COMPROMISSO E COMPROMETIMENTO Já há muito tempo vimos sendo defrontados com a difícil questão do compromisso, considerado frequentemente como um fardo, um peso, muitas vezes algo de que gostaríamos de nos desembaraçar o mais rapidamente possível, de uma forma ou de outra, pelo menos ainda no estágio evolutivo em que nos encontramos como humanidade em geral. No decorrer de nossas existências, vimos assumindo compromissos sem a menor intenção de cumpri-los; ou apenas aparentando a intenção de dar-lhes cumprimento; ou ainda, simplesmente sem ter a menor consciência do que estávamos assumindo. E mais: em algumas ocasiões, sinceramente desejosos de abraçá-los seriamente, mas inteiramente despreparados para isso. E foi avaliando a questão do compromisso em minha própria vida, e observando as lições que a experiência alheia me proporcionava, que cheguei à conclusão de que nem sempre a assunção de um compromisso implica em comprometimento. Quantas vezes compromissos foram assumidos e logo em seguida esquecidos, ou rompidos ao menor contratempo, à menor dificuldade... E isso normalmente acontece porque, embora exista o compromisso, não existe o comprometimento – esse sim, de profundo significado. Compromisso é algo que assumimos com outra pessoa. Já o comprometimento é algo que assumimos conosco mesmos. Essa a grande diferença. Quando nos comprometemos, nos comprometemos “para dentro” e não “para fora”. Se bem entendermos essa situação, certamente não falharemos no cumprimento dos nossos compromissos, porque estaremos falhando conosco e, consequentemente, criando sérios embaraços perante nossa própria consciência. Aquele que se compromete não encontra desculpas para deixar de fazer o que se propôs a fazer; aquele que se compromete sente-se prazerozamente compelido a fazer o que precisa fazer; aquele que se compromete faz o que tem que fazer de modo criterioso e de boa-vontade. Se falamos apenas em compromisso, em nosso íntimo sabemos que poderemos eventualmente, por uma razão ou por outra, válida ou superficial, postergá-lo ou até furtar-nos a atendê-lo. Por isso, por exemplo, um casal se afirma “comprometido” um com o outro, e não “compromissado”. Durante milênios e milênios avançamos de “princípio inteligente do Universo” (LE q.23) para “seres inteligentes da criação” (LE q.76). E isso só aconteceu a partir do momento em que nos COMPROMETEMOS direta e intimamente com a nossa evolução, com o bom uso do nosso livrearbítrio. Temos compromisso com a lei natural, com a lei divina; mas sem o nosso COMPROMETIMENTO pessoal, fazendo com que essa lei deixe de ser externa, deixe de ser um comando, e passe a ser uma atitude, uma escolha individual, não promovemos a nossa efetiva elevação espiritual. Jesus de Nazaré, mestre e irmão maior, nos legou dois grandes, simples e profundos ensinamentos: 1º) amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo; 2º) fazer ao próximo o que desejo que o outro me faça – nessas duas recomendações está explicitada, de forma clara e transparente, a indicação do comprometimento pessoal, de uma feita que ninguém assumiu com o outro o compromisso de amá-lo, nem de lhe fazer o bem. Trata-se de comprometer-me comigo, na consecução daquilo que sei ser correto e em conformidade com a lei divina. Da mesma forma, quando Jesus nos alertou “a cada um segundo as suas obras”, não podia expressar de maneira mais objetiva o nosso comprometimento íntimo quanto às nossas escolhas na construção de melhores condições de vida, tanto física quanto extrafísica. Na verdade, nossa grande dificuldade não é exatamente com o compromisso, mas sim com o comprometimento. Quando assumimos um cargo, um encargo, uma tarefa, qualquer seja, só lograremos êxito se nos comprometermos com o seu bom desempenho perante nós mesmos e não perante o outro, que é somente uma conseqüência da primeira atitude pessoal – o reconhecimento alheio só nos gratifica, estimula e eleva realmente se constatamos ser verdadeiramente merecido. Quando a vida nos apresentar os compromissos que muitas vezes trazemos de situações pregressas mal resolvidas – sejam de outras existências ou mesmo da presente – precisamos nos comprometer em profundidade, conscientes de que só nos desincumbiremos desses compromissos se os quitarmos frente à nossa consciência, pois compromisso não é fardo, não é peso, não é castigo – é oportunidade de crescimento se bem entendido. Assim, vamos abraçá-los com COMPROMETIMENTO tanto em nossa vida particular, em família, quanto na vida profissional, com os nossos amigos, na casa espírita ou mesmo diante de desconhecidos, os quais reconhecemos todos como integrantes desse nosso momento reencarnatório no planeta, visto que já sabemos que tudo se interliga, interage e se encadeia na criação. Doris Madeira Gandres – RJ – julho 2011 – email [email protected]