Anafilaxia Mario Adriano dos Santos Universidade Federal da Bahia O que é Anafilaxia? • Reação alérgica grave que envolve mais de um sistema do corpo • Pode ser fatal • Epinefrina ou adrenalina é a droga de escolha! Anafilaxia • Portier e Richet - 1902 • Anafilaxia x Profilaxia Portier R, Richet C. De l’action anaphylactique de certains venins. C R Soc Biol (Paris) 1902; 54: 170-2 • 1 a 3:10.000 • 1 a 3% em risco • > 30% Alimentos e 37% indeterminados – 150 mortes/ano • Atopia como fator de risco Kemp & Lockey JACI 2002 Anafilaxia • Causas – Alimentos – Contrastes Injetáveis – Veneno de Himenóptera – Látex – Drogas Kemp & Lockey JACI 2002 Anafilaxia Classificação • Etiologia • Tempo de início – Precoces e Tardias • Local – Locais e Sistêmicas • Gravidade – Leve – Moderada – Grave Anafilaxia • Etiologia – Mediadas por IgE - “Anafiláticas” • • • • • Asma Rinite Urticária / Angioedema Edema de Glote Choque Anafilático – Não Mediadas por IgE - “Anafilactóides” Anafilaxia • Anafilática (Dependente de IgE) – Alimentos – Medicamentos (alguns) – Proteínas – Exercício (?) Kemp & Lockey JACI 2002 Anafilaxia • Anafilática (Dependente de IgE) • Anafilactóide (Independente de IgE) – Multimediador - Ativação do Complemento • Radiocontraste • Inibidores da ECA Kemp & Lockey JACI 2002 Anafilaxia • Anafilática (Dependente de IgE) • Anafilactóide (Independente de IgE) – Multimediador - Ativação do Complemento – Degranulação inespecífica de Mastócitos/Basófilos • Opióides • Relaxantes musculares • Idiopáticas e por fatores físicos Kemp & Lockey JACI 2002 Anafilaxia • Anafilática (Dependente de IgE) • Anafilactóide (Independente de IgE) – Multimediador - Ativação do Complemento – Degranulação inespecífica (Mastócitos/Basófilos) – Imunocomplexos • Imunoglobulinas • Dextran Kemp & Lockey JACI 2002 Anafilaxia • História – – – – – – – >90% com acometimento cutâneo Acometimento de vias aéreas superiores Acometimento ocular Dispnéia, hipóxia Dor torácica Sintomas Gastrointestinais História de exposição prévia a um fator desencadeante Anafilaxia • Exame Físico – Varia na dependência do órgão alvo e da gravidade – Pele – Respiratório – Cardiovascular Anafilaxia Tratamento • Objetivos – – – – Oxigenação Perfusão Prevenção da liberação de mediadores Inibir a ação de mediadores liberados Anafilaxia Tratamento • Abordagens – Anafilaxia – Aparelho Respiratório – Hipotensão Anafilaxia • Equipamentos – Laringoscópio – Cânulas • Preparo Técnico – RCP (BLS) Anafilaxia • Medicamentos – Adrenalina 1:1000* – Difenidramina, prometazina ou outro antihistamínico injetável – Bloqueadores H2, Aminofilina e Corticosteróides – Vasopressores injetáveis (Adrenalina, Dopamina) – Soro Fisiológico Anafilaxia • Reações Locais • Anti-histamínico oral • Reações Sistêmicas – leves • • • • • Direcionado aos sintomas apresentados Antihistamínicos, agonistas beta, ou adrenalina Manter o paciente em observação Em dúvida sobre estabilidade - fazer adrenalina Checar pulso e P.A. – Se necessário - Adrenalina 1:1000, 0,3 a 0,5 ml SC ou IM – Prednisona 50mg/dia (adultos) - asmáticos Anafilaxia • Reações sem risco iminente de morte – Urticária, angioedema ou asma grave (PFR < 60%) • Adrenalina 1:1000, 0,3 a 0,5 ml SC ou IM • Agonistas beta se necessários • Anti-histamínicos Anafilaxia • Choque anafilático e reações com risco iminente de morte – Reações cutâneas de início rápido, obstrução brônquica, colapso vascular • Algoritmos Anafilaxia - Adulto História compatível com dificuldade respiratória ou hipotensão Oxigenoterapia Atendimento Intra-hospitalar Estridor, sibilos, dificuldade respiratória ou sinais de choque Adrenalina 1:1000 - 0,5ml, IM Repetir a cada 5 min se não houver melhora Anti-histamínico Difenidramina Complementar com: Reações graves ou recorrentes e pacientes asmáticos: Hidrocortisona 100-500 mg IV Journal of Accident & Emergency Medicine 1999:16(4)243-247 Choque sem resposta às drogas: 1 a 2l. IV de expansores em Infusão rápida Anafilaxia - Criança História compatível com dificuldade respiratória ou hipotensão Oxigenoterapia Atendimento Intra-hospitalar Estridor, sibilos, dificuldade respiratória ou sinais de choque Adrenalina 1:1000, IM 12a: 250-500µg; 6-12a: 250µg 6m-6a: 120µg; ≤ 6m: 50µg Repetir a cada 5 min se não houver melhora Anti-histamínico Difenidramina Journal of Accident & Emergency Medicine 1999:16(4)243-247 Complementar com: Reações graves ou recorrentes e Asmáticos, hidrocortisona, IV: 12a: 100-500mg; 6-12a: 100 mg; 1-6a: 50mg Choque sem resposta às drogas: 20 ml/kg, IV em Infusão rápida de expansores Anafilaxia - Adulto História compatível com dificuldade respiratória ou hipotensão Chamar Ambulância Atendimento Extra-hospitalar Estridor, sibilos, dificuldade respiratória ou sinais de choque Deitar o paciente Elevar as pernas Adrenalina 1:1000 - 0,5ml, IM Repetir a cada 5 min se não houver melhora Transferir imediatamente para hospital Journal of Accident & Emergency Medicine 1999:16(4)243-247 Anafilaxia - Adulto História compatível com dificuldade respiratória ou hipotensão Chamar Ambulância Atendimento Extra-hospitalar Estridor, sibilos, dificuldade respiratória ou sinais de choque Deitar o paciente Elevar as pernas Adrenalina 1:1000, IM 12a: 250-500µg 6-12a: 250µg 6m-6a: 120µg ≤ 6m: 50µg Repetir a cada 5 min se não houver melhora Transferir imediatamente para hospital Journal of Accident & Emergency Medicine 1999:16(4)243-247 Casos Relacionados… Caso Clínico 1 • Homem de 18 anos. Deu entrada na emergência com queixa de dor epigástrica, associada a náuseas e vômitos. Refere ingesta de bebidas alcoólicas no dia anterior. Antecedente de gastrite, já tendo realizado tratamento para h. pilory. Sem história prévia de alergias, foi medicado com anti-h2 e Hioscina+Dipirona injetáveis (IV). Apresentou imediatamente quadro de sudorese, hipotensão e bradicardia. Caso Clínico 1 • Ao ser colocado em decúbito dorsal e ter suas pernas erguidas, apresentou melhora parcial, persistindo ainda hipotenso e bradicárdico. • Qual o diagnóstico mais provável? – Choque anafilático? – Reação vaso-vagal? Caso Clínico 1 • Choque anafilático? – A presença de bradicardia, associada ao choque falam contra anafilaxia… A ausência de histórico de alergias, também ‘e um dado a ser levado em consideração, apesar de não se absoluto… – Vamos à outra alternativa… Caso Clínico 1 • Reação vaso-vagal? – Apesar da necessidade de manutenção em observação e medidas de suporte para restabelecimento da pressão arterial, o quadro é mais compatível com uma reação vasovagal… Onde ocorre redução do tono vascular, associada a bradicardia… Caso Clínico 2 • Homem de 22 anos. Deu entrada na emergência com queixa de náuseas, diarréia, tontura e cólica abdominal. Sempre apresentava quadro de náuseas após ingesta de crustáceos, ocorrendo em torno de 01 hora após e melhorando espontaneamente. Hoje ingeriu alimentos com camarões em seu preparo há 02 horas. Três horas após ser admitido e medicado com sintomáticos, apresentou hipotensão grave, associada a taquicardia. Caso Clínico 2 • Qual o diagnóstico provável? – Quadro Gastrointestinal a esclarecer – Hipotensão / Choque • Vagal? • Vascular Primário? • Choque anafilático? Caso Clínico 2 • Vagal? – O que esse paciente apresenta que sugere uma reação vaso-vagal? – Habitualmente a hipotensão é associada a bradicardia – Vamos tentar de novo! Caso Clínico 2 • Vascular Primário? – Poderíamos pensar em isquemia mesentérica e alguma complicação vascular associada? – Paciente jovem, habitualmente fora de risco para doenças vasculares – Vamos tentar de novo! Caso Clínico 2 • Choque Anafilático? – A rápida evolução do caso em paciente previamente hígido e com história de sintomas gastrointestinais sistematicamente se seguindo a ingesta de crustáceos, história atual de re-exposição… – Gravidade dos sintomas e choque… – Aparentemente, um choque anafilático relacionado a ingesta de crustáceos – O que fazer? Caso Clínico 2 • O que fazer como primeira droga? – – – – Corticóide Injetável (IV) Anti-histamínico injetável Reposição volêmica Adrenalina Caso Clínico 2 • O que fazer como primeira droga? – Corticóide Injetável (IV) • Os corticóides têm papel importante na prevenção da reação tardia secundária à anafilaxia. Mas como depende de mudanças na síntese protéica, seus benefícios não serão imediatos… – Seu paciente continua em choque… Caso Clínico 2 • O que fazer como primeira droga? – Anti-histamínico Injetável (IV) • Bloqueando a ação de mediadores inflamatórios liberados na resposta alérgica, foi muito bom fazer anti-histamínico, mas seu paciente precisará de mais nesse momento… – Seu paciente continua em choque… Caso Clínico 2 • O que fazer como primeira droga? – Reposição Volêmica (IV) • Bem, você conseguiu contornar parte do problema, mas não foi hipovolemia a causa, você precisa fazer mais por seu paciente. No choque anafilático, alterações da permeabilidade vascular facilitarão a redistribuição de líquidos, além do fato da importante (mais importante fato…) perda de tono vascular, causadora da hipotensão… – Seu paciente continua em choque… Caso Clínico 2 • O que fazer como primeira droga? – Bingo! Adrenalina (IV) • A adrenalina consegue atuar em todos os mecanismos envolvidos no choque anafilático… – Seu paciente melhorou… – Seu paciente não melhorou… Caso Clínico 2 • O que fazer? – Persistir com medidas de suporte, seguir algoritmos, repetir adrenalina a cada 5 minutos… – Pior evolução… Óbito Caso Clínico 3 • Homem de 35 anos. Recebeu enxerto (transplante) de fígado e rim do paciente do caso 2, que evoluiu com PCR e morte cerebral. • Três meses após o transplante, o paciente deu entrada no serviço de emergência com queixa de tontura, dispnéia, náuseas e erupção cutânea. Nunca havia apresentado quadros semelhantes previamente. Caso Clínico 4 • Mulher de 27 anos. Chamada para avaliação após constatações clínicas realizadas no paciente 3. • Paciente 4 recebeu o rim esquerdo e o pâncreas do Paciente 2. Nenhuma alteração constada na paciente. Urticária Urticária Angioedema Angioedema