VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA, ORALIDADE E LETRAMENTO EM UMA TURMA DE PRÉ-ESCOLAR (CRECHE), EM TERESINA. Maria de Fátima Silva Araújo (bolsista do PIBIC/ UFPI), Catarina de Sena Sirqueira Mendes da Costa (Orientadora, Departamento de Letras- UFPI) Introdução Este trabalho descreve e analisa as práticas sociais de letramento e de oralidade na creche “Tia Rosinha” na comunidade Anajás, na zona rural de Teresina, conforme previsto no Plano de Trabalho desenvolvido através do PIBIC/ UFPI, no período de 2013/2014 que teve como objetivo identificar as práticas sociais de oralidade e letramento das crianças na creche bem como em seus diversos contextos sociais e linguísticos. Metodologia O método utilizado foi o Etnográfico, pois permite ao pesquisador entrar no universo dos sujeitos pesquisados, procurando entender as atividades de letramento e de oralidade de que participam, no seu contexto social. Desse modo, a abordagem etnográfica possibilitou uma análise entre os eventos de oralidade e de letramento como prática social dentro dos contextos em que ocorrem. A pesquisa realizou-se na Creche Municipal Tia Rosinha, notadamente no nível do pré-escolar, na zona rural de Teresina. Nesse sentido buscou-se entender os significados socioculturais que as práticas de letramento e de oralidade realizadas nas aula de língua Portuguesa têm na vida dos sujeitos envolvidos nessa interação. Com isso, o pesquisador teve a oportunidade de entender a organização social dessas práticas sociais em sala de aula. As atividades de coleta de dados foram precedidas de uma fase de visitas e conhecimento da creche e da comunidade, para a familiarização do pesquisador com todo o universo da pesquisa. O objetivo desse procedimento foi obter a confiança e a participação efetiva do pesquisador na vida da comunidade de uma forma mais espontânea possível e dessa maneira, colher informações das situações de um modo mais informal. Foram observados eventos de fala e eventos de escrita nas mais diversas situações sociais: tarefas escolares, aula, conversas com familiares, enfim, na sua vida cotidiana e etc. Para tanto, nos dados de fala foi utilizado o gravador de voz e filmagens que possibilitaram a obtenção de dados mais fidedignos. Além disso, foram feitas fotografias para a demonstração do ambiente e do espaço físico do local. Esses procedimentos foram necessários para a descrição etnográfica pretendida. Resultados Na análise do corpus, observaram-se os seguintes aspectos: em primeiro lugar a importância dada pelo professor à escrita, a reação dos alunos, metodologia do professor para ministrar a aula, a leitura de textos e a oralidade. A partir dessa análise pôde-se entender como se dá a relação entre letramento e oralidade no âmbito formal escolar. Constatou-se que nesta instituição ainda há uma supervalorização da escrita em relação à oralidade. Durante as aulas, o professor escreve no quadro e exige que os alunos copiem mecanicamente em seus cadernos o conteúdo exposto. O professor explica o conteúdo, os alunos só escutam e não há nenhuma discussão ou questionamento sobre o conteúdo. Como podemos analisar neste exemplo: Evento: Aula de Português Participantes: Professora e alunos Ambiente: Sala de aula Professora: Vocês sabem o que é verso? Alunos: Não! Professora: Comecei a ler os versos e as rimas depois mandei fazer a cópia. Aí botei pra copiar, e cada um quer fazer premero à cópia. Como maternal não sabe escrever direito, eu divido, maternal, primeiro e segundo período, faz mas é devagar demais. Falei o que era, li pra eles, e fiz com o segundo período, trabalho cartaz, coloco os outros pra desenhar e pintar. Às vezes eu dou os livros para desenharem. Professora: Quando eu vou fazer um ditado, eu digo: Saúde, letra S, uma cobrinha. B, de bola, T de tatu. Como observamos, apesar de a escrita ser o veículo de realização das atividades desenvolvidas em sala de aula, não é possível dizer que na aula de Língua Portuguesa sejam desenvolvidas atividades de letramento. Isto porque, letramento é “o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita” (SOARES, 2006, p. 18). E nas observações analisadas percebemos apenas a realização mecânica de atividades escritas. E que tem como resultado a falta de atenção por parte dos alunos e o não entendimento do assunto tratado. Um dos maiores problemas educacionais é privilegiar somente um tipo de letramento que segundo Rojo apud Barlett (2003) qualifica a educação a partir do enfoque autônomo. Deixando de lado o letramento ideológico que são as práticas de letramento, no plural, ou seja, ligado ao social, aos mais diversos contextos, o indivíduo aprende em suas vivências. O ensino de somente um tipo de letramento e a exclusão do outro, causa no aluno uma desmotivação e desistência em estudar. Essa multiplicidade de letramento teve um impacto grandioso nos letramentos escolares, pois os alunos e professores levaram para dentro dos muros das escolas letramentos desconhecidos e ignorados. Rojo (2009, p. 106) “Isso cria uma situação de conflito entre as práticas letradas valorizadas e não valorizadas pela escola”. Que tem como resultado repetência, exclusão e reprovação por parte do aluno. Discussão Em vista das observações realizadas durante a pesquisa, foi possível constatar que os métodos utilizados para o ensino de língua Portuguesa na creche é bem distante da realidade de seus alunos, a escola valoriza somente a escrita, deixando de lado a oralidade de seus alunos, dificultando a assim a aprendizagem de seus alunos. Privilegiar somente um tipo de letramento causa a exclusão do outro, e gera reprovação para o aluno, cabe a escola trazer para a sala de aula os mais diversos tipos de letramentos. A leitura é um método que pode ser utilizado pelos professores por que leva o aluno à reflexão e ao desenvolvimento de usos das práticas tanto de escrita quanto da oralidade, e pode facilitar os alunos do ensino infantil a chegarem na primeira série já sabendo ler e escrever textos de gêneros diferentes e a usar a língua de maneira apropriada. O problema que acontece nas escolas não é apenas ensinar a ler e a escrever da forma como ocorre mas, sobretudo, porque não levam os alunos a fazer usos dessas leituras e escritas nas práticas sociais. É preciso que se tenha uma escolarização real, e que leve esses alunos a utilizarem a leitura e escrita na escola e fora do ambiente escolar nos diversos contextos sociais de que participam. Conclusão De um modo geral, foi possível perceber que ainda existem escolas que não consideram a oralidade/letramento no ensino de língua materna. Infelizmente, as aulas de língua portuguesa privilegiam atividades de escritas em detrimento das atividades orais. O ensino se realiza como se fosse o papel da escola ensinar apenas à escrita, o que limita a capacidade de desenvolvimento dos nossos alunos. E, em alguns casos, o fracasso desses é justificado pela sua condição social, que são vistos como alunos com um grau maior de dificuldade de aprendizagem por serem alunos carentes. O que de fato acontece, é que a escola ignora a multiplicidade de letramentos e ensina somente um tipo de letramento. Fora da escola o aluno não consegue fazer usos reais somente do letramento escolar, por estar inserido no social, faz uso dos mais diversos tipos de letramentos. Cabe a escola levar para dentro de seus muros a multiplicidade de letramento, para que acabe com o fracasso e a desistência escolar desses alunos. Por meio da pesquisa contatou-se, também, que as práticas de letramento na sala de aula da creche resumem-se apenas a cópias. Em momento algum foram realizadas atividades em que os alunos fossem incentivados a criarem, ou seja, a desenvolverem a escrita criativa, expressiva, ao contrário, os alunos só reproduzem cópias do que é escrito pela professor. Palavras Chaves: Letramento. Oralidade. Etnografia. Comunidade. Creche. Apoio:Agradeço ao PIBIC/UFPI pelo apoio à pesquisa. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA LIMA, Maria da Glória. Os usos cotidianos de escrita e as implicações educacionais:. uma etnografia. Teresina: EDUFPI, 1996. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2003. ROJO, Roxane. Letramentos Múltiplos, Escola e Inclusão Social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1980. ________________. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.