“NEM MÚSICA NÃO TINHA MAIS [...] NÃO PODIA TER NADA, NADA, NADA!”: O SILENCIAMENTO DE PRÁTICAS DE LETRAMENTO INTERCULTURAIS Luana Ewald (FURB) [email protected] Maristela Pereira Fritzen (FURB) [email protected] O sistema de colonização do Sul do Brasil contribuiu para a composição de um cenário intercultural e plurilinguístico da região, constituindo o hibridismo presente nas práticas de letramento em diferentes agências, como a escola e a casa. Pretende-se, nesta comunicação, socializar dados parciais de uma pesquisa maior, com o objetivo de discutir parte da história desse cenário ligada às práticas sociais de leitura e escrita do grupo teuto-brasileiro e sua ruptura no sistema educacional com a adesão às medidas políticas da segunda campanha de nacionalização do ensino, implementada durante o governo de Getúlio Vargas (1937-1945). Utilizou-se como principal instrumento de pesquisa entrevistas narrativas com sujeitos que vivenciaram esse período na região do Médio Vale do Itajaí, SC. As reflexões teóricas propostas neste estudo estão amparadas, principalmente, (1) na Linguística Aplicada, ao se tratar do contexto sociolinguístico em estudo; (2) nos Novos Estudos do Letramento, ao focalizar as memórias de leitura e escrita como práticas sociais, culturais e históricas; (3) nos Estudos Culturais, ao considerar questões de língua e identidade que perpassam o contexto do Médio Vale do Itajaí; (3) na perspectiva enunciativa do círculo bakhtiniano, ao interpretar as memórias reconstruídas dialogicamente na investigação, como enunciados produzidos na interação social realizada por meio da linguagem. Os registros da pesquisa sugerem que os sentidos construídos acerca de práticas de letramento em português e em alemão em circulação na família, no trabalho, na igreja e na escola, estão ligados à identidade étnica e linguística de seus participantes, assim como os conflitos gerados com a imposição da língua portuguesa sobre a alemã. Olhar para as identidades em conflito se faz necessário para colocar em pauta na educação, incluindo a implementação de políticas linguísticas, discussões acerca das práticas letradas de determinados grupos culturais, bem como acerca do contexto sociolinguístico presente na sala de aula. Palavras-chave: Letramento; Imigração alemã; Identidade; Silenciamento.