HIPERGLICEMIA EM RN DE MUITO MUITO BAIXO PESO (Hyperglycemia in extremely-lowbirth-weight infants) William Meetze, Ronald Bowsher, Joyce Compton e Helem Moorehead Departament of Pediatrics, East Carolina University School of Medicine, Greenville, N.C., USA Biology of the Neonate 74:214,1998 Ana Maria Cândido-R-2-Unidade de Neonatologia do HRAS/SES/DF Coordenador: Dra. Márcia Pimentel A Introdução hiperglicemia ocorre em 40-80% dos recém-nascidos de muito muito baixo peso (RN MMBP), limitando a TIG. É grande a experiência clínica com uso da insulina nestes RN, mas ensaios randomizados são limitados A American Accademy of Pediatrics Committee on Nutition recomenda a manutenção de taxa calórica adequada durante NPT de RNPT extremo e uso de insulina se necessário Intrudução Muitos neonatologistas preferem diminuir a TIG e reservar a insulina p/ hiperglicemia extrema que não responda ‘a redução da glicose; A causa da hiperglicemia em RNMMBP não está completamente esclarecida, em geral é relacionada ‘a resistência ‘a insulina que pode resultar da produção hepática de glicose persistente durante a hiperglicemia. Ainda, pode haver resistência periférica ‘a insulina Introdução Alguns pacientes com DM 1 melhoram a tolerância ‘a glicose após tratamento com fator de crescimento insulina-símile (IGF) I e II que tem efeitos hipoglicêmicos e podem aumentar a resposta ‘a insulina; Houve estudos prévios sobre a relação entre crescimento intra-uterino e níveis de IGF I no cordão umbilical ou LA, mas nenhum estudo anterior relacionou IGF endógeno e hiperglicemia em RN MMBP Introdução O artigo levanta a hipótese que RN MMBP com hiperglicemia tratados com infusão contínua de insulina manteriam sua taxa calórica, enquanto aqueles tratados com redução da TIG receberiam taxa calórica inadequada; também, que a hiperglicemia em RNMMBP se deve ‘a resistência ‘a insulina, está associada a baixos níveis séricos de IGFs e que os fatores de crescimento aumentam em resposta ‘a hiperglicemia Materiais e Métodos RN admitidos na UTIN do Children´s Hospital of East North Carolina de setembro de 1993 a fevereiro de 1996, com 48h de vida e com peso de nascimento entre 500 e 1.000g, com idade gestacional entre 24 e 30 semanas, após aprovação do comitê de ética e consentimento dos pais; Foram excluídos RN com tratamento prévio com insulina, anomalias congênitas, CIUR severo; Materiais e Métodos Foram excluídos também RN protocolados que desenvolveram ECN ou se houve falha no tratamento da hiperglicemia ou na coleta de exames laboratoriais nos intervalos adequados; Após protocolados, os RN foram colocados em 1 de 2 grupos de estudo: o de tratamento com infusão de insulina ou o de tratamento com redução da TIG Os RN que desenvolveram hiperglicemia foram tratados com este método, os que não foram tomados como grupo controle Materiais e Métodos Todos os RN tiveram coleta de sangue no 3o, 8o e 15o dia para dosagem de IGF I e II e insulina; Os RN foram descartados do estudo após a coleta do 15o dia, sendo o dia de nascimento definido como 1o dia e a primeira coleta de sangue ocorrendo com aproximadamente 48h de vida Materiais e Métodos Os RN que desenvolveram hiperglicemia tiveram uma coleta de sangue a mais, quando foram incluídos no grupo com hiperglicemia, antes do começo do tratamento; Hiperglicemia foi definida como glicemia única > 240mg/dl ou glicemias repetidas > 160mg/dl por pelo menos 4h Materiais e Métodos Antes de entrar no estudo, as TIG não eram controladas sendo a rotina do serviço iniciar com dextrose 5% sem eletrólitos e a concentração aumentada enquanto tolerada. NPT foi iniciada com 48-72h de vida. Após entrar no estudo, todos os RN receberam glicose de acordo com critério pré-determinado; Materiais e Métodos Recebia pelo menos TIG de 6 no 3o dia com aumento até o máximo de 12 no 6o dia. Um aumento mais rápido ocorreu, mas quando houve hiperglicemia a TIG foi reduzida por pelo menos 4 horas antes de iniciar o protocolo de tratamento A dieta mínima começou após o 3o dia (quando os RN foram considerados suficientemente estáveis) e foi progredida lentamente nos 10 dias seguintes a critério dos neonatologistas Materiais e Métodos Nos RN do grupo de infusão de insulina, a taxa de dextrose foi mantida e a hiperglicemia tratada com insulina. A infusão da insulina começou com 0,1 U/kg/h e foi diluída para manter a gilicemia entre 80 e 160mg;dl A dose mínima de insulina foi 0,01U/kg/h e a máxima foi 1,0U/kg/h. Se a dose máxima fosse alcançada, era considerada falha de tratamento e a TIG reduzida enquanto se mantinha a infusão de insulina Materiais e Métodos Quando iniciada a infusão de insulina, a glicemia era medida pelo menos de 1h/1h até que estabilizada, então pelo menos de 4h/4h durante todo tratamento com insulina; Se a glicemia ficasse < 80, retornava-se a medir de 1h/1h Materiais e Métodos Nos RN do grupo da redução da TIG, a hiperglicemia foi tratada diminuindo a concentração de dextrose para 2.5g/dl. Se a glicemia não caísse em 4h, a dextrose era diminuída novamente. Este procedimento foi repetido até que a TIG mínima de 5 fosse alcançada. Materiais e Métodos RN que continuaram com hiperglicemia com TIG de 5 foram considerados como falha de tratamento e foi iniciada infusão de insulina. A TIG foi mantida em 5 até que a infusão de insulina fosse descontinuada e então aumentada diariamente até que taxa prescrita fosse alcançada. Nenhum RN recebeu TIG < 5 ou >12,5mg/kg/min Materiais e Métodos Quando a glicemia voltou ao normal com o RN sem insulina e recebendo taxa total de dextrose, o tratamento foi considerado completo. 24h após o tratamento terminado, foi colhida uma última amostra de sangue e o RN foi retirado do estudo Métodos Laboratoriais Amostras de soro foram congeladas a -54oC até a análise. As concentrações séricas de IGF I e II foram determinadas com radioimunoensaio competitivo (RIA) após a separação dos fatores de crescimento de proteínas de ligação com o uso de ácido fórmico e extração com acetona. Análise de Dados Foram comparados as taxas nutricionais dos dois grupos diariamente usando medidas repetidas de Análise de Variância. Os resultados laboratorials foram comparados usando T Student. Dados nominais foram comparados usando análise x2. A correlação de Pearson foi usada para determinar a relação entre fatores de crescimento e peso ao nascimento ou idade gestacional Resultados Havia 187 RN com peso adequado admitidos durante o período de estudo Muitos familiares da população rural resistiram em permitir a participação na pesquisa. 61 RN entraram no estudo. 1 desenvolveu ECN no 5o dia. 1 foi retirado a pedido dos pais e 3 por quebra do protocolo. 56 RN foram incluídos para análise estatística. Controle Normal Todos os hiperglicêmicos Infusão de Insulina Redução de TIG 33 23 12 11 Peso de 854 +/nascimento 18 786 +/- 24* 763 +/- 29 810 +/- 39 Idade 27 +/Gestacional 0,27 26,4 +/- 0,36 26,5 +/0,5 26,3 +/0,5 Apgar 1’ < 5 7 (21) 11 (52)* 7(58) 4(36) Apgar 5’ < 7 9 (27) 12 (57) 9 (75) 3 (27)** Raça negra 20 (61) 22 (96)* 12 (100) 10 (91) Sexo masculino 15 (65) 8 (67) 7 (64) RNs 13 (39) * p <0,05 vs controle normal; ** p< o,o5 vs grupo de infusão de insulina Resultados Os RN hiperglicêmicos eram menores que os controle, mas não mais imaturos; Os dois grupos de tratamento eram semelhantes, exceto por Apgar no 5’ menor no grupo de infusão de insulina; RN menores eram significativamente mais sujeitos ‘a hiperglicemia: 12 de 21 (%&%) com peso < 800g ficaram hiperglicêmicos contra 11 de 35 (31%) > 800g Resultados Nenhum RN dos dois grupos ficou hiperglicêmico por mais de 24h; Nenhum dos RN que recebeu insulina desenvolveu hipoglicemia 2 RN do grupo de redução da TIG continuaram hiperglicêmicos com TIG de 5 e foram tratados com infusão de insulina Resultados O IGF I teve uma correlação negativa fraca com peso de nascimento (r = -0,29, p = 0,001) mas não com a idade gestacional (r = -0,12, p=0,14) IGF II é mais fortemente inversamente relacionado ao peso de nascimento 9r=0,55, p=0,0001) e idade gestacional (r=0,35, p=0,0001). A insulina não tem relação significativa com peso de nascimento ou idade gestacional IGF-I (ng/ml) IGF-II (ng/ml) Insulina (µU/ml) 3o dia, controles normais 53 +/- 15 92 +/- 15 5 +/- 0,9 3o dia, RN hiperglicêmicos 53 +/-12 106 +/- 13 3,9 +/- 0,4 Durante a hiperglicemia 65 +/- 14 106 +/- 16 8,7 +/-1,4* 8o dia, controles normais 35 +/- 7 83 +/-7 8,0+/-1,6 8o dia, RN hiperglicêmicos 46 +/- 9 111 +/- 16 7,1 +/- 2,0 15o dia, controles normais 32 +/- 8 81 +/- 9 609 +/- 1,6 15o dia, RN hiperglicêmicos 22 +/- 6 80 +/- 12 4,3 +/- 1,0 * p<0,01 vs dia 3 Resultados Houve uma tendência de diminuição do IGF I entre o 3o e o 15o dias (p=0,07), mas não houve diferença entre RN normais e hiperglicêmicos, e não houve resposta ‘a hiperglicemia; IGF II não mudou significativamente durante o tempo e não houve diferença entre os grupos Resultados Houve um aumento significativo na insulina sérica em resposta ‘a hiperglicemia (p=0,01). Também houve aumento na insulina sérica durante o tempo. Se os controles normais e os RN hiperglicêmicos forem unidos, a insulina sérica nos RN euglicêmicos aumentou de 4,5 +/- 0,6µU/ml no 3o dia para 7,7 +/1,2 µU/ml no 8o dia (p=0,017) Resultados % RN ficaram hiperglicêmicos no momento de entrar no estudo. 15 dos 23 RN hiperglicêmicos tiveram um aumento significativo n resposta da insulina sérica ‘a hiperglicemia. Porém, 6 RN não responderam ‘a hiperglicemia com aumento da insulina sérica e 2 deles ao entrarem no estudo tinham insulina sérica < 5 µU/ml Resultados Os RN neste estudo se tornaram hiperglicêmicos em uma média de 96 +/- 10h ( faixa de 13 a 172); A dose máxima de insulina usada por pelo menos 4 h foi 0,14 +/- 0,03 U/kg/h. A duração do tratamento foi de 4,4 +_/- 0,8 dias com 1 RN tratado por 11 dias. Resultados Como era esperado, a taxa de glicose foi significativamente menor no grupo de redução da TIG do que nos controles normais ou no grupo de infusão de insulina; Ambos os grupos de tratamento tiveram taxa calórica aumentada mais lentamente que no grupo controle; O aumento mais lento da taxa calórica no grupo de infusão de insulina estava relacionado ao início mais tardio e progressão mais lenta da dieta oral Resultados RNs no grupo de redução da TIG levaram bem mais tempo para atingir 60kcal/kg/dia que o controle normal ou os RN tratados com infusão de insulina (8,6 +/- 1,3dias X 4,1 +/- 0,2 e 5,5 +/- 0.6 dias, p < 0,01) 3 RN no grupo de redução da TIG continuaram com menos de 60kcal/kg/dia por pelo menos 2 semanas. Discussão Os níveis séricos de insulina não estão relacionados ao desenvolvimento tardio de hiperglicemia; Os níveis séricos de insulina em RN euglicêmicos aumentaram do 3o até o 8o dia enquanto a taxa de glicose aumentou de 6 para 122mg/kg/min. Ainda, parece que a maioria dos RNMMBP tem resposta pancreática ‘as mudanças na taxa de glicose; Discussão A respeito da resposta intrínseca ‘a insulina, há 2 grupos distintos de RN hiperglicêmicos no estudo; 1 grupo de 15 RN teve um aumento na insulina sérica de 306 +/- 0,5 para 11,0 +/- 1,5 µU/ml (p=0,0001) em resposta ‘a hiperglicemia; O segundo grupo de 8 RN não apresentou aumento da insulina sérica em resposta ‘a hiperglicemia (4,4 +/- 0,7 X 3,7 +/- 0,5 µU/ml p=0,43); Discussão Aparentemente o primeiro grupo tem resistência ‘a insulina, e o segundo deficiência de insulina; A resistência ‘a insulina em RNMMBP parece estar ligada a gliconeogênese contínua na presença de hiperglicemia. A causa de deficiência transitória de insulina não foi explicada. Lassarre et al. descobriram que o IGF I no cordão umbilical diminui lentamente e o IGFII diminui no feto entre a 24a e a 30a semana de gestação; Discussão O trabalho encontrou que tanto IGF I quanto IGF II estão inversamente relacionados ‘a idade gestacional e ao peso de nascimento; Os níveis séricos de IGF I na amostra de RNMMBP foi semelhante aos encontrados nos fetos. Porém, foi encontrada menor concentração de IGF II em RNMMBP. A linha de base dos níveis séricos de IGF I e II não estão relacionadas com o desenvolvimento tardio de hiperglicemia neste estudo, e os níveis séricos destes fatores de crescimento não mudaram em resposta ‘a hiperglicemia Discussão Neste estudo, foi encontrado que RN hiperglicêmicos tratados com redução da TIG tiveram menor taxa de glicose durante as 2 primeiras semanas, como esperado. Mais importante, sua taxa calórica total foi menor e permaneceu < 60kcal/kg/dia, duas vezes mais longa que nos controles normais. Realmente, 3 RN ficaram abaixo desses níveis por 2 semanas. Sendo 60kcal/kg/dia considerada apenas taxa calórica mínima em repouso em RNPT, estes ficaram em catabolismo por um longo período Discussão RN que receberam insulina também tiveram uma taxa de calorias, proteínas e lipídios menor que os controles normais, mas não ficaram com taxa calórica menor que 60kcal/kg/dia por mais tempo; RN em uso de insulina tiveram controles de NPT semelhantes, mas sua dieta enteral foi menor; Como as fórmulas para RNPT têm densidade mais alta de gordura e calorias que na NPT, RN do grupo controle receberam taxas maiores desses nutrientes Discussão A dieta enteral não foi controlada pelo protocolo do estudo, e ambos os grupos de hipergilcêmicos receberam dieta mais tarde que os RN do grupo controle. Os neonatologistas assistentes notaram que RN hiperglicêmicos eram mais graves que os do grupo controle e assim, retardaram o início da dieta enteral; Os RN hiperglicêmicos eram menores do que os do grupo controle o que também pode ter contribuído para retardar a alimentação e lentificar o aumento dos aminoácidos nas NPT Discussão A redução da glicose foi efetiva no controle da hiperglicemia de 9 dos 11 RN do grupo, mas sua nutrição foi significantemente deficiente; A infusão de insulina foi efetiva em tratar todos os 14 RN do grupo e nenhum deles teve glicemia < 60mg/dl durante o tratamento. A infusão de insulina parece ser um método seguro e eficaz de tratamento da hiperglicemia em RN MMBP. OBRIGADA!!