0 UNIVERSIDADE POSITIVO CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA INFÂNCIA E CONSUMO: ANÁLISE DOS EFEITOS DO PRODUTO MCLANCHE FELIZ NAS DECISÕES DE COMPRA DO PÚBLICO INFANTIL CURITIBA 2010 1 AMANDA BREMER ANA PAULA RAMOS BACELLAR ELINE BARBOSA DE OLIVEIRA MARCOS VINICIUS DE SOUZA SILVA RAFAELA RODRIGUES INFÂNCIA E CONSUMO: ANÁLISE DOS EFEITOS DO PRODUTO MCLANCHE FELIZ NAS DECISÕES DE COMPRA DO PÚBLICO INFANTIL Monografia apresentada como requisito parcial à conclusão do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, Núcleo de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da Universidade Positivo. Orientador: Prof. André Tezza Consentino CURITIBA 2010 2 3 A todos que nos amam. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, por nos dar conforto nos momentos de tensão; Ao nosso orientador Professor André Tezza, pela dedicação, seriedade, apoio, puxões de orelha, mas sempre confiante em nossa equipe; Aos nossos pais, pelo carinho e apoio em todos os momentos e pela educação que nos fez chegar até aqui; À Maria Fernanda que, com sete anos, nos ditou algumas citações; À Carmen, por nos doar um pouco do seu conhecimento em Português; Aos namorados, pela compreensão quando lhes faltou atenção. 5 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES....................................................................................... 06 RESUMO.................................................................................................................. 07 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 09 2 MÍDIA E INFÂNCIA – VISÃO GERAL.................................................................. 12 3 REGULAMENTAÇÃO........................................................................................... 20 4 MCDONALD’S...................................................................................................... 29 4.1 RAY KROC E A EXPANSÃO DA MARCA......................................................... 30 4.2 OS ARCOS DOURADOS, RONALD MCDONALD E O MCLANCHE FELIZ........................................................................................................................ 32 4.3 A IMPORTÂNCIA DA MÍDIA PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA GRANDE MARCA..................................................................................................................... 38 5 PESQUISA............................................................................................................ 40 6 CONCLUSÃO........................................................................................................ 43 REFERÊNCIAS........................................................................................................ 44 ANEXOS................................................................................................................... 47 ANEXO A - ARTIGOS 36 A 38 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR......................................................................................................... 48 ANEXO B – ROTEIRO DE PERGUNTAS................................................................ 49 6 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Speedee, o primeiro mascote.................................................................. 30 Figura 2 – Arcos dourados grandiosos..................................................................... 34 Figura 3 – Logomarca: os arcos dourados que conhecemos hoje........................... 34 Figura 4 – O primeiro palhaço.................................................................................. 35 Figura 5 – Ronald como conhecemos hoje.............................................................. 36 Figura 6 – Brinquedos do McLanche Feliz no mês de setembro de 2010............... 37 Figura 7 – Exemplo da caixa do Happy Meal........................................................... 38 7 RESUMO Este trabalho traz um estudo sobre a relação da mídia com o universo infantil, de maneira a facilitar o entendimento da influência de um produto de uma grande marca sobre as decisões de crianças. Foi necessário estudar a mídia e sua relação com a infância, para conseguir entender como a marca McDonald‟s, com a proposta de inovar a maneira de vender hambúrgueres, conquista e fideliza clientes no mundo todo, assim como o McLanche Feliz, que apesar de ter surgido algum tempo após a criação da marca, é a principal escolha de lanche entre as crianças. Por se tratar de um público delicado, fez-se necessário também, o estudo da regulamentação publicitária que protege as crianças, bem como a história da marca, alvo do projeto. Após a aplicação de pesquisas em duas etapas: observação e questionário no ponto de venda chega-se à conclusão deste trabalho. Palavras-chave: Mídia, infância, McDonald‟s, McLanche Feliz. 8 ABSTRACT This work brings a study about the media in childhood universe, somehow to make easier the understanding of a big brand product influence on children‟s decisions. It was needed to study the media and its relations with the childhood, to get to know how the McDonald‟s brand - with its innovative idea of selling hamburgers conquests and get the loyalty of its clients on all over the world, just as Happy Meal, that emerged later than the mark, but is the number one choice between kids. As the public is delicate, it was also needed, a study about the advertising regulations that protects the kids, just as the brand history, target of this project. After the application of the research in two steps: observation and questionnaire in point of sale determines the conclusion of this project. Key-words: media, childhood, McDonald‟s, Happy Meal. 9 1 INTRODUÇÃO Mesmo com uma regulamentação mais restritiva do CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) e com a regulamentação do Código de Defesa do Consumidor, a publicidade dirigida às crianças tem sido alvo de diversas críticas da sociedade brasileira. Isto é visível tanto nos projetos de lei que procuram ou restringir ainda mais a publicidade dirigida a este público ou mesmo proibir esta comunicação quanto nas entidades que monitoram a publicidade infantil, como o Instituto Alana. Isto traz a necessidade de entender o real estímulo dos meios de comunicação quando direcionados às crianças, já que segundo Inês Sílvia Vitorino Sampaio (2004), este público foi considerado alvo da publicidade há um tempo relativamente recente. A mídia proporciona a problematização da experiência de realidade comum: individual, coletiva, pública, privada e íntima. E, à medida que ocorre o avanço da tecnologia audiovisual, para a tematização destas experiências, mais se confunde realidade e ficção, o que agrava a situação quando o alvo são crianças, uma vez que este público tem percepção de realidade ainda em formação. Mais problemático ainda é o precoce acesso ilimitado à informação, possibilitado pela ausência da maioria dos pais e mães com estrutura familiar moderna, na qual, em sua maioria, ambos trabalham fora e a possibilidade de intervenção aos conteúdos midiáticos aos quais seus filhos são expostos é quase nula. Além de confundir a visão de realidade, a ausência da mediação dos pais faz com que as crianças presenciem, pela mídia, dramas sociais diversos, acelerando o desaparecimento da ingenuidade da infância. O primeiro capítulo procura trazer uma ampla análise do relacionamento da mídia com a infância. O capítulo apresenta estudos sobre sociedade, infância, consumo e intervenção midiática, sob o ponto de vista de autores como Inês Sílvia Vitorino Sampaio (2004), Elza Dias Pacheco (2000) e também Instituto Alana (2009), instituição sem fins lucrativos criada em 1994, que tem como uma de suas missões defender os direitos da criança e do adolescente em suas relações com o consumo em geral. Segundo o instituto, há algum tempo os pais e os professores deixaram de exercer o papel principal de influenciadores na educação das crianças para artistas e celebridades da mídia assumirem o comando. A publicidade procura estimular a sensação de autonomia na criança por meio da sedução e é bem aceita num tempo 10 em que os filhos são em sua maioria planejados, ou seja, já nascem com um espaço muito bem definido em casa e com um poder de decisão altíssimo. O segundo capítulo traz um aprofundamento no que diz respeito à regulamentação da publicidade direcionada às crianças, como forma de perceber os limites que devem ser respeitados quando se trata de comunicação com interesse no público infantil. O projeto irá abordar o surgimento do CONAR, sua maneira de atuação perante as questões nas quais a publicidade interfere de maneira negativa na sociedade. Um exemplo concreto é a recomendação de sustação vinda do Conselho de Ética do CONAR envolvendo um anúncio do McDonald‟s. Por se tratar o CONAR de um Conselho de autorregulamentação sem qualquer ligação com o governo, não tem o poder de tomar decisões no âmbito legal e sua interferência vem por meio de recomendações, que em geral são aceitas pelos anunciantes. Por esse motivo, o capítulo também irá apontar a ação do Código de Defesa do Consumidor, este sim com poder de coagir o anunciante e determinar as formas de penalidade legais segundo os artigos que amparam consumidores em questões referentes à publicidade lesiva. Além do CONAR e do Código de Defesa do Consumidor, há o Instituto Alana, que é reconhecido por zelar pela proteção das crianças e adolescentes no que se refere ao consumismo e a exposição exagerada à mídia, e por esse motivo, também será assunto abordado. Finalmente, no terceiro capítulo, será abordada brevemente a história da marca McDonald‟s com o objetivo de entender a origem de seus símbolos, para posteriormente ser possível analisar por meio de pesquisas as mensagens publicitárias exercidas pela rede de fast food destinadas às crianças. Como também levantado neste projeto, os símbolos utilizados pela publicidade – seja por meio de desenhos, brincadeiras, jogos ou mascotes – de muita importância para as crianças. O foco da análise é, de um lado, a tentativa de entendimento dos impactos midiáticos, e, por outro lado, contrastar as mensagens com as normas do CONAR de autorregulamentação, que impõe limites éticos para a publicidade comercial. Procura-se entender também a eficácia e o valor agregado das campanhas direcionadas às crianças consumidoras do restaurante. Neste sentido, este projeto tem como tema principal as estratégias publicitárias que aproximam o público infantil da marca McDonald‟s e que os levam à 11 decisão de compra. A partir disso, o problema que será avaliado nesta monografia é a influência do produto McLanche Feliz no momento da compra do público infantil. Para chegar a resultados concretos a respeito das reações das crianças quando em contato com a marca McDonald‟s e seus produtos, o quarto capítulo apresenta a pesquisa realizada em um estabelecimento próprio da marca a fim de avaliar reações espontâneas do público alvo no que diz respeito à preferência dos produtos. Esta pesquisa foi realizada por meio de observação no momento da compra. Em um segundo momento, foram feitas perguntas de maneira descontraída – uma conversa – com os pais dessas crianças consumidoras da rede de fast food, no mesmo ambiente da loja. É válido ressaltar que neste momento, nada foi controlado e a conversa conduzida da forma mais natural possível, com consumidores aleatórios, abordados na medida em que foram chegando à lanchonete. Após o entendimento da mídia e sua relação com a infância, das regulamentações destinadas a este público e com a pesquisa realizada e analisada é que chegamos à conclusão na qual define esta monografia. 12 2 MÍDIA E INFÂNCIA – VISÃO GERAL O objetivo deste capítulo é analisar o trabalho da mídia voltado ao público infantil e o papel que ela desempenha nas referências das crianças. É essencial compreender como a intervenção midiática atua no imaginário infantil e qual a extensão dessa influência, já que se vive hoje em uma sociedade de consumo na qual a mídia exerce papel importante na formação da personalidade e de opiniões. A partir disso, perceber os resultados e consequências nas escolhas cotidianas das crianças. Sabendo que este assunto é polêmico e complexo, talvez a melhor estratégia não seja a de apresentar um único modelo de interpretação, mas diversos modos de compreensão da influência da mídia sobre o universo infantil. O projeto apresentará visões mais pessimistas assim como abordagens que apostam na possibilidade de autonomia na recepção, que serão chamadas aqui de teorias apocalípticas e integradas conforme denominação do autor Umberto Eco (1993) quando se refere às teorias contrárias e favoráveis à cultura de massa. Antes de aprofundar no mundo infantil, no entanto, é preciso reconhecer como verdadeira a ideia de que, se a influência existe, direcionada ao público infantil, a influência também existe de uma forma mais generalizada. O entendimento das etapas de socialização, de construção de realidade, bem como os possíveis saldos de uma sociedade em constante mudança de hábitos e valores são assuntos relevantes para o entendimento dos efeitos da cultura da mídia sobre o público infantil. Para começar com uma compreensão direcionada ao ponto de vista apocalíptico, procura-se entender a socialização como um processo não pontual, mas sim algo construído ao longo de toda uma vida. Num sentido mais abrangente, o procedimento torna um indivíduo associal em social, indicando o seu modo de sentir, agir e pensar. Anteriormente à mídia, a família recomendava por meio de gestos do cotidiano a maneira como deveria ocorrer a socialização das crianças, o que mudou muito com o surgimento das mídias de massa, que transmitem grande quantidade de informações diferentes das ensinadas em ambiente familiar ou em instituições de ensino. Cria-se, neste caso, um ambiente social privado que ainda não havia sido observado como influenciador na educação. Segundo Elza Dias 13 Pacheco (2000), a maneira como ocorre o processo de reclusão da sociedade e a ligação deste fato com as influências midiáticas estão entrelaçadas com a produção de necessidades. Massificação e solidão são características da globalização da indústria cultural. A mídia modela as posturas e cria necessidades levando ao consumo do supérfluo. Isso é feito não só por meio de estratégias de publicidade e marketing, como também por meio de estratégias subliminares, que desfilam diariamente em todos os gêneros televisivos. Quanto maior o número de necessidades criadas, maior será a produção de descartáveis (PACHECO, 2000, p. 30). Esta obrigação de consumo do desnecessário, como afirma ainda Pacheco (2000), torna-se um problema na medida em que poderia ser satisfeita de forma palpável no relacionamento com outro homem e de forma abstrata por meio da arte e da cultura, e, no entanto, o que ocorre é uma abertura de espaço para que a mídia satisfaça de maneira imaginária esta série de carências. Deste modo, a autora afirma que, com o mundo globalizado e as mudanças da sociedade moderna, as crianças foram retiradas do convívio coletivo no qual tinham possibilidade de trocar experiências culturais e voltaram-se para o conforto que a sociedade de consumo proporciona dentro de seu lar. Embora existam estudos sobre esta possível intervenção dos meios de comunicação na coletividade e na falta das experiências comunitárias, há também quem acredite que sem comprovação de efeito faz-se inútil a análise de impactos da mídia sobre a sociedade, como aponta Guilherme Canela (2009), quando alega que a área da comunicação é carente de relações comprovadas de causa-efeito, necessárias para tornar uma discussão concreta. Neste mesmo raciocínio, o autor coloca em questão a necessidade dos anunciantes em usar a mídia na tentativa de influenciar as decisões dos consumidores, gastando em sua maioria, grande quantia de dinheiro supostamente em vão, partindo da idéia de que se a intervenção da mídia é assunto inútil, os resultados jamais são concretos. O fato é que, sem reconhecimento de efeito, a preocupação em torno dos impactos causados pela mídia no desenvolvimento integral de crianças está agora na dúvida entre estimular intervenções positivas, conter as negativas ou apenas reconhecer sua influência. 14 Mesmo sem chegar a comprovações concretas dos resultados da mídia diante da socialização das crianças, algumas razões podem ser citadas para que tal caso torne-se relevante: o fato das crianças dedicarem cada vez mais tempo à interação por meio dos meios de comunicação e sua socialização ser muito mais atrativa pela imagem do que pelos conceitos abstratos passados pelas instituições, uma vez que a mídia consegue estar muito mais próxima dos interesses reais das crianças do que qualquer outro possível veículo de socialização. Isso acontece, pois a mesma tem um custo de acesso baixíssimo e é fonte social muito mais confortável e segura, tendo em vista o mundo violento em que vivemos nos dias de hoje. Os meios de comunicação, no entanto, só conseguem se aproximar da realidade do público infantil a partir do momento em que voltam-se a ele, o que não ocorria trinta anos atrás. A efetiva importância das crianças como alvo dos anunciantes pode contextualizar os raciocínios anteriores que mostram o interesse do público infantil pela mídia muito além de simples conveniência. Inês Sílvia Vitorino Sampaio (2004) indica a década de oitenta como início das atividades publicitárias com real ênfase no público infantil, apontando o período anterior a esta data como indiferente para a comunicação voltada às crianças, já que os programas voltados a este público em específico eram considerados os “tapa-buracos”. Diferentemente de Canela, Sampaio (2004) entende que, após a percepção da eficácia da propaganda aplicada sob crianças e adolescentes, há uma tendência global em aumentar este tipo de comunicação: “A criança e o adolescente deixam de ser uma questão de interesse particular de pais e educadores, tornando-se alvo do interesse da propaganda, particularmente da publicidade e do marketing”. O fato de crianças e adolescentes fazerem parte de uma fatia altamente rentável do mercado de consumo faz com que o marketing e a publicidade voltem-se a este público de maneira atenciosa. Sampaio (2004) cita a intensificação do acesso das crianças à mídia como um caminho para a comercialização da infância. Ainda cita um depoimento de Aristides Molina, diretor do TV Criança (1986), que afirma: "Doa a quem doer, um programa para crianças, bem-feito e colocado em determinados horários, é uma vitrine de produtos infantis, proporcionando inesgotável fonte de renda." Vale lembrar que em outros países, como a Alemanha, há discussões acerca da qualidade de mídias exibidas com foco em determinados públicos, como o infantil, visando a satisfação de suas necessidades, enquanto no 15 Brasil, a maior preocupação está em torno dos índices de audiência e aprovação por meio de divertimento, segundo a autora. Neste sentido, O Instituto Alana afirma que, enquanto pais e educadores estão preocupados com a formação das crianças, o mercado está voltado à rentabilidade de seus próprios negócios. Para este último, a criança é um consumidor em formação com grande potencial de influência nas escolhas de produtos, e ultimamente, apenas não palpitam na hora da compra de seguros, produtos de limpeza e combustível, ficando todo o resto – roupas, carros, alimentos – sob sua parcela de autoridade. Segundo o Instituto, a publicidade estimula precocemente a participação infantil no universo de consumo adulto sem que estejam de fato preparadas para isso. Ninguém nasce consumista. O consumismo é uma ideologia, um hábito mental forjado que se tornou umas das características culturais mais marcantes da sociedade atual. Não importa o gênero, a faixa etária, a nacionalidade, a crença ou o poder aquisitivo. Hoje, todos que são impactados pelas mídias de massa são estimulados a consumir de modo inconsequente. As crianças, ainda em pleno desenvolvimento e, portanto, mais vulneráveis que os adultos, não ficam fora dessa lógica e infelizmente sofrem cada vez mais cedo com as graves consequências relacionadas aos excessos do consumismo: obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e álcool, estresse familiar, banalização da agressividade e violência, entre outras. Nesse sentido, o consumismo infantil é uma 1 questão urgente, de extrema importância e interesse geral. Para o Instituto Alana é uma irresponsabilidade inserir crianças no mundo de consumo desde muito cedo e garante que os impactos do consumismo inconsequente que é estimulado desde cedo acarretam, além de desequilíbrio global, danos sociais, econômicos e éticos. O Instituto garante que, da maneira como o consumismo é imposto, as crianças começam a praticar o consumo desde muito cedo, e por esta razão, viram o principal foco dos anunciantes. O consumismo prematuro e outros fatores fazem com que as crianças se sintam atraídas pela presença de personagens famosos, brindes e jogos associados aos produtos, o que as leva a tornarem-se mais fiéis às marcas. 1 INSTITUTO ALANA. Consumismo Infantil, um problema de todos. Disponível em: <http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/ConsumismoInfantil.aspx>. Acesso em: 20 de junho de 2010. 16 Além do ponto de vista do lucro vindo por comunicação voltada às crianças, há quem afirme que os meios, neste caso específico a televisão, dedicam-se a entreter e não educar, conforme assegura Regina de Assis (2009, p. 123) ao fazer referência a profissionais palestrantes do 2º Seminário Internacional Riomídia. Os educadores presentes no debate citado abriram discussões sobre a possibilidade de entreter as crianças sem constituir qualquer espécie de valores. Portanto, de acordo com Assis (2009): “Outra vez se recoloca a responsabilidade empresarial, consequentemente ética, dos profissionais que têm crianças e adolescentes como público-alvo.” A autora ainda acredita que se as entidades responsáveis pela transmissão das informações souberem exercer sua função de maneira coerente, a mídia pode ser uma aliada poderosa dos educadores, no sentido de alterar o ambiente escolar que muitas vezes se assemelha a uma linha de produção em série, que sistematiza conhecimentos, para dar lugar a um ambiente atraente e lúdico, no qual as informações são transmitidas às crianças com qualidade, responsabilidade e critério. A conjuntura em que as crianças vivem é de extrema importância para o entendimento da aceitação midiática por parte do público. De acordo com Talvani Lange et al. (2009, p. 36), pesquisas de mercado realizadas por institutos como Millward Brown e também segundo autores que têm como foco o estudo sobre a relação da mídia e infância como Eliane Karsaklian em Comportamento do Consumidor e Guilherme Canela em Classificação Indicativa, revelam fatos determinantes na nova geração. Devido ao planejamento dos filhos por meio do uso dos anticoncepcionais, como ainda afirma Lange, as crianças já nascem com espaços definidos e muito valor de opinião, além de estar inseridas em um mundo de tecnologia perfeitamente integrado às suas vidas, o que proporciona um relacionamento mais estreito com a mídia desde muito cedo. O cenário de violência nos centros urbanos torna-se outro agravante, pois as crianças passam a maior parte dos seus dias em contato com o entretenimento midiático, enquanto os pais, em sua maioria, trabalham fora de casa e não conseguem ter controle sob as mensagens, às vezes sem conteúdo relevante e até irresponsável, transmitidos aos filhos durante o tempo afastado. Confirmando a integração da tecnologia com o cotidiano da criança, Bettina Hurrelmann (1994 apud SAMPAIO, 2004, p. 155) diz que o quarto infantil é como um parque mediático, cercado de mídia por todos os lados, como livros, aparelhos de 17 som, jogos eletrônicos, etc. Além disso, encontramos a televisão, num ambiente familiar, como mídia generalizada e o computador cada vez mais presente. Só é viável controlar o acesso à TV, conforme afirma a autora, tirando tais aparelhos de casa, porém mesmo neste caso, o acesso pode ser conseguido em casas de amigos e alguns locais públicos. Para mudar o foco de análise e perceber a criança além de suas oportunidades referentes à tecnologia e facilidade de acesso aos meios, mas com a intenção de mostrar uma visão integrada a respeito da relação da infância com os meios de comunicação, Pedrinho Guareschi (1998, p.86) afirma que apesar de todas as pesquisas que tentam entender as conseqüências da mídia na vida das crianças, ignorar a natureza social do desenvolvimento infantil é crítico: “A não ser que pensemos nas crianças como seres míticos e naturais, sobre quem os poderes da sociedade recaem, devemos reconceituar as relações entre criança e mídia.” O autor acredita em fatores como socialização, consumismo, individualização, globalização e privatização como forma de explicar o processo de introdução da criança ao mercado de consumo. Socialização no sentido de estipular identidades, hábitos e crenças; consumismo visto pela transformação da cultura de lazer por a promocional visando lucro e do espectador em consumidor; a individualização vinda da fragmentação da prática comunitária, falta de valores e respeito por autoridades e normas; globalização que ignora em certos casos as emergências locais trazendo uma mesma forma de pensar ao mundo todo e por último a privatização, que desloca o espaço comunitário e de uso público para o privado e doméstico. A utilização dos meios de comunicação como instrumento de socialização é justificável para Canela (2009), uma vez que o perfil das famílias de hoje foi alterado em sua estrutura – casais divorciados, pais e mães que trabalham fora e famílias chefiadas por mães – o que diminui o tempo para atividades de socialização e aproxima os meios. Além disso, os próprios incentivadores (pais, professores) têm sua percepção construída em grande parte por meio do intercâmbio com os meios de comunicação. Na tentativa de perceber a forma de participação dos jovens quando o assunto é mídia, as autoras Cleymenne Cerqueira, Flávia da Guia e Janara Sousa (2009, p. 146) fizeram uma pesquisa com adolescentes por meio de um projeto chamado Jovem Informação para tentar perceber o poder de discernimento e 18 manifestação dos adolescentes em relação à comunicação. O resultado obtido foi uma porcentagem de 91% do total com acesso à televisão, enquanto 89% ouvem rádio. Do total, apenas 5% dos adolescentes pesquisados acreditam totalmente no que ouvem dos apresentadores e celebridades. As autoras acreditam que o processo de descobrir a mídia pode tornar-se diferente a partir da maneira como se faz a leitura do mundo e se aprende a julgar criticamente o modo como a comunicação tenta construir a realidade. Este conceito é sustentado pelas autoras a partir da ideia de que as transformações sociais, no âmbito tecnológico atual, deram mais poder de resposta e visão mais elucidada aos receptores de mensagens midiáticas. Ainda segundo as autoras, a capacidade de apreender e julgar as representações da mídia só é possível a partir da exposição a vários veículos de comunicação. A liberdade em relação ao que se vê na mídia pode ser reflexo de uma sociedade em que os cidadãos participam de todo e qualquer evento em regime de democracia e usufruem do mesmo modo dos veículos de comunicação, já que é deste modo que a cultura de massa passa a existir segundo Bernard Rosenberg (1965 apud UMBERTO ECO, 1993, p. 44). É preciso entender, porém, sob mais um ponto de vista, que o desconhecimento da diferença na recepção das mensagens midiáticas para crianças e adultos ocasiona em uma sequência de erros no que diz respeito à interpretação da mídia, como pontua Maria Cristina Palma Munglioli fazendo referência a Serrano (1989): Não existe um objeto de estudo autônomo que seja „a influência da comunicação‟. Com menos razão pode existir „a influência das imagens‟ como objeto de estudo independente. O que existe, e deve ser investigado, é a produção, aquisição, processamento e utilização da informação pelas crianças. A comunicação é um dos procedimentos que concorrem nesse processo de manuseio da informação; porém sempre a comunicação é utilizada de modo solidário com outros procedimentos não comunicacionais que também levam a informação à criança. Apesar do acesso democrático aos meios de comunicação e levando em conta a recepção diferenciada que o público infantil tem da mídia é que o próximo capítulo irá tratar das normas que regem as propagandas direcionadas às crianças e buscar compreender por meio do Conselho de Autorregulamentação Publicitária 19 (CONAR) e do Código de Defesa do Consumidor quais limites devem ser respeitados quando o assunto é mídia e infância. 20 3 REGULAMENTAÇÃO Este capítulo tem como objetivo analisar as regulamentações que protegem os direitos do consumidor, passar por um histórico de cada instituição ou lei para entender seus fundamentos e perceber em cada um deles de que maneira os direitos das crianças e adolescentes são resguardados quando se trata da influência midiática tratada no primeiro capítulo. Para tanto, os dispositivos importantes são o CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), o CDC (Código de Defesa do Consumidor) e o Instituto Alana. O CONAR é um órgão que foi criado pelos próprios publicitários no final dos anos 1970, quando o Governo Federal pensava em impor uma lei que obrigava toda e qualquer propaganda a passar por uma espécie de vistoria que poderia garantir ou não aprovação para que pudesse ser então veiculada. Assustados com uma possível regressão em direção à censura, os profissionais da publicidade brasileira conseguiram elaborar uma regulamentação própria que, por seguir as tendências da sociedade e suas evoluções, foi reconhecida por autoridades federais e conseguiu anular o projeto que previa a censura, em uma época de regime militar. O código acompanha as necessidades de anunciantes e consumidores, deste modo, decide o que pode ser transmitido às pessoas ou não. O Conselho completa este ano 31 anos e tem como objetivo servir e representar a sociedade civil, já que o trabalho a ser realizado compete em reconhecer os excessos indesejáveis da atividade publicitária por meio de autodisciplina e manter na profissão padrões éticos − segundo os objetivos do órgão, cada vez mais altos. É importante ressaltar que o Conselho não é composto apenas de profissionais atuantes na área, mas também de indivíduos da sociedade civil sem qualquer vínculo com a publicidade, como médicos, como é o caso de Pedro Kassab2 (médico e educador integrante do CONAR desde 1980), advogados, professores e jornalistas, que atuam ao lado dos publicitários de maneira voluntária. Segundo Ari Schneider (2005), o Conselho de Ética é o órgão que zela pela obediência ao código, formado por 130 conselheiros, que não podem exercer cargos 2 Médico e educador que foi integrante do Conselho Federal de Medicina, presidente da Associação Médica Brasileira por nove mandatos consecutivos, presidiu também a Comissão de Ética Médica. 21 públicos. As denúncias feitas por consumidores, autoridades, associados e as de iniciativa da própria instituição são encaminhadas por meio de cartas, fax, e-mail, telegrama ou abaixo-assinado, sempre com autoria. Após o envio da queixa, as informações são passadas ao Conselho de Ética, que avalia se há procedência nas informações passadas e, em caso afirmativo, recomenda aos veículos de comunicação a suspensão, alteração ou arquivamento da peça denunciada. É necessário observar que as decisões do CONAR em suspender anúncios que são reprovados pelo Conselho de Ética normalmente são bem aceitas pelos anunciantes e veículos de comunicação, sendo em sua maioria resolvida por meio da própria entidade com acordos, alterações ou até paralisação definitiva de veiculação. No entanto, por não se tratar de uma lei com caráter coercitivo, ou seja, que pode estabelecer alguma restrição legal ao anunciante, como é o caso do Código de Defesa do Consumidor, quem se sente lesado por alguma sugestão vinda do Conselho pode recorrer à justiça, embora na maioria dos casos, as decisões não sejam diferentes das recomendações. Para ilustrar a maneira de funcionamento do Conselho de Autorregulamentação Publicitária quando o assunto é infância, e, também, conciliar o exemplo com o foco de estudo do presente projeto, faz-se conveniente apresentar o caso da representação nº 056/88 feita pela Escola de Pais do Brasil - Regional de Campinas (Grupo de Consumidores) contra o anúncio de TV com título “Reencontro”, da rede de fast food McDonald‟s, produzido pela agência McCannErickson Publicidade LTDA. O roteiro do anúncio mostra duas crianças que, por não cumprirem determinada regra da escola, tiveram seus pais chamados pela diretoria. Ao chegarem à sala da direção para conversar sobre o mau comportamento dos filhos, o pai de uma das crianças e a mãe da outra percebem que se conheciam há muito tempo, o que faz com que a reunião transforme-se em um reencontro, que acaba em um lanche descontraído e alegre na lanchonete McDonald‟s. A denúncia ocorreu pelo fato de um grupo de diretores alegar que a peça desautoriza e ignora a hierarquia dos professores, além de ridicularizar a classe pelo uso de estereótipos ultrapassados no figurino e conduta da atriz que representou a pessoa da diretora. O Conselho de Ética do CONAR analisou denúncia e defesa e chegou à conclusão de que por se tratar do McDonald‟s, isto é, uma marca conhecida, com grande presença na mídia e potencial para influenciar opiniões e comportamentos, 22 seria importante tomar cuidado com assuntos relacionados a respeito, hierarquia, comportamento e disciplina, já que seus valores poderão servir de exemplo de conduta a muitas crianças. O parecer ainda frisa que o CONAR não é contra a ideia de diversão na vida das crianças e muito menos julga que a intenção do anúncio era a de afirmar que a “ida ao McDonald‟s” induz ao “desrespeito aos professores e diretores”. Para o CONAR, o importante é pontuar que a publicidade não pode desconsiderar os educadores, sobretudo quando o desrespeito à instituição de ensino, como é mostrado no comercial, vem de um exemplo dos próprios pais. A defesa vinda do anunciante diz que o comercial apenas quis mostrar uma situação corriqueira, espontânea e verdadeira. O Conselho encontrou aí a falha ética do anúncio alegando que a situação representada pode ser espontânea, porém jamais corriqueira, até pelo fato de que qualquer pai ou mãe com boa orientação não desejaria uma escola que tratasse tal fato como corriqueiro, banal e verdadeiro. Para o CONAR, o ambiente alegre da escola jamais deve ser separado de sua real missão formadora e que seu fundamento principal é a formação de caráter e valorização das responsabilidades e não o adestramento de aptidões do educando. A recomendação do caso foi a sustação da veiculação deste anúncio de TV, que embora o Conselho acredite não ter sido proposital e que em determinados momentos não traduz a mensagem de desconsideração à figura da diretora, traz malefícios à boa conduta das crianças, considerando que a peça é uma unidade e não pode ser fragmentada em diversas mensagens. O anunciante acolheu a sugestão do CONAR e retirou o anúncio dos veículos de comunicação. Mais um exemplo da atuação do CONAR em prol da integridade infantil veio por meio de uma carta enviada por um consumidor no ano de 1993, que se sentiu agredido com o comercial de TV referente às tesouras dos personagens “Mickey e Minnie”, em que aparecem duas crianças. Uma delas possui a tesoura e a outra não, a criança que possui fala repetidamente para a outra: “Eu tenho, você não tem.”, o que aos olhos do consumidor pareceu uma alegação de inferioridade às crianças que não adquiriram o produto. Após a chegada da carta, anunciante e agência foram citadas e enviaram sua defesa, que de maneira geral alega que o anúncio foi criado por meio de pesquisas que relatam reações comuns à maioria das crianças. O defensor ainda aponta que o comercial foi produzido em tom de brincadeira e explora apenas a competição infantil saudável apontada pelas 23 pesquisas e que segundo a agência, faz parte da postura infantil, não tendo a intenção de inferiorizar quem de fato não possui a tesoura. O entendimento do CONAR a respeito da justificativa apresentada foi de que as crianças não devem ser tratadas como “adultos pequenos”, com consciência crítica e discernimento para compreender que não possuir determinado objeto que o restante tem, pode não representar nada. Ao contrário, segundo o Conselho de Ética, as crianças sentem-se inferiorizadas na medida em que o produto as atrai, mas por diversos motivos, inclusive econômicos, não são possibilitadas de obtê-lo. O Conselho acreditou ainda e revelou em seu parecer, que a publicidade deva demonstrar o objetivo da educação e do desenvolvimento de maneira suave, ou seja, num ambiente em que todas as crianças possam ser felizes e não algumas prósperas por meio da tristeza da outra. Sendo assim, a decisão tomada pelo CONAR aconselha a sustação do anúncio aos veículos de comunicação. Como já dito anteriormente, o CONAR apenas recomenda baseado em seu código de ética e não tem poder para coagir como o Código de Defesa do Consumidor, que veremos logo a seguir, e, no entanto, o denunciado tem a escolha de acatar ou não as considerações feitas. Ainda que o CONAR, em geral, tenha uma boa imagem entre anunciantes e agências, outro ponto de vista da autorregulamentação publicitária é possível, como afirma Giacomini Filho (2008, p. 179). Para o autor, a sociedade pode pôr em xeque a validade do CONAR, uma vez que para muitas pessoas é uma entidade que representa apenas os interesses da classe dos publicitários, ou seja, não está preocupada com o bem da coletividade, mas sim, voltada a uma autoproteção contra ações governamentais que um dia ameaçaram a classe com uma lei que previa censura. O autor acredita ainda, que embora o código seja um instrumento que traduz a expectativa das pessoas em relação à conduta ética dos publicitários (e também às transmissões de mensagens), os valores morais contidos nas decisões do CONAR podem causar conflito entre a entidade e os anunciantes. Mais uma preocupação de Giacomini Filho vem pelo fato de que embora o Código Brasileiro de Autorregulamentação tenha o poder de recomendar mudanças em peças, sustar, arquivar ou divulgar sua posição em relação a determinado anúncio por meio dos veículos de comunicação, existirá ainda, na definição do autor, o “efeito residual”, ou seja, mesmo que os anunciantes cumpram as recomendações 24 vindas do Conselho como têm feito, as pessoas já tiveram contato com a mensagem danosa. Afirma ainda que por ocorrer este contato prévio da mensagem nociva com o consumidor e com a certeza da censura do CONAR, alguns anunciantes buscam por anúncios infratores para gerar efeito residual propositalmente. Um exemplo que elucida a intenção de uma marca em gerar o efeito descrito acima foi um comercial de TV do amaciante Mon Bijou3, no qual o apresentador enumera as qualidades do produto anunciado e em determinado momento cita o concorrente, Confort, e faz comparações que o inferiorizam. Os responsáveis pela marca concorrente tomaram as medidas cabíveis para que o nome do produto não mais fosse citado no comercial. A resposta veio com um segundo anúncio4, idêntico ao anterior, porém no qual o amaciante Confort aparece coberto com um capuz e ao final o apresentador em tom de brincadeira diz que por ter reclamado, o produto não vai mais aparecer na televisão. Giacomini Filho acredita também que o CONAR deu passos largos quando começou a divulgar o resultado das suas decisões abertamente no seu site, pois mostrou à população que as decisões são transparentes. No entanto, os processos instaurados e sustados pelo órgão como disponibilizado no próprio site são muito poucos, comparado ao crescente número de queixas relacionadas à publicidade existentes hoje no Brasil. Isto se deve ao fato de o CONAR ser pouco conhecido entre as pessoas e também por atuar de forma limitada – o que, segundo o autor, pode sujeitar o setor da publicidade a resoluções vindas de movimentos de consumidores ligados a ministérios federais. A publicidade nociva deve ser condenada por várias instituições preocupadas com o assunto, já que cada uma delas se responsabiliza por um determinado aspecto e que juntas, podem integrar um sistema vasto contra a propaganda que fere os interesses sociais, como cita Giacomini Filho (2008, p. 224): Os números e a análise efetuada sobre as práticas publicitárias mostram que o combate à propaganda lesiva deve reunir diferentes entidades, pois o enfoque especializado de cada entidade compõe um sistema amplo e diversificado contra a publicidade que se opõe aos interesses sociais. Em tal contexto, o Conar não pode ser demasiadamente cobrado por suas decisões ou pela quantidade de processos instaurados, pois a coibição da propaganda lesiva ao consumidor já é uma prática compartilhada, que 3 4 Disponível na Internet. URL: http://www.youtube.com/watch?v=h6peGlNia60 Disponível na Internet. URL: http://www.youtube.com/watch?v=nl5ZeG3kY5g&feature=related 25 precisa ser aprimorada por todas as entidades incumbidas de tal tarefa e por outras que poderão integrar o sistema. Já com autoridade para obrigar cumprimento de lei, existe o Código de Defesa do Consumidor, que, como afirma ainda Giacomini Filho, é um documento isento de revisão e detalhamento, pois sua estrutura é bem preparada e traduz de maneira correta o significado da contrapropaganda e como deve ser realizada. Contudo, o código poderia ser mais bem aproveitado pelo mercado e autoridades que fiscalizam a propaganda. Trata-se da lei nº 8.078 de Setembro de 1990, que “dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências” como previstas no Código do Consumidor. Os artigos deste código que dizem respeito à publicidade são os arts. 36 a 385 que determinam que a publicidade deve ser feita de maneira fácil e clara ao consumidor, isenta de informações falsas, estando o anunciante obrigado a possuir toda e qualquer informação sobre os produtos e serviços oferecidos, caso o consumidor as procure. Fica clara a posição do código quando refere-se ao trato com as crianças, determinando abusiva a propaganda que usa da pouca experiência infantil e pouca capacidade de julgamento para influenciar comportamentos, sendo o veículo de comunicação ou o anunciante, responsável pela correção da peça. Ainda visando à proteção das crianças no que diz respeito ao consumismo e intervenção midiática, existe desde 2005 o projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, que embora não possa intervir na esfera legal a favor dos direitos das crianças e adolescentes como o CDC, desempenha o papel de conscientizar a população em geral sobre os impactos do consumismo inconsciente direcionado a infância. Para tanto, faz uso de três áreas de atuação responsáveis: JurídicoInstitucional, Educação e Pesquisa, Comunicação e Eventos. Além de apoiar as decisões do executivo, legislativo e judiciário nas questões relacionadas às crianças e consumo, o setor Jurídico Institucional do instituto conduz notificações aos anunciantes, órgãos públicos e ao CONAR, alertando sobre a publicidade indevida direcionada ao público infanto-juvenil. A área de Educação e Pesquisa incentiva estudantes de graduação e pós-graduação oferecendo bolsas de estudo para os interessados em abordar o tema do consumo 5 A íntegra dos artigos encontra-se no Anexo A. 26 relacionado à infância em suas pesquisas, assim como tem participação ativa em eventos de empresas, escolas, universidades, órgãos governamentais e entidades do terceiro setor quando o assunto é consumismo. Já o departamento de Comunicação e Eventos é responsável pela divulgação de peças e documentários com fins educativos, bem como idealização de eventos, mídia e internet. O Instituto Alana, assim como o CONAR, atua com recomendação aos anunciantes. Um exemplo da intervenção do instituto visando à proteção da criança ocorreu com uma campanha publicitária do Banco Itaú em Dezembro de 2007, em que uma criança foi protagonista, conforme o site do Instituto: O Banco Itaú S.A., para divulgar as diversas opções de investimentos como fundos, poupança e previdência, realizou publicidade que tinha como protagonista e interlocutor uma criança que, por meio da fala direta ao público, discorria um texto que fazia alusão ao conforto e segurança que uma aplicação no Banco Itaú proporcionaria. O Instituto Alana, por meio do Projeto Criança e Consumo, constatou a abusividade do comercial, uma vez que se utilizava do vocativo infantil para tornar crianças promotoras de vendas, gerava fatos e situações-modelos de inserção precoce da criança no mundo adulto, além de divulgar valores distorcidos, como a supremacia de valores fundados nos bens materiais em detrimento das conquistas emocionais e intelectuais. Diante das análises feitas pelo Instituto, uma notificação foi enviada ao Banco a fim de que a campanha fosse paralisada. A empresa respondeu com a retirada dos anúncios e com a promessa de mais cuidado com as crianças em futuras peças publicitárias, negando a intenção do abuso. Embora as regulamentações citadas acima tenham sua importância, Edgard Rebouças (2008, p. 76) aponta a insuficiência das normas brasileiras relacionadas à publicidade com foco em crianças, sobretudo quando estas normas são comparadas com a regulamentação de outros países. Para ilustrar esta situação, o autor destaca uma diferença no que diz respeito à publicidade voltada às crianças na região de Québec, Canadá. Na cidade, existe uma lei própria e vale ressaltar que esta lei é válida apenas em território local e não em todo o país. A Lei Sobre a Proteção do Consumidor, mais conhecida como Lei 72, iniciou em abril de 1980 e seu artigo 248 diz: “Ressalvado o que está previsto por lei, ninguém pode fazer publicidade com objetivo comercial destinada a pessoas com menos de treze anos.” Esta lei é válida para qualquer tipo de mídia, porém mais focada na televisão. 27 Há também no Canadá o “Code”, Código da Publicidade Destinada a Crianças no Rádio e na Televisão, que representa um código de autorregulamentação tal qual o CONAR no Brasil, com a diferença, como aponta Rebouças (2008, p. 78), na aprovação da regulamentação canadense pela Comissão de Radiodifusão e Telecomunicações, uma vez que esta dá suporte constante com o amparo dos Ministérios da Saúde e Educação e o cumprimento da norma é quesito importante para a obtenção de licença nas rádios e televisão. Já no Brasil, as iniciativas de defesa à criança com intenção de envolvimento do Estado ou Defesa do Consumidor são reprovadas por empresários que alegam o ferimento à liberdade de expressão acima de tudo. Para entender o papel desempenhado pelo Conselho de autorregulamentação do Canadá, podemos citar um caso de “parceria” entre o Code e empresas atuantes no ramo alimentício. Em abril de 2004, foi instituída uma lei sobre alimentos e medicamentos, assim como rotulagem e publicidade destes, publicada pela Agência Canadense de Inspeção de Alimentos – tendo como objetivo controlar as mensagens dirigidas sobre estes produtos e controlar fatores como obesidade infantil e educação alimentar. Diante disso, o Code incluiu em suas recomendações o seguinte item: A publicidade de alimentos direcionada a crianças não deve ser inconsistente no que se refere às estipulações da Lei de Regulamentação sobre Alimentos e Medicamentos e o Guia para Rotulagem e Publicidade de Alimentos da Agência Canadense de Vigilância Alimentar. Este Guia de Interpretação do Code pretende, entre outras finalidades, assegurar que comerciais representem os horários de refeições com clareza, que descrevam adequadamente o papel do produto anunciado dentro do quadro de uma dieta balanceada, e que os alimentos de lanche sejam apresentados claramente como tal, não como substitutos para refeições. Em torno de cento e sessenta empresas concordaram e assinaram o documento, dentre elas, a rede de fast food McDonald‟s. De acordo com o autor, no Brasil tal fato não ocorreria, já que os empresários possuem uma atitude que afasta qualquer intervenção em seus negócios. Para demonstrar o ponto de vista do empresário brasileiro perante este aspecto, Rebouças (2008) ilustra com uma entrevista sobre a regulamentação brasileira de publicidade dirigia às crianças, respondida por Synésio da Costa, 28 presidente da Abrinq, Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos. O empresário foi questionado sobre a possibilidade de o Brasil seguir o exemplo de países desenvolvidos democráticos nos quais a publicidade é proibida, como é o caso da Suécia, segundo Rebouças (2008, p.90): Synésio da Costa – Vamos entender como funciona a sociedade sueca: ela não tem crianças. A quantidade de crianças que tem a Suécia caberia aqui num bloco de meia dúzia de apartamentos. Esse veto é meramente fruto dessa sociedade que vai envelhecendo, se apequenando, em que pese um profundo desenvolvimento econômico e a elevadíssima renda. A sociedade sueca roda um “software” diferente do “software” da sociedade brasileira, que é o da liberdade de expressão, da alegria, da felicidade. [...] Querer usar os países nórdicos como exemplo para tentar proibir publicidade infantil? Tenha santa paciência. É um atraso de vida fantástico. [...] Sinésio da Costa ainda foi interrogado a respeito do impacto da proibição em números: Synésio da Costa - Qualquer número que eu disser, alguém pode me chamar de mentiroso. Eu conheço a experiência da Suécia, da Finlândia e da Noruega. Lá já não há criança e a venda de produtos infantis - de brinquedos e outros artigos - caiu de cara quando a lei entrou em vigor no primeiro mês. Deputado, às vezes, não tem o que fazer.” Após a análise das regulamentações existentes no Brasil, vindas de instituições privadas ou governamentais e a percepção da eficácia de cada uma delas, quando a intervenção em anúncios dirigidos às crianças é necessária, tornase importante estudar a marca foco deste projeto, McDonald‟s, para que com base nos assuntos até então abordados, a conclusão sobre a influência dos produtos na publicidade infantil consiga ser determinada. 29 4 MCDONALD’S O presente capítulo procura fazer uma passagem pelo início da história da marca McDonald‟s, entender sua construção e objetivos, com a intenção de trazer sentido ao estudo do projeto. De acordo com Fontenelle (2002, p. 49), o nascimento da marca McDonald‟s pode ser situado em um momento de industrialização do cinema e despertar da cultura de massa, pois, nesse cenário, junto com a criação do automóvel T de Henry Ford e a inspiração de uma vida com liberdade sobre rodas vinda do cinema de Hollywood, surge o drive - in, ou seja, ramo do serviço de alimentação no qual os consumidores são atendidos dentro de seus carros. McDonald‟s era ainda apenas o sobrenome de dois irmãos irlandeses, que faziam parte da primeira geração de pessoas desse país que foram em busca do sonho americano do enriquecimento por meio de um negócio lucrativo. Segundo a autora, foi na Califórnia que encontraram condições para o desenvolvimento de um negócio, e embora sem encontrar facilidades, os irmãos inauguraram em 1937, em Arcadia, região ao norte de Los Angeles, seu primeiro restaurante com sistema drive - in e posteriormente o segundo (bem maior), em San Bernardino. O público atraído pelo sistema de atendimento do restaurante dos irmãos McDonald‟s na época foi o de adolescentes, que nos anos 1940, como afirma Fontenelle (2002, p. 53-54), já faziam parte de uma “cultura dos jovens” mais explícita nos anos 1960. Esta cultura era vinda de uma geração entendida como problemática e refletia uma sociedade do pós-guerra na qual um grande mercado de consumo foi aberto aos jovens. O reflexo desses fatores era um mau comportamento dos adolescentes, que em seus pontos de encontro, provocavam desordem e traziam dificuldades aos proprietários dos estabelecimentos que frequentavam. Por esta razão, pelo fato de perceberem uma saturação de mercado e também devido ao aumento significativo da taxa dos salários pagos aos funcionários, foi que em 1948, como relata Fontenelle (2002, p. 55), os irmãos McDonald‟s fecharam o restaurante por seis meses para então reabrir o drive - in de maneira totalmente reformulada: cardápio enxuto e pouco contato com o cliente, caracterizando agora, um restaurante fast food. 30 A nova forma de trabalho agora adotada pelo McDonald‟s havia atraído um novo público, segundo a autora, de profissionais que procuravam um restaurante que tivesse atendimento rápido para os horários de almoço. Depois disso, a lanchonete passou a ser frequentada por famílias que queriam preço baixo e agilidade nos lanches de meio de tarde e a noite. Da necessidade de velocidade que tinham os americanos surgiu o primeiro mascote da marca, Speedee, que traduzia bem o estilo rápido e de tempo reduzido em que viviam as pessoas no período pós guerra. 6 Figura 1 – Speedee, o primeiro mascote. 4.1 RAY KROC E A EXPANSÃO DA MARCA De acordo com Fontenelle (2002), Ray Kroc era um vendedor de descartáveis para fast food e também de um inovador aparelho para produção de Milk shake chamado multimixer, que o tornou um profissional de vendas muito bem 6 Disponível na Internet em <http://web.wm.edu/amst/370/2004/sp4/mchistory.html?svr=www>. Acesso em 12 de setembro de 2010 às 15:20. 31 sucedido na época. No entanto, Kroc enfrentou problemas para obter matéria prima (cobre), necessária para o funcionamento dos motores do equipamento e, além disso, alguns anos depois, o perfil dos consumidores que mudou drasticamente, acabando com suas vendas. Embora não houvesse mais mercado para suas mercadorias, Ray Kroc foi procurar entender por que uma lanchonete como o McDonald‟s (seu maior cliente) precisava de oito máquinas de “multimixer” de uma só vez. Como relata Fontenelle (2002, p. 66), Ray Kroc se julgava conhecedor o suficiente de restaurantes, para reconhecer quais poderiam atrair e fidelizar o público e quais estariam pré-dispostos a falência. E ao analisar o restaurante dos irmãos McDonald em busca de respostas, pela primeira vez em funcionamento, percebeu um estabelecimento com muito movimento de consumidores e pouca demora no atendimento. No interior da loja havia uma equipe de colaboradores com uniformes brancos e chapéu, que passavam a imagem de limpeza, muito rara nos restaurantes da época. Segundo Fontenelle, Kroc viu que: “(...) utilizava-se de serviços padronizados para cada passo da operação: abastecimento organizado dos suprimentos, em moldes industriais; eficiência do sistema de produção do cardápio simplificado, levando à diminuição de desperdícios; serviços rápidos e conseqüentemente, baixos preços.” Os irmãos McDonald estavam muito satisfeitos com o que haviam conquistado e de acordo com a autora, priorizavam a qualidade de vida, até por esta razão é que recusaram a oferta inicial de Kroc em expandir a rede de lanchonetes por toda a América, pois isso poderia lhes trazer preocupações. Essa postura não era bem a que os novos tempos pediam aos homens de negócio. E Ray Kroc estava no lugar certo e na hora certa para se apresentar como candidato a expandir os restaurantes McDonald‟s por toda a América, tornado-se, dessa forma, seu primeiro “master franqueado”. A história, de pouco tempo e muitos conflitos vividos entre os irmãos McDonald e Ray Kroc, teve um fim quando este último conseguiu comprar os direitos exclusivos de uso da marca e então fundar a McDonald‟s Corporation (FONTENELLE, 2002). Ray Kroc se preocupava muito com a limpeza e a agilidade do restaurante e por adotar esse sistema de atendimento e estar situado em uma época em que padrões começam a ser exigidos é que, como afirma Fontenelle (2002, p. 72): 32 Nessa América idílica do pós-guerra, o McDonald‟s tornou-se o protótipo e o reflexo do espaço social idealizado, no qual pudessem reinar a disciplina e a ordem. Nele, os ideais do progresso – por natureza, contraditórios – puderam ser dissimulados, e o McDonald‟s conseguiu essa façanha porque calcou esses ideais numa “cultura do controle” que veio a reboque do desenvolvimento técnico: além de um lugar asséptico, tornou-se um espaço previsível, onde o consumidor sempre sabe como deve se comportar, o que esperar, o que vai comer e quanto vai pagar. Embora Kroc tenha assinado um contrato de dez anos com os irmãos McDonald que lhe garantia o direito de negociar franquias da lanchonete, segundo Fontenelle (2002, p.62), não lhe era permitido a criação de novos produtos, desenvolvimento de novos sistemas e escolha de novas localizações para os restaurantes e, no entanto, era isso que ele queria fazer, segundo Fontenelle (2002, p. 86): Kroc concluiu que a única maneira de “dar o seu toque pessoal” aos negócios e, consequentemente, usufruir inteiramente dos seus resultados seria a posse integral dos direitos de propriedade. E ele também estava consciente da importância do nome da marca, porque, em 1960, o McDonald‟s já possuía 228 lojas no mercado americano. Por isso, quando ele se chateava muito com as atitudes dos irmãos e se perguntava por que não deixava tudo aquilo de lado e começava a construir o seu próprio negócio, vinha-lhe a lembrança do nome. Ele sabia o quanto custava – em dinheiro e tempo – a construção de um nome forte no mercado. A proposta dos irmãos a Ray Kroc foi de dois milhões e setecentos mil dólares à vista para a obtenção de todos os direitos sobre o negócio, ficando fora de negociação apenas a primeira loja em San Bernardino. Ray Kroc tornou-se dono da marca. 4.2 OS ARCOS DOURADOS, RONALD MCDONALD E O MCLANCHE FELIZ Segundo Fontenelle (2002, p. 200), a arquitetura dos restaurantes de fast food foi construída ou modificada em função da força cada vez mais presente do 33 automóvel. Os projetos precisavam ser pensados de maneira que atendesse à velocidade e a pressa do “novo homem”: Os motoristas – assim como os carros – precisavam ser alimentados. E a arquitetura desses edifícios, que nascem em função do desenvolvimento das rodovias, precisa ser, também, uma resposta à nova forma de olhar que é produto dessa velocidade automotiva: a atenção concentrada das estradas em meio ao deslocamento veloz provoca o relance, o olhar fugidio para as coisas em redor. Como capturar esse olhar em meio a tanta mobilidade? Tal desafio exigia que se desse um novo tratamento às imagens arquitetônicas para atrair esse viajante das auto-estradas. Foi seguindo a necessidade de estar em sintonia com o conceito arquitetônico dos novos tempos, que um dos irmãos McDonald, Richard, incluiu em um projeto de melhoria arcos grandiosos acrescidos de gás neon que dessem a impressão de sustentar toda a construção. Ray Kroc manteve os arcos que hoje simbolizam a marca. Quando teve acesso ao projeto de Richard, Ray Kroc gostou da idéia básica dos arcos e da maioria das outras partes do projeto arquitetônico. Ele levou o projeto adiante quando começou a construir todas as suas lojas franqueadas com os arcos, tornando-os o signo por excelência do McDonald‟s e multiplicando-os através de toda a América. Os arcos que atravessavam o telhado estiveram presentes em, aproximadamente, mil restaurantes, e fizeram parte da arquitetura do McDonald‟s até o final dos anos 60, quando passaram a ser apenas a logomarca que conhecemos hoje – dois arcos que podem ser lidos como um M – de McDonald‟s (FONTENELLE, 2002). 34 Figura 2 – Arcos dourados grandiosos. 7 Figura 3 – Logomarca: os arcos dourados que 8 conhecemos hoje. O bonequinho Speedee foi substituído então pelos arcos dourados, já que neste novo período, além das mudanças nas fachadas, os profissionais de marketing consideravam mau gosto a utilização de personagens com feição humana. 7 Disponível na Internet em <http://www.mcdonalds.com/us/en/our_story/our_history.html>. Acesso em 12 de setembro de 2010 às 15:23. 8 Disponível na Internet em <http://crialele.wordpress.com/>. Acesso em 12 de setembro de 2010 às 15:30. 35 No entanto, como afirma Fontenelle (2002), apesar da eliminação do primeiro mascote Speedee e a criação dos arcos dourados, a representatividade da marca não estava totalmente aparente com a utilização do símbolo, quando relata que “ os arcos dourados, apesar da sua popularidade, não conseguiam representar toda a “experiência” que deveria ser associada ao comer no McDonald‟s. Foi essa conclusão a que chegou a companhia quando resolveu investir na propaganda televisiva.” Na época que a marca percebeu o investimento em televisão como um aliado para a busca de resultados, os programas infantis estavam entre os maiores índices de audiência. Neste cenário, um franqueado da rede em Washington se filiou ao programa infantil O Circo do Bozo acreditando ser o meio ideal para a aproximação com o público alvo. O interesse das crianças foi grande e mesmo após o programa sair do ar, o palhaço se manteve junto à marca, com o mesmo ator que representava o Bozo, porém agora na figura de um palhaço do McDonald‟s, modelado pelos próprios produtos da rede – chapéu em forma de bandeja que levava Milk shake e batatas fritas, além de sapatos em forma de pães e nariz de copo personalizado - ainda sem nome. 9 Figura 4 – O primeiro palhaço. 9 Disponível na Internet em <http://blog-do-netuno.blogspot.com/2009/10/morra-de-medo-o-primeirocomercial-do.html>. Acesso em 12 de setembro de 2010 às 15:32. 36 Embora no início a agência de publicidade não houvesse aprovado totalmente a ideia de manter o palhaço como personagem oficial da marca por parecer um tanto antiquado num tempo em que novos conceitos estavam surgindo, o sucesso entre as crianças acabou provando que Ronald McDonald – nome dado por acaso e apenas porque rima com McDonald - era mesmo a melhor escolha, como aponta Fontanelle (2002, p.227): Ray Kroc prestou homenagens ao criador de Ronald, insistindo na importância do palhaço para a construção da imagem de marca do McDonald‟s. Ele nos mostra como o palhaço resultou de uma série de minuciosos estudos que levaram a criar sua aparência e personalidade, a ponto de até mesmo a cor e a textura de sua peruca terem sido analisadas cuidadosamente. Kroc nos diz que adorou Ronald e afirma que as crianças também. Ele diz que “até mesmo a sofisticada revista Esquire o amava. Eles convidaram Ronald para sua „Festa da Década‟, no encerrar dos anos 60, e o McDonald‟s foi escolhido para fornecer a comida da festa porque tinha causado o maior impacto sob os hábitos americanos de comer fora durante esse período. Figura 5 – Ronald como conhecemos hoje. 10 10 Disponível na internet em <http://shadow.winnerbb.com/etrinity-forest-rpg-f7/rules-and-regulationt10-15.htm/>. Acesso em 12 de setembro de 2010 às 15:45. 37 O restaurante McDonald‟s sentiu necessidade de inventar um lanche para as crianças e tornar-se assim, um restaurante para a família. Depois de algumas tentativas é que em 1979, St. Louis – gerente regional de publicidade - criou o Happy Meal, que além do lanche exclusivo para crianças, vem com um brinquedo. Segundo o McDonald‟s (2004), Happy Meal já ofereceu bonecas Barbie, carrinhos da famosa marca Hot Wheels, pôsteres do filme E.T. e jogos para o vídeo game SEGA, além de parceria com a Disney. O Happy Meal já está em 100 países ao redor do mundo e é servido em 29.000 restaurantes, incluindo no Brasil com o nome de McLanche Feliz. Existe também, de acordo com o McDonald‟s (2004), o The McDonald’s Collector’s Club (Clube dos Colecionadores do McDonald‟s) desde 1990. Como são muitos os brinquedos que o McLanche Feliz oferece, pessoas resolveram colecionálos e criar um clube. No mês de Setembro de 2010, no Brasil, o McLanche Feliz traz para as crianças os bichinhos da marca Littlest Pet Shop para as meninas e bonecos de um desenho animado chamado Bakugan para os meninos. A divulgação desses brinquedos se faz via site do McDonald‟s, onde já na Home Page os brinquedos são divulgados, além disso, propagandas de televisão são feitas e geralmente veiculadas em canais infantis de TV fechada e passam em média quatro vezes durante a semana, divulgando os brinquedos daquele mês para o público infantil. Figura 6 – Brinquedos do McLanche Feliz no mês de Setembro de 2010. 11 11 Disponível na Internet em <http://esconderijodokoi.blogspot.com/2010/08/bakugan-no-mc-lanchefeliz.html>. Acesso em 12 de setembro de 2010 às 15:47. 38 Figura 7 – Exemplo da caixa do Happy Meal. 12 4.3 A IMPORTÂNCIA DA MÍDIA PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA GRANDE MARCA Quando Al Ries (1998 apud FONTENELLE, 2002, p. 261) aponta que “uma nova marca deve ser capaz de gerar publicidade favorável na mídia ou não terá uma chance no mercado”, comprova que a mídia, em especial as “Relações Públicas” trazem grande efeito na construção da marca na mente do consumidor, já que, como ainda afirma Al Ries (1998 apud FONTENELLE, 2002, p.262), gera-se muito mais credibilidade para a marca quando outra pessoa a elogia ao invés de os próprios proprietários afirmarem que são melhores. Ray Kroc mostrava grande senso de importância midiática, segundo Fontenelle, quando em 1957 contratou uma agência de relações públicas que 12 Disponível na Internet em <http://www.mcmaryland.com/27655/18619/default-page/>. Acesso em 12 de setembro de 2010 às 15:52. 39 conseguiu traduzir o conceito de imagem da rede de fast food e transformá-la na melhor publicidade gratuita que o McDonald‟s já teve. No entanto, para que as pessoas possam elogiar um produto ou uma marca resultando em publicidade positiva é preciso, segundo Al Ries (1998 apud FONTENELLE, 2002, p.262): - “ser a primeira marca em uma nova categoria” -, ou seja, ser capaz de criar ou, na maioria das vezes, recriar um produto ou serviço a fim de gerar um novo conceito. Só dessa maneira é possível se tornar notícia, já que a mídia está sempre sedenta pelo novo, pelo primeiro, pelo que é “quente”. Somente depois, quando o novo negócio já tiver sido devidamente incorporado ao modo de vida das pessoas e a marca sedimentada – e quando a mídia já estiver atrás de algo ainda “mais quente” -, o proprietário da marca terá de preocupar com propaganda, visando manter o seu nome. Segundo Fontenelle, de fato Ray Kroc conseguiu construir positivamente a marca McDonald‟s, já que ele mesmo “fascinava seus entrevistadores”, pois era sedutor com a mídia e fazia uso do seu carisma para promover a marca. Além disso, a força que a criação do automóvel trouxe para a mudança do estilo de vida dos americanos e a reinvenção do conceito de hambúrguer neste cenário foram fatores que se somaram como forma de garantia do sucesso da marca. Conforme afirmações feitas anteriormente a respeito de impactos negativos na mídia, a marca McDonald‟s, segundo Fontenelle (2002), teve suas vantagens: “Embora o McDonald‟s também tenha sofrido a contrapartida da mídia – a publicidade negativa -, na maioria das vezes a imprensa foi generosa com essa marca, pois ela sempre foi capaz de oferecer modelos que puderam retratar, perfeitamente, sua época.” 40 5 PESQUISA Para avaliar o efeito do produto McLanche Feliz da rede de fast food McDonald‟s sobre as crianças, fez-se necessária a utilização de pesquisa em duas etapas: observação e posteriormente entrevista. Em um primeiro momento, foi realizada observação de pais e crianças em um dos restaurantes do McDonald‟s, localizado na praça de alimentação do shopping Crystal, em Curitiba. A observação foi fundamental, pois trouxe ao trabalho aspectos importantes e significativos quanto à postura do grupo social analisado. Vale ressaltar que a pesquisa de observação tem como objetivo, segundo Domingos Parra Filho (1998, p. 105), perceber características essenciais ao desenvolvimento do estudo, tais como: relação do público com o ambiente no qual está inserido - já que isso influencia em suas atitudes -, o que o grupo faz, quando faz e com que frequência, como se comporta, se comunicam algo ou não e a maneira como fazem relação à sociedade em geral. Segundo Parra Filho, o observador deve se ater a pequenos detalhes no momento em que estiver praticando a observação, já que a captação da totalidade das informações é elemento essencial e faz a base do restante da pesquisa. No caso da observação do público infantil e seus pais feita no shopping citado anteriormente, constatou-se que as crianças, em sua maioria, chegam à praça de alimentação com uma decisão tomada. Embora os pais por algumas vezes andem em direção aos outros restaurantes, quando a criança decide por comer no McDonald‟s, a resistência é quase nula. Neste caso, ou a família toda vai ao McDonald‟s e decide sua refeição lá, ou compra o que a criança deseja, dirigindo-se posteriormente à outra opção. Após a decisão tomada e quando de fato chegam ao balcão, as crianças de até aproximadamente dez anos de idade optam pelo McLanche Feliz. O momento da escolha por uma das opções do brinquedo que vem como brinde do lanche é ansiosamente esperado, ou seja, mais do que pelo sanduíche, esperam a pergunta de qual brinquedo querem levar de brinde. Quando há na família mais de uma criança, os brinquedos escolhidos são diferentes, em sua maioria. 41 Como no ambiente de shopping não existem os brinquedos de pátio, que estimulam a interação entre as crianças, a comunicação entre elas é rara, exceto em alguns casos, que comentam poucas palavras sobre o brinquedo escolhido. Feita a observação das crianças e com um roteiro de perguntas previamente elaborado, foi esperado um tempo até que novas famílias chegassem ao local, para conduzirmos então, a segunda etapa de pesquisa. Segundo Parra Filho (p. 108), “tão importante quanto as qualificações necessárias a um bom entrevistador é a elaboração de um questionário que atenda perfeitamente aos objetivos do trabalho.” Para isso, foi elaborado um roteiro com sete perguntas abertas13, as quais foram aplicadas em forma de conversa descontraída para obtenção de respostas espontâneas dos pais das crianças. Os resultados confirmaram alguns fatos vindos de observação. Foram entrevistados vinte pais de crianças e o critério utilizado para estipular este número foi de redundância, ou seja, houve a percepção de que após a décima quarta entrevista, as respostas continuaram sempre iguais, e por este motivo, foram entrevistados mais seis pais apenas para efeito de comprovação. Destes vinte pais entrevistados, todos afirmaram que são os filhos que escolhem o McDonald‟s como opção de lanche e apenas uma dessas crianças, uma garota de onze anos, não escolhia mais o McLanche Feliz, porém, ainda fazia questão de ir à lanchonete, mas segundo a mãe, Roberta, “O McLanche Feliz para ela é insuficiente, por isso, a convenci de comer um sanduíche maior e compramos o brinquedo separado.” Em contrapartida, a mãe de Gabriel, quando questionada sobre o porquê de seu filho escolher o McLanche Feliz, respondeu: “ Porque ele quer o brinquedo, já ofereci outros lanches. Ele diz que só gosta desse.” Além disso, dos 20 pais, todos eles afirmaram que acreditam ser o brinquedo oferecido no lanche a principal influência dos filhos escolherem o mesmo. Quanto a perguntas feitas a respeito da frequência com que os filhos pedem para ir ao McDonald‟s, as respostas, embora variadas, demonstram que todas as famílias, independente de finais de semana, vão à lanchonete mais de duas vezes ao mês. 13 O roteiro completo de perguntas encontra-se no Anexo B. 42 Quando perguntados se a ida ao McDonald‟s funciona como uma espécie de premiação em casa, apenas três pais disseram que sim. No entanto, pudemos perceber que há um receio em admitir que tal fato ocorra, já que a maioria dos pais levou certo tempo para responder “não” a esta pergunta. 43 6 CONCLUSÃO Após as análises feitas sobre a relação da mídia com o público infantil, percebe-se que, de fato, existe grande influência midiática especialmente quando se trata de grandes marcas como o McDonald‟s. Por esta razão, mostrou-se importante o estudo sobre diversas formas de regulamentação e proteção à criança quando em contato com a mídia. No entanto, quando a marca é o McDonald‟s, poucos são os casos em que se caracterizou influência negativa como, por exemplo, no caso descrito anteriormente, e, nem mesmo o CONAR – Conselho de Autorregulamentação Publicitária -, acredita que a marca faça uso de propaganda abusiva. Por meio de pesquisas, o presente projeto confirmou a aceitação das crianças quando em contato com a marca e especialmente com o produto McLanche Feliz, destinado a elas. Mais ainda, constatou-se que, o principal motivo da decisão ser, na maioria das vezes, a favor da rede de fast food, deve-se ao fato de a marca proporcionar brinquedos atrativos como forma de brinde pela escolha do produto. Tal fato se mostra tão concreto, que houve criação de um clube de colecionadores dos brinquedos que acompanham o sanduíche. Como já dito no primeiro capítulo e como forma de confirmar esta aceitação das crianças quando expostas à marca, o Instituto Alana afirma que o consumismo prematuro das crianças é o responsável pela atração das mesmas por produtos que associam brindes e personagens famosos, levando as crianças à fidelização das marcas. 44 REFERÊNCIAS ANÚNCIO MON BIJOU 1. WBrasil. 1 vídeo (00h0‟48‟‟). Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=h6peGlNia60>. Acesso em 28 de junho de 2010 às 20:40. ANÚNCIO MON BIJOU 2. WBrasil. 1 vídeo (00h0‟31‟‟). Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=nl5ZeG3kY5g&feature=related>. Acesso em 28 de junho de 2010 às 20:48. ASSIS, Regina de. Mídia e educação. In: ANDI e Instituto Alana. Infância e Consumo: estudos no campo da comunicação. Brasília-DF. ANDI; Instituto Alana, 2009. CANELA, Guilherme. Meios de comunicação e o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. In: ANDI e Instituto Alana. Infância e Consumo: estudos no campo da comunicação. 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É proibida toda a publicidade enganosa ou abusiva. § 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2º É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3º Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. § 4º (vetado) Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem a patrocina.“ 49 ANEXO B – ROTEIRO DE PERGUNTAS 1) Qual a pessoa da família que escolhe o McDonald's como opção de lanche? 2) O seu filho prefere o McDonald's a outras lanchonetes de fast food? 3) Com que freqüência seu filho pede para comer no McDonald's? 4) A ida ao McDonald's funciona como uma espécie de "premiação" na sua casa? 5) Quando você traz seu filho no McDonald's, que lanche ele escolhe? 6) Sabe dizer o porquê de ele escolher este lanche? 7) Você acha que o brinquedo que vem no McLanche Feliz influencia na decisão do seu filho?