Conforto e estresse térmico na reprodução
Parte 1- DAS FÊMEAS BOVINAS
O Estresse Térmico é definido como sendo o resultado da inabilidade do animal em dissipar
calor suficiente para manter a sua homeotermia. (West, 1999).
Muitos trabalhos mostram que fêmeas bovinas sob estresse térmico apresentam diminuição
da intensidade de manifestação de estro, reduzindo tanto a duração como a intensidade do
estro e o número de montas. Vacas de maior produção de leite são mais prejudicadas que
aquelas de menor produção devido a maior produção de calor metabólico, o que provoca
injúrias nos ovócitos e nos óvulos, levando a falhas reprodutivas. O fornecimento de conforto
para o animal deve ser então promovido de forma mais econômica, procurando-se fazer a
escolha da raça ou grau de sangue conforme as condições ambientais.
Existem diferenças genéticas em relação à tolerância ao calor, pois animais Bos indicus são
mais termotolerantes do que animais Bos taurus, em virtude de sua maior capacidade de
transpiração e menor taxa metabólica (Morrison et al. 2000).
A Zona de conforto térmico (ZCT) corresponde aos limites de temperatura em que o animal
não necessita mobilizar os recursos termorreguladores para se ajustar às condições ambientes.
- ZCT Bos taurus: 0 - 16 °C
- ZCT Bos indicus: 10 - 27 °C (críticas de 35 °C)
- ZCT Mestiços: 5 – 31°C
(Pereira, 2005)
O fornecimento de conforto para o animal, por meio de modificações ambientais e adequadas
práticas de manejo nesse período, melhora significativamente os índices produtivos e
reprodutivos de um sistema de produção de leite. O uso de animais adaptados às nossas
condições tropicais como Gir, Guzerá, Girolando, Pardo Suíço e seus mestiços são alternativas
de sucesso que melhoram a eficiência econômica do sistema de produção.
Prof. Airton Alencar de Araújo - Favet - UECE
Embora compensador, paga-se um preço elevado para se promover o conforto térmico do
rebanho por meios tais como uso de sombra, ventiladores, aspersores e nebulizadores, bem
diferente do custo do conforto térmico necessário aos espermatozoides congelados.
Parte 2- CONFORTO E ESTRESSE TÉRMICO DOS ESPERMATOZOIDES CONGELADOS
Diferente das fêmeas que se estressam termicamente apenas na época quente do ano, os
espermatozoides estão sujeitos a esse estresse durante todo o ano. O conforto ou estresse
térmico dos espermatozoides congelados podem ser medidos em laboratório através do
número de espermatozoides viáveis sobreviventes ao congelamento, descongelamento e
choque térmico pós-descongelamento, e estimados in vivo pelo índice de serviço (número de
doses/concepção) ou pela taxa de concepção (% de prenhezes obtidas em um determinado
número de inseminações), sem esquecer que os fatores inerentes às fêmeas também são
determinantes nesses índices. Nos processos de congelamento e descongelamento ocorre a
morte funcional de aproximadamente 50% dos espermatozoides em cada palheta de sêmen. A
taxa de sobrevivência de espermatozoides viáveis é dependente da temperatura e do tempo
de descongelamento e do tempo de exposição da palheta à temperatura ambiente entre a
retirada da palheta da água e a introdução do aplicador montado na vagina da fêmea. Em
clima tropical a temperatura pós-descongelamento não afeta tanto os resultados em dias
quentes, mas pode afetar em dias frios, principalmente quando há demora no transporte do
aplicador montado até a fêmea. O descongelamento é sempre um fator crítico e determina,
por meio da intensidade do estresse ou do conforto, a quantidade de espermatozoides viáveis,
conforme revela a literatura pertinente.
Muitos estudos, Wiggin, Almquist,1975; Senger, 1976; Mazur, 1984; Bamba e Cram 1988 a, b;
Brown, 1990; 1991; DeJarnette, 2000 e O’Connor, 2000.: comprovam que nenhum outro
método se mostra tão eficiente para o trabalho de campo quanto o descongelamento feito em
água à temperatura entre 35 e 37°C. Quando o sêmen é descongelado em temperaturas
inferiores a esta (no bolso, na mão, água à temperatura ambiente, “na vaca”, etc.) o tempo de
descongelamento é maior, permitindo nova organização de cristais de gelo, o que provoca
danos em várias partes dos espermatozoides. Entre os danos destaca-se quebra da cauda,
rompimento das membranas plasmáticas (parede celular) e do acrossoma (responsável pela
penetração no óvulo). Na temperatura entre 35 e 37°C por 30 segundos a velocidade de
descongelamento é rápida o bastante para evitar a reorganização destes cristais, o que
promove a sobrevivência de um maior número de espermatozoides viáveis, proporcionando
assim maior poder fecundante da dose descongelada, conforme mostra o gráfico abaixo:
Gráfico 1. Mostra o efeito do descongelamento em apenas uma das partes dos
espermatozoides.
% ACROSSOMAS INTACTOS
EFEITO DO MÉTODO DE DESCONGELAMENTO NA
INTEGRIDADE DO ACROSSOMA DE SÊMEN BOVINO
80
60
40
20
0
1
2
3
4
1- água a 35C
2- água a 20C
3- água com gelo 4- “na vaca”
; DeJarnette, 2000
A relação custo/benefício para a manutenção do maior conforto térmico aos espermatozoides
é altamente favorável, sendo o custo irrelevante em relação ao benefício devido ao número de
prenhezes que se obtém a mais quando se tem esse cuidado. Segundo dados de pesquisa,
podemos obter pelo menos 5% de taxa de prenhez a mais quando se padroniza o
descongelamento com o uso de um Descongelador Eletrônico de Sêmen. Dessa forma, além de
agilizar o serviço com praticidade e segurança, o investimento se paga com as primeiras 20
fêmeas inseminadas por gerar uma cria a mais em relação ao procedimento convencional, e a
cada lote de outras 20 inseminações, uma outra cria a mais de lucro. Confira essas informações
no site www.fertilizevet.com.br
Uma vez que queremos produtividade, precisamos minimizar os efeitos do estresse térmico
tanto no rebanho como no sêmen aplicado, e as medidas precisam ser economicamente
viáveis.
Ricardo Reuter Ruas, médico veterinário, instrutor do SENAR-MG, consultor da Asbia e diretor
da Fertilize®
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