QUALIDADE SANITÁRIA DE PRESUNTO COZIDO FRACIONADO NOS PONTOS DE VENDA Samile Caus (ICV - UNICENTRO), Karina Czaikoski (ICV - UNICENTRO), Herta S. Dalla Santa, Cristina Maria Zanette, Osmar Roberto Dalla Santa (Orientador - dep. Engenharia de Alimentos / UNICENTRO), e-mail: [email protected] Resumo As condições higiênico-sanitárias são preceitos básicos para a segurança alimentar, fator de elevada importância atualmente. Neste trabalho foram avaliadas as condições higiênico-sanitárias de amostras de presunto cozido fatiado. Pelos resultados obtidos nas análises microbiológicas do presunto cozido fatiado verificouse que 87,5% dos estabelecimentos possuem áreas de manipulação em condições higiênico-sanitárias adequadas ao processamento de alimentos. Palavras-chave: presunto cozido, fracionamento, condições sanitárias. Introdução O presunto é um alimento com nutrientes, atividade de água, pH, entre outros fatores que favorecem o desenvolvimento de microrganismos (PEARSON, GILLETT, 1999). Diante disso, torna-se evidente a necessidade de um permanente controle durante o transporte, armazenamento e manipulação, para evitar a contaminação e manter a qualidade do produto até o consumidor. O fracionamento do presunto é um dos maiores causadores da contaminação microbiológica que ocorre por contato com carnes cruas, com instrumentos utilizados indistintamente, por condições higiênico-sanitárias insatisfatórias na manipulação e/ou utilização de equipamentos destinados a fatiar mal higienizados (EVANGELISTA, 2005; PEARSON, GILLETT, 1999; TERRA, 1998; ARAÚJO, 2007). Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar as condições higiênico-sanitárias do presunto cozido, de diferentes marcas, fracionado nos pontos de venda e comercializados em bandejas de isopor envoltas por filme PVC. As amostras foram analisadas quanto a presença dos principais grupos de microrganismos indicadores de condições higiênico-sanitárias insatisfatórias (FRANCO, LANDGRAF, 1996). Material e Métodos Matéria-Prima As amostras de presunto cozido foram coletadas em diferentes pontos de venda no comércio de Guarapuava, Paraná, durante o período de novembro a dezembro de 2006. Foram adquiridas 16 amostras de presunto cozido, fatiados nos pontos de venda e embalados em bandejas de isopor envoltas por filme plástico de PVC. Todas as amostras coletadas estavam dentro do prazo de validade, segundo indicação na embalagem. As amostras (200-300g) foram acondicionadas em sacos plásticos, e transportadas em bolsa térmica para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos da Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO, e analisadas imediatamente. Análises Microbiológicas As determinações de Salmonella, Staphylococcus coagulase positiva, coliformes totais, coliformes a 45ºC e Escherichia coli, foram efetuadas de acordo com as metodologias descritas no Manual de Métodos de Análise Microbiológica de Alimentos (SILVA et al., 1997). Resultados e Discussão Pela análise dos resultados obtidos nas determinações microbiológicas, a grande maioria dos estabelecimentos comerciais (87,5%), onde as amostras foram adquiridas, as áreas onde ocorre o fracionamento do presunto cozido possuem boas condições higiênico-sanitárias. Bem como, os hábitos de higiene dos manipuladores e as condições de embalagem são adequados. Estas afirmações estão baseadas nos baixos níveis de contaminação das amostras, em relação aos grupos e/ou microrganismos pesquisados. Na determinação de Staphylococcus coagulase positiva, não foi verificada a presença (>10 UFC.g-1) deste grupo de microrganismos nas amostras de todos os pontos de venda. Estes microrganismos estão relacionados com o controle de qualidade higiênico-sanitário dos processos de produção de alimentos. Dentro deste grupo de microrganismos está a espécie Staphylococcus aureus, que pode causar intoxicação alimentar, pois quando se multiplica nos alimentos produz toxinas. Pelos resultados obtidos em relação a este grupo de microrganismos, as amostras estão de acordo com os padrões legais vigentes (BRASIL, 2001). A Salmonella é um dos microrganismos mais freqüentemente envolvidos em casos e surtos de doenças de origem alimentar. Estes microrganismos são amplamente distribuídos na natureza, sendo o trato intestinal do homem e de animais o principal reservatório (FRANCO, LANDGRAF, 1996). Em relação a pesquisa de Salmonella, todas as amostras de presunto fatiado estavam de acordo com a legislação vigente, ou seja, ausência em 25g. O grupo de microrganismos denominados de coliformes totais inclui cerca de 20 espécies e é utilizado para avaliar as condições higiênicas dos ambientes de manipulação de alimentos. Das amostras avaliadas, somente uma (6,25%) estava com contaminação elevada, acima de 2400 NMP.g-1. Altas contagens deste grupo de microrganismo, indicam que as condições higiênicas dos manipuladores e as práticas de limpeza e sanificação da área de processamento, estão aquém dos padrões requeridos para o processamento de alimentos (SILVA et.al., 1997). O grupo dos coliformes fecais inclui pelo menos três gêneros, Escherichia, Klebisiella e Enterobacter, estes dois últimos incluem cepas de origem não fecal, ao passo que o gênero Escherichia tem habitat exclusivamente fecal. Desta forma, a determinação de E. coli em alimentos é mais representativa para indicar contaminação de origem fecal, do que a enumeração de bactérias do grupo coliformes fecais. Nesta pesquisa, foi verificada a presença de coliformes fecais em somente uma amostra (6,25%), sendo que a quantidade (240 NMP.g-1) estava abaixo do máximo (103 NMP.g-1) estabelecido pela legislação brasileira para este produto (BRASIL, 2001). Porém é um indicativo que as condições higiênicosanitárias da área de manipulação ou dos manipuladores deste estabelecimento são inadequadas. Já a presença de E. coli não foi verificada nas amostras de presunto cozido fatiado avaliadas. Desta forma, pode-se afirmar que as áreas utilizadas para o fracionamento e embalagem do presunto não estão contaminadas com substâncias de origem fecal. Bem como, as condições higiênicas dos manipuladores são adequadas. Além de ser um indicador de contaminação fecal, a presença de E. coli em alimentos indicam risco a saúde do consumidor, pois algumas cepas são comprovadamente patogênicas (FRANCO & LANDGRAF, 2003). A contaminação microbiológica de presunto fatiado no ponto de venda , pode ser originaria de manipuladores, devido a hábitos higiênicos inadequados, por contaminação cruzadas por outros alimentos fatiados, por utensílios como recipientes, bandejas, facas, tábuas, moedores, pelo ar e pó, como também por embalagens que não são apropriadas para este tipo de produto, ou previamente contaminadas (FRANCO, LANDGRAF, 1996; ARAÚJO et al., 2007). A higienização inadequada de ambientes de manipulação e estocagem aumenta a probabilidade de contaminação, que leva a uma redução na vida de prateleira e aumenta a possibilidade da presença de microrganismos patogênicos. Para muitos alimentos especialmente aqueles prontos para o consumo, como é o caso do presunto, a higiene do ambiente de manipulação e estocagem é um fator crítico na segurança alimentar e, portanto, é necessária a utilização de métodos simples para avaliar a eficácia dos procedimentos de higienização (ARAÚJO et al., 2007). Conclusão As análises microbiológicas evidenciam que 12,5% dos estabelecimentos comerciais avaliados necessitam adotar os princípios de Boas Práticas de Fabricação (BPF) durante as etapas de fracionamento e acondicionamento do produto. A implementação destas medidas é fundamental para o controle da contaminação e do desenvolvimento de microrganismos deteriorantes e patogênicos, produzindo alimentos mais estáveis e seguros ao consumidor. Referências ARAÚJO, E.A.; PIRES, A.C.S.; CAMILLOTO, G.P.; RIBEIRO, M.C.T.; SOARES, N.F.F.; ANDRADE, N.J. Condições Higiênicas de fatiadores de frios avaliadas por ATP - bioluminescência e contagem microbiana. Higiene Alimentar, v.21, n.150, p. 114-115, 2007. BRASIL, 2001. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, Resolução n0 12 de 2 de janeiro de 2001. Regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. EVANGELISTA, J. Tecnologia de alimentos. Ed. 2a. São Paulo: Atheneu Ed., 2005 652p. FRANCO, B.D.G.M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos alimentos. São Paulo: Atheneu Ed., 1996, 182p. PEARSON, A.M.; GILLETT T. A. Processed meats. Ed. 3a. Gaithersburg, Maryland: Aspen Ed., 1999, 448p. SILVA, N.; JUNQUEIRA, V.C.A.; SILVEIRA, F.A. Métodos de Análises Microbiológicas de Alimentos. São Paulo: Varela Ed., 1997, 295p. TERRA, N.N. Apontamentos de tecnologia de carnes. São Leopoldo: Unisinos Ed., 1998, 216p.