G E R A Ç Ã O C O C A -C O L A
As necessidades humanas são consideradas pelos estudiosos de economia como
sendo ilimitadas. De fato essas necessidades vêm evoluindo com a sociedade e muito do
que antes era supérfluo hoje parece ser fundamen tal para a vida das pessoas. Se as
primeiras necessidades da hum anidade estavam cen tradas na busca do alimento e n a
proteção da agressividade do clima e dos predadores hoje a situação mudou bastante. O
advento da produção em m assa possibilitou e ao mesmo tempo exigiu, para sua
continuidade, a formação de um m ercado consumidor capaz de absorver a produção
crescente de serviços e produtos que eram totalm ente desnecessários a sobrevivência
biológica das pessoas.
Quanto mais evoluída a sociedade, segundo os padrões de desenvolvimento, m a io r
as necessidades não biológicas, ou melhor dizendo, as necessidades da civilidade. Hoje
parece ser fundam ental o uso do telefone celular, da internet ou televisão à cabo e como se
isso não bastasse, o telefone tem que ser cada vez m enor, a internet cada vez m ais rápida e
a televisão ter o melhor pacote, com os filmes que você não vai ter tempo de ver para poder
trabalhar para pagar tudo isso. Na verdade, o que se questiona não são as facilidades e os
benefícios da tecnologia e da produção em massa, m as o acesso a essa evolução. Quando na
década de 50 e 60 se falava do ano 2000, numa visão otimista, acreditava-se que teríamos
mais tem po para o lazer e a convivência fam iliar, ou seja, trabalharíamos m enos, com
melhor qualidade de vida. O que percebemos hoje é que esta previsão distorceu-se,
trabalhamos mais e ainda tivemos o ingresso decisivo da mulher no mercado de trabalho
lado a lado com o hom em com o parceira no trabalho e nas despesas domésticas.
Realm ente a sociedade evoluiu e as em presas evoluíram e cada vez m ais oferecem
serviços e produtos para satisfazer as necessidades desta sociedade. Aliás, necessidades
estas, que muitas vezes nem existem e por isso m esmo precisam ser criadas e os
profissionais do marketing estão à postos para “implantar” no D NA da sociedade estas
necessidades, assim.... tão fundamentais para a geração “coca -cola”, como já disse R enato
Russo. U ma p arte significativa da sociedade brasileira faz parte deste mercado consum idor
e consum ir passa a ser uma forma d e se dem onstrar superior. Uma demonstração de poder
via consumismo, ou m esmo para não se ficar “atrás”. O consumismo é um consumo
exagerado de ben s, ou seja, desenfreadam ente. Mas com o satisfazer essas necessidades
ilimitadas sendo que os meios para isso são limitados, afinal a renda das pessoas tem lim ite.
Para tentar resolver este problema criou-se o crédito ao consumidor e suas variantes
como o cartão de crédito, o “chequinho pré”, o consórcio entre muitas outras grandes
criações facilitadoras para que você possa satisfazer a sua necessidade. Digo tentar resolver
, porque a maioria das pessoas não faz um controle financeiro-orçamen tário das suas
despesas e com isso cada vez mais, compromete sua renda com pequenos valores que na
soma das partes se torna maior que o todo. Qu ando chega-se a este estágio é impo rtante
parar e fazer um balanço. O balanço a que m e refiro não passa som ente por avaliar o que é
realmente necessário, mas se posso adiar um consum o hoje e até mesm o fazer uma
poupança para atingir um objetivo. Antecipar um consumo tem preço e chama-se juros.
Deixar de pagar juros no carnezinho da loja de eletrodoméstico ou do cheque especial
aumenta o seu poder de compra, afinal de contas boa parte do valor pago não é mercadoria,
é juros. A sociedade em que vivemos gira em torno d a criação de necessidades que não
temos. Fugir disso, seria como negar o mundo de hoje. Mas para uma melhor qualidade de
vida da “geração coca-cola” temos que reavaliar nossos conceitos e evitar antecipar um
consumo adiável, ou seja, um problema muito mais de comportamento do que econômico.
Paulo André de Oliveira
Professor de Economia da FMR
Aluno de pós-graduação em Energia na Agricultura
FCA-UNESP Botucatu
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geração coca-cola