • • • • • 1-Balaguer A, Escribano J, Roqué I, Figuls M, Rivas-Fernandez M. 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Margotto • A posição lateral esquerda também pode ser adotada além da prona, alternando entres as duas, para os prematuros com refluxo, quando estes estiverem em cuidados hospitalares. • Uma redução no índice de refluxo na ordem de pelo menos um terço pode ser conseguida se evitarmos posicioná-los na posição lateral direita • Esses dados também são importantes para orientar os pais quanto a posição do bebês fora do hospital. Estes agora podem evitar a posição prona, mas têm ainda o benefício clínico significativo da posição lateral esquerda Não papai, posição prona não! OBRIGADO! Ddos Amanda, Felipe, Patrícia, (Dr. Paulo R. Margotto), Priscila, Camila e Lucas Universidade Católica de Brasília