Como você vai morrer? – Por Gil de Marqui
Às vezes acho que ter uma vida 100% saudável mata. Sério! Tenho calafrios sempre que
assisto ou leio uma matéria sobre o corpo humano e o seu bom funcionamento.
Já reparou que fazemos tudo errado? Comemos mal, não nos exercitamos direito, não
somos suficientemente higiênicos e sofremos dramas psicológicos que os livros de
autoajuda resolvem em duas linhas. Afinal, a que horas devemos acordar para caber no
nosso dia, seguir a risca todas as exigências nutricionais e físicas que os médicos nos
ensinam?
Temos que ter cuidado com tudo: Com os olhos, os tímpanos, o cantinho esquerdo do
dedinho do pé e com o antebraço. Malhar prestando atenção na postura, nas juntas, nos
ossos e nos nervos. Escovar os dentes, fazer limpeza de pele, massagem facial (para evitar
rugas), hidratar os cabelos, cortar as unhas, yoga, natação e meditação. Não pode comer
isso, não deve comer aquilo. Tomar 3 litros de água e não segurar o xixi. Suco natural, um
prato colorido e mastigar pelo menos 20 vezes antes de engolir. Se morar em uma cidade
poluída como São Paulo, favor não se esquecer da inalação e da bacia com água dentro do
quarto para evitar uma crise de relacionamento com o aparelho respiratório.
Não tenho dúvidas de que as intenções para conosco e nossa saúde são as melhores. Mas
quer saber? Seguindo não mais do que 40% de toda esta lista eu me sinto bem e não carrego
nenhuma culpa no bolso.
De maneira nenhuma estou dizendo que você saia por aí quebrando regras e se entupindo
de gordura para danar o seu colesterol. Mas acho que a vida fica mais gostosa com uma
pitada de desleixo.
Uma coisa é fato: É muito difícil manter o corpo intacto e livre de doenças por muito tempo.
Diante dessa teoria, alguns riscos até que valem a pena. Você pode ser extremamente
cuidadoso com a saúde e morrer num acidente. Pode ter medo de praticar um esporte
radical e morrer por conta de sua saúde. Não dá pra prever, não há para onde correr e nem
por isso vamos agir irracionalmente, ok?
É claro que estou falando dos cuidados excessivos e não dos essenciais. Um diabético, por
exemplo, sabe que seu ponto fraco é o açúcar. Logo, deve aprender a controlar as doses do
mesmo. Se não fizer este controle, sabe que as consequências serão péssimas. Neste caso o
cuidado é vital.
Você acha que uma pessoa que come hambúrguer e toma refrigerante tem aval suficiente
para criticar alguém que fuma? As duas estão se matando aos poucos, talvez umas mais
rápido do que as outras, mas o caminho é um só. Tudo é um vício que só faz sentido para
quem o tem.
Minha avó fumou a vida toda. Depois de um derrame cerebral o médico a proibiu de
fumar. Há pouco tempo descobrimos que a senhorinha de 71 anos continua fumando um
maço de cigarros por dia. Todos ficaram indignados. Eu não. O que querem que ela faça
para passar o tempo e dar um jeito na ansiedade? Tricô? Baralho? Bolos? Eu não acho que
ela esteja cometendo um crime por fazer uma das poucas coisas que lhe da prazer. Ela é
adulta, lúcida, escolheu quanto tempo quer viver e com que dores quer morrer. Alguns
dizem que “vai dar trabalho”, mas não é pra isso que existe a família?
O Equilíbrio poderia nos salvar de todos estes poréns. Fazer exames periódicos e não
exagerar nas doses é uma saída. Desencane! Lembre-se que todos os dias você tomará
decisões e terá que lidar com elas em algum momento. Se necessário peça ajuda a “Nossa
Senhora das Tentações” e relaxe. Agora, se me derem licença, estou indo tomar uma
limonada. Aguça e enlouquece a minha gastrite, mas faz bem para os rins. Até a próxima!
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