Maria de Lourdes Rossi Remenche “Práticas de Letramento: processos contextualizados para a formação do leitorescritor” O ato de comunicar, de criar espaços de entendimento e de interlocução, revela e dinamiza as representações socioculturais da língua e de seu uso, especialmente na sociedade contemporânea na qual não basta aprender a ler e escrever, é preciso significar a leitura e escrita em diversos contextos culturais. É preciso, ainda, o desenvolvimento de novas práticas digitais de leitura-escrita em complementaridade às tipográficas e às quirográficas, pois são as necessidades sociais que determinam o aprimoramento dos usos da leitura e da escrita nos diferentes gêneros e portadores de textos. Os estudos sobre letramento indicam que os usos linguísticos são situados no espaço e no tempo e são a sedimentação de práticas sociais longamente desenvolvidas e testadas, evidenciando que os múltiplos letramentos estão relacionados aos vários contextos socioculturais. Nessa perspectiva, o processo de letramento constitui-se por um movimento dinâmico de inserção e participação nas práticas socioculturais de leitura-escrita. A instituição escolar cria espaços para experimentar formas de participação nas práticas sociais letradas, assumindo os múltiplos letramentos como objetivo estruturante do trabalho escolar em todos os segmentos da educação básica. Isso implica assumir uma concepção de leitura e de escrita como práticas discursivas e múltiplas funções. Implica também explorar os gêneros textuais em aspectos linguístico-discursivos, semânticos, semióticos, pragmáticos etc. Assim, um projeto de letramento surge de interesses da realidade dos sujeitos do processo educacional, ou seja, constitui-se em um conjunto de atividades que se origina de interesses reais da vida dos alunos e cuja realização envolve o uso da escrita de textos que circulam na sociedade. Neste artigo, buscamos analisar como os contextos culturais e o trabalho com atividades colaborativas, situadas, com metas definidas que atendam à variedade de sujeitos que constituem o espaço escolar possibilitam a participação em diferentes contextos sociais por meio de práticas sociais de leitura e escrita. O processo de formação continuada dos profissionais da educação evidencia a necessidade de planificar projetos que considerem todos os contornos da comunidade de aprendizagem na qual esses sujeitos se constituem em atores das ações desenvolvidas coletivamente, isto é, como agentes de letramento (Kleiman, 2006). Nessa perspectiva, todo o entorno cultural em que a comunidade está inserida influencia diretamente os saberes produzidos. Isso exige que haja uma ampliação dos conhecimentos considerados válidos pela escola e, consequentemente, que o currículo seja ampliado para tornar o espaço escolar mais significativo. Nesse processo de ensino-aprendizagem, faz-se necessária a conjugação de tempos e espaços de outras instituições em que as práticas de leitura e de escrita se constituam em práticas sociais de comunicação real, baseadas em textos reais que expressem os desejos e necessidades desses sujeitos. Tais atividades precisam estar inseridas em diferentes contextos, permeados por práticas sociais significativas, assim como requerem fundamentação teórico-metodológica consistente e intencionalidade de ressignificar o fazer docente/discente, considerando os contextos em que esses sujeitos atuam, conforme asseveram Vygotsky (1991 e 1993), Kleiman (2000), Soares (2006), Giroux (1997), Pimenta (2000).