1 SÃO PARA VOCÊ ESTES VERSOS: UMA LEITURA DE POEMAS PARA ANTONIO, DE ÂNGELA VILMA Ricardo Nonato A. de Abreu Silva (UNEB) [email protected] Quem nunca mandou um bilhete ou uma carta, com palavras de amor? O destinatário sempre se localiza do outro lado, ele é aquele a quem as palavras chegam endereçadas. Ângela Vilma, em seu livro Poemas para Antonio (P55 Edições, 2010), posta mensagens cujos versos delineiam o sentimento do remetente em relação ao seu destinatário. Seu destinatário, apesar de nomeado no título, alcança medida ainda mais larga, no momento em que a carta é um livro, e de poemas. Chama a atenção, para além das coincidências, o fato deste livro ter, também, o formato de um envelope, e estar publicado por uma coleção intitulada Cartas Bahianas. Um envelope cujo conteúdo são poemas, e de amor. Como desejo, a carta de amor impõe implicitamente ao outro que se manifeste. Mas, em se tratando de um livro, de onde advém a resposta? Assim, Ângela lança para o leitor uma voz que ecoa como um pedido. Ora, todas as cartas de amor são ridículas? Se há amor, como bem versejou Fernando Pessoa, “têm de ser ridículas”. Por outro lado, o próprio Fernando Pessoa reconhece que ridículos são todos aqueles que nunca escreveram uma carta de amor, pois, para escrevê-la é preciso, antes de tudo, amar. É esse o estado que move o apaixonado ao delinear seus propósitos numa missiva. Se, por um lado, Poemas para Antonio é um convite à leitura, por outro, ao entrarmos na intimidade do sujeito-poético, quando este decide projetar seus desejos em palavras destinadas a Antonio, tornamo-nos intrusos e partícipes do segredo alheio. Ao mesmo tempo, Antonio torna-se uma ficção, de modo que os poemas a ele endereçados sejam de todo e qualquer leitor, passando este a ver aquilo que é dado ao outro e a sentir toda a potência de um sentimento desdobrado na sua própria vivência. Esse é o convite próprio da literatura. Ao abrir o livro, o leitor encontrará toda uma elaboração amorosa endereçada a outro que não é ele, mas que ao reconhecer tal discurso identifica-se com sua matéria. Abramos, então, a carta. O primeiro poema, sem título, já se nos apresenta como uma declaração, em que o verso de abertura diz: “Eu te amo, Antonio (...)”. A declaração amorosa, conforme nos ensina Roland Barthes, em seu Fragmentos do discurso amoroso, “não se reporta à confissão de amor, mas à forma, infinitamente 1 2 comentada, da relação amorosa” (p. 99). Assim, o “Eu te amo” dos versos de Ângela se desdobrará de modo infindo em várias páginas nas quais a linguagem amorosa que se declara é como uma pele que o apaixonado fricciona contra o outro, como se as palavras tivessem dedos, ou, como quer Barthes, “dedos na ponta das palavras” para alcançar o que suas mãos, de fato, já desejam há muito tempo. Como bem observa Barthes, sempre há no discurso amoroso uma pessoa a quem nos dirigimos, mesmo se essa pessoa houver passado ao estado de fantasma ou de criatura a vir, como é o caso de Antonio. Ninguém tem vontade de falar do amor se não for para alguém. Falar de amor é sempre um falar do outro em nós, ou ao outro, numa perspectiva relacional, às vezes injusta. O “eu te amo”, deflagrado no primeiro verso do poema de abertura, incide sobre aquele para quem aparece logo em seguida a confissão, e nos obriga a perguntar: Quem é Antonio? Quem é o homem a quem se dirige o eu-lírico, e a quem estão endereçados tantos versos de amor? Talvez devêssemos indagar onde está Antonio, esta figura ao mesmo tempo instaurada na voz que evoca seu nome e ausente como matéria concreta, e cuja presença seria o maior dos contentamentos. Mas, creio que esta pergunta esbarraria numa impossibilidade, e, mais, nossa procura seria vã. Pensemos, então, acerca de seu nome. Antonio, por certo, é um nome próprio bem comum. Isso todos nós sabemos. E não se trata de qualquer Antonio, mas de um em especial. Entretanto, ao virar motivo poético do amor, Antonio se descola dessa particularidade e passa a integrar o centro do discurso amoroso, identificável por qualquer leitor no plano geral. Antonio é um homem. Esta é uma das possibilidades, mas existe outra: Antonio é um santo. É para ele que as mulheres, desejosas de encontrar seu amado, fazem pedidos e promessas. Antonio, neste caso, figuraria em outra instância, cumprindo um papel como do cupido grego, perverso e amoroso ao dar encaminhamentos aos corações dos mortais. No poema com o qual Ângela abre seu livro, a ausência do título deixa ainda mais forte a declaração “Eu te amo, Antonio”, presente no primeiro verso. Nele, já temos o roteiro de um sentimento a ser desdobrado nos demais poemas. Antonio aparece já como sendo uma força capaz de abrir a alma da voz que o chama, revelando sua inteireza. Esta voz apresentase totalmente entregue e desnuda, transparente aos olhos do amado, e sobre seu corpo a presença de Antonio se dissolve fantasmagoricamente, como lemos na seqüência do verso inicial: “(...) e teu nome/ Abre minha alma: nada se esconde./ Tu vês transparência e nela te dissolves/ Etéreo e silencioso, como céu no inverno”. 2 3 Nos versos seguintes, a palavra “pedra”, presença insistente ao longo do livro, delineia, desde seu primeiro poema, o sentido de uma espera que atravessa os tempos e se faz contemplativa: “No ritmo das pedras que se eternizam/ Perto das águas, em ti me detenho./ E como as estradas, teu amor me acolhe/ No abandono mais triste, mais sereno”. É perto das águas, em sua dimensão fluida, e também espelhada, que a imagem do amado se projeta, e diante dela a mulher apaixonada se prostra intemporal no desejo de ser acolhida. Mas, esse desejo esbarra no abandono, configurado como sendo o “mais triste”. Em Poemas para Antonio, a angústia é suscitada pela espera do ser amado. No poema “Confissão”, o amado é aquele capaz de preencher o vazio da existência do sujeito-lírico, como podemos ver nos versos iniciais: “Tua voz é doce, intensa/ E a minha existência, vago som/ que o eco, repetindo, dispersa”. A confissão, nesse poema, estabelece-se como um reconhecimento da importância da presença do outro, supervalorizado. A inevitabilidade do amor, do qual o sujeito-lírico não pode escapar, é o sentimento que o move e o coloca na condição daquele que sempre espera: “Não há como eu deixar de ser/ esta que à tua frente se senta./ Deserta, minha prece só aumenta”. Para Barthes, todo episódio de linguagem que encena a ausência do objeto amado tende a transformar essa ausência em provação de abandono. Esta ausência, ao longo do livro de Ângela, vai se configurando como insolúvel, como podemos perceber nos versos iniciais do poema “A música”: “Entre teu riso e o meu/ morrem gestos, e imperam/ ausências insolúveis”. A solidão se ergue como uma muralha a separar a voz amorosa do homem a quem se ama. Nos versos de Ângela, Antonio é inalcançável, como bem podemos perceber no poema “Antiga”. Ele é uma voz que desliza ante os olhos daquela que o chama, metaforizada, pela poetisa, na imagem dos náufragos. Esta voz está afundada no amor que vê o amado como pássaro a sumir na distância. Também, neste poema, antigo é o desejo da voz que chama pelo seu amado destacando a potência de vida em seu corpo: “Vês teu corpo vibra/ E tua voz firme, escorrega./ E convicta, tua mão exige/ O tempo morto da entrega”. A ausência do amado é configurada como viva, “Larga, antiga, indissolúvel”, por isso está morto o tempo da entrega. Antonio é um sonho, talvez o maior de todos. Mas ele é um sonho que escapa. Sua imagem está sempre anuviada por uma neblina; ele está sempre na passagem, e ao se distribuir na distância faz do amor a maior das perversidades. 3 4 Antonio é uma ausência, tão antiga quanto o mar do poema “Mar antigo”. Neste poema, o nome do amado nos vem à tona do fundo de um mar, e quase como um sussurro o sentimento amoroso mostra-se de longa data: “Ouvi teu nome vindo / Do fundo de um mar antigo”. Neste poema, a imagem do mar guarda o sentido da imensidão, do desconhecido, do profundo, sendo estes os sentidos que remetem à subjetividade do sujeito poético. O marulho das ondas, no poema de Ângela, traz um nome dinamizado pelo desejo. O mar, símbolo do movimento da vida, lugar dos nascimentos, das transformações e dos renascimentos, nesse sentido é o lugar simbólico onde é gerado o amor, como também onde ele descansa. Na última estrofe desse poema, o mesmo nome escutado como que saído do fundo do mar, desencadeando o nascimento, é também aquele que promove o sofrimento que caracteriza o sacrifício de quem ama, como “(...) um vicio, que os peixes, / Do fundo do mar antigo / Deglutiram mil vezes”. Como em “Mar antigo”, no poema “Invenção” o amado tem seu nome evocado na tentativa de ter sua presença inscrita nos limites da noite. A voz amorosa, agora, o inventa, mas como sombra ele povoa os pensamentos da voz que o requisita: “Como inscrever teu nome na noite, / se te inventei, e teu rosto é sombra / repousando leve no mundo?” A impossibilidade do amado estar presente em sua forma física é devido a ele ser uma invenção. Como um sonho, o amado é envolvido por uma névoa que o separa da voz que o chama. O desejo de lhe tocar o corpo é angustiante porque ele é uma criação fomentada por uma vontade insuportável: “Como tocar-te, ao menos em sonho, / se é densa a névoa que nos separa, / e imensa a distância que te enlaça?”. Não é só no poema “Invenção” que Antonio aparece fantasmagoricamente. Em “Amor” o sujeito-lírico tem a certeza de que Antonio é uma abstração, uma miragem, cuja corporeidade é uma ilusão vivenciada no plano dos sonhos. É nesse sentido que discorrem seus versos: “Não existes, mas sinto teu sopro/ no meu rosto, como o vento/ E penso os sonhos do mundo/ e canto as valsas do tempo// Não existes. Como miragem/ desapareces quando te chamo”. A perversidade, nos versos de Ângela, caracteriza as dores daquela que evoca seu amado, como podemos perceber nos versos finais do poema “Confissão”: “E minhas dores, ah, minhas dores/ são tantas, e tão perversas,/ que se vestem de festas, e se afastam”. Há perversidade justamente pelo fato de ser essa aflição uma dor de amar. Não é essa dor que se põe em movimento feliz na menor possibilidade de contentamento? 4 5 É essa possibilidade que move o sonho e todas as projeções de encontro amoroso ao longo dos poemas de Ângela, como em “Amorosa”, quando a voz apaixonada indaga-se sobre o que aconteceria se Antonio a encontrasse e ambos, diante um do outro, vivenciassem os ritos do amor: “O que eu faria se deitasses ao meu lado?/ Sentiria, enternecida, teus cabelos?/ Permitiria que o vento vindo de ti/ Estremecesse meu ventre, meus seios?” O sentimento de urgência, próprio das grandes paixões, ao mesmo tempo eterno na espera do apaixonado, torna-se também o maior consumidor das coisas belas. Talvez, por isso, compreenda-se o carpe diem pululante nos versos do poema “Antes disso”, em que a voz da enamorada, apesar de reconhecer ter a eternidade para viver uma vida intensa, pede para que, naquele momento, eles vivenciem toda a vida que explode de seus corpos: “...a tepidez e o viço: tua boca se abrindo,/ cíclica e consciente, tua língua ávida./ Permita-me sentir de perto/ a alma cálida de teu sexo:/ orvalhado na manhã, universo”. Na poesia de Ângela o amor é uma força inseparável de Eros. Tal como observa Octavio Paz, essas duas forças, em sintonia, formam a “dupla chama da vida”. Entretanto, nos versos de Poemas para Antonio, essa dupla chama não alcança concretude, na medida em que não só o objeto amado está ausente, como também a reciprocidade do amor é algo muito frágil, passando a existir apenas como um sonho. O erotismo dos versos de Ângela é um disparo da imaginação frente ao mundo exterior, como bem afirma Paz, “nada mais real do que este corpo que imagino; nada menos real do que este corpo que toco e se desmancha (...)”. Seguindo nesta esteira estão poemas como “Antiga”, “Antes disso”, já mencionados, “Vigília” e “Ritual”. Neste último o desejo erótico da mulher apaixonada explode: “Minha fome não adormece/ Nem morre aos poucos”. É uma fome que, como a imagem de Antonio, atravessa o tempo, e é anterior à sua própria existência: “Minha fome é muito antiga./ Vem de mim, de minha mãe,/ De minha família, (...)”. Na última estrofe do poema esta fome alcança grandes proporções, rompe os limites morais, pois se estabelece para além deles e se “Estende como nunca/ Em curvas labirínticas”. Ao mesmo tempo, todo esse desejo de um “corpo que transgride os séculos”, como bem nos mostra o poema “Desencontro”, esbarra no reconhecimento de que não haverá um encontro com o outro: “Não fui tua, nem foste meu”. E, por fim, a voz amorosa, mesmo impassível diante do desejo por dias enormes, presente na última estrofe, deixa-se perder nos “(...)extremos/ De dias” que se mostram enormes e levam ao esquecimento. Agora, sua imagem e a de Antonio só podem ser vistas diante do espelho, já como forma capturada em fragmentos. 5 6 É interessante que a solicitação do consentimento de Antonio em “Antes disso”, se desdobra como aviso no poema “Acalanto”. Sob a forma das palavras aconchegantes anuncia a zona amorosa delimitada pela noite, conforme podemos observar nos versos iniciais: “Não tenhas medo – cedo ou tarde/ A noite virá ao nosso encontro/ E sem espantos te aguardarei sorrindo/ Como se estivesses em outro mundo”. E é durante a noite que o desejo de tocar o corpo do amado, atravessando o sono, é deflagrado no poema “Vigília”. “Tocar-te”, é assim que o poema inicia, continuando o verso nesse movimento: “E às sombras do som/ de meus dedos em teu corpo/ permanecer”. O sentimento de inteireza é desenhado pelo movimento do toque frio do corpo de Antonio: “Tocar-te inteiro. Tuas mãos/ frias no inverno, teus cabelos/ Adornados de silêncios,// e até teu espelho”. Esse movimento a que se lança a voz poética no poema “Vigília” e dissolve-se na ausência do amado, podemos perceber em vários dos poemas de Ângela. O outro se mostra silencioso, até indiferente, diante do desejo a ele declarado. Vigília é, também, palavra que norteia o amor declarado no poema “Sentimento”: “É só porque amo/ teu corpo no tempo/ que a vida sustenta/ meu sentimento/ de vigília”. Nesse poemeto, o estado de quem, durante a noite, vela, permanecendo acordado é o de quem mantém o amor sempre aceso. Em “Perdido”, por exemplo, a tristeza da voz apaixonada é, justamente, a da impossibilidade de tocar o amado: “O que há de triste é não poder tocar-te/ No crepúsculo, às seis e meia da tarde,/ Quando debruço meu olhar para ti/ E nada vejo, senão saudades”. Em “Um sonho”, o chamado de Antonio numa noite emoldurada como eterna faz com que o sujeito-lírico desperte e não o encontre mais. Nesse poema, a ilusão se configura pelo desejo de enlace amoroso daquela que atravessa o livro de Ângela cantando o amor. Tudo se configura como um “finalmente”, frustrado ao acordar, como se pode perceber nos versos da última estrofe do poema: “Minha mão, enfim, encontrou a tua,/ e a textura dela fremia, trazia tudo: o absoluto, mundo sem tempos e tamanhos,/ E o acordar inútil, a solidão de um sonho”. Em “Prelúdio”, os versos iniciais se projetam como desejo de um encontro com o amado: “Escolhas uma noite, ou um dia / Não muito claro; ao contrário, Pálido, escuro, repleto de passados”. Este encontro é uma tentativa de tornar concreta a presença daquele que até então estava ausente; por outro lado, o sujeito poético tem consciência dos desenganos do amor a que está sujeito naquele instante, conforme podemos observar nos seguintes versos: “E te ponhas ao meu lado, grave / Como os amores desenganados. // E te faças presente, como nunca fizeste / Durante décadas: leve e sem súplicas”. Os últimos versos do poema, um 6 7 desdobramento de ações configuradoras do momento do improvável encontro com o amado nos remete à infância como descoberta maior, onde ambos estariam vivenciando a “total infância”. Essa “total infância” apresenta-se como projeção – talvez uma fuga –, um deslocamento temporal e espacial caracterizador do sonho do sujeito-poético de ter o objeto amado, o que parece ser de difícil realização, tal como podemos perceber nos versos de “Roupa de menina”. Neste poema, um dos mais belos de Ângela, o sonho é tecido pela possibilidade, ainda que remota, de tocar o amado, concretizando seu desejo: “Se eu pudesse, finalmente/ pegar tuas mãos nessa tarde/ e juntá-las ao invisível/ sonho que me invade”. A poetisa envereda-se pela infância, considerada a fase das inocências, e fazendo a passagem pela qual a menina torna-se mulher, revela o passado metaforizado nas linhas da anágua do vestido. No poema “Entardecer”, mais uma vez a escritora se volta para um passado infantil, situando sua saudade do que não aconteceu. Os versos iniciais já começam com esse reconhecimento angustiante: “E nós nem brincamos direito/ do décimo primeiro amigosecreto/ feito na semana.” Essa constatação se desdobra em outras: “Não nos abraçamos com ternura/ quando o frio chegava com fúria/ enregelando as pedras...// Não nos encontramos nas infâncias que se perderam”. Também, em “Meus sapatos brancos”, a voz que tanto evocou o nome do amado, volta a um tempo anterior ao presente, de quando ela era, ainda, uma menina e, enquanto a imagem de Antonio se dissolve na neblina, ela evade, deixando apenas seus sapatos brancos “Guardados no tempo, inúteis, vivendo”. Ao mesmo tempo em que a ausência do amado é indissolúvel, a voz apaixonada que o chama no poema “Voltar” desencadeia seu pedido: “Só queria tua ternura/ Nas alvuras de umas mãos que me tocassem/ Em noites de chuva, como mães tocam os filhos”. Nesse pedido está o retorno, mais uma vez à infância, já presente em poemas anteriores, a exemplo de “Prelúdio”, “Entardecer” e “Meus sapatos brancos”. Em “Voltar”, a infância dos “seis anos” parece não ter fechado o ciclo da passagem para a vida adulta, talvez como forma de não perder aquele sentimento de “infância total” que se perde ao se entrar no mundo adulto. Em “Tua ausência”, o corpo de Antonio é uma sombra cujos movimentos imprecisos desenham “linhas e desvãos” como um abismo. Abismar-se, tal como observa Barthes é como uma “onda de aniquilamento que sobrevém ao sujeito amoroso por desespero ou plenitude”. 7 8 Antonio torna-se um mito na medida em que ele passa a ser uma imagem que atravessa as temporalidades. Seja no passado, no presente, ou mesmo no futuro, ao ter seu nome evocado ele adquire vida, não mais como homem cuja matéria temporal é regida pela ordem cronológica, mas como sombra, como fantasma que ronda os pensamentos da mulher apaixonada. 8