UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho” Campus de Marília Faculdade de Filosofia e Ciências MARLENE LUCIA HOLZ DONEL DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CÁLCULO E A RELAÇÃO COM O RACIOCINIO LÓGICO FORMAL - UMA ANÁLISE NO ENSINO SUPERIOR MARÍLIA - SP 2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Filosofia e Ciências Campus de Marília MARLENE LUCIA HOLZ DONEL DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CÁLCULO E A RELAÇÃO COM O RACIOCÍNIO LÓGICO-FORMAL: UMA ANÁLISE NO ENSINO SUPERIOR Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília, para obtenção do título de Mestre em Educação. Linha de Pesquisa: Psicologia da Educação: Processos Educativos e Desenvolvimento Humano. Orientadora: Profª Drª Eliane Giachetto Saravali Coorientadora: Profª Drª Shiderlene Vieira de Almeida MARÍLIA – SP 2015 Ficha Catalográfica D681d Donel, Marlene Lucia Holz. Dificuldades de aprendizagem em cálculo e a relação com raciocínio lógico formal: uma análise no ensino superior / Marlene Lucia Holz Donel – Marília, 2015. 182 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, 2015. Bibliografia: f. 152-161. Orientadora: Eliane Giachetto Saravali. 1. Aprendizagem em cálculo. 2. Dificuldades de aprendizagem. 3. Ensino superior. 4. Raciocínio lógico. 5. Teoria Piagetiana. I. Autor. II. Título. CDD 378.98 MARLENE LÚCIA HOLZ DONEL DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CÁLCULO E A RELAÇÃO COM O RACIOCÍNIO LÓGICO-FORMAL: UMA ANÁLISE NO ENSINO SUPERIOR Dissertação para obtenção do título de Mestre em Educação, da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília, na Linha de pesquisa Psicologia da Educação: Processos Educativos e Desenvolvimento Humano. BANCA EXAMINADORA Orientador:________________________________________________________________ Profª Drª Eliane Giachetto Saravali Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP 2 Examinador:_____________________________________________________________ Profª Drª Francismara Neves de Oliveira Universidade Estadual de Londrina – UEL 3 Examinador:_____________________________________________________________ Profª Drª Alessandra de Morais Shimizu Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP Marília, São Paulo 25 de fevereiro de 2015 Aos meus amados filhos, Evandro e Patrícia, meu alento e sentido maior nessa caminhada. AGRADECIMENTOS A Deus, pela proteção constante e fé renovada a cada passo nessa jornada. Que me dotou de inteligência e senso crítico para extrair da realidade o aprendizado de vida. Que ouviu meu coração e me trouxe conforto espiritual, energia, serenidade e, principalmente, sabedoria para me autossuperar. Aos dirigentes da Universidade Pública Federal, em parceria com a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, pela iniciativa em se unirem nessa proposta de Mestrado Interinstitucional, lançando a semente dessa oportunidade valiosa para aqueles que desejavam buscar o conhecimento e se tornar seres humanos mais realizados e mais competentes no compromisso com a educação. Às queridas orientadoras, Professoras doutoras Eliane Giachetto Saravali e Shiderlene Vieira de Almeida, pela imensurável dedicação, companheirismo, amizade, incentivo, apoio e, acima de tudo, respeito e compreensão no meu caminhar para o amadurecimento. Pela disponibilidade durante toda essa trajetória da realização da pesquisa, acreditando em mim e contribuindo no meu percurso. Pelo profissionalismo e rigor científico com que me acompanharam de forma pontual e competente durante esse período. Por esses e outros motivos, representam para mim uma referência positiva para a vida. Às professoras doutoras, Dra. Alessandra de Morais Shimizu e Dra. Francismara Neves de Oliveira, participantes da banca examinadora, pelas valiosas contribuições e sugestões quando do exame de qualificação, as quais enriqueceram significativamente esse trabalho. Aos acadêmicos participantes dessa pesquisa, pelo maravilhoso gesto de contribuição com a ciência e por, pacientemente, terem se submetido às atividades de pesquisa, pois valemo-nos desses preciosos dados para a reflexão sobre as questões investigadas. Incluo aqui o agradecimento especial ao acadêmico Anderson Teixeira da Silva, pela sua sensibilização com a proposta, dispondo-se a contribuir e a colaborar na coleta de dados, sendo elo de apoio e incentivo aos colegas, ponto crucial para a eficácia e concretização da pesquisa. Aos professores parceiros nesta pesquisa, especialistas da matemática, Priscila Pigatto Gasparin, Pedro Elton Weber, Liliane Hellmann e André Sandmann, pela valiosa contribuição no engajamento com essa proposta, imprescindível para a efetiva concretização da mesma. Reconhecemos que vocês foram um braço do abraço imprescindível para a concretização dessa conquista. Aos professores dos Cursos de Engenharia que, gentilmente consentiram e cederam suas aulas para viabilizar a implementação dos instrumentos de coleta de dados. Aos professores do Curso de Pós-Graduação, pelos ensinamentos e fundamentos teóricos recebidos e pelo estímulo ao desejo de aprender. Aos colegas mestrandos que souberam, com sabedoria, engajar-se nessa iniciativa do mestrado em favor de um sonho comum, especialmente as colegas Mariza Arruda e Marilete De Marco, que tiveram a sabedoria e sensibilidade no período crucial e decisivo da inscrição ao processo de seleção, momento ímpar em minha vida. Investimos e acreditamos em nós mesmos e, com persistência, sem perder a esperança, realizamos esse sonho juntos. Depois de um início tão incerto e inseguro, é um sonho que agora pode ser comemorado: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Aos colegas de trabalho, Gilberto Mattiello, pelo apoio prestado no momento importante e crucial da minha pesquisa e profissionais do Departamento de Educação da instituição na qual foi realizada a pesquisa, pelo companheirismo nos momentos em que pensei que não teria condições de prosseguir. Obrigada pela cumplicidade com a proposta desse trabalho, ponto crucial para o envolvimento, motivação e incentivo diário. Aos meus filhos, Evandro e Patrícia, minha vida, razão maior de superação de todas as dificuldades na difícil jornada de estudos, para quem sempre busquei ser exemplo de dedicação, seriedade, responsabilidade e lealdade, em um compromisso de melhoria constante. Vocês foram meu alento, apoio, incentivo maior, nessa caminhada. Souberam me compreender, especialmente nos momentos atribulados em que me dividia entre a responsabilidade do estudo e os poucos momentos livres em família. Agradeço pela compreensão e força positiva recebida sempre. Espero que todo o esforço empreendido nessa jornada sirva de inspiração na busca do sonho, independente de qual seja! Aos meus pais Ignácio e Atila pelo exemplo de vida e de conquistas com responsabilidade, comprometimento, determinação, garra e persistência. Às demais pessoas, amigos e colegas, que direta ou indiretamente contribuíram com apoio e incentivo. A todos, o meu agradecimento de coração! “Tenho perseguido um objetivo central que tem permanecido sempre o mesmo: tentar compreender e explicar em que consiste o desenvolvimento do ser vivo em sua perpétua construção de novidade e em sua adaptação progressiva à realidade.” (Jean Piaget) DONEL, Marlene Lúcia Holz. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CÁLCULO E A RELAÇÃO COM O RACIOCÍNIO LÓGICO-FORMAL: UMA ANÁLISE NO ENSINO SUPERIOR. (000 f.). Disseretação de Mestrado em Educação – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus Marília/SP. Orientadora: Professora Doutora Eliane Giachetto Saravali. Marília, 2015 RESUMO Esta pesquisa, de abordagem qualitativa e quantitativa, caracterizou-se por um estudo de caso que teve como principal objetivo analisar as relações entre o desenvolvimento cognitivo e as dificuldades de aprendizagem na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, em acadêmicos de uma Universidade Pública Federal do Paraná. A discussão apoiou-se na teoria construtivista piagetiana, voltada à compreensão do processo de construção e aprendizagem da matemática. Sua aplicação foi realizada em três etapas, envolvendo acadêmicos do 1º período de Engenharia ingressantes entre os anos de 2011 a 2014. A primeira etapa consistiu na Análise do Rendimento Acadêmico na disciplina de Cálculo Diferencial Integral de ingressantes nos cursos de Engenharia entre os anos de 2011 a 2013, que mostrou uma média geral de 55,7% de reprovação na referida disciplina. A segunda etapa voltou-se para a Avaliação do Conteúdo Matemático dos acadêmicos ingressantes na Engenharia no 2º Sem/2013. O instrumento utilizado nessa etapa foi elaborado por professores especialistas na área da matemática e visava verificar o domínio dos conteúdos matemáticos apreendidos em graus anteriores de ensino, necessários ao entendimento dos conteúdos previstos para a disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Essa aplicação foi realizada em dois momentos, com finalidades distintas, sendo que desta última foi selecionada uma amostra do instrumento aplicado, de 21 participantes reprovados na Disciplina de Cálculo Diferencial Integral para realização da correção e atribuição de um conceito (nota). Os resultados dessa fase indicaram que, 85% dos acadêmicos não demonstram domínio de conceitos e noções básicas da matemática necessários ao bom desempenho na disciplina de matemática. A terceira e última etapa da pesquisa, foi direcionada a acadêmicos da Engenharia de Alimentos, por ter sido apontado como o curso com maior índice de reprovações e cancelamentos na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. A aplicação dessa terceira etapa ocorreu no 1º sem./2014, e considerou três fases de aplicação: 1) Avaliação do Conteúdo Matemático, 2) Avaliação do Nível de Desenvolvimento Cognitivo mediante provas operatórias piagetianas, 3) Análise do Rendimento Acadêmico na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Os resultados dessa etapa confirmaram falta de domínio de noções básicas da matemática, bem como, um Rendimento Acadêmico correspondente a 75% de reprovação na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Na avaliação do nível de Desenvolvimento Cognitivo nenhum sujeito alcançou o nível pleno de desenvolvimento formal. Considerando o desempenho acadêmico insatisfatório, aliado ao Nível de Desenvolvimento Cognitivo obtido pelos acadêmicos podemos considerar que este último foi fator interferente e que corrobora na compreensão das dificuldades de aprendizagem. A conclusão aponta portanto para a necessidade de se considerarem no processo de ensino/aprendizagem os aspectos cognitivos e os mecanismos necessário a sua constituição, bem como a implantação de ações educativas, visando a uma ação educacional coerente a um efetivo aprendizado. Dessa forma os resultados, remetem a discussões sobre mudanças emergentes no sistema de ensino, especialmente da matemática. Palavras-chave: Aprendizagem em cálculo. Raciocínio lógico formal. Dificuldades de aprendizagem. Ensino Superior. Teoria Piagetiana. DONEL, Marlene Lúcia Holz. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CÁLCULO E A RELAÇÃO COM O RACIOCÍNIO LÓGICO-FORMAL: UMA ANÁLISE NO ENSINO SUPERIOR. (000 f.). Disseretação de Mestrado em Educação – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus Marília/SP. Orientadora: Professora Doutora Eliane Giachetto Saravali. Marília, 2015 ABSTRACT This research, with a qualitative and quantitative approach, was characterized by a case study that had, as a main goal, to analyze the relations between the cognitive development and the learning difficulties in the discipline of Integral Differential Calculus, in academics of a Federal Public University of Paraná. The discussion was based in the Constructive Theory of Piaget, focused on the comprehension of the construction process and learning of Mathematics. Its application was performed in three steps, involving first term Engineering academics, freshmen between 2011 to 2014.The first step consisted in the Analysis of the Academic Performance in the discipline Integral Differential Calculus of the freshmen in the Engineering courses, between 2011 to 2013, that showed a general average of 55,7% of failing in the mentioned discipline. The second step focused on the Evaluation of the Mathematics Contents of the freshmen academics in Engineering in the second term of 2013. The instrument of this second step of evaluation was elaborated by expert teachers in the mathematics area and aimed to verify the domain of the mathematics contents learned in previous stages of learning, necessary to the understanding of the contents provided for the discipline Integral Differential Calculus. This application was performed in two moments, with distinct purposes. From this last one, it was selected a sample of the applied instrument of 21 flunked participants in the Discipline of Integral Differential Calculus to perform the correction and attribution of a concept (grade).The results of this stage indicated that, 85% of the academics do not show domain of the concepts and the mathematics basic notions required to the good performance in the mathematics discipline. The third and last step of the research was directed to academics of the Engineering of Nourishment, because it was pointed as the course with the biggest index of reproofs and cancellations in the discipline of Integral Differential Calculus.The application of this third step occurred in the first semester of 2014 and considered three steps of application: 1) Evaluation of the Mathematics Content, 2) Evaluation of the Cognitive Development Level by Piaget operative proofs, 3) Analysis of the Academic Performance in the discipline Integral Differential Calculus.The results of this step confirmed domain absence of the mathematics basic notions as well an Academic Performance corresponding to 75% of reprobation in the discipline Integral Differential Calculus.In the evaluation of the level Cognitive Development, not a single academic achieved the full level of formal development.Considering the unsatisfying academic performance, allied to the Cognitive Development Level obtained by the academics, we can consider that this last one was an interfering factor that corroborates for the comprehension of the learning difficulties.The conclusion points, therefore, at the necessity to consider, in the teaching/learning process, the cognitive aspects and the mechanisms necessary to its constitution, as well the implantation of educative actions, aiming a coherent educational action to an effective learning. This way, the results refer to the discussions about emergent changes in the learning system, especially of the mathematics. Keywords: Learning in calculus. Formal Logical Reasoning. Difficulties in learning. Higher Education. Piaget Theory. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Índice Total de Rendimento- Cursos de Engenharia - 1º sem./2011 - 1º sem./2013, na disciplina de Cálculo Diferencial Integral....................................................................................... 94 Gráfico 2 - Índice Total de Rendimento por Curso – Disciplina de Cálculo Diferencial Integral 1º sem./2011 - 1º sem./2013. .......................................................................................................... 95 Gráfico 3 – Análise de Rendimento Acadêmico - Disciplina de Cálculo Diferencial Integral Curso Engenharia de Alimentos - 1º sem./2011 a 1º sem./2013....................................................... 96 Gráfico 4 – Análise do Rendimento Acadêmico, por semestre - Disciplina de Cálculo Diferencial Integral - Curso de Engenharia de Alimentos - 1º sem./2011- 1º sem./2013. ................................... 97 Gráfico 5 - Índice de notas obtidas na Avaliação do Conteúdo Matemático-Curso de Engenharia de Produção, Elétrica e Ambiental - 1º sem./2013. ....................................................................... 101 Gráfico 6 – Média percentual de notas obtidas na Avaliação do Conteúdo Matemático................. 105 Gráfico 7 – Média percentual de notas obtidas na Análise do Rendimento Acadêmico ................. 131 Gráfico 8 - Análise comparativa de Notas - Avaliação do Conteúdo Matemático e Análise do Rendimento Acadêmico - Cálculo Diferencial Integral. ................................................................ 134 Gráfico 9 – Demonstrativo dos níveis cognitivos obtidos nas provas operatórias dos acadêmicos “reprovados” em Cálculo Diferencial Integral. ............................................................................. 136 Gráfico 10 - Demonstrativo dos níveis cognitivos obtidos nas provas operatórias dos acadêmicos “aprovados” em Cálculo Diferencial Integral................................................................................ 141 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Caracterização dos participantes da pesquisa – Engenharia de Alimentos - 1º Sem/2014 88 Tabela 2 - Situação curricular dos acadêmicos em Cálculo Diferencial Integral – Engenharia de Alimentos - 2º sem./2013.....................................................................................................................99 Tabela 3 - Número de vezes em que a Disciplina de Cálculo Diferencial Integral, foi cursada – 1º sem./2011 – 2º sem./2013.................................................................................................................... 99 Tabela 4 – Avaliação do Conteúdo Matemático e Análise do Rendimento AcadêmicoDisciplina de Cálculo Diferencial Integral - Cursos de Engenharia de Produção, Elétrica e Ambiental – 1º sem./2013................................................................................................................ 102 Tabela 5 - Notas obtidas na Avaliação do Conteúdo Matemático- 1º sem./2014..............................105 Tabela 6 – Níveis de construção da noção de combinatória - Prova da Combinatória - 1º sem./2014...........................................................................................................................................111 Tabela 7 – Níveis de construção da abstração reflexionante - Prova das Relações entre Superfícies e Perímetros dos Retângulos - 1º sem./2014.......................................................................................118 Tabela 8 - Níveis de construção do equilíbrio- Prova do Equilíbrio da Balança - 1º sem/2014.........129 Tabela 9 – Resultado de notas da Avaliação do Conteúdo Matemático e da Análise do Rendimento Acadêmico - Disciplina de Cálculo Diferencial Integral – 1º sem./2014.......................133 Tabela 10 – Comparação da Avaliação Conteúdo Matemático, Análise do Rendimento Acadêmico e Nível de Desenvolvimento Cognitivo – 1º sem./2014.................................................. 135 LISTA DE SIGLAS UNESP Universidade Estadual Paulista TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido CDI Cálculo Diferencial Integral ACM Avaliação do Conteúdo Matemático ARA Análise do Rendimento Acadêmico EAD Educação à Distância. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................................... 25 2.1 Epistemologia genética e a origem do conhecimento. ..............................................................25 2.2 A construção de estruturas.......................................................................................................33 2.3 O Desenvolvimento cognitivo .................................................................................................35 2.3.1 Estágio Sensório-Motor (0 a 2 anos aproximadamente) ..............................................37 2.3.2 Estágio Pré-operatório (2 – 7 anos aproximadamente) ................................................39 2.3.3 Estágio operatório concreto (7-8 - 11 anos aproximadamente) ....................................40 2.3.4 Estágio formal (11- 12 anos aproximadamente)..........................................................43 2.4 A Abstração Reflexionante e a Tomada de Consciência...........................................................47 2.5 Aprendizagem e a matemática.................................................................................................54 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 66 3.1 Pesquisas no âmbito do desenvolvimento cognitivo e desempenho na matemática ...................66 4 MÉTODO E ASPECTOS METODOLÓGICOS ................................................................ 80 4.1 Método Clínico Piagetiano ......................................................................................................80 4.2 Problema.................................................................................................................................85 4.3 Objetivos ................................................................................................................................85 4.4 Hipótese..................................................................................................................................86 4.5 Delineamento..........................................................................................................................87 4.6 Participantes da Pesquisa.........................................................................................................87 4.7 Procedimentos ........................................................................................................................89 4.8 Instrumentos ...........................................................................................................................92 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................... 94 5.1 Etapa 1.Análise do Rendimento Acadêmico, na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, dos Acadêmicos de Engenharia, ingressos do 1º sem./2011 ao 1º sem./2013. .......................94 5.2 Etapa 2. Avaliação do Conteúdo Matemático e Análise do Rendimento Acadêmico. .............100 5.3 Etapa 3. Avaliação do Conteúdo Matemático, Avaliação do Nível de Desenvolvimento Cognitivo e Análise do Rendimento Acadêmico- Curso de Engenharia de Alimentos-1º sem./2014. ......................................................................................................................................104 5.3.1 Resultado da Avaliação do Conteúdo Matemático .................................................... 105 5.3.2 Análise das Provas Operatórias ................................................................................106 5.3.3 Resultado da Análise do Rendimento Acadêmico, disciplina de Cálculo Diferencial Integral ......................................................................................................................... 131 5.3.4 Análise comparativa do Resultado final da Avaliação do Conteúdo Matemático e da Análise do Rendimento Acadêmico ......................................................................................... 132 5.3.5 Análise do Nível de Desenvolvimento Cognitivo, Análise do Conhecimento Matemático e Análise do Rendimento Acadêmico...........................................................................135 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 143 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 150 APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido............................................... 160 APÊNDICE B – Instrumento de avaliação de conhecimento matemático............................. 161 ANEXO A – Parecer do projeto ............................................................................................. 167 ANEXO B – Protocolo da prova operatória da combinatória ................................................ 169 ANEXO C – Protocolo da prova operatória de relações entre superfícies de perímetros dos retângulos ......................................................................................................................... 172 ANEXO D – Protocolo da prova operatória equilíbrio da balança ........................................ 177 16 1 INTRODUÇÃO “Penso que o conhecimento seja uma perpétua construção nova, por interação com a realidade.” (Jean Piaget) Muito se tem debatido sobre o papel das Universidades públicas brasileiras em nossa sociedade, as quais deveriam cumprir a missão no sentido de gerar, sistematizar e socializar o conhecimento e o saber. Conforme Saravali (2005a), professores, em todos os graus de ensino e universitários, têm sofrido os reflexos da formação deficitária por lacunas nos processos de aprendizagem anteriores, o que contribui para a dificuldade na construção de conceitos básicos, imprescindíveis ao curso superior: [...] o aluno proveniente do ensino público e que chega à faculdade, teve uma escolarização precária com todos os problemas que a caracterizam e vai iniciar a nova etapa de escolarização sem dominar conceitos e conteúdos básicos que o impedem de acompanhar as solicitações do meio universitário (SARAVALI, 2005a, p. 100). As problemáticas que envolvem as dificuldades no aprendizado da matemática ultrapassam os limites do Ensino Fundamental e Médio e chegam ao curso superior, agravadas pelo alto grau de desistência e/ou reprovação na disciplina de Cálculo e em outras que necessitam dos conteúdos matemáticos. Atuando como pedagoga no departamento de educação de uma Universidade Pública Federal, tenho observado o dilema enfrentado pelos acadêmicos, especialmente dos ingressantes, diante das dificuldades de adaptação às novas exigências impostas no meio universitário, dentre elas, o de dar conta da autonomia necessária a essa nova realidade. Neste contexto, destaca-se a dificuldade de superação das dificuldades de aprendizagem e das problemáticas que envolvem o ensino do cálculo, decorrente da construção do conhecimento por um ensino apoiado na verbalização comprometendo o processo educativo. Estas dificuldades de aprendizagem são preponderantes considerando que demandam recursos cognitivos provenientes de formação sólida e que deveria ter ser obtida nos graus anteriores de ensino. Nesse sentido, percebemos e comprovamos a preocupação e expectativa dos acadêmicos, quanto ao desempenho acadêmico nas disciplinas, especialmente na disciplina Cálculo Diferencial Integral, que se destaca pelo alto índice de reprovação e desistências. Dessa forma, deparamo-nos com uma série de problemas decorrentes deste fato e que são 17 justificados pela maioria dos professores como “falta de base”. No entanto, sabemos que fatores cognitivos também podem estar influenciando ou sendo o entrave no pensamento dos acadêmicos ao entrar em contato com esses conhecimentos. Isso traz questionamentos quanto ao que envolve o ensino e a aprendizagem dessa disciplina, no aspecto da construção do conhecimento. Acreditamos que alguns fatores interferentes podem ser elucidados mediante estudo e análise das relações implícitas entre o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem. A partir desse quadro, nos propomos à realização dessa pesquisa, que acreditamos trazer implicações significativas para uma melhor compreensão, entendimento e percepção de aspectos implicadores e facilitadores da aprendizagem, visando buscar alternativas, propostas e ações mais eficazes de intervenção e recondução do processo de ensino, vindo ao encontro de um melhor desempenho e aprendizagem dos acadêmicos. A Universidade, na qual foi realizada essa pesquisa, não foge a essa realidade de reprovação e desistência na disciplina em questão, fato este que se evidencia na maioria das instituições de ensino superior, especialmente nos cursos de Engenharia. Esta realidade é comprovada pelos dados quantitativos e qualitativos que serão apresentados no contexto da presente pesquisa e que impulsionaram a buscar elementos de ordem cognitiva, para compreender melhor as implicações dessas reprovações, especialmente de acadêmicos ingressantes nos cursos de Engenharia. Assim, esse estudo considera fundamental compreender as consequências de um ensino que não leva em conta o desenvolvimento cognitivo no processo de aprendizagem. Esta referida instituição tem implantado alternativas pedagógicas visando a melhoria do processo de aprendizagem na graduação, tais como Curso de Pré-Cálculo e Cálculo Diferencial Integral na modalidade de Educação à Distância EAD. No entanto, essas alternativas necessitam de uma avaliação continuada e efetiva sobre sua eficácia, visto que as reprovações e evasões continuam sendo uma realidade bastante presente. O Programa de Monitoria é uma estratégia institucional para a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Conta com 40 monitores atuando nas mais diversas disciplinas curriculares prestando apoio ao aprendizado dos estudantes que apresentam dificuldade em disciplinas curriculares. Baseado no banco de dados dos relatórios semestrais e anuais do programa, o número de atendimentos em 2013 foi de 3.527 atendimentos. A área da matemática, que dispõe de 13 monitores, realizou 1725 atendimentos, sendo que destes 443 foram especificamente em Cálculo Diferencial Integral. Por meio do relatório de avaliação semestral do Programa de Monitoria, realizado com os acadêmicos monitores da instituição pesquisada, constatamos que não tem havido da 18 parte dos acadêmicos que procuram atendimento um aproveitamento pleno desse recurso de apoio, por não ser uma prática habitual, regular e efetiva, em conformidade com os objetivos e propósitos a qual se destina. Outra questão observada pelos monitores de Cálculo Diferencial Integral, com base nos atendimentos aos acadêmicos e que vêm ao encontro da presente pesquisa, é a sua percepção quanto às dificuldades de entendimento de conteúdos básicos na disciplina, a saber: conceitos especialmente de nível médio envolvendo frações algébricas, trigonometria, exponenciais e logaritmos (equações, inequações, funções), derivadas e integrais simples. Nesse sentido, além do Programa de Monitoria a instituição realiza também um Curso de Pré-Cálculo que é outra atividade de apoio a aprendizagem oferecida aos acadêmicos ingressos no curso de Engenharia. Esse curso, realizado semestralmente, possibilita a revisão dos conceitos fundamentais da matemática, trabalhados no ensino fundamental e médio, buscando um melhor rendimento na disciplina de Cálculo Diferencial Integral I. Com base em dados levantados e efetuados pelo Programa de Monitoria em 2012, com acadêmicos participantes do Curso de Pré-Calculo em 2011, o índice de aprovação na disciplina de Cálculo Diferencial Integral no referido semestre foi de 37%. Dos 63% reprovados na Disciplina de Cálculo Diferencial Integral naquele semestre, 35% tiveram aprovação no semestre posterior. Esses dados requerem portanto maiores estudos para avaliar a contribuição desse curso para a efetiva aprendizagem e rendimento na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. As estratégias institucionais de apoio, citadas anteriormente, requerem estudos mais específicos, aprofundados e continuados, aliados a uma ação reguladora no sentido de avaliar e mensurar a eficácia, a implicação e a contribuição das mesmas para a melhoria da aprendizagem de forma geral e, principalmente, para a redução do índice de reprovação na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Dessa perspectiva, considerando as problemáticas resultantes da não aprendizagem em Cálculo Diferencial Integral, que constituem preocupação de todos os envolvidos no processo, faz-se necessário buscar fatores interferentes, ou seja, indicativos cognitivos que favoreçam ou dificultem a aprendizagem. Tais defasagens estruturais, e até mesmo aquelas não perceptivas, dificultam o entendimento matemático necessário no ensino superior. Desta forma, nossa pesquisa orienta-se a partir de uma questão considerada norteadora para o desenvolvimento do trabalho: As dificuldades de aprendizagem em Cálculo Diferencial Integral possuem relações com o nível de desenvolvimento cognitivo dos acadêmicos? 19 Estudar os saberes no ensino e aprendizagem de cálculo, buscando entendimento e alternativas para resolver a problemática ora abordada corrobora com pesquisas existentes na área da Educação Matemática que possui um número crescente de trabalhos sobre ensino e aprendizagem, especialmente do Cálculo Diferencial Integral, no ensino superior. Conforme Igliori (2009), os resultados das pesquisas confirmam tal dificuldade, independente do nível de ensino, incluindo-se o ensino superior. O autor define a Educação Matemática como campo científico que tem por objetivo investigar a atividade matemática, especialmente no ambiente escolar nos diversos níveis de ensino, ideia que justifica, também, a presente pesquisa. Segundo Igliori (2009, p. 12), “a pesquisa tem papel fundamental no levantamento de causas e na indicação de caminhos a serem trilhados na busca de melhorias”. Por conseguinte, as pesquisas “se justificam tanto pelo fato do Cálculo Diferencial Integral - CDI constituir-se um dos grandes responsáveis pelo insucesso dos estudantes quanto por sua condição privilegiada na formação do pensamento avançado em Matemática” (IGLIORI, 2009, p. 13). Pesquisas nessa área podem esclarecer as causas que são resultantes desse fracasso, para elucidar quais são os problemas, mostrando alternativas para melhoria e superação dessa realidade. Nesse sentido, faz-se importante buscar explicação da não apropriação desse conhecimento matemático, que passa pelo entendimento e compreensão dos significados e relações dos sistemas de representação utilizados no processo de ensino-aprendizagem na área da Matemática. Lacaz et al. (2007) apresentam alguns aspectos observados em acadêmicos ingressantes, como a não familiaridade no tratamento dos números reais e das funções elementares; não desenvolvimento de estruturas cognitivas relacionadas à interpretação da linguagem matemática e à compreensão de conceitos que são estruturantes para o desenvolvimento de outros posteriores e que surgirão ao longo do estudo universitário; dificuldades de reflexão, investigação, exploração e principalmente de dedução; memorização técnica sem incorporação do significado dos conceitos e consequentemente dificuldade de adaptação ao sistema de ensino universitário, resultando em falhas no desempenho acadêmico. Os professores, por sua vez, têm encontrado dificuldades do ponto de vista intelectual dos estudantes que apresentam comportamento limitado, demonstrando dificuldades de raciocínio frente à compreensão de conceitos simples ou conteúdos com os quais deveriam saber operar com certa facilidade. Diante dessa realidade, vários questionamentos surgem buscando respostas para 20 elucidar porque o estudante universitário encontra tantas dificuldades e empecilhos ao entrar em contato com conteúdos novos. Baseada nestas questões, Saravali (2005a, p. 117) alega que tais defasagens se encontram presentes desde o início da escolarização e apresenta outro questionamento: “quem nos garante que esses adultos que conseguem cursar a faculdade, já estão de posse dos mecanismos cognitivos característicos do período formal?” Segundo Inhelder e Piaget ([1976], 1976), múltiplos fatores concorrem para se atingir esse estágio de desenvolvimento do pensamento que pode ou não ser alcançado enquanto estrutura global de esquemas, uma vez que [...] essa efetivação pode ser acelerada ou retardada em função das condições culturais e educativas; é por isso que tanto o aparecimento do pensamento formal quanto a idade de adolescência em geral, isto é, a integração do indivíduo na sociedade adulta depende de fatores sociais e até mais do que fatores neurológicos (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976, p. 251). Diante dessas considerações, Saravali (2005a) assegura que é imprescindível avaliar os níveis de conhecimento do aluno adulto, para avaliar a vida dos estudantes universitários e proporcionar iguais condições de aprendizagem. Esse nível de conhecimento requer conhecer as organizações internas que possibilitam a integração de dados e informações cada vez mais complexas, assim como interações que favorecem a construção do conhecimento. Quanto ao processo de aprendizagem e respectivas dificuldades, a autora destaca: [...] aqueles que lidam com as situações de aprendizagem, principalmente os professores, necessitam estar atentos ao que está ocorrendo com os alunos. É preciso sim investigar porque os estudantes não aprendem, mas, sobretudo, quais os meios que a escola pode se valer para minimizar as condições de fracasso que são impostas a esses alunos (SARAVALI, 2005a, p. 113). Nessa linha de raciocínio, recorremos ao modelo de desenvolvimento e aprendizagem, preconizada por Inhelder e Piaget ([1976], 1976), que tem trazido contribuições para o estudo do estudante universitário, por pesquisar o desenvolvimento do raciocínio do período operatório formal e o processo de equilibração majorante. Assim, a construção gradual das estruturas cognitivas como um processo de equilibração sucessivo e contínuo é caracterizada por estágios ou períodos. Cada um destes define um momento de desenvolvimento ao longo do qual o sujeito constrói o próprio conhecimento. 21 Pesquisas realizadas por Piaget e outros pesquisadores confirmam a existência de uma defasagem entre a idade e o período no qual o indivíduo se apresenta. A partir deste ponto de vista, não se pode afirmar que todos os adolescentes e adultos cheguem ao desenvolvimento das operações formais. Sendo assim, devemos considerar, conforme Grossman (1988), a hipótese de que as estruturas do pensamento formal possam ser construídas muito além dos 15 anos (de 15 a 20 anos). Com base na teoria piagetiana e considerando a idade cronológica dos estudantes universitários, pode-se pensar que, como sujeitos epistêmicos, já estariam de posse de uma organização do pensamento e de uma estrutura mental formal, própria do estágio mais avançado de desenvolvimento. No entanto, abordando as questões inerentes ao sujeito psicológico, pergunta-se: por que estes estudantes se deparam com empecilhos e dificuldades ao ingressarem no contexto universitário, sobretudo ao entrar em contato com os conteúdos novos da matemática? Considerando as defasagens na construção dos instrumentos intelectuais, esquemas, estruturas cognitivas, citadas por Saravali (2005a), que deveriam ter sido consolidados, e as carências estruturais de conhecimento, várias reflexões poderiam ser feitas em relação às dificuldades na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, responsável pelos alarmantes índices de fracasso escolar que atingem o sistema universitário brasileiro. Cálculo Diferencial Integral é considerada uma disciplina de importância para os diversos segmentos das ciências e da tecnologia e que faz parte do currículo escolar na maioria dos cursos de nível superior de exatas, especialmente dos cursos de Engenharia. Faz parte do currículo escolar “devido à sua grande aplicabilidade, desempenhando importante papel como linguagem na representação de fenômenos e como instrumento para a resolução de problemas [...]” (CATAPANI, 2001, p. 48). É considerada por Cury (2003, p. 56): “disciplina de destaque nos vários campos do conhecimento científico da ciência, relacionada à memória de trabalho e ao raciocínio” e cujo conteúdo é considerado base para as diversas profissões das ciências exatas. Enquanto Ciência Exata, a matemática é um componente imprescindível ao Curso de Engenharia, pois, a partir da aplicação desta, explicam-se vários conceitos de dimensionamento e lógica e aplicações gerais nas Engenharias. Neste contexto, as dificuldades podem tornar-se ainda maiores. Apesar da importante implicação dessa disciplina na formação profissional, ela é considerada responsável por um índice elevado de reprovações, desistências e evasões, especialmente nos cursos de Engenharia. Com base em diversas pesquisas, especialmente na 22 área da educação matemática, tais problemas são ocasionados por diversos fatores tais como os de ordem motivacional, econômica, social, escolar, metodológica e de ensino. Assim, o insucesso na disciplina vem sendo analisado por vários ângulos, tanto do ponto de vista dos acadêmicos como também dos professores. O Cálculo Diferencial Integral diferencia-se das demais disciplinas pela dificuldade que apresenta no seu aprendizado, exigindo constructos cognitivos para a sua aprendizagem. As dificuldades no ensino e na aprendizagem do Cálculo Diferencial Integral vêm se mostrando constantes e estão presentes nas pesquisas e discussões, sobretudo nos estudos da Educação Matemática. De acordo com Flemming, Luz e Coelho (2000), Araujo (2002) e Cury (2003), os índices de reprovação e evasão acadêmica são alarmantes, principalmente nos primeiros períodos dos cursos de Engenharia. O quadro de repetências em questão e a evasão escolar resultante acarretam sérias consequências para o sistema universitário brasileiro. Nesse contexto, a Universidade Pública Federal na qual esse estudo foi desenvolvido não foge a realidade aqui descrita de forma sucinta, uma vez que os cursos de Engenharia têm um elevado índice de reprovação, cancelamentos e desistências na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, conforme já apontamos. Considerando o exposto nessa introdução, a presente pesquisa visa diagnosticar as relações entre as dificuldades de aprendizagem na disciplina de Cálculo Diferencial Integral e o Nível de Desenvolvimento Cognitivo, em acadêmicos de Engenharia, de uma Universidade Pública Federal, do ponto de vista da Epistemologia Genética. Escolheu-se essa abordagem por considerar-se que é uma das teorias mais coerentes com a finalidade a que se propõe a nossa pesquisa, visto que se utiliza uma metodologia específica, centrada e estreitamente vinculada a estudos experimentais. Essa concepção epistemológica, com base no método clínico-crítico, trouxe respaldo para entender o desenvolvimento do pensamento e das estruturas utilizadas pelos indivíduos e as consequentes dificuldades de aprendizagem. Estudos na perspectiva construtivista piagetiana, na área das dificuldades de aprendizagem e fundamentados na Epistemologia Genética da formação do pensamento matemático podem contribuir para a melhoria da qualidade do ensino e para a minimização dos índices de reprovação, especialmente nas disciplinas das ciências exatas. Nessa abordagem, entende-se a aprendizagem como fruto de uma relação entre sujeito e meio, uma vez que Inhelder e Piaget ([1976], 1976) explicam a necessidade de estruturas operatórias cognitivas necessárias para a aprendizagem e cuja evolução se revela na construção gradual 23 da inteligência. Pretende-se, assim, possibilitar, mediante as contribuições dessa pesquisa, maior propagação da teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget, especialmente do pensamento adulto, perante as dificuldades de aprendizagem em Cálculo Diferencial Integral. Os resultados obtidos poderão trazer contribuições à compreensão das diferenças individuais no desempenho acadêmico, ajudando, assim, na viabilização de estratégias de intervenção, delineamento de procedimentos experimentais e em modos alternativos para revisão das propostas de ensino e de novas práticas pedagógicas. A pesquisa carrega em si também o anseio de que a prática docente olhe para o estudante como um sujeito capaz de agir e construir conhecimento, e não como alguém que obtém êxito ao receber um amontoado de informações que utiliza para aplicar em situações diversas. A forma de organização desta dissertação está distribuída em cinco capítulos, organizados e delineados considerando os parâmetros estabelecidos a seguir: O Capítulo 1, após essa apresentação introdutória do trabalho, oferece a retomada teórica da pesquisa com a caracterização sucinta da teoria piagetiana de desenvolvimento e do processo de aprendizagem. A fundamentação teórica sobre a Epistemologia Genética e a construção do conhecimento, na visão de Jean Piaget, trata sobre o desenvolvimento cognitivo e as consequentes implicações sobre a construção do conhecimento. Descreveremos o período operatório formal, etapa em que ocorre a consolidação da estrutura cognitiva que dá sustentação ao pensamento científico ou lógico-matemático. Apresentaremos, também, em linhas gerais, aspectos sobre a aprendizagem e a matemática, do ponto de vista piagetiano, assim como aspectos sobre o método clínico-crítico piagetiano que apoia metodologicamente a presente pesquisa. O Capítulo 2 apresenta a revisão bibliográfica de algumas pesquisas realizadas no âmbito do desenvolvimento cognitivo e/ou relacionadas ao desempenho na matemática no ensino superior. O Capítulo 3 consiste na apresentação dos aspectos metodológicos: problema; objetivos; hipótese; delineamento; justificativa, participantes; instrumentos e procedimentos da pesquisa, desenvolvida em três etapas distintas. O Capítulo 4 demonstra a análise dos resultados com base nos dados investigados. No Capítulo 5, responde-se, também, ao problema central da pesquisa, fazendo-se considerações e reflexões acerca da coleta e análise dos dados, mostrando caminhos e possibilidades para a efetiva aprendizagem do acadêmico. Procede-se a uma análise conclusiva e a implicações para a prática pedagógica, apoiada na revisão teórica e nos 24 resultados da pesquisa e pontuam-se recomendações para o desenvolvimento de outras investigações nessa área. Sobre este aspecto, vale ressaltar que “transformar os princípios da teoria piagetiana em ações educativas e pedagógicas é um desafio muito grande para muitos educadores” (CAMARGO DE ASSIS; MANTOVANI DE ASSIS, 2003, p. 7). 25 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Epistemologia genética e a origem do conhecimento. Para discutir e entender a origem do conhecimento é necessário compreender primeiramente como este age sobre o meio e consegue transformá-lo. A Epistemologia Genética entende que o conhecimento não é jamais um estado e, sim, um processo, e nesse sentido, “[...] esse processo é essencialmente a passagem de uma validade menor para uma validade superior [...]” (PIAGET, [1974], 1978a p. 14). A construção do conhecimento está diretamente relacionada ao objetivo da Epistemologia Genética, sendo que tal teoria explica a construção das diferentes capacidades cognitivas, de ordem sucessiva na aquisição das competências, onde se pressupõem outras que são anteriores a estas competências: O conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado nem nas estruturas internas do sujeito, porquanto estas resultam de uma construção efetiva e contínua, nem nas características preexistentes do objeto, uma vez que elas só são conhecidas graças à mediação necessária dessas estruturas, e que estas, ao enquadrá-las, enriquecem-nas (PIAGET [1970], 2012, p. 1). Epistemologicamente, o conhecimento é sempre produto de realizações do sujeito, e a construção deste conhecimento, via psicogênese, busca determinar os invariantes que existem nesse processo que vincula o sujeito ao objeto de seu interesse. Nesse sentido, Piaget ([1970], 2012) dedicou-se a pesquisar e a definir um modelo para a estrutura cognitiva humana que viabilizasse a formação e o desenvolvimento do conhecimento. Conforme Chiarottino (1972, p. 5), Piaget “não podendo observar o fenômeno senão em seus efeitos, lança-se à tarefa de explicá-los através da criação de um modelo de sua estrutura”. O conceito de estrutura é central, pois envolve padrões de ação física e mental e corresponde a estágios do desenvolvimento cognitivo. Os experimentos piagetianos reforçaram a concepção de que a estrutura cognitiva não se constitui apenas por herança genética, nem somente pela experiência, mas se desenvolvem por ambos os aspectos. Num cenário em que o sujeito cognoscente é participante ativo no processo cognitivo, vários conhecimentos são possíveis: [...] existem três tipos de conhecimentos possíveis: 1) os conhecimentos ligados a mecanismos hereditários (instinto, percepção, etc.), existentes, ou 26 não no homem, mas correspondendo biologicamente ao domínio dos caracteres transmitidos pelo genoma; 2) os conhecimentos tirados da experiência, e correspondendo assim biologicamente aos acomodados fenotípicos; e 3) os conhecimentos lógico-matemáticos, resultantes de coordenações operatórias (funções, etc.) correspondendo biologicamente aos sistemas de regulações em qualquer escala (PIAGET, [1967],1973a, p. 119). Do ponto de vista genético, podemos considerar três interpretações para a origem do conhecimento. Na citação anterior, podemos observar pressupostos inatistas, que provêm da programação hereditária; empiristas, que provêm de informações exógenas, fornecidas pelo “meio”; e construtivistas, que provêm de uma origem comum, considerando a dupla construção dos conhecimentos lógico-matemáticos e físicos e, sobretudo, da necessidade intrínseca, dependente de autorregulações. No entanto, para criar e demonstrar a teoria de construção do conhecimento, Piaget ([1967],1973a) desenvolveu uma análise crítica das teorias empiristas e inatistas do conhecimento. O autor recusa as teses inatistas ou pré-formistas, isto é, de que as estruturas de conhecimento estão presentes na bagagem hereditária do sujeito, e também as teses empiristas, ou seja, aquelas que acreditam apenas em um ser que só conhece o mundo a partir dos sentidos, pela pressão do meio físico e social sobre o sujeito. Para Piaget ([1967], 1973a), a concepção apriorista é insuficiente para explicar o desenvolvimento das funções cognitivas por desconsiderar a autorregulação vista por ele como uma das características mais universais da vida. Discorda desta concepção por acreditar que a construção das estruturas intelectuais é progressiva e depende do movimento contínuo de assimilações e acomodações do sujeito ao meio (físico e social). O apriorismo explica o conhecimento a partir das estruturas pré-formadas no organismo do sujeito e, portanto, para Piaget ([1974], 1978a), é uma estrutura mental que já está pronta, pré-formada no indivíduo ao nascer e que se manifesta de dentro para fora no momento em que o contato com o meio o exige. Assim, o sujeito, ao nascer, já traz as possibilidades que se manifestariam imediatamente ou de forma progressiva, de acordo com a maturação biológica. Essas condições de conhecimento resultantes das formas inatas (inatismo) ou submetidas ao processo maturacional são predeterminadas (apriorismo). Para Macedo (2002), o conhecimento na concepção apriorista está sujeito à préformação ou herança genética, à qual a capacidade intelectual está sujeitada. É uma visão que valoriza a dimensão estrutural de inteligência concebida como limitação que mudaria muito pouco com a experiência e que não pode avançar além de certo ponto. Assim é concebida, e torna-se uma questão de medida, que pode ser mensurada ou avaliada 27 quantitativamente. Conforme Becker (2003, p. 101), a concepção apriorista acredita que “o conhecimento, enquanto forma e enquanto conteúdo, já está, de algum modo, predeterminado”, é algo com que a pessoa já nasce, como um talento nato, precisando apenas despertá-lo. Tais condições do conhecimento e da aprendizagem se manifestarão ou imediatamente ou progressivamente pelo processo geral de maturação. Neste sentido, toda a atividade de conhecimento é exclusiva do sujeito, sendo que o meio não participa dela. Refletindo sobre ações pedagógicas derivadas dessa forma de compreender como o homem conhece, tem-se que uma pedagogia apriorista é não-diretiva e defende que o aluno já possui conhecimentos, e o professor precisa apenas trazê-los à consciência, organizá-los, devendo intervir o mínimo possível. Portanto, nesta concepção, não se concebe a eficácia do ensino, uma vez que “O conhecimento não provém do meio, do mundo, do objeto, nem é uma construção do sujeito em interação com o objeto” (BECKER, 2003, p. 101). Nessa visão, conforme Macedo (2002), a inteligência é independente de sujeito e submissa a sua pré-formação genética e estrutural, caracterizada pela própria organização mental, capacidade de solucionar problemas, esquemas mentais, conceituais, físicos ou de raciocínio. Desse ponto de vista, a experiência tem pouca participação no referido desenvolvimento, pois a inteligência, assim, é considerada limitada e que avança até certo ponto. Na visão inatista, na psicologia e na educação, a inteligência correspondente a um dom ou capacidade própria do indivíduo. Valoriza-se a mensuração, tornando-se uma medida de quociente intelectual, avaliação quantitativa, seletiva e diagnóstica e previsão da capacidade de aprender. O processo de desenvolvimento da inteligência , para Macedo (2002), não se reduz a formas externas de intervenção. Ela depende de uma base cognitiva interna (estrutura biológica) que vai sendo construída ao longo do seu processo de desenvolvimento. A inteligência é o único mecanismo que viabiliza o processo de construção do saber. Apesar da versão negativa dessa concepção apriorista, expressada por sentimentos de impossibilidade e passividade, Macedo (2002) entende que esse modelo, do ponto de vista da aprendizagem, valoriza o ajuste das características do ambiente, selecionando tarefas, condizentes aos limites do indivíduo, bem como objetos e materiais adequados às necessidades e possibilidades. Piaget (2012), por sua vez, contesta essa concepção apriorista de desenvolvimento da inteligência. 28 Todo conhecimento contém um aspecto de elaboração nova, e o grande problema da epistemologia consiste em conciliar essa criação de novidades com o fato duplo de que, no terreno formal, elas fazem-se acompanhar de necessidades imediatamente elaboradas, e de que, no plano do real, permitem (e são, de fato, as únicas a permitir) a conquista da objetividade (PIAGET, [1970], 2012, p. 1). Na concepção empirista, a única fonte de conhecimento humano é a experiência adquirida em função do meio físico e social e mediada pelos sentidos, ou seja, o conhecimento efetiva-se por meio das experiências concretas com o mundo sensível e pela percepção deste mesmo mundo, de modo que a postura empirista “caracteriza-se por atribuir aos sentidos a fonte de todo conhecimento” (BECKER, 2003, p. 99). O referencial inicial não é o sujeito, mas as informações que vêm do meio exterior e que agem sobre ele. A perspectiva empirista estabelece que “o conhecimento é a apreensão de uma verdade e não sua construção” (BECKER, 2003, p. 100), por conseguinte o homem necessita do contato direto com o mundo exterior para desenvolver a sua capacidade mental e a criação do próprio conhecimento. Segundo Macedo (2002), a inteligência resulta das qualidades positivas da experiência que poderão trabalhar em favor do seu desenvolvimento ou inibir a expressão deste por experiências negativas ou contextos desfavoráveis. Neste sentido, esta visão enfatiza a ação do sujeito em favor do desenvolvimento da inteligência, considerando os benefícios da experiência, uma vez que, na visão empirista, o desenvolvimento da inteligência é resultante de uma fonte interna de base fisiológica ou perceptiva e outra, externa, de base sociocultural. A primeira, de base fisiológica, possibilita a experiência sensorial; e a outra, de base sociocultural, está associada aos sentidos, palavras ou conceitos relacionados ao vivido pela experiência. Esse somatório de fontes do conhecimento é considerado por Macedo (2002) a riqueza da inteligência, associadas no espaço e tempo. A inteligência, na visão empirista, tem perspectiva funcional e genética, pois opera segundo leis e regras que produzem o comportamento desejável, inibindo o indesejável e expressando uma visão heterônoma de inteligência cujo desenvolvimento é dependente da ação externa e da mediação sobre o sujeito. De acordo com Piaget ([1964], 1975a, p. 339), o empirismo considera a experiência como “[...] algo que se impõe por si mesmo, sem que o sujeito tenha de organizá-la, isto é, como se ela fosse impressa diretamente no organismo sem que uma atividade do sujeito seja necessária à sua constituição”. Piaget ([1970], 2012) critica as posições empirista e 29 apriorista, por não considerar que as mesmas não respondem r satisfatoriamente à pergunta sobre a origem do conhecimento e por concentrarem a compreensão da realidade como dependente, ora de fatores externos (objeto), ora predominantemente internos (sujeito). Assim, a resposta piagetiana propõe o papel essencial da ação do sujeito sobre o meio, ou seja, a interação mútua de acomodação e assimilação, integrando a experiência dentro da existência de conceitos mentais. Piaget ([1970], 2012) parte do pressuposto de que a aquisição do conhecimento supõe sempre a atividade do sujeito em relação ao objeto, nunca de forma passiva, apenas de receptividade, mas de forma ativa e construtiva. Para o autor ([1964],1975a, p. 341), “a experiência nada mais é do que uma ‘acomodação’, por muito exata que possa tornar-se”, ou seja, a experiência é ativa, resultante de construções progressivas dos elementos que o sujeito assimila ao agir sobre o meio. Piaget ([1964],1975a) não nega a influência externa no desenvolvimento da inteligência em todos os níveis, outorgando mérito à concepção empirista, porém ressalta que o problema central desta teoria de conhecimento consiste em saber como o meio exerce esta ação e como o sujeito registra os dados da experiência. Neste ponto, a concepção epistemológica deste autor diverge do empirismo. Abordando as implicações educacionais decorrentes da maneira como concebemos a constituição do conhecimento humano, Becker (2008, p. 331) constata, em sua pesquisa, que ”[...] a epistemologia subjacente ao trabalho docente é a empirista e que só em condições especiais o docente afasta-se dela” e conclui que raramente um docente utiliza um modelo interacionista-construtivista. Quando o faz, é porque o professor é confrontado com sua prática escolar, ou seja, ao ser questionado sobre sua epistemologia de conhecimento, alterna momentos empiristas e aprioristas. A visão empirista caracteriza mais amplamente a epistemologia do professor no sistema educacional brasileiro, pois concebe o aprendizado como algo externo, atribuindo aos sentidos a fonte de todo o conhecimento. Desta relação, surge o professor como detentor do conhecimento: aquele que transmite para o aluno o que este não possui. A visão apriorista entende a origem do conhecimento dos indivíduos como decorrente da bagagem hereditária, portanto, pré-determinada. Deste ponto de vista, o meio tem pouca participação para a efetivação da aprendizagem e, consequentemente, a atuação do professor não é tão importante. Piaget ([1970], 2012) se dedica, portanto, a elaborar a terceira interpretação para o conhecimento, ao argumentar que as estruturas mentais, específicas para o ato de conhecer, 30 constituem a inteligência, que não está pré-formada no indivíduo e nem é determinada exclusivamente pelo meio. Piaget ([1970], 2012) também se refere à organização das estruturas que se constroem, progressivamente, por coordenações das ações do sujeito sobre o mundo exterior e em contínua interação, por meio das muitas solicitações provenientes desse meio. A novidade da posição construtivista reside em se situar, de forma equidistante, do posicionamento do empirismo e do inatismo, defendendo uma unidade do sujeito e do objeto. O construtivismo ou interacionismo representa uma postura epistemológica que compreende a origem do conhecimento na interação do sujeito com o objeto; concebe o conhecimento como uma ação transformadora do sujeito sobre o objeto de conhecimento. Para Piaget ([1970], 2012), o conhecimento é resultante da ação do sujeito sobre os objetos de conhecimento, sejam eles físicos ou sociais. Neste sentido, trata-se de uma construção que resulta de interações com uma troca a partir das ações sobre o mundo objetivo e subjetivo, construção esta constitutiva do próprio sujeito. Por conseguinte, tal interação leva à construção de estruturas mentais: A inteligência não aparece, de modo algum, num determinado momento do desenvolvimento mental, como um mecanismo inteiramente montado, e radicalmente distinto dos que o precedem. Pelo contrário, apresenta uma notável continuidade com os processos adquiridos ou mesmo inatos proveniente da associação habitual e do reflexo, processos esses em que a inteligência se baseia, ao mesmo tempo em que os utiliza (PIAGET, [1964], 1975a, p. 31). Em vista disso, grande parte do conhecimento que o homem constrói é resultado do próprio esforço em compreender e dar significado ao mundo e para explicar a construção do conhecimento, portanto a teoria piagetiana se baseia num modelo biológico de interação do homem com o ambiente. Na visão construtivista, conforme Macedo (2002, p.118), a inteligência possibilita, de modo estrutural e funcional, relações com os objetos de maneira interdependente e reversível, uma vez que “os elementos interagem em um contexto sistêmico sendo partes e todo ao mesmo tempo”. Assim, “inteligência é um todo, composto por um conjunto de estruturas ou esquemas que possibilitam nossos modos de compreensão e realização conforme as características determinadas por seu nível ou estádio” (MACEDO, 2002, p. 7), ou seja, a inteligência expressa de modo estrutural e funcional o que é possibilitado nos diferentes estágios de desenvolvimento. 31 Becker (2008) considera o professor construtivista um desafiador, pois, mediante atenção e respeito, identifica as facilidades e dificuldades de seus alunos e oferece recursos e procedimentos para o avanço estrutural e conceitual do aprendiz, visto que desafios são lançados de acordo com as possibilidades do aluno para resolvê-los individualmente ou em grupo, em cooperação com seus pares. Ao abordar o ensino em uma escola de caráter ativo, Piaget (1972) sugere que se leve em consideração o ritmo de desenvolvimento dos alunos; que a escola esteja atenta aos progressos científicos das matérias de ensino, e que esta se preocupe com a atualização didática e a preparação científica de seus professores, com a evolução cultural, social e econômica do mundo moderno e que realize estudos comparativos com outros países relativos a programas de ensino. No construtivismo, considerar a realidade do aluno significa não reduzir o conhecimento deste à transmissão dos saberes culturais e ou científicos da sua realidade. Portanto, podemos concluir que a aprendizagem, numa perspectiva construtivista, não se realiza por memorização ou associação entre estímulos e respostas, tampouco por simples maturação. Mas, necessariamente, implica a atribuição de significados aos objetos de conhecimento, por meio da construção, revisão e fechamento de hipóteses sobre este. Este resultado apenas é obtido mediante atividades desafiadoras, que instiguem a dúvida, originando a incerteza dos alunos, configurando, assim, o papel do professor construtivista. Nesse sentido, Becker (2008) reafirma que um ensino baseado no construtivismo parte de uma teoria de aprendizagem construtivista que toma por referência a construção do conhecimento por meio da ação (mental ou física) do sujeito sobre o objeto de conhecimento, mediada por encaminhamentos didáticos que favoreçam tal processo. Assim, todo ser vivo procura adaptar-se ao seu ambiente e possui propriedades de organização que podem ser consideradas como totalidades ou sistemas de relações entre os elementos que possibilitem a própria adaptação. Dessa forma, a vida seria, segundo Piaget ([1970], 2012), uma criação contínua de formas, cada vez mais complexas, e da progressiva adaptação do ser vivo ao meio exterior. A partir de tais colocações, podemos depreender que a inteligência consiste na capacidade individual de adaptação ao meio e, portanto, o processo cognitivo teria início nos reflexos fortuitos e difusos do recém-nascido, desenvolvendo-se progressivamente. O funcionamento das estruturas cognitivas está agregado ao do sistema nervoso e é, visto por Piaget ([1970], 2012), como prolongamento altamente especializado deste último. Ao se referir ao desenvolvimento do conhecimento e da inteligência, Piaget ([1967], 1973a) aponta a influência de alguns fatores, tais como: a maturação do sistema nervoso; a 32 experiência adquirida, a transmissão ou ação do meio social e a equilibração majorante, sendo este último o fator principal. O primeiro fator: a hereditariedade, a maturação interna, é considerado por Piaget como um importante fator ([1970], 2012), porém é insuficiente, porque nunca existe no estado puro ou isolado; se um efeito de maturação intervém em toda parte, ele permanece indissociável dos efeitos do exercício da aprendizagem ou da experiência. A maturação é um fator biológico e uma condição necessária para abertura de possibilidades de desenvolvimento, e por ser uma continuação do processo de formação, ela define os limites por meio do quais o desenvolvimento é estabelecido pela continuação da embriogênese. O segundo fator: a experiência, a ação sobre os objetos, corresponde à experiência ativa, que pode ser física ou lógico-matemática. A experiência física consiste na ação sobre os objetos, abstraindo suas propriedades diretamente observáveis; enquanto que a lógicomatemática implica também na ação sobre os objetos, mas procurando conhecer o resultado desta coordenação de ações. Essa experiência com o meio possibilita a ativação dos processos de assimilação e acomodação, resultando em mudança cognitiva. Para Piaget ([1967],1956), todos os dados e informações fornecidos pela ação com o meio serão assimilados às estruturas e “lidos” a partir de esquemas anteriores, uma vez que a estruturação é ativa de assimilação a quadros lógico-matemáticos do nível sensório-motor ao pensamento formal. Para Piaget, ([1970], 2012), não existe experiência sem a ação na sua origem, de maneira que o conhecimento não é extraído das propriedades físicas dos objetos, mas, sim, das ações exercidas sobre eles pela experiência lógico-matemática. A partir dessas ações, são introduzidas nos objetos propriedades que não pertenciam a eles antes. Nesta experiência lógico-matemática está presente a abstração reflexionante sobre a qual discorreremos posteriormente. O terceiro fator: a transmissão social, fator educativo, no sentido amplo e naturalmente determinante no desenvolvimento como produto das interações sociais, revelando a contribuição de fatores exógenos ao desenvolvimento. Piaget ([1970], 2012) apresenta a transmissão social como um dos fatores do desenvolvimento que ocorre pelo intercâmbio entre indivíduos e conteúdos transmitidos e cuja troca inter-individual intervém durante esse desenvolvimento, de acordo com um processo de socialização das pessoas nas suas relações com os outros. O quarto fator: a equilibração majorante ocupa a função norteadora ou integradora dos demais fatores, pois consiste na conquista de estados de equilíbrio, qualitativamente 33 superiores ou melhores que os precedentes, uma vez que resultam de múltiplos desequilíbrios e reequilibrações. Portanto, é considerado fator fundamental no desenvolvimento intelectual, porque cada novo conhecimento é uma descoberta que deve se equilibrar com as outras. Para Piaget ([1970], 2012), o próprio desenvolvimento, em certo sentido, é uma equilibração sucessiva que permite o trânsito de um estado de menor equilíbrio a um equilíbrio superior. Estes fatores, para Piaget ([1968], 1970), atuam concorrentemente ao se submeterem às leis de equilíbrio como forma de adaptação às condições impostas, processo em que o equilíbrio e a estrutura são dois aspectos complementares de toda organização do pensamento. 2.2 A construção de estruturas O conceito de estrutura cognitiva é central na teoria de Piaget. A estrutura da inteligência refere-se às organizações mentais, que se formam no decorrer do processo evolutivo. Para Piaget ([1968],1970), o conceito de estrutura inclui necessariamente as relações sujeito-objeto, que preveem transformações, com conservações, organização, funcionamento e autorregulação: Uma estrutura é um sistema de transformações que comporta leis enquanto sistema (por oposição à propriedade dos elementos) e que se conserva ou se enriquece pelo próprio jogo de suas transformações, sem que essas conduzam para fora de suas fronteiras ou façam apelo a elementos exteriores. Em resumo, uma estrutura compreende os caracteres da totalidade, de transformações e de autorregulação. ( PIAGET, [1968], 1970, p. 8). Em vista disso, a estrutura de conhecimento, inicialmente biológica, constrói-se durante todo o desenvolvimento do sujeito, desenvolve-se e se transforma na relação com os objetos, mediante a experiência dessa interação com o meio físico e social, avançando para formas mais evoluídas de organização cognitiva. A estrutura cognitiva vai construindo-se e aprimorando-se paulatina e concomitante à construção de novos conhecimentos, na busca natural do homem pela sua adaptação como sujeito ativo nesta interação, produzindo a si próprio e a realidade na qual vive. 34 As mudanças nas estruturas são utilizadas por Piaget ([1968], 1970) para analisar e caracterizar os estágios de desenvolvimento. Essa formação da capacidade cognitiva que ocorre sucessivamente, explicada pela Epistemologia Genética, mostra, pelo estudo da gênese, que não existe um começo absoluto e que o desenvolvimento não é linear, mas que é fruto de saltos, rupturas e estágios que representam uma lógica de estruturas mentais que serão superadas por outro estágio e lógica superior de conhecimento. Essa construção de estruturas resultante da interação dialética do sujeito com o mundo está permeada pelas funções de assimilação, acomodação e adaptação. A assimilação está ligada à ação, ou seja, como um processo assimilativo ativo, onde os elementos envolvidos agem uns sobre os outros, transformando-se mutuamente. Todo conhecimento contém um processo de assimilação às estruturas anteriores e de incorporação de novas informações exteriores aos esquemas já estabelecidos pelo sujeito. Nesta linha de pensamento, Piaget ([1970], 2012) afirma: A assimilação, definida assim em termos funcionais muito gerais, desempenha papel necessário em todo conhecimento. [...] quando um homem ou animal percebe um objeto, identifica-o como pertencentes a certas categorias, conceituais ou práticas, ou, no plano propriamente perceptivo, percebe-o por intermédio de esquemas funcionais ou espaciais (como uma figura que se destaca sobre um fundo, como ocupando uma posição no espaço, etc.). Assimila-o, pois a estruturas mais ou menos complexas de níveis diversos, mas anteriores à sua percepção do momento (PIAGET, [1970], 2012, p. 14). Todo conhecimento precisa do mecanismo de assimilação, já que esse processo proporciona significados a algo que é percebido e, além disso, “[...] exprime o fato fundamental de que todo conhecimento está ligado a uma ação e conhecer um objeto ou conhecimento é utilizá-lo, assimilando a esquemas de ação” (PIAGET, [1970], 2012, p. 15). Em sentido amplo, significa uma integração às estruturas prévias como mecanismo que atribui significados ao objeto; além de incorporá-lo a algum esquema de ação: “A assimilação não se reduz [...] a uma simples identificação, mas é construção de estruturas ao mesmo tempo em que incorporação de coisas a essas estruturas” (PIAGET, [1970], 1973a, p. 364). Assim, a assimilação incorpora elementos exteriores e compatíveis com sua natureza. Conforme Piaget ([1975],1976), só a atividade de assimilação não traz ao sujeito a construção de novidades no sistema cognitivo; é preciso a criação de novos conhecimentos; faz-se necessário, também, outro mecanismo fundamental no processo de construção do conhecimento: a acomodação. O processo assimilativo está relacionado ao processo de 35 acomodação, conforme afirma Piaget ([1964], 1975b, p. 387): “[...] experiência jamais é recepção passiva: é acomodação ativa, correlativa à assimilação”, são, portanto, dois processos inseparáveis, porém, distintos, onde um só é possível pela existência do outro. Desta forma, não há assimilação sem acomodações, assim como não existem acomodações sem assimilação, pois o meio desencadeia ajustamentos ativos no sujeito. O esquema de assimilação alimenta-se por meio da incorporação de características exteriores, no entanto só a atividade de assimilação não traz a construção de novidades. Na acomodação, temos a modificação dos esquemas em função das resistências oferecidas pelos objetos de conhecimento ao serem assimilados. Quando incorporados, novos elementos firmam-se em estruturas já construídas ou se reajustam, acomodando-se por causa das transformações ocorridas. Quando ocorre o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, o indivíduo consegue reagir à solicitação do meio, porque o processo de adaptação permite que ele organize sua atividade mental com as ações do exterior. A adaptação como processo propicia o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação: “a adaptação é o equilíbrio entre assimilação da experiência às estruturas dedutivas e a acomodação dessas estruturas aos dados da experiência (PIAGET, [1969], 1998, p. 157). Destes apontamentos, resulta a afirmação de Piaget de que “a inteligência é uma adaptação” (PIAGET, [1966], 1975a, p. 15), na busca da conservação pela sobrevivência. 2.3 O Desenvolvimento cognitivo A teoria de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo supõe, antes de qualquer coisa, que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis . Processase através de estágios cuja ordem de sucessão é invariante e cujas aquisições são progressivamente mais complexas. Segundo Piaget ([1968],1970), o desenvolvimento cognitivo implica num processo de mudanças, tanto quantitativas como qualitativas de estruturas cognitivas, ou seja, as estruturas são construídas e reconstruídas de forma a tornar o indivíduo cada vez mais adaptado. A inteligência humana é vista como um sistema de operações vivas e atuantes em busca de uma adaptação do organismo ao meio. Neste processo evolutivo, cada nova estrutura possibilita um equilíbrio mais amplo e mais estável em relação às anteriores; cada 36 nova estrutura envolve, ao mesmo tempo, a superação e a conservação da anterior. Neste sentido, o funcionamento cognitivo evolui de uma forma gradativa, iniciando pelas ações sensório-motoras; perpassando as representações simbólicas; e atingindo a construção das estruturas operatórias concretas e formais. A Epistemologia e a Psicologia Genéticas estão assentadas no interacionismo, no construtivismo, no estruturalismo e no princípio da gênese. O princípio genético está associado ao conceito de gênese que significa que “estando em presença de uma estrutura como ponto de partida, e de uma estrutura mais complexa como ponto de chegada, entre as duas se situa, necessariamente um processo de construção, que é a gênese” (PIAGET, [1964],1980b, p. 25). Piaget ([1964], 1980b), ao estudar a gênese e o processo de adaptação, observa que determinadas manifestações se repetiam em diferentes situações, constatação que estruturou suas conclusões e o fez propor o desenvolvimento humano por uma sucessão de estágios que não seguem uma sequência linear de etapas, mas um caminho em uma espiral ascendente de raio crescente (divergente). Conforme essa representação, a cada ciclo que se completa, o sujeito alcança um ponto acima do ponto correspondente ao ciclo anterior e mais distante do eixo central. O processo de construção da inteligência refere-se às mudanças estruturais que se realizam em etapas sucessivas, de forma gradual e contínua, definida por estágios de desenvolvimento. Cada estágio representa um potencial de inteligência, como processo de formação em que ocorrem diferenciações progressivas de estruturas que culminam em formas superiores de equilíbrio. Nestes estágios, o desenvolvimento não é linear no sentido de um novo conhecimento vir a substituir o anterior. Cada um começa por uma reorganização, em um novo nível de aquisições alcançadas no nível precedente. Esta reorganização caracteriza-se por novas estruturas que diferem das anteriores e que tem características alteradas pelo desenvolvimento subsequente. Conforme Piaget ([1964], 1980b, p. 14), "cada estádio constitui então, pelas estruturas que o definem, uma forma particular de equilíbrio, efetuando-se uma evolução mental no sentido de uma equilibração sempre mais completa”. A passagem subsequente de um estágio para outro respeita uma ordem hierárquica de operações e de desenvolvimento, cuja ordem é sequencial, com uma evolução própria: 37 Cada estágio é caracterizado pela aparição de estruturas originais, cuja construção o distingue dos estágios anteriores. O essencial dessas construções sucessivas permanece no decorrer dos estágios ulteriores, como subestruturas, sobre as quais se edificam as novas características (PIAGET, [1964], 1980b, p. 13). Esses estágios obedecem a critérios específicos, sendo um deles: “a ordem de sucessão é constante, embora as idades médias que as caracterizam possam variar de um indivíduo para outro, conforme o grau de inteligência, ou de um meio social a outro” (PIAGET, [1972], 1978b, p. 131). Não são, portanto, padronizados no sentido de idades cronológicas fixas, mas, por estruturas de pensamento apresentadas em cada um desses momentos. Para se atingir cada estágio, é necessário “[...] ter passado por desmanches preliminares. É necessário ter construído as pré-estruturas, as subestruturas preliminares que permitem progredirmos mais” (PIAGET, [1973], 1978c, p. 215). Nesse processo, ocorre uma integração com a estrutura existente, que, em um primeiro momento, é reconstruída e que passa posteriormente para uma dimensão mais ampla, acarretando o desenvolvimento mental, ou seja, frente a perturbações ou conflitos, o sujeito tende a reagir por meio de regulações contínuas, reorganizando suas estruturas cognitivas anteriores, as quais se incorporam às estruturas dos estágios seguintes. “As estruturas de um conjunto são integrativas e não se substituem uma às outras: cada uma resulta da precedente, integrando-a na qualidade de estrutura subordinada e prepara a seguinte, integrando-se a ela mais cedo ou mais tarde” (PIAGET, [1972], 1978b, p. 132). Os estágios, por sua vez, estão subordinados à experiência física e social e à ação do sujeito sobre o meio e definem um processo de intensas mudanças de estruturas cognitivas, com construções contínuas e sucessivas, e equilibrações estabelecidas entre a estrutura precedente e a ação do meio. Os diferentes estágios do desenvolvimento cognitivo, estabelecidos por Piaget ([1964], 1980b), constituem um momento de mudanças e permanências segundo as necessidades a serem supridas, “na realidade, a tendência mais profunda de toda atividade humana é a marcha para o equilíbrio” (PIAGET, [1964], 1980a, p. 65). 2.3.1 Estágio Sensório-Motor (0 a 2 anos aproximadamente) A compreensão da construção do pensamento do adulto passa pelo entendimento primeiramente do pensamento da criança, pois as primeiras construções desta possibilitam 38 desvelar o pensamento daquele. “Assim, para chegar ao pensamento formal, é necessário percorrer o caminho dos reflexos, primeiros esquemas, interiorização dos esquemas de ação, coordenação das ações interiorizadas e a construção de estruturas lógicas elementares” (PIAGET, [1964], 1980b, p. 11). Para Piaget (1980b), esse período é essencial para conquista cognitiva do indivíduo, representando a tomada de todo o universo prático. Ao analisar o desenvolvimento da criança nos primeiros dois anos de vida, Piaget ([1964], 1980b) observa a existência de uma inteligência sensório-motora, ou seja, uma inteligência “sem pensamento ou representação, sem linguagem e sem conceitos”, marcada pela ausência da função simbólica (DOLLE, 1987, p. 115). Conforme Piaget ([1964], 1980b), esse período é extremamente fértil, pois corresponde a um progresso considerável pela formação dos primeiros hábitos e pelo nascimento da inteligência, caracterizada pela intencionalidade que ocorre nos 18 primeiros meses. No estágio sensório-motor, ocorre o nascimento da inteligência da criança, peculiarmente prática, tendendo a resultados práticos, relacionados a conquistas, de modo que: [...] toda a gente admite a existência de uma inteligência antes da linguagem. Essencialmente prática, isto é, tendente a resultados favoráveis e não ao enunciado de verdades, essa inteligência nem por isso deixa de resolver, finalmente, um conjunto de problemas de ação (PIAGET, [1964], 1978b, p. 12). Esse estágio divide-se em seis sub-períodos e, conforme Flavell (1975, p. 88), “As várias atividades reflexas começam a passar por modificações isoladas decorrentes da experiência e a se coordenarem mutuamente de várias maneiras complexas”. A partir dessas considerações, destaca-se que o primeiro é marcado pela presença dos reflexos; o segundo, pelos primeiros hábitos; o terceiro, pela coordenação da visão e da preensão e pelo início das distinções entre meios e fins. O indivíduo começa, conforme Flavell (1975), a realizar ações orientadas para os objetos e eventos externos e demonstra uma espécie de prenúncio de intencionalidade nas tentativas de reproduzir os efeitos ambientais por meio das próprias ações. O quarto e quinto sub-estágio são marcados pelo aprimoramento da causalidade, e o sexto estágio, pela elaboração de hipóteses (no plano prático) para a resolução de problemas, antecedendo-se à ação, passando a agir de modo a se satisfazer. Neste último, segundo Flavell (1975), a criança começa a fazer representações elementares e transpõe os limites 39 entre o período sensório-motor e o pensamento pré-operacional. Ainda neste sexto subperíodo, “[...] não significa que os comportamentos estudados até aqui estejam condenados a desaparecer, mas simplesmente que vão doravante a ser completados por condutas de um novo tipo: a invenção por dedução ou combinação mental” (PIAGET, [1966], 1975a, p. 311). Piaget ([1966], 1975a) declara que a inteligência sensório-motora é puramente vivida e o bebê, satisfaz-se em chegar ao objetivo prático, sem visar à constatação ou explicação, e que perdura durante a existência toda, constituindo o órgão essencial da atividade perceptiva. O período da inteligência sensório-motora é substituído pelo desenvolvimento da inteligência representativa. Ele termina num estádio que efetua a transição entre a inteligência propriamente sensório-motora, sem linguagem, sem representação, sem conceitos, para a inteligência representativa que se efetua por transformações lentas e sucessivas que se reelaboram. Na chegada ao período seguinte, denominado pré-operatório, a criança é capaz de fazer combinações interiorizadas, ou seja, já não se prende a encontrar meios apenas manipulando os objetos. Piaget ([1972], 1978b, p. 76) afirma que “[...] a criança torna-se capaz de encontrar novos meios, não mais por simples tateio exteriores ou materiais, senão por combinações interiorizadas, que redundam numa compreensão súbita ou insight”. Tais considerações demonstram que, conforme PIAGET ([1966]1975a), cada um dos subperíodos prepara os posteriores, alcançando patamar de comportamento e pensamento mais avançado. 2.3.2 Estágio Pré-operatório (2 – 7 anos aproximadamente) No estágio pré-operatório, conforme Piaget ([1966], 1975a), a criança passa a apresentar adaptações intelectuais mais avançadas, e os esquemas de ação começam a se interiorizar progressivamente. Com a consolidação da linguagem, aumenta a capacidade do sujeito em realizar representações mentais interiorizadas por imagem mental, executadas em pensamento, sem a necessidade de uma ação imediata. Assim, ele é capaz de evocar uma situação, reconstituindo por narrativa, e antecipar futuras ações pela representação verbal. O marco desse estágio caracteriza-se pela consolidação da função simbólica ou semiótica, fundamental à evolução das estruturas operatórias posteriores. A função simbólica consiste na capacidade da representação de um objeto ausente (significante), por meio de um significado, “capacidade de evocar por meio de um signo ou de uma imagem simbólica o 40 objeto ausente ou a ação ainda não realizada” (PIAGET, [1966], 1975a, p. 215). Assim, Piaget ([1964], 1975b, p. 352) explica a importância da função simbólica para evolução das estruturas operatórias posteriores para estabelecer um sistema de significações: “A função simbólica [...] é essencial à constituição do espaço representativo”, utilizando-se de sistemas de representação com a adequação do uso de símbolos dentro de uma linguagem e a proposição de alternativas que possibilitam a resolução dos diferentes problemas cotidianos, de maneira que o pensamento se reconstrói, apoiando-se nas aquisições anteriores. A função simbólica ou semiótica é constituída por cinco manifestações próprias, que apresentam relevância no desenvolvimento desse período, são elas: imitação diferida, jogo simbólico, desenho, imagem mental e linguagem ou evocação verbal, considerando que: [...] o emprego dos signos como o dos símbolos, pressupõe essa aptidão, inteiramente nova em contraste com as condutas sensório-motoras, que consiste em representar alguma coisa por outra. Pode-se, então, aplicar à criança essa noção de uma “função simbólica” geral, de que se fez às vezes a hipótese a propósito da afasia, porque é a formação desse mecanismo que caracterizaria, em resumo, o aparecimento simultâneo da imitação representativa, do jogo simbólico, da representação com imagem e do pensamento verbal (PIAGET, [1967], 1956, p. 130). O pensamento da criança é intuitivo para a compreensão dos fenômenos, e Piaget ([1964], 1980b, p. 29) considera essa compreensão como “a forma de pensamento mais adaptada ao real que a criança conhece”. Contudo, mesmo sendo o período pré-operatório marcado pela capacidade representativa, a criança ainda encontra dificuldades para estabelecer relações lógicas entre fatos e acontecimentos, expressando ações cognitivas com um critério particular de elaboração, marcado por características interdependentes. O egocentrismo é, também, característica essencial desse período, que consiste em partir do próprio eu para julgar a realidade e os outros, constituindo-se numa incapacidade de se colocar na perspectiva do outro, não havendo, portanto, percepção sobre a incoerência dos fatos, sendo este um dos maiores obstáculos à conquista do raciocínio lógico. 2.3.3 Estágio operatório concreto (7-8 - 11 anos aproximadamente) Nesse período, ocorre um fato importante no desenvolvimento da inteligência, a consolidação das operações que se tornam reversíveis, mesmo que ainda sejam apoiadas em 41 suportes materiais, num pensamento interiorizado, com vínculos ao mundo real, presas à experiência concreta e ao observável. Tem-se a construção da noção de conservação num nível operatório que, no entender de Piaget ([1970], 2012), é o melhor critério para indicar o aparecimento das operações ao nível das estruturas concretas. Para Becker (2003), somente nesse período, dar-se-á a aquisição da capacidade de ação reversível e a reciprocidade do pensamento, após anos de ações sobre os objetos. Essa capacidade é uma primeira forma de totalidade operatória e, portanto, uma primeira forma de equilíbrio estável. Essa capacidade permite ao sujeito executar a mesma ação nos dois sentidos, com a consciência que se trata da mesma ação, realizando mentalmente as ações, ou seja, “conservar”, considerar ao mesmo tempo, tanto o todo como vários reagrupamentos de suas partes. Isso permite a organização do pensamento em estruturas coerentes e totais, numa relação hierárquica ou sequencial; possibilita, ainda, perceber uma transformação como parte de um sistema de transformações possíveis, relacionada à outra que a anula. Com esta possibilidade de reversibilidade, a criança é capaz de classificar, agrupar, tornar reversíveis as operações e pensar sobre um fato a partir de diferentes perspectivas. Conforme Piaget ([1970], 2012), como característica principal desse período, as ações mentais já interiorizadas operam com coerência e lógica em nível de pensamento, que passa de pré-lógico a operatório, possibilitando capacidade cognitiva para coordenação de diferentes pontos de vista de maneira lógica: “As ações interiorizadas ou conceptualizadas com as quais o sujeito tinha até aqui de se contentar adquirem o lugar de operações enquanto transformações reversíveis que modificam certas variáveis e conservam as outras a título de invariantes” (PIAGET, [1970]1978a, p. 18). Piaget ([1970], 2012) esclarece que as operações interiorizadas e reversíveis devem ser compreendidas não como representação de uma transformação, mas como em si mesma uma transformação do objeto possível de ser executada simbolicamente. Julga essas operações como partes de um sistema. Piaget ([1970], 2012) chama de operações: Chamamos operações às ações interiorizadas (ou interiorizáveis) reversíveis (no sentido de poderem se desenrolar nos dois sentidos e consequentemente de comportarem a possibilidade de uma ação inversa que anula o resultado da primeira) e se coordenando em estruturas, ditas operatórias que apresentam leis de composição caracterizando a estrutura em sua totalidade, como sistema (PIAGET, [1970], 2012, p. 376). A reversibilidade operatória possibilita ao sujeito utilizar, de forma isolada e não 42 unida, em um sistema único e total essa capacidade no plano das ações concretas. Trata-se de um método ascendente para as inclusões de classe, denominado, por Piaget ([1970], 2012), reversibilidade por inversão ou negação. Conforme Piaget ([1970], 2012), essa é uma característica da estrutura de agrupamento que pode ocorrer de duas formas distintas: por inversão (negação) e por reciprocidade (simetria). É um método sistemático sucessivo entre menor ou maior elemento, visando construir uma ordem serial, denominada reversibilidade por reciprocidade e seriação e que apresenta também outras propriedades: composição, associatividade, identidade geral e identidade especial. Por meio deste processo, o sujeito adquire estruturas de classificação, seriação e de relações parciais entre objetos que vão se organizando em estruturas operatórias de conjunto (agrupamentos): Em resumo, o pensamento concreto continua fundamentalmente ligado ao real, e o sistema de operações concretas, que constitui a forma final de equilíbrio do pensamento intuitivo, chega apenas a um conjunto restrito de transformações virtuais, e, portanto, a uma noção do “possível” que é apenas uma extensão (não muito grande) do real (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976, p. 188). As noções adquiridas nesse período, por ser ainda incompletas, permitem a operação direta e exclusivamente sobre os objetos, próprias do raciocínio concreto e de formas de reversibilidade não coordenadas entre si, compondo totalidades distintas. Desta maneira, o raciocínio possui limitações que se caracterizam pela necessidade do plano concreto. Para Piaget ([1970], 2012), as operações pressupõem sistemas estruturados com outras operações relacionadas, cujo termo é definido como qualquer ação representativa que faça parte de uma rede ou sistema organizado de atos relacionados. Cada operação não ocorre sem a existência de todo um sistema de operações potenciais, considerando-se como exemplo o sistema de classe, conceito que não é possível adquirir, sem termos a compreensão do que um sistema de classificação requer, pois a classe isolada é somente uma abstração do sistema total. Como as operações fazem parte de um sistema organizado de atos relacionados, torna-se possível transformar os dados perceptivos num sistema coerente de relações objetivas. Neste sentido, a reversibilidade permite antecipar as perturbações e compensá-las mentalmente, procedendo a uma autocorreção mental que constitui a lógica operatória (PIAGET, [1970], 2012). Piaget ([1970], 2012) utilizou o modelo de agrupamento de classe e relações para explicar o sistema característico dessas operações concretas as quais se apóiam em duas 43 formas de reversibilidade: a reversibilidade por inversão (classes) e a reversibilidade por reciprocidade (relações). No período ora em destaque, as inversões e as reciprocidades ainda não se encontram reunidas num sistema único de transformações, portanto, de acordo com Piaget e Inhelder ([1977], 1995, p. 86), “do ponto de vista lógico, o agrupamento é uma estrutura de conjunto de composições limitadas”. 2.3.4 Estágio formal (11- 12 anos aproximadamente) A partir dos 11 ou 12 anos de idade, inicia-se o estágio das operações formais, caracterizado como o ápice do desenvolvimento da inteligência, quando o sujeito atinge a forma final de equilíbrio e de padrão intelectual do pensamento, definido por Inhelder e Piaget ([1976], 1976) como hipotético-dedutivo. Uma das características desse período, descritas por Inhelder e Piaget ([1976], 1976), é a inversão de sentido entre o real e o possível. Ao tentar encontrar o real dentro do possível, o adolescente precisa considerar o possível como um conjunto de hipóteses que devem ser confirmadas ou rejeitadas. Perante um problema, o sujeito tenta imaginar todas as relações possíveis e válidas e, por meio de uma combinação de procedimentos de experimentação e análise lógica, verifica quais são verdadeiras e o que os dados permitem admitir como hipótese. É uma forma de pensamento hipotético-dedutivo que consiste em tirar consequências de situações abstratas, não mais apenas de extensões do real, mas de hipóteses elaboradas mentalmente: Finalmente, com o pensamento formal ocorre uma inversão de sentido entre o real e o possível. Em vez de o possível se manifestar simplesmente sob a forma de um prolongamento do real ou das ações executadas na realidade, é ao contrário, o real que se subordina ao possível [...] (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976, p. 189). Outra característica do período formal, descrita por Inhelder e Piaget ([1976], 1976), corresponde à lógica das proposições (classes e relações), usada para referenciar elementos verbais e não mais diretamente os objetos. Os dados rudimentares da realidade passam a ser afirmações–proposições. Novas possibilidades operatórias são estabelecidas por disjunções, implicações, exclusões etc., até a construção da lógica de todas as combinações possíveis. Tem-se também, nesse momento do desenvolvimento a constituição de um sistema de 44 operação, elevada à segunda potência e a utilização de procedimento combinatório. Nesse sentido, essa fase é considerada por Piaget ([1970], 2012), uma fase de abertura para todos os possíveis, é o nível mais evoluído de estruturação cognitiva, onde o sujeito adquire instrumentos intelectuais novos e mais poderosos como a capacidade de pensar sobre o próprio pensamento: É este poder de fazer operações sobre operações que permite ao conhecimento ultrapassar o real e que lhe abre a via indefinida dos possíveis por meio da combinatória, libertando-se então das elaborações por aproximações às quais permanecem submetidas às operações concretas (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976, p. 28). O pensamento formal opera em segunda, terceira e enésima potência, por meio das relações das relações e das coordenações das coordenações das ações envolvidas na lógica das proposições. A construção da combinatória abrange essa totalidade, sendo ela própria operação de segunda potência: “as permutações são seriações de seriações, as combinações são multiplicações de multiplicações, etc.” (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976, p. 190). Esta nova forma de estruturação do pensamento supõe a formação de “operações combinatórias, proporções, sistemas duplos de referência, esquemas de equilíbrio mecânico (igualdade entre ação e reação), probabilidades multiplicativas, correlações, etc.” (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976, p. 190). Pensando assim, a inteligência alcança um nível no plano das relações, portanto: [...] para conceber o possível, o pensamento formal é obrigado a dispor, em cada situação específica, de uma grande amplitude de operações virtuais que ultrapassam o domínio das operações momentaneamente utilizadas [...] constituem uma condição necessária de equilíbrio compatível com as ligações do sistema (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976, p. 193). No pensamento formal, os fatos não são explicados e admitidos como fatos, senão depois de verificação ao conjunto de hipóteses compatíveis. A dedução não se refere a realidades percebidas, mas a proposições e suposições, independente do caráter real e possível: É esta inversão de sentido entre o real e o possível que, mais que qualquer outra propriedade subseqüente, caracteriza o pensamento formal: em vez de apenas introduzir um início de necessidade no real, como ocorre nas inferências concretas, realiza desde o início a síntese entre o possível e o necessário, deduzindo com rigor as conclusões de premissas, cuja verdade 45 inicialmente é admitida apenas por hipótese, e, assim, vai do possível para o real (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976, p. 189). Do ponto de vista do desenvolvimento genético, conforme Dolle (1987) é chegado o nível de acabamento da inteligência. O indivíduo adquire capacidade de realizar operações mentais que seguem os princípios da lógica formal, que dará riqueza de conteúdo e flexibilidade de pensamento, temos, pois, a passagem da lógica indutiva para a lógica dedutiva. Corroborando este ponto de vista, Delval (1998, p. 124) afirma que “a característica desse período é uma gigantesca ampliação das possibilidades de resolução de problemas”. O sujeito, com progressos de caráter dedutível da experiência, serve-se de todos os dados disponíveis, construindo sistemas teóricos complexos. Conforme Inhelder e Piaget ([1976], 1976), nesse período, adquire-se independência em relação ao concreto, e o indivíduo liberta-se do atual e se orienta para o não-atual e para o futuro, adquirindo a capacidade de raciocinar proposicionalmente: “[...] as operações lógicas começam a ser transpostas do plano da manipulação concreta para o das idéias, expressas em linguagem qualquer, mas sem apoio da percepção, da experiência, nem mesmo da crença” (PIAGET, [1972], 1980b, p. 63). Todo esse processo leva a uma reflexão sobre o próprio pensamento, buscando justificativas lógicas para seus julgamentos, o que o levará à construção de autonomia e identidade. A pessoa usa o raciocínio científico e princípios da lógica, traço característico nesse período: A partir de agora os fatos são concebidos como o setor das realizações efetivas no meio de um universo de transformações possíveis, pois não são explicados, e nem admitidos como fatos, senão depois de uma verificação que se refere ao conjunto das hipóteses compatíveis com a situação dada (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976, p. 189). Superpõe-se uma nova lógica – a das proposições – à das classes e relações que se referem aos objetos. A lógica das proposições manifesta-se em formas mais características de situações experimentais como, por exemplo, diante de problemas puramente verbais (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976). Essas situações experimentais possibilitam o pensamento do possível e não limitado à estruturação direta do percebido, numa lógica de combinações possível de pensamento, tanto em nível experimental como verbal. Nesse período, o sujeito adquire capacidades como a compreensão de metáforas e analogias, pensar em termos de lógica, abstrações, lidar com previsões, antecipações; passa a considerar um conjunto de possibilidades, construindo sistemas e teorias, confiadas apenas 46 na necessidade de raciocinar. Essa inteligência para Inhelder e Piaget ([1976], 1976), pode ser entendida nos seus agrupamentos mais complexos em que a capacidade de se desprender do real possibilita ao pensamento trabalhar por hipóteses e proposições, regidas por uma combinatória (reticulado ou rede) ou por um conjunto de transformações (grupo INRC). O pensamento formal com raízes nas operações concretas tem propriedades de grupo e de reticulado que permitem o emprego das 16 operações proposicionais binárias, além de outras ternárias ou superiores, assim como a estruturação esporádica de noções e esquemas organizados por operações precedentes. Para Flavell, Miller e Miller (1999, p. 220), o adolescente, perante situações problemáticas, “[...] comprova a existência de uma estrutura cognitiva com as propriedades de um grupo de quatro transformações - um grupo matemático cujos elementos consistem de quatro transformações”. Este grupo pode ter, no raciocínio adolescente, várias realizações concretas ou diferentes sistemas que exemplificam suas propriedades relacionadas com a cognição, sendo que uma delas se refere diretamente às operações proposicionais. A estrutura é dotada de um método exaustivo, englobando todas as possibilidades, inclusive as inversões e reciprocidades, compostas em um sistema único, isto é, cada operação aparece ao mesmo tempo como a inversa de outra e a recíproca de uma terceira, o que constitui um grupo cumulativo, ou seja, as quatro transformações do grupo INRC, em que “de cada proposição (I) pode-se tirar sua inversa (N) e sua recíproca (R) e a recíproca da inversa (C) e ainda voltar à mesma posição (I), sem perder as referências do raciocínio” (FRANCO, 1998, p.44). Esse grupo das quatro transformações, sob a operação de multiplicação ou de combinação, é explicado também por Flavell, Miller e Miller (1999, p. 220): 1. Identidade (I) é uma alteração “nula” que não altera em nada a proposição sobre a qual incide. 2. Negação (N) é uma transformação que modifica tudo na proposição sobre a qual incide, ou seja, todas as afirmações transformam-se em negação e vice – versa. Todas as conjunções tornam-se disjunções e vice-versa 3. Reciprocidade(R), transformação que permite as conjunções e disjunções, mas não altera as afirmações e negações. 4. Correlatividade (C) que permuta as conjunções e disjunções, mas não altera as afirmações e negações. Uma realização de grupo de quatro transformações refere-se diretamente às operações proposicionais em que uma determinada operação proposicional pode ser 47 transformada numa operação diferente de várias maneiras, denominado grupo físico INRC. A segunda realização refere-se às transformações que ocorrem dentro de sistemas físicos e não às transformações de proposições em si, referido como grupo lógico INRC. Assim, o pensamento apresenta uma independência dos mecanismos formais e dos conteúdos, substituindo os objetos ausentes pela representação, equivalendo ao real. O trabalho mental requerido, nesse momento, é maior, se comparado ao período anterior. O pensamento formal executa as operações em pensamento, como também reflete estas operações independentes dos objetos e as substitui por proposições numa representação de ações possíveis. Conforme Flavell, Miller e Miller (1999, p. 221), “as exigências da composição, a multiplicação de duas ou mais destas quatro transformações equivale (produz o mesmo resultado) à aplicação isolada de qualquer uma delas”. A relação destes grupos, isolados e em conjunto com o pensamento adolescente, pode ser explicada pelo fato de o grupo geral INRC ser um modelo de cognição adolescente, no mesmo sentido de que o reticulado, assim como o agrupamento é um modelo de cognição da criança pequena, baseado nos resultados dos experimentos evolutivos. Os esquemas operatórios com estrutura formal, identificados por Inhelder e Piaget ([1976], 1976) são as operações combinatórias; proporções; coordenação de dois sistemas de referência e a relatividade dos movimentos e das velocidades; noção de equilíbrio mecânico; noção de probabilidade; noção de correlação; compensações multiplicativas; formas de compensação que ultrapassam a experiência. Posteriormente a esse estágio, o desenvolvimento consistirá uma ampliação em extensão e profundidade e não mais de aquisição de novos modos de funcionamento mental. 2.4 A Abstração Reflexionante e a Tomada de Consciência A construção do conhecimento implica na condição de um processo de abstração mediante os desequilíbrios que surgem e a necessidade de superá-los pelo uso de estruturas mentais e reorganização de elementos de construções anteriores. Assim, Piaget et al. ([1977], 1995), atribuem ao mecanismo da abstração reflexionante papel essencial nesse processo, pois esse pode ser considerado o motor do desenvolvimento. Piaget et al. ([1977], 1995) concebiam o conhecimento como uma construção que é explicada por meio do processo de abstração reflexionante que, conforme Becker (2001), 48 comporta o reflexionamento e a reflexão, como aspectos inseparáveis. Para Becker (2001), a abstração é uma palavra latina que significa retirar, arrancar, extrair algo de algo, ou seja, algumas características que o esquema de assimilação possibilita retirar como síntese das experiências anteriores e nunca a totalidade. Assim, o conhecimento é concebido como uma construção que ocorre por meio de um processo de abstração que permite a construção de novas estruturas. Conforme Piaget et al. ([1977], 1995), temos dois tipos de abstração: a abstração empírica e a abstração reflexionante; o autor complementa, ainda, que a abstração reflexionante pode ser também uma abstração pseudo-empírica ou uma abstração refletida que vão ocorrer conforme o tipo de trabalho cognitivo realizado pelo sujeito. A abstração empírica, decorrente da experiência física, apoia-se sobre as propriedades observáveis dos objetos ou sobre aspectos materiais das ações. Nesse tipo de abstração, as propriedades dos objetos existem antes de qualquer constatação. É entendida como a ação de retirar características e qualidades dos objetos, presentes nestes antes mesmo das ações do sujeito. Essa abstração “[...] busca atingir o dado que lhe é exterior, isto é, visa a um conteúdo em que os esquemas se limitam a enquadrar formas que possibilitarão captar tal conteúdo [...]” (PIAGET at el., [1977], 1995, p. 5). A abstração empírica, como uma experiência física, resulta da ação real ou representada que a interação do sujeito com os objetos possibilita. Neste sentido, não se resume a uma simples leitura de características físicas dos objetos e depende do uso de esquemas construídos anteriormente para abstrair destes as suas propriedades. É necessário o uso de instrumentos de assimilação, que se originam de esquemas sensórios-motores ou conceituais construídos pelo sujeito. A abstração reflexionante, por sua vez, decorre da experiência lógico-matemática e se origina e se apoia nas coordenações das ações ou operações cognitivas que o sujeito exerce sobre os objetos como a construção de esquemas, coordenações de ações, operações para retirar o necessário para outras finalidades: “[...] é fonte contínua de novidades porque atinge novas reflexões sobre cada um dos planos sucessivos do reflexionamento” (PIAGET, et al., [1977], 1995, p. 205). É um processo de formação de estruturas cognitivas, pela reorganização de elementos retirados e por estruturas construídas, constituindo o saber-fazer que o sujeito possui. Neste sentido, a abstração reflexionante é uma “sucessão interminável de construções e desconstruções” (PIAGET, et al., [1977], 1995, p. 136), reconstruindo o que já se fez. 49 Referindo-se à relação entre a abstração empírica e a reflexionante, Piaget et al., ([1977], 1995, p. 278) explica: A abstração empírica [...] se limita a acolher, dentre os observáveis perceptíveis, aqueles que respondem a uma dada questão, ao passo que a abstração reflexionante comporta uma atividade contínua, que pode permanecer inconsciente, a começar pelas coordenações sobre as quais ela influi, mas cujas realizações atingem, a partir de um certo nível, tomadas de consciência complexas. A abstração reflexionante tem como suporte a abstração empírica que a subsidia na obtenção de dados que se deseja conhecer dentro do que é observável; esta abstração encarrega-se de eliminar as contradições por meio da reorganização. Deste ponto de vista, a abstração empírica fornece os dados e a abstração reflexionante é estruturante. Por meio da abstração reflexionante, o sujeito estabelece relação com o objeto como comparar, quantificar etc., processando, pela experiência física ou matemática, a aprendizagem. A modificação do objeto pelas ações e o seu enriquecimento por propriedades retiradas das coordenações dessas ações são realizados por meio da chamada abstração pseudo-empírica: “Trata-se aqui de um caso particular de abstração reflexionante” (PIAGET et al., [1977], 1995, p. 274): Trata-se, portanto, de uma experiência “lógico-matemática” que dá lugar a um novo saber por abstração reflexionante. Entretanto, e isso é próprio da abstração pseudo-empírica, os objetos da realidade constituíram um suporte necessário às atividades do sujeito (MONTANGERO; NAVILLE, 1998, p. 94). Ao resultado de uma abstração reflexionante, quando se torna consciente, chama-se abstração “refletida”. A abstração reflexionante consiste em dois momentos: o reflexionamento e a reflexão. O reflexionamento tem o sentido de projetar, transpor a um patamar superior o que é colhido do precedente; abstrai o significado, elevando-o a um nível superior. A reflexão é a reconstrução mental do conhecimento já projetado, dando (re)significação do conhecimento abstraído anteriormente. Esse processo possibilita novas coordenações e a construção de estruturas novas, num processo denominado de reflexionamento: 50 [...] nos níveis superiores, quando a reflexão é obra do pensamento, faz-se necessário distinguir também seu processo enquanto construção de sua temática retroativa, que se torna, então, uma reflexão sobre a reflexão: falaremos neste caso de “abstração refletida” (réfléchie) ou de pensamento reflexivo (réflexive) (PIAGET, et al., [1977], 1995, p. 6). Na abstração reflexionante, a construção e reflexão atuam juntas por um processo de tomada de consciência, ou seja, a abstração refletida é o resultado de uma abstração reflexionante que se tornou consciente. Em função da existência de tomada de consciência, essa abstração é denominada refletida. Quando uma abstração reflexionante torna-se consciente, esta é uma abstração refletida, pois consiste na tomada de consciência, tornando possível a constituição de sistemas lógico-matemáticos de cunho científico. A maior parte dos conceitos lógicos e matemáticos deriva das abstrações reflexionantes, nas quais a abstração empírica leva a constatação e a reflexionante leva a compreensão e conceituação; assim ambas (empírica e reflexionante) se complementam. A abstração reflexionante realiza generalizações construtivas e se apoia sobre as operações, produzindo novas organizações estruturais; elabora sistemas, manifestando-se em compreensão, pois as estruturas de ordem superior apresentarão propriedades novas (PIAGET et.al., [1977], 1995). A compreensão dos mecanismos de constituição do conhecimento equivale à compreensão dos mecanismos envolvidos na formação do pensamento lógico-matemático, retirado da experiência, com base nas ações do sujeito sobre os objetos e da coordenação destas ações. Conforme Becker (2003, p. 38), “Trata-se, portanto, de uma ação de segunda potência”, cujo estabelecimento de relação é considerado por Piaget et al., ([1977], 1995) o cerne do pensamento proposicional. Piaget ([1977], 1995, p. 28) corrobora tal ponto de vista, ao definir que: Toda esta evolução é dirigida por uma lei de equilíbrio entre as diferenciações e as integrações, resultando as primeiras do processo de “reflexionamento”, próprio das abstrações reflexionantes, que retira de um nível inferior certas ligações, empregadas implicitamente ou simplesmente implicadas, mas não notadas para as transformar em pensamento no nível ulterior. As segundas resultam, então, da reflexão ou reorganização necessária, sobre o novo plano, do sistema assim enriquecido pela introdução destes objetos de pensamento não considerados até então. Esta “reflexão”, segundo aspecto da abstração reflexionante, é, então, necessariamente generalizadora. [...] Não se trata, portanto, somente de relações indissociáveis da abstração e da generalização que determinam os dois pólos do processo de equilibração, mas, de modo mais geral, dos pólos da diferenciação e da integração. 51 No processo de abstração reflexionante, existe inter-relação entre dois movimentos ou componentes indissociáveis: o “reflexionamento”, que projeta o que tem significado para um patamar ou nível superior àquilo que foi retirado de patamar inferior ou nível precedente; e a reflexão, “[...] ato mental de reconstrução e reorganização sobre o patamar superior daquilo que foi assim transferido do inferior” (PIAGET et al., [1977], 1995, p. 274), de maneira que a reflexão é a reconstrução ou reorganização cognitiva (consciente ou inconsciente) em um novo plano realizado da apropriação anterior, daquilo que foi assim transferido. A abstração dá origem a essa sucessão de níveis hierárquicos por meio de interações alternadas de reflexionamento, mas em relação tão íntima como o refinamento das relações, que se constitui um só e mesmo mecanismo de conjunto. O reflexionamento e reflexão formam patamares sucessivos de forma qualitativa e de grau, com reflexões sobre reflexões precedentes de pensamento, constituindo sistemas lógico-matemáticos. Este processo contínuo possibilita novas reflexões sobre planos sucessivos de reflexionamento: “Cada ato de abstração reflexionante comporta o deslocamento e a utilização de coordenações já em ação no ponto de partida, mas com acréscimo de novas características resultantes de uma construção, sob este aspecto, criadora” (PIAGET et al., [1977], 1995, p. 282). A abstração reflexionante apoia-se sobre todas as atividades cognitivas do sujeito para delas retirar novos caracteres e utilizá-los para outras finalidades: [...] todo reflexionamento de conteúdos (observáveis) supõe a intervenção de uma forma (reflexão), e os conteúdos assim transferidos exigem a construção de novas formas devido à reflexão. Há, assim, pois, uma alternância ininterrupta de reflexionamentos→ reflexõ es→ reflexionamentos; e (ou) de conteúdos→ formas→ conteúdos reelaborados→ novas formas, etc., de domínios cada vez mais amplos, sem fim e, sobretudo, sem começo absoluto (PIAGET et al., [1977], 1995, p. 276). A abstração reflexionante permite compreender o processo do pensamento como produto de abstrações refletidas precedentes de formulação consciente. São reorganizações mentais progressivas, aprimorando o conhecimento. Essa tomada de consciência pode ocorrer em diversos níveis, visto que sempre que há tomada de consciência, trata-se de uma variedade de abstração reflexionante a qual Piaget et.al. ([1977], 1995) denominam abstração refletida: “Nesse caso, a reflexão consiste nessa tomada de consciência e em uma possibilidade de formulação - na verdade, de formalização” (MONTANGERO; NAVIELLE, 1998, p. 94). 52 O conhecimento, para Piaget et. al. ([1977], 1995), constitui-se em função das ações do sujeito, das coordenações de ações e tomadas de consciência que representam a apropriação dos sujeitos das ações próprias. Gera significados à medida que se apropria daquilo que fez, modificando sua estrutura e possibilitando a apreensão de conteúdos novos. O sujeito estrutura a “realidade”, ou seja, seus objetos de conhecimento, à medida que estrutura primeiramente as próprias ações e, a partir delas, suas conceituações. Na tomada de consciência, a conceituação passa, decididamente, a determinadas ações que não constituem uma simples leitura, mas, sim, “[...] uma reconstrução, e que induz características novas sob a forma de ligações lógicas, com estabelecimento de conexão a compreensão e as extensões” (PIAGET, [1973], 1978c, p. 208): O estudo das relações entre saber-fazer e conceituação (ou ação e pensamento) confirma que a ação é uma forma de conhecimento autônomo, que pode se organizar sem tomada de consciência dos meios empregados. A conceituação apresenta, assim, retardo sobre a ação e se faz por uma reconstrução por vezes laboriosa, no plano do pensamento, do que foi realizado no plano da ação. A tomada de consciência não consiste, portanto, em iluminar o que escapava à consciência, mas antes em uma reconstrução cujos resultados acabam por serem superiores ao conhecimento em ação. A partir de um certo nível (Piaget menciona as idades de 11-12 anos), e para as ações complexas, é a conceituação que dirige e programa as ações (MONTANGERO; NAVILLE, 1998, p. 73). A tomada de consciência é o processo pelo qual o sujeito passa a compreender suas ações, ou ainda, as causas e os efeitos de tais ações; ocorre pela apropriação dos mecanismos da própria ação, em sucessivas e progressivas coordenações de ações do sujeito; evolui de forma gradativa, buscando esquemas (tomando-os como conteúdo) e aplicando-os em novas situações (utilizando novas formas). Enquanto a tomada de consciência orienta-se para os mecanismos centrais da ação do sujeito, o conhecimento do objeto orienta-se para suas propriedades intrínsecas: O que desencadeia a tomada de consciência é o fato das regulações automáticas (por correções parciais, negativas ou positivas, de meios já em atuação) não serem mais suficientes e ser preciso, então, procurar novos meios mediante uma regulação mais ativa e, em conseqüência, fonte de escolhas deliberadas, o que supõe a consciência. A tomada de consciência não ocorre apenas por ocasião das inadaptações. Ela procede da periferia para o centro. Definimos a periferia pela reação mais imediata e exterior do sujeito em face do objeto: utilizá-lo em conformidade com um objetivo (o que, para o observador, equivale a assimilar esse objeto a um esquema anterior) e anotar o resultado obtido (PIAGET, [1974], 1977a, p. 198). 53 A tomada de consciência, conforme Piaget ([1974], 1977a), é o resultado de um processo construtivo, baseado no repensar sobre o próprio pensamento, sobre as ações efetuadas e relações estabelecidas. Ela reverte em uma nova construção de conceitos, construídos a partir de significados. Dessa forma, desenvolve-se mediante regulações das mais simples às mais complexas, até atingir a autorregulação a qual se caracteriza pela consciência dos meio que levam à realização de uma ação ou operação. É entendida como uma construção decorrente das relações com os objetos, sendo vista como “[...] passagem de uma assimilação prática (assimilação do objeto a um esquema) a uma assimilação de conceitos” (PIAGET, [1974], 1977a, p.200). Neste sentido, para Piaget ([1974], 1977a), o processo de tomada de consciência desenvolve-se de forma sucessiva e hierárquica em três níveis. O primeiro nível corresponde diretamente à ação material, que, apesar de constituir um saber elaborado, ainda não tem conceituação. Nesse nível, o sujeito interage com os objetos, registrando os observáveis como resultados exteriores da ação por abstração reflexionante. O segundo nível já de conceituação possibilita retirar, mediante a tomada de consciência, elementos da ação, acrescentando elementos novos ao conceito. Ocorre o desenvolvimento material da ação com a tomada de consciência das coordenações internas das ações, possibilitando o conhecimento das propriedades menos imediatas dos objetos, resultante da abstração reflexionante. O terceiro nível, o das operações formais, é considerado o das abstrações refletidas, que cresce em importância. O processo de abstração refletida está conectado aos processos de tomada de consciência, de fazer e compreender, bem como de generalização construtiva. A tomada de consciência, por meio de uma ação ou operação concreta, possibilita, mediante reflexão, projetar em um novo plano decorrente do precedente, generalizando e superando as estruturas anteriores. A tomada de consciência das coordenações internas das ações possibilita o conhecimento das propriedades menos imediatas dos objetos, resultantes dos processos de abstração reflexionente. Dessa forma, Piaget ([1974], 1977a, p. 204) afirma que “o mecanismo da tomada de consciência é um processo de conceituação que reconstrói e depois ultrapassa, no plano da semiotização e da representação, o que era adquirido no plano dos esquemas de ação”. Para Piaget ([1974], 1977a), a tomada de consciência é atividade de reconstrução com uma assimilação excepcionalmente nova que pode gerar ou não conflito, dependendo das coordenações exigidas, requerendo ou não a correção de um esquema anterior. Ela não ocorre de forma abrupta, demanda construções e reconstruções que podem garantir conservação e mudança na estrutura cognitiva do sujeito. O nível de consciência alcança seu 54 grau mais elevado atingindo a conceituação. Tomar consciência, portanto, é transformar um esquema em conceito, de idéias explicitadas e reconstruir no plano das representações o que foi realizado no plano das ações, organizar no plano do discurso o que assimila na ação. Da mesma forma que o conhecimento está condicionado à tomada de consciência que permite reconstruir o fazer em um novo patamar, a abstração refletida possibilita a construção dos conceitos matemáticos. A compreensão depende desta maneira, das ações físicas e dos reflexionamentos. A aprendizagem é compreendida como um processo de construção do aluno e que se efetiva por meio de uma prática ativa, desafiadora e propulsora de aprendizagem, possibilitando a construção do conhecimento lógico-matemático, ou seja, da abstração reflexionante. 2.5 Aprendizagem e a matemática Segundo Piaget ([1964], 1980b), a aprendizagem é um processo que ocorre por meio da acomodação das estruturas de pensamento, portanto a capacidade de aprender reside nessa construção de estruturas que “não são dadas nos objetos, pois dependem de uma ação, e nem no sujeito, pois o sujeito deve aprender como coordenar suas ações (PIAGET, [1969], 1980b, p. 73). Nesse processo, existe uma busca em assimilar o objeto a ser conhecido e a acomodação da capacidade assimiladora. Assim, a inteligência, para Piaget ([1969], 1980b), não é entendida como a faculdade de saber, mas como conjunto de estruturas momentaneamente adaptadas e, de acordo com este autor, “toda inteligência é uma adaptação” (PIAGET, [1969], 1998, p. 162), uma vez que se relaciona com a aquisição de conhecimento à medida que assume sua função de estruturar as interações sujeito-objeto. Tais asserções orientam que a inteligência deve ser compreendida como algo que pode ser construído e que não pode ser concebido como saber e modelo acabado, pronto e incontestável, sem espaço para construção de conhecimento. Demo (2004) ressalta que é preciso entender que a aprendizagem é um processo reconstrutivo, que ocorre de dentro para fora, mas desencadeado por fatores externos e internos, por meio do qual cada ser vivo se comunica e se informa em contato com a realidade e faz disso uma ideia reconstruída. Somos, por consequência, biológica e culturalmente capazes de perceber e reconstruir a realidade de formas diferentes. 55 Na obra, Aprendizagem e Conhecimento, Piaget e Greco ([1959], 1974, p. 54) atribuem duas definições ao termo aprendizagem: no sentido restrito (s.str.) e no sentido amplo (s.lat.). A aprendizagem no sentido restrito (s.str.) é adquirida em função da experiência de forma mediata, de forma física e lógico-matemática. No sentido amplo, (s.lat.) é definida como a união das aprendizagens, adquirida pela experiência de forma mediata, mas ocorrendo ao mesmo tempo o processo de autorregulação: “[...] a união das aprendizagens s.str. e desses processos de equilibração”. A aprendizagem para Piaget e Greco ([1959], 1974) está subordinada ao desenvolvimento, como um processo espontâneo ligado ao processo global da embriogênese. Ela é responsável pelo desenvolvimento do corpo, do sistema nervoso e das funções mentais, de contexto geral biológico e psicológico, relacionado com a totalidade de estruturas do conhecimento, que só termina na vida adulta. Desta forma, as aprendizagens necessitam e requerem a coordenação de ações, uma vez que apenas a experiência física é insuficiente para a aquisição de estruturas operacionais, pois requer a intervenção de uma atividade lógicomatemática, baseada na coordenação de esquemas e de ações e não apenas na simples leitura das propriedades físicas dos objetos. Piaget e Greco ([1959], 1974) consideram que nem todo resultado adquirido pela experiência constitui aprendizagem e esclarece o entendimento do termo: “reservar o termo aprendizagem a uma aquisição em função da experiência, mas se desenvolvendo no tempo, quer dizer, mediata e não imediata como a percepção ou a compreensão instantânea” (PIAGET; GRECO, [1959], 1974, p. 53). A experiência, entretanto, não garante que o resultado se constitua em aprendizagem. Quanto a este aspecto, podemos entender que Piaget e Greco (1974), ao se referirem à inteligência e a sua evolução, declaram que ela não se esgota na experiência mediata, mas que, com o processo de equilibração, assume a dimensão do próprio desenvolvimento da estrutura cognitiva, atingindo, assim, o crescimento biológico e intelectual do indivíduo. Por este aspecto, o ponto essencial desta teoria, é de que o conhecimento resulta de interações entre sujeito e objeto e que estas interações são mais ricas do que aquilo que os objetos podem fornecer por eles mesmos (PIAGET; GRECO, [1959], 1974). Desta forma, evidencia que o conhecimento não ocorre pelas informações que os objetos têm, mas pela ação do sujeito sobre essas informações, transformando-as em conhecimentos; nessa relação sujeito e objeto processa-se a construção do saber. Considerando-se que a compreensão e o conhecimento estão relacionados à 56 assimilação de dados e às estruturas intelectuais, Assis (2012) argumenta que, para aprender noções matemáticas, mesmo as elementares, dependemos consequentemente da formação de estruturas mentais que possibilitem adquirir essas noções e operações. Logo, a assimilação sem as estruturas lógicas adequadas comprometerá o desempenho e pode ser considerado um fator que explica a grande dificuldade dos alunos em matemática: [...] a aprendizagem dos conceitos matemáticos escolares depende das estruturas cognitivas que o aluno possui. Sendo assim, não há compreensão se os conteúdos programáticos, não puderem ser assimilados pelos alunos, pois não correspondem às estruturas cognitivas de que ele dispõe (ASSIS, 2012, p.188). Piaget ([1969], 1998) também se dedicou a estudar as dificuldades comuns das crianças em matemática: De maneira geral, existe uma impossibilidade para a criança, antes de cerca de 10 anos, de compreender a natureza hipotético-dedutiva e não empírica da verdade matemática: podemos, portanto, espantar-nos de que a pedagogia clássica suponha sob este ponto de vista, aos alunos, uma maneira de raciocinar que os gregos conquistaram com grande esforço depois de séculos de aritmética e de geometria empírica. Por outro lado, as análises que pudemos fazer de certos raciocínios simplesmente verbais mostram igualmente a dificuldade de raciocínio formal antes dos 10-11 anos (PIAGET, [1969], 1998, p. 167). As palavras dessa citação de Piaget ([1969], 1998) confirmam que o conhecimento matemático vai além da simples compreensão do que é o número e o cálculo, pois, de acordo com este autor, a matemática é um “sistema de construções que se apóiam igualmente, nos pontos de partida das coordenações das ações e das operações do sujeito, e procedendo por uma sucessão de abstrações reflexionantes de níveis cada vez mais elevados” (PIAGET et al. [1967], 1980a, p. 339). Considerando esta asserção, compreender a matemática implica “buscar as conexões entre as estruturas matemáticas nascentes e operatórias do sujeito” (PIAGET et al., [1967], 1980a, p. 338). Cardoso (2003) corrobora o ponto de vista piagetiano, referindo-se às dificuldades em matemática e cita fatores interferentes, relacionados ao período pré-operatório: [...] da introdução da matemática formal bem antes da criança atingir a fase de abstração, ou seja, da capacidade de operar exclusivamente com símbolos. A carência conceptual dos objetos matemáticos, principalmente os relacionados com a álgebra formal, a descontextualização dos conteúdos, são algumas das barreiras encontradas no processo ensino-aprendizagem na 57 matemática, na maioria das vezes, descontextualizado, sem significação alguma para a criança (CARDOSO, 2003, p. 14) A Epistemologia Genética, no entanto, oferece-nos subsídios para perceber a matemática como ciência acessível a todos, acrescentando que, para Piaget ([1948], 1984, p. 14), os fracassos escolares na área da matemática ocorrem devido à “passagem muito rápida do qualitativo (lógico) para o quantitativo (numérico)”. Este autor, já na década de 50, ao se referir ao ensino da "Matemática Moderna", já advertia prejuízos dessa prática: [...] embora seja “moderno” o conteúdo ensinado, a maneira de o apresentar permanece às vezes arcaica do ponto de vista psicológico, enquanto fundamentada na simples transmissão de conhecimentos, mesmo que se tente adotar (e bastante precocemente, do ponto de vista da maneira de raciocinar dos alunos) uma forma axiomática (...). Uma coisa, porém, é inventar na ação e assim aplicar praticamente certas operações; outra é tomar consciência das mesmas para delas extrair um conhecimento reflexivo e, sobretudo teórico, de tal forma que nem os alunos, nem os professores cheguem a suspeitar de que o conteúdo do ensino ministrado se pudesse apoiar em qualquer tipo de estruturas naturais (PIAGET, [1948], 1984, p. 16 e17). Com relação às dificuldades de aprendizagem em Matemática, muitos estudos e pesquisas já têm sido realizados a fim de apresentar estratégias e propostas de ensino que utilizem tendências da Educação Matemática, bem como alternativas para repensar o problema da aprendizagem dos alunos nas disciplinas relacionadas ao cálculo. O ensino da matemática tem assumido papel de destaque, confirmado pela problemática que envolve a aprendizagem desta ciência. Conforme Igliori (2009, p. 12), “é fato indiscutível que é alto o percentual de estudantes de nível superior cujo desempenho na aprendizagem da Matemática, em especial de cálculo, tem deixado muito a desejar”. Essa problemática de aprendizagem na disciplina de Cálculo Diferencial Integral incorre em altos índices, comprovados pelas estatísticas de diversas Universidades, de reprovação e desistências, muitas vezes relacionadas à falta de conhecimento da matemática básica. A carência de conteúdos em matemática elementar contribui para as dificuldades e para a não compreensão dos conceitos; segundo Lopes (1999), para o estudante aprender os diversos métodos abordados no cálculo, é necessário que ele tenha alguns conhecimentos e conceitos matemáticos básicos anteriores, pois o conhecimento matemático é em camadas que se superpõem e requer, assim como a física, a utilização de certo tipo de raciocínio elaborado que permite o desenvolvimento de habilidades de resolver problemas de maneira criativa. Para isso, fazem-se necessários bons métodos de ensino. 58 Nasser (2009, p. 47) expressa assertivamente a problemática que envolve os alunos: “Parece que os alunos chegam à Universidade com preguiça de raciocinar e que foram acostumados apenas a aplicar algoritmos e fórmulas decoradas, sem saberem bem o que estão fazendo e por que adotam determinado procedimento”. Comprova-se, assim, em todos os âmbitos escolares, o porquê da dificuldade que os alunos apresentam na transposição dos conceitos aprendidos a problemas do mundo real, ou seja, o ensino prevalece como expositivo e memorístico, sem nenhuma relação entre a teoria e a prática. Dessa forma, a dificuldade de aprendizagem na disciplina de Cálculo Diferencial Integral está relacionada a uma prática predominante da visão mecanicista do ensino básico e às dificuldades de natureza epistemológica, na introdução dos primeiros conceitos abstratos. Conforme Lopes (1999) existe a tendência nas áreas da ciência de uma matematização de leis, regras e princípios, quantificados como forma de expressão determinística ou estatística dos fenômenos que se deseja analisar; tendência esta que também sofre influências da forma tradicional de ensino com que os conteúdos são abordados pela maioria dos docentes. Da perspectiva de um processo de ensino-aprendizagem significativo e da produção de conhecimento, é necessário que se estabeleça ao aluno um sistema de relações entre a prática vivenciada e a construção e estruturação do vivido, sendo necessário, para isso, desencadear um processo de ensino que valorize o “fazer matemático”, ou seja, o fazer com compreensão. A matemática tem sido uma disciplina difícil de ser ensinada e de ser aprendida em virtude das exigências cognitivas que desencadeia, da demanda de necessidades de atenção, memória e prática continuadas. Segundo Becker (1998), decompor o raciocínio matemático revela os componentes do próprio pensamento e, portanto, transcende a compreensão do que é o número e o cálculo. A sua aplicação em contextos diferentes daqueles em que foram adquiridos exige domínio de conceitos, flexibilidade de raciocínio, capacidade de análise e abstração, ou seja, capacidades necessárias em todas as áreas de estudo. Faz-se necessário, assim, uma aprendizagem significativa, estabelecendo relações entre conteúdo, método e processos cognitivos, o que requer que o professor, além do domínio da matéria e do mapeamento conceitual do conteúdo, identifique as modalidades de recursos cognitivos que sejam manifestadas nas atividades. As dificuldades com a matemática têm sido motivo de preocupação para profissionais das mais diversas áreas educacionais, e várias pesquisas são desenvolvidas, buscando-se alternativas para as dificuldades que podem ser atribuídas a diversos fatores relacionados como, por exemplo, ao professor (metodologias e práticas pedagógicas); ao 59 aluno (causas orgânicas, psicológicas, comportamentais, emocionais); e a outros aspectos relacionados à escola e à família. Conforme Sanchez (2004), as dificuldades na matemática podem apresentar problemas de diversos âmbitos, tais como: 1. Dificuldades em relação ao desenvolvimento cognitivo e à construção da experiência matemática; do tipo da conquista de noções básicas e princípios numéricos, da conquista da numeração, quanto à prática das operações básicas, quanto à mecânica ou quanto à compreensão do significado das operações. Dificuldades na resolução de problemas, o que implica a compreensão do problema, compreensão e habilidade para analisar o problema e raciocinar matematicamente. 2. Dificuldades quanto às crenças, às atitudes, às expectativas e a fatores emocionais acerca da Matemática. 3. Dificuldades relativas à própria complexidade da Matemática, como seu alto nível de abstração e generalizações, a complexidade dos conceitos e de alguns algoritmos; a natureza lógica exata de seus processos; a linguagem e a terminologia utilizadas. 4. Podem ocorrer dificuldades mais intrínsecas, como bases neurológicas alteradas. Atrasos cognitivos generalizados ou específicos. Problemas lingüísticos que se manifestam na Matemática; dificuldades atencionais e motivacionais, dificuldades na memória, etc. 5. Dificuldade originada no ensino inadequado ou insuficiente seja porque a organização do mesmo não está bem seqüenciada, ou não se proporcionam elementos de motivação suficientes; seja porque os conteúdos não se ajustam às necessidades e ao nível de desenvolvimento do aluno, ou não estão adequados ao nível de abstração, ou não se treinam as habilidades prévias; seja porque a metodologia é muito pouco motivadora e muito pouco eficaz (SANCHEZ, 2004, p. 174-175). Lacaz et al. (2007), por sua vez, apresentam outros aspectos observados nos acadêmicos que cursam a disciplina de Cálculo Diferencial Integral: Não demonstram familiaridade no tratamento dos números reais e das funções elementares; não têm desenvolvidas estruturas cognitivas relacionadas à interpretação da linguagem matemática e à compreensão de conceitos que são estruturantes para o desenvolvimento de outros que surgirão ao longo do estudo universitário; revelam dificuldades de reflexão, investigação, exploração e principalmente de dedução; memorizam a técnica, o que é exigido para a aprovação no vestibular, mas não incorporam o significado dos conceitos, e sendo assim apresentam grandes dificuldades em se adaptar ao sistema de ensino universitário, resultando em grandes falhas no seu desempenho, principalmente na execução de tarefas mais abertas que venham a ser solicitadas pelos professores, como por exemplo, a resolução de problemas (LACAZ et al., 2007, p. 7). Não são novos os problemas, em todos os níveis, decorrentes do ensino da matemática; estes se apresentam de forma variada e com grau de complexidade distinta e difíceis de serem resolvidos. 60 Como disciplina obrigatória nos currículos escolares, a matemática tem o compromisso de desenvolver o raciocínio lógico, a capacidade de abstrair, generalizar, projetar etc., no entanto se constata no meio universitário, o ingresso de estudantes com deficiências na formação escolar anterior, ou seja, falhas quanto ao conhecimento de matemática do ensino básico as quais dificultam o acompanhamento das disciplinas iniciais, a exemplo do Cálculo Diferencial Integral - CDI, comprometendo e dificultando o acompanhamento das matérias que compõem os currículos básicos dos primeiros anos da formação do acadêmico. Assim, essas lacunas não superadas se multiplicam ao longo do curso, gerando outros problemas que comprometem a qualidade do profissional formado. Neste contexto, relatamos, na sequência, demais aspectos e preocupações com relação à aprendizagem de cálculo dos cursos de Engenharia. Com relação aos aspectos da aprendizagem na área da matemática e que envolvem professores, Cury (2001) observa que aqueles que lecionam disciplinas matemáticas em cursos da área de ciências exatas são, de modo geral, bacharéis ou licenciados em Matemática, com pós-graduação em Matemática pura ou aplicada; uns com mestrado e doutorado em educação ou em educação matemática. Apesar disso, o referido autor evidencia a pouca preocupação com a formação do professor dessa área em um ensino tradicional e descontextualizado, de aprendizado baseado na exercitação e memorização. Outros autores justificam as dificuldades pela concepção de ensino e aprendizagem dos professores, de modo que a matemática é concebida como um acúmulo de conhecimentos sistematicamente hierarquizados, reforçando um sistema didático conservador e conteudista. Neste sentido, fica difícil resgatar todos os conceitos necessários para o aprendizado da disciplina, especialmente diante de práticas pedagógicas tradicionais. A prática educativa tradicional, de visão fragmentada da realidade, não possibilita epistemologicamente a construção de estruturas cognitivas que levam ao conhecimento e possibilitam a aprendizagem, pois o aprendizado só se consolida se o estudante desempenhar papel ativo de construir o próprio conhecimento e experiência, com orientação e participação do professor. No que tange ao aprendizado dos alunos, Lacaz et al. (2007) observam dois paralelos distintos entre o que o aluno deveria ter aprendido até o final da educação básica com o que se espera que ele tenha aprendido ao chegar à Universidade: Sabemos da nossa experiência, que grande parte dos alunos inicia a disciplina com falhas quanto ao conhecimento de matemática do ensino básico. Não demonstram familiaridade no tratamento dos números reais e das funções elementares; não têm desenvolvidas estruturas cognitivas 61 relacionadas à interpretação da linguagem matemática e à compreensão de conceitos que são estruturantes para o desenvolvimento de outros que surgirão ao longo do estudo universitário; revelam dificuldades de reflexão, investigação, exploração e principalmente de dedução; memorizam a técnica, o que é exigido para a aprovação no vestibular, mas não incorporam o significado dos conceitos, e sendo assim apresentam grandes dificuldades em se adaptar ao sistema de ensino universitário, resultando em grandes falhas no seu desempenho, principalmente na execução de tarefas mais abertas que venham a ser solicitadas pelos professores, como por exemplo, a resolução de problemas (LACAZ et al., 2007, p. 7). Conforme Barbosa (2004) a dificuldade com essa disciplina está prioritariamente centrada no próprio aluno que vem imaturo e com deficiência de conhecimentos para a Universidade. Diante dessas falhas do Ensino Fundamental e Médio, torna-se difícil mudar o quadro de reprovação. Saravali (2005b) relata que uma explicação comum por parte dos universitários quanto ao problema de aprendizagem em cálculo é a falta que eles têm do domínio de certos conceitos fundamentais; no entanto, para além disso, existem outros aspectos que são colocados como interferentes como, por exemplo, características que requerem um tipo de raciocínio presente na estrutura operatório-formal: O pensamento operatório formal surge, desde logo, como condição necessária, embora não suficiente, para a elaboração dessas novas formas de pensamento e para a assimilação dos conhecimentos que estas permitem elaborar. Por outras palavras, para assimilar os conhecimentos científicos elaborados no decurso da sociogênese, é necessário dispor das estruturas próprias do pensamento operatório formal (LEGENDRE, 1998, p. 183). Conforme Saravali (2005a), várias pesquisas realizadas com universitários indicam que boa parte deles não se encontra ainda no nível formal, não tendo, portanto, estruturas para lidar com os conteúdos previstos no nível de ensino em que se encontram. Torna-se fundamental, desse modo, considerar as dificuldades por fatores cognitivos que, muitas vezes, passam despercebidas pelos educadores, seja por desconhecimento da psicologia do desenvolvimento e dos processos cognitivos, seja por não se perceber relação disso com a aprendizagem. Os conhecimentos científicos de Piaget fornecem fundamentos que permitem compreender o processo de construção do conhecimento e construir modelos aplicáveis que possibilitam, em qualquer ambiente e cultura, entender e explicar o funcionamento das estruturas mentais orgânicas e a lógica operatória. Analisando a dificuldade do ponto de vista cognitivo, Assis (2012) afirma que os acadêmicos recorrem à memorização dos conteúdos e ao consequente não desenvolvimento 62 do raciocínio. Por isso, a autora considera necessário adequar processos de ensino e atividades escolares ao nível de estruturação cognitiva e intelectual, bem como de conhecimentos anteriores, para o êxito no processo de aprendizagem, tendo em vista que o fracasso escolar em cálculo poderá estar relacionado à construção de estruturas do pensamento que possibilitam o domínio dos conceitos básicos que favoreçam o aprendizado. A atividade do sujeito com o objeto de conhecimento baseia-se no norteamento da construção do conhecimento, por isso, na aprendizagem, ocorre um processo operativo, que implica ação cognitiva e transformação do real, considerando-se a evolução mental e a disponibilidade de estruturas lógicas para compreensão, sendo que a disponibilidade desses instrumentos cognitivos é vista como condição para o aprendizado: O caráter abstrato dos estudos matemáticos surpreende o principiante nos primeiros contatos com o mundo das idéias e representações, desprovidos das particularidades das coisas materiais. Apesar de a matemática ser utilizada e estar presente na vida diária, exceto para quem já compartilha deste saber, as idéias e os procedimentos matemáticos parecem muito diferentes dos utilizados na experiência prática ou na vida diária (BICUDO, 1999, p. 162). Várias são as críticas de Piaget (1984) referente ao processo de ensino-aprendizagem da matemática nas escolas tradicionais, dentre elas, o autor cita acúmulo de informações, pouca experimentação, passividade dos alunos, altos índices de reprovação em matemática e grande dificuldade no estabelecimento de relações lógicas nas aulas de matemática observada nos alunos. O autor defende também a capacidade de todo aluno em ter um bom raciocínio matemático, reforçando a importância do método de ensino-aprendizagem a ser desenvolvido pelo professor. Considera que as dificuldades, de forma geral, podem resultar de métodos inadequados de ensino, que devem se ajustar aos dados psicológicos do desenvolvimento. Entende-se, dessa forma, a necessidade de compreender a maneira como as estruturas lógicomatemáticas se constroem no pensamento da criança, para possibilitar a aprendizagem delas em todos os níveis. Neste sentido, Piaget ([1973], 1978c) propõe um método ativo que permite ao sujeito agir sobre os objetos e transformá-los: [...] o triste paradoxo que nos apresenta o excesso de ensaios educativos contemporâneos é querer ensinar matemática moderna com métodos na verdade arcaicos, ou seja, essencialmente verbais e fundados exclusivamente na transmissão mais do que na reinvenção ou na redescoberta pelo aluno (PIAGET, [1973], 1978c, p. 221). 63 Fica evidente, dessa maneira, a necessidade da realização de um trabalho diferenciado que contribua para a superação das dificuldades de aprendizagem e, neste contexto, a abordagem tradicional, passiva, conteudista, de conteúdo pronto e acabado, não possibilita o estímulo e uso do pensamento, do raciocínio e da reflexão e também não favorece a construção de conhecimento. É fundamental, então, que a educação potencialize e favoreça a construção de estruturas intelectuais, considerando a necessidade da ação para a construção do conhecimento. A teoria psicogenética, portanto, por proporcionar elementos que possibilitam princípios metodológicos sobre os quais se deve basear o ensino, tem servido de inspiração e incentivo para aplicação da teoria piagetiana à atividade pedagógica. Iniciativas como reformulação de métodos de ensino para o diagnóstico e tratamento de dificuldades de aprendizagem são possíveis, a partir da compreensão mais ampla do desenvolvimento intelectual. Uma Pedagogia inspirada na Epistemologia Genética envolve, segundo Franco (1998), uma ação docente problematizadora: “Isto significa que o professor está ali para organizar as interações do aluno com o meio e problematizar as situações de modo a fazer o aluno, ele próprio construir o conhecimento sobre o tema que está sendo abordado” (FRANCO, 1998, p. 56). Destarte, o processo educacional tem papel importante ao provocar situações que sejam desequilibradoras para o aluno e adequadas ao desenvolvimento mental dele, de forma a permitir a construção progressiva de conhecimentos e, ao mesmo tempo, oportunizar que ele viva intensa, intelectual e afetivamente, cada etapa de seu desenvolvimento. Em função do exposto anteriormente, recorremos, mais uma vez, a Piaget ([1973], 1973b) que propõe um ensino matemático que ressalte situações concretas: O papel inicial das ações e das experiências lógico-matemáticas concretas é precisamente de preparação necessária para chegar-se ao desenvolvimento do espírito dedutivo, e isto por duas razões. A primeira é que as operações mentais ou intelectuais que intervém nestas deduções posteriores derivam justamente das ações: ações interiorizadas, e quando esta interiorização, junto com as coordenações que supõem, são suficientes, as experiências lógico matemáticas enquanto ações materiais resultam já inúteis e a dedução interior se bastará a si mesmo. A segunda razão é que a coordenação de ações e as experiências lógicas matemáticas dão lugar, ao interiorizar-se, a um tipo particular de abstração que corresponde precisamente a abstração lógica e matemática (PIAGET, [1973], 1973b, p. 46). Num ensino que toma como referência a perspectiva piagetiana, oposta à pedagogia 64 tradicional, educar não é transmitir e impor conhecimentos produzidos e estruturados externamente ao sujeito cognoscente, mas, sim, propiciar o desenvolvimento da inteligência do aprendiz. É aproveitar da construção de estruturas que tornem possível a compreensão da realidade por parte do aluno. O ensino tradicional que favorece a memorização compromete o sucesso escolar; portanto, de acordo com Piaget ([1948], 1984, p. 16), “será preciso proceder a uma revisão dos métodos e do espírito de todo ensino [...]”. Cabe à escola, em vista disso, repensar os processos de ensino e de aprendizagem, considerando os processos inerentes à construção do conhecimento. As instituições de ensino devem, por conseguinte, no seu processo educativo, possibilitar estratégias de ação, a reinvenção e a descoberta, mediante atividade livre e espontânea: Em resumo, o princípio fundamental dos métodos ativos só se pode beneficiar com a história das ciências e assim pode ser expresso: compreender é inventar, ou reconstruir através da reinvenção, e será preciso curvar-se ante tais necessidades se o que se pretende, para o futuro, é moldar indivíduos capazes de produzir ou de criar, e não apenas repetir (PIAGET, [1948], 1984, p. 20). Os educadores precisam estar cientes do fato de que todas as experiências devem ser organizadas e inter-relacionadas a partir da atividade do indivíduo, para que não se reduza a mudanças momentâneas as informações provisórias que se perdem por falta de compreensão real. Deve-se, assim, levar em consideração as modificações de pensamento decorrente da própria evolução mental e da disponibilidade das estruturas lógicas para a compreensão, possibilitando a aprendizagem, tendo em vista que a disponibilidade desses instrumentos cognitivos é condição para o aprendizado: [...] descobrir maneiras psicologicamente corretas para se ensinar os conteúdos escolares, significa romper com o ciclo de transmissão de informações e de conhecimentos e estimular a ação do sujeito a fim de proporcionar uma tomada de consciência sobre sua própria ação e uma reflexão qualitativamente melhor que as anteriores (PIAGET, [1948], 1984, p. 17). Para Piaget (1998) “[...] o objetivo principal do ensino é desenvolver a inteligência e, sobretudo, aprender a desenvolvê-la o mais longamente possível” (PIAGET, [1969], 1998, p. 8). 65 O ato de ensinar matemática não deve, portanto, estar descontextualizado da formação de estruturas cognitivas necessárias à aprendizagem dos conceitos matemáticos, assim como do resgate dos saberes matemáticos mínimos necessários. Para tanto, exige-se uma proposta de trabalho diferenciada que também privilegie o sentido da matemática. Antunes (2010) refere que esse aprendizado não é privilégio de poucos e, mesmo com dificuldades, ele é possível, se transformarmos os alunos em “Caçadores de curiosidade”. Freire (1999), por sua vez, assevera que a capacidade de aprender deve ser exercida criticamente, pois, para ele, o ensinar não significa apenas transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a produção e construção de conhecimento. Este autor reforça, assim, a importância de uma relação dialógica entre aluno e aquisição de conhecimento, que seja aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, além de se adotar uma metodologia que desafie o raciocínio e facilite a aprendizagem do aprendiz, despertando o interesse dele pela satisfação da necessidade. 66 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Pesquisas no âmbito do desenvolvimento cognitivo e desempenho na matemática As Universidades brasileiras têm enfrentado inúmeras dificuldades no que tange ao ensino da matemática nos cursos de Ciências Exatas, especialmente nas Engenharias, pelos elevados índices de reprovação e evasão, principalmente nos anos iniciais dos cursos. As dificuldades de aprendizagem em matemática vêm se constituindo em uma grande preocupação, especialmente para os envolvidos no processo educativo, nas Instituições de Ensino Superior (IES) do país. Esta problemática tem se tornado um desafio e, ao mesmo tempo, corresponde a um agente motivador para a intensificação de pesquisas no meio científico. Desta perspectiva, esta área educacional já tem um percurso de estudos, pesquisas, investigações e publicações bem delimitados e que vêm aumentando gradativamente em vários âmbitos: cognitivo, sociocultural, educacional, biológico e afetivo. Diferentes linhas de pesquisa têm embasado a teoria e a prática nessa área de conhecimento e, em razão da particularidade de contexto, as diferentes discussões sobre esse tema remetem a várias análises, inclusive sobre a qualidade de ensino nos níveis fundamental, médio e superior. A preocupação em compreender os processos e as dificuldades que afetam a aprendizagem é um problema complexo, pois este se manifesta em diversas áreas, por diferentes causas, levantando, assim, a questionamentos em busca de respostas com relação à origem e à explicação do fracasso escolar. A educação matemática, tem se ocupado de pesquisas buscando problemas relacionados ao ensino e aprendizagem da matemática, entre elas estudos baseados em teorias baseadas no desenvolvimento cognitivo e formação do pensamento, inclusive o matemático. Nesse universo da educação matemática, a disciplina de Cálculo Diferencial e Integral tem motivado as pesquisas nessa área, por ser a que mais reprova praticamente em todas as instituições de ensino superior e cujos índices têm prejudicado o rendimento e causado o atraso no curso universitário. Barufi (1999), mediante pesquisa nos cursos de graduação da Universidade de São Paulo - USP, revelou dados da realidade do ensino de Cálculo Diferencial Integral, no período de 1990 a 1995, mostrando índices de 43,8% de reprovação e desistência; índice este elevado que comprovou que a mesma realidade acontece também na Escola Politécnica. Observou que 67 mesmo em instituições onde a disciplina de Cálculo Diferencial Integral está mais adaptada à realidade local, essa realidade se faz presente da mesma forma. Rezende (2003) também apontou problemáticas de reprovação nas Universidades Fluminenses (UFF), revelando variações de índices de reprovação entre 45% a 95%, sendo que o curso de Matemática alcança índices de 65%. Da mesma forma, Pereira (2009) revela índices elevados de reprovação na Universidade Federal do RJ os quais até o ano de 2005 atingem taxas de 73%. No curso de Matemática, representam 58%; na Química, Geologia, Astronomia e Metereologia, 54% em 2005, sendo que na Engenharia o índice é um pouco menor comparativamente, representando 42%. Rezende (2003) constata que as raízes dessa problemática estão além dos métodos e técnicas e ratifica que o único lugar-matriz das dificuldades de aprendizagem de natureza epistemológica do ensino do cálculo está na omissão das ideias básicas e dos problemas construtores do cálculo, considerados a principal fonte dos obstáculos epistemológicos que surgem no Ensino Superior. Para o autor, o cálculo é importante para a construção e para a evolução do próprio conhecimento matemático. Conforme Reis (2010 os professores alegam categoricamente que estas são resultantes principalmente da má formação no 1º e 2º anos do ensino fundamental, com alunos sem domínio de conceitos básicos, capacidade crítica e hábito de estudo. Da mesma forma Reis (2010) investigando sobre a visão dos acadêmicos em relação ao baixo desempenho e dificuldades em Cálculo, constata que a acentuada dificuldade é justificada pela falta de aplicação nos estudos, bem como a monotonia das aulas, insegurança e forma de explicação do professor. Essa realidade faz com que muitas respostas a essa problemática sejam observadas com base nas pesquisas. Nascimento (2000) também afirma que a construção da base conceitual para o aprendizado do Cálculo Diferencial Integral se inicia no Ensino Fundamental e, se não construída, tenderá a agravar-se no Ensino Médio. Portanto, a metodologia adotada nos dois segmentos possui diferenças gritantes em relação aos cursos superiores, impedindo, assim, que a base conceitual seja desenvolvida e dificultando sua recuperação. Reafirma que a principal crença sobre a causa para a dificuldade na disciplina é a falta de base dos alunos, a diferença metodológica entre o 2 grau e o curso superior e as dificuldades características dessa disciplina. Da mesma forma temos pesquisas com enfoques de investigação revelando fatores interferentes como: problemas relativos ao alto grau de abstração e idéias complexas (CATAPANI, 2003 apud BALDINO, 1995; BARBOSA, NETO, 1995; FRANCHI, 1993, SAD 68 1998, BALDINO 1995, disciplina trabalhada em ritmo acelerado e com aulas muito reduzidas; no campo pedagógico, a didática de ensino que se revela de modo conservadora, implicando numa prática conservadora na qual o aluno é mero espectador, numa posição passiva (CATAPANI, 2001) A pesquisa realizada por Flemming, Luz e Coelho (2000) constatou defasagens de conteúdos básicos de ingressantes no ensino superior, fazendo com que os autores criassem um projeto de ensino extraclasse como estratégia de apoio aos estudantes. Doering et al (2004), por sua vez, vivenciaram a criação do Programa de Pré-Cálculo, numa Universidade federal, buscando reduzir o desnível de conhecimento do Ensino Médio, a fim de se conseguir um bom desempenho no cálculo. Da mesma forma, Barbosa (2004) vivenciou a implementação de uma disciplina de Pré-Cálculo, em uma Universidade pública, que, embora comprovadamente importante, não tenha sido devidamente valorizada pelos acadêmicos por motivo variados. Araújo e Moreira (2005) realizaram pesquisas na área de monitoria de cálculo e afirmam a importância desta em função da defasagem em nível de educação básica dos alunos, da carência de habilidades de interpretar a linguagem matemática, ou seja, sabem a técnica, mas não o significado dos conceitos. Cury (2003) investigou erros matemáticos cometidos em questões de prova, em geral, os discentes não dominam conteúdos de álgebra, trigonometria e geometria do ensino básico. Esse problema, somando-se a dificuldades de abstração e generalização, também coopera para a reprovação e repetência em disciplinas matemáticas de tais cursos. As dificuldades que afetam a aprendizagem são problemas complexos, pois se manifestam em diversas áreas, por diferentes causas, levantando, assim, questionamentos em busca de respostas com relação à origem e à explicação do fracasso escolar. Murta e Máximo (2004, p. 8), referindo-se ao ensino da matemática nas IES, afirmam que “padece o mesmo mal: a falta de conexão entre o que é estudado em sala de aula com a realidade do aluno”. Neste contexto, Gomes, Lopes, e Nieto (2005), com base em pesquisas com o cálculo na Universidade, concluem: “é certo que uma reforma deveria ser iniciada nos ensino fundamental e médio, no entanto, esse aluno está chegando ao curso superior e nós, professores universitários não podemos enviá-lo de volta” (p.7). Em vista desta problemática na disciplina, muitas pesquisas têm sido realizadas, buscando reduzir as dificuldades intrínsecas quanto à disciplina em questão, com dois propósitos: o de investigação e de correção das deficiências. Nesse sentido, as pesquisas no âmbito da educação matemática envolvem diversos aspectos como, por exemplo, causas e possíveis 69 soluções; déficits de aprendizado; adaptação ao grau superior; nivelamento; concepções de dificuldades de aprendizagem; aspectos teóricos, metodológicos e curriculares com alunos e professores; concepções de professores sobre a matemática; e seu ensino e de fatores associados ao insucesso. Curi et al. (2008) investigaram, por meio de estudo de caso, os índices de repetência de acadêmicos da Universidade Federal de Campina Grande- PB, mediante questionário semiestruturado, aplicado aos alunos repetentes no primeiro período, nas disciplinas que, por levantamento prévio, tiveram um maior número de reprovações.Relatam algumas dificuldades encontradas no inicio dos cursos de Engenharia na visão dos alunos. Constatam que a disciplina com um maior índice de reprovação foi Cálculo I, com 79%, no curso de Engenharia de Minas; e 57%, no curso de Engenharia Civil e Agrícola. Participaram, também, acadêmicos reprovados em Álgebra Vetorial e em Química geral nas quais também havia um elevado índice de reprovação. Os autores constataram que o alto nível de repetência é reflexo da difícil adaptação à vida acadêmica o que demonstra uma necessidade de mudança tanto da instituição quanto dos discentes para melhor aproveitamento na disciplina. As principais dificuldades citadas para o não aprendizado do Cálculo são atribuídas aos seguintes fatores: falta de conhecimentos necessários ao acompanhamento das disciplinas que deveriam ter sido adquiridos durante o Ensino Médio; dificuldade de adaptação à diferente metodologia de ensino; ritmo acelerado que as disciplinas na Universidade impõem; alto nível dos conteúdos ministrados; quantidade de assuntos que deve ser absorvida em um espaço de tempo relativamente curto; e a dificuldade em relacionar-se com o professor. Os professores alegam que as dificuldades coincidem e são geradas pelos mesmos motivos em todas as disciplinas, ou seja, “a total falta de conhecimento dos conteúdos de graus anteriores” e um sentimento enorme imediatista dos alunos o que os faz sucumbir ao encontrar a primeira dificuldade. Dentre as principais dificuldades apontadas pelos alunos para o aprendizado, destacam-se a falta de conhecimentos adquiridos no Ensino Médio; dificuldade de adaptação às diferentes metodologias de ensino; ritmo acelerado nas disciplinas; dificuldade de organização do tempo livre; falta de estímulo para o estudo; falta de afinidade com as disciplinas; relação aluno/professor, com dificuldades de relacionamento; alto nível dos conteúdos ministrados; quantidade de assuntos desenvolvidos, aliada ao espaço de tempo curto. Curi et al. (2008) alegam ainda que, na opinião dos professores, a decadência das escolas fundamental e média, implica na falta de conhecimento básico necessário para o entendimento do que será visto no ensino superior. 70 Buscando saber como os acadêmicos absorvem e entendem os conteúdos de matemática, Reis et al.(s/d), comprovaram, em uma pesquisa com acadêmicos da Pedagogia da rede privada, municipal e estadual, que a maioria não entende a linguagem do professor, sugerindo que os docentes devam ser mais dinâmicos na metodologia utilizada. Pascual e Nascimento (2010), em um estudo sobre as estruturas cognitivas formais, decorrente de uma pesquisa realizada com estudantes do ensino médio em escolas públicas, tecem uma reflexão sobre as condições de acesso à Universidade pública. Realizaram um estudo debruçado sobre o desenvolvimento de estruturas cognitivas formais como instrumentos psicológicos para a aprendizagem e o domínio de conhecimentos específicos exigidos aos candidatos por ocasião do vestibular, valendo-se da matriz epistemológica genética na análise de conteúdos. Defenderam, neste estudo, que o desenvolvimento de estruturas cognitivas formais se torna tão importante quanto os conteúdos das disciplinas para o sucesso no vestibular. Afirmaram, ainda, que estudantes que analisam as questões mediante estruturas cognitivas formais desenvolvidas concorrem ao vestibular com mais sucesso, mantendo igualdade de conhecimentos nos conteúdos. Partindo desse mesmo princípio, Rossetti et al. (2012) tiveram como proposta de estudo a verificação da possibilidade de estabelecer relações entre o desenvolvimento de certas noções operatórias, metacognição e dificuldades de aprendizagem, em universitários matriculados em cursos da área de exatas. Foram entrevistados cinco estudantes de Engenharia de uma instituição pública de ensino superior do Espírito Santo. Todos frequentavam um programa de reforço escolar de uma das disciplinas básicas do núcleo comum das Engenharias e tinham como queixa a dificuldade de aprendizagem. A estes, foi aplicada a prova de flutuação de corpos, uma prova de correlação, e uma entrevista semiestruturada. Realizou-se, também, uma análise do conteúdo tanto das provas quanto das entrevistas, por meio de uma adaptação das metodologias de análise já utilizadas e baseadas nos princípios da epistemologia genética. Os resultados indicaram, entre outros, que nenhum dos participantes atingiu o nível mais elevado nas respostas, que equivaleria à aplicação plena do raciocínio operatório formal o que poderia justificar as dificuldades acadêmicas enfrentadas pelos participantes. Por outro lado, foi muito marcante a relativa ausência ou pouca variedade de estratégias de aprendizagem mencionadas pelos universitários pesquisados. Da mesma forma, o estudo de Cantelli et al. (2005) tinha como objetivo a análise do desenvolvimento intelectual de alunos da Educação de Jovens e Adultos brasileiros, maiores 71 de 16 anos. O nível de estruturação intelectual em que se encontravam os sujeitos foi determinado pelas provas piagetianas para diagnóstico do pensamento operatório concreto e formal. Como instrumentos de pesquisa para amostra, foram utilizados questionários para avaliação do perfil socioeconômico dos sujeitos e, para determinar o nível intelectual, foram utilizadas seis provas piagetianas para o diagnóstico do pensamento operatório: prova das abstrações, diferenciações e integrações no emprego das operações aritméticas elementares; prova do equilíbrio da balança; prova das relações entre superfícies e perímetros dos retângulos; prova da frequência das oscilações do pêndulo; prova da conservação de volume, prova da combinatória. Dos 77 sujeitos estudados, 5 não são operatórios; 35 encontram-se no estágio operatório concreto; 32 em transição do operatório concreto para o operatório formal; e 5 no início do estágio operatório formal. Considerando-se que a amostra era constituída de sujeitos com idade maior ou igual a 16 anos, idade que corresponde ao estágio de desenvolvimento operatório formal, este estudo considerou que: estariam em atraso no desenvolvimento, os sujeitos cujos níveis de desenvolvimento intelectual estivessem situados entre o estágio pré-operatório até o operatório concreto. Por outro lado, foram considerados não atrasados aqueles que se encontrava em transição entre o operatório concreto e o operatório formal. Por se tratar de jovens e adultos, tanto os níveis correspondentes ao período pré-operatório como os do período operatório concreto foram considerados como reveladores de atraso no desenvolvimento intelectual destes alunos. A problemática da reprovação foi pesquisada também por Sousa (2012), nos cursos de Engenharia na Universidade Federal do Vale do São Francisco, e cujo objetivo consistiu em analisar a relação entre desenvolvimento cognitivo na construção do raciocínio matemático e reprovação nas disciplinas da área básica dos cursos de Engenharia das Univasf. Os participantes foram 37 estudantes de Engenharia das disciplinas Cálculo I, Física e Geometria Analítica, bem como 5 professores destas disciplinas. Os dados referem-se ao período de 2009 a 2010, obtidos no campus Univasf de Juazeiro-BA, sendo utilizadas entrevistas com os estudantes e professores; aplicação das provas piagetianas (flutuação de corpos e do pêndulo) e entrevistas com discentes e docentes. As categorias de análise foram os níveis de desenvolvimento cognitivo; desempenho dos estudantes nas disciplinas básicas e nas provas de raciocínio; conceitos, habilidades e dificuldades na área de matemática; processo ensino-aprendizagem e suas relações, cujos dados foram analisados numa abordagem quanti-qualitativa. Os resultados apontaram que os estudantes aprovados tiveram os melhores desempenhos nos raciocínios espacial, numérico e 72 abstrato; já os reprovados se classificaram como medianos, acrescentando o raciocínio mecânico. Fernandes Filho (1997) desenvolveu um estudo com o objetivo de identificar os principais motivos que ocasionam o baixo nível de acadêmicos nas disciplinas de Cálculo Diferencial Integral e Geometria Analítica, nos Cursos de Engenharia Civil e Engenharia Sanitária, tendo como princípio o estudo da influência do nível de desenvolvimento cognitivo ou intelectual. Para atingir seu objetivo, utilizou como instrumento um questionário socioeconômico-cultural dos alunos, a fim de permitir conhecer o que pensavam, além de provas operatórias baseadas na teoria de Piaget, para diagnosticar o nível de desenvolvimento mental. O universo da pesquisa consistiu em 156 alunos ingressantes no ano de 1996. Destes, 123 de Engenharia Civil; e 33 de Engenharia Sanitária. Os resultados revelaram que os principais motivos do alto índice de reprovação nestas disciplinas são: o baixo nível cognitivo dos alunos ingressantes que, segundo o estudo, encontram-se no período intermediário entre o operatório concreto e formal. Fernandes Filho (1997, p. 87) afirma: “para definir os fatores que influenciam o alto grau de reprovação, encontrei na Teoria de Piaget, respostas para as minhas dúvidas”. Ainda, conforme o autor, “o docente a priori deve conhecer o nível de desenvolvimento de seus alunos para adequar seus conteúdos programáticos, visando um ensino qualitativo”. Igualmente, Santos e Neto (1992), desenvolveram uma pesquisa sobre a avaliação do desempenho no processo de ensino - aprendizagem de Cálculo Diferencial Integral, da UFC – Universidade Federal do Ceará, considerando o índice baixo de concluintes na disciplina de Cálculo (29.3%) devido às reprovações, desistência e trancamento, concluem que estes fenômenos constituem reflexo de falhas no processo de ensino-aprendizagem, tanto da parte de professores, de alunos como da instituição. As causas apontadas que originam resultados tão adversos nesse processo de ensino foram: falta de conhecimentos básicos de Matemática ao ingressar na Universidade; pouca motivação para o estudo; e incapacidade cognitiva para aprender os conteúdos do Cálculo. Entretanto, os pesquisadores consideraram que a origem do não desempenho acadêmico é bem mais abrangente, incluindo-se fatores de ordem socioeconômica (origem de classe, renda familiar, nível instrucional dos pais, custos com educação); e de ordem pedagógica (metodologia utilizada pelo professor, tipo da relação professor-aluno, postura do professor em relação às dificuldades de aprendizagem do aluno); e fatores relativos às condições institucionais (composição das turmas com alunos de diferentes cursos, bibliotecas com um número insuficiente de livros para atender à demanda 73 dos alunos, instalações das salas de aulas). A investigação dos obstáculos que influenciam o alto índice de reprovação na disciplina de Cálculo também foi realizada por Reis e Matos (2012), no curso de Licenciatura em Matemática, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – campus de Jequié. Com a aplicação da metodologia do estudo de caso e de outros dados obtidos por questionário aplicado a professores e a alunos do Curso de Licenciatura, os pesquisadores conseguiram demonstrar a existência de obstáculos epistemológicos, didáticos, emocionais e materiais, interferindo no processo de ensino-aprendizagem em Cálculo. Além dos obstáculos, a metodologia do professor e a carência em pré-requisitos foram alguns dos motivos indicados pelos sujeitos para o elevado índice de reprovação na disciplina, entendendo-se carência de pré-requisitos como a falta de noções básicas da matemática; os obstáculos epistêmicos; e a falta de estruturas cognitivas, bem como o não desenvolvimento cognitivo. Buscando outros aspectos para as dificuldades de aprendizagem da matemática, Almeida (2006) destaca fontes teóricas relacionadas a essa dificuldade, apresentando resultados de uma pesquisa com 52 professores de escolas públicas e privadas, do Distrito Federal, a fim de verificar junto a eles percepções sobre fatores associados ao insucesso dos alunos em Matemática. Para a pesquisa de campo, o pesquisador utilizou um questionário abordando a problemática em três campos ligados ao insucesso: o papel do aluno; o papel do professor; e o papel dos métodos e técnicas de ensino, considerando que as dificuldades de aprendizagem da matemática podem ocorrer por diversos fatores (afetivos cognitivos e físicos). De acordo com Almeida (2006), é importante que o sistema de ensino esteja adequado à realidade do aluno e que busque alternativas de desenvolvimento de forma íntegra e participativa. Buscando alternativas para a superação das dificuldades na matemática, Pedroso (2010) analisou estratégias para recuperação de estudantes com deficiência em fundamentos de matemática básica, no curso de Engenharia. Mediante pesquisa, visando analisar a formação anterior em fundamentos matemáticos, o autor comprovou que uma fração de 46% dos acadêmicos não tinha conhecimento nas diversas áreas de formação básica, sendo que a maior parte dos conteúdos é revisada ao longo da disciplina de Cálculo, gerando grande potencial de evasão em virtude de lacunas de conceitos não compreendidos. A partir dessa constatação, foi implantada carga horária adicional para a disciplina de Cálculo, possibilitando contato com o fundamento matemático necessário. Esta alternativa mostrou-se favorável à melhoria do desempenho, se comparada ao ano em que era realizada em forma de reforço extraclasse, aos que possuíam maior lacuna de formação. Além disso, 74 houve implementação de medidas pedagógicas, a fim de se obter maior qualidade nos cursos de graduação. O resultado foi avaliado com base nas notas dos acadêmicos obtidas em 2010, comparando-as a 2009, nos 7 cursos de graduação em Engenharia. O resultado demonstrou uma melhora significativa na disciplina de Física I, no entanto o mesmo não aconteceu na disciplina de Cálculo, mostrando que ainda são necessárias medidas adicionais a fim de minimizar o problema, como estabelecer uma disciplina obrigatória de fundamentos de matemática, antes da introdução de Cálculo e Física, implicando na ampliação da duração do curso em seis meses e na ampliação da carga horária. Outra pesquisa que comprova melhoras no índice de aprovação em cálculo por estratégias para superação da defasagem de conhecimentos é apresentada por Pozzobon e Campos (2003) cuja investigação recaiu na implantação de um curso de Matemática Básica, na UNIJUI, desenvolvendo assuntos indicados pelo professor de cálculo e direcionando questões para aplicação de problemas práticos das Engenharias o que reverteu na redução significativa de 40% para 12.5% dos índices de reprovação. Sua pesquisa refletiu numa ação inovadora no âmbito das Engenharias e garantiu a manutenção da oferta do curso preparatório e o acompanhamento continuado do desempenho acadêmico, bem como dos índices de evasão do curso. Barbosa (2004) realizou estudo qualitativo com alunos de Engenharia, matriculados no período de 2001 a 2003 e reprovados, e professores da disciplina de Cálculo Diferencial Integral, visando diagnosticar indicadores e compreender os fatores geradores de repetência dos alunos nessa disciplina para indicar caminhos de superação de dificuldades para a aprendizagem. Realizada com acadêmicos mediante entrevistas semiestruturadas, o pesquisador procurou saber métodos de estudo adotados e expectativas em relação à disciplina de Cálculo e com professores, mediante entrevista e análise documental, verificando concepções, práticas pedagógicas e avaliativas. O resultado revelou predominância de práticas de ensino tradicional, com ênfase na repetição de exercícios, predominância de estudo individual e aulas expositivas. A necessidade de memorização de fórmulas, provas com questões extensas e difíceis e a incompreensão dos métodos de resolução de exercícios têm se destacado como principais dificuldades sentidas pelos alunos que têm consciência da contribuição do cálculo no raciocínio lógico-matemático, mas não conseguem ver a utilização prática da disciplina. Para os professores, destacam-se dificuldades por deficiência de conhecimentos e imaturidade dos acadêmicos, ficando 75 clara a dificuldade de mudar esse quadro em função das falhas no Ensino Fundamental e Médio. Barbosa (2004) afirma que a separação entre a educação básica e o Ensino superior não é apenas epistemológica, entre o conhecimento pedagógico e psicológico, mas uma separação que reflete a estética tradicional da escola brasileira. Enfim, observa-se que, com a desculpa de que o agrupamento homogêneo dos alunos e a fragmentação dos conteúdos das disciplinas em unidades são necessários para garantir a eficiência pedagógica na formação intelectual, a escola brasileira desconsidera aquilo que as pesquisas sobre produção e aquisição de conhecimento têm demonstrado, e separa, assim, o pedagógico do cognitivo. Gomes (2012) apresenta um mapeamento dos trabalhos publicados nos últimos cinco anos, nos anais do Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia – COBENGE, visando subsidiar e discutir questões sobre o ensino de cálculo, em cursos de Engenharia. O pesquisador buscou saber as principais preocupações dos docentes e das instituições referentes ao tema. Pela análise realizada, constatou a grande preocupação com a formação básica dos futuros engenheiros e, consequentemente, com o ensino e a aprendizagem do cálculo. Com base nos últimos cinco anos de publicações do COBENGE, o autor constatou que existem poucos trabalhos que abordam o papel da análise do erro no ensino e aprendizagem de cálculo. O último trabalho publicado sobre o tema foi em 2005, com o título: “Análise de erros em Cálculo Diferencial Integral, nos cursos de Engenharia”. Um dos textos é de autoria de Cury (2003), que apresenta algumas ideias sobre a análise de erros cometidos na solução de questões de cálculo e utiliza estes erros para melhorar o ensino desta disciplina. Outro trabalho de 2007 que chamou a atenção é de autoria de Bartolomei (2007, p. 3), que discute a avaliação no processo de ensino e argumenta que se deve “ultrapassar o modelo tradicional e classificatório, tornando-se problematizadora e projetiva [...] do que apenas identificar os erros”. Assim, o foco do autor está na prática do docente diante de dos erros cometidos pelos alunos. Estudos sinalizam que existe a alta porcentagem de alunos universitários que não se encontram no nível das operações formais. Toma-se como exemplo o estudo de Jabour (1997), realizado sobre o Método Hipotético Dedutivo e as Operações formais, no qual a autora investigou o Nível de Desenvolvimento Cognitivo de um grupo composto de 70 alunos universitários. Esta amostra representa aproximadamente 15% da população investigada, cuja faixa etária varia entre 18 e 28 anos. Os resultados evidenciaram que grande porcentagem de alunos não possui o pensamento formal, fator básico para o bom desempenho universitário. 76 Fermiano (2000) investigou o desenvolvimento cognitivo em 23 sujeitos do Ensino Médio, aplicando provas operatórias do pensamento operatório formal e cujo estudo revelou que 87%, com idade entre 14 a 18 anos, não se encontravam no nível das operações formais. Apenas 13% correspondiam ao período formal. No momento do ingresso, o desenvolvimento cognitivo dos sujeitos analisados era baixo, encontrando-se no período intermediário ao pensamento formal. Da mesma forma Fernandes Filho (2001) realizou um estudo longitudinal com 104 acadêmicos, durante três anos, pesquisando e acompanhando paralelamente o grau de reprovação nas disciplinas de Cálculo, Álgebra e Geometria, bem como avaliar o Nível de Desenvolvimento Cognitivo desses acadêmicos, buscando as inter-relações e influências no desempenho destes em tais disciplinas, para verificar se conseguiriam suprir as deficiências durante o período pesquisado. Essa pesquisa foi realizada em dois momentos, envolvendo os mesmos acadêmicos. No ingresso ao curso com 104 participantes e novamente para fins de comparativo, no terceiro ano em curso com 81 participantes em curso. Realizou-se aplicação de questionário para saber os fatores aos quais se atribuíam o alto índice de reprovação, assim como os implicadores do baixo rendimento e para identificar o estágio de desenvolvimento, utilizaram-se cinco provas. Para avaliar o domínio das operações concretas, foram utilizados os testes das Provetas de Batro e os das Setas de Piaget e Inhelder. Para avaliar o domínio das operações formais, utilizou -se o teste das Ilhas de Karplus e Karplus, fundamentado na teoria piagetiana. Para identificar o pensamento Hipotético-Dedutivo, foram utilizados os testes de Raciocínio Verbal de Copi, o do Político e dos chapéus e para verificar o raciocínio lógico, expresso por meio da linguagem, para verificar sua argumentação com base nos critérios da lógica formal. No primeiro momento da aplicação em 1997 com participação de 104 acadêmicos o nível de desenvolvimento cognitivo foi bastante baixo e no segundo momento em 1999 com 81 participantes que ainda se mantinham na Universidade apresentou uma melhora significativa. Esse segundo momento visou saber se estes sujeitos conseguiram suprir as suas dificuldades nas disciplinas, bem como, a evolução no nível de desenvolvimento cognitivo durante período. No aspecto cognitivo, a pesquisa revelou, no segundo momento de avaliação, após três anos, correspondente ao final do curso, melhora no Nível de Desenvolvimento Cognitivo dos alunos. O índice de acadêmicos que em 2007 estavam no período formal 77 passou de 18% para 96%; e que estavam no período intermediário, entre o concreto e formal, passou de 47% para 59%. Mesmo considerando progresso em nível cognitivo, comprovado nessa etapa da pesquisa, Fernandes Filho (2001) constata altos índices de reprovação nessas disciplinas durante esse tempo e afirma que um dos motivos do alto índice de reprovação na área da matemática, ao longo desse período além da falta de base do Ensino Médio, hábitos de estudo, motivação pessoal e o Nível de Desenvolvimento Cognitivo do aprendiz, considerando que os ingressantes, em média, não atingiram o pensamento concreto em sua plenitude e, consequentemente, não foram aprovados nessas disciplinas por exigir um pensamento hipotético-dedutivo. Questões dessa natureza vêm segundo Fernandes Filho (2001), ao encontro de outros estudos que comprovam a não presença de estruturas cognitivas do período formal em universitários, trazendo deficiências de ensino em nível de conceitos fundamentais da matemática, implicando no alto índice de reprovação nas disciplinas nessa área, especialmente na Engenharia. Portanto, o autor considera a necessidade, conforme a teoria piagetiana, de algumas construções no sujeito para o desenvolvimento das estruturas cognitivas, que têm um momento próprio para se desenvolverem e, portanto, necessitam da interação adequada com o meio. Considera, também, a influência de fatores de cunho pedagógico na aprendizagem, de deficiência na transmissão dos conteúdos, de velocidade e de ritmo de repasse dos conteúdos pelos professores, falta de didática, aulas exaustivas e não motivadoras. Por isso, Fernandes Filho (2001) sugere o aprimoramento e a capacitação do professor na compreensão de como o pensamento se desenvolve nas diferentes etapas, para auxiliar na construção do conhecimento, reestruturar e modernizar o modo de ensinar. Barbosa (1994) pesquisaram os fatores e variáveis que interferem no baixo desempenho dos alunos, assim como o grau de interferência na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, visando apresentar propostas de resolução e de intervenção de ordem pedagógica. Entre outros aspectos, citamos a pesquisa do nível de desenvolvimento do raciocínio lógico formal e a ligação entre conteúdo e níveis de ensino. A análise do desenvolvimento cognitivo, que teve por objetivo verificar o grau de desenvolvimento de estruturas de raciocínio dos alunos, foi realizada por testes de raciocínio lógico, com 42 questões, aplicada a uma amostra de 92 alunos ingressos no 2º sem./92, e que estavam cursando essa disciplina no referido semestre. Nessa pesquisa, foi aplicado o teste de raciocínio lógico cujos itens foram formulados, envolvendo raciocínio do tipo: compensação 78 complexa, hipotético-dedutivo, proposicional ou razão-proporção, probabilístico, combinatório, lógica das proposições e raciocínio indutivo. Para a elaboração do teste, foram tomados alguns itens do Teste de raciocínio lógico de Trompieri Filho, Nicolino s/d. Os demais foram formulados procurando deixar claro seu conteúdo e contendo as informações necessárias a sua solução. Os itens envolvendo seriação numérica têm características semelhantes aos itens do teste padronizado INV (Inteligência Não verbal-CEPA) que é pictórico, enquanto que este atual aplicado é numérico, apresentando grau de complexidade superior. Segundo Barbosa (1994), com base nessa pesquisa, existe a desarticulação do conteúdo com outras áreas de conhecimento apresentado de maneira puramente teórica, sem sequência, ordem e uniforme em todos os cursos; sem relação com as necessidades específicas do curso. Neste sentido, aumenta o grau de dificuldade na sua assimilação. Para Barbosa (1994, p. 33), “O conteúdo das aulas tem sido puramente teórico e atividades específicas muitas vezes não são realizadas no sentido de desenvolver habilidades e principalmente no intuito de adquirir novos conhecimentos”. O autor considera que as dificuldades se apresentam em virtude de o conteúdo ser apresentado sem integração direta com o curso, apresentado de modo uniforme em todos os cursos, sem destaque para o papel que as aplicações desempenham no processo ensino-aprendizagem, desconhecendo a do conteúdo em outras disciplinas. O resultado dessa referida pesquisa de Barbosa (1994) em relação às dificuldades e interferências revelou que o fator que mais contribui para o fracasso na disciplina de cálculo é a formação deficiente em matemática, considerando que o nível de ensino desta disciplina no Ensino Médio esta aquém do conteúdo exigido na Universidade; a forma tradicional de transmissão do conhecimento (metodologia, avaliação, postura didática, relacionamento etc.), citada pelos acadêmicos e que também inviabiliza e interfere de modo decisivo no desempenho, no rendimento e na relação ensino-aprendizagem. Segundo Barbosa (1994) apesar das afirmações dos acadêmicos em relação às deficiências em sua formação matemática, considera serem contraditórias, pois consideram que seu desempenho nesse grau de ensino foi bom. Os conteúdos matemáticos parecem desconhecidos aos alunos, revelando dificuldade de se operá-los logicamente, fator que preocupa, visto que na construção de conhecimentos matemáticos, de acordo com Barbosa (1994), a apreensão de conceitos básicos é indispensável ao encadeamento dos assuntos e cujas defasagens são de difícil reparação. Para ele, a falta de elo, o distanciamento e a desarticulação entre conteúdos e níveis de ensino, principalmente entre o nível secundário e o 79 universitário, refletem-se nas afirmações dos acadêmicos acerca da formação deficiente nos graus anteriores e têm trazido grandes dificuldades à relação ensino-aprendizagem. Com base na análise do desenvolvimento do raciocínio lógico formal, segundo Barbosa (1994), o teste revelou que os alunos, em sua maioria, apresentam bom nível de desenvolvimento de estruturas de raciocínio necessárias para operar com conteúdos exigidos na disciplina de cálculo. No entanto observou na sua pesquisa casos de sujeitos que apresentam nível de raciocínio bem desenvolvido, capaz de operar em nível das operações formais, mas que não foram aprovados na disciplina. Esse fato comprova que as dificuldades resultam de outros fatores, que são interferentes no desempenho e rendimento escolar, dentre os quais, a formação deficitária como causa principal, seguida pelo modelo tradicional com aulas expositivas, sem participação efetiva dos alunos, com excesso de créditos matriculados, desinteresse e falta de esforço para aprender. Com base nessa revisão bibliográfica de pesquisas no âmbito do desenvolvimento cognitivo e desempenho na matemática bastante restrita mediante o universo de pesquisas que poderíamos abordar nesse capitulo podemos perceber que todas buscam subsidiar e clarificar a problemática que envolve o aprendizado das disciplinas da área da matemática dos cursos de engenharia, especialmente o Cálculo Diferencial Integral. O incentivo ao debate em prol da melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem se faz presente em todas as etapas das investigações científicas, buscando identificar caminhos que conduzam à melhoria da aprendizagem, reduzindo os índices de reprovação e assim incentivar o debate em prol da melhora da qualidade de ensino. 80 4 MÉTODO E ASPECTOS METODOLÓGICOS Considerando os aspectos teóricos abordados nos capítulos anteriores, a presente pesquisa foi delineada conforme segue. 4.1 Método Clínico Piagetiano O método clínico-crítico é uma técnica de investigação comum das pesquisas piagetianas, baseado em entrevista pessoal e que permite coerência teórica. Fundamenta-se nos procedimentos de pesquisa Epistemológica cuja finalidade consiste em descobrir a gênese e o desenvolvimento do conhecimento. Para Piaget ([1926], 1979), por meio do método clínico - critico e experimental, é possível participar da experiência mediante a qual se formulam perguntas, colocam-se problemas de causa e efeito, levanta-se cada uma das hipóteses, variando as condições envolvidas, de forma a analisar o raciocínio dos indivíduos. Consiste em conversar livremente com o sujeito, permitindo a tomada de consciência das transformações que os objetos sofrem com sua ação sobre eles; mede a solidez das convicções do sujeito, seguindo sua lógica profunda, crenças espontâneas e estrutura de desenvolvimento. Conforme Delval (2002), a essência desse método consiste na intervenção do experimentador, buscando descobrir os caminhos do pensamento do sujeito e da lógica deste por meio das hipóteses que o experimentador vai formulando acerca do significado das ações do sujeito. Pensando assim, o interesse principal não é verificar respostas certas ou erradas, mas, sim, descobrir a estrutura de pensamento e como ele funciona, quais são os recursos intelectuais utilizados para interpretar o mundo que cerca o indivíduo. Por isso Piaget ([1926], 1979) afirma: [...] A essência do método clinico está em discernir o joio do trigo e de situar cada resposta dentro do seu contexto mental. Ora existem contextos de reflexão, de crença imediata, de jogos ou de psitacismo, contextos de esforço e de interesse ou de fadiga. Nesse sentido, é necessário acompanhar o processo cognitivo que o sujeito desenvolve durante a execução de determinada tarefa de forma a possibilitar a compreensão, através da fala e do comportamento, do pensamento dos sujeitos, num processo dialético entre pergunta e resposta. Compreender este pensamento significa saber “como ele organiza seu pensamento, como ele percebe, age e sente. 81 (PIAGET, [1926], 1979, p.11). A técnica ora destacada tem a finalidade de seguir uma lógica profunda, crenças espontâneas e a estrutura de certo estado de desenvolvimento em que se encontra a pessoa: Creio que a essência do método, e aquilo que tem de mais específico, que o diferencia de outros métodos, consiste precisamente nessa intervenção sistemática do experimentador diante da atuação do sujeito e como resposta às suas ações ou explicações (DELVAL, 2002, p. 68). O método clínico-crítico foi estruturado de forma a descobrir a gênese do conhecimento, por meio de um processo dialético entre as perguntas do experimentador e as respostas do sujeito, de forma a considerar o conjunto de hipóteses e experiências trazidas pelo sujeito, “no sentido de que o clínico coloca problemas, realiza hipóteses, faz variar as condições em jogo, e, enfim, controla cada uma de suas hipóteses no contato com as reações provocadas pela conversa” (PIAGET, [1926], 1979, p. 10). Nesse contexto, tal método possibilita flexibilidade e papel ativo do experimentador, no intuito de desvelar o universo mental do sujeito, situando as respostas dentro de um contexto mental: Os interrogatórios destinados a estudar a gênese das operações concretas sempre tiveram como objeto, não somente os julgamentos que variam em função de nível de idade ou desenvolvimento dos sujeitos, mas, sobretudo os argumentos que os acompanham. [...] são estes que podem nos informar sobre a natureza dos obstáculos inerentes ao pensamento da criança e às resistências que o real opõe à formação das estruturas operatórias (INHELDER, [1974], 1974, p. 32). Pela verbalização, o método em destaque facilita a livre expressão a respeito do assunto, permitindo: descobrir as ideias e a capacidade de raciocínio com relação aos conceitos lógicos, assim como a estrutura do pensamento e os recursos intelectuais utilizados pelo pesquisado, uma vez que as hipóteses, conceitos e representações são investigados em profundidade. Piaget ([1926], 1979) acreditava que, por meio desse método, é possível chegar ao cerne da estrutura cognitiva e descrevê-la por possibilitar ao sujeito condições de manifestarse intelectualmente e expor a orientação cognitiva natural do período de desenvolvimento em que se encontra. Deste ponto de vista, Sampaio (2010, p. 41) esclarece: Por meio da aplicação das provas operatórias, teremos condições de conhecer o funcionamento e o desenvolvimento das funções lógicas do 82 sujeito. Sua aplicação nos permite investigar o nível cognitivo em que a criança se encontra e se há defasagem em relação à idade cronológica, ou seja, um obstáculo epistêmico. A entrevista clínica, então, utilizada para aplicação das provas operatórias, é considerada do tipo semiestruturada que, conforme Delval (2002) consiste em: [...] perguntas básicas comuns para todos os sujeitos, que vão sendo ampliadas e complementadas de acordo com as respostas dos sujeitos para poder interpretar o melhor possível o que vão dizendo. As respostas orientam o curso do interrogatório, mas se retorna aos temas essenciais estabelecidos inicialmente (DELVAL, 2002, p. 147). Justifica-se ainda o tipo de pesquisa com apontamentos de Delval (2002), para quem é essencial a intervenção sistemática do pesquisador com base no que o sujeito faz ou diz, visando entender a forma de pensar e o caminho que segue o pensamento: “[...] aquilo que tem de mais específico, que o diferencia de outros métodos, consiste precisamente nessa intervenção sistemática do experimentador diante da atuação do sujeito e como resposta às suas ações ou explicações (DELVAL, 2002, p. 68). As intervenções e perguntas abertas têm por finalidade compreender a maneira e a forma de pensar do sujeito, de como representa a situação e organiza sua ação. As perguntas são abertas, com espaço para eventuais novidades e visando avaliar a qualidade e o processo. De acordo com a teoria de Piaget ([1926], 1979), há uma espécie de pré-lógica ou uma lógica associada às verbalizações e sobre essa lógica são efetuadas leituras da realidade, e sobre as mesmas são implementadas as devidas ações. Podemos considerar, desta forma, como um método que visa avaliar a qualidade, objetivando todo o processo e não simplesmente respostas pontuais. O referido método permite a livre expressão a respeito do assunto para descoberta das ideias e da capacidade de raciocínio com relação aos conceitos lógicos, descobrindo a estrutura do pensamento e os recursos intelectuais utilizados pelo pesquisado, pois se trata de um método de cunho analítico bastante apurado: Trata-se de um método de trabalho muito árduo, no qual o pesquisador tem de ir encontrando uma estrutura comum nas respostas dos sujeitos. Tal estrutura não é evidente à primeira vista, mas tem de ser imposta pelo pesquisador. A estrutura pode ser considerada como uma hipótese que vai se confirmando à medida que se encontram novos sujeitos que correspondem a ela. Se a leitura de novos protocolos não confirma a análise que começamos a fazer temos de substituí-las por outra, examinando o que não encaixa na 83 primeira proposta. É como modificar uma hipótese (DELVAL, 2002, p. 169 e 170). O método clínico, para Piaget ([1926], 1979), deve ultrapassar a pura observação, pressupondo a experimentação como um conjunto de técnicas que permitem testar hipóteses. O termo “clínico”, para o autor, envolve a característica peculiar inerente ao respectivo método de se “conversar” à vontade com o sujeito, em uma determinada tarefa, possibilitando considerar o maior número de implicações do diálogo. Neste processo, distinguem-se cinco tipos de reações observáveis no exame clínico: não importismo; fabulação; crença sugerida; crença desencadeada e crença espontânea. O não importismo ocorre quando o sujeito tem dificuldade ou a pergunta realizada aborrece a criança. Dessa forma buscando livrar-se do conflito, o sujeito emite qualquer resposta e de qualquer forma. (PIAGET, [1926], 1979). A fabulação, para Piaget ([1926], 1979), ocorre quando a criança, ao responder uma pergunta, não usa a reflexão; esta reação é observada quando a criança inicia a narrativa de uma história mediante a pergunta do pesquisador. Na crença sugerida, o sujeito não usa a própria reflexão nas respostas, apenas responde na perspectiva do entrevistador, no esforço para responder ou agradar o mesmo, ou por consequência de uma pergunta sugestiva. Portanto, seu pensamento puro não é demonstrado. Por isso, deve haver o cuidado no sentido de as perguntas não sugerirem ou induzirem a respostas e que, portanto, não corresponderão a uma crença do sujeito. A crença desencadeada é a maneira de se fazer a pergunta e que obriga o sujeito a refletir e a raciocinar, de forma que o pensamento seja fruto original do pensamento conforme classifica Piaget ([1926], 1979). Por este turno, o raciocínio de resposta e o conjunto de saberes prévios usados para refletir não são influenciados diretamente pelo experimentador. A resposta como forma de raciocinar específica do sujeito envolve reflexão, sem sugestão, desencadeada pelo interrogatório, porém, não sugerida. A criança elabora e desenvolve o seu raciocínio, sistematizando seus pensamentos. Com esse olhar, o pensamento do sujeito elabora uma explicação que revela a organização de próprio pensamento, mesmo não tendo pensado antes. As respostas resultam, portanto, em um raciocínio feito a partir de conhecimentos (imagens mentais, esquemas motores etc.) e de instrumentos lógicos originais. Esta reação é importante do ponto de vista da pesquisa, pois o caminho percorrido pelo pensamento pode ser observado. Assim, Piaget ([1926], 1979) refere-se à crença desencadeada: 84 A crença desencadeada não é então nem propriamente espontânea, nem propriamente sugerida: é o produto de um raciocínio feito sob comando, mas com o recurso de materiais (conhecimentos da criança, imagens mentais, esquemas motores, pré-ligações sincréticas, etc.) e de instrumentos lógicos (estruturas de raciocínio, orientações do pensamento, hábitos intelectuais, etc.) originais (PIAGET, [1926], 1979, p. 120). A crença espontânea permite observar a conduta e o real instrumento de troca, ou seja, o que o sujeito criar, inventar, interpretar e operar. Ocorre quando o sujeito pode dar uma resposta pronta, por não ser novidade e nem inédita para ele, pois está baseada num pensamento anteriormente elaborado. Esta já foi refletida anteriormente de modo que a resposta é original. Responde com base nas próprias ideias e pensamentos já processados e não necessita raciocinar para responder à pergunta, com respostas imediatas, por ser fruto de uma reflexão anterior: Enfim, quando a criança não necessita raciocinar para responder à pergunta, e pode dar uma resposta imediata porque já formulada ou formulável, ocorre à crença espontânea. Esta ocorre quando a pergunta, não é nova para a criança e quando a resposta é fruto de uma reflexão anterior e original. Excluímos naturalmente deste tipo de reação, como de resto de cada um dos precedentes, as respostas influenciadas pelos ensinamentos recebidos anteriormente ao interrogatório. Ocorre aí um problema distinto, e muito complexo, que consiste em discernir, nas respostas recebidas, o que provém da criança e o que foi inspirado pelo grupo adulto (PIAGET, [1926], 1979, p. 13). No entanto, Piaget ([1926], 1979) adverte para o problema quanto a discernir, nas respostas recebidas, o que provém da criança ou o que foi construído como ensinamento do mundo adulto: As crenças espontâneas ainda que ocorram de forma mais rara, são as mais interessantes, pois são incontestáveis. As crenças desencadeadas instruem na medida em que permitem identificar a orientação de espírito da criança. A fabulação pode dar algumas indicações, de resto, sobretudo negativas, desde que interpretadas com a devida prudência. Por fim, as crenças sugeridas e o não importismo devem ser severamente eliminados: as primeiras só revelam que o experimentador queria que a criança dissesse, e o segundo só testemunha a incompreensão do sujeito examinado (PIAGET, [1926], 1979, p. 17). A crença sugerida é essencialmente momentânea e pode ser confirmada com contrasugestões ou reformulações diferentes para verificar se as respostas têm fundamento original. Segundo Piaget ([1926], 1979), é importante distinguir as crenças sugeridas daquelas desencadeadas e sugere que a única maneira de fazê-lo é recorrer à observação pura. Na 85 interpretação dos resultados, faz-se importante distinguir o que foi sugerido pelo experimentador e o que foi desencadeado pelo sujeito. É fundamental que o entrevistador conheça as cinco reações para saber como o sujeito pensa e reconstitui suas ações para, assim, ele conseguir um eficiente diagnóstico do desenvolvimento. É preciso, também, que ele tenha a clara consciência das dificuldades, das hipóteses alternativas e táticas apropriadas na sua investigação. A interpretação de todas essas reações obtidas e observadas no decorrer da aplicação desse método culmina em um diagnóstico; tarefa não tão simples, uma vez que o pesquisador pode atribuir maior ou menor valor às reações e respostas, tendo, portanto, que buscar um constante equilíbrio entre saber observar e saber orientar as perguntas, ao encontro de um objetivo preciso. Nesse sentido, Piaget ([1926], 1979) defende que se obtém a boa utilização deste método em função do treino e da prática e pela inexistência de regras precisas ou de diagnósticos determinados. O método clínico desenvolvido por Piaget ([1926], 1979), bem como as pesquisas deste escritor no âmbito do conhecimento e do desenvolvimento humano são fundamentais aos estudos pedagógicos, pois permitem aos estudiosos do campo em evidência conhecer os processos pelos quais a criança formula e consolida um conceito. Buscamos compreender, portanto, como ocorre o pensamento do estudante universitário, em seus diferentes níveis estruturais e, a partir deste contexto, investigar as relações da aprendizagem em cálculo com o raciocínio lógico formal. Para tanto, utilizamos o método clínico para essa avaliação. 4.2 Problema As dificuldades de aprendizagem na disciplina de Cálculo Diferencial Integral possuem relações com o Nível de Desenvolvimento Cognitivo dos acadêmicos do primeiro período do curso de Engenharia de uma Universidade Pública Federal? 4.3 Objetivos Objetivo geral: Diagnosticar as possíveis relações entre as dificuldades de 86 aprendizagem na disciplina de Cálculo Diferencial Integral e o Nível de Desenvolvimento Cognitivo de acadêmicos do 1º período do curso de Engenharia, de uma Universidade Pública Federal. Objetivos específicos Verificar o rendimento acadêmico na disciplina de Cálculo Diferencial Integral de acadêmicos do 1º período de diferentes cursos de Engenharia, entre os anos de 2011 e 2014. Identificar o curso de Engenharia com maior índice de reprovação e cancelamento na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Avaliar as dificuldades de acadêmicos da Engenharia, em conteúdos específicos e necessários à compreensão da disciplina de Cálculo Diferencial Integral, mediante aplicação de um instrumento específico. Avaliar o Nível de Desenvolvimento Cognitivo de acadêmicos do curso de Engenharia, ingressantes no 1º Sem/2014, mediante aplicação de provas operatórias piagetianas específicas. Verificar o desempenho acadêmico de acadêmicos do curso de Engenharia com maior índice de reprovação por meio da análise do rendimento final obtido na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Identificar a relação existente entre a avaliação de conteúdos específicos e necessários à compreensão da disciplina de CDI, o resultado do rendimento final e os níveis de desenvolvimento cognitivo obtidos nas provas operatórias. 4.4 Hipótese De acordo com o problema de pesquisa anteriormente explicitado, apresenta-se como hipótese a existência de uma relação entre as dificuldades de aprendizagem em Cálculo Diferencial Integral-CDI, o desempenho acadêmico e os níveis de desenvolvimento cognitivo dos estudantes. 87 4.5 Delineamento Essa pesquisa caracteriza-se por um estudo de caso de abordagem qualitativa e quantitativa, “O estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes” (YIN, 2010, p. 32). Segundo o autor, utiliza-se o estudo de caso, quando se deseja entender um fenômeno da vida real em profundidade, e esse entendimento engloba importantes condições contextuais – porque essas são consideradas altamente pertinentes ao fenômeno em estudo. Por ter abordagem qualitativa, enfatiza-se todo o processo e não somente os resultados finais. O caráter quantitativo justifica-se pela interpretação dos dados, mediante recurso da análise estatística, com a qual pretendemos explicar a regularidade dos fenômenos qualitativos. Esses dois tipos de abordagem (qualitativa e quantitativa) são complementares nesse estudo e propiciam maior aprofundamento e fidedignidade às interpretações. Os instrumentos utilizados possibilitarão a verificação do Nível de Desenvolvimento Cognitivo, assim como dos conhecimentos matemáticos presentes nos sujeitos e do rendimento acadêmico curricular semestral na disciplina de Cálculo Diferencial Integral-CDI. 4.6 Participantes da Pesquisa Todos os acadêmicos participantes dessa pesquisa são alunos regularmente matriculados em cursos de Engenharia de uma Universidade Pública, localizada no interior do Estado do Paraná. Os participantes diferenciam-se conforme as etapas de coleta de dados, transcritas no item procedimentos, a saber: - Etapa 1 – desenvolvida em dois momentos: no primeiro momento, participaram 923 Acadêmicos ingressos do 1º sem./2011 ao 1º sem./2013, nos cursos de Engenharia (Alimentos, Produção, Ambiental e Elétrica); e no segundo momento, 238 acadêmicos do curso de Engenharia de Alimentos, pertinentes à análise de dados específicos desse curso. -Etapa 2 – 124 acadêmicos ingressos no 1º sem./2013, nos cursos de Engenharia (Alimentos, Produção, Ambiental e Elétrica); etapa que se realizou em três momentos 88 específicos: início de semestre, com 9 acadêmicos do curso de Engenharia de Alimentos; e final de semestre, com 94 acadêmicos da Engenharia de produção, elétrica e ambiental , assim como com 21 acadêmicos reprovados em Cálculo Diferencial Integral-CDI nesses referidos cursos. - Etapa 3 – 20 acadêmicos ingressos no 1º sem./2014, no curso de Engenharia de Alimentos, escolhido pelo alto índice de reprovação e cancelamento na disciplina de Cálculo Diferencial Integral- CDI, com base nos resultados da Etapa 1. A participação foi por adesão livre, correspondente a 50% dos ingressos na turma. Os participantes que correspondem a uma proporção igual de sexo masculino e feminino, estão numa faixa etária que varia entre 17 a 24 anos, sendo três menores de idade. A procedência dos participantes corresponde a quatro estados brasileiros, sendo nove do Paraná; seis de São Paulo; dois do Rio Grande do Sul; um de Minas Gerais; e um do Mato Grosso do Sul, conforme mostra a Tabela 1 a seguir Tabela 1 - Caracterização dos participantes da pesquisa – Engenharia de Alimentos - 1º Sem/20141 Num Sujeito Idade 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 A L D F H O P Q S I C 20;5 18;1 19;7 18;9 18;7 20;9 17;6 18;9 19;9 18;2 18;1 Estado de Procedência PR PR PR PR PR PR PR PR PR RS RS Num Sujeito Idade 12 13 14 15 16 17 18 19 20 R U B G J M T E N 17;1 17;5 24;4 20;2 18;2 18;5 20;2 20;9 18;3 Estado de Procedência SP SP SP SP SP SP MG MG MGS Fonte - Dados da pesquisa. 1 Com a finalidade de preservar a identidade dos sujeitos participantes, os mesmos foram identificados mediante a utilização de letras aleatórias sem nenhuma relação com o nome do participante. 89 4.7 Procedimentos O projeto foi devidamente submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FFC/UNESP, campus de Marília-SP (Anexo A). A adesão à pesquisa ocorreu mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice A), após explicação dos objetivos e etapas nas quais os acadêmicos pesquisados estariam envolvidos; os universitários menores de idade obtiveram consentimento dos pais. A pesquisa desenvolveu-se em três etapas distintas: Etapa 1 - Levantamento do Rendimento Acadêmico na disciplina de Cálculo Diferencial Integral (CDI), dos universitários ingressos nos Cursos de Engenharia do 1º sem./2011 ao 2º sem./2013. Essa primeira etapa, composta por dois momentos de análise, baseou-se no Levantamento do Rendimento Acadêmico na disciplina de Cálculo Diferencial Integral dos Acadêmicos da Engenharia, ingressos nos quatro cursos de Engenharia (Alimentos, Produção, Elétrica, Ambiental). Esse levantamento teve por finalidade verificar índices de aprovação, reprovação, cancelamentos e desistências, bem como, identificar o curso com maior índice de reprovações e cancelamentos para objeto de pesquisa na etapa 3. Esse levantamento foi realizado mediante liberação de acesso de dados da pesquisadora ao Sistema Acadêmico, que envolveram um total de 923 acadêmicos. Após definição do curso de Engenharia de Alimentos como o de maior índice de reprovação e cancelamento na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, realizou-se um levantamento mais específico de dados dos acadêmicos desse curso. Buscou-se saber a situação curricular dos ingressantes a partir do 1º sem./2011, utilizando como referência o 2º sem./2013. Etapa 2 - Avaliação do Conteúdo Matemático - ACM e Análise do Rendimento Acadêmico – ARA obtido na disciplina de Cálculo Diferencial Integral - CDI de acadêmicos de cursos de Engenharia, ingressos no 1º sem./2013. 90 A segunda etapa buscou Avaliar o Conteúdo Matemático apresentado pelos acadêmicos de Engenharia, ingressos no 1º sem./2013, assim como a Análise do Rendimento Acadêmico, mediante consulta ao Sistema Acadêmico da nota de rendimento final, na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, obtida pelos participantes. A Avaliação do Conteúdo Matemático foi realizada mediante aplicação de um instrumento elaborado por professores especialistas da área da matemática. Esse instrumento compreendia 2 provas, totalizando 30 questões (Apêndice B) de conhecimentos necessários ao entendimento dos conteúdos curriculares previsto na Disciplina de Cálculo Diferencial Integral da Engenharia. A primeira prova foi composta por 15 questões envolvendo conteúdos relativos à matemática do Ensino Fundamental: potência e suas propriedades; operações com frações (numéricas e algébricas); conjuntos numéricos; intervalos (maior, menor); geometria plana (área e perímetro); operações com polinômios; noções de funções e relações trigonométricas no triângulo retângulo; sistemas de equações e equação do primeiro e segundo graus. A segunda prova era constituída por 15 questões relacionadas à matemática do Ensino Médio: conjuntos numéricos; inequações; função (primeiro e segundo graus, modular, exponencial, logarítmica, trigonométrica); polinômios e operações com polinômios. O instrumento da Avaliação do Conteúdo Matemático foi aplicado em dois momentos: 1) no início do semestre, para acadêmicos da Engenharia de Alimentos, visando unicamente à avaliação técnica, didática e metodológica do instrumento, considerando eventuais necessidades de adequações; e 2) ao final do semestre, para acadêmicos de Engenharia Ambiental, Produção, Elétrica, buscando avaliar preliminarmente os conteúdos matemáticos apresentados pelos acadêmicos de Engenharia, bem como verificar se os assuntos tratados nesta avaliação serviriam de base para diagnosticar defasagens em termos de conteúdos matemáticos trabalhados no Ensino Fundamental e Médio, necessários à aprendizagem do Cálculo Diferencial Integral. Numa etapa posterior, foi selecionada uma amostra do instrumento para aferição de um conceito (nota). A primeira aplicação ocorreu no início do 1º sem./2013, durante o período de 13 a 17 de maio, no curso de Engenharia de Alimentos, com a participação de nove alunos, por adesão livre. Essa aplicação ocorreu na primeira semana de aula do semestre letivo, antes do contato dos participantes com o conteúdo programado para a disciplina de Cálculo Diferencial Integral. A aplicação ocorreu em dois dias consecutivos, em horário de aula destinado a essa disciplina, mediante negociação prévia com o professor. Após a aplicação, estes instrumentos foram devidamente corrigidos e analisados pela equipe de professores de 91 matemática que os elaboraram (vide instrumentos) 2. A segunda aplicação realizou-se no final do 1º sem./2013, no período de 26 a 30 de agosto, em três cursos de Engenharia (Produção, Elétrica e Ambiental), com a participação de 98 acadêmicos por adesão livre. A aplicação visou ao levantamento e à análise do conhecimento e conteúdos com maior dificuldade. Posteriormente, foram selecionados, de forma aleatória, entre os acadêmicos participantes, sete reprovados na disciplina de Cálculo Diferencial Integral-CDI de cada curso, totalizando 21 participantes, para a realização de análise e correção do instrumento de Avaliação do Conteúdo Matemático. Considerou-se, para fins de análise e correção, a atribuição de um conceito (nota), com base na média 6.0, necessária para aprovação na disciplina curricular regular. Os critérios utilizados foram, inicialmente, o desempenho (erros e acertos) e, posteriormente, os passos do desenvolvimento e as estratégias utilizadas durante o processo da resolução pelo acadêmico. Usou-se, portanto, procedimentos e critérios normais de uma avaliação curricular, ou seja, a correção foi realizada a partir dos mesmos padrões de uma prova curricular normal. A Análise do Rendimento Acadêmico - ARA, na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, dos 21 acadêmicos participantes reprovados, foi realizada ao final do semestre letivo, por meio do acesso ao sistema acadêmico, com base no resultado da média final na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, considerando aprovações, reprovações, desistências e cancelamentos. Nesta etapa foi realizada análise comparativa da Avaliação do Conteúdo Matemático - ACM e Análise do Rendimento Acadêmico - ARA dos 21 participantes. Etapa 3 - Pesquisa com acadêmicos do curso de Engenharia de Alimentos, ingressos no 1º sem./2014, mediante Avaliação do Conteúdo Matemático - ACM, Avaliação do Nível de Desenvolvimento Cognitivo e Análise do Rendimento Acadêmico - ARA. A terceira etapa, realizada com 20 acadêmicos do curso de Engenharia de Alimentos, ingressos no 1º sem/2014 e que participaram por adesão livre, foi desenvolvida em três momentos distintos: o primeiro momento correspondeu à Avaliação do Conteúdo Matemático, mediante aplicação de instrumento específico; o segundo, à Avaliação do Nível de Desenvolvimento Cognitivo, mediante aplicação de Provas Operatórias; e o terceiro, à 2 Instrumento elaborado por professores especialistas da área da matemática: Priscila Pigatto Gasparin, Pedro Elton Weber, Liliane Hellmann e André Sandmann. 92 Análise do Rendimento Acadêmico, mediante rendimento final obtido na disciplina Cálculo Diferencial Integral, com base em consulta ao Sistema Acadêmico. O segundo momento, correspondente à Avaliação do Nível de Desenvolvimento Cognitivo, foi realizado mediante provas operatórias, aplicadas de acordo com as orientações específicas do método clínico-crítico, utilizado por Piaget e colaboradores. Vale ressaltar que, antes da aplicação oficial das provas operatórias, a pesquisadora realizou aplicações experimentais e estudos pilotos, visando à proximidade e à familiaridade com os instrumentos e com o método clínico-crítico piagetiano. Baseados nesses estudos foram realizadas algumas melhorias no protocolo das provas operatórias, especialmente na Prova da Combinatória, tendo em vista o entendimento da abordagem clínica-crítica. Para o estudo oficial, as provas operatórias foram agendadas conforme disponibilidade de horário dos acadêmicos envolvidos e realizadas de forma individual, em duas sessões por participante, numa sala reservada exclusivamente para essa finalidade. As provas foram aplicadas na seguinte ordem: Prova do Equilíbrio da Balança (1ª sessão) e Prova de Relação entre Superfície e Perímetro dos Retângulos e Prova da Combinatória (2ª sessão). Ambas as sessões tiveram duração em média de 40min a 01h20min. A aplicação foi filmada, gravada e, posteriormente, transcrita para análise. 4.8 Instrumentos Os instrumentos de coleta de dados foram assim constituídos: Avaliação do Conteúdo Matemático, Provas Operatórias Piagetianas, Sistema Acadêmico para Análise do Rendimento Acadêmico. O primeiro instrumento utilizado foi a Avaliação do Conteúdo Matemático, e teve por finalidade investigar os conteúdos que os acadêmicos possuem em relação àqueles desenvolvidos nos graus anteriores de ensino e necessários à aprendizagem na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Esse instrumento foi elaborado por professores especialistas da área da Matemática, considerando os conceitos básicos necessários ao conteúdo curricular previsto na disciplina de Cálculo Diferencial Integral das Engenharias. Da mesma forma, esses professores foram responsáveis pela análise e correção das respostas, visando verificar as maiores dificuldades dos participantes, bem como atribuindo a cada prova um conceito (nota). Os instrumentos subsequentes utilizados na pesquisa referem-se às Provas 93 Operatórias Piagetianas, utilizadas para diagnosticar o nível de desenvolvimento cognitivo. As provas aplicadas foram: Combinatória (PIAGET, J. [1964], 1951); Prova das Relações entre superfícies e perímetros dos retângulos (PIAGET et.al., [1977], 1995); e Equilíbrio da Balança (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976). A prova da Combinatória (Anexo B) envolve a utilização de uma combinatória para organizar um método de experimentação e a exclusão de fatores inoperantes; a da Relação entre Superfície e Perímetro dos Retângulos (Anexo C) avalia a construção da abstração reflexionante; a do Equilíbrio da Balança (Anexo D) possibilita acompanhar a construção da proporcionalidade. A escolha das Provas Operatórias baseou-se na faixa etária dos sujeitos pesquisados e na relação destas com o conteúdo previsto na disciplina de Cálculo dos cursos de Engenharia, mediante consulta aos professores da área. Foi considerado, portanto, na seleção das provas operatórias, a compatibilidade com a construção das estruturas operatórias concretas e formais, possibilitando a avaliação e a manifestação do pensamento formal. O terceiro instrumento constitui-se do Sistema Acadêmico informatizado que possibilitou a obtenção de informações curriculares, individual e coletiva, dos dados necessários às três etapas da pesquisa. 94 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Neste capítulo, analisam-se e discutem-se os dados coletados, com base nos instrumentos e procedimentos metodológicos previstos para a pesquisa. 5.1 Etapa 1.Análise do Rendimento Acadêmico, na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, dos Acadêmicos de Engenharia, ingressos do 1º sem./2011 ao 1º sem./2013. No decorrer do 1º semestre de 2011 ao 1º semestre de 2013, tivemos um total de 923 acadêmicos ingressantes nos cursos de Engenharia da instituição, conforme mostra o Gráfico 1, a seguir: Gráfico 1 - Índice Total de Rendimento- Cursos de Engenharia - 1º sem./2011 - 1º sem./2013, na disciplina de Cálculo Diferencial Integral 3 55,7 60 50 40 30 22,2 20,9 20 10 1,2 0 APROVADOS REPROVAÇÃO CANCELAMENTO CRÉDITO CONSIGNADO TOTAL GERAL Fonte: Dados do Sistema Acadêmico. Desse universo, a média geral cumulativa de reprovação dos cursos correspondeu a 3 O termo “crédito consignado” se refere à dispensa de disciplina por ter cursado em outra instituição de ensino superior. 95 55.7%, conforme pode ser constatado no Gráfico 1. Deste percentual de reprovações, 37.8% foram por nota; e 17.9%, por nota e frequência. O índice de aprovados foi mais ou menos equivalente ao número de cancelamentos efetuados na disciplina. A seguir, apresenta-se a demonstração gráfica (Gráfico 2) do rendimento obtido por curso nesse período. Gráfico 2 - Índice Total de Rendimento por Curso – Disciplina de Cálculo Diferencial Integral - 1º sem./2011 - 1º sem./2013. 69,5 70,0 60,0 49,1 50,4 50,0 40,0 55,9 33,6 29,5 28,2 30,0 14,8 20,0 19,7 20,2 10,1 14,3 10,0 1,7 1,2 1,5 0,4 0,0 APROVADOS REPROVADOS CANCELAMENTO Engenharia Ambiental CRÉDITO CONSIGNADO Engenharia de Produção Engenharia Elétrica Engenharia de Alimentos Fonte: Dados do Sistema Acadêmico O percentual total de reprovação por curso nesse período foi equivalente a 69,5% (Engenharia Elétrica); 55,9 % (Engenharia de Alimentos); 50,4 % (Engenharia de Produção); e 49,1 (Engenharia Ambiental). Analisando os índices dos cursos por semestre, constatamos que o percentual mais baixo de reprovação obtido foi de 30,5%, e o mais elevado de 76,9%. No entanto, analisando os índices de reprovação semestral de forma isolada, constatamos que o índice varia entre 13.6% a 86%. Numa análise comparativa da reprovação do primeiro para o segundo semestre, observamos um aumento representativo de 30% para 50%, o maior índice. Os cancelamentos também foram bastante elevados, representando uma média geral de 22,2%, diferenciando-se significativamente de um curso para o outro. Em uma análise realizada por curso, a média mais baixa obtida foi de 14,3%, e a mais elevada alcança o índice de 33.6%. No entanto, se analisarmos os índices de cancelamento por semestre, pode- 96 se constatar que estes variam entre 7,5% a 48,2%. Dessa forma, com base nos resultados obtidos dos cursos, decidiu-se escolher como objeto de estudo, na Etapa 3 do presente estudo, o Curso de Engenharia de Alimentos, que, além do índice de reprovação (55.9%), obteve também um alto índice de cancelamento (33.6%), na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, bem como o mais baixo índice de aprovação. Interessante observar que, apesar de existir uma mudança significativa nos índice de reprovação e cancelamento entre um semestre e outro, os índices de aprovação na disciplina alteram muito pouco entre um semestre e outro, mantendo-se quase estáveis. Num segundo momento, após definição do curso de Engenharia de Alimentos como objeto de estudo para a Etapa 3, realizou-se um levantamento mais ampliado de dados referentes a esse curso. Buscou-se saber a situação curricular dos 238 acadêmicos ingressos no período determinado referente à disciplina de Cálculo Diferencial Integral, no 2º sem./2013, com base em dados como: aprovação na disciplina, dependências e desistência de curso. Especificamente em relação a esse curso, é possível ressaltar, ainda, algumas outras características. No período do 1º sem./2011 ao 1º sem./2013, 238 acadêmicos, de 17 a 45 anos de idade, estavam matriculados na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. O índice geral de rendimento na disciplina pode ser observado no Gráfico 3, a seguir. Gráfico 3 – Análise de Rendimento Acadêmico - Disciplina de Cálculo Diferencial Integral Curso Engenharia de Alimentos - 1º sem./2011 a 1º sem./2013. 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 55,9 33,6 10,1 0,4 APROVADOS REPROVADOS CANCELAMENTO CRÉDITO CONSIGNADO TOTAL GERAL Fonte: Dados do Sistema Acadêmico O rendimento na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, nesse curso, durante o 97 período de dois anos e meio, teve uma média de reprovação correspondente a 55,9%, sendo que 31,9 % se referem à reprovação por nota; e 23,9 %, por nota e frequência. A variação média de reprovação, ao longo dos cinco semestres, foi de 41% a 84%. Os cancelamentos de matrícula na disciplina representam 33.6% e não foram muito estáveis nesse período, variando entre 8% a 43,9%. Considerando as implicações sobre o cancelamento, pode-se considerar como hipótese que o número de reprovações seria ainda mais elevado, se os pedidos de cancelamento não fossem efetivados, estando o acadêmico sujeito à provável reprovação. Portanto, o percentual de cancelamentos é um número a ser considerado no provável aumento equivalente dos índices de reprovação. Neste caso, considerando essa hipótese, ter-se-ia como reprovação geral, no período em questão, um índice equivalente a 89.5%. No Gráfico 4, a seguir, tem-se um demonstrativo do rendimento obtido por semestre e ano para uma análise comparativa. Gráfico 4 – Análise do Rendimento Acadêmico, por semestre - Disciplina de Cálculo Diferencial Integral - Curso de Engenharia de Alimentos - 1º sem./2011- 1º sem./2013. 84,0 90,0 80,0 64,2 70,0 60,0 45,6 50,0 61,7 40,0 28,3 30,0 20,0 10,0 50,0 43,9 41,1 10,5 7,5 8,9 8,0 14,9 21,3 8,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 0,0 APROVADOS 1/2011 REPROVADOS 2/2011 1/2012 CANCELAMENTO 2/2012 CRÉDITO CONSIGNADO 1/2013 Fonte: Dados do Sistema Acadêmico Fazendo uma análise comparativa de rendimento por semestre, pode-se observar, no gráfico anterior, um percentual bastante diferenciado nos índices de reprovação entre um semestre e outro, notando, inclusive, um aumento significativo no segundo semestre de cada ano, correspondente de 30 a 50% comparativamente. Usando como exemplo o 1º e 2º semestres de 2011, observou-se um aumento de 98 18,6% de reprovação, se comparado ao semestre anterior. No entanto, em paralelo a esse aumento no índice de reprovação, constata-se que o índice de cancelamentos efetuados entre o primeiro para o segundo semestre diminui, ou seja, corresponde a uma queda comparativa de 15,6%. De 43,9%, decaiu para 28,3%. Da mesma forma, percebe-se, no ano de 2012, um aumento significativo de reprovação do primeiro para o segundo semestre letivo, que de 41,1% passou para 84%. No entanto, os índices de cancelamento, inversamente aos da reprovação, são maiores no primeiro semestre (50%) em comparação ao segundo semestre, diminuindo significativamente para 8%. Outro aspecto observado na nossa pesquisa é que a disciplina de Cálculo Diferencial Integral, independente do número de vezes cursada pelo acadêmico, tem sido um dificultador para o êxito. Mesmo cursada novamente não garante o rendimento favorável ou mínimo necessário para aprovação. Alguns acadêmicos apresentam alguma melhora no rendimento final enquanto outros apresentam resultados ainda mais baixos. Por conseguinte, a tendência é de que a nova tentativa se reverta em um novo fracasso escolar e/ou desistência ou cancelamento, a exemplo dos índices que foram apresentados anteriormente. Buscando saber a situação curricular especificamente na disciplina de Cálculo dos acadêmicos ingressantes no período do 1º Sem/2011 ao 1º Sem/2013, reprovados no primeiro semestre de ingresso percebemos a grande dificuldade para a superação dessa disciplina. Usando como referência a situação acadêmica até o final do 1º Sem/2013 pesquisamos do universo de acadêmicos reprovados no primeiro semestre de ingresso no curso, o número de tentativas realizadas até a sua aprovação na disciplina e acadêmicos que ainda estão em dependências, bem como, desistências e cancelamentos de curso, apresentados na tabela a seguir. Apresentamos na sequência a situação curricular dos acadêmicos reprovados na disciplina de Cálculo Diferencial Integral no primeiro semestre de ingresso no curso de Engenharia e a sua situação curricular perante a disciplina após alguns semestres na Universidade. A tabela abaixo mostra o total de acadêmicos reprovados por semestre e ano, assim como, a situação curricular no final do 1º Sem/2013, apresentando o número de aprovados e desistentes do curso, bem como, dos acadêmicos ainda com dependência e desistentes do curso. 99 Tabela 2 - Situação curricular dos acadêmicos em Cálculo Diferencial Integral – Engenharia de Alimentos - 2º sem./2013. NUMERO DE REPROVADOS SITUAÇÃO CURRICULAR NO FINAL DO 1º SEM/2013 APROVADOS NA DISCIPLINA Nº % 8 14 5 2 31 34,6 41,2 22,7 9,5 23,3 SEM/ANO 1º sem./2011 2º sem./2011 1º sem./2012 2º sem./2012 1º sem./2013 26 34 22 21 29 133 Desistentes do curso Nº % 1 11.1 1 3,2 Nº 18 20 17 19 29 102 DEPENDÊNCIA NA DISCIPLINA Desistentes do % curso Nº % 3 16,7 69,2 10 50,0 58,8 13 76,5 77,3 90,5 9 31,0 100,0 35 34,3 76,7 Fonte: Dados do Sistema Acadêmico Constatou-se que, dos 133 acadêmicos reprovados nesse curso, durante esse período, apenas 23,30% constavam no final do 2º sem./2013 como aprovados na disciplina, ou seja, sem dependência e com a situação regularizada. Isso leva a concluir que 76.7% dos acadêmicos, ao final do 2º sem./2013, ainda estavam com a situação irregular quanto a essa disciplina. Do total de acadêmicos em dependência, 34,3% já constavam como desistentes do curso. Essas desistências que representam, na totalidade, 32 estudantes, ocorreram, na sua maioria, no final do primeiro semestre de entrada no curso, isto é, quando haviam cursado por uma vez a disciplina, sendo que tivemos, nesse universo de acadêmicos, somente uma transferência no segundo semestre de curso, ou seja, observou-se que a maioria das desistências ocorreu no final do primeiro semestre em curso. Tabela 3 - Número de vezes em que a Disciplina de Cálculo Diferencial Integral, foi cursada – 1º sem./2011 – 2º sem./2013. TOTAL DE Nº DE VEZES Nº DE ACADÊMICOS ACADÊMICOS CURSADO ENVOLVIDOS 133 uma 74 55,6 % duas 40 30,8 % três 15 11,3 % quatro 4 3,0 % Fonte: Dados do Sistema Acadêmico % 100 Se for considerado o número de tentativas desses 133 acadêmicos na disciplina de CDI durante esse período, obteve-se no máximo de quatro tentativas, em que 55,6% participaram uma vez; 30,8%, duas vezes; 11,3%, três vezes; e 3,0%, quatro vezes. 5.2 Etapa 2. Avaliação do Conteúdo Matemático e Análise do Rendimento Acadêmico. A primeira aplicação da Avaliação do Conteúdo Matemático no Curso de Engenharia de Alimentos, no início de 1º semestre/2013, teve a participação de nove acadêmicos na faixa etária entre 16 e 36 anos, por adesão livre. Foi possível testar e avaliar o instrumento nos seguintes aspectos: tempo utilizado para a realização de todas as questões propostas, compreensão dos enunciados dos exercícios e observação das dúvidas mais frequentes levantadas pelos estudantes. Esta primeira aplicação confirmou a necessidade de dois encontros, totalizando 3h20m para preenchimento do instrumento, considerando a média de tempo utilizada pela maioria dos acadêmicos. Quanto à forma de elaboração e entendimento dos enunciados, não houve necessidade de adequações ou melhorias. A segunda aplicação da Avaliação do Conteúdo Matemático, nos cursos de Engenharia de Produção, Elétrica e Ambiental, realizada no final do 1º semestre/2013, teve a participação, por adesão, de 98 acadêmicos, com idade entre 17 e 28 anos. Realizou-se uma avaliação de conhecimentos e dificuldades presentes, tanto em nível de conteúdos como de dificuldades de interpretação da linguagem e conceitos da matemática. Essa avaliação também foi corrigida nos mesmos moldes de uma prova normal curricular, mediante a atribuição de um conceito / nota. Com base na análise realizada pelos professores especialistas na área da matemática, podemos constatar os conteúdos em ordem gradativa de maior dificuldade revelada: 1º) Função: Função do 1º grau, 2º grau, exponencial e logarítmica (73,68%); 2º) Potência (48,60 %); 3º) Operação com conjuntos (47,62%); 4º) Função Trigonométrica (44,4 %); 5º) Construções de Gráficos (33,13%); 6º) Simplificações Algébricas (29,36%); 7º) Operações com Frações (28.6%); e 8º) Radiciação (20,6%). Percebemos que os conteúdos nos quais os estudantes encontram maior dificuldade se concentram principalmente no Ensino médio, a exemplo de Funções (1º e 2º grau, exponencial, logarítmica), a construção de gráficos, em relacionar o domínio e a imagem da função, assim como na função trigonométrica de compreensão das relações e geometria. 101 Constatou-se, também, dificuldade na divisão de polinômios, necessária para entendimento de funções, limites e derivadas. As operações com frações e radiciação se apresentaram como conteúdo com menor grau de dificuldade. Foram observadas também dificuldades conceituais, bem como de expressão, entendimento e linguagem matemática. Conforme Gasparin et al. (2014), estas dificuldades podem dificultar a interpretação das questões, assim como o raciocínio a ser utilizado na resolução dos problemas e dos cálculos implícitos. Além da avaliação do conteúdo matemático com base no preenchimento do instrumento foi também atribuído um conceito (nota) com base na análise de cada instrumento preenchido pelos acadêmicos participantes. Para essa análise foram utilizados os procedimentos e critérios normais de uma avaliação normal, conforme gráfico na sequência. Gráfico 5 - Índice de notas obtidas na Avaliação do Conteúdo Matemático-Curso de Engenharia de Produção, Elétrica e Ambiental - 1º sem./2013. Notas 60 a 100 15% 0 a 29 25% 30 a 59 60% Fonte: Dados da Pesquisa Com base na análise estatística das notas obtidas na Avaliação do Conteúdo Matemático, pelos 21 acadêmicos participantes, reprovados na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I, observou-se que apenas 15% obtiveram nota acima de 6,0, correspondente à média curricular mínima necessária para aprovação na disciplina regular. 102 Um percentual de 85% dos acadêmicos obteve resultados na Avaliação do Conteúdo Matemático, inferiores à nota 6,0 mínima para aprovação na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Deste percentual, a maioria se concentra nas notas de 3,0 a 5,9, sendo que 25% dos participantes não alcançaram resultados superiores a 2,9. A média mais baixa correspondeu a 0,5, e a mais alta foi de 5,6. Conferindo o sistema acadêmico podemos constatar que os reprovados na disciplina de Cálculo Diferencial Integral no 1º Sem/2013, mesmo cursando a disciplina novamente no semestre seguinte, não obtiveram notas de aprovação muito superiores a média mínima estabelecida para aprovação. Da mesma forma os que reprovaram novamente não obtiveram notas muito superiores às obtidas no semestre anterior. Pode-se considerar um progresso de 2 pontos entre as notas de um semestre para o outro, portanto podemos inferir que a realização de uma nova tentativa em cálculo, por si só, não é suficiente para o êxito na disciplina. Realizou-se posteriormente, uma análise por amostragem, selecionando sete acadêmicos reprovados por curso de Engenharia (Produção, Elétrica e Ambiental) na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, para uma análise comparativa entre a nota curricular obtida na disciplina de Cálculo Diferencial Integral e a nota obtida na Avaliação do Conteúdo Matemático. A nota curricular na disciplina de Cálculo Diferencial Integral foi obtida mediante consulta ao Sistema Acadêmico Tabela 4 – Avaliação do Conteúdo Matemático e Análise do Rendimento AcadêmicoDisciplina de Cálculo Diferencial Integral - Cursos de Engenharia de Produção, Elétrica e Ambiental – 1º sem./2013. ACADÊMICO RENDIMENTO RENDIMENTO ACM ARA Média da nota Média final Status A 46 30 Reprovado B 40 14 Reprovado C 58 14 Reprovado D 45 05 Reprovado E 27 22 Reprovado F 54 29 Reprovado G 45 18 Reprovado H 28 11 Reprovado Continua na próxima página 103 I 32 35 Reprovado J 13 02 Reprovado L 52 41 Reprovado M 06 24 Reprovado N 50 49 Reprovado O 17 37 Reprovado P 48 48 Reprovado Q 37 54 Reprovado R 51 50 Reprovado S 53 56 Reprovado T 65 25 Reprovado U 71 27 Reprovado V 64 18 Reprovado Fonte: Dados do Sistema Acadêmico e da pesquisa Observando comparativamente os resultados da Avaliação do Conteúdo Matemático com a Análise do Rendimento Acadêmico, percebemos que existe uma equivalência de resultados. Em ambos os instrumentos quase a totalidade dos participantes não obtiveram resultado satisfatório em nenhuma das avaliações, se considerarmos a média curricular utilizada e necessária para aprovação. Podemos perceber que a maioria dos acadêmicos obteve média inferior na Análise do Rendimento Acadêmico, na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. As reprovações ocorridas em Cálculo Diferencial Integral foram integralmente por nota. Apenas três participantes obtiveram, na Avaliação do Conteúdo Matemático, notas superiores a 6.0, sem, no entanto, obterem média necessária para aprovação em Cálculo Diferencial Integral. As médias obtidas não foram superiores a 3,0. Comparando a proporcionalidade entre as notas da Avaliação do Conteúdo Matemático e a Análise do Rendimento Acadêmico, observa-se, na maioria dos participantes, uma diferença equivalente entre ambas as notas de 1 a 3 pontos. Mediante registro de dados do Programa de Monitoria que coordena o Curso de PréCálculo oferecido a acadêmicos ingressantes, constamos que dois acadêmicos haviam participado do curso de pré-cálculo durante o referido semestre, mas mesmo assim não conseguiram êxito na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Com base na consulta ao sistema acadêmico, dos 21 acadêmicos reprovados na 104 disciplina de Cálculo Diferencial Integral, 20 reprovaram por nota e um por nota e frequência. Dos 20 acadêmicos reprovados, dez matricularam-se novamente nessa referida disciplina no semestre seguinte (2º sem./2013), sendo que apenas dois (40%) foram aprovados nessa segunda tentativa, obtendo a nota mínima necessária (6,0) para aprovação. Dos oito acadêmicos reprovados novamente, quatro reprovaram por nota; três por nota e falta; e um, por cancelamento da disciplina. As notas, nessa segunda reprovação, não foram superiores a 5,0, e destas uma foi inferior a 2,0. Analisando comparativamente a Análise do Rendimento Acadêmico, podemos considerar que o resultado da Avaliação do Conteúdo Matemático, se considerado a nota curricular necessária para aprovação é equivalente, compatível e proporcional entre os mesmos. Ambos os resultados mostram tanto a insuficiência de conhecimentos prévios dos conceitos e noções da matemática, quanto à aprendizagem dos conteúdos curriculares da disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Se partirmos da hipótese de que o domínio de conceitos e noções elementares da matemática implica no entendimento do conteúdo previsto nos graus superiores, especialmente na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, podemos considerar, com base no resultado comparativo entre Avaliação do Conteúdo Matemático e a Análise do Rendimento Acadêmico, que essa hipótese se confirma. Da mesma forma, se levarmos em conta os resultados da análise de conteúdos deficitários diagnosticados no instrumento elaborado pelos professores de matemática, podemos considerar que o mesmo serviu de base para diagnosticar defasagens matemáticas de noções e conceitos de nível fundamental e médio. Confirmamos, assim, que essas noções implicam e interferem no melhor desempenho da disciplina de Cálculo Diferencial Integral. 5.3 Etapa 3. Avaliação do Conteúdo Matemático, Avaliação do Nível de Desenvolvimento Cognitivo e Análise do Rendimento Acadêmico- Curso de Engenharia de Alimentos-1º sem./2014. A terceira etapa da pesquisa envolveu a participação mediante adesão livre, de 20 acadêmicos ingressos no 1º sem./2014, no curso de Engenharia de Alimentos. Os resultados da aplicação dos três instrumentos envolvendo a Avaliação do Conteúdo Matemático, Análise do Nível de Desenvolvimento Cognitivo e Análise do Rendimento Acadêmico, serão 105 apresentados separadamente. Ao final será realizada uma análise quantitativa e qualitativa de resultados, inferindo sobre as implicações na aprendizagem. 5.3.1 Resultado da Avaliação do Conteúdo Matemático Inicialmente, os acadêmicos foram submetidos à Avaliação do Conteúdo Matemático cujo resultado é apresentado na Tabela 5 e Gráfico 6, a seguir : Tabela 5 - Notas obtidas na Avaliação do Conteúdo Matemático- 1º sem./2014. Participante Idade Participante Idade Avaliação do Avaliação do Conhecimento Conhecimento Matemático Matemático A B C D E F G H I J 20;5 24;4 18;1 19;7 20;9 18;9 20;2 18;7 18;2 18;2 11 11 08 28 18 17 34 14 23 42 L M N O P Q R S T U 18;1 18;5 18;3 20;9 17;6 18;9 17;9 19;9 20;2 17;5 32 53 57 04 20 39 15 45 24 18 Fonte: Dados da pesquisa Gráfico 6 – Média percentual de notas obtidas na Avaliação do Conteúdo Matemático 35% 0 a 29 65% Fonte: Dados da pesquisa 30 a 59 106 Constatamos que a totalidade dos participantes não obteve, na Avaliação do conhecimento matemático uma nota equivalente a 6,0, considerada mínima necessária para aprovação numa avaliação curricular. A maioria dos participantes, ou seja, 65% obtiveram notas inferiores a 30, sendo que a mais baixa foi de 4 e 8 décimos. As notas, na sua maioria, concentraram-se entre 11 a 19, sendo que apenas quatro acadêmicos obtiveram notas entre 20 a 29. Nas notas superiores entre 30 e 40, correspondentes a 35% dos participantes, a equivalência entre notas e número de acadêmicos foi homogênea e proporcional. Analisando o desempenho por conteúdo avaliado, com base na análise das notas obtidas em cada um desses conteúdos, podemos observar, de forma geral e comparativa, que as maiores dificuldades se referem a conceitos que envolvem conhecimentos relativos ao Ensino Médio. Observou-se, inclusive, um maior número de acadêmicos que realizavam parcialmente as questões ou deixaram em branco nos referidos conceitos. Algumas observações de registros deixados pelos acadêmicos, justificando esquecimento ou desconhecimento da operacionalização do exercício, denotam a dificuldade de entendimento, esquecimento ou desconhecimento do conteúdo. Mediante esses resultados, confirmamos a defasagem de conhecimentos na formação básica desses estudantes Conclui-se, assim, que o conhecimento básico apreendido curricularmente em graus anteriores é insuficiente ao efetivamente necessário nível de compreensão e aprendizagem efetiva do acadêmico. Podemos considerar, portanto, que houve uma implicação significativa dessa falta de base, sobre o desempenho acadêmico da disciplina de Cálculo Diferencial Integral, tendo em vista que a ausência ou defasagem no domínio de idéias, noções e conceitos elementares da matemática constitui, efetivamente, um obstáculo para a aprendizagem do cálculo. 5.3.2 Análise das Provas Operatórias O Nível de Desenvolvimento Cognitivo foi examinado, conforme o que está proposto nos protocolos de Piaget e Inhelder ([1951], 1951); Inhelder e Piaget ([1976], 1976); e Piaget et. al. ([1977], 1995). As três provas operatórias aplicadas correspondem à da Combinatória (Anexo B); Relações entre superfícies e perímetros dos retângulos (Anexo C); e Equilíbrio da Balança (Anexo D). Apresentamos, a seguir, algumas características nos diferentes níveis em relação às 107 provas operatórias aplicadas, bem como excertos das entrevistas, considerados fundamentais por conter o cerne da categoria de pensamento dos sujeitos, característico do seu nível de desenvolvimento. 5.3.2.1 Prova da combinatória A estrutura da combinatória consiste em combinar objetos ou juízos considerando-se todas as possibilidades de uma situação. Dessa forma a prova é aplicada mediante a utilização de quatro fichas de cores diferentes com a analogia de que representam pessoas que foram convidadas a fazer um passeio e que poderiam ou não aceitar o convite. É solicitado ao sujeito descobrir de quantas maneiras ou formas esse passeio poderia acontecer e quantas combinações de passeio seriam possíveis de serem feitas, ou seja, que encontre o maior número de combinações sem repetir cores e sem considerar a posição dos elementos. O sujeito deve encontrar um sistema que possibilita a formação de 16 combinações sendo 6 em pares, 4 em trios, 4 sozinhos, 1 quarteto e 1 possibilidade que pode ser considerada é o não passear. A prova da combinatória prevê a categorização em 5 (cinco) níveis de compreensão: nível I, IIA, IIB, IIIA, e IIIB, com características bem delimitadas. Não encontramos nenhum sujeito no nível IA considerado o da “Ausência de Sistematização”. Nesse nível as noções são avaliadas pelo experimento, considerando apenas o resultado e não os mecanismos que levam a solução. Não há consciência do processo de interiorização das ações. A associação é aleatória, incompleta, não sistemática, sem critério e sem indício de sistematização multiplicativa. As organizações não são seriadas ou classificatórias. Da mesma forma ao nível IA, também não encontramos nenhum sujeito no IB, quando há início da “Sistematização Aditiva”, mas ainda de forma empírica e incompleta. O pensamento ainda não é sistemático e a associação é aleatória, por justaposição, de agrupamento em classe e ordem. As explicações são pré-causais, aleatórias, centradas na ação e avaliadas pelo observado no experimento. Dessa forma, não sentem necessidade de compreender suas ações, pois o raciocínio está subordinado ao concreto No nível II de 6 a 11 anos (média) ocorrem avanços notáveis em relação ao anterior. Corresponde ao início da capacidade de “Sistematização Multiplicativa”, mas sem utilizar procedimentos de enumeração sistemática. Esse nível subdivide-se em IIA e IIB. No IIA que 108 ocorre por volta dos 6 e 7 anos, não encontramos nenhum sujeito. Neste a sistematização não dissocia fatores e assim a combinação é realizada por seriações empíricas, de experiência física, por tentativa e erro, sem estrutura de operações interproposicionais. No nível IIB, que aparece, em média, por volta dos 7 a 9 anos, os sujeitos adquirem a capacidade de dissociar fatores empíricos e iniciam a sistematização multiplicativa, já com abertura para as combinações de combinações, resultantes das combinações de 2ª potência. São capazes de multiplicar todos os elementos, realizando combinações de 2 a 2, 3 a 3, mas ainda sem sistematização destas combinações. Realizam vários ensaios de sistemas e testam suas hipóteses, mas não chegam à solução geral. Segue na sequência um exemplo de pensamento neste nível IIB. O sujeito B (24; 4), utiliza a justaposição entrecruzada com ligações parciais. Dessa forma, nas duplas este sujeito encontrou apenas 4 combinações, sendo que na somatória de combinações considerou possível apenas 3 passeios em dupla. Afirma serem possíveis apenas 11 passeios ao todo: Sujeito B (24;4). Após ter realizado vários ensaios por seriação qualitativa, não sistemática, concluiu serem quatro combinações em trio: Eu fui substituindo e tirando o que já tinha ido e então acho que seria quatro. Eu deixei o verde e os outros três foram passear. Eu fiz do seguinte modo. Tirei o rosa e os outros foram passear. Tirei o vermelho e acrescentei o rosa e assim por diante. O que te dá essa certeza? A forma que manuseei, substituindo e colocando o que já tinha ido. Na combinação em dupla concluiu ser 4 passeios e questionei. Também 4 passeios? Em trio também foram quatro. Isso. O que faz você concluir que também seriam quatro passeios? Porque digamos, eu posso deixar como dupla o vermelho e azul, verde e rosa e trocar essas duas por vermelho e verde e rosa e azul. Então ficaria três e não quatro. Tem certeza de que ninguém deixou de passear em dupla? Tenho. E quantas vezes então cada um foi passear em dupla? Acho que três também. Como assim? Me explica, como sabe? Porque tirando por base o verde ele foi passear uma vez com o rosa, uma vez com o vermelho e uma vez com o roxo. Então quantos passeios foram? Três passeios. Igual ao número de passeios em trio? Sim. Três passeios e três parceiros, pessoas diferentes. Diz que tem certeza de que ninguém deixou de passear em dupla. Já usei todas as formas que eu tinha. Qual foi o total de passeios? Uns 8 passeios. Sozinho seria 4, mais 3 em dupla dá 7, um passeio em 4 dá oito, em trio 3 dá 11 passeios. O quinto sistema de interseções inacabadas assume características que levam ao limiar do nível III de desenvolvimento, quando o sujeito começa a fazer as intersecções, mas não termina, formando um número maior de pares, mas seu sistema não dá conta de todas as peças, de todas as cores. Busca assim um sistema de associações, porque não se contenta mais com pares isolados. No entanto, não consegue um sistema completo, por não conseguir sintetizar as combinações em um método de interseções dirigidas, em que cada termo se 109 associa sucessivamente a todos os seguintes. Apresentamos um exemplo de procedimento característico desse quinto sistema. O sujeito T (20;2) operou mesmo que empiricamente por interseções inacabadas, combinando um número maior de elementos, mas no entanto, isso não garantiu que esgotasse todas as possibilidades. Oscilou, ainda, entre a justaposição e a simetria e utilizou um sistema de operação multiplicativa lógica, mas que não contempla todas as combinações: T (20;2): Veja quantos passeios são possíveis em dupla? São 12 passeios. Se uma pessoa faz passeios diferentes com as outras 3 pessoas é só multiplicar 4 x 3 que é 12. Você poderia me demonstrar como seria isso? Iniciou separando uma cor por vez e foi simulando as combinações com as outras 3 fichas reservas. Ao acabar a combinação pegou outra ficha e simulou novamente a combinação com outras 3 fichas, gradativamente, até eliminar todas as cores. Com esse método de interseções, adotado por esse sujeito, fez com que ele considerasse a inversão de ordem das fichas o que incorreu em repetição de fichas da mesma cor. Amarelo com preto, Amarelo com roxo, amarelo com verde, amarelo com vermelho. Separou uma ficha e foi simulando combinação com as outras cores. Será que o amarelo, por exemplo, não foi passear mais de uma vez entre eles? Ha é mesmo. Então, reveja esses passeios e garanta que não repetiu dupla. Quantos passeios seriam possíveis? Nove. Como sabe? É só desfazer as repetições. Então, são 9. O sujeito T subtraiu 4 fichas de um total de 12 acreditando que desfez as repetições. Usou um sistema de manipulação das fichas por intersecções inacabadas, associando cada termo sucessivamente a todos os seguintes, simulando as combinações na ordem da esquerda para a direita, mas teve dificuldade de fechar as duplas. Encontrou 7 combinações em dupla primeiramente e depois ao repetir o procedimento para confirmar a quantidade de passeios por pessoa encontrou apenas 5 combinações em dupla. Afirmou serem 3 passeios por pessoa, uma com cada cor. - Mais alguma forma? Não. Quantos passeios nós conseguimos? 16. Explique-me? Cada um separado dá quatro, em dupla 7 passeios, que dá 11. Em trio deu quatro então 15 e fazendo os 4 juntos deu 16. Esse referido sujeito T por estar no nível IIB tem uma lógica coerente, de sistema multiplicativo, mas sem generalização, buscando saber a quantidade de passeios em trio. Realizou ligações parciais, sem as relacionar entre si, tirar correspondência geral, englobando todas as possibilidades. Falhou em descobrir um sistema completo, pois não consegue contemplar todas as combinações e, portanto, perceber as operações de forma integrada. No nível III, de 11 a 12 anos, os sujeitos adquirem a capacidade de sistematização generalizada inserindo a realidade num conjunto maior de possibilidades. Conseguem, por um lado, constatar e ligar todas as associações entre elementos, ou correspondências; e por outro, dissociar todos os fatores em jogo, conseguindo, assim, chegar à combinatória completa. Com esta forma de pensamento, combinam entre si objetos ou fatores, idéias ou proposições 110 (juízos) e formas complementares que refletem o mesmo poder combinatório. Em função dessas sistematizações generalizadas conseguem no nível IIIA (9-11 anos), descobrir um sistema, acreditando que existe uma lei geral que explica o resultado obtido na ação empírica, embora não busquem a sua formulação que é obtida pela combinação de n a n modo sistemático. Progridem na direção da lei, através de um método de obtenção de resultados. Procuram estabelecer o que implicam as correspondências explicitando a necessidade de listá-las graficamente. Ao combinar os fatores, realizam várias operações, dentre elas, operações de exclusão, implicação e conjunção que possibilitam progressos em nível de generalizações. O pensamento relaciona a proporção das combinações possíveis. A utilização no Nível IIIA, dessa organização sistemática, em busca de uma formalização, leva o sujeito O (20;9), na combinação em dupla e trio, a prever e a antecipar a possibilidade de combinação por antecipação, relacionando as variáveis implícitas e a testar suas hipóteses. Sujeito O (20;9). Na combinação em dupla. Como seria esse passeio? 6 passeios. Porque cada um tem três opções em dupla. Como fez? Eu fui olhando. Porque cada um vai ter 3 opções de dupla, só que excluindo as que são repetição dá 6. Eu olhei por aqui mesmo. O primeiro vai ter 3 opções e o segundo vai ter duas opções e o terceiro vai ter uma e então dá 6 passeios. Quantas vezes cada um foi passear? Três. Porque cada cor vai sair 3 vezes e uma vai ficar em casa. Na combinação em trios. Com o pensamento reflexivo, desvinculado parcialmente do concreto, sem mexer com as fichas disse serem possíveis 4 combinações. Como você fez para saber? Fiz da mesma forma que em dupla. Imaginei o roxo com qual trio podia formar e ia formar com o vermelho e amarelo e com o vermelho e preto e com o amarelo e preto. Aí, para eu formar um trio com o vermelho, eu só olho para esse amarelo e preto porque os trios que formam entre ele e o roxo já foram contados. Aí dá mais um. Daí já foram feitos todos os possíveis. São quatro trios. Quantas vezes cada cor for passear em trio? Três vezes? Porque dá pra formar 3 vezes , 3 passeios com cada cor. Assim, as combinações passam a ser parte integrante do conjunto das combinações possíveis que determinam uma estrutura lógica geral. A exemplo o sujeito J (18;2), de posse de estrutura hipotético-dedutiva, não tem mais necessidade de comprovação prática e analisa, no plano das possibilidades, a combinatória em dupla e trio. Coordena entre os 4 elementos as correspondências envolvidas e antecipa as relações possíveis para a combinatória. Sua estrutura de pensamento possibilita adotar um método (interseção dirigida), no qual cada 111 termo (ficha) se associa sucessivamente a todos os seguintes. Assim, o sujeito torna-se capaz de antecipar o número de combinações possíveis para qualquer quantidade de cores. Outro exemplo é o sujeito R (17;9), cuja estrutura de pensamento dedutiva, característica nesse nível, possibilitou a análise do particular para a generalização do possível, unindo todas as possibilidades de cada situação combinatória. Não necessitou a manipulação das fichas pois seu pensamento está desvinculado do concreto. No entanto, questionado se na hipótese de não ter a presença visual das fichas admitiu: Ficaria mais difícil, teria que imaginar isso ou usar um cálculo. Esse sujeito mesmo chegando as 15 combinações, inclusive incluindo o “não passeio” como uma possibilidade, ao final, não soube dizer quantas combinações foram realizadas. Para rever, solicitou a possibilidade de anotar num papel, no sentido de confirmar se todas as possibilidades foram contempladas. Não encontramos nenhum sujeito no nível IIIB, quando realizam e descobrem a equilibração do sistema, passando a existir a “Necessidade de generalização”, de formular um fator geral para as relações e da veracidade da lei. Essa equilibração do sistema possibilita realizar combinações completas e sistemáticas, de modo multiplicativo de ordem, dissociando fatores e antecipando os resultados. Há necessidade da formulação, explicação das relações e a razão das combinações, bem como, de certificarem-se da generalização e da veracidade da lei. Essa descoberta e compreensão do sistema adotado e da compreensão da lei ocorrem pela tomada de consciência das relações para esgotar todas as combinações possíveis e chegar ao conceito da totalidade operatória, tirando desse sistema formal a própria formulação. Tornase possível assim nesse nível esgotar as possibilidades, conseguindo relacionar entre si as quatro classes básicas, até obter as 16 combinações possíveis, tomando cada parte (elementos) do conjunto das partes uma a uma, duas a duas, três as três, as quatro ao mesmo tempo ou nenhuma delas. A Tabela 6, a seguir, apresenta os dados obtidos na aplicação de Prova da Combinatória, mostrando os níveis de desenvolvimento relativo aos participantes da pesquisa. Tabela 6 – Níveis de construção da noção de combinatória - Prova da Combinatória - 1º sem./2014. PARTICIPANTE IDADE IA IB IIA IIB IIIA IIIB A B C D 20;5 24;4 18;1 19;7 - - x x x x Continua na próxima página 112 E F G H I J L M N O P Q R S T U 20;9 18;9 20;2 18;7 18;2 18;2 18;1 18;5 18;3 20;9 17;6 18;9 17;9 19;9 20;2 17;5 Total ..................................... - - 0 0 0 x x x x x x x x x 13 (65%) x x x x x x - x 7 (35%) 0 Fonte: Dados da pesquisa Na Tabela acima, podemos observar que 65% dos acadêmicos encontram-se no nível IIB, já tendo posse de todos os elementos necessários à criação da lei geral da combinatória, no entanto, ainda possuem dificuldade em conceber a idéia da combinação, ou seja, não possuem uma hipótese explicativa. Ainda não têm esquemas e estrutura mental suficiente para verificar o caráter integrado das operações que efetuam e nem de organizar os fatos em termos de dissociação para contemplar todas as combinatórias. São capazes de perceber os fatores envolvidos, mas desde que presentes no observado. Não refletem sobre a ação realizada o que, portanto, impossibilita a tomada de consciência. Estruturalmente, não tem construído um método sistemático que possibilite considerar todas as possibilidades, pois o pensamento trabalha por associação, com pequenas sistematizações e correspondências sucessivas. Não conseguem ainda um sistema completo pela inexistência de uma correspondência geral e que combine todas as possibilidades. Se transpusermos essa capacidade cognitiva para o universo da aprendizagem da matemática podemos considerar que na formação de qualquer noção nesse nível ela se faz como se tivesse um caráter físico, ligado à situação concreta. Para esses acadêmicos as noções abstratas se tornam difíceis e impossíveis de entender, por não terem sido desenvolvidas estruturas capazes dessa abstração. Outro nível de desenvolvimento, mais desenvolvido e que atingiu 35% dos acadêmicos foi o IIIA, considerado período inicial do formal quando já possuem capacidade de organização e sistematização generalizada. Dessa forma, utilizam a lógica das proposições 113 e são capazes de considerar dois sistemas independentes que interagem e conseguindo assim ligar todas as associações entre elementos, bem como, dissociar a realidade bruta, ou seja, os fatores envolvidos. Acreditando na existência de uma lei única e geral, onde cada possibilidade faz parte de um todo, realizam combinações mais metódicas e completas, mediante sistema de operações de 2ª potência. A estrutura de pensamento dedutiva, no plano do possível, parte de uma idéia particular para a generalização, onde as combinações começam a fazer parte de um conjunto de combinações possíveis, sem negligenciar nenhuma associação, viabilizando assim unir todas as possibilidades entre si. Não encontramos nenhum acadêmico no nível IIIB, quando compreendem a lei e efetivam a equilibração do sistema que possibilita realizar combinações completas envolvendo e esgotando todas as possibilidades. Baseado na experiência dessa prova da combinatória devemos considerar, no âmbito da construção dos conceitos, do raciocínio lógico-matemático e do pensamento matemático a importância do princípio da coordenação de ações, numa experiência ativa, de efetivo significado cognitivo. O uso de procedimentos essencialmente técnicos da prática de ensino não são adequados do ponto de vista de como se aprende. O ensino para ter bons resultados deve ser adequado à forma como se processa o aprendizado, ou seja, como ocorre o processo de desenvolvimento. Nesse sentido, os métodos devem estar relacionados e em acordo às concepções epistemológicas. Não podem ser puramente verbais, mas sim, desenvolvidos com atividades práticas, intuitivas, lógicas, como classificar, organizar, fazendo intersecções, instruções complexas, criando e fazendo perceber a utilidade dessas noções, encontrando nelas um sentido e assim despertando o interesse pelo aprender. Existe uma relação entre o entendimento da matemática com o nível cognitivo e que para tanto se faz necessário métodos de ensino que estimulem o desenvolvimento de conceitos e operações matemáticas. Podemos nos referir como exemplo a aprendizagem e o domínio das operações básicas. Elas são fundamentais para as etapas seguintes quando se estruturam conceitos mais complexos e que exigem o domínio lógico e compreensão dessas operações básicas. Dessa forma faz-se necessário que os professores, já no ensino básico nos primeiros contatos dos acadêmicos com problemas de contagem, descrição e enumeração devem trabalhar e criar situações e estratégias sistemáticas com problemas que envolvam pensamento combinatório elementar para aquisição das estruturas em desenvolvimento. A prova operatória da combinatória envolve conceitos apreendidos no ensino médio (Análise Combinatória) e percebemos que a maioria dos sujeitos, mesmo relacionando a experiência da prova operatória, com o já aprendido a nível curricular tinham apenas uma leve 114 lembrança sem demonstrar terem algum método, fórmula, principio multiplicativo, ou seja, uma técnica de resolução do problema apresentado para chegar ao número de possibilidades. Da mesma forma, outros acadêmicos não manifestaram nenhuma ligação da prova da combinatória com algum conceito ou noção matemática estudada curricularmente. Essa dificuldade de raciocino combinatório, relativo ao conteúdo curricular sem significado cognitivo é recorrente pelo aprendizado mecânico, padronizado, mediante fórmulas e algoritmos sem entendimento ou compreensão. A combinatória é fundamental para reforçar os poderes do pensamento em combinar objetos ou fatores entre si, ou idéias ou proposições ainda raciocinar sobre a realidade apresentada não mais limitada e concreta, mas dentro de um número qualquer de combinações, onde as novas operações comportam todas as combinações. Usa poderes dedutivos de inteligência, superpondo às operações elementares num sistema de operações proposicionais. O raciocínio combinatório possibilita contagem, enumeração e esgotamento do número de possibilidades, sendo importante para analisar situações visando esgotar suas possibilidades de organização. A aprendizagem do raciocínio combinatório é um componente importante do pensamento formal e necessário para o raciocínio lógico geral utilizado em todas as áreas de conhecimento inclusive da matemática. O raciocínio combinatório não deve ser aprendido meramente como uma lista de fórmulas, mas sim mediante situações problemas. Os conceitos da análise combinatória devem ser trabalhados numa nova concepção de ensino aprendizagem, que mesmo com rigor matemático seja prazerosa pelo espaço que possibilita instigar, participar, interagir, refletir, construir e re-construir conhecimento. Essa dificuldade encontrada nos acadêmicos é decorrente da deficiência do ensino oferecido na educação básica, com ênfase em fórmulas. 5.3.2.2 Prova das relações entre superfícies e perímetros dos retângulos A prova operatória de relações entre superfícies e perímetros dos retângulos avalia a construção da abstração reflexionante, considerada por Piaget et al. (1995) o motor do desenvolvimento cognitivo. Mediante as respostas obtidas por meio da manipulação de dois dispositivos, nos quais área e perímetro variam inversamente, a construção da abstração reflexionante é analisada em 5 níveis (IA, IB, IIA, IIB e III), que definem a substituição gradual da 115 abstração empírica. No nível IA, a análise do sujeito baseia-se na simples aceitação das aparências, retiradas pela modificação e mudanças perceptivas da figura que fazem acreditar que tanto a superfície, quanto o perímetro em algum momento aumentam e, no outro, diminuem simultaneamente. Não há busca em ser coerente, mesmo na transformação T3 do instrumento A, no qual as respostas podem indicar diminuição da superfície e aumento do perímetro. A abstração empírica é predominante, fornecendo dados de fato, sem reunir em um todo o sistema de transformações e, sobretudo, sem fornecer justificativas coerentes. Não encontramos nenhum sujeito no nível IA. No nível IB, por constatar o que é aparente e não ter noção da compensação (o que se retira de um lugar é colocado em outro) há dúvidas entre aumentos e diminuições dos dispositivos. Os sujeitos não conseguem perceber a conservação do perímetro (barbante), porque se prendem ao que acontece com o comprimento do fio. A percepção das mudanças faz acreditar que o perímetro ficou menor em uma transformação e maior em outra, ou viceversa. Existe uma correspondência global entre superfície e perímetro (ambos aumentando e diminuindo ao mesmo tempo). Observa-se, portanto, a independência da conservação do perímetro em relação à conservação da área. Como a abstração empírica se baseia no observável, há tendência a contradições, pois o mecanismo cognitivo não é capaz de organizar e reorganizar o pensamento que não é reflexivo. Não encontramos nenhum sujeito no nível IB. No nível IIA, as respostas corretas começam a se impor, ocorre a descoberta da invariabilidade do barbante (perímetro). Descobrem que a disposição dos lados muda, mas que se compensam, ou seja, um lado aumenta e outro diminui. A análise do perímetro é baseada apenas na forma dos lados. No entanto não compreendem a conservação do perímetro, em termos matemáticos, ou seja, a relação lógico-matemática envolvida: Sujeito T (20;2) Na manipulação do Instrumento A (T1 e T2): Eu falo que a formiga e o cupim, independente da corda e dos pontos que fica eles comem a mesma quantidade porque apesar disso a proporção da corda se mantém. Enquanto num aumenta a largura, no outro diminui o comprimento (T1). Alegou que o tamanho da corda é a mesma e que o tamanho não mudou. Que ao mesmo tempo em que está mais comprido ficou menos largo. Que só a figura mudou e que, portanto, a área é a mesma. 116 No nível IIB, uma abstração reflexionante infrutífera impõe-se e faz com que o sujeito deforme a metade dos fatos, reprimindo o controle da abstração pseudo-empírica. Por causa das conservações generalizadas, existe a nítida tendência à identificação, acreditando que, na mudança do dispositivo, as principais propriedades se mantêm ou se conservam. Os sujeitos acreditam nas duplas conservações e que ambos (perímetro e área) possuem uma relação direta de conservação. Em razão do pensamento comutativo dessa dupla conservação, o sujeito tem uma forte tendência a explicar a conservação da área em função do perímetro ou a comparação da área com o perímetro. Alguns exemplos: Sujeito P (17;6). Na análise do perímetro do instrumento B (T1 e T2): O caminho da formiga é o mesmo, porque as madeiras só foram colocadas de uma forma diferente e a área também porque é a mesma madeira anterior. Na T2 (...) parece que ficou mais comprido, mas continua a mesma coisa. Só parece um caminho maior por ser mais comprido e mais estreito, mas a distância percorrida vai ser a mesma. Na análise da área: (...) É a mesma em função da distância percorrida pela formiga. Sujeito R (17;6) Em (T2) no instrumento (A) explica: É a mesma área porque o fio não estica e nem se comprime. Então, a área é a mesma. Se a distância e o fio estiverem esticados, então a área é a mesma também. Conforme observamos anteriormente, os sujeitos sustentam que tudo se compensa em razão da sua primazia geral. Essa transformação (T3) no instrumento (A) causa conflito, com tomada de consciência, mas de ordem da reconstituição das relações descobertas, com a abstração pseudo-empírica. Mas, como essa reconstituição não ocorre ainda em nível da reflexão sobre o refletido, característico do raciocínio abstrato, conduz ao erro, e a primazia abusiva das conservações fundadas nas compensações impostas prevalece. O resumo e a comparação atingem, nesse nível, apenas as esquematizações por identificação do resultado ou por oposição, não conforme, entretanto, às ultimas operações sustentadas por ocasião das questões: Sujeito: L (18;1). Na comparação do instrumento (A e B): A ideia dos dois é a mesma. O contorno e volume são o mesmo nas ripas e na prancha. Não vi, porque não enxergava o que estava dentro, mas como você me deu as ripas eu pude enxergar que é o mesmo que ele 117 comia. Mas a ideia é a mesma de ir diminuindo. Aqui na madeira a formiga anda o mesmo que na prancha, pois as madeiras só mudam de lugar. E em relação ao cupim? Primeiro eu disse não mudava na prancha, mas vendo agora aqui nesse das madeiras eu acho que não muda, porque não tira o espaço, porque mostrou que as tabuas continuavam as mesmas. Então, me fez crer que seria o mesmo em relação ao cupim. Acho que ele vai comendo sempre o mesmo. No começo você tinha concluído que diminuía a superfície no instrumento (A)! Sim, mas agora acredito que seja o mesmo. Mudou de ideia em função do que percebeu na prancha? Sim. Conclui que a formiga e cupim são os mesmos nos dois jogos. Tem certeza? Certeza não. O jogo então é igual? Sim. A prancha mostra bem onde a formiga anda, mas não mostra direito a parte do cupim, mas no outro da madeira é ao contrário. Mostra mais a parte interna do cupim e não tanto onde a formiga anda. No nível III, o sujeito emite respostas corretas sobre as relações entre superfície e perímetro. Embora exista um raciocínio lógico que embasa o pensamento, algumas dúvidas entre aumentos e diminuições persistem, principalmente no momento de entrada nesse nível. As respostas sobre as relações entre superfícies e perímetros dos retângulos, são corretas. Por adquirir a capacidade de reflexão sobre o refletido, considerada uma reflexão de grau superior, o sujeito liberta-se da incompatibilidade das duas conservações possibilitando fazer constatações mais reais. Ocorre uma reorganização reflexionante de reflexão sobre a reflexão. O sujeito O (20;9) na transformação do instrumento A, demonstrou dúvidas nas primeiras regulações levando a procura de explicações quanto a proporcionalidade entre o perímetro e área, mas seu raciocínio matemático aliado a sua noção lógica proporcional possibilitou reflexão, tomada de consciência e explicação para o problema: Vai ser o mesmo tanto. Estou tentando fazer a conta. Que tipo de conta? Da área com relação ao diâmetro. Como você faz isso? Deixa eu pensar!.Não!. Vai mudar. Porque o diâmetro vai ser sempre igual, mas a área não. Ela vai diminuindo conforme vou achatando. Como você concluiu isso? Calculando. Como assim? Eu na minha mente eu coloquei. Aqui no quadrado eu atribui 4 valores iguais de cada lado. O diâmetro vai ser 16, mas a área vai ser 16. De onde tirou 16? Eu fiz um lado x o outro. E para o diâmetro eu somei os 4 lados. No branco (T1) eu aumentei um para o comprimento e diminui um na altura, como se fosse 5 e 3 . Se eu somar os 4 lados vai dar 16 de novo, mas área 3 x 5 vai dar 15. Então diminuiu. Pro (T2) se eu usar no comprimento 6 e na altura 2... 12, 14, 16. Vai dar 16 de novo o diâmetro, mas dai 2 x 6 vai dar a área. Então a parte do cupim vai diminuindo. 118 No excerto do protocolo de O, fica bem claro de que este sujeito tem estrutura de pensamento formal, revelada inclusive nas suas estratégias de pensamento para dar conta da sua análise no instrumento A (T3): Que análise você faria para ter certeza? Que para o mesmo diâmetro quanto mais eu diminuo as laterais mais vou diminuindo a área também. Nesse sentido fez um resumo coerente: O caminho da formiga vai ser sempre o mesmo, mas quanto mais comprido e menos largo menor vai ser a área do cupim. O caminho da formiga continua sendo o mesmo porque o fio é o mesmo. Conforme vou diminuindo dos lados eu vou aumentando o comprimento também. No comparativo dos dois instrumentos não teve dúvida: São semelhantes. Nesses dois, um tem uma proporção para uma coisa e o outro tem para outra. Percebemos no excerto que o sujeito O percebe a diferença entre o instrumento A e B, sendo capaz de formular a comparação com uma mobilidade de pensamento frente às dificuldades impostas em qualquer novidade e complexidade do problema. É capaz, portanto, nesse nível de organizar e responder a todas as necessidades do problema. A Tabela 7, a seguir, apresenta os dados obtidos na aplicação da Prova Operatória das Relações entre superfícies e perímetros dos retângulos, para diagnóstico da construção da abstração reflexionante, mostrando os níveis de desenvolvimento relativos aos participantes da pesquisa. Tabela 7 – Níveis de construção da abstração reflexionante - Prova das Relações entre Superfícies e Perímetros dos Retângulos - 1º sem./2014. PARTICIPANTE IDADE IA IB IIA IIB IIIA IIIB A B C D E F G H I J L M N O P Q R 20;5 24;4 18;1 19;7 20;9 18;9 20;2 18;7 18;2 18;2 18;1 18;5 18;3 20;9 17;6 18;9 17;9 - x x - x x x x x x x x x x x x x x x Continua na próxima página 119 19;9 S 20;2 T 17;5 U Total........................................ .. Percentual............ 0 0 x x x 3 (13%) 13 (67%) 4 (20%) 0 Fonte: Dados da pesquisa Mediante os resultados obtidos na Prova das Relações entre Superfícies e Perímetros dos Retângulos podemos constatar que 13% dos sujeitos estão no início do nível IIA, no qual o sujeito opera por abstração empírica e pseudo-empírica, preso ao concreto e ao observável no objeto e não conseguem realizar uma conservação em termos matemáticos. Do universo total de acadêmicos 80% estão no nível II (A e B) de desenvolvimento e 20% foram considerados sendo do nível IIIA, cuja estrutura de pensamento já possibilita a percepção de relações coerentes entre superfície e perímetro. Essa capacidade cognitiva se dá em função uma reorganização reflexionante que leva a abstração refletida, onde se dá uma verdadeira reflexão sobre a reflexão ou a capacidade de expressar, de maneira escrita, oral ou pictórica, os conhecimentos construídos. O pensamento nesse nível assume uma nova forma de equilíbrio. Torna-se lógico e proposicional, cuja reflexão já é independente, desprendida totalmente do concreto como no nível anterior. Os sujeitos consideram o real como um conjunto de relações possíveis e não mais baseadas no que é observado como no nível anterior. Isso possibilita a capacidade de dissociarem e interpretar os fatores, idéias, preposições envolvidas e aos poucos conseguir construir e dominar capacidades envolvidas nos conteúdos e conceitos matemáticos como: explicar, generalizar, abstrair, deduzindo por preposições, teorizando de forma abstrata, tirando conclusões, num universo real de transformações possíveis. Essas características dos processos cognitivos peculiares em cada nível de desenvolvimento são fatores interferentes para a aprendizagem matemática. Nesse sentido, as estruturas cognitivas de pensamento, possibilitadas pelos sistemas de abstração, se constroem mediante um processo contínuo de desequilíbrios, oportunizado por uma ação ativa. Isso posto faz elucidar uma mudança emergente na prática e visão de ensino, especialmente da matemática e que ora prevalece como sendo empirista e inatista. Essa estratégia de ensino em vigor aparece fortemente marcada no sistema educacional. Nesse contexto especialmente da matemática, observamos um ensino pautado no predomínio da mera exposição oral e discursiva de conteúdos, priorizando habilidades de memorização de definições fórmulas e regras, de reprodução, sem evidenciar um verdadeiro entendimento. Em detrimento da construção do conhecimento, evidenciamos um ritual de listas intermináveis de exercícios apreendidos mecanicamente, sem problematização e relação 120 com a prática, em detrimento da construção do conhecimento. Isso implicará nas condições necessárias e favoráveis ao desenvolvimento de estruturas cognitivas desses sujeitos. Considerando que na aprendizagem se dá uma relação interativa do sujeito com o objeto de conhecimento podemos afirmar de que os conteúdos matemáticos por terem um caráter estático, aliado a um sistema de ensino passivo, são ponto crucial como obstáculo para a sua compreensão. No entanto se este for de caráter dinâmico, auxiliará para que os acadêmicos consigam realizar construções mentais lógico-matemáticas viabilizando a aprendizagem. Para Piaget a aprendizagem deve ser um processo que possibilite a construção ativa do conhecimento e para tanto o acadêmico dever ser participante desse processo, desenvolvendo assim as suas funções cognitivas, pela evolução das suas estruturas mentais. Dessa forma a ação pedagógica deve extrapolar o paradigma na transmissão de conteúdos. A disciplina de Cálculo Diferencial Integral é composta de linguagem e símbolos matemáticos que não são aprendidos por mera transmissão, mas se constroem por longos processos de construção aliado a capacidade estrutural do sujeito. As dificuldades de aprendizagem são decorrentes de alterações estruturais, que repercutem nos processos de aquisição, construção e desenvolvimento das funções cognitivas. Nesse sentido, a psicologia cognitiva oferece subsídios para o professor entender os processos cognitivos que envolvem conceitos matemáticos, bem como, os obstáculos advindos da apreensão desses conceitos. O professor deve se orientar no sentido de compreender a produção e forma de superação das defasagens cognitivas mediante uma postura epistemológica consciente. A necessidade de considerar o processo de desenvolvimento cognitivo, aliado a um processo de ensino que viabilize essa construção do conhecimento é reforçada pelos resultados apresentados acima. Se considerarmos que a maioria (80%) dos acadêmicos possui um pensamento ainda vinculado ao mundo concreto e físico, preso ao real, a forma de ensino preponderante, meramente transmissivo, não viabiliza processos cognitivos que poderão vir a libertarem-se do mundo concreto, viabilizando reflexionamento e abstração refletida abstrata, necessária para a matemática. O professor precisa criar situações que desafiem cognitivamente, favorecendo o processo de abstração reflexionante, possibilitando a construção de novos conhecimentos. A maioria dos sujeitos ainda se encontra num nível em que pela faixa etária, conforme Piaget deveria estar operando tanto logicamente sobre o mundo real quanto sobre o mundo possível mediante hipóteses. Sabemos que cada fase de desenvolvimento carrega em si características e possibilidade de maturação e aquisição de novas estruturas. Nesse sentido conhecendo as possibilidades o professor poderá oferecer estímulos adequados para um maior 121 desenvolvimento. Dessa forma, apesar das complexidades matemáticas e dificuldades de aprendizagem resultantes do Nível de Desenvolvimento Cognitivo estas podem ser supridas ou amenizadas pela construção de experiências matemáticas que viabilizem a abstração e generalização. Dessa forma, podemos considerar e inferir como obstáculos prováveis na aprendizagem da Disciplina de Cálculo Diferencial Integral a limitação por características dos processos cognitivos presentes na maioria dos acadêmicos. A aprendizagem de conceitos matemáticos se baseia na capacidade de fazer relações, deduções, indução. São conceitos abstratos, não diretamente observáveis, de natureza lógico-matemática e não empírica e que para tanto implicam em estruturas cognitivas não presentes nos sujeitos do nível IIA e IIB, exercendo, portanto, influência na aprendizagem. Na aprendizagem da matemática existem dificuldades de natureza conceitual e compreensão da linguagem matemática que refletem na interpretação de problemas. Diante disso observamos, na aplicação da Prova das Relações entre Superfícies e Perímetros dos Retângulos, considerando o conteúdo implícito nessa prova, incoerência no entendimento das noções de perímetro e área. Para a resolução do problema os acadêmicos tentavam utilizar os conceitos aprendidos em sala de aula. Alguns participantes utilizavam a fórmula da área de maneira equivalente para definir o perímetro ou vice versa. Portanto, dado a não compreensão plena desses conceitos, aliado à característica de pensamento concreto, própria desse nível, vinculada ao observável físico, não conseguiam resolver corretamente a situação proposta pela prova, ou seja, distorciam e confundiam a compreensão real da experiência. Assim, podemos constatar que ter a noção do conteúdo curricular não significa obrigatoriamente o entendimento e compreensão desses conceitos. 5.3.2.3 Prova de equilíbrio da balança O experimento com a balança, tarefa denominada “equilíbrio da balança” (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976) tem por objetivo avaliar os esquemas operatórios ou diferentes níveis do processo de elaboração para o esquema de proporcionalidade e do equilíbrio entre ação e reação. O equilíbrio poderá ser deduzido por aplicação da simetria ou por compensação. Assim, o desequilíbrio acontece, quando entre determinados pares e distâncias não é verificado um sistema de compensação. É necessário, portanto, a utilização 122 do esquema de proporção, descobrindo que distância e peso se compensam exatamente. Dessa forma, é preciso compreender que se deve considerar a distância entre o peso e o centro da balança e não o peso e a extremidade dos braços. Assim sendo, é fundamental compreender que existe uma relação de compensação, distinta da inversão. O equilíbrio só poderá ser restabelecido, se as variáveis em questão (peso e distância) forem identificadas e relacionadas de modo apropriado. Essa prova prevê a categorização em seis níveis assim identificados: IA, IB, IIA, IIB, IIA, IIIB. No nível IA (3 a 5 anos aproximadamente), não há qualquer forma de operação concreta. O equilíbrio é obtido por compensações sensório-motoras não percebendo que este atua de maneira independente: “Há indiferenciação entre a ação pessoal e o processo exterior” (PIAGET, 1976, p. 125). As regulações são representativas, por compensação global, sem reversibilidade sistêmica. Não foram encontrados sujeitos nesse nível. Da mesma forma também não encontramos nenhum sujeito no nível IB (5 a 7 anos aproximadamente), quando ocorre a “Articulação das intuições na direção da compensação dos pesos” (INHELDER; PIAGET, [1976], 1976, p. 125). No entanto, ainda não organizam a ação e procedem por correções e regulações sucessivas no sentido de equalizar, adicionar e antecipar transformações por reciprocidade e inversão, na busca da igualdade. Os indivíduos aqui procedem, portanto, por substituições, adjunções, ou supressões. Não sabem agir sistematicamente no sentido de conseguir a igualdade. Não operam ainda reversivelmente. No nível II, os progressos são perceptíveis, em razão da possibilidade de igualar e da atividade exata dos pesos pela simetria. Entretanto, essa coordenação (peso e distância) ainda é dada por regulações intuitivas, por tentativas, sem correspondências gerais. Descobre que o equilíbrio é possível entre um peso menor, colocado a maior distância, e um peso maior, colocado a menor distância, porém ainda não tiram disso correspondências gerais. No nível IIA (7 a 9 anos aproximadamente), o pensamento adquire a capacidade de operar mentalmente e evolui nas suas estratégias de resolução de problemas, descobrindo por correspondência qualitativa, a lei de que, quanto mais pesado for, tanto mais próximo deverá estar do eixo central. Os sujeitos tornam-se capaz de seriar os pesos e de verificar suas igualdades. Realizam somas de maneira reversível e comparam corretamente duas reuniões de pesos, mas ainda não coordenam de forma sistemática peso e distância. Procedem por regulações intuitivas e não por proporcionalidade métrica. Descobrem o equilíbrio por ensaio e erro, deslocamento orientado mas sem tirar correspondências gerais. Um exemplo dessa capacidade de pensamento no nível IIA, especialmente da 123 coordenação qualitativa e intuitiva de pesos, pode ser demonstrada pelo sujeito T (20;2) que em razão da sua análise qualitativa intuitiva, tinha o entendimento inicial que para buscar o equilíbrio é necessário que os pesos fiquem duas medidas de diferença para cada 10 gramas de peso entre um e outro, apesar de que, na prática, nem sempre isso era considerado: Sujeito T (20;2): Vou continuar achando a explicação na diferença de dois...pois agora está 12 e 8, uma diferença de 4 pontos. Então, acho que a variação de peso vai sempre de 2 em dois. Mas não sei explicar por que. Ao definir peso e distância para o peso 20 posicionado na distância 6: O 30 (peso) talvez no 4 (distância). Porque dá diferença boa e acho que equilibraria. Que explicação você me dá para ter colocado aí? A diferença de distância entre eles dá 2. Foi o que eu falei que precisa para equilibrar um peso. Buscando o equilíbrio para o peso 10 e 40: Um vai no 8 e o outro no 2. Por quê? Pela diferença ... Porque no 30 a diferença de peso é uma escala de 2. Me explica melhor isso? Porque a diferença entre o número 40 e 10 é de 30. Nesse caso, eu considero uma diferença de 2 escalas para cada 10. Percebemos, portanto, que T, por ter uma estrutura de pensamento que coordena o equilíbrio por deslocamento orientado, de correspondência qualitativa faz acreditar que o equilíbrio é estabelecido de âmbito geral por uma diferença de 2 escalas proporcionais para cada 10 gramas. Essa idéia rígida de proporcionalidade de pensamento se manifesta em todas as situações práticas desse experimento, inclusive ao ter que posicionar pesos não proporcionais. A exemplo disso transcrevemos a resposta desse sujeito T perante a tarefa de buscar o equilíbrio entre o peso 15 e 10: Um vai no 4 e o outro entre 5 e 6. Porque a diferença de 10 para 15 dá uma casa. Como o 10 é mais leve então ele vai mais para a extremidade no 5.0. Outro exemplo desse padrão único e geral de proporcionalidade no sujeito T (20;2) evidencia que, mesmo não conseguindo êxito na busca de equilíbrio, sua estrutura de pensamento não consegue uma explicação coerente para essa proporcionalidade. Em alguns momentos, obtém êxito no equilíbrio e, em outros, com pensamento influenciado pelo seu parâmetro rígido de proporcionalidade. Não obtém êxito no equilíbrio porque não conseguiu ver uma relação coerente entre os pesos e a medida para o equilíbrio, ou seja, uma relação entre ambos. Essas noções e análises apenas qualitativas permitem certas inferências, porém deixam certos casos indeterminados. A relação para o equilíbrio não é métrica conforme o pensamento de T: O mais pesado você deve colocar mais perto da origem e o mais leve você coloca com referencia ao 124 mais pesado na extremidade. Nessa relação de peso e distância para conseguir o equilíbrio, T (20;2) considera que: Há diferença de peso nas extremidades. Assim este sujeito tem clareza de que para haver equilíbrio precisa: Ver a diferença de peso e tentar considerar uma relação na medição. Que para saber o lugar que equilibra: Analiso a diferença dos pesos e mais ou menos a distância que vou colocar um do outro. Percebemos dessa forma que a sua estrutura de pensamento não permite ainda considerar uma relação geral entre peso e equilíbrio e distância e, assim, tem a ideia fixa de que o equilíbrio é equivalente a estabelecer para cada 10 gramas de diferença entre os pesos 2 cm de distância entre um e outro. Por conseguinte, o sujeito B (24;4) pela dificuldade de estabelecer a proporcionalidade entre pesos procedia por ensaio e erro, com regulação intuitiva baseada na pouca diferença entre os pesos e assim consequentemente iria um “pouquinho mais para fora ou para dentro”. As previsões de posicionamento dos pesos baseavam-se como referência nas regulações anteriores, entre pesos e distâncias, definindo uma escolha aproximada, contudo nem sempre bem-sucedidas. Mediante a dificuldade de equilíbrio entre dois pesos alegava: Quanto maior a diferença entre os pesos mais difícil fica para equilibrar. Sua estrutura de pensamento fazia acreditar que existe uma diferença de uma casa como padrão de equilíbrio entre dois pesos e que quanto menor o peso mais possibilidade tem de se equilibrar e quanto mais desproporcionais: São mais difíceis de equilibrar porque são bem distintos. Ao final, encontrou relação no posicionamento de pesos que são o dobro. No nível IIB, com idade de 7 a 11 anos aproximadamente, a relação entre peso e distâncias se torna melhor sucedida, entretanto ainda por correspondência qualitativa e não por operação de proporcionalidade, mediante proporção métrica, a exemplo do Sujeito O (20;9) a seguir. Esses exemplos confirmam que, sem a estrutura de proporcionalidade métrica, o sujeito do nível IIB procura o equilíbrio por um deslocamento orientado, a partir da hipótese de correspondências qualitativas. Há uma tendência de proceder apenas por adições ou supressões dos pesos, chegando, assim, a algumas igualdades, mas por deslocamentos, que ocorrem excepcionalmente e por tentativas (regulações): Sujeito O (20;9) busca equilíbrio de um peso com o outro posicionado: O que fez você escolher exatamente esse lugar? Porque um é metade do peso do outro e por isso coloquei no dobro da distância. Eles são inversamente proporcionais. Como explica esse inversamente proporcional? Porque se é metade do peso é o dobro da distância e o outro que é o dobro do peso é metade da distância. Haveria condições de colocar esses pesos em outros lugares? Acho que sim, desde que sejam equivalentes a isso. Se diminuir o mesmo 125 tanto. E se for com um peso que não é exatamente o dobro? Digamos o 30 e o 10? O maior fica mais longe e o menor mais perto. Onde exatamente ele iria e por que? O 30 no 2 e 10 no 6. Como pensou? Porque o 10 é 3 x menor do que o 30 e então o 10 deve ir 3 vezes maior do que o 30. O Sujeito O (20;9) apresenta a compreensão da noção de compensação, de correspondência inversa, ou seja, de que um peso compensa o outro, por reciprocidade. No entanto, por não ter ainda a capacidade de correspondência proporcional métrica, não consegue resolver todos os problemas. Um exemplo disso é quando se encontra perante dois pesos desproporcionais. Não utiliza um padrão de pensamento uniforme de análise. Nesse nível ainda não alcançam a totalidade de noções necessárias para descobrir e estabelecer a lei do equilíbrio, de que quanto mais pesado for, tanto mais próximo estará do eixo central. É capaz de verificar igualdades de pesos, fazer adições exatas dos pesos, somar e comparar corretamente dois pesos, estabelecer simetrias, seriar, comparar distâncias mediante correspondências gerais de relações envolvidas. Adquirem a estrutura cognitiva correspondente à do agrupamento, no entanto sem haver ainda composição das partes com as partes e das partes como o todo. Deste ponto de vista, Piaget (1970) conclui que ele já está caminhando em direção da lei, mas ainda sem ter uma proporção métrica, por uma simples correspondência qualitativa. Tende a usar um mecanismo aditivo e subtrativo, por aproximação. Essa análise ainda é de ordem quantitativa métrica e o sujeito procede por comparação hipotética aproximada. O sujeito F (18;7), entre dois pesos (30 e 15), que não eram exatamente o dobro, tende a fazer sua análise hipoteticamente, baseada como sendo pesos equivalentes: Tento aproximar os meios deles. Digamos que o dobro de 15 seja 30... o dobro de 10 é 20. Então, eu tento pegar mais ou menos a distância de como se fossem múltiplos de outro peso. O sujeito I (18;2), por sua vez, argumenta, ao ser solicitado para verificar o equilíbrio entre os pesos 20 e 50, sendo que este último já estava posicionado na distância 10: Se fosse 25, a metade do 50, eu colocaria no 5, mas como é 20 eu coloco no 4. Sua estrutura de pensamento não lhe permite perceber a correspondência do peso com a distância do eixo para a proporcionalidade, por mais que tenha a noção do que o eixo representa: Seria a base. Ele deixa zerado o nível. Registramos algumas explicações sobre o entendimento em relação ao que é o equilíbrio, manifestadas pelos sujeitos no nível IIB. Conforme o sujeito R (17;9): Um peso x é vezes a medida. É igual a um peso y igual a sua medida. A medida seria essa relação com a distância. Nas palavras do sujeito A (20;5): Quanto maior a distância do centro da reta do 126 eixo, mais número elevado (distância) o outro tem que ser para equilibrar. Para resolver as questões do equilíbrio às estruturas cognitivas de pensamento nesse nível, manifestam-se de diferentes formas para estabelecer o equilíbrio, revelado pela seguinte pergunta: O que você considera, procura ver, observa e analisa, para colocar dois pesos em equilíbrio, a qual o sujeito I (18; 2) responde: Usei da lógica de eliminação de hipóteses. Deixando as mais plausíveis. O sujeito J (18; 2): Procuro ver quantas vezes o peso cabe no outro para ter a noção de espaço da unidade de medida que eu devo mexer; O Sujeito O (20, 9), por sua vez, argumenta: A proporcionalidade do peso tem que ser inversa na distância. Se um peso é duas vezes menor a distância tem que ser também duas vezes menor. Se os pesos forem 3.5 vezes maiores que o outro peso é mais complicado saber, por não ter um número fixo. Teria que fazer contas, mas tem lógica também. Quanto maior a distância do centro da reta do eixo mais difícil fica pra deduzir o equilíbrio entre os pesos. E o sujeito D (19;7) diz: A única coisa que eu tenho certeza é de que se colocar o dobro da distância do maior eu vou ter o equilíbrio. O nível III, por volta dos 11 a 15 anos, é marcado pelo aparecimento do esquema de proporção ou da proporcionalidade. A evolução do raciocínio nesse nível no sentido do uso de estratégias para resolução de problemas divide-se em dois momentos psicológicos: a tomada da consciência pela descoberta da lei que rege a resolução do problema do equilíbrio, no nível IIIA e no IIIB a explicação da mesma cuja totalidade se consolida por volta dos 11 a 12 anos, chegando ao equilíbrio por volta dos 14 a15 anos. A característica marcante é considerar todas as combinações possíveis, agrupando as ligações parciais em função do conjunto das partes. No nível IIIA, ocorre por volta dos 11 a 13 anos, com a descoberta da lei do equilíbrio. Esta é obtida na forma de proporção P/P`= L`/L, como um sistema de compensação (distância e peso se compensam e quanto maior a distância menor deve ser o peso), embora sem uma explicação causal específica. A correspondência qualitativa entre pesos e medidas cede lugar à correspondência quantitativa. Aparece a compreensão das proporções possíveis, pois essa relação anteriormente é concebida apenas de natureza aditiva em lugar da proporção P/P`= L`/L, tendo, assim, a igualdade das diferenças P – P`= L`- L. A simples relação de diferença é substituída pela noção de igualdade dos produtos PL – P`L`. A quantificação numérica da proporção é precedida por um esquema qualitativo, baseado na noção de produto lógico e por hipóteses de um objeto (peso). Nesse nível, constrói-se um esquema da proporcionalidade que corresponde à proporção inversa das distâncias e pesos (pressões e resistências) e da altura e peso (inclinações). Essa noção de proporcionalidade aparece no sujeito Q (18,9) e L (18;1) cuja 127 correspondência já é de proporção métrica, conforme transcrição a seguir: Sujeito Q (18;9). Como você faz para definir o lugar de dois pesos: A partir da análise dessa proporcionalidade, eu pego e divido um pelo outro vejo quanto um é maior que o outro e depois multiplico a distância do maior peso, a posição dele, para por essa diferença no peso entre eles. Aí eu vou conseguir achar a posição do menor peso. Sujeito L (18;1). Qual seria o último lugar possível para equilibrar esses pesos nessa régua? O último lugar seria o 7.0. Porque se eu colocar no8 não tem lugar na régua. Se colocar no4 (referindo-se ao 50), eu preciso pôr no 8 (referindo-se ao 25). Se colocar um no5, eu preciso pôr o outro no 10, e se colocar no 10, eu preciso pôr o outro no 12, e se colocar no 7, eu preciso pôr o outro no 14, e se colocar no 8, não tem como aumentar duas unidades do 15 (final da régua). O que você considera em relação aos pesos? O peso mais pesado tem que ficar mais perto do eixo ele de certa forma perde a forca que ele faz para baixo e o outro aumentando a distância aumenta a forca que ele faz para baixo. No momento de antecipar a posição de um peso XI (18;1). Digamos que se eu pegasse hipoteticamente, um peso mais pesado do que o 50 que já está posicionado na balança. O que você precisaria fazer para poder equilibrar os dois? Considerando que esse peso seria mais pesado que o 50 e que seria um terço maior eu teria que afastar mais o 50 que está muito próximo do eixo, na proporção necessária para colocar esse para equilibrar. O sujeito Q (18;9) apresenta como característica desse nível a capacidade de antecipar, pela noção de reciprocidade, simetria, compensação e proporção. É capaz de formular a hipótese de que um peso pequeno, a uma grande distância, equivale a um peso grande à pequena distância. Nesse sentido Q (18;9) é capaz de prever a distância equivalente a dois pesos. É capaz de perceber a proporcionalidade entre pesos e compreender as proporções métricas. Tem noção da igualdade dos produtos. A explicação de igualdade dos trabalhos (deslocamento de forças) já é possível nesse nível e o sujeito N (18;3) tem evidente a lei na forma da proposição P/P`= L/L`, mas sem uma explicação causal específica para o fenômeno, conforme Piaget (1970), transparente à razão. Esse sujeito já tem o esquema de proporções bem constituído no sentido de entender que ela é inversa da distância e peso P/P`= L`L, relacionado ao esquema operatório de equilíbrio e usava estratégias diferenciadas para resolver o equilíbrio: operação multiplicativa e divisória. Multiplicava o peso pela distância, considerando o seu resultado como parâmetro para a multiplicação do outro peso pela sua distância. O resultado obtido utilizava para dividir por algum número cujo resultado dará o peso que se procura. Essa foi a estratégia de resolução do equilíbrio mais utilizada por esse sujeito conforme a lei da proporcionalidade, ambos os resultados têm que ser iguais; Outra forma adotada por este sujeito foi de dividir os 2 pesos para ver a proporcionalidade entre os dois pesos (um peso dividido pelo outro peso e o 128 resultado multiplicado pela distância de um para saber o resultado a distância do outro):. Depois, utilizava esse resultado para multiplicar por um número que fosse compatível ou desse o mesmo resultado da distância do outro peso já posicionado, conforme exemplo a seguir . Sujeito N (18;3) Com um peso (10) posicionado na distância (12) buscando outro peso e distância para equilíbrio disse que teria mais um jeito de fazer para saber: Multiplicar a distância pelo peso 10 x 12 que dá o mesmo que 4 x 30 que dá 120 também. [...] Para pré-definição de um peso e distância compatível para o equilíbrio com o peso 10 posicionado a distância 12, justificou sua escolha hipotética do peso 30 na distância 12 para o equilíbrio: Por que colocou ai? Sabia que a proporcionalidade do 30 (peso pretendido) dava 3 e que se dividisse o 12 (distância) por 3 dava 4 para por no 30. Essa é a forma que você adota sempre? Conforme a situação. Aqui posso também multiplicar a distancia pelo peso (10 x 12) que dá o mesmo que do outro lado 4 x 30. Solicitado a usar outro peso e distância compatível com o peso 10 posicionado na distância 12 procedeu da mesma forma. Usei essa mesma forma de pensamento para posicionar outro peso diferente com o peso 10 posicionado a distância 12. Por que colocou ai? Sabia que a proporção deles dava 2 e daí multipliquei o 6 por 2 que deu 12. O sujeito L(18;1), usando essa mesma forma de pensamento, define: Se eles tiverem massas diferentes eu divido a maior massa pela menor vai dar, e o número que der e multiplico pela localização da maior massa e o número que der é onde coloco a menor massa. Outra forma de análise adotada pelo sujeito foi olhar a proporcionalidade de quanto um peso era maior do que o outro. Ao ser questionado sobre não estar mais usando o raciocínio da proporção em que um peso é maior que o outro, usado inicialmente, responde: Eu abandonei porque ela para números quebrados demorava mais. Pra fazer as contas fica mais fácil. Se fosse pensar aqui nesse exemplo por aquela forma de análise, você diria o quê? Que o 15 é 3 x mais pesado que o 45 e, portanto, ele tem que ir 3 x mais distante que o 45 pra equilibrar. Até o final do experimento, não chegou ao sistema multiplicativo (peso pela distância). Conforme Piaget e Inhelder ([1976], 1976), a constituição do esquema de proporções está relacionada ao período formal, assim como é possível responder que se trata de uma questão do conhecimento escolar. Porém, os autores apontam exemplos de que o esquema da proporcionalidade se constitui antes de qualquer ensino. A exemplo disso, questionamos o sujeito H (18;7) se fez alguma relação desse experimento com algo que aprendeu na escola? Deslocamento, força e peso. Explica-me esse deslocamento. Não é deslocamento, é força e peso. Nas estratégias que utilizou no experimento, usou de algum conhecimento aprendido na 129 escola? Só a matemática básica (cálculos). Não usei os cálculos que aprendi em física como força. Disse que não está lembrado como são esses cálculos. Não encontramos nenhum participante no nível IIIB, que se consolida por volta dos 14 e 15 anos aproximadamente. Neste nível, o indivíduo inicia a descoberta e a explicação da lei; descobre que o equilíbrio é dado pela reciprocidade e compensação. Compreende e é capaz de explicar que há uma relação inversa entre peso e altura. As relações qualitativas cedem lugar às quantitativas, e o sujeito estabelece proporções métricas multiplicativas entre a distância e o peso de ambos os lados. Procura explicações para o equilíbrio, chegando à quantificação numérica da proporção. Considera três variáveis para resolução do problema: o peso, a distância e a força. A compreensão do equilíbrio é simultânea à compreensão das proporções, ou seja, podem-se colocar dois pesos iguais à mesma distância ou colocar um menor, proporcionalmente à maior distância em um dos braços. A Tabela 8, a seguir, apresenta os dados obtidos a partir da aplicação da prova do Equilíbrio da Balança, mostrando os níveis de desenvolvimento relativo aos participantes da pesquisa. Tabela 8 - Níveis de construção do equilíbrio- Prova do Equilíbrio da Balança - 1º sem/2014 PARTIC. IDADE IA IB IIA IIB IIIA IIIB A 20;5 x 24;4 x B 18;1 x C 19;7 x D 20;9 x E 18;9 x F 20;2 x G 18;7 x H 18;2 x I 18;2 x J 18;1 x L 18;5 x M 18;3 x N 20;9 x O 17;6 x P 18;9 x Q 17;9 x R 19;9 x S 20;2 x T U 17;5 x 0 0 2 (10%) 12 (60 %) 6 (30%) 0 Total ......................... Fonte: Dados da pesquisa 130 Mediante avaliação do raciocínio cognitivo, e as estratégias utilizadas na resolução do problema apresentado pela prova operatória do Equilíbrio da Balança, obtivemos vários níveis de desenvolvimento. Consideramos, novamente, que as estruturas cognitivas da maioria dos sujeitos especialmente os que se encontram no nível operatório concreto não são suficientes para darem conta dos conteúdos que estão previstos na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Apesar de terem capacidade de interiorizar ações e realizá-las mentalmente com um raciocínio lógico coerente, este ainda está ligado a objetos ou situações passíveis de manipulação concreta, pela dependência de compreender as relações mediante especificidades observadas. Nesse nível, a única operação lógica utilizada em construção é o pensamento reversível, pois ainda não possuem estrutura de conjunto que integra num só sistema a inversão e reciprocidade. No entanto, os acadêmicos que estão no nível IIIA, início do formal, já têm capacidades mais ampliadas da fase anterior onde irão ampliar o conhecimento tanto em extensão como em profundidade e aos poucos caminhando para uma forma final de equilíbrio. Já generalizam o pensamento e aumentam o raciocínio abstrato e hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. Isso possibilita o entendimento dos problemas matemáticos, sem necessitar mais do concreto. Descobrem a lei que supõe a construção da proporção que não aprece no sujeito antes do nível IIIA. No nível formal, o raciocínio ou pensamento lógico é uma função cognitiva presente e, portanto, como está envolvida na aprendizagem, especialmente da matemática reflete sobre o desempenho do estudante. Com o pensamento lógico proposicional e novos esquemas operatórios o sujeito identifica e relaciona os dados entre si. Da mesma forma, a capacidade de raciocínio abstrato possibilita o raciocinar em situações novas, criar conceitos e compreender implicações. Nesse sentido, o pensamento formal com uma estrutura dupla que resulta das coordenações que ocorrem nessa etapa se torna mais elaborada e complexa, culminando num momento de equilíbrio. Dessa maneira, os esquemas operatórios formais se apresentam de forma sincronizada, a exemplo do esquema de equilíbrio mecânico e probabilidades multiplicativas, correlações e componentes cognitivos. Estes são utilizados na prova do Equilíbrio da Balança. Considerando a forma de ensino em que ocorre a disciplina de Cálculo Diferencial Integral de ensino (teórico e expositiva) aliado a estruturas abstratas, necessárias para o entendimento dos conteúdos e que ainda não são consolidadas nesses sujeitos, há uma dificuldade para a aprendizagem do cálculo. 131 5.3.3 Resultado da Análise do Rendimento Acadêmico, disciplina de Cálculo Diferencial Integral Apresentamos, na sequência, o Gráfico 7 que mostra os resultados da Análise do Rendimento Acadêmico, com base nas médias finais obtidas na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. A avaliação curricular foi realizada pelo professor da disciplina mediante aplicação de 3 provas, com conteúdos diferenciados: Funções, Limites e Derivadas, com peso 100 para cada prova. Gráfico 7 – Média percentual de notas obtidas na Análise do Rendimento Acadêmico 80 a 100 15% 60 a 79 10% 0 a 29 45% 30 a 59 30% Fonte: Dados do Sistema Acadêmico Com base na Avaliação do Rendimento Acadêmico, na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, verificamos que 75%, ou seja, 15 acadêmicos reprovaram na disciplina em questão, não obtendo a média mínima 6.0, necessária à aprovação. Deste universo de reprovados, 45% obtiveram média inferior a 30, cuja maioria tirou notas inferiores a 10. Nas notas de 30 a 59, não houve uma dispersão significativa entre as notas obtidas. Dos 25% de acadêmicos aprovados, correspondente a cinco acadêmicos, dois obtiveram média de 70 a 72 e três alcançaram médias equivalentes a 86, 90 e 98. Considerando a implicação de interferências de domínio de conceitos prévios para a aprendizagem dos conteúdos realizamos uma análise comparativa por grupo de acadêmicos aprovados e reprovados, das notas obtidas por prova realizada com base no conteúdo 132 implícito (Funções, Limites e Derivadas). No universo de acadêmicos aprovados podemos perceber que todos obtiveram comparativamente notas equivalentes e aproximadas. Isso vem a corroborar a idéia de que possuem um entendimento geral dos conceitos, já que esses conteúdos são interligados e se complementam. Portanto, demonstram um entendimento compatível ao necessário quanto ao domínio dos conceitos matemáticos. Numa análise dos 75% dos acadêmicos reprovados, observamos que na primeira avaliação, que trata sobre conteúdo de funções, a maioria não obteve nota satisfatória. Tendo em vista que esse conteúdo envolve conceitos básicos utilizados e abordados nos posteriores previstos, como Limites, Derivadas e Integrais, o rendimento da maioria ficou prejudicado na avaliação desses conteúdos. Esta dificuldade em Funções como conteúdo básico de Ensino Médio se confirmou no resultado da Avaliação do Conteúdo Matemático. Mediante essa análise comparativa individualizada, das notas obtidas nas 3 provas aplicadas que avaliaram conteúdos de Funções, Limites e Derivadas constatamos que os acadêmicos que não superam a apropriação dos conceitos implícitos em Funções levando por base a nota obtida, não obtiveram um bom desempenho nas avaliações de Limites e Derivadas. Percebemos, na maioria dos casos, que as notas da segunda e da terceira avaliação, que corresponde a Limites e Derivadas, eram significativamente menores àquela obtida na primeira avaliação envolvendo Funções. Em alguns casos, percebemos uma equivalência e homogeneidade entre as três notas; em outros, uma melhora significativa e depois o retrocesso. Houve, em alguns casos, comprometimento no resultado final pela não realização de uma determinada prova. Nesse sentido, podemos afirmar que o domínio de idéias, noções e conceitos elementares da matemática foi um implicador interferente na aprendizagem e no conseqüente resultado do desempenho curricular na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. 5.3.4 Análise comparativa do Resultado final da Avaliação do Conteúdo Matemático e da Análise do Rendimento Acadêmico A avaliação do Conteúdo Matemático foi realizada na primeira e segunda semana de início do semestre letivo, antes do contato dos acadêmicos com a disciplina de Cálculo Diferencial Integral. A Análise do Rendimento Acadêmico foi realizada ao final do semestre letivo considerando a necessidade de emissão da média final da disciplina no sistema acadêmico. 133 Apresentamos, na Tabela 9 e no Gráfico 8 a seguir , uma análise comparativa dos resultados de notas obtidas na Avaliação do Conteúdo Matemático e na Análise do Rendimento Acadêmico. Tabela 9 – Resultado de notas da Avaliação do Conteúdo Matemático e da Análise do Rendimento Acadêmico - Disciplina de Cálculo Diferencial Integral – 1º sem./2014. PARTICIPANTE IDADE MÉDIA FINAL/ RESULTADO ACM Resultado ARA Resultado A 20;5 11 Reprovado 29 Reprovado B 24;4 11 Reprovado 20 Reprovado C 18;1 8 Reprovado 06 Reprovado D 19;7 28 Reprovado 72 Aprovado E 20;9 18 Reprovado 25 Reprovado F 18;9 17 Reprovado 08 Reprovado G 20;2 34 Reprovado 08 Reprovado H 18;7 14 Reprovado 34 Reprovado I 18;2 23 Reprovado 07 Reprovado J 18;2 42 Reprovado 48 Reprovado L 18;1 32 Reprovado 90 Aprovado M 18;5 53 Reprovado 55 Reprovado N 18;3 57 Reprovado 54 Reprovado O 20;9 4 Reprovado 98 Aprovado P 17;6 20 Reprovado 15 Reprovado Q 18;9 39 Reprovado 86 Aprovado R 17;1 15 Reprovado 70 Aprovado S 19;9 45 Reprovado 07 Reprovado T 20;2 24 Reprovado 38 Reprovado U 17;5 18 Reprovado 42 Reprovado Total ARA Total ACM REPROVADOS 20 100% REPROVADOS 15 75% APROVADOS 0 0% APROVADOS 5 25% Fonte: Dados da Pesquisa e do Sistema Acadêmico 134 Gráfico 8 - Análise comparativa de Notas - Avaliação do Conteúdo Matemático e Análise do Rendimento Acadêmico - Cálculo Diferencial Integral. ACM ARA 13 9 7 6 3 2 0 a 29 30 a 59 0 0 60 a 79 80 a 100 Fonte: Dados da Pesquisa e do Sistema Acadêmico No comparativo de resultados entre os dois instrumentos, percebemos que nas notas de 30 a 59, existe certa similaridade de resultados. No entanto, nas notas inferiores a 30 comparativamente observa-se que na Avaliação do Conteúdo Matemático os resultados revelam que existe um menor desempenho se comparado ao que o acadêmico obteve na Avaliação do Rendimento Acadêmico. No demonstrativo de notas entre 60 a 100 os resultados foram bastante equivalentes, ou seja, existe uma proporcionalidade no número de acadêmicos entre as médias estabelecidas na Avaliação do Rendimento Acadêmico, sendo que não houve nenhum acadêmico que se enquadrasse nesse resultado na Avaliação do Conteúdo Matemático. O que podemos observar é a existência de coerência e similaridade de resultados, entre o baixo rendimento em ambos os instrumentos. Numa análise “individual” e comparativa das notas entre os dois instrumentos, ou seja, da Avaliação do Conteúdo Matemático e Avaliação do Rendimento Acadêmico, podemos perceber, na maioria dos acadêmicos, que os resultados foram bastante próximos e equivalentes. Nessa análise constamos que a diferença de notas entre ambas varia entre 2 décimos a 18 pontos. Da mesma forma numa análise coletiva “geral” as notas entre as duas avaliações são proporcionais, se comparado à quantidade de vezes em que elas são maiores e menores entre elas. 135 5.3.5 Análise do Nível de Desenvolvimento Cognitivo, Análise do Conhecimento Matemático e Análise do Rendimento Acadêmico. A Tabela 10, a seguir, apresenta resultados comparativos por instrumento aplicado, ou seja, da Avaliação do Conteúdo Matemático, Análise do Rendimento Acadêmico na disciplina de Cálculo Diferencial Integral e o Nível de Desenvolvimento Cognitivo obtido mediante a aplicação das provas operatórias. Tabela 10 – Comparação da Avaliação Conteúdo Matemático, Análise do Rendimento Acadêmico e Nível de Desenvolvimento Cognitivo – 1º sem./2014. IDADE PARTICIPANTES 20;5 24;4 18;1 18;1 20;9 18;9 20;2 18;7 18;2 18;2 18;1 18;5 18;3 20;9 17;6 18;9 17;9 19;9 20;2 17;5 PROVAS OPERATÓRIAS Resultado final Nível de desenvolvimento ACM ARA IA IB IIA IIB IIIA IIIB A R A R P C B P C B P C B P C B P C B P C B - x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x - 0 0 0 6 7 4 12 13 13 2 0 3 0 0 0 0 0 0 A B C D E F G H I J L M N O P Q R S T U INSTRUMENTO x x - - - - - - x x x - - x x - x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x - x x x x x x x - x x x x x x - - - Total Parcial 0 20 5 15 TOTAL GERAL 0 20 5 15 0 0 5 38 17 0 0 100% 25% 75 % 100% 100% 9% 63% 28% 100% Legenda: A-Aprovado ACM ARA R- Reprovado Provas Operatórias P –Relações entre Superfícies e Perímetros dos Retângulos C-Combinatória B – Equilíbrio da Balança Fonte: Dados da Pesquisa e do Sistema Acadêmico - 136 Na avaliação do Nível de Desenvolvimento Cognitivo, se considerarmos a classificação dos 20 sujeitos em cada uma das 3 provas operatórias realizadas podemos observar que a maioria classificou-se no nível IIB. Essa classificação mostrou um percentual de 63% classificados no nível operatório concreto IIB, sendo que 9% no nível IIA . Os demais 28% estão no período inicial do operatório formal IIIA, sendo que nenhum alcançou o nível mais elevado de desenvolvimento IIIB. Considerando que todos os acadêmicos não obtiveram êxito na Análise do Conhecimento Matemático, realizamos abaixo uma análise comparativa do Nível Cognitivo dos acadêmicos separadamente por rendimento na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Sendo assim, segue abaixo o gráfico 9 e 10 que apresenta o Nível Cognitivo obtido nas três provas operatórias dos acadêmicos reprovados e aprovados na disciplina de Cálculo Diferencial Integral do nível. Representamos por sujeito a freqüência cumulativa total em que foram classificados nas três provas. Quantidade de Provas Operatórias Gráfico 9 – Demonstrativo dos níveis cognitivos obtidos nas provas operatórias dos acadêmicos “reprovados” em Cálculo Diferencial Integral. 4 3 IB IIA 2 IIB IIIA 1 IIIB 0 A B C E F G H I J M N P S Alunos Fonte: Dados da Pesquisa e do Sistema Acadêmico T U 137 Ao analisar o nível de Desenvolvimento Cognitivo dos 75% acadêmicos, correspondente a 15 pessoas, reprovadas na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, podemos perceber que: 7 acadêmicos encontram-se no nível IIB, que corresponde ao operatório concreto e 8 acadêmicos no nível inicial IIIA do operatório formal, mas ainda não constituem estrutura de nível pleno de desenvolvimento. Considerando o resultado anteriormente descrito, podemos reafirmar que, os acadêmicos que estão no nível IIB, possuem ausência de instrumentos cognitivos da inteligência, o que compromete e dificulta a aprendizagem de determinados conteúdos, conforme apontaram, também, outros estudos apresentados na revisão bibliográfica dessa dissertação. Isso vem ao encontro da idéia de que a formação de estruturas cognitivas é necessária à aprendizagem dos conceitos matemáticos. Tal constatação corrobora para a compreensão de que o insucesso no rendimento na disciplina de Cálculo Diferencial Integral não é influenciado ou determinado unicamente pelas defasagens de conteúdos matemáticos, comprovadas pelo instrumento aplicado de aferição das noções básicas presentes nesses acadêmicos, mas também pela falta de estrutura cognitiva para a aprendizagem, pois ambos os fatores estão inter-relacionados. A aprendizagem é compreendida aqui, conforme os pressupostos de Piaget ([1966], 1975a), como resultado de um processo de desequilíbrio-equilíbrio - “processo de equilibração”. Este processo ocorre por uma intensa atividade de assimilação e acomodação, conduzindo à ampliação de seus recursos cognitivos e conceituais (PIAGET, [1966], 1975a, p. 379). A ausência da compreensão das ideias e conceitos essenciais do cálculo é uma fonte de obstáculos epistemológicos que surge no Ensino Superior, na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Há, no entanto, uma questão trazida pelos nossos dados, de que os oito acadêmicos que apresentaram nível cognitivo de raciocínio correspondente ao período inicial do nível formal, ou seja, IIIA, teoricamente têm melhores condições estruturais, se comparados aos demais para a apreensão e entendimento dos conteúdos matemáticos da disciplina de Cálculo Diferencial Integral. No entanto, não obtiveram êxito necessário para garantir aprovação, bem como, o rendimento foi insatisfatório na Avaliação do Conteúdo Matemático. Dessa forma, podemos supor implicações de natureza epistemológica, em decorrência da construção insuficiente de esquemas mentais, as quais parecem ter determinado ou influenciado no desempenho. Neste sentido, as condições necessárias para potencializar a construção do conhecimento, em razão dessa limitação de capacidades estruturais presentes nos sujeitos, 138 tanto da Análise do Conhecimento Matemático, quanto da Avaliação do Rendimento Acadêmico, não foram suficientes para superar as dificuldades encontradas para o entendimento dos conteúdos desta referida disciplina. Para melhor análise e compreensão das interferências na aprendizagem significativas, reafirmamos algumas características do nível IIIB, necessárias e fundamentais para a aprendizagem. Essas características se consolidam sobre a base das operações concretas já presentes e que constituem a fase final do desenvolvimento cognitivo. Posteriormente e comparativamente, reafirmamos algumas características do nível IIIA, considerado o momento inicial em que emerge estruturas cognitivas formais, presentes nos 8 sujeitos, as quais implicam diretamente sobre a aprendizagem de noções e de conceitos previstos na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. O nível IIIB é considerado o ápice do desenvolvimento da inteligência e do pensamento hipotético-dedutivo, pois é o momento em que as estruturas cognitivas alcançam o nível mais elevado e pleno de desenvolvimento. Essa forma operatória possibilita a realização de operações de raciocínio abstrato e lógico-matemático, pensando não somente operatoriamente, mas avançando em direção a raciocínios formais e abstratos. Nesse sentido, realiza abstrações reflexionantes retiradas das ações sobre o objeto, de forma a considerar todos os possíveis, capaz de pensar por hipóteses. O pensamento fundamenta-se na lógica das proposições, que é a lógica de todas as combinações, servindo-se de proposições verbais, para expressar suas hipóteses e raciocínios, assim como os resultados obtidos. O sujeito já possui um sistema único, que coordena, entre ele, várias séries e correspondências diferentes, antecipando o esquema de suas relações, antes de construí-las efetivamente. É capaz de estabelecer um caráter combinatório, subordinado do real ao possível e cuja inversão constituiu o caráter funcional mais fundamental do pensamento formal. É uma estratégia cognitiva essencial que possibilita prever todas as situações e relações causais possíveis entre elementos, utilizando todas as correspondências multiplicativas em um sistema global. É a propriedade geral mais importante do pensamento operacional formal, a partir da qual derivam todas as demais. Baseado em operações, sobre simples suposições, a pessoa é capaz de abstrair ou antecipar, dados verbais de um problema, utilizando-se da lógica das proposições, com um número maior de possibilidades operatórias. Com a capacidade de operação de segunda potência, chega ao conceito de totalidade operatória, ou operação sobre operação. Operações que se referem a outras operações, que podem pertencer ao tipo de operações concretas. É capaz, portanto, de construir relações entre relações, que se referem a outras operações e que dependem psicologicamente do tipo formal. 139 Novos esquemas operatórios aparecem sincronicamente, cuja construção se efetiva por coordenação de séries, correspondências e antecipação de esquemas de relações, num método exaustivo, que engloba todas as possibilidades, inclusive inversões e reciprocidades, que atuam como formas complementares, as quais apenas nesse plano formal podem ser reunidas num sistema único. Tem ideia da probabilidade, da relação entre as operações consideradas e todas as operações possíveis. As associações e combinações são metodicamente completas, com um pensamento matemático refinado. As correspondências combinatórias não são independentes uma das outras, mas constituem um sistema único, tal que as precedentes comandam as seguintes. As conquistas desse pensamento podem ser explicadas pelo equilíbrio alcançado, pela presença da dupla reversibilidade. Esse sistema pressupõe a intervenção das operações formais. A mudança cognitiva estrutural é profunda e é, em sua raiz, lógico- matemática. A transformação das estruturas constitui-se como o núcleo a partir do qual se irradiam as diversas modificações mais visíveis do pensamento formal. A estrutura dupla, que caracteriza o pensamento formal, resulta de coordenações que se processam nessa etapa de desenvolvimento e que atingem um nível significativo de elaboração e complexidade, representando o momento do equilíbrio cognitivo. Compreende transformações por inversão, reciprocidade, agrupando-as num sistema único. Raciocina por meio de uma estrutura de grupo, compreendendo a igualdade entre os produtos das transformações e o sistema de proporções lógicas. Essa estrutura dupla que caracteriza o pensamento formal aparece claramente como produto de coordenações que atingem um nível de equilíbrio final. Neste sentido, a estrutura formal torna possível um sistema de combinações completas e sistemáticas, que possibilitam chegar à lei, e assim antecipar o número de combinações possíveis. A descoberta e compreensão desse sistema, ou seja, da lei que rege, bem como das relações inerentes é um desenvolvimento da consciência refletida de ordem, regularidade, característica das operações concretas, no entanto, com estruturas correspondentes ao equilíbrio pleno, ao ápice do desenvolvimento e da evolução intelectual. Desta forma, chega ao ponto culminante do desenvolvimento cognitivo e ao equilíbrio do sistema, garantido pela compensação entre todas as transformações virtuais do sistema, chegando à forma final de autorregulação do sistema cognitivo, onde nenhuma transformação causa alteração estrutural do sistema. No nível inicial do período formal (IIIA), as estruturas cognitivas não estão totalmente consolidadas, ou seja, os sujeitos não possuem estruturas totais ao nível pleno, correspondente 140 ao ápice do desenvolvimento e à evolução intelectual, de forma que não possuem todas as características funcionais, dos traços gerais desse tipo de pensamento e estruturais, de estruturas lógicas do pensamento formal. É considerado aquele em que a estrutura de pensamento ainda requer alguns avanços significativos, no sentido de alcançar o potencial pleno de desenvolvimento marcado pela reflexão da inteligência sobre si mesma. Observamos que esses sujeitos ainda não efetuam, não sistematizam e nem unem as soluções em um sistema único e global. Ainda não têm a compreensão de contemplar o resultado num universo de possibilidades, no entanto o raciocínio demonstra a necessidade da não contradição ou superação da contradição. Procedem empiricamente e ainda não estão totalmente desprendidos das observações apoiadas nos objetos concretos; enquanto os sujeitos do nível IIIB utilizam-se das deduções lógicas, hipóteses, não necessitando mais de manipulação ou referência concreta, do apoio da percepção, refletindo para além do real presente. Essa limitação do sujeito do IIIA ocorre por ele não possuir, ou constituir, um sistema operatório de segunda potência, operando por proposições. Os acadêmicos caminham na descoberta progressiva da lei, num desenvolvimento lento e contínuo de consciência de ordem e de regularidade. Mesmo descobrindo a lei, não compreendem e não chegam a uma generalização construtiva de que se trata de um sistema único; já os sujeitos do IIIB, por sua vez, alcançam em sua plenitude, por meio da verificação ou rejeição de hipóteses, sistematizando as combinações possíveis entre as variáveis dadas, como descobrir o papel de cada uma na produção ou não do resultado esperado. Contudo, no nível IIIA, a lei não dá lugar a uma explicação causal específica, pois é transparente a razão. A consciência no nível IIIA consiste apenas numa antecipação vaga e intuitiva, com dificuldade de abstrair um sistema que dê conta. No entanto, no nível pleno, os indivíduos já possuem capacidade operatória que possibilita uma estrutura de conjunto. Tentam compreender o resultado num universo de possibilidades existentes, extraindo deduções lógicas a respeito da causalidade do sistema, integrando todos os resultados num sistema único, que não comporta exceções. Ainda não possui a compreensão das relações inerentes ao sistema adotado para esgotar todas as possibilidades, o que, para o nível IIIB, é possibilitado pela descoberta e compreensão da lei, viabilizado pelo raciocínio proposicional, incluindo a geração de hipóteses, observando resultados e extraindo conclusões. Mostram um pensamento de proporcionalidade, mas têm dificuldade de organizar e contemplar todas as possibilidades. Têm dificuldade de elaborar e explicar verbalmente e com lógica o resultado, mesmo quando correto; enquanto que no nível IIIB, com o domínio do 141 pensamento lógico-matemático e dedutivo, as pessoas habilitam a experimentação mental, que implica em relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses. O raciocínio lógico-matemático ainda procede por adição, subtração e quantificação numérica da proporção, mas ainda não generalizada para todos os casos, sendo que no estágio IIIB procede por sistema multiplicativo de ordem, ordenada e sistemática, por associação. No entanto, considerando o desenvolvimento como processo ativo e continuado, as estruturas cognitivas possuem abertura de pensamento à progressiva descoberta de novas possibilidades. Dessa forma, o pensamento formal é, portanto, um movimento espiral e crescente de reformulações e adaptações. É uniforme e homogêneo, constituindo um sistema de conjunto e ascende simultaneamente a todos os esquemas operacionais formais. Dado ao caráter proposicional, atende antes à estrutura das relações entre os objetos do que a seu conteúdo. Quantidade de Provas Operatórias Gráfico 10 - Demonstrativo dos níveis cognitivos obtidos nas provas operatórias dos acadêmicos “aprovados” em Cálculo Diferencial Integral. 4 3 IB 2 IIA IIB 1 IIIA 0 D L O Q R Acadêmicos Fonte: Dados da Pesquisa e do Sistema Acadêmico Analisando e comparando o nível de Desenvolvimento Cognitivo dos 5 acadêmicos “aprovados” na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, apesar de não terem obtido êxito na Análise do Conhecimento Matemático, podemos perceber que existe uma relação significativa entre o desempenho na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Nem todos obtiveram nível 142 de desenvolvimento correspondente ao período inicial do pensamento formal IIIA, no entanto todos, em alguma prova obtiveram nível operatório concreto IIB. Apesar de constatarmos que existem defasagens de conhecimentos matemáticos, revelado pela Avaliação do Conteúdo Matemático, no momento da sua aplicação, isto não foi um fator considerado preponderante para o êxito na disciplina, tendo em vista prováveis interferências contributivas e colaboradoras na superação dessas defasagens de compreensão de conteúdos curriculares. Podemos considerar que no caso especifico desses acadêmicos reprovados que o seu resultado mediante a aplicação do instrumento no período inicial de ingresso na. Universidade pode ter sofrido influências na superação dessas defasagens ao longo do processo de aprendizagem dos conteúdos desenvolvidos na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Podemos considerar portanto que essas deficiências de conhecimentos básicos podem ter ser sido supridas ao longo do semestre por contributos diversos, cuja análise foge ao foco da nossa pesquisa. A potencialidade para superação das deficiências de conteúdos podem ser relacionadas aos mecanismos estruturais formais presentes nos sujeitos, visto que os acadêmicos apresentam estruturas cognitivas suficientes para superação dessa defasagem. Acreditamos que vários fatores podem ter contribuído no sentido de resgatar esses conceitos, assim como nem sempre a aprovação revela que o alcadêmico apropriou-se dos conceitos e de todo o contexto teórico em nível de entendimento efetivo e que justifique essa aprovação. Essa análise, porém foge ao campo de pesquisa aqui proposto. 143 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Numa análise que considera processos cognitivos envolvidos no ensino/aprendizagem, emerge a necessidade de uma visão crítica da construção do conhecimento e dos mecanismos necessários para a sua constituição. Isso remete a considerar e levarmos em conta as implicações cognitivas envolvidas no processo de construção do conhecimento para um efetivo aprendizado. Os caminhos trilhados nessa pesquisa, fundamentada na Epistemologia Genética de Piaget, mostraram a realidade e a problemática envolvida na disciplina de Cálculo Diferencial Integral dos cursos de Engenharia de uma Universidade pública. Por meio dessa pesquisa, pudemos constatar e comprovar índices representativos de reprovações, cancelamentos e desistências nessa referida disciplina e a dificuldade dos acadêmicos reprovados em transpor e superar essa realidade, mesmo depois de retomada do curso mediante uma nova matrícula. Da mesma forma, foi possível inferir sobre a bagagem de conhecimentos matemáticos obtidos em níveis anteriores de escolarização, mediante a comprovação de defasagens especialmente em conceitos e noções relativas ao Ensino Médio as quais, comprometeram o desempenho acadêmico na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. A defasagem de formação básica em nível conceitual, de expressão e de linguagem matemática interfere, compromete e dificulta o entendimento dos conteúdos previstos na disciplina. Aliado a não compreensão de conceitos básicos de matemática e o consequente comprometimento na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, confirmamos ainda a existência de fatores cognitivos que implicam epistemologicamente na construção do conhecimento matemático. Pelos resultados encontrados nessa pesquisa, confirmamos, assim, a hipótese desse trabalho, ou seja, de que as Dificuldades de Aprendizagem do cálculo têm relação com o Nível de Desenvolvimento Cognitivo, ou seja, são explicadas pela ausência de instrumentos cognitivos da inteligência, da falta de estruturas de pensamento, dificultando a aprendizagem de determinados conteúdos. É necessário, portanto, que o indivíduo tenha estruturas cognitivas formais plenas que permitam a ele estabelecer as relações necessárias para a compreensão do conhecimento, atribuindo significado ao mesmo. 144 A partir dos resultados obtidos, podemos relacionar algumas implicações para a educação. Nesse sentido a realidade demonstrada quanto a aprendizagem prévia, desempenho escolar e desenvolvimento cognitivo, vêm juntar-se às discussões de mudanças emergentes no sistema acadêmico de ensino da matemática. A pedagogia atual deve ser revista, pois evidencia uma concepção empirista, inatista e predominantemente diretiva, com abordagem tradicional em detrimento à construção ativa e libertadora. Em decorrência dessa forma e modelo de ensino teórico, técnico e conceitual da matemática, a disciplina de Cálculo Diferencial Integral tem se apresentado desestimulante, desarticulada e sem caráter aplicativo prático com a realidade, desfavorecendo, assim, um aprendizado real e significativa. A Epistemologia Genética, referencial utilizado nessa pesquisa e aliado à sua implicação na aprendizagem, é um referencial teórico que possibilita entender os processos de ensino e a prática docente numa reflexão sobre a ação. Nessa visão epistemológica de construção do saber, o conhecimento não ocorre meramente pelas informações, mas pela ação e relação do sujeito sobre essas informações, potencializando o conhecimento. Ela traz benefícios à Educação na medida em que considera uma nova relação de ensino e aprendizagem como um processo ativo, que expressa como os acadêmicos aprendem, respeitando o desenvolvimento destes. Implica, portanto, num repensar de práticas à luz da teoria piagetiana, adequando atividades, conceitos e processos de ensino-aprendizagem ao nível de estruturação cognitiva e intelectual, inclusive de conhecimentos anteriores, para o êxito no processo de aprendizagem. Dessa forma, o ensino da matemática não deve estar descontextualizado da formação de estruturas cognitivas necessárias para a aprendizagem, dos conceitos matemáticos, assim como do resgate dos saberes matemáticos mínimos necessários. Essas inter-implicações estruturais confirmam-se nos resultados dessa pesquisa, considerando que todos os acadêmicos com defasagem de conhecimento e que não obtiveram desempenho satisfatório na disciplina de Cálculo Diferencial Integral não estão no nível mais elevado de desenvolvimento cognitivo, correspondente ao equilíbrio cognitivo pleno e de pensamento matemático refinado do nível pleno de desenvolvimento. As dificuldades por fatores cognitivos passam despercebidas pelos educadores se estes desconhecerem a psicologia do desenvolvimento, dos processos cognitivos inerentes, bem como da sua relação com a aprendizagem. Assim, entender os aspectos envolvidos na aprendizagem é essencial no campo educacional, tanto para os gestores como para os educadores. 145 Um processo escolar eficiente e que constrói conhecimento considera, no seu processo de ensino, aspectos inerentes ao acadêmico e ao seu desenvolvimento cognitivo, a saber: observa e considera o uso dos recursos cognitivos baseados na forma de como o educando processa, analisa, compara e absorve os conhecimentos; as estratégias que o estudante cria para elaborar e antecipar as respostas e de como usa os procedimentos de verificação e controle para experimentar as respostas ou soluções a um problema colocado; observa e considera o desenvolvimento cognitivo, habilidades e conhecimentos prévios dos educandos. O processo de aprendizagem como um sistema ativo, especialmente da matemática, terá maior sentido, na medida em que a prática docente tiver uma visão do acadêmico como um sujeito epistêmico e psicológico, sujeito da aprendizagem, capaz de agir e construir conhecimento. A prática pedagógica pode ser mais significativa, à medida que os profissionais da educação direcionarem o olhar para uma ótica do desenvolvimento cognitivo, considerando a trajetória de vida e as experiências dos educandos como importantes fatores para o processo de aprendizagem. Portanto, a prática deve incorporar novos valores para ser mais significativa, potencializando a aprendizagem, sendo que isso implica em novos encaminhamentos teóricos e metodológicos. Sendo assim, é necessária a criação de espaços para problematizar e desencadear situações que levem o acadêmico a pensar, que propiciem conflitos cognitivos, que o levem a solucionar as dificuldades, facilitando a tomada de consciência das incongruências do pensamento e raciocínio. Assim sendo consideramos importante que o ensino da disciplina de Cálculo Diferencial Integral deve ser diferenciado no sentido de utilizar métodos e técnicas que sejam adequadas às diferentes necessidades e habilidades dos estudantes, sobretudo, cognitivas. Deve considerar, favorecer e possibilitar a construção de novos significados e modos de raciocínio, considerando a relação com a vivência prática. É necessário, portanto, que se estabeleçam estratégias para fazer emergir o conhecimento de noções e conceitos não aprendidos e que estão submetidos ao ensino básico e relacionados ao desenvolvimento de estruturas cognitivas lógico-matemáticas. Com base no exposto, ao nos remetermos à análise da problemática do ensino de Cálculo Diferencial Integral nas Universidades, faz-se necessário em todos os âmbitos de ensino buscar estratégias de mudanças que relacionam para mudança efetiva desse quadro em nos âmbitos metodológico, curricular, avaliativo de ensino no sentido da melhoria da qualidade na disciplina de Cálculo Diferencial Integral que está sendo ministrada. Algumas ações estão sendo desenvolvidas no contexto de ensino superior, 146 especialmente da Engenharia, a exemplo da instituição pesquisada, buscando amenizar a problemática de aprendizagem, especialmente da disciplina de Cálculo Diferencial Integral como: adequações nas matrizes curriculares; a oferta da desta referida disciplina na modalidade EAD; a alteração de normas acadêmicas e curriculares; a implantação de cursos isolados como o Pré-Cálculo; a criação do Programa de Monitoria. Porém, nem todas as ações têm revertido em resultados efetivos na melhoria do rendimento acadêmico, uma vez que a primazia recai ainda no conteúdo e não no processo; a dinâmica de realização da disciplina não é diferenciada. Portanto, qualquer ação educativa como as apresentadas acima, é válida, mas somente será produtiva se considerar os aspectos do desenvolvimento envolvidos nessa construção do conhecimento, ou seja, que estejam vinculadas a necessidades mais amplas, implícitas e inerentes ao processo de desenvolvimento do educando. O processo do aprender está relacionado não apenas aos aspectos das capacidades intelectuais, pois envolve também as relações que se estabelecem com a construção do conhecimento, do ensino e da aprendizagem, num processo ativo de um “tornar-se” em construção, de um “vir a ser” aprendendo e construindo conhecimento. Dessa forma, sugerimos algumas ações que consideramos viáveis no âmbito da Universidade, inclusive da instituição pesquisada, a exemplo: - mudanças pedagógicas, que considerem, no seu sistema educativo e na prática de ensino, os processos de desenvolvimento cognitivo dos acadêmicos, mediante os quais eles aprendem; -adequação curricular e pedagógica dos cursos de Engenharias às problemáticas que envolvem a aprendizagem da disciplina de Cálculo Diferencial Integral, bem como, na perspectiva dos processos de desenvolvimento. Nesse sentido, várias ações podem ser realizadas, a saber: adoção de estratégias para uma prática de ensino que priorize a construção ativa e dinâmica do conhecimento, visando a uma aprendizagem significativa. Assim sendo, viabilizar a implantação de propostas didáticas, de novas metodologias de ensino da matemática e de recursos diferenciados, criando situações que estimulem a curiosidade matemática, tomada de consciência e construção do conhecimento; revisão dos sistemas de avaliação acadêmica; e adequação da carga horária e/ou da forma de organização dos conteúdos que envolvem a disciplina de Cálculo Diferencial Integral, no sentido de possibilitar a inclusão e o resgate paralelo de conteúdos e conceitos do ensino básico não aprendidos, visto que são conceitos importantes para o entendimento de conhecimentos previstos nessa disciplina; 147 - implantação de ações pedagógicas e didáticas em forma de projetos de apoio aos acadêmicos, numa dinâmica curricular, metodológica, didática e de recursos diferenciados, adotando princípios construtivistas. É preciso desenvolver atividades com aprendizagem significativa, mediante situações concretas, reais, desafiadoras que estimulem a curiosidade matemática, o desenvolvimento cognitivo, possibilitando, assim, maior compreensão e aprendizagem; - reestruturação das ações ora desenvolvidas pela instituição pesquisada a exemplo do curso de Pré-Cálculo, da disciplina de Cálculo Diferencial Integral, na modalidade EAD, da assessoria de apoio aos acadêmicos através do Programa de Monitoria e da Semana de Planejamento e o Curso de Especialização de Formação Pedagógica; Análise do processo e a forma de desenvolvimento dessas ações, considerando-se os aspectos epistemológicos envolvidos, visando ao desenvolvimento de habilidades cognitivas, numa concepção construtivista e moderna de ensino do cálculo; - criação de material didático específico e adequado às necessidades da disciplina de Cálculo Diferencial Integral, para o curso de Pré-Cálculo e do Programa de Monitoria, que viabilize investigação e exploração de conceitos matemáticos, mediante resolução de problemas; treinamento específico aos monitores para adoção de uma metodologia diferenciada de ensino. - estabelecimento de critérios para escolha de professores na disciplina de Cálculo Diferencial Integral, que além do conhecimento especialmente da Psicologia Cognitiva, tenham características pessoais e habilidades teórico-metodológicas para atuar em turmas de primeiro período, num atendimento diferenciado; - redirecionamento da Semana de Planejamento e o Curso de Especialização de Formação Pedagógica, no sentido de: rever e adequar objetivos, currículo e metodologias; oportunizar conhecimentos e discussões sobre a aprendizagem e desenvolvimento para o contexto das Ciências Exatas num repensar do fazer pedagógico para um aprender significativo do acadêmico; abordar temas e questões acerca da psicologia do desenvolvimento cognitivo, natureza, construção e processos de produção do conhecimento e saber matemático; repensar a forma de avaliação curricular adequando-a à perspectiva do ser humano em processo contínuo de desenvolvimento. Neste contexto de ações educativas, visando à melhoria da aprendizagem, consideramos oportuno registrar e referenciar, como reflexo dessa pesquisa, a iniciativa ocorrida na instituição pesquisada, especificamente no curso de Pré-Cálculo. O instrumento utilizado na referida pesquisa para Análise do Conteúdo Matemático foi utilizado pelos 148 professores especialistas da área da matemática (idealizadores desse instrumento) no Curso de Pré-Calculo do 2º Sem/2014. O referido instrumento foi aplicado aos participantes, buscando subsidiar futuras ações para melhoria do desempenho dos educandos, tanto no curso quanto na disciplina de Cálculo Diferencial Integral. A Avaliação do Conteúdo Matemático, aplicada no momento do início do curso de Pré-Calculo, teve sua aplicação estendida também ao término do curso de Pré-Cálculo, buscando verificar se houve desenvolvimento e aprendizagem desses conceitos ao longo do processo, durante o semestre letivo. A análise comparativa servirá de subsídio para reestruturação do curso para o ano seguinte, tanto em nível curricular quanto pedagógico. Isso corrobora nas propostas anteriores apresentadas em conformidade com a dinâmica construtivista, cuja concepção de ensino estabelece uma prática que promove o avanço cognitivo e que epistemologicamente favoreça a construção do conhecimento. Consideramos que qualquer ação realizada no sistema de ensino e que reconheça o estudante como ser ativo no processo de construção do conhecimento e o professor como orientador, mediador e investigador em ação trará resultados mais eficientes em nível de aprendizagem. As instituições de ensino, de forma geral, precisam compreender que a inteligência é construída a partir de processos criativos e que ambas caminham juntas. As questões referentes às dificuldades de aprendizagem não se esgotam no ensino básico e, portanto, devem ser debatidas na Universidade, buscando-se respostas a questões essenciais, bem como alternativas de superação das defasagens apresentadas pelo acadêmico. Neste sentido, suscitamos vários questionamentos: Quais os caminhos, ações e práticas educativas podem levar a um verdadeiro saber da matemática, efetivando um aprendizado pleno? Que mudanças são emergentes na disciplina de Cálculo Diferencial Integral para uma sintonia e coerência epistemológica? Dessa forma se considerarmos os resultados desse estudo, alguns questionamentos permeiam o nosso pensamento: Obteríamos os mesmos resultados com outros instrumentos de coleta de dados ou com um universo maior de acadêmicos envolvidos? A aplicação dos instrumentos no início e final do semestre, revelaria progressos comparativamente? Outros fatores, além dos aspectos cognitivos e de noções e conceitos prévios, estariam interferindo na aprendizagem? O sistema de ensino da Universidade favorece a construção de estruturas cognitivas ao longo do processo? Os professores envolvidos na disciplina de Cálculo Diferencial Integral têm conhecimento sobre o processo cognitivo e os levam em conta na prática docente? 149 Concluímos, assim, que todas as questões apresentadas propõem e suscitam uma nova abertura e ponto de partida para outras investigações e pesquisas em torno de problemáticas relacionadas e que possam contribuir para o progresso cognitivo. As discussões não se findam nas propostas apresentadas, aliás, às mesmas podem ser agregados novos elementos em futuras pesquisas, enriquecendo e viabilizando o processo de construção do conhecimento matemático. Faz-se necessário, portanto, desenvolver novos estudos, sobre novos temas e em novas circunstâncias, para verificar outros resultados que corroborem a hipótese de trabalho ora defendida nessa dissertação. 150 REFERÊNCIAS ALMEIDA, C. S. Dificuldades de aprendizagem em Matemática e a percepção dos professores em relação a fatores associados ao insucesso nesta área. Revista de Economia, Brasília, DF, v. 2, p. 43-53, 2006. Disponível em: <http://www.poseconomia.ucb.br/sites/100/103/TCC/ 12006/CinthiaSoaresdeAlmeida.pdf>. Acesso em: 4 jun. 2014. ANTUNES, C. Matemática e didática. Petrópolis: Vozes, 2010. ARAÚJO, E. A. O perfil de alunos da área de ciências exatas e Engenharia e a qualidade de ensino. Revista de Educação, Campinas, n. 12, p. 61-76, jun. 2002. ARAÚJO, R.; MOREIRA, L. F. N. Monitoria da disciplina de Cálculo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENSINO DE ENGENHARIA, 33, 2005, Campina Grande. Anais... Campina Grande: UFPB, 2005. 1 CD-ROM. ASSIS, O. Z. M. 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Declaro que estou ciente de todas as informações referentes ao estudo proposto e de que fui devidamente esclarecido(a) quanto aos objetivos e procedimentos desta pesquisa. Tenho ciência de que todas as informações apresentadas por mim têm a garantia de sigilo e absoluta privacidade. A minha adesão e participação é voluntária, com liberdade de retirar o meu consentimento em qualquer fase da pesquisa sem penalização alguma. Tenho o conhecimento de que receberei resposta a qualquer duvida sobre os procedimentos e outros assuntos relacionados a esta pesquisa. Concordo em participar deste estudo e pela garantia do caráter confidencial e privativo das informações coletadas autorizo a divulgação de dados para fins exclusivamente científicos ______________________________ ___________________________________ Assinatura do participante Assinatura do responsável (caso for menor de idade) Data:_____/____/_____ Nós, pesquisadores responsáveis, declaramos ter disponibilizado as informações necessárias para compreensão da pesquisa, ao participante acima assinado, explicando-lhe a natureza, propósito, benefícios associados à sua participação. Além disso, respondemos todas as questões que nos foram feitas e testemunhamos a assinatura acima. Assinatura do Pesquisador: __________________________________ Data: ___/___/__ Obs: Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa, para esclarecimento de eventuais dúvidas. Nesse caso, entre em contato com a pesquisadora Marlene Lucia Donel, pelo telefone (0xx45) 32408084, ou email: [email protected] ou Shiderlene Vieira de Almeida (Professora Co-Orientadora) pelo telefone: (0xx45) (32408084) ou email: [email protected] ou Eliane Giachetto Saravali (Professora Orientadora) pelo telefone (0xx14) 34021371 ou e-mail: [email protected] 161 APÊNDICE B – Instrumento de avaliação de conhecimento matemático INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTO MATEMÁTICOS- ACM 4 Parte 01 NOME:___________________________________________________Data:____/____/____ Nasc.____/____/____Idade:_____Procedência:Cidade_______________________Estado:__ 1. Calcule: a) 34 b) 5 5 c) 8 2 2 d) 4 2 e( 3 1 f) 3 1 1 g) 4 81 h) 3 8 1 i) a 2 j) 2. 4 3 49 9 Calcule o valor das expressões numéricas e simplifique o resultado quando possível: Instrumento elaborado pelos professores especialistas da área da matemática Priscila Pigatto Gasparin, Pedro Elton Weber, Liliane Hellmann e André Sandmann 162 a) 32 23 b) 52 2 4.4 1 c) 35 34 : 37 d) 106 10 10 4 103 e) 1 1 3 5 f) 1 5 3 6 2 4 2 3 4 g) m :m h) 1 2 . 4 5 i) 3b b : 2a a j) 2 1 a b a b 3. Escreva V para verdadeiro e F para falso justificando as respostas falsas. ( ) Todo número decimal que pode ser escrito na forma a é um número racional. b ( ) Um número inteiro é também um número real. ( ) Todo número cuja representação decimal é infinita e não periódica é chamado de número irracional. ( ) As raízes quadradas não exatas são números racionais. ( ) Os números naturais, os inteiros, os racionais e os irracionais são números reais. ( ) Os conjuntos dos números racionais e dos números irracionais possuem elementos comuns. ( ) Todo número inteiro é natural. ( ) - 3 ∈ℕ. ( ) 9 ∉ℚ. ( )ℤ⊂ℚ 4. Os números x e y são tais que 5 x 10 e 20 y 30 . O maior valor possível de x é? 5. Determine x sabendo que a área do muro a seguir é 32 m2: 6. Qual o valor de x sabendo 4 que o perímetro da figura é 56 cm? x+6 y 163 X+ 6 X+ 6 7. 3 2 2 2 Dados os polinômios A 4x 2x x 1 B 2x 2x 3 e C 2x 1 . Determine: a) A+B+C b) (A+B) – (B-C) c) A . C d) A:C e) (A.C):B 8. Para determinar a altura de uma torre, um topografo colocou o teodolito (aparelho para medir ângulos) a 100m da base e obteve um ângulo de 30o. Sabendo que a luneta do teodolito estava a 1,70m do solo, qual era aproximadamente a altura da torre? (Dados sen 30 o =0,5 ; cos 30o =0,87 ; tg 30o =0,58). Faça o esboço do desenho para facilitar a interpretação. 9. O nível N de óleo em um reservatório varia com o tempo t, contando em horas, conforme a lei: N 0,6t 2 0,25t 0,70 . Em quanto tempo o nível de óleo chegará a zero? 10. A população de uma cidade A é o triplo da população da cidade B. Se as duas cidades juntas têm uma população de 100.000 habitantes, quantos habitantes têm a cidade B? 11. Qual é a distância percorrida pela bolinha? 12. Determine a área das seguintes figuras (em cm²). 164 13. Um vendedor recebe mensalmente um salário composto de duas partes: R$ 1.000 a parte fixa, e uma parte variável que corresponde a uma comissão de 18% do total de vendas que ele fez durante o mês. a) Expressar a função que representa seu salário mensal. b) Calcular o salário do vendedor durante um mês, sabendo-se que vendeu R$ 10.000 em produtos. 14. A função quadrática y x2 8x m tem ponto mínimo, cujas coordenadas são 4; 6 . Nessas condições, o valor de m é? 15. Um copo cheio de água pesa 300g. Se jogarmos metade da água fora, seu peso cai para 180g. O peso do copo vazio é? Parte 2 1) Uma pessoa vai escolher um plano de saúde entre duas opções: A e B. Condições dos planos: Plano A: cobra um valor fixo mensal de R$ 140,00 e R$ 20,00 por consulta num certo período. Plano B: cobra um valor fixo mensal de R$ 110,00 e R$ 25,00 por consulta num certo período. Temos que o gasto total de cada plano é dado em função do número de consultas x dentro do período pré estabelecido. Vamos determinar: a) A função correspondente a cada plano. 165 b) Em qual situação o plano A é mais econômico? c) Em qual situação o plano B é mais econômico? d) Em qual situação os dois planos se equivalem? 2) Uma bola é lançada verticalmente para cima, a partir do solo, e atinge uma altura máxima de 20 m. Considerando aceleração da gravidade g=10 m/s², a velocidade inicial de lançamento e o tempo de subida da bola são? 3) De um total de 800 pessoas examinadas por um grupo de médicos pesquisadores, 500 tinham sintomas de uma doença A, 200 tinham sintomas de outra doença B e 130 tinham sintomas das duas doenças. Quantas não tinham sintomas nem da doença A nem da B? 4) Dados os conjuntos: A = {2, 4, 5, 6, 8} B = {1, 4, 5, 9} C x Z , 2 x 5 Determine: a) A B b) A C c) A B 5) Determine o conjunto solução em cada uma das desigualdades: a) 3 x 5 3x b) 2 3 3x 7 c) x 4 x3 6) Sabendo que em condições adequadas, uma colônia de bactérias cresce a uma razão proporcional ao número de bactérias presentes. Levando-se em consideração que o número de bactérias duplica a cada hora, quantas horas serão necessárias para que as bactérias aumentem em 100 vezes a sua quantidade original? (use log2=0.301) 166 7) Os valores de x que satisfazem log x + log (x - 3) = log 6 são? 8) Calcule os seguintes logaritmos: a) b) c) 9) Esboce o gráfico da função a seguir e expresse seu domínio e imagem: f(x) = | x2 - 4 | 10) Resolva as seguintes equações exponenciais: a) 8x = 0,25 b) 4x – 5. 2x + 4 = 0 c) d) 11) Dado sen x 12) Mostre que 3 com 4 0 x . Calcular 2 cosx. cos x sen x 1 sec x cos sec x 13) Determine o quociente Q(x) e o resto R(x) da divisão de A( x) x 4 1por B( x) x 1 14) Decompor em fatores os polinômios: a) A( x) x 2 4 b) B( x) x 2 2 x 1 c) C ( x) x 2 5x 6 4 3 2 15) Sabendo-se que -1 é raiz dupla da equação x 3x 3x 7 x 6 0 . Determine o seu conjunto solução. 167 ANEXO A – Parecer do projeto PARECER DO PROJETO 168 169 ANEXO B – Protocolo da prova operatória da combinatória PROTOCOLO DA PROVA OPERATÓRIA DA COMBINATÓRIA Descrição da Prova: Essa prova iniciou-se com as apresentação de 4 fichas de cores diferentes as quais deveriam representar pessoas que foram convidadas a fazer um passeio e que poderiam ou não aceitar o convite. Solicitou-se ao sujeito descobrir de quantas maneiras ou formas esse passeio poderia acontecer e quantas combinações de passeio seriam possíveis de serem feitas. O sujeito deveria encontrar um sistema que possibilita a formação de 16 combinações sendo 6 em pares, 4 em trios, 4 sozinhos, 1 quarteto e 1 possibilidade que pode ser considerada é o não passear Material: Conjunto de fichas de 4 cores diferentes Procedimentos: Apresentação do material: Apresentamos ao sujeito quatro fichas de cores diferentes: Introdução: -Imagine que essas 4 fichas representam pessoas que querem passear. -De quantas formas diferentes elas podem fazer isto? No entanto considere que elas podem sair ou não. Que podem ir juntas ou separadas. Portanto, quais são as possibilidades de passeio. - Você entendeu?! Repita o que eu disse. Após o sujeito fazer alguma combinação (exemplo pares) questiona-se: - Quantos pares você fez? -Quantas fichas você usou de cada cor? ou Quantas vezes cada pessoa foi passear -Tem outra idéia de forma/maneira de passeio além de ser dupla. 170 Ao fazer os trios, proceder da mesma forma anterior, para descobrir se ela sabe quantos trios fez e quantas fichas de cada cor utilizou - Quanto trio você fez? Quantas vezes os trios foram passear? - Quantas vezes cada cor/pessoa foi passear? - Tem mais alguma forma dessas pessoas irem passear? Questionar outras possibilidades: Ao esgotar todas as possibilidades certificar se são todas as formas de passeio que ele acha possível. -Essas são realmente todas as maneiras/formas que você capaz de se fazer os passeios? São todas as que se pode fazer? Tem certeza? Por quê? Retrospectiva/resumo: Quando o sujeito esgotar todas as maneiras/jeitos/formas por ele possíveis, questionar: -Me diga então de quantas formas diferentes as pessoas puderam ir passear? -Qual a quantidade total de passeios que foram realizados/ao todo? O importante em cada uma das etapas também é avaliar se a forma com que o sujeito faz as combinações é aleatória ou se utiliza alguma forma de sistematização. Perguntas gerais durante os procedimentos -Explique como você faz para saber? (jeito/forma/maneira/método) -Existe um jeito diferente de fazer isso? Outra maneira ou jeito de fazer essas combinações? Explique-me como pensa em fazer. -Teve uma pessoa que conseguiu começando pela mesma cor? O que você acha disso? É possível fazer dessa forma? -Essas são todas as maneiras/formas de passeio (dupla/trio...) que consegue fazer? -Como você pode garantir isso ou ter certeza? Por quê? Explique-me Resultados FORMAS NÚMERO PASSEIOS PASSEIO POR PESSOA Dupla 6 3 Trios 4 3 Quádruplos 1 1 171 Diagnóstico NÍVEL I – (até os 6 anos) – pré-operatório A criança não consegue encontrar todas as combinações, mesmo por tateio. Tem dificuldade de fazer todos os pares. Não faz os trios, nem tampouco o quádruplo. NÍVEL IIA – (6-7 anos) – início do operatório concreto A criança consegue fazer os pares aleatoriamente, mas não sabe contar quantas fichas de cada cor usou, nem tampouco, quantos pares fizeram. Faz trios incompletos (aleatoriamente). Podem fazer o quádruplo. NÍVEL IIB – (7-9 anos) – operatório concreto Faz todos os pares, mesmo aleatoriamente (sem sistema) e sabe dizer quantos pares fez, apesar de poder não saber quantas fichas de cada cor utilizou. Faz os trios aleatoriamente e completos, mas não sabe dizer quantos trios fez, nem quanta ficha de cada cor utilizou nos trios. São capazes de fazer os quádruplos. Não sabe dizer quantas possibilidades de combinações ou “de pessoas que foram passear” ao todo. NÍVEL IIIA – (9-11 anos) – início do formal Encontra um sistema para fazer os pares e consegue fazer todas as combinações, sabendo quantas fez e ainda quantas fichas de cada cor utilizou. Faz os trios aleatoriamente, mas sabe informar quantos trios fez, no entanto não consegue chegar ao número de fichas de cada cor utilizada nos trios. Não sabe dizer quantas possibilidades de combinações ou “de pessoas que foram passear” ao todo. NÍVEL IIIB – (12 anos em diante) – operatório formal Faz pares e trios por meio de um sistema lógico. Sabe quantos pares e quantos trios fez e ainda a quantidade de fichas de cada cor que utilizou em cada uma dessas combinações. Além disso, sabe quantas possibilidades de combinações de fichas são possíveis ou “de pessoas indo passear” são possíveis, ou seja, sabe que são 15 possibilidades. Dificilmente irão considerar a negação para que o total seja 16. 172 ANEXO C – Protocolo da prova operatória de relações entre superfícies de perímetros dos retângulos PROTOCOLO DA PROVA OPERATÓRIA DE RELAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES DE PERÍMETROS DOS RETÂNGULOS5 Descrição Para análise das conservações existentes nas transformações de um quadrado em retângulos cada vez mais estreitos, é necessária a utilização de dois instrumentos: A e B. Em A, podemos observar a conservação do perímetro e transformação da superfície e em B, a conservação da superfície e transformação do perímetro. Materiais 5 Retirado de MANO, A.M.P. (2013). Idéias de estudantes sobre a origem da terra e da vida e das suas relações com o desenvolvimento cognitivo: Um estudo psicogenético. Dissertação. Unesp-SP. 173 O instrumento A é constituído por uma prancha retangular com 14 pinos, definindo os quatro cantos de um quadrado de 15 cm de lado (Q) e retângulos de 20 x 10 cm. (R1) e 25 x 5 cm (R2) e, finalmente, dois pinos constituindo as extremidades de uma reta de 30 cm. (R3), ou seja, todas as figuras apresentando 60 cm de perímetro, definido por um barbante fechado, deste comprimento. Q inicial T1 T2 T3 O instrumento B é formado por oito tiras de madeira, de 16 x 2 cm. As tiras colocadas em diferentes posições podem formar: um quadrado de 16 cm. de lado (Q); um retângulo de 32 x 8 cm. (T1’), colocando-se 2 colunas de 4 placas; outro de 64 x 4 cm. (T2’) com 4 colunas de 2 placas e, finalmente, um de 128 x 2 cm. (T3’), com 8 colunas de 1 placa, possibilitando a observação da conservação da superfície e transformação do perímetro. Q T1` T2` Procedimento O próprio sujeito deve realizar as transformações no material. A interferência do adulto deve ser apenas no sentido de orientar a manipulação do mesmo e de fazer contraargumentações. O sujeito deve tatear a corda e a madeira, assim como nomeá-los para que o vocabulário da aplicação possa ser adaptado ao sujeito. Podemos contar a seguinte história no dispositivo A: Uma formiga caminha por cima do barbante enquanto um cupim se alimenta da madeira que está dentro do limite do barbante. No dispositivo B: a formiga caminha na beirada das madeiras enquanto um cupim se alimenta da madeira que está dentro do limite onde a formiga passeia. Sendo assim: perímetro/formiga e cupim/área. 174 Instrumento A Fase I - Depois de cada transformação, perguntamos ao sujeito qual o seu efeito sobre a superfície e o perímetro: A superfície ficou maior, menor ou igual? OU “o cupim vai comer menos, mais ou o mesmo tanto?” Após a primeira transformação (T1) feita pelo sujeito (se necessário, com ajuda eventual do experimentador), diz-se: - “Essa transformação (ou mudança) que você acabou de fazer aumentou, diminuiu ou manteve igual o contorno do retângulo, com relação ao do quadrado que estava antes? E a quantidade dentro?” OU - “A formiga anda mais, menos ou o mesmo tanto que antes? Dentro há mais, ou menos madeira ou a mesma coisa? o cupim come mais, menos ou o mesmo tanto?” O mesmo para as transformações seguintes (T2 e T3). Ou contra argumentar: Eu acrescentei algo? - "Outro aluno me disse que era diferente... que você acha disso?" Fase II – Reconstituição mental das ações e transformações Após o sujeito efetuar todas as transformações em A, pede-se que resuma o que acaba de fazer e o que aconteceu com as superfícies e os perímetros. - “O que aconteceu com o perímetro ou contorno após as transformações? E com a superfície?” OU - “O que aconteceu com a formiga após as transformações? E com o cupim?”. Instrumento B Fase I - Depois de cada transformação, perguntamos ao sujeito qual o seu efeito sobre a superfície e o perímetro: - “A superfície ficou maior, menor ou igual? E o perímetro?” OU - “O cupim come mais, menos ou o mesmo tanto que antes? e a formiga, anda mais, menos ou o mesmo tanto? 175 Fase II – Reconstituição mental das ações e das transformações: depois do sujeito efetuar todas as transformações em B, pede-se que resuma o que acaba de fazer e o que aconteceu com as superfícies e os perímetros. - “O que aconteceu com o perímetro ou contorno após as transformações? E com a superfície?” OU - “O que aconteceu com a formiga após as transformações? E com o cupim? Instrumentos A e B Fase III Depois das manipulações em A e B, pede-se um resumo geral. “Você pode fazer um resumo do que aconteceu nas duas situações?” Por último pergunta-se se existem características comuns nas variações quantitativas das superfícies e perímetros em A e em B. Propõem-se comparações entre as manipulações: Trata-se de "jogos" parecidos ou diferentes? Por quê? A superfície e o perímetro variaram o mesmo tanto nas mudanças na prancha e com as placas de madeira? Como aconteceu? No limite com o barbante... nos dois jogos era a mesma coisa?. Diagnóstico Nível IA As mudanças perceptivas das figuras fazem acreditar nos aumentos e diminuições simultâneos das superfícies e dos perímetros. Não há busca em ser coerente. Podem-se encontrar respostas na transformação T3 do instrumento A com diminuição da superfície e aumento do perímetro. Nível IB Os sujeitos apresentam soluções com dúvidas entre aumentos e diminuições. Não intervém a idéia de compensação (o que se retira de um lado é acrescentado em outro). Prendem-se ao comprimento do fio e acreditam que ficou menor/maior a cada transformação. 176 Nível IIA Ocorre a descoberta da invariabilidade do barbante (perímetro). As respostas corretas começam a se impor e quando tratam de comparar os dispositivos, elaboram resumos corretos para cada uma das experiências. No entanto, nitidamente, mostram que quando são feitas as comparações, ainda estão presos ao material. Nível IIB Os sujeitos acreditam nas duplas conservações, ou seja, tanto o perímetro quanto a área se conservam, ainda que em alguns casos na transformação T3 do dispositivo A, essa dupla conservação não se aplique. Como já conquistaram a invariabilidade do perímetro no estágio IIA, tentam explicar a conservação da área em função dessa primeira conservação. O pensamento apresenta certa comutatividade (o que é tirado de um ponto é acrescentado em outro). As respostas são mais coerentes, entretanto, como se apóiam na ideia de dupla conservação, são induzidas ao erro. Nível III As respostas são corretas. Existe um raciocínio lógico que embasa o pensamento, embora alguns sujeitos possam permanecer com algumas dúvidas, principalmente no momento de entrada desse nível. As dúvidas desaparecem no período de equilíbrio. 177 ANEXO D – Protocolo da prova operatória equilíbrio da balança PROTOCOLO DA PROVA OPERATÓRIA EQUILÍBRIO DA BALANÇA6 Descrição da Prova: Essa prova operatória permite acompanhar os processos cognitivos que se desenvolvem na construção desse conceito do equilíbrio. Mediante situações apresentadas são propiciadas oportunidades de estabelecimento e restabelecimento de equilíbrio, estabelecendo compensação entre pesos e distâncias. Nas diferentes situações criadas, os sujeitos precisaram não apenas usar o esquema de proporcionalidade, mas descobrir que distâncias e pesos se compensariam , sendo necessário compreenderem que a distancia que deveria ser considerada seria a distância entre o peso e o centro da balança e não entre o peso e a extremidade dos braços. A identificação e a relação das variáveis peso e distância são fundamentais para a resolução do problema. A colocação de um peso num dos braços implica no desequilíbrio por influência do peso nela colocado. O restabelecimento do equilíbrio é possível com a retirada do peso ou colocação de peso igual no outro braço da balança e à mesma distância do centro (eixo) da balança. Outra forma de estabelecer o equilíbrio e a colocação de peso diferente no outro lado do braço da balança de tal forma que a distância e peso se compensem. Material Consiste de um aparelho simples: uma balança de dois braços, formados por uma barra transversal apoiada sobre um suporte central. Os braços, ao longo dos quais são deslocados os pesos, apresentam marcas a intervalos regulares. Os pesos variam de 5 a 60 gramas e apenas alguns constituem pares. Problema 6 5g 5g 10g 10g 15g 15g 20g 25g 30g (Adaptação por Lia L. Zaia e M. A. B. Fermiano), INHELDER, Bärbel, PIAGET, Jean. 1976. O Equilíbrio da Balança. In: ________Da lógica da criança à lógica do adolescente. 2. ed. Tradução Dante Moreira Leite. São Paulo: Pioneira. 178 Predizer o equilíbrio em função dos pesos e distâncias do eixo. Procedimento Solicita-se, inicialmente, que o sujeito escolha quaisquer pesos e coloque nos braços da balança, equilibrando-a. Quando consegue o equilíbrio, solicitam-se explicações. Na medida em que descobre as possibilidades de equilíbrio, solicita-se que experimente diferentes pesos e situações para descobrir as leis que regem o equilíbrio ou uma regra que sirva para equilibrar quaisquer pesos. Após cada resposta, sugere-se que experimente com outros pesos para confirmar ou invalidar a regra levantada. Avaliação Nível I A: Há indiferenciação entre ação pessoal e o processo exterior. Geralmente, por questões de simetria, a criança suspende um boneco de cada lado, mas assimila os processos em jogo à sua própria ação, intervindo diretamente no aparelho, levantando o braço que desceu, por exemplo, sem modificar os pesos. Ainda não pensa que o equilíbrio da balança se deve ao equilíbrio dos pesos, assim pode colocar dois pesos ou dois bonecos de um lado e nenhum do outro, esperando equilibrar. Para ela, o lado mais pesado pode ir para cima e o mais leve descer, podendo acrescentar vários pesos ao braço mais pesado para corrigir um desequilíbrio. Repete os mesmos procedimentos que acabou de experimentar sem sucesso. Não se importa com as distâncias e não procura coordenar distâncias e pesos. Nível IB: A criança compreende que para equilibrar há necessidade de um peso de cada lado e de pesos aproximadamente iguais, mas coloca e tira pesos por ensaio e erro, não por igualizações exatas. Quanto às distâncias, tende a manter uma simetria, procurando colocar os bonecos ou os pesos a distâncias iguais; não apenas nas extremidades, mas em regiões próximas. Ainda não existe a correspondência, mais distante fica mais pesado. Nível IIA: Há equalização exata dos pesos e simetria exata das distâncias. Ma só coordena pesos e distâncias por regulações intuitivas, descobrindo por ensaio e erro como equilibrar pesos diferentes, sem tirar correspondências gerais. É capaz de seriar os pesos, verificar as igualdades, somar e comparar corretamente duas reuniões de pesos. Diante de dois pesos que não se equilibram substitui, acrescenta ou retira pesos, procedendo por tentativas ou regulações. 179 Nível IIB: Estabelece relações qualitativas como – “quanto mais pesado mais perto do meio”. Diante do desequilíbrio da balança, procura o melhor lugar para equilibrar, orientandose pela hipótese de que o mesmo objeto pesará mais quanto mais longe do eixo. Para equilibrar é capaz de estabelecer uma seriação dupla de pesos e distâncias: A<B<C ... ↕ ↕ ↕ L>L2>L3 Mas, essas operações qualitativas não são suficientes para estabelecer a lei e o sujeito procede por adições e subtrações de pesos. Nível IIIA: O sujeito passa rapidamente da correspondência qualitativa à proporção métrica, indicando a presença de um esquema antecipador. As proporções qualitativas baseiam-se na noção de produto lógico: “Quanto maior a distancia menor deve ser o peso” isto é, um peso pequeno a uma grande distância equivale a um peso grande a pequena distancia. Essas relações não são generalizadas para todos os casos possíveis. Nível IIIB: As relações qualitativas cedem lugar às quantitativas e o sujeito estabelece proporções métricas multiplicativas entre a distância e o peso de ambos os lados. Procura explicações para o equilíbrio, chegando à quantificação numérica da proporção.