A pequena balada do soldado aliado Ana Rita Pereira Inês Rodrigues Bibliografia Joaquim Maria Pessoa. Nasceu no Barreiro no dia 22 de fevereiro de 1948. É um poeta, pintor, publicitário e escritor de muitas letras de músicas. Recebeu o prémio da APE (Associação Portuguesa de Escritores), em 1982, com O Livro da Noite. Iniciou a sua carreira no Suplemento Literário Juvenil do Diário de Lisboa. Página 87 do manual Poema Irá Irá Irá Irá Irá Irá Irá Irá Irá Irá Irá Irá Irá Irá que que que que que que que que que que que que que que Virá? o seu dever é ir. assim lhe ordenaram. é lá que está o inimigo. o regime tem de cair. a democracia deve impor-se. uma nova ordem é precisa. a vontade do povo não conta. a paz faz-se com a guerra. os mortos deles não se choram. os vivos deles não se importam. os filhos deles não são seus. um herói deve lá estar. Deus está com ele. só Allah está com os outros. Lisboa, Março de 2003 Joaquim Pessoa, in Os Poemas da Minha Vida, Jerónimo de Sousa (sel.), 1.ª edição, Público, 2005 Perguntas 1. Identifica o sujeito das formas verbais que iniciam todos os versos (“Irá” e “Virá”). R.: Sujeito nulo subentendido: “Ele” [o soldado aliado]. 2. Clarifica o contributo da anáfora literária para a mensagem que se pretende transmitir. R.: Com esta anáfora, evidencia-se, pela insistência, a ideia de que os soldados são implicados em guerras para as quais em nada contribuíram, cumprindo o seu dever de soldados: irem para onde são mandados sem levantarem questões acerca das razões que os fazem partir. Perguntas 3. Interpreta a interrogação com que o poema termina. R:. Ao contrário de todas as certezas enunciadas nos versos anteriores, neste verso final salienta-se a dúvida. É esse o valor da interrogação: a incerteza do regresso do soldado que parte. 4. Discute com os teus colegas o assunto tratado no poema. R:. Este poema é uma “balada” a todos aqueles que participam diretamente em guerras porque isso lhes é imposto, por razões que não são as suas. As orações coordenadas explicativas que constituem a segunda parte dos versos (à exceção do monóstico final) elencam o conjunto das “desculpas” frequentemente invocadas para justificar o injustificável. Neste sentido, o poema de Joaquim Pessoa é uma “denúncia” que nasce do seu “compromisso ideológico e social”. Perguntas 5. Descreve oralmente, a imagem do anúncio da revista Visão, relacionando-o com a frase em destaque: “O MUNDO ESTÁ A PREPARAR-SE PARA UMA NOVA VISÃO” R:. Num cenário onde se veem edifícios arruinados e tanques de guerra, parece ter havido uma paragem na contenda. Os soldados dentro e fora dos tanques não manifestam uma atitude hostil e o que se encontra em grande plano varre diligentemente o lixo dos destroços. É toda uma nova visão em que o papel do soldado é repensado e onde aparece não como aquele que faz a guerra mas como o que prepara o caminho para a paz. Considerando que se trata de um anúncio à revista Visão, será de notar o jogo de palavras Visão, nome da revista, e “visão” no sentido de “perspetiva”.