Hiperglicemia precoce é um fator de risco para a morte e redução da substância branca em crianças pré-termos Pediatrics 2010;125;e584-e591 Georgios Alexandrou, Beatrice Sklold Jonna Karlén, Mesfin K. Tessma, Mireille Vanpée Brasília, 14/5/2011-Unidade de Neonatologia do HRAS/SES/DF Stocolmo , Suécia Karolinska Institutet Apresentação: Nathália Bardal – R3 Coordenação; Fabiana Márcia Alcântara Morais www.paulomargotto.com.br Hiperglicemia x aumento da morbi/mortalidade em adultos na UTI Crianças:trauma, sepse, grandes queimados X hiperglicemia – pior prognóstico Hiperglicemia nos recém-nascidos prétermos (RNPT) é comum: Imaturidade metabólica Nutrição parenteral total (NPT) Gatilhos: distúrbios respiratórios, cirurgias, dor, sepse e outros eventos estressantes. Hiperglicemia X RNPT: Aumento da mortalidade Hemorragia intraventricular (HIV) Sepse Retinopatia da prematuridade (ROP) Maior tempo de internação Resultados conflitantes – POR QUÊ? Definição de hiperglicemia Método utilizado para determinar glicemia Diferentes critérios de inclusão nos estudos Literatura científica sobre efeitos neurológicos da hiperglicemia é escassa RNPT extremos (< 27semanas) Hospital Universitário de Karolinska Aprovado pelo Comitê de Ética 1º Janeiro de 2004 até 31 dezembro de 2006 Sobreviventes às primeiras 24h de vida 143 PT extremo 188 Sobreviventes 94 25 Óbito antes do termo 24 Excluídos* 19 6 Excluídos Razões Médicas(6), Transferência(4), Não consentimento dos pais(8), perda de dados (6) Glicose plasmática + Glicemia sanguínea na 1ª semana de vida Revisão de prontuários Protocolo: várias medidas no 1º dia de vida, glicosúria Após 1º dia, monitorização segundo condições clínicas Infusão de glicose : 100mg/ml (60-80ml/kg) TIG 4-6 Aumento diário da TIG 1-2 até atingir TIG de 10-12 Hiperglicemia persistente: > 11-14mmol/L em > 2 medidas e glicosúria + Diminuição da TIG Se Hiperglicemia > 14-17, mesmo após a redução da TIG considerar insulina (0,03 UI/Kg/min) Medidas da 1ª semana de vida Nutrição enteral no dia do nascimento (D0): 10ml/kg/dia, aumentos em 10-20ml/kg/dia conforme tolerância individual NPT:(D1) AA e LIP (0,5- 1g/Kg/dia) até 4g/kg de AA e 3,5g/kg de LIP HemoCue 201 Equipe de Enfermagem Coleta:Artéria Umbilical / Acesso Venoso periférico/ Veias periféricas Mudança (jan / 2006) Glicemia sanguínea x Plasmática (GliPlasm= Sanguínea x 1,12) Hiperglicemia: Glicose Plasmática > 8.3mmol/L (>150mg/dL) Hipoglicemia Glicose Plasmática <2.6mmol/L (<46mg/dL) Grupo I: sem hiperglicemia Grupo II: 1-3 dias com hiperglicemia Grupo III: >=4 dias com hiperglicemia Ressonância magnética (RM) (hidrato de cloral 30mg/kg) Análise: Neuroradiologista especialista em RM pediátrica 3 observadores (cegos) Substância Branca x Substância Cinzenta Substância Branca : 3 pontuações 1= normal 2= focal/ moderada 3=>1 região/ extensa 5 variáveis analisadas: 1. Diminuição da substância branca 2. Anormalidade cística 3. Tamanho do ventrículo lateral e mielinização 4. Adelgaçamento do corpo caloso 5. Sinal anormal da substância branca em T1 Escores (5-15) 5/6:Sem anormalidade de substância branca 7-9:Moderada anormalidade 10-12:Moderada/Severa anormalidade (não cística) 13-15:Moderada/Severa anormalidade (cística) Substância Cinzenta 1. Anormalidades do sinal na RM 2. Tamanho do espaço subaracnoideo 3. Maturidade dos giros corticais Normal (3-5) Anormal (6-9) Consenso > 95% entre os observadores Ultrassonografia (USG) de crânio Realizadas por neonatologista HIV grau I – IV Leucomalácia periventricular Primeiros dias de vida 1-2 semanas 2-4 semanas Teste T de Student para variáveis contínuas Qui-quadrado para variáveis independentes Regressão Linear: Wald test: associação variáveis x intervenções Hosmer- Lemeshow test: análise da adequação geral do modelo 3 definições de hiperglicemia na literatura: > 7.6 / >8.3 / >10mmol/L mais sensível e específica > 8.3 mmol/L ou 150mg/dL (veja a Curva ROC a seguir) Sobreviventes: > Idade gestacional (IG), < CRIB, menos intercorrências Características perinatais dos RN inclusos e excluídos do estudo não foi deferente Média de idade de óbito: 9 dias (3-30dias) Maiores causas de óbito: HIV grau IV, sepse, falência cardíaca e respiratória. Houve sobreposição das causas em 8 dos 19 óbitos. Características e morbidades dos pré-termos extremos que Sobreviveram a termo ou morreram Valor médio da glicemia : (1354 medidas) 7.4 +/- 4 (0.1-24.9) (tabela 2) 81% dos RN apresentou hiperglicemia 2x mais comum que hipoglicemia Somente 10 dos 113 RN mantiveram todos os valores normais na 1ª semana de vida (característica:nenhum era PIG) Somente 6 RN utilizaram insulina >150mg% >150mg% <46mg% Não houve diferença na variação da glicose plasmática na primeira semana de vida entre o grupo sobrevivente e os óbitos antes atingir o termo. Hiperglicemia durante as primeiras 24h de vida – fator de risco para óbito (P=0,01) Não foi observado associação estatística entre hiperglicemia e anormalidades de substância cinzenta (P=0.7) OR:1,6 (IC a 95%:0,13-18,2) Hiperglicemia nas primeiras 24h de vida é fator de risco para redução da substância branca, assim como sexo masculino e CRIB elevado (tabela 3) Sem relação estatística entre HIV e Hiperglicemia (OR:1,4;IC a 95%:0,58-5,01;p=0,33) Sem relação entre hipoglicemia e lesão da substância branca (OR:0,57;IC:0,22-1,47;p=0,24) Esteróide pré/pós natal : sem relação com redução da substância branca Regressão logística multivariada revelou que a hiperglicemia durante as primeiras 24 horas de vida permaneceu como fator de risco para a morte (seta vermelha) e lesão da substância branca (seta azul) Imagens de redução da substância branca (ressonância magnética) Este é o primeiro relato da relação entre redução da substância branca e hiperglicemia nas primeiras 24 horas de vida em RNPT extremo. Pontos fortes do estudo: Análise estatística bem feita População bem definida Níveis de glicose bem definidos Usando a Curva ROC,foi possível a definição do melhor ponto de corte na definição da hiperglicemia nas primeiras 24 horas de vida para a predicção do risco de morte Pontos fracos do estudo: Retrospectivo Natureza clínica do estudo Diferença entre glicose arterial , venosa, capilar, não foi levada em consideração Outros estudos realizados usaram outros pontos de cortes para definir hiperglicemia, diferentes populações e diferentes resultados foram analisadosanalisados Kao et al (hiperglicemia>10mmol/L- PT< 31sem): Hiperglicemia associou-se a maior risco de óbito e sepse Hall et al (hiperglicemia>8mmol/L - <29sem: hiperglicemia associou-se a enterocolite e maior temnpo de hospitalização Heimann et al:EM<27 semanas: correlação entre mortalidade e repetidos incidentes de hiperglicemia (>=9,4mmol/L Maior tempo de hospitalização Hays et al (hiperglicemia>8.3mmol/L- peso <1000g) Aumento da mortalidade e incidência de severa HIV O presente estudo não encontrou associação entre hiperglicemia e sepse e HIV, mas encontrou associação entre hiperglicemia nas primerias 24 horas e alterações na substância branca detectadas na na RM e morte Os níveis de glicose são fatores preditores reconhecidos em alguns escores de severidade da doença como o Score for Neonatal Acute Physiology Perinatal Extension II (SNAP-PE-II) e o Neonatal Therapeutic Intervention Scoring System A hiperglicemia provavelmente representa um estresse perinatal neste contexto A hiperglicemia pode atuar como um fator oxidativo, com subsequente efeitos nas células cerebrais Assim, o padrão de anormalidades na substância branca pode estar relacionado a vulnerabilidade dependente da maturação dos oligodentrócitos, com lesão mais difusa oligodendróglia específica nos prematuros extremos Os oligodendrócitos são vulneráveis a excitotoxicidade Como nos estágio precoce da deprivação de energia,os neurônios e os oligodendrócitos são fatalmente lesados, principalmente como resultado de mecanismo compensatório durante a reperfusão A hiperglicemia magnifica as reações compensatórias, levando a uma acidose astrocítica pronunciada durante a isquemia Assim, a lesão pelo estresse oxidativo pode estar ocorrendo em parte devido aos altos níveis de glicose Em conclusão: a hiperglicemia nas primeiras 24 horas de vida associa-se a anormalidades na substância branca quando a RM é feita a termo Estudos futuros prospectivos são necessários para avaliar se a hiperglicemia mais tarde tem efeito detrimental nos RN pré-termos extremos. Hiperglicemia e Retinopatia da Prematuridade Hiperglicemia, insulina e lenta velocidade de crescimento podem aumentar o risco de retinopatia da prematuridade Autor(es): JW Kaempf, AJ Kaempf, Y Wu, M Stawarz et al. Apresentação:Marília Menezes, Otávia Araújo, Rafael Cavalcante, Paulo R. Margotto Hiperglicemia e enterocolite necrosante Hiperglicemia e morbimortalidade nos recémnascidos prematuros extremos Autor(es): Kao LS et al; LM Soghier e LP Brion (Editorial). Apresentação: Alexandra Barreto, Ruiter Arantes, Gustavo Gomes e Paulo R. Margotto