Disciplina: Processo Decisório Prof. Gustavo Nogueira Manual de Negociação Organizador: Gilberto Sarfati 1º Edição | 2010 | Manual de Negociação Gilberto Sarfati é economista, mestre em Relações Internacionais com especialização em Diplomacia pela The Hebrew University of Jerusalem, doutor em RI com especialização em Negociação pela FFLCH-USP e pós-doutor em Estratégia Empresarial pela FGV-EAESP. Leciona na Faculdades Integradas Rio Branco, na Ibmec-SP e FGV-EAESP, onde também é professor do Mestrado Profissional em Gestão Internacional. É autor dos livros Teoria de relações internacionais e Manual de diplomacia corporativa. Atuou como VP do Webster Bank no Brasil, country manager da Segurlink, diretor de novos negócios da Nexxy Capital e consultor sênior da Resolve! Global Marketing. Capítulo 1 Técnicas de negociação Apresentação Esta obra tem por objetivo oferecer um panorama didático do universo da negociação, apresentando noções básicas sobre o tema como também uma abordagem mais aprofundada. O livro se inicia com a apresentação do “modelo de Harvard” e, em seguida, são expostos as questões de como são tomadas as decisões e o desenvolvimento do papel de liderança. Ele também propõe formas alternativas a serem usadas em negociações complexas ou na resolução de conflitos, além de tratar de três áreas específicas de negociação: técnica de vendas; negociações em negócios internacionais e negociações internacionais; e resolução de conflitos. Capítulo 1 Técnicas de negociação Capítulo 1 Técnicas de negociação Maria Eugenia Cauduro Cruz Capítulo 1 Técnicas de negociação Maria Eugenia Cauduro Cruz é graduada em Marketing pela ESPM--SP, mestre em Administração pela FGV ESPM FGV--EAESP EAESP.. Participou de vários cursos no Brasil, EUA e Canadá nas áreas de marketing e negociação comercial comercial.. Ministra aulas de Técnicas de Negociação e Marketing Internacional nas turmas de graduação e pós pós--graduação nas Faculdades de Relações Internacionais e Direito da Faap e MBA nos campi de São José dos Campos e Ribeirão Preto Preto.. Trabalhou nas agências de notícias Reuters e Dow Jones e na área comercial de investimentos em hotelaria econômica das marcas Microtel e Sol Inn Meliá Meliá.. Capítulo 1 Técnicas de negociação 1.1 Negociação – vitória conjunta Fisher e Estel: [...] negociação não diz respeito a passar por cima de diferenças e persuadir outros a quererem aquilo que queremos. Diz respeito a reconhecer como as diferenças podem ajudar a fazer com que cada um de nós acabe em uma situação melhor do que estaríamos sem um acordo; Bom relacionamento: permite uma relação comercial duradoura, enquanto uma experiência insatisfatória contaminará os relacionamentos futuros; • Quando uma das partes se sente desfavorecida, é preciso buscar formas paralelas de trazer ganho para o contraparte; • É necessário adotar uma atitude de observação constante visando à compreensão máxima das motivações e interesses de ambas as partes; Capítulo 1 Técnicas de negociação Roger Fisher, Bruce Patton e William Ury: “Teoria dos sete elementos de Harvard Relacionamento, Comunicação, Interesses, Legitimidade, Alternativas, Opções e Compromissos”. 1.1.1 Relacionamento • Técnica “quebra-gelo”: estabelecer conversas sobre assuntos de interesse comum como esporte, família, viagens em encontros informais; •Respeito, receptividade e compreensão: dos diferentes pontos de vista, escutando a outra parte e possibilitando a argumentação sobre as divergências colocadas; •Caso não haja empatia, assuntos em comum ou demais fatores, Fisher e Ertel recomendam que se separe os itens a ser negociados em duas listas: Capítulo 1 Técnicas de negociação • atitudes para construir um melhor relacionamento; • objetivos da negociação visando um vínculo mínimo e necessário para se atingir os objetivos. 1.1.2 Comunicação Como se assegurar quanto à compreensão pessoal do conteúdo que lhe é transmitido? • Ouvindo mais do que falando; • Ouvir almejando compreender a demanda e o ponto de vista da outra parte; • Técnica do loop-feedback: repetir a informação recebida seguida de uma explanação sobre como está sendo interpretada, requisitando a confirmação de que está sendo compreendida corretamente. Capítulo 1 Técnicas de negociação • Martinelli, Ventura e Machado, recomendam que um bom feedback deve ser simples, consistente, objetivo e feito diretamente pelo emissor; • Comunicação visual: impressão passada pelas atitudes de uma das partes no decorrer da negociação; • Meirelles e Barros: tratam das diferenças entre culturas, como diversidades comportamentais, apresentações, formas de tratamento, linguagem verbal e visual, etc; • No mundo globalizado, é necessário que o negociador seja fluente na língua daquele com quem irá negociar ou dispor de um bom intérprete; • Influência dos fatores afetivos/emocionais: deve-se separar os sentimentos em relação às pessoas dos objetivos da negociação; Capítulo 1 Técnicas de negociação • Evitar a redundância e a distração, manter a assertividade; • “Feedback sanduíche”: no meio de duas fatias de elogio insira o recheio de crítica; • Ao ouvir o feedback, deve-se fazê-lo atentamente, elaborar perguntas de esclarecimento e evitar sentimentos de ira ou responder prontamente; • Ury: sugere que em momentos de conflito eminente devemos “subir à galeria” para ter uma visão mais ampla e estratégica da negociação como um todo. 1.1.3 Interesses • O que motivou a pessoa a vender ou comprar? • Por que necessitam daquela parceria? Capítulo 1 Técnicas de negociação • Por que querem alterar a cláusula do contrato? • O que está não explicitado na demanda formulada? • O assunto velado é o real valor do produto a ser negociado e ele se altera na medida da necessidade que cada uma das partes tem em relação ao item; • Ao obter um produto compramos a promessa de prazer, que é o real interesse; • É essencial descobrir os reais interesses e motivações para que uma negociação seja estabelecida; • É necessário ter clareza sobre os próprios interesses e motivações para negociar; Capítulo 1 Técnicas de negociação • Também são importantes os interesses de terceiros da empresa com a qual se negocia, pois podem influenciar nos resultados; • Segundo Fisher e Ertel, o negociador bem preparado é o que: 1) procura interesses; 2) prioriza interesses; 3) considera os interesses do outro lado; • Para mapear tais interesses, deve-se perguntar questões como: “Por que?” ou “Com que finalidade?”; • Priorização dos interesses: identificar os maior valor para cada parte, que devem ser atendidos, separando-os daqueles de pouca importânca; • Burbridge, Costa, Lima e Silva: definir as posições e interesses como se fosse um iceberg, onde a ponta dele é a parte mais fácil de ver, porém o interesse mais profundo fica escondido sobre a água. Capítulo 1 Técnicas de negociação Posições Interesses – Por que as pessoas pedem coisas 1.1.4 Legitimidade: critérios externos à negociação e aceitos como referência para estabelecer justiça, podendo ser: as leis da comunidade, de um país, leis de franquia, preços determinados pelo mercado, etc. • Os critérios são escolhidos e acordados em conjunto pelas partes; • A utilização desses critérios ajuda a evitar a assimetria de informação; 1.1.5 Alternativas: quando não se consegue um acordo busca-se alternativas, a partir de uma visão holística para identificar as possíveis forças na negociação. Capítulo 1 Técnicas de negociação • MASA (Melhor Alternativa para Solução Acordada): trata-se da melhor proposta fora da negociação, ou seja, um plano B caso não se feche o acordo. • Kennedy indica alguns passos a seguir para determinar sua MASA: 1. 2. 3. 4. 5. Listar o que faria caso não conseguisse o acordo; Destaque as alternativas mais práticas; Seleciona a melhor isoladamente – essa é sua MASA; Compare sua MASA com todas as propostas; Se a oferta é melhor que a MASA, pense em aceitá-la ou melhorá-la; 6. Se a oferta é pior que a MASA, pense em melhorá-la ou rejeitá-la; 7. Se não melhorarem a oferta, pense em viabilizar sua MASA. Capítulo 1 Técnicas de negociação • Também deve-se considerar a MASA de quem está negociando conosco. 1.1.6 Opções Segundo Fisher e Ertel, há dois erros comuns quando os negociadores preparam as opções para um possível acordo separadamente: • Opção unilateral: focar somente o que uma das partes deseja, desconsiderando os interesses da outra; • Ter uma ou poucas opções, o que restringe a possibilidade uma resolução mais completa do problema. Acuff, aponta algumas orientações na organização dessa fase de levantamentos de opções: Capítulo 1 Técnicas de negociação 1. Brainstorming de opções, sem eliminar nenhuma das ideias reveladas, criando o máximo de possibilidades antes de definir a mais adequada; 2. Dentre as ideias listadas, priorizar as que atendam mais aos interesses de ambos; 3. Definir as ações que atendem: a) completamente aos interesses; b) aos principais interesses; c) à opção mínima aceitável para que ainda assine um acordo; d) à opção de não acordo. 4. Definir as estratégias e táticas a ser utilizadas com o objetivo de conseguir a melhor opção dentre todas. Capítulo 1 Técnicas de negociação Quadro 1.1 Diferenças de interesses em uma negociação Uma parte se importa mais com: A outra parte se importa mais como: Forma Substância Considerações econômicas Considerações políticas Considerações internas Considerações internas Futuro imediato O futuro mais distante Resultados Relacionamento Progresso Respeito à tradição Precedente Este caso Prestígio/reputação Resultados Ganhos políticos Bem-estar do grupo Capítulo 1 Técnicas de negociação • Os dados que indicam diferença de interesses podem ser complementares em uma negociação; • Definir quais pontos são mais importantes para cada lado pode levar à satisfação de ambos no acordo final. 1.1.7 Compromissos • Momento para finalizar o acordo: quando se diz “de acordo”; • Técnica What if: “e se fecharmos este item conforme solicitou temos um acordo fechado?; • Burbridge, Costa, Lima e Silva: resumir o que foi negociado e acordado; • Reafirmar a existência do acordo: assinatura do contrato, promover um almoço, um aperto de mão, etc. Capítulo 1 Técnicas de negociação • Promover um discurso de saída; • Ter escrito o plano de ações de forma clara, objetiva e com prazos definidos; 1.2 Negociação distributiva: divisão de recursos escassos quando a condição de ganho de um implica na condição de perda do outro. Segundo Saner, o ganhador é o que chegar mais próximo de seu objetivo e o acordo é conhecido como “jogo de soma zero”ou “jogo de soma fixa”- quem negociar melhor adquire uma vantagem à custa do outro. 1.2.1 Preparação para uma negociação distributiva • Estabelecer um preço-alvo e do limite naquela negociação; Capítulo 1 Técnicas de negociação Figura 1.2 ZOPA (Zone of Possible Agreements) Quer A LIMITE LIMITE Quer B Capítulo 1 Técnicas de negociação • A coleta de maior quantidade de informações contribui para uma melhor preparação do negociador em relação à ZOPA; • Arquivar a organização e meios de obtenção dessas informações; • Gerenciamento do tempo: pode ser utilizada a técnica de limitação do tempo a favor do negociador. 1.2.2 Durante a negociação distributiva • Âncora: primeiro valor proposto na negociação, que se torna base para a solicitação de desconto ou acréscimo; • É preciso questionar a âncora, checar o valor com outros mercados, analisar sua qualidade; Capítulo 1 Técnicas de negociação • Recomenda-se esperar que o outro lado faça a primeira oferta para se ter noção do valor-alvo a ser recebido ou pago; • “Praga do Vencedor”: quando um lado aceita a primeira oferta do negociador, dando-lhe a sensação de que poderia ter ofertado um valor maior; • Para evitá-la, é necessário fazer uma pesquisa prévia de mercado determinando o valor real do produto. 1.3 Outros conceitos fundamentais • Averiguar por meio de outras fontes o quão crível é a informação coletada, criando uma estrutura de coleta de dados e informações contraditórias e confirmatórias. Capítulo 1 Técnicas de negociação • Evitar que um rumo tome grande importância, conferindo a informação antes de tomá-la por verdadeira, por meio da conferência das informações com terceiros; • Ser cauteloso para não desenvolver uma confiança exagerada nas avaliações pessoais, reforçada por uma ilusão de superioridade. • Preocupar-se com a possibilidade de conclusões incorretas sobre o outro lado; • Questionar sempre as informações que possui e o porquê delas, e cruzar com outros dados que as comprovem ou não. • Framing: técnica que utiliza uma forma de influenciar a percepção do outro sobre o valor de um objeto, como por exemplo, pontos de referência, referência no tempo, agregação e segregação.