RELATO DE CASO: desidratação hipernatrêmica no neonato: achados cerebrais na ressonância magnética H MUSAPASAOGLU, A MUHTESEM AGILDERE, M TEKSAM, A TARCAN and B GURAKAN (Turquia) The British Journal of Radiology 2008;81 e57–e60 Débora Cristiny Gomes – R3 Neonatologia Unidade de Neonatologia do HRAS/SES/DF Coordenação: Márcia Pimentel/Paulo R. Margotto Brasília 10 de maio de 2011 Hypernatraemic dehydration in a neonate: brain MRI findings. Musapasaoglu H, Agildere AM, Teksam M, Tarcan A, Gurakan B. Br J Radiol. 2008 Feb;81(962):e57-60. Free Article A severa desidratação hipernatrêmica pode causar graves complicações neurológicas em recém-nascidos (RN): - edema cerebral, -hemorragia intracraniana, -trombose do seio, -os infartos hemorrágicos e -danos cerebrais permanentes Este relato de caso descreve os achados à ressonância magnética (RNM) de crânio de bebês hipernatrêmicos; descreve as lesões lineares que representam hemorragia intracraniana na junção da substância branca-cinzenta. Achados no exame de RNM podem ser úteis para o diagnóstico de desidratação hipernatrêmica, e para afastar diagnósticos diferenciais. Hipernatremia é um distúrbio eletrolítico grave no período neonatal Ocorre geralmente devido a -desidratação ou intoxicação por sódio A excreção renal de Na é menor que em lactentes mais velhos e crianças, então, recém-nascidos são particularmente sensíveis aos efeitos da hipernatremia O alto nível de perda insensível de água em recém nascido e a menor eficiência na conservação de água devido a imaturidade renal nessa idade, também predispõe esse grupo a desidratação hipernatrêmica. Hipernatremia pode causar disfunção aguda do sistema nervoso central e até danos permanentes. Ressonância magnética (RNM) é uma ferramenta importante para identificar fatores subjacentes a disfunção do SNC e também facilita o tratamento precoce. Mãe primigesta, 33 anos, hiperemese gravídica Recém-nascido com 18 dias de vida Nasceu de parto cesáreo, IG 41 semanas Peso 3700g Recebeu alta após 3 dias Com 16 dias : diminuição na amamentação, letargia, convulsões e oligúria Exame físico inicial: - hipertônico, desidratado, 36,8°C, Fc 122, Fr 58, PA 88x54mmHg - peso atual: 3050 (perdeu 18%) - convulsões - apnéia intermitente - pupilas isocóricas - pupilas não eram fotorreagentes Exames laboratoriais: - Osmolaridade sérica: 410mOsm/Kg (275295) - Na 176mEq/l (135-146) - Ur, Cr, Glicose, Cl e K elevados - Hemocultura, urocultura e cultura de líquor negativas Líquor: - Leucócitos: 200/mm³ (0-500) Proteína: 125mg/dl (0-40) Glicose: 234mg/dl (40-70) Hemácias: 0 Tempo de protrombina: 22s (11-14,5) Gasometria: acidose metabólica Nível de Na+ no leite materno: 4semanas: 94mEq/l 6semanas: 97mEq/l atualmente: 120mEq/l (10-20) Paciente recebeu o diagnóstico de: Desidratação Hipernatrêmica Sepse provável Tratamento incluiu: - expansão - antibiótico - diálise peritoneal para insuficiência renal - anticonvulsivante - aminofilina - insulina - bicarbonato Ultrassom de abdome no 2° dia de internação: sugestivo de nefrocalcinose Ultrassom cerebral: normal As imagens mostram lesões lineares hiperintensas na junção da substância branca -cinzenta, em lobos parietal, occipital e frontal bilateralmente. A lesão é mais proeminente nas regiões parietooccipitais bilaterais, e era compatível com necrose laminar hemorrágica (áreas hiperintensas). Múltiplos locais de hemorragia parenquimatosa e edema cerebral mais proeminentes em regiões parietal e occipital Angiorressonância: normal Alta após 15 dias de internação: Sintomas clínicos haviam regredido Retorno após 2 meses: apresentava dificuldade para sustentar a cabeça Mostra vários locais de vestígios de hemorragia no córtex e subcórtex Mostra ventriculomegalia, áreas de encefalomalácia e quase completa resolução das lesões hemorrágicas. Observe o foco hemorrágico no lobo parietal direito. Ventriculomegalia e encefalomalacia das regiões parietooccipitais. Nesta fase, os focos de hemorragia estavam quase completamente resolvidos, mas alguns ainda eram evidentes nas regiões parieto-occipitais bilaterais. Hipernatremia: Na+ >150mEq/l Condição relativamente comum em lactentes e pessoas mais velhas. Consequências clínicas podem ser graves quando Na+ > 160mEq/l Causa de hipernatremia: -excesso de Na+ -deficiência de água -deficiência de Na+ e água Em RN oferta de dieta incorreta (fórmula concentrada) ou falha na amamentação são causas importantes de desidratação hipernatrêmica. Suspeitamos, no nosso caso, que a hipernatremia e a desidratação se desenvolveram por falha na amamentação e alto teor de Na+ no leite materno. Vários estudos mostram que o aumento rápido de Na+ em RN pode causar hemorragia cerebral devido a ruptura de vasos. Não se usa Bicarbonato de sódio concentrado para tratar acidose . Pode causar sangramento A correção rápida da hipernatremia pode causar danos ao SNC, como mielinólise pontina e extra-pontina Sintomas agudos com Na+ >158mEq/l -náusea, vômito, febre, alteração do estado mental. Nosso paciente apresentava, à admissão, Na+ = 176mEq/l e osmolaridade = 410 mOsm/l. Letargia, convulsão e apnéia intermitente A irritabilidade e agitação geralmente se tornam evidentes quando a Osm chega a 350-375. Em seguida aparece letargia, torpor, tremores Hiperreflexia, hipertonia e convulsões. Espasmos tônicos e sequelas neurológicas ocorrem quando a Osm>400 Morte geralmente ocorre com Osm>430 Taxa de mortalidade: 10% Complicações: -edema cerebral -hemorragia intraventricular, subdural e subaracnóidea -infarto hemorrágico -trombose de seio venoso -hemorragia parenquimatosa multifocal Lesão neurológica é resultado da hiperosmolaridade do espaço extracelular O líquido é retirado do intracelular, causando retração das células O cérebro é puxado em direção contrária à calota craniana, resultando em ruptura das veias pontinas. Além disso, o encolhimento do cérebro produz uma pressão negativa fora do tecido (incluindo os capilares intraparenquimatosa), e isso pode levar a dilatação capilar A retração das células do endotélio vascular em combinação com a dilatação capilar pode predispor ao rompimento capilar e/ou transudação, resultando em hemorragia intraparenquimatosa A substância cinzenta contém uma rede capilar mais extensa que a substância branca; No nosso caso, a hemorragia foi mais proeminente na transição da substância branca-cinzenta. A rede capilar comparativamente mais extensa nestas regiões explica esta distribuição Em nosso paciente, a MR revelou edema cerebral e múltiplas lesões hiperintensas lineares na zona de transição da substância branca-cinzenta. Estes resultados foram observados bilateralmente nos lobos frontal, parietal, temporal e occipital em T1W, T2W e TFLAIR imagens, e são compatíveis com hemorragia subaguda. não houve trombose do seio acompanhando a hemorragia intracraniana em nosso caso O tratamento do paciente corrigiu o desequilíbrio eletrolítico, porém, a RNM dois meses após a alta revelou seqüelas neurológicas permanentes, incluindo áreas de ventriculomegalia e áreas de encefalomalácia A RNM pode mostrar hemorragia intracraniana, encefalomalácia , perda de parênquima e alargamento do sulcos Em recém nascidos o SNC é particularmente vulnerável aos efeitos da desidratação hipernatrêmica A RNM do crânio pode revelar edema cerebral, vários focos de hemorragia intra e extra-parenquimatosa, infartos hemorrágicos e trombose do seio Na encefalopatia difusa hemorrágica devido à hipernatremia, lesões lineares hemorrágicas podem ser detectadas na transição da substância branca e cinza. Na encefalopatia difusa hemorrágica devido à hipernatremia, lesões lineares hemorrágicas podem ser detectadas na transição da substância branca e cinza. Esta distribuição particular de lesões hemorrágicas pode ser explicada pelas extensas redes de capilares que abastecem a transição substância branca-cinza. REFERÊNCIAS Conley SB. Hypernatremia. Pediatr Clin N Am 1990;37:365–72.[Medline] Korkmaz A, Yigit S, Firat M, Oran O. Cranial MRI in neonatal hypernatraemic dehydration. Pediatr Radiol 2000;30:323–5.[CrossRef][Medline] Han BK, Lee M, Yoon HK. Cranial ultrasound and CT findings in infants with hypernatremic dehydration. Pediatr Radiol 1997;27:739– 42.[CrossRef][Medline] Al Orainy IA, O'Gorman AM, Decell MK. Cerebral bleeding, infarcts, and presumed extrapontine myelinolysis in hypernatraemic dehydration. Neuroradiology 1999;41:144–6.[CrossRef][Medline] Mocharla R, Schexnayder SM, Glasier CM. Fatal cerebral edema and intracranial hemorrhage associated with hypernatremic dehydration. 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