LIDERANÇA: UM DOM OU UMA HABILIDADE? Karina Pauloso Ladislau (FACEQ)* Sidnei Albino Gregório (UNAR/FACEQ)** Evandro Luiz Soares Bonfim (UNIFESP/FACEQ) *** Cláudio Cordeiro Vasconcelos (FMU/FACEQ) **** Resumo A partir de experiências pessoais e profissionais identificou-se que os conceitos de dom e habilidade não são vislumbrados no exercício da profissão em administração, ao mesmo tempo em que há emergência de que tais conceitos sejam ativos na prática profissional, para minimizar conflitos internos nas organizações, o que além de contrariar a missão social de uma empresa, dificulta sua competitividade diante de um mercado cada vez mais exigente. Para tanto, este artigo fará pesquisa bibliográfica de caráter exploratório. Palavras-chave: Liderança. Dom. Habilidade. Empresa. Abstract From personal and professional experiences identified himself the gift of concepts and skills are not envisioned in the profession in administration at the same time when there is an emergency that such concepts are active in professional practice, minimizing internal conflicts in companies, something that in addition to counter the social mission of a company, hampers their competitiveness in the face of an increasingly demanding market. Therefore, this article will make literature of exploratory. Keywords: Leadership. Gift. ability. Company. * Discente do curso de Administração da Faculdade Eça de Queirós (FACEQ/UNIESP). Docente da Faculdade Eça de Queirós. Especialista em Educação pelo Centro Universitário de Araras Doutor Edmundo Ulson (UNAR). *** Coordenador do curso de Pedagogia da Faculdade Eça de Queirós. Mestre em Educação pela Universidad San Carlos de Asunción e mestrando pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). **** Coordenador do curso de Administração da Faculdade Eça de Queirós e Mestrando nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). 1 ** E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Introdução O objetivo que norteia a construção deste artigo é o de esclarecer e ao mesmo tempo discutir sobre a questão da liderança que está presente no cotidiano pessoal e profissional, analisando o impasse: dom ou habilidade? Para que possamos liderar, precisamos de algumas características básicas, as quais podem ser consideradas inatas e que serão tratadas no desenvolvimento do artigo. Por outro lado, temos a questão que o líder deve obter conhecimentos prévios, para que consiga tomar atitudes coerentes com determinadas situações, bloqueando a distinção entre dons e habilidades. Com o intuito de solucionar o impasse em discussão, abordaremos o papel do líder, segundo características pessoais e características desenvolvidas por meio da aprendizagem, suas funções e importância no ambiente organizacional, visando além de seus interesses, o bem estar da empresa. Nos últimos anos, tivemos atualizações em muitas áreas e inclusive na administração, que sofreu algumas modificações em relação aos primórdios da história, quando a liderança era realmente tida como um dom. Nesse sentido, esse artigo representa uma nova leitura sobre o tema liderança, investigando sobre questões referentes a dom ou habilidade e proporcionando ampliação conceitual para futuras pesquisas relacionadas ao tema proposto. 1 Revisão da bibliografia Quando analisamos a palavra liderança imaginamos a figura de um chefe que está à frente de um grupo de colaboradores, na maioria das vezes, operários, funcionários de uma determinada organização. Esta é uma visão do senso comum, pois encontramos líderes em diversos lugares, tais como escolas, hospitais, comércios e até em nossos lares, apesar de, algumas vezes, parecer oculto. Com o passar dos anos, o papel do líder sofreu atualizações, passou por diversas modificações. Recapitulando a história, podemos perceber que na Antiguidade as pessoas que assumiam a figura de líder/chefe de um grupo (ou nação) era uma pessoa que detinha o dom para exercê-lo, e esta liderança era atribuída através da hereditariedade; já na atualidade há estudiosos que afirmam que liderar é uma habilidade que pode ser desenvolvida com estudos. 2 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Temos em mãos um grande dilema, é possível aprender a ser líder ou é uma característica inata? Ao analisar tal questão podemos mesclar o aprendizado com as características próprias do indivíduo e assim resumir que o líder desenvolve as habilidades de liderança através dos estudos. Segundo John C. Maxwell (2008, p. 142), “A partir do momento em que você para de aprender, também para de liderar. Se quer liderar, precisa aprender. Se pretende continuar liderando, não pode parar de aprender”. Levanta-se, assim, um novo impasse: o papel das universidades e professores na formação de gestores. É comum encontrarmos líderes sem nenhuma formação, o que dificulta a relação com os liderados, pois aqueles não possuem os conhecimentos necessários para tomarem atitudes de líderes e tornam-se verdadeiros chefes, causando confusões entre ambos os cargos, chefe versus líder. A liderança é algo de extrema importância na atualidade, e independente do ambiente em que esteja sendo analisada, é dotada de responsabilidades e tem nas mãos o sucesso ou o fracasso de uma empresa e, para tanto, é preciso que este líder obtenha um grande potencial, pois quanto maior for esta eficácia, maiores são as chances de sucesso. Maxwell afirma em seu livro "As 21 irrefutáveis leis da liderança": A capacidade de liderança sempre é o limite da eficácia pessoal e da organização. Se a liderança de uma pessoa é grande, o limite da organização é alto. Se não é, então a organização é limitada. Por isso, em épocas de dificuldades, as organizações naturalmente buscam nova liderança. Quando o país passa por tempos difíceis, elege um novo presidente. Quando uma empresa perde dinheiro, contrata um novo presidente. Quando uma igreja está prestes a naufragar, busca um novo pastor. Quando um time continua a perder, procura um novo técnico (MAXWELL, 2007, p. 28) O líder está à frente dos colaboradores representando os interesses da organização, e está à frente da empresa, expondo os desejos dos cooperadores; é um espelho de duas faces e, portanto, deve conhecer, além de tudo, o código de ética, para que saiba equilibrar os interesses de ambas as partes, tratando a todos com justiça, independente do cargo ocupado. Reconhecendo que não é superior a ninguém, apenas usufrui de um cargo mediador. 2 Contexto histórico Estudar a liderança é algo complexo. E existem três formas de analisá-la: 1) A liderança como conjunto de características pessoais; 2) O estudo do comportamento do 3 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq líder; 3) A eficácia da liderança segundo as situações em que se foi empregada (GIL, 2007, p. 221). No final do século passado, surgiu a teoria conhecida como "A teoria dos grandes homens" que procurou justificar o agir dos grandes líderes da época, afirmando que o líder já nasce líder. Porém, sem fundamentos científicos, não teve como criar uma teoria com as características de um líder. Warren Bennis (apud GIL, 2007), “acredita que um líder deve reunir seis características básicas: visão orientadora, confiança, integridade, paixão, curiosidade e ousadia” (GIL, 2007, 221). Em contrapartida, quando Gil (2007) retoma a contribuição de John W. Gardner, atribui 14 aptidões ao líder: Vitalidade física e energia, inteligência e capacidade de julgamento, disposição para aceitar responsabilidades, aptidão para as tarefas, compreensão dos seguidores e suas necessidades, habilidade em lidar com as pessoas, necessidade de conquista, capacidade de motivar, coragem, resolução e perseverança, capacidade de conquistar e manter confiança, capacidade de administrar, decidir e estabelecer prioridades, confiança, ascendência, domínio e afirmação, e adaptabilidade. (GARDNER apud GIL, 2007, p. 221) Segundo aponta Gil (op. cit.), o líder deve ser a junção do denominado líder autoritário (orienta na elaboração das tarefas, volta-se mais a produção) e do líder democrático (consideração pelas pessoas). Pois deve apresentar interesses pela organização e pelos colaboradores, sendo um espelho que reflete duas faces, dois interesses (GIL, 2007, p. 222). O termo liderança passou a ser objeto de estudo em meados da década de 1930, que até então, apesar de se conhecer o termo, não havia nada que a sustentasse enquanto teoria. Assim, a palavra liderança, já conhecida, tornou-se reconhecida, tomando novos ares, invadindo o ambiente organizacional e substituindo a figura do chefe. Ao chefe bastava saber controlar seus funcionários, exigindo deles obediência e estes realizavam tudo quanto ele ordenasse, mantendo assim, a organização no ambiente de trabalho. Foi assim até as décadas de 1970 e 1980, que devido o aumento das concorrências, as empresa sentiram a necessidade de aptidões a mais do que as oferecidas pelo chefe, surgindo a figura do novo chefe, o líder, que sabe influenciar seus colaboradores tornando-os uma equipe capaz de trazer grandes resultados à organização, vendo-os como pessoas, parte integrante da empresa e não como simples objetos ou produtos (MARQUES, 2015). 4 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Apesar de o chefe e o líder serem constantemente comparados e/ou confundidos, atualmente, o líder é mais bem recebido em um ambiente do que um chefe. O chefe manda, o líder influencia, o chefe é superior, o líder representa a equipe, o chefe desperta receio, o líder demonstra confiabilidade e respeito. A cada ambiente que frequentamos, encontramos líderes que detêm fortes influências em nossa formação, como pessoas e como gestores. Na liderança, pode-se citar, entre outras características, ousadia, confiança, controle emocional, coragem, curiosidade e responsabilidade; nas habilidades pode-se atribuir inteligência, capacidade em lidar com as pessoas, conhecimentos prévios, experiências pessoais e profissionais, a união destas e outras qualidades constituem o líder, ou como ele deve ser. A liderança, apesar de possuir constante presença na vida de todos nós, ainda é um tema atual que precisa de estudos e atualizações frequentes e ainda é muito cedo para afirmar que se pode defini-la. 3 Liderança no cotidiano Desde que nascemos, recebemos fortes influências de nossos pais, professores e familiares, os quais são verdadeiros e principais mentores em nossas vidas; nascemos liderados, vivemos liderança e nos tornamos líderes. Recebemos a primeira lição de liderança ainda crianças, quando nossos pais nos mostram o que fazer, como fazer e como agir, enfim, nos dão as "primeiras coordenadas" dos costumes educacionais de um ser humano, ou seja, a denominada socialização primária. Temos em nosso cotidiano, diversos líderes. Os encontramos a cada ambiente que frequentamos, como por exemplo, nas escolas encontramos os professores, o diretor, o coordenador; em nossas casas temos a figura dos pais e, no trabalho, a do próprio gestor. Todos estes líderes ocupam funções importantes na formação de cada indivíduo, além de representarem exemplos para os novos gestores. A própria sociedade em que estamos inseridos, forma os líderes que temos e os que teremos, o que implica também na questão de classes sociais, como diz o dito popular "Manda quem pode, obedece quem tem juízo". Porém, atualmente, o nível de instrução da população está em crescente aumento, o que faz com que as oportunidades para maiores e melhores cargos sejam mais competitivas. As experiências do dia a dia somam-se positivamente na formação do 5 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq administrador, pois mais do que conhecimentos teóricos, este precisa saber, na prática, o que é ser um líder; estas experiências acrescidas dos conhecimentos teóricos formam o profissional. 3.1 Liderança como dom O termo liderança enquanto dom vem do passado, quando ainda não tínhamos a noção que se tem hoje de liderança, que se confundia com talentos naturais e dava-se através da hierarquia. Ainda é plausível afirmar que isso ocorria pela falta de instrução da época, o que implicou na ausência de agentes teóricos para aplicação formal da liderança. Com o passar dos anos, criaram-se diversas teorias, a fim de se chegar a uma descrição da liderança. E, conforme pensamento de Sylvia Constant Vergara (2007, p. 62), expressos no artigo "A liderança aprendida": Talvez a mais antiga seja a dos traços de personalidade. Quem seria líder? Aquele que nascesse com determinados traços físicos, intelectuais, sociais e relacionados com a tarefa. Por exemplo: deveria ter estatura alta, bela aparência, força física etc. Contudo, se tentarmos enquadrar, nesta teoria, personagens como Napoleão, Rosa de Luxemburgo e Ghandi, o resultado será decepcionante. Porém, enquanto dom, hoje, pode-se definir o líder através da união das seguintes características: ousadia, confiança, controle emocional, coragem, curiosidade, responsabilidade e principalmente capacidade de aprender, características consideradas inatas ou desenvolvidas. Por se tratar de uma relação interpessoal, Oliveira (2006) afirma que "do líder são cobradas determinadas formas e atitudes para lidar com valores básicos; e, entre os mais importantes, estão o amor, a integridade e o sentido", características que requerem controle e exercício, além de se tratarem de virtudes pessoais (OLIVEIRA, 2006, p. 27). O dom de liderar, então, nada mais é do que a soma das características desenvolvidas com o passar dos anos, tendo como a principal aptidão, a outrora citada, capacidade de aprendizagem, pois o líder é aquele que aprende a cada passo, com os sucessos, mas principalmente com os erros, que são agregados às experiências profissionais e até mesmo pessoais. Assim, John C. Maxwell (2008), retomando as palavras do escritor e professor Peter Senge, define o aprendizado como "um processo que 6 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq ocorre ao longo do tempo, e sempre integra o pensamento e a ação" (SENGE apud MAXWELL, 2008, p. 12). 3.2 Liderança como habilidade Ao ocupar um cargo de liderança, é preciso, acima de tudo, que a pessoa esteja qualificada para tal cargo, obtenha conhecimentos e habilidades que podem vir do desenvolvimento de características consideradas como dons. As habilidades de liderança são os dons somados aos conhecimentos acadêmicos, complementados por atitudes éticas e agregados às experiências, sejam elas pessoais ou profissionais. O desenvolver dos dons, como já discutido anteriormente, é dado por influências sofridas no decorrer da vida, mas principalmente na infância. Os conhecimentos acadêmicos são oferecidos em cursos, graduações e outros voltados à área em questão, onde também ocorrem constantes trocas de experiências entre docentes e discentes, e até entre os discentes. Ao mencionar as atitudes éticas, esbarramos no senso comum, em valores, moral e cultura, que dispõe de variações regionais. Nas qualificações do líder devem constar características inatas somadas às habilidades, porque suas qualidades pessoais formam sua personalidade, que é o seu diferencial no mercado de trabalho e suas habilidades são características aprendidas durante a vida, ou seja, suas experiências, o que o qualifica como único e especial para exercer determinada função. 3.3 Um líder cada vez melhor Tomando novamente as palavras de Maxwell: "O fator com maior potencial de transformar você num líder cada vez melhor é a sua iniciativa". Somente você pode escolher o caminho a trilhar; suas escolhas o levaram para onde você almeja chegar (MAXWELL, 2008, p. 12). O mercado carece de líderes bem preparados e atualizados, pois o mundo não para; a cada dia temos acesso às novas tecnologias, estudos e teorias, obrigando a sociedade e principalmente os profissionais a se adaptarem cada vez mais rápido. Assim como sustenta Sylvia Constant Vergara (2007, p. 64): "Precisamos hoje de gestores/líderes, capazes de 7 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq perceber que não só as empresas e seu ambiente mudam, exigindo renovação constante de competência como também que as empresas são movidas por cooperação e por conflito, e é preciso saber lidar com essas forças contraditórias". Em liderança temos constantes reformas. Presenciamos, a cada dia, um novo conceito, uma nova teoria, um novo "método", que engloba as organizações e seus gestores, como por exemplo, o Empowerment, que significa "descentralização de poderes", sugerindo maior participação dos trabalhadores nas atividades da empresa ao lhe ser dada maior autonomia em decisão e responsabilidades (SIGNIFICADOS, 2015). Para aplicar tal método, é necessário um líder que conheça e que domine suas práticas, para que esta não passe a sensação de descontrole e tão pouco de liberdade total aos liderados. O futuro da organização está nas mãos do administrador, e ser melhor é uma opção que somente ele pode escolher e fazê-la acontecer. "Querer vencer não é o suficiente. (...) Isso exige paciência, perseverança e determinação" (MAXWELL, 2008, p. 12). Considerações finais Ao estudar o tema liderança, temos à nossa disposição inúmeras obras de diversos autores, em que expõem opiniões, fatos, casos e até mesmo teorias. E apesar de cada autor abordar o tema em sua forma pessoal, todos afirmam que o bom líder é aquele que obtém a capacidade de influenciar pessoas. Conforme apontado também por John C. Maxwell (2007, p. 21) "A capacidade de liderar determina o grau de eficácia da pessoa". Comprovado por Antonio Carlos Gil (2007, p. 220) "(...) é necessário que elas vejam-se mais como colaboradoras do que como subordinadas (...)". E assegurado por Sylvia Constant Vergara "Entendo por liderança a competência de alguém em exercer influência sobre indivíduos e grupos, de modo que tarefas, estratégias, missões sejam realizadas e resultados sejam obtidos” (VERGARA, 2007, p. 63). Referências bibliográficas BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia Aplicada à administração de empresas: psicologia do comportamento organizacional. São Paulo: Atlas, 2008. 8 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq BRUCE, Anne. 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