ÍNTEGRA DA TRADUÇÃO DO DISCURSO presidente da CAF, senhor Henrique Garcia. Excelentíssimo Sr. Vice- Presidente da República, senhores ministros, secretários e outras autoridades brasileiras que nos acompanham nesta mesa, senhor Vice-Presidente do BID, autoridades e delegações dos países sulamericanos aqui os presentes; muito particularmente, uma saudação especial a Carlos Lessa, Presidente do BNDES, e a todos empresários e amigos da imprensa. Realmente, é uma grande satisfação estar aqui e aproveitar as palavras de Carlos Lessa para evitar prender-me ao protocolo e fazer uma simples menção geral, de modo a não me equivocar e deixar de mencionar alguma das autoridades presentes. Isto mostra com clareza, como um primeiro passo, que o que Carlos Lessa anunciou diante de mais de 500 pessoas, como um matrimônio entre a CAF e o BNDES, é realidade. Quisera destacar, nesta oportunidade, que este Seminário é um feito importante, porque é uma maneira pragmática de avançar em um dos temas centrais pertinentes à integração sul-americana. Esperamos poder contar com informação precisa, clara, de um conjunto de projetos que os países sulamericanos apresentaram, e que servirão para muitos propósitos: para promover as idéias e implantá-las, promover os projetos, motivar ações mais específicas e, desde já, identificar aqueles que estão suficientemente maduros para serem considerados pelo BNDES e pela a CAF, e por outros financiadores, para poder tornar realidade estas iniciativas tão importantes para a região. Gostaria de destacar a importância que a integração sul-americana tem no contexto da realidade mundial. Como todos sabemos, a América Latina, e muito particularmente a América do Sul, perdeu importância relativa no contexto internacional. A brecha que nos separa dos países industrializados vai crescendo; vemos que a região continua sendo muito vulnerável aos choques externos e tem baixa competitividade em relação a outras regiões do mundo. Vemos com certo alarme a existência de assimetrias internacionais em comercialização, financiamento e outros temas. Tudo isto faz parte da 1 concepção que a instituição que presido tem, e que compartilhamos plenamente com a visão claramente defendida pelo presidente Lula: a integração é elemento fundamental ao espaço sul-americano. Nesse sentido, não nos cansamos de dizer que a integração não deve ser vista como algo retórico, romântico, mas pragmático, importante, para ganhar sinergia, competitividade e uma inserção eficiente e eqüitativa nas realidades econômicas e sociais contemporâneas. Nesse sentido, podemos dizer que a integração deve ser vista não como um luxo, mas como uma necessidade. No contexto destas realidades de que estamos falando, é indispensável o que chamarei de “agenda renovada” desenvolvimento, de boa uma agenda nova, de que restabeleça um padrão de crescimento sustentável e qualidade, o que equivale a dizer: que crie emprego, que seja includente e participativo, que valorize a riqueza cultural e a riqueza ambiental da região – e então, precisamente, a integração se converte em eixo fundamental. Esta agenda a priori é chave. Pensamos num esforço interno como uma base fundamental, e deve existir uma visão sistêmica regional, na qual a participação pública e a privada se convertam em elementos fundamentais, tornando realidade o comércio e a melhoria das condições de vida da maioria dos sul-americanos. Cremos que esta participação, esta sinergia regional, deva seguir certos critérios fundamentais, baseados em políticas coerentes, em instituições sólidas; princípios de eficiência, de eqüidade, de solidariedade, de pragmatismo e de flexibilidade. Essa é, um pouco, a filosofia que, na instituição que presido, temos em mente. Vemos que um obstáculo fundamental para a inserção efetiva da região é, precisamente, a baixa competitividade. Assim, a infra-estrutura e a logística se convertem nos elementos fundamentais nesse processo de transformação e de busca pela competitividade. Evidentemente que a infra-estrutura não deve ser vista como um fim em si, mas como meio - como Carlos Lessa, com toda clareza, explicou. Não devemos nos deter em Seminários como este, em que falamos de um tema importante como o da infra-estrutura; devemos fazer com que a infra-estrutura tenha um impacto real, em matéria de produção, de exportações, de externalidades que permitam a inclusão como um fator primordial do processo de desenvolvimento. 2 Acreditamos que a região teve avanços consideráveis - este seminário pode ser entendido como um produto derivado da IIRSA, que é uma iniciativa muito importante do continente e que identificou nove eixos sinérgicos que incluem transporte, energia e todos os aspectos da logística com uma visão sistêmica, compreendendo–os não como fim, mas como meio. Vemos com grande satisfação a iniciativa sul-americana, tanto que temos trabalhado com os doze países da região, em estreita colaboração com o BID e o FONPLATA. Acreditamos que iniciativas assim - pragmáticas, concretas, de lançamento de idéias e projetos - têm a virtude de motivar e mover a maquinaria para alcançar, o quanto antes, resultados. Eu diria que existem grandes desafios para nossa região em matéria de integração, para mais além de acelerar a convergência dos processos comerciais, coisa que já está acontecendo, neste momento, na região – como a convergência da Comunidade Andina com o MERCOSUL. É extremamente importante fortalecer o conceito de missão regional - e não local - de projetos. Os projetos de integração não devem ser compreendidos como nacionais - não é um projeto brasileiro, um projeto boliviano ou chileno, é o eixo no qual um projeto na Bolívia traz benefícios para Brasil, para o Peru e para o Chile, e assim sucessivamente. Segundo, devemos acelerar as questões para que, com as instituições que temos com capacidade de financiar projetos, consigamos inovar com novos instrumentos, com flexibilidade de nossas políticas. As necessidades de financiamento existentes excedem em muito a capacidade individual de países ou instituições. É por isso que devemos ver um evento como este não como um fim em um processo, mas como um começo de um processo acelerados da adoção de mecanismos financeiros inovadores, capazes de dar mais segurança e menos volatilidade aos fluxos de recursos externos. Também é importante, estando aqui presentes empresários, representantes da indústria, de empreiteiras e consultorias, de que vamos avançar nos processos com celebridade, se faz indispensável que haja uma maior participação pública e privada, em uma aliança estratégica que permita levar adiante programas e projetos nas áreas de infra-estrutura. Para isso, devemos encontrar atalhos para chegar aos resultados previsíveis. 3 Deixem-me, rapidamente, dizer algo sobre CAF: nasceu há trinta anos, originalmente como uma instituição andina para o desenvolvimento da região. Nos últimos quinze anos, e particularmente nos últimos dias, teve um desenvolvimento muito interessante, porque consolidou sua missão central, e é por isso que damos tanta importância aos temas deste Seminário. A CAF se baseia em três conceitos-chave: competitividade, sustentabilidade – que operam como instrumentos para acelerar o terceiro – e integração regional, onde econômico, o social, o financeiro, o político e o institucional devem ser vistos em conjunto. Um feito importante na transformação da CAF foi a incorporação de 16 países da região como sócios. Todos os países sul-americanos do MERCOSUL e da Comunidade Andina são acionistas da CAF. Estamos buscando mecanismos apropriados para poder trabalhar com o Suriname e Guiana. Este crescimento da CAF, cumpre destacar, se baseia em dois elementos: primeiramente, o ingresso do Brasil, há seis anos, cujo efeito foi catalisador para que Paraguai, Argentina, Uruguai e todos os países do sul sejam incorporados pela Corporação de maneira a podermos agora trabalhar no âmbito da região; em segundo, o importante feito de havermos conseguido solidez financeira, que nos tem permitido alcançar níveis de grau de investimento superiores aos dos países para acesso aos mercados internacionais de capital, o que lhe permite ser um elemento catalisador importante da região. Há um terceiro elemento que quero destacar: a infra-estrutura tem sido fator decisivo na transformação da CAF. Começamos com esforços muito concretos no âmbito andino e, graças a um matrimônio que estabelecemos há dez anos com Eliezer Batista - que tinha uma visão estratégica do Brasil no contexto da região sul-americana, e que está aqui presente - se fez essa conceitualização que permitiu que a teoria se transformasse em prática. Com satisfação, cumpre-me assinalar que, de um volume de mais ou menos quinze bilhões de dólares que nos últimos cinco anos que a Corporação Andina de Fomento movimentou, aproximadamente 70% vem sendo dirigido a infraestrutura de integração sul-americana. Financiamos 22 projetos com cerca de 2.500 milhões de dólares de empréstimos da CAF, num total de investimentos que chega a cinco ou seis milhões. E quais projetos estão envolvidos? Falarei 4 dos mais próximos ao Brasil: a integração elétrica da Venezuela com o Brasil, as linhas de transmissão pelo lado brasileiro; a estrada Manaus - Boa Vista e o programa de desenvolvimento sustentável para a região. Vamos ao sul: temos financiado, em conjunto com outros organismos como o Banco Interamericano, o desenvolvimento do gasoduto que vai da Bolívia a São Paulo; no caso do Paraguai, estamos financiando a Transchaco; no caso do Uruguai, acabamos de aprovar um importante programa cujas implicações transcendem a região e os países andinos. Toda a integração ao Pacífico por estradas, portos, energia... Agora estamos com o recente ingresso da Argentina na corporação, e analisamos uma série de possibilidades. Espero que este seminário nos dê uma pauta importante de iniciativas próximas a serem realizadas. Gostaria de concluir assinalando que, para a CAF, e para mim pessoalmente, é uma grande satisfação, uma honra, haver encontrado tamanha sinergia com o BNDES. Eu creio que essas sinergias muitas vezes partem da força das instituições, mas creio que dependam bastante da visão de seus líderes, que depositam nelas seu entusiasmo, sua vocação e seu poder de decisão. Temos um desafio grande, pelo qual o presidente Lula, em várias reuniões, encontros e conversações que mantive com ele, mostrou grande interesse: devem ser encontrados mecanismos inovadores para acelerar o processo de desenvolvimento da região, capazes de romper esta série de obstáculos plantados. Creio, portanto, que temos o desafio de com o BNDES realizar nossas políticas, nossas maneiras de operar; devemos tratar de incentivar esquemas inovadores. Creio que, do ponto de vista da CAF, queremos ir mais além, e por isso convidamos a outras instituições irmãs, dos países-membros da corporação, para que possamos construir esquemas similares. Como sempre, demonstramos nossas satisfação de poder trabalhar no marco da “IIRSA” e em outras iniciativas com os amigos do BID e, desde já, lançamos um cordial desafio a que outras instituições de financiamento, tanto públicas como privadas - Banco Mundial, investidores estrangeiros etc. - vejam na região sul-americana um espaço que foi esquecido como espaço geopolítico e geoeconômico, e que se está organizando, porque na esfera política existe uma interpretação - mais que isto, uma identificação - séria por parte dos 5 líderes dos países sobre o potencial para este jogo competitivo e difícil que representa a globalização. Novamente muitíssimo obrigado; faço votos de que este seminário, um ponto de partida de ações pragmáticas para o futuro, seja bem-sucedido. Todos ficaremos felizes, porque há a possibilidade de termos mais financiamentos para a região. Novamente, senhor vice-presidente, agradeço pela honra de poder acompanhá-lo e por poder transmitir-lhe e ao presidente Lula o respeito e a identificação que a CAF tem com relação a esse esforço pela integração sul-americana. Muito obrigado. 6