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Manual de
Urologia
Manual de
Urologia
CAPÍTULO 2
Introdução
O espermograma ou análise seminal é o exame complementar
inicial na avaliação do homem infértil.
O sêmen deve ser coletado por masturbação, analisado por laboratório com experiência na manipulação de gametas e obedecendo aos
parâmetros propostos pela Organização Mundial da Saúde (Tabela 1).
Recomenda-se um período de abstinência sexual entre 48 e 72
horas, pois as ejaculações frequentes causam alterações de volume
ejaculado e abstinência prolongada causa alteração de motilidade e
vitalidade dos espermatozoides, induzindo a erro na interpretação
final do exame. A amostra deve ser coletada em frasco com abertura ampla para evitar perda de material durante a ejaculação. O
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Tabela 1. Valores de normalidade dos parâmetros seminais segundo o Consenso Brasileiro sobre Infertilidade Masculina da Sociedade Brasileira de Urologia
(SBU) e da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Parâmetros seminais
Volume
Unidade
SBU
(1999)
OMS
(1999)
Mililitro (ml)
1,5-5,0
2,0
7,2-8,0
7,2
pH
Concentração
espermática
106/ml
20
20
Número total de
espermatozoides
X 106
–
40
% grau A
% grau A + B
–
50
25
50
%
30/ 14
30/ –
106 /ml
< 1,0
< 1,0
Motilidade
Morfologia oval:
convencional/estrita
Leucócitos
Legenda: –: não definida.
frasco deve ser feito de material não tóxico aos espermatozoides
para não alterar motilidade e vitalidade. A perda de volume ejaculado inicial, mesmo que pequena, pode acarretar em diminuição
importante no número de espermatozoides contados, uma vez que
a maior parte dos espermatozoides está nas primeiras porções do
volume ejaculado.
A avaliação deve ser feita com no mínimo duas amostras de
sêmen, uma vez que a qualidade do sêmen, incluindo o volume
ejaculado, depende da excitação sexual e muitas vezes a coleta em
ambiente desfavorável influi negativamente no espermograma.
Idealmente, o intervalo de tempo entre as amostras deveria
30 Aspectos básicos do espermograma
respeitar o período de duração do ciclo germinativo que é aproximadamente três meses. Mas para efeitos práticos admite-se um
intervalo de 15 dias para a coleta de uma nova amostra.
O processamento e avaliação do material devem ser manuais,
realizado por pessoal treinado e especializado na análise de sêmen. A utilização de análise computadorizada ainda é reservada
a pesquisa, uma vez que ainda encontra dificuldades para sua utilização clínica devido à interferência nos resultados dependendo
da concentração de espermatozoides na amostra, ao custo do
equipamento e as diferenças entre os softwares utilizados.
O pH do esperma deve ser maior que 7,2. Prostatite e vesiculite
podem aumentar o pH. Disfunções de vesículas seminais (agenesia
ou obstrução dos ductos ejaculadores) tornam o sêmen ácido.
A diminuição do volume ejaculado (hipospermia) pode significar perda de material durante a coleta, ejaculação retrógrada,
obstrução dos ductos ejaculadores ou agenesia das vesículas seminais. O aumento do volume (hiperespermia) pode decorrer
porinfecção ou inflamação das glândulas acessórias.
As alterações na concentração espermática são chamadas de
azoospermia quando não se encontra no líquido seminal
nenhum espermatozoide, mesmo após centrifugação, e
oligospermia quan- do o número de espermatozoides é menor
que 20 milhões/ml. Nos casos de azoospermia a amostra deve
ser centrifugada e o encontro de espermatozoides na amostra
configura uma criptozo- ospermia, que ajuda a diferenciar entre
azoospermia obstrutiva ou não obstrutiva e indica que os
testículos produzem gametas mas- culinos, que é de importância
nos casos de fertilização in vitro.
Astenozoospermia é a denominação quando se encontram
menos de 50% dos espermatozoides móveis.
As alterações de concentração e motilidade espermática
podem acompanhar todas as causas de infertilidade masculina.
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Concentrações abaixo de 5 milhões/ml podem ser sinal de
altera- ções endócrinas ou genéticas.
Outro parâmetro importante é a classificação morfológica dos
espermatozoides. São utilizadas duas padronizações com critérios
diferentes, a proposta pela OMS e a estrita de Kruger. A
mor- fologia estrita de Kruger é uma análise morfométrica dos
esper- matozoides, que tem valor prognóstico em fertilização
in vitro. Entretanto, este método tem sido desacreditado, pois
os padrões morfológicos têm variado entre os laboratórios,
encontrando-se inúmeros trabalhos que mostram populações de
homens férteis com presença de menos de 14% de células ovais.
A contagem de células redondas deve ser seguida de
coloração específica e contagem de leucócitos sempre que houver
uma con- centração superior a um milhão de células redondas.
É importante lembrar que este exame por si só não é um teste
de fertilidade, mas fornece dados importantes sobre a função
re- produtiva do paciente. A fertilidade depende da função do
casal.
Referências
Cedenho AP, Bortoluzzo C, Vieira M. O que é importante na propedêutica do homem infértil. In: Glina S, Damião R. (eds.). I Consenso Brasileiro Sobre Infertilidade Masculina. 1. ed. São Paulo: BG Cultural; 1999. p. 17-26.
Esteves S, Nakazato LT. Espermograma e correlações clínicas. In: Neves PA, Netto
Jr NR. (eds.). Infertilidade masculina. São Paulo: Atheneu; 2002. p. 59-70.
World Health Organization. WHO laboratory manual for the examination of human
semen and sper-cervical muçus interaction. 4. ed. Cambridge: Press Syndicate of the
University of Cambridge; 1999.
Glina S. Morfologia estrita do espermatozoide: qual o real valor? AHE.
2007;4(2):14-5.
32 Doença de Peyronie: mitos e realidade
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