A pesquisa-ação como ferramenta de autoria na investigação em espaços escolares
Em 17 de junho de 1996 foi iniciado um trabalho de pesquisa-ação, numa escola da rede
pública estadual situada em Porto Alegre, que se encerrou em maio de 1998. Não foi
aleatória a escolha feita pela pesquisa-ação. Ao contrário, a inserção nas veias abertas
da interpretação e da autoria possibilitou redimensionamentos que imprimiram à
investigação características bastante específicas. O contato e o convívio com os
professores, por sua vez, desafiaram a criar um método próprio que segue as linhas
conceptuais da pesquisa-ação, mas não se subordina a elas de modo rígido. Portanto, o
processo de pesquisa foi também um processo de criação no qual experimentei a
realidade sobre a qual me falavam e na qual interagiam os educadores – o que envolve
descrição e compreensão da realidade, bem como permanente tentativa de resgate da
mesma. A pesquisa-ação
foi entendida como um
proceso circular de indagación y análisis de la realidad, em el
que partiendo de los problemas prácticos y desde la óptica de
quien los vive, procedemos a uma reflexión y actuación
sobre la situación problemática com objeto de mejorarla,
implicando em el proceso a los que viven el problema,
quienes se convierten em autores de la investigación
(SERRANO, 1990, p. 58-9).
Atenta à relação entre reflexão e ação, a pesquisa se organizou a partir de quatro
momentos interrelacionados: o estudo da realidade, seus problemas, necessidades,
recursos e conflitos (“espiando o palco”); a programação de atividades (reuniões)
(“abrindo as cortinas”); a intervenção concreta na realidade, a avaliação da atividade
realizada e reorganização da atividade seguinte (“entrando em cena”). A organização
desses passos, no entanto, funcionou mais como elemento facilitador do processo do
que como roteiro prescritivo da ação protagonizada por pesquisador e pesquisandos/as.
Adveio de toda esta compreensão não só a inspiração para a realização da pesquisa no
que diz respeito à metodologia de inserção e intervenção na escola pública, como
também a possibilidade de relação com a análise de discurso num ponto: ao refletir
sobre a própria prática, ou seja, ao narrá-la, ao relatá-la, pode ocorrer um deslocamento
de posição do sujeito – o que pode ser percebido nos processos discursivos constituídos
pelos sujeitos, que terminam por representar uma forma de dizer a prática que poderá
repercutir nas suas futuras práticas. As conclusões a que cheguei decorreram tanto da
filiação a uma prática inspirada na pesquisa-ação quanto das análises discursivas
realizadas. Debrucei-me sobre as palavras das professoras. Na verdade, busquei
sustentação empírica na escuta das falas das professoras e, desde esse lugar, a pesquisaação e a análise de discursos se constituíram em ferramentas de autoria na investigação
em um espaço escolar, se traduzindo como elementos mediadores de interpretação do
discurso pedagógico e provocadores de reflexão integrante da condição metodológica
escolhida. O que possibilitou retorno constante sobre a própria ação, pensar-sobre e
pensar-com de forma prospectiva, despertando uma curiosidade epistemológica que
provocou ruptura nos sentidos instituídos e abertura para sentidos instituintes
relativamente à docência.
Referência
SERRANO, Maria Gloria Perez. Investigación-acción: aplicaciones al campo social y
educativo. Madrid: Editorial Dykinson, 1990.
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