METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA 2014.2
DIEGO JOSÉ DIAS MENDES
AULA 05 – 23.09.2014
FICHAMENTO
HEIDEGGER, Martin. O que é metafísica / Sobre a essência da verdade / O fim da
filosofia e a tarefa do pensamento
Citações e comentários
O que é metafísica
"toda questão metafísica abarca sempre a totalidade da problemática metafísica. Ela é a
própria totalidade". [p. 233]
Nenhum modo de tratamento dos objetos supera os outros. Conhecimentos matemátcos não
são mais rigorosos que os filológico-históricos. A matemática possui apenas o caráter de
exatidão e este não coincide com o rigor. [p. 233]
A ciência nada quer saber do nada. Mas não é menos certo também que, justamente, ali, onde
ela procura expressar sua própria essência, ela recorre ao nada. Aquilo que ela rejeita, ela leva
em consideração. [p. 234]
O nada é a plena negação da totalidade do ente. Não nos dará, por acaso, esta característica do
nada uma indicação da direção na qual unicamente teremos possibilidade de encontrá-lo? [p.
236]
Mas paremos aqui com as perguntas. Que tenha sido este o momento derradeiro em que as
objeções do entendimento retiveram nossa busca que somente pode ser legitimada por uma
experiência fundamental do nada. [p. 237]
O tédio manifesta o ente em sua totalidade. [p. 236] Uma outra possibilidade de tal
manifestação se revela na alegria pela presença - não da pura pessoa -, mas da existência de
um ser querido. [p. 237]
Acontece no ser-aí do homem semelhante disposição de humor na qual ele seja levado à
presença do próprio nada? Este acontecer é possível e também real - ainda que bastante raro apenas por instantes, na disposição de humor fundamental da angústia. (...) A angústia
manifesta o nada. (...) [ela] põe em fuga o ente em sua totalidade [p. 238]
Na angústia não acontece nenhuma destruição de todo o ente em si mesmo, mas tampouco
realizamos nós uma negação do ente em sua totalidade para, somente então, atingirmos o
nada. [p. 238]
O nadificar do nada não é um episódio casual, mas, como remissão (que rejeita) ao ente em
sua totalidade em fuga, ele revela este ente em sua plena, até então oculta, estranheza como o
absolutamente outro - em face do nada. (...) A essência do nada originariamente nadificante
consiste em conduzir primeiramente o ser-aí diante do ente enquanto tal [p. 239]
(...) o nada é a origem da negação e não vice-versa, a negação a origem di nada. [p. 240]
(...) a negação não pode ser proclamada nem o único, nem mesmo o comportamento
nadificador condutor, pelo qual o ser aí é sacudifo pelo nadificar do nada [p. 238]
Nossa interrogação pelo nada tem por meta apresentar-nos a própria metafísica. (...) é o
perguntar além do ente para recuperá-lo enquanto tal e em sua totalidade, para a compreensão.
[p. 241]
Na pergunta pelo nada acontece um tal ir para fora além do ente enquanto ente em sua
totalidade. Com isto prova-se que ela é uma questão 'metafísica'. [p. 241]
Somente do nada do ser-aí o ente em sua totalidade chega a si mesmo, conforme sua mais
própria possibilidade, isto é, de todo finito. [p. 242]
Somente porque o nada está manifesto nas raízes do ser-aí pode sobrevir-nos a absoluta
estranheza do ente. Somente quando a estranheza do ente nos acossa, desperta: atrai ele a
admiração. Somente baseado na admiração - quer dizer, fundado na revelação do nada - surge
o 'porquê'. Somente porque é possível o 'porquê' enquanto tal, podemos nós perguntar, de
maneira determinada, pelas razões e fundamentar. Somente porque podemos perguntar e
fundamentar foi entregue à nossa existência o destino do pesquisador. [p. 242]
Sobre a essência da verdade
A filosofia jamais pode refutar o senso comum porque este não tem ouvidos para sua
linguagem. Pelo contrário, ela nem deve ter a intenção de refutá-lo porque o senso comum
não tem olhos para aquilo que a filosofia propõe ser visto como essencial. [p. 329]
(...) cai por terra a atribuição tradicional e exclusiva da verdade à enunciação, tida como o
único lugar essencial da verdade. A verdade originária não tem sua morada original na
proposição. [p. 334]
Situar a essência da verdade na liberdade não significa, por acaso, entregar a verdade ao
arbítrio humano? [p.335]
Se traduzirmos a palavra alethea por desvelamento, em lugar de verdade, esta tradução não é
somente mais 'literal', mas ela compreende a indicação de repensar mais originalmente a
noção corrente de verdade como conformidade da enunciação, no sentido, ainda
incompreendido, do caráter de ser desvelado e do desvelamento do ente. [p. 336]
Existência, porém, também não significa o esforço existencial, por exemplo, moral, do
homem preocupado com sua identidade, baseado na constituição psicofísica. [p. 336]
Somente o homem ek-sistente é história. A 'natureza' não tem história. [p. 337]
É pelo fato de a verdade e não-verdade não serem indiferentes um para o outro em sua
essência, mas copertencerem, que, no fundo, uma proposição verdadeira pode se encontrar em
extrema oposição com a correlativa proposição não-verdadeira. [p. 337]
A liberdade enquanto deixar-ser do ente é em si mesma uma relação re-solvida, uma relação
que não está fechada sobre si mesma. [p. 339]
Instalar-se na vida corrente é, entretanto, em si mesmo o não deixar imperar a dissimulação do
que está velado. [p. 340]
(...) o mistério esquecido do ser-aí não é eliminado pelo esquecimento. Este, pelo contrário, dá
ao aparente desaparecimento uma presença própria. Enquanto o mistério se subtrai retraindose no esquecimento e para o esquecimento, leva o homem historiai a permanecer na vida
corrente e distraído com suas criações. Assim abandonada, a humanidade completa 'seu
mundo' a partir de suas necessidades e de suas intenções mais recentes e o enche de seus
projetos e cálculos. Deles o homem retira então suas medidas, esquecido do ente em sua
totalidade. (...) O homem se engana nas medidas tanto mais quanto mais exclusivamente toma
a si mesmo, enquanto sujeito, como medida para todos os entes [p. 340]
O erro não é uma falta ocasional, mas o império desta onde se entrelaçam, confundidas, todas
as modalidades do errar. [p. 341
O fim da filosofia e a tarefa do pensamento
Fundamento é aquilo de onde o ente como tal, em seu tornar-se, passar e permanecer é aquilo
que é e como é, enquanto cognoscível, manipulável e transformável. [p. 269]
(...) no apelo 'à questão mesma', há está previamente decidido o que interessa à Filosofia
como sua questão. [p. 274]
A luz pode, efetivamente, incidir na clareira, em sua dimensão aberta, suscitando aí o jogo
entre o claro e o escuro. Nunca, porém, a luz primeiro cria clareira: aquela, a luz, pressupõe
esta, a clareira. [p. 275]
Todo o pensamento da Filosofia, que, expressamente ou não, segue o chamado 'às coisas
mesmas', já está em sua marcha com seu método entregue à livre dimensão da clareira. Da
clareira, todavia, a Filosofia nada sabe. [p. 276]
(...) a questão da Alétheia, a questão do desvelamento como tal, não é questão da verdade. [p.
278]
Talvez exista um pensamento mais sóbrio do que a corrida desenfreada da racionalização e o
prestígio da cibernética que tudo arrasta consigo. Justamente essa doida disparada é
extremamente irracional. [p. 279]
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DIEGO JOSÉ DIAS MENDES
AULA 05 – 23.09.2014
HEIDEGGER, Martin
Questão para debate: O que se entende por angústia em Heidegger? Será de
utilidade em sua pesquisa? Justifique.
A angústia é o estado que coloca o sujeito em abertura para o nada. Creio que é útil
conhecer o conceito para lidar positivamente com os momentos de absoluta dúvida
em relação ao que fazer em relação ao problema, ou mesmo se há algum caminho
que leve a alguma resposta satisfatória, no sentido de não apressar nenhum método
ou conclusão e me abrir para o que pode advir da reflexão.
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DIEGO JOSÉ DIAS MENDES
AULA 05 – 23.09.2014
HEIDEGGER, MARTIN
Redação de aproveitamento
Minha pesquisa (a influência do comportamento lícito da vítima para a existência e
medida da responsabilidade penal do autor de crime) possui tantas
problematizações e abordagens possíveis que temo não chegar em lugar nenhum
no final das contas. Mas da leitura dos textos de Heidegger, conjugada com algumas
novas perspectivas que se descortinaram pela revisão de literatura (nomeadamente:
a concepção da causalidade através da filosofia da linguagem aplicada ao problema
da precipitação vitimal, isto é, um comportamento da vítima que conduziria ao
crime), tenho para mim que a melhor maneira de enfrentar as dificuldades da
pesquisa é evitar direcionar qualquer esforço em uma direção específica, deixando
abertas oportunidades para as diversas abordagens que perspassam o tema. Assim,
leituras como o feminismo e a psicologia social (teoria da atribuição) podem revelar
soluções inesperadas ás quais não poderia chegar recorrendo apenas à dogmática
penal. Acho que seria uma maneira de atingir uma compreensão unificada do
problema, de forma a não ignorar sua complexidade axiológica – o que seria muito
fácil de acontecer se me mantivesse demasiadamente preocupado com a submissão
do problema a um sistema.
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Martin Heidegger - com QD e RA