XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
PESQUISA-AÇÃO EM
ADMINISTRAÇÃO: O QUE TEM SIDO
REALIZADO?
Deborah Mara Siade Barbosa (ufmg)
[email protected]
Thais Alves dos Santos (ufmg)
[email protected]
Lilia Paula Andrade (ufmg)
[email protected]
Este artigo visou investigar se e como a metodologia pesquisa-ação
vem sendo utilizada nos estudos nacionais da área de Administração,
no período compreendido entre 2009 e 2013. Optou-se, para tanto,
pela realização de uma pesquisa exploratória e documental, baseada
em dados secundários. Foram analisados os trabalhos publicados nos
anais eletrônicos do EnAnpad e na Revista de Administração da USP,
na Revista de Administração de Empresas, na Revista de
Administração Contemporânea e na Revista de Administração da
Mackenzie. Constatou-se que dos 21 artigos encontrados apenas 16
realizaram a pesquisa-ação propriamente dita, ou seja, a metodologia
de cunho intervencionista.
Palavras-chave: Crítica. Metodologia intervencionista. Diversidade de
paradigmas.
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1.Introdução
Nas últimas décadas tem sido possível perceber uma tentativa de mudanças no campo
das pesquisas em metodologias para a realização de pesquisas em Administração. A
necessidade de inovação se faz presente tendo em vista a vastidão dos fenômenos a serem
entendidos pelos pesquisadores.
Diante disso, não é incomum a presença de trabalhos que se apropriem de novas
metodologias, sem a devida e necessária profundidade, mesmo em eventos renomados e
respeitados pela comunidade acadêmica.
A metodologia escolhida para a realização deste paper não consiste necessariamente
em uma inovação, haja vista datar dos anos de 1940. Contudo, dado ao contexto de crítica e
resistência, aos paradigmas vigentes na pesquisa tradicional, se justifica a análise dos avanços
da pesquisa-ação, a fim de verificar se, no bojo de tais transformações a, usualmente, criticada
visão neutra do pesquisador, dá lugar a outras possibilidades da pesquisa.
Com isto em vista, o objetivo deste artigo é investigar se e como a pesquisa-ação tem
sido utilizada nos estudos em Administração, pelos acadêmicos brasileiros. Para tanto,
realizou-se levantamento dos trabalhos publicados nos anais do principal evento da área, o
EnAnpad e em periódicos reconhecidamente de qualidade.
O presente trabalho contém, além desta introdução, um tópico que discute o que a
teoria preconiza como princípios a serem seguidos para que uma pesquisa se caracterize, de
fato, como uma pesquisa-ação. A seção seguinte aborda a metodologia utilizada para a
realização dos levantamentos e coleta dos dados. A seguir são analisados os dados, por meio
de um confrontamento entre o que é definido pela teoria e os achados da coleta de dados. Por
fim, são tecidas algumas considerações finais e elencadas propostas de pesquisas futuras.
2.Pesquisa-ação em Administração: o que diz a teoria
A pesquisa-ação emerge na América Latina nos anos de 1970, graças à disseminação
das teorias críticas que questionavam os modelos formais de realização das pesquisas,
influenciados politicamente, mesmo sob o lema da neutralidade e imparcialidade científica. A
pesquisa-ação se apresenta como possibilidade de rompimento com o status quo das
pesquisas, instituições e demais privilegiados, visando à mudança social positiva
(CHIZZOTTI, 2006).
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Outra critica bastante presente em relação à pesquisa convencional a classificam como
uma forma de controle social. De acordo com Habermas (1971), os métodos empíricos
analíticos ocultam o controle instrumental que prejulga o significado de determinados
conceitos e, por consequência, interfere no estabelecimento de teorias e no modo como são
tratadas. Trata-se de um processo de modelagem do comportamento de todos pelos padrões de
normalidade estabelecidos pelos detentores do poder (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 1982).
Assim, Gil (1999, p.46) afirma que a pesquisa-ação se justifica como relevante para o
campo das ciências sociais por possibilitar “a obtenção de resultados socialmente mais
relevantes” [que a pesquisa convencional].
Chizzotti (2006, p.81) atribui a paternidade da pesquisa-ação a Kurt Lewin, um
imigrante alemão naturalizado norte-americano, interessado no estudo das dinâmicas sociais e
convencido de a ciência auxiliar na promoção de soluções e conscientizar os indivíduos das
situações vivenciadas. Para isso, acreditava na necessidade de propor solução “consequente e
eficaz para o problema enfrentado”.
O autor destaca que vários autores de países como França, Noruega, Inglaterra e
Canadá estiveram atuantes no processo de definição da pesquisa-ação. Suas inclinações
ideológicas, no pós Segunda Guerra apontavam para um tipo de pesquisa que libertasse as
pessoas, que pudesse ser utilizada como uma forma de terapia social, uma concepção bastante
densa e justificada no contexto vigente à época.
Para Lewin, a pesquisa-ação é composta por diversas fases espirais. Inicia-se com o
planejamento, a partir de uma situação-problema; delimita-se um objetivo e as possibilidades
de alcançá-lo; se define a natureza do problema e as finalidades da ação e, por fim, são
analisados os resultados alcançados e verificados os objetivos atingidos, bem como, as
possibilidades de melhorias. Esse processo de identificação, propositura de soluções,
verificação dos resultados e melhorias consiste no que ele denominou de espirais
(CHIZZOTTI, 2006).
O primeiro esclarecimento que se faz necessário acerca da pesquisa-ação diz respeito à
sua diferença em relação à pesquisa participante. Vários estudos as tratam como similares,
contudo, Thiollent (1986, p.7) afirma que a pesquisa-ação pressupõe mais do que a
participação do pesquisador. O autor defende que este tipo de pesquisa prescinde de “uma
forma de ação planejada de caráter social, educacional, técnico ou outro, que nem sempre se
encontra em propostas de pesquisa participante”.
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O que fica claro na abordagem de Thiollent é que a diferença entre pesquisa-ação e
pesquisa participante é que, apesar de as duas necessitarem da participação efetiva do
pesquisador no locus da pesquisa, na pesquisa-ação é preciso que investigador aja como um
ator, interferido de maneira deliberada na realidade que está analisando.
Vergara (2005) corrobora a necessidade do caráter intervencionista da pesquisa-ação.
Ela afirma que este tipo de pesquisa supõe a participação, a intervenção do pesquisador na
realidade social.
É importante ressaltar que a participação do pesquisador se dá com vistas a solucionar
problemas encontrados, acompanhar e avaliar ações desencadeadas ao longo da pesquisa, ou
seja, necessita interferência do pesquisador, a fim de modificar a situação abordada, isto é,
não é função do pesquisador apenas explicar o fenômeno, na verdade, se espera que ele
auxilie na sua modificação (VERGARA, 2005).
Assim, a principal característica da pesquisa-ação, a participação do pesquisador de
forma a intervir na realidade estudada é o que Chizzotti (2006) denomina pesquisa ativa. O
autor argumenta que este tipo de pesquisa é orientado para: (i) criticar o modelo convencional
de pesquisa que apenas descreve o elemento estudado, ainda que tal explanação esteja
embasada em sofisticados elementos de exposição e/ou mensuração, (ii) possui o objetivo
deliberado de orientar a ação de quem procura solução para determinada dificuldade, (iii)
inclusão dos pesquisados no processo de proposição de alternativas à questão e (iv) utilização
de recursos que auxiliem na realização da ação que visa o enfrentamento do obstáculo.
A partir disso, pode-se traçar as distinções existentes entre uma pesquisa convenciona
e a pesquisa-ação, realçando o papel do investigador no contexto. O que se deseja, em uma
pesquisa convencional, é o mínimo possível de interferência do pesquisador na realidade
pesquisada. O objetivo é verificar a reação dos pesquisados como se estivessem livres de
qualquer interferência, a fim de identificar suas escolhas da forma mais próxima à realidade.
Ademais, se espera o máximo de imparcialidade e isenção por parte do pesquisador, mesmo
estando ciente de que tal distanciamento não é possível (THIOLLENT, 1986).
O contraponto da pesquisa-ação, em relação à pesquisa convencional se situa no fato
de a primeira ser mais dinâmica, pois nela é possível estudar os problemas, os fenômenos, as
situações de impasses, tomar decisões e verificar os resultados. Trata-se de um processo que,
além de dinâmico, parece mais rico, haja vista a possibilidade de acompanhar o
amadurecimento dos envolvidos e o processo de desenvolvimento de soluções (THIOLLENT,
1986).
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Outro ponto que carece de esclarecimentos diz respeito à diferenciação entre pesquisaação e consultoria. Roesch (2001) assevera que o método ora discutido está focado na
elaboração e desenvolvimento do conhecimento teórico, simultaneamente, à dissolução dos
entraves identificados.
Apesar das diversas possibilidades delimitadas por vários autores (BARBIER, 2002;
ELLIOT, 1978) acerca das fases da pesquisa-ação, Chizzotti (2006) condensou-a em seis
etapas, a saber:
i) definição do problema: delimitação do problema que se pretende solucionar.
Nesta etapa a busca por informações que possam fomentar a proposição de soluções futuras é
essencial, assim, é preciso conhecer detalhadamente o que se pretende melhorar;
ii) formulação do problema: pressupõe que após a definição do problema seja
preciso coletar informações documentais, realizar entrevistas, enfim, investigar acerca da
questão, como vistas a definir possíveis soluções e suas viabilidades;
iii) implementação da ação: pressupõe a execução da decisão tomada, com
definição de responsabilidades e resultados esperados;
iv) execução da ação: é acompanhada de todos os aspectos, desde os
responsáveis até seus resultados que serão utilizados nas fases seguintes;
v) avaliação da ação: a avaliação da ação determinará se os resultados
esperados foram atingidos e os pontos de divergência e convergência em relação ao objetivo
estabelecido;
vi) continuidade da ação: nesta etapa é preciso que todos os envolvidos estejam
cientes dos resultados alcançados e dos pontos de melhorias. Determina a continuidade das
ações, os ajustes necessários e as modificações.
Como elucidado, não há uma prescrição que determine as etapas a serem seguidas na
pesquisa-ação, de forma estática, mesmo porque uma de suas principais características é a
dinamicidade. Entretanto, é essencial reiterar a presença da atuação do pesquisador como ator
que intervém no processo.
Diante o exposto, o tópico a seguir apresenta os critérios adotados para a seleção e
coleta dos dados utilizados para a realização deste estudo, bem como o tratamento dispensado
aos dados.
3.Metodologia
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Considerando que o objetivo deste trabalho é investigar a utilização da pesquisa-ação
pelos acadêmicos da área de Administração, nos últimos cinco anos, o levantamento dos
artigos foi realizado considerando os meios de publicação mais respeitados da área. Assim,
trata-se de uma pesquisa exploratória, bibliográfica e documental baseada na utilização de
dados secundários.
Para a coleta de dados, foram selecionados os trabalhos publicados nos anais
eletrônicos do evento EnAnpad, bem como, a Revista de Administração de Empresas (RAE),
a Revista de Administração Contemporânea (RAC), a Revista de Administração da USP
(RAUSP) e a Revista de Administração do Mackenzie (RAM). A escolha de tais canais se
deveu à relevância e representativa dos mesmos no cenário acadêmico nacional.
Para fins de busca, utilizou-se o termo “pesquisa-ação”. Foram analisados artigos
publicados no período de 2009 a 2013, com vistas a investigar a tratativa dada à pesquisaação recentemente, tendo em vista considerá-la uma metodologia madura, haja vista, seu
surgimento datar dos anos de 1940. É importante salientar que dos artigos selecionados por
conterem o termo “pesquisa-ação”, em qualquer parte do texto, foram analisados apenas os
artigos considerados empíricos, isto é, aqueles que se utilizaram da pesquisa-ação para a
realização da pesquisa explanada.
Assim, na primeira etapa do levantamento foram encontrados 21 artigos. Desses, um
artigo foi descartado, devido à indisponibilidade de acesso ao texto na íntegra. Após a leitura
dos resumos dos mesmos, foram identificados 17 trabalhos que se encaixavam como
empíricos, conforme demonstra o Quadro 1, a seguir.
EnAnpad’s
RAUSP
RAE
RAC
RAM
2009
3
0
0
0
1
2010
5
0
0
0
0
2011
6
0
0
0
0
2012
2
0
0
0
2
2013
2
0
0
0
0
Total
18
0
0
0
3
Os papers selecionados serão avaliados na próxima seção, considerando a descrição da
metodologia utilizada para a realização das pesquisas.
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4.Resultados
A partir do levantamento realizado nos quatro periódicos selecionados e nos anais
eletrônicos da EnAnpad foi obtido um total de 21 artigos dos quais 16 foram caracterizados
como empíricos por consistirem em uma aplicação da pesquisa-ação, isto é, utilizaram a
metodologia para a realização da pesquisa.
Cabe destacar que um desses foi excluído por não ter sido possível o acesso ao texto
integral, impossibilitando sua análise. Os outros três trabalhos excluídos da amostra o foram,
pois apresentavam discussões acerca da utilização da pesquisa-ação como metodologia,
tecendo comparações ou debates acerca do paradigma no qual esta metodologia melhor pode
ser encaixada. Destaca-se que tais reflexões são entendidas como relevantes para o avanço
dos estudos do campo da Administração, contudo, não foram contemplados, pois não
perfazem o interesse deste trabalho.
Ficou evidente a prevalência da utilização da pesquisa-ação nos artigos publicados no
EnAnpad, a despeito das revistas científicas. É interessante notar que dos quatro periódicos
analisados, apenas a RAM apresentou trabalhos que utilizaram a metodologia em estudo. O
gráfico 1, a seguir, ilustra a evolução do número de trabalhos publicados nos anais eletrônicos
do EnAnpad, durante o período investigado.
Não há evidências sobre os motivos de a pesquisa-ação ser mais recorrente no evento
analisado do que nos periódicos. Uma das possibilidades se refere ao fato de as publicações
avaliadas serem conservadoras em relação à metodologia utilizada pelos trabalhos aceitos, ao
passo que, nos eventos se entende haver uma maior flexibilidade, sobretudo, por tratar-se de
trabalhos em construção.
Outra análise realizada foi a da autoria dos papers selecionados, a fim de verificar uma
possível preferência de determinado autor pela pesquisa-ação. Considerando os 16 trabalhos
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selecionados, foram contabilizados 52 autores. Desses apenas o autor Lin Chih Cheng possui
mais de um trabalho publicado acerca da temática, na amostra estudada. Os demais autores
apareceram apenas uma vez, mesmo considerando os trabalhos selecionados de períodos e
evento.
Os assuntos trabalhos nos artigos diferem bastante entre si e é difícil definir em poucas
palavras o tema de um estudo. Mesmo assim, houve um esforço em classificá-los, como
segue: utilização de práticas de ensino, estratégia, gestão empresarial, políticas públicas,
transferência de tecnologia e novos sistemas de informação.
Diante disso, visando responder ao problema de pesquisa proposto de investigar a
utilização da pesquisa-ação nos artigos nacionais produzidos pelo mainstream, foi possível
verificar que o EnAnpad se apresenta como relativamente afeito à pesquisa-ação, contudo, é
preciso considerar que, diante do elevado volume de trabalhos publicados nos anais
eletrônicos do evento, 14 trabalhos utilizando pesquisa-ação consiste em um número irrisório.
Considerando-se a realidade dos periódicos analisados, a situação é ainda mais
preocupante, afinal, trata-se de quatro revistas científicas, analisadas em um período de cinco
anos, com tiragem de quatro volumes anuais, perfazendo 20 volumes investigados, em média,
em cada revista. Ainda assim, apenas dois artigos utilizando pesquisa-ação foram
selecionados para publicação.
Visando contemplar a investigação acerca da utilização da pesquisa-ação no cenário
acadêmico nacional, na área de Administração, a última análise realizada buscou identificar se
a pesquisa utilizou, de fato, a metodologia pesquisa-ação. Destarte, após a leitura dos 16
artigos da amostra, constatou-se que apenas um afirmou ter utilizado a pesquisa-ação, mas
não a aplicou, de acordo com os preceitos teóricos.
É importante destacar que não um esquema de etapas estático a ser seguido para que a
metodologia seja considerada uma pesquisa-ação. Como visto, a principal característica desta
metodologia é a intervenção do pesquisador na realidade estudada, a fim de viabilizar uma
mudança social positiva. O artigo que afirma utilizar a pesquisa-ação, mas que se julga não têlo realizado, descreve que a coleta de dados se deu por meio de uma pesquisa-ação, pelo fato
de o pesquisador trabalhar na empresa estudada. Ou seja, não houve menção a nenhuma
interferência do investigador no contexto analisado. A coleta de dados pode ser realizada sem
que haja influência do pesquisador no contexto analisado, com vistas a modificá-lo.
Diante ao exposto, é possível verificar que, apesar de o atual contexto tender a
questionamentos e mudanças na área da Administração, isso não pôde ser percebido na
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prática, no que tange à pesquisa-ação. Sabe-se que trata de uma escolha ideológica e seus
desdobramentos se refletirão ao longo da pesquisa. Entretanto, em um ambiente, tido como
plural, como o acadêmico, é imprescindível que novos olhares sejam lançados às novas e às
antigas discussões.
5.Considerações finais
Partindo do objetivo de verificar se e como a pesquisa-ação tem sido utilizada nos
trabalhos acadêmicos da área de Administração, no Brasil, foi possível verificar sua presença,
apesar de tímida, mais relevantemente, no evento EnAnpad.
Em contrapartida, a pesquisa-ação não parece ser metodologia bem quista pelos
periódicos nacionais, afinal, considerando os quatro periódicos analisados, durante o período
estabelecido, constatou-se apenas 15 artigos que, de fato, utilizaram a metodologia ora
discutida.
Assim, é interessante notar que no mainstream da área a metodologia pesquisa-ação
não é largamente utilizada, se fazendo necessárias reflexões sobre os motivos para tal, afinal,
o construir teorias, tão caro à academia, é alimentado pelo devir das necessidades encontradas
na prática, de seus problemas e reflexões. O questionamento acerca da elitização e
manutenção do satus quo das instituições e pesquisadores, apesar de antigo, soa atual, mesmo
considerando o crescimento e adensamento das redes de estudos críticos.
Sabe-se que uma das desvantagens da pesquisa-ação é a realização demorada, afinal, o
processo da identificação do problema até a verificação dos resultados após a implantação da
solução, demanda tempo. Entretanto, outras metodologias que dispensam prazos dilatados
aparecem mais comumente nos trabalhos da área, como a etnografia. Logo, não se julga
dificuldade impeditiva à realização da pesquisa-ação.
Por fim, cabe destacar que a manutenção de discussões e reflexões acerca de novas
possibilidades de metodologias e, sobretudo, a co-presença paradigmática é frutífera às teorias
e a seus usuários. Desse modo, sugere-se que sejam realizadas pesquisas considerando um
intervalo temporal maior que o utilizado e que sejam abarcados outros países,
preferencialmente os que contribuíram para seu surgimento: Inglaterra, França, Canadá e
Noruega, a fim de se verificar a adesão à pesquisa-ação. Outra possibilidade relevante
consiste na realização de um estudo longitudinal, a fim de verificar o histórico de utilização
dessa metodologia no campo de Administração.
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REFERÊNCIAS
BARBIER, R. Pesquisa-ação na instituição educativa. Trad. Lucie Didio.Brasilia: Plano,
2002.
CHIZZOTTI, A. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Petropólis, Rj: Vozes,
2006.
ELLIOT, J. What is action research in classroom? Journal of Curriculum Studies, 104,
p.355-357, 1978.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
ROESCH, S. M. A. Nota técnica: pesquisa-ação no estudo das organizações. In: CALDAS,
M.; FACHIN, R.; FISCHER, T. (Org.) Handbook de estudos organizacionais. São Paulo:
Atlas, 2001, v.2
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez Autores Associados,
1986.
VERGARA, S. C. Métodos de pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 2005.
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