Ano 7 - Edição 27 - Janeiro de 2015 Pecuária remunera até 2,5 vezes mais que o salário mínimo oficial em 2014 Por Prof. Dr. Sergio De Zen e Graziela Correr; Equipe Pecuária de Corte A pecuária de corte brasileira continua pagando salários superiores ao mínimo oficial. Em 2014, o destaque foi para o estado do Paraná, onde o trabalhador deste setor recebeu, em média R$ 1.867,22, duas vezes e meia a mais que o salário mínimo federal praticado no ano passado, de R$ 724. Contam, ainda, a favor de quem atua na pecuária de corte a ausência de despesas com aluguel, energia elétrica e água, custeadas pelo proprietário, além da possibilidade de ter pequenos cultivos e criações para consumo próprio. De acordo com os dados das propriedades típicas coletados pelo Cepea em parceria com a CNA, na média “Brasil” (AC, BA, MA, MG, MS, MT, PA, PR, RS, SP e TO), um vaqueiro empregado na bovinocultura de corte ganhou R$ 1.158 em 2014. A diferença entre a menor e a maior remuneração foi de 126%, justificada por fatores como: disponibilidade de mão de obra em cada estado, estrutura e escala das propriedades, concorrência da pecuária com outras atividades e grau de urbanização. O menor ganho ficou com a Bahia, de R$ 825,36, ainda assim, acima do mínimo oficial. Para os demais estados, o total remunerado oscilou no intervalo de R$ 1.230,80, em Tocantins, a R$ 1.480,58, em Mato Grosso (Figura 1). precisam arcar com despesas referentes a aluguel, energia elétrica e água, internalizadas pelo proprietário. Esses gastos corresponderiam a cerca de 10% (Figura 2) das despesas de famílias com renda até dois salários mínimos que vivem nas cidades, segundo dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2008/2009. Portanto, ainda que a pecuária, na média de 11 estados, tenha pago 8% menos em 2013 (com média de R$ 1.084,45), do que os R$ 1.179 apontados como remuneração média urbana da mencionada faixa (Pnad, também para 2013), a redu- ção do custo de vida compensaria essa diferença. Além disso, as despesas do trabalhador rural com alimentação são menores. Enquanto uma família que reside na cidade compromete, em média, 26% de sua renda com refeições, o trabalhador rural, em especial o da criação de bovinos, pode se beneficiar do autoconsumo - em especial de hortifrutigranjeiros – e, eventualmente, do fornecimento de cesta básica pelo proprietário. Ainda que seja difícil mensurar, todos esses elementos agregam no ganho real do rendimento do trabalhador da pecuária de corte. Figura 1: Rendimento médio pago pela pecuária de corte – Brasil e estados Fonte: Cepea/CNA O aumento do salário mínimo rural – definido por estado, a partir de convenção entre trabalhadores e empregadores – também tem ficado acima dos reajustes anuais do mínimo oficial, que, nos últimos cinco anos, cresceu a uma média de 9,2% (em termos nominais). Em São Paulo e no Rio Grande do Sul, por exemplo, os aumentos médios do mínimo rural foram de 9,7% e 12,3%, respectivamente, ao ano, com os valores passando para R$ 810 e R$ 868, em 2014. Benefícios – Trabalhadores do setor pecuário que residem na propriedade não Figura 2: Distribuição das famílias com alimentação, aluguel, energia elétrica e água/esgoto na zona urbana – Brasil Fonte: POF 2008/2009 2 Metodologia Os rendimentos da pecuária de corte foram calculados a partir da multiplicação do número médio de salários mínimos rurais de cada estado pagos a um vaqueiro, obtidos em pesquisas Cepea, em par- ceria com a CNA, a respeito de propriedades modais ou típicas. A informação do rendimento médio urbano no Brasil foi extraída da Pesquisa Nacional de Domicílio - 2013, realizada pelo IBGE. Finalmente, os dados referentes às despesas das famílias na zona urbana (regiões metropolitanas) - para efeito de comparação com a situação no campo - foram retirados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2008/2009 (a mais recente), também realizada pelo IBGE. Após recordes de 2014, fundamentos seguem altistas para 2015; desafio ainda é cobrir custos totais Por Prof. Dr. Sergio De Zen e Mariane Crespolini dos Santos; equipe Pecuária de Corte Cepea O ano de 2014 foi caracterizado por preços recordes em todos os elos da cadeia da pecuária. O impulso veio da menor oferta, resultado especialmente da seca que atingiu, desde o final de 2013, diversas regiões produtoras brasileiras, que prejudicou as condições das pastagens. Para o boi gordo, a maior média mensal da série Cepea (iniciada em 1994), foi atingida em novembro, chegando a R$ 143,10, em termos reais (deflacionando-se pelo IGP-DI de dez/14). O valor superou, ainda, em 4,2%, o do mesmo período de 2010, até então o recorde mensal da série. Influenciados pela alta da arroba e pelo abate de matriz em anos anteriores, os preços da reposição também atingiram as máximas históricas em 2014. O primeiro recorde mensal em valores reais do Indicador ESALQ/BM&FBovespa do bezerro (animal nelore, de 8 a 12 meses, em Mato Grosso do Sul), depois dos obtidos em 2010, foi registrado em outubro, de R$ 1104,75, valor que foi superado em novembro e, depois, em dezembro, atingindo a média de R$ 1.201,70 no encerramento do ano passado. Se por um lado, as valorizações do bezerro representaram aumento na lucratividade de pecuaristas que atuam na cria, por outro, significaram aperto da margem de recriadores. Ponderando todos os sistemas de produção, 2014 encerrou com alta acumulada (de janeiro a dezembro) de 23,72% para o COE (Custo Operacional Efetivo) e de 19,99% para o COT (Custo Operacional Total). Em relação ao COE, a alta foi 14,54 pontos percentuais sobre a variação positiva acumulada em 2013, enquanto que o aumento do COT foi de 11,41 p.p.. Os aumentos dos custos em 2014 só ficaram abaixo dos registra- dos em 2008 e 2010 (acumulado anual). PERSPECTIVAS – Para 2015, mesmo que volte a chover com regularidade, não há como esperar altas expressivas na oferta de animais para reposição e prontos para abate em curto prazo. A seca desde 2013 prejudicou não só a engorda dos animais, mas também a taxa de prenhez, o intervalo entre partos e o desenvolvimento de bezerros e garrotes, além de, possivelmente, ter elevado o índice de mortalidade. Do lado da demanda, mesmo com as projeções de baixo crescimento econômico, não se aposta em redução das vendas agregadas de carne bovina aos brasileiros. Na vertente externa, as perspectivas são mais positivas, favorecidas pela valorização do dólar frente ao Real. Assim, as expectativas são de continuidade de preços firmes, tanto para o boi gordo como para a reposição. Quanto aos custos, é preciso considerar a alta do salário mínimo, anunciada em 8,8% para 2015. No ponderado, os gastos com mão de obra representaram 13,26% do COE e 10,9% do COT, na “média Brasil”, em 2014. Para os demais insumos, se acompanharem a perspectiva da inflação, as altas devem beirar os 6,7% - de acordo com o último boletim Focus do Banco Central. Ainda que a receita siga firme, para manter a rentabilidade de 2014, o pecuarista terá o desafio de contornar o aumento dos custos. Uma das alternativas é elevar a produtividade, bem como planejar a compra dos insumos em períodos de preço mais baixo. DESAFIOS – Apesar dos inúmeros desafios a serem enfrentados, a pecuária de corte brasileira tem registrado avanços nos últimos anos. De acordo com levantamento realizado pelo Cepea/CNA, hou- ve melhora nos indicadores de eficiência produtiva, como no período de intervalo entre partos. Para o Centro-Oeste, que concentra aproximadamente 40% do rebanho nacional, o intervalo entre partos no sistema de produção de ciclo completo reduziu 8,8%. Nas propriedades de cria, caiu 5,3% - comparando-se os painéis realizados em 2013/2014 com os de 2002/2003. Os avanços também se referem aos abate de bois não fiscalizados no Brasil. Levantamentos do Cepea indicam que, em 2012, menos de 10% dos abates ocorreram sem nenhum registro de fiscalização sanitária – municipal, estadual ou federal. O resultado surpreendeu o setor, pois em estudos anteriores a atividade não fiscalizada variava de 30% a 50%. Essa redução significativa decorre das mudanças positivas que a pecuária brasileira vem implantando. Segundo os pesquisadores, podem ser citados o fortalecimento do aparato legal sanitário, com foco em qualidade de processo, o salto tecnológico e gerencial das indústrias e a internacionalização do setor de carne brasileiro. Entre os desafios da pecuária de corte, um dos principais refere-se à viabilidade econômica de médio e longo prazos do setor. Considerando todas as propriedades típicas acompanhadas pelo Cepea/ CNA no período de 2002 a 2014, em praticamente 100%, as receitas superaram o COE. Porém, quando considerado o COT, isto é, os desembolsos efetivos somados à depreciação de máquinas, equipamentos e benfeitorias, além do pró-labore do produtor, esse percentual cai para 40%. Em outras palavras, embora no curto prazo, a pecuária de corte se mostre rentável, desafio ainda é obter recursos suficientes para repor os bens depreciados com o passar dos anos. 3 Bezerro é destaque nos custos de produção em 2014 Por Prof. Dr. Sergio De Zen, Gabriela Ribeiro e Gabriel Guarda; equipe Pecuária de Corte Cepea A alta no preço do bezerro foi o destaque do custo de produção da pecuária de corte em 2014. No acumulado do ano (médias mensais), o Indicador ESALQ/ BM&FBovespa (animal nelore, de 8 a 12 meses, em Mato Grosso do Sul) registrou forte aumento de 35%. Com isso, os gastos com reposição, que no fim de 2013 correspondiam a 40% do COT (Custo Operacional Total), passaram a participar com 50% dos custos totais no encerramento de 2014, na “média Brasil” (que engloba os seguintes estados: BA, GO, MG, MS, MT, PA, PR, RO, RS, SP e TO). Mesmo com a alta dos custos, a valorização da arroba permitiu que a margem desse pecuarista fechasse o ano positiva. Para pecuaristas de cria, o cenário foi ainda melhor, com a margem crescendo três vezes em relação à do recriador, também na média Brasil. Outro insumo que pesou nos custos de produção em 2014 foi o grupo de suplementação mineral, com alta acumulada de 7,9% no ano, na “média Brasil”, e participando com 9,6% do COT em dezembro/2014. Na tentativa de amenizar os efeitos da seca, segundo colaboradores do Cepea, pecuaristas ampliaram as compras de suplementos para complementar a dieta dos animais. A maior demanda somada à baixa oferta dos insumos elevaram as cotações. Insumos utilizados na reforma de pastagem também seguiram valorizados. Para o grupo de adubos e corretivos, a alta acumulada em 2014 foi de 7,2%, também na média nacional. Em sua grande parte importados, estes itens foram impulsionados principalmente pela valorização do dólar frente ao Real, de 12,8% no acumulado do ano passado. Considerando-se a análise trimestral, os três últimos meses de 2014 foram os mais rentáveis ao pecuarista, devido principalmente aos recordes reais da arroba, de toda a série histórica do Cepea. O Indicador ESALQ/BM&FBovespa (estado de São Paulo) do boi gordo atingiu a máxima no dia 27 de novembro, de R$ 145,48. Para o bezerro, o recorde diário do Indicador ESALQ/BM&FBovespa (animal nelore, de 8 a 12 meses, em Mato Grosso do Sul) foi batido no dia 3 de dezembro, de R$ 1.219,98. Figura 3: Participação dos 3 principais insumos no COT, em dezembro de 2013 e 2014 Variação Mensal e Acumulada (2014) COE (1) Estados COT (2) out nov dez Bahia 0,9% 6,0% 4,8% jan-dez Boi Gordo R$/@ out nov dez 27,9% 0,8% 5,2% 4,2% jan-dez jan-dez Ponderações out nov dez 23% 1,2% 9,4% 7,8% 44,8% 5,70% Goiás 2,9% 3,6% 2,5% 29,6% 2,6% 3,3% 2,3% 26,8% 4,3% 7,1% 1,0% 30,2% 12,3% Minas Gerais 6,5% 4,2% -1,0% 25,6% 5,2% 3,7% -0,8% 20,2% 5,2% 8,2% 0,0% 28,7% 13,3% Mato Grosso 4,0% 2,5% 0,3% 18,0% 3,7% 2,1% 0,4% 14,9% 3,8% 7,2% 0,4% 32,9% 16,0% Mato Grosso do Sul 1,0% 3,0% 0,3% 15,4% 0,8% 2,3% 0,3% 11,8% 3,3% 6,3% 0,2% 28,4% 12,0% Pará 6,2% 5,6% -2,2% 25,4% 5,4% 4,8% -1,8% 22% 4,8% 4,7% -1,7% 30,1% 10,4% Paraná 0,6% -0,7% 4,0% 20,4% 0,6% -0,6% 3,5% 17,41% 2,1% 7,5% 0,9% 25,1% 5,2% Rio Grande do Sul 0,4% 0,9% 1,5% 9,7% 0,6% 1,0% 0,8% 8,90% 0,9% 3,9% 7,8% 22,2% 7,9% Rondônia 2,3% 4,3% 2,0% 23,9% 2,1% 3,4% 1,7% 20,0% 4,3% 3,4% -1,0% 28,8% 6,8% São Paulo 2,2% 3,1% 1,4% 25,2% 2,0% 2,8% 1,3% 21,5% 4,8% 6,3% -0,1% 26,7% 6,0% Tocantins 0,2% 11,8% 0,1% 28,2% 0,3% 8,9% 0,2% 22,7% 3,5% 5,9% -4,0% 27,0% 4,5% Brasil** 3,8% 4,2% 0,2% 23,7% 3,3% 3,6% 0,2% 20% 4,2% 6,8% 0,0% 27,6% 100% * Corresponde ao quanto cada estado representa no total dos custos da pecuária no Brasil. ** Referente a 85,02% do rebanho nacional segundo o Rebanho Efetivo Bovino PPM / IBGE 2012. Valor da arroba considerado - Indicador Boi Gordo Esalq/BM&FBovespa - Estado de São Paulo. Fonte: Cepea/USP-CNA 1 - Custo Operacional Efetivo (COE) 2 - Custo Operacional Total (COT) 4 Variação dos Principais Indicadores Econômicos Indicadores Out/2014 Nov/2014 Dez/2014 IGP-M 0,28% 0,98% 0,62% Acumulado Janeiro IGP-M 2,04% 3,04% 3,67% Variações dos Preços dos Principais Insumos da Pecuária de Corte (2014) Média Ponderada para BA, GO, MT, MS, PA, RO, RS, MG, PR, TO e SP Média das Ponderações COT Grupos dos Custos Dez/14 Bezerro e outros animais de reprodução* 50,57% Variação mensal e acumulada Out Nov Dez 2,87% -0,03% 0,02% jan - dez 28,92% Suplementação Mineral 9,66% 0,58% 1,34% 0,90% 7,92% Dieta 0,08% 0,17% 0,68% 0,01% 0,71% Adubos e Corretivos 0,83% 0,58% 0,94% 1,50% 7,23% Sementes Forrageiras 1,74% 3,17% 0,56% 5,51% 0,28% Máquinas Agrícolas 4,91% 2,27% 1,54% 0,17% 0,48% Implementos Agrícolas 0,95% 2,25% 0,00% 0,00% 2,18% Defensivos Agrícolas 1,79% -0,26% 0,38% 0,46% 3,81% Medicamentos - Vacinas 1,02% 0,02% 0,07% 0,55% 2,86% Medicamentos - Controle Parasitário 0,87% 0,17% 0,35% 2,33% 6,17% Medicamentos- Antibióticos 0,23% 0,57% 1,27% 3,22% 7,99% Medicamentos em geral 0,06% 0,66% 0,13% 0,84% 8,20% Insumos para reprodução animal 0,00% -0,26% -0,44% 0,09% 8,43% Mão de Obra 11,96% 0,00% 0,00% 0,00% 6,78% Construção Civil 8,65% 0,37% -0,19% 0,28% 7,15% Brinco de Identificação 0,00% -0,65% 0,06% 0,00% 14,07% Outros (Energia, Administrativos, Utilitário) 6,68% *Indicador do Bezerro ESALQ/BM&FBovespa, Mato Grosso do Sul Boletim Ativos da Pecuária de Corte é um boletim mensal elaborado pela Superintendência Técnica da CNA e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Cepea/Esalq - da Universidade de São Paulo. Reprodução permitida desde que citada a fonte. CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL SGAN - Quadra 601 - Módulo K - Brasília/DF (61) 2109-1419 | [email protected]