Educar E Ensinar: Profissão E Missão
João Henrique Hansen*
Antônio Sagrado Bogaz**
Resumo
Somos educadores. Esta é a premissa de nossa profissão. Temos
uma profissão, pois somos professores, coordenadores e diretores, mas
não é uma simplesmente profissão. Nossa atuação numa instituição de
educação católica é, num primeiro plano, uma profissão, porque temos
uma atividade social, científica e trabalhista com exigências acadêmicas.
Mas sempre insistimos que somos educadores, pois extrapolamos as
técnicas modernas no exercício de nossa tarefa, além de atuarmos no
âmbito da subjetividade. A atuação numa profissão educativa nos coloca
na marcha de dois trilhos, que não podemos descarrilar. Ser educador é
ser “ensinador”. A missão de educar não exclui a tarefa de ensinar. E viceversa. Sem ensinar não existe o bom educador. Sem educar, ninguém
ensina nada validamente.
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*HANSEN, J.H., é professor de Ética Filosófica e Cristã, Bioética e Literaturas: Portuguesa e
Brasileira. Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) dedicou sua pesquisa e escritos
à literatura cristã, primitiva e hodierna. Exerce sua pesquisa e docência no Centro Universitário
São Camilo, coordenando o Curso de Letras e ensinando nos estudos de ética e literatura.
Pesquisa atualmente as expressões das devoções populares, a partir das benzeções do universo
camponês e sertanejo. Escritor e romancista, em poesia e prosa, tem várias obras que relatam os
sentimentos humanos e a busca do sagrado, como elemento místico da existência. Membro
integrante da coordenação e da CPA da Faculdade Católica Dom Orione.
**BOGAZ, A. S., é professor de Filosofia e Teologia. Mestre em Teologia Sistemática pela
Universidade Gregoriana e em Teologia Litúrgica pela Pontifícia Universidade Santo Anselmo,
Itália. Doutor em Liturgia pela Pontifícia Universidade Santo Anselmo, Itália e em Filosofia pela
Universidade de São Paulo (USP). Exerce a função docente em Teologia e Filosofia no Instituto
Teológico de São Paulo e na Escola Dominicana de Teologia, em São Paulo. Pesquisador da
Religiosidade popular em suas tradições culturais brasileiras. Coordenador Pedagógico da
Faculdade Católica Dom Orione.
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Clarificar Conceitos Fundamentais
A noção de educar tem uma conceituação muito particular e
específica. Procuramos mesmo distinguir este conceito daquele de
ensinar. De fato, ensinar significa lecionar ou transmitir conhecimentos a
alguém. Semelhante a adestrar os animais. Transmitir informações, quer
dizer informar ou instruir alguém do que se passa e como manipular as
coisas. O ato de ensinar nos coloca numa ação ativa de incutir na
memória intelectual dos estudantes os conhecimentos já adquiridos
pelo professor. A relação entre o professor e o aluno é muito objetiva e
impessoal. Quem tem o conhecimento assume o dever de transmitir
para os demais todos os conhecimentos adquiridos, servindo-se de
métodos variados, como a experiência, a memorização e a teorização,
sendo levado ao nível de abstração. O conhecimento exige a
sistematização de todos os conhecimentos adquiridos, garantindo a
capacidade de transmitir e progredir para que se atinjam outros níveis de
exploração dos dados da própria abstração. Ensinar se identifica como
um trabalho que se exerce no âmbito profissional. Na organização da
sociedade, as profissões garantem a continuidade do progresso e a
satisfação dos interesses pessoais e grupais. Para uma positiva
valorização da ação profissional, reconhecemos que esta tem uma ética
fundamental, pois se deve reconhecer que esta dedicação transforma a
vida social dos cidadãos. A questão se coloca na dimensão ética desta
ação profissional. Qual é, afinal, seu primeiro propósito de fidelidade? A
norma social, ditada pelo estado e pelos conselhos de profissão ou às
normas éticas de sua orientação ideológica ou religiosa?
Por assim dizer, a profissão é uma ação que deve responder às
exigências e às necessidades de sobrevivência e de organização da
sociedade. Assim, integramos à ação de ensinar dois substantivos
conseqüenciais: trabalho e profissão.
Para o conceito de educar, embora muito próximo da ação de
ensinar, entramos num universo renovado da ação humana. A ação de
educar está dentro do ato de ensinar, mas com certeza o transcende. Se a
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ação de ensinar se refere ao trabalho e a profissão, a ação de educar
integra uma missão; mais ainda uma vocação. A educação procura
desenvolver as faculdades físicas, morais e intelectuais do ser humano.
Quando educamos um ser humano, nosso objetivo é promover um
conhecimento, mas, sobretudo iluminar e formar a consciência do
discípulo. Assim, a educação tende a construir a personalidade e elevar o
espírito. De fato, “a reflexão filosófica sobre a educação é que dá o tom à
pedagogia, garantindo-lhe a compreensão dos valores que, hoje,
direcionam a prática educacional e dos valores que deverão orientá-la
para o futuro” (LUCKESI, 2005). Se adentramos a compreensão de
educação, notaremos que sua missão é adentrar a alma humana e
iluminar seu interior, para prepará-la para a vida.
Não se trata de afirmar que a educação é mais nobre que o
exercício da profissão, mas discernir seus campos de ação e sua
especificidade. Se temos um bom professor que não consegue atingir o
cerne da educação, corremos um perigo semelhante se tivermos um
mestre que não tem a capacidade de ensinar. Mais adiante veremos a
relação dialética entre estes dois temas.
Ensinar e Educar: Objetivos Interativos
Falamos de objetivo, em termos pedagógicos, na medida em que
definimos o ponto de chegada de uma ação relacional entre professor e
aluno ou entre o mestre e o discípulo. Neste momento, é legítimo
identificar qual o objetivo daqueles se colocam diante de um grupo de
estudantes com a tarefa de transmitir conhecimentos que foram
conquistados e elaborados pelas várias ciências. Trata-se de uma
herança a ser transmitida e divulgada. Este é o primeiro passo ou um dos
passos, pois a ação de ensinar implica também a pesquisa. A pesquisa é a
busca incessante do conhecimento, avançando fronteiras, mesmo
correndo riscos de desvios e erros. A ação de ensinar se torna um
método, com uma nova indicação: auto-ensinamento ou mesmo o autoaprendizado. Uma precisão pode ser fundamental, para nos posicionar
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nesta reflexão. Determinamos o objetivo do ensinamento como a ação
de fornecer e transmitir qualquer tipo de conteúdos a outrem, para
tornar a pessoa apta para lidar com as situações do cotidiano, como
andar, plantar, fabricar uma ponte. De tal maneira, que “o educador não é
neutro, tem um papel político-pedagógico; sabe, porém, que tanto ele
quanto a escola têm uma autonomia relativa, isto é,a relação escolasociedade é uma via de mão dupla em que o campo das interferências
recai nos dois polos “ (CORTELLA, 2000).
Não é incorreto, com base no objetivo de ensinar, determinarmos
o objetivo da ação de educar. Educar exige mais que o conhecimento
intelectual e abrange as várias dimensões da vida humana. Assim, se o
ensinamento toca especialmente o aspecto intelectivo, a educação visa o
ser humano em sua integralidade. Pelo ensinamento, adquirimos teses,
teorias e teoremas que ocupam nosso aspecto cognitivo, fazendo-nos
conhecedores e manejadores dos aspectos técnicos da realidade. Pelo
conhecimento, aprendemos, por exemplo, a história dos povos antigos, a
composição das células, a manipulação das máquinas e as teorias dos
grandes mestres. O ensino nos torna possuidores dos conhecimentos
desenvolvidos e conquistados pela ciência ao longo dos séculos. Estas
ciências e técnicas tornam-se patrimônio de nossos acadêmicos nas suas
variadas cátedras.
Todo o discurso se transforma quando falamos de educação.
Também aqui podemos falar no objetivo de construir um patrimônio de
tradições e conhecimentos. Mas a ação de educar objeta a
transformação mais profunda do ser humano, tocando seu
comportamento, sua realização pessoal, seus projetos de vida, seus
ideais, bem como sua realização profissional.
Partindo destas premissas de contraposição, podemos delinear
os objetivos da ação educativa, que engrandece e planifica a ação de
ensinar. Temos que o objetivo da educação é preparar o ser humano para
a vida, levando-os a tomar decisões conscientes, que o leve a assumir
suas responsabilidades, depois das ações realizadas. Para tanto, a
educação tem como axioma fundamental o diálogo interativo. Fica-nos
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evidente a proposição de nosso grande educador P. Freire, o qual afirma
que,
“o sentido atribuído ao diálogo, que pressupõe uma relação
horizontal entre os seres, fundado 'no amor, na humildade, na fé dos
homens', é fundamental para a estrutura do conhecimento, visto que
o ato cognoscente não termina no objeto cognoscível, uma vez que se
comunica a outros sujeitos igualmente cognoscentes. A educação é
comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência do
saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam
significações dos significados” (FREIRE, 1987).
A ação de ensinar objetiva a realização da profissão, por sua vez o
ideal da educação aponta para a realização humana, a própria felicidade.
Nenhum professor, no seu ensino, pode sentir-se realizado se seus
estudantes não estiverem preparados para exercer um papel profissional
na sociedade; de forma equivalente, o mestre se sente mais realizado em
sua atividade educacional se seus discípulos estiverem inseridos na
sociedade e vivendo em harmonia com a família, com a comunidade e
com a natureza.
Os objetivos são totalmente distintos, mas não contrapostos e
muito menos contraditórios. Estes devem compor a ação de um
professor que se faz mestre, porque ensina educando e o mestre que se
faz professor, porque educa na ação de ensinar.
Curriculum do Ensino e da Educação
Ao tocarmos os termos fundamentais da educação, pode parecer
violência conceitual aplicar ao programa educativo a noção de
curriculum. Curriculum, de fato, sempre se revolve a um itinerário
técnico e científico que deve ser objetivamente cumprido e realizado por
parte dos responsáveis, quer dizer, os professores. Por esta razão,
estamos distinguindo os sujeitos da educação, bem como seus
protagonistas e seus objetivos.
Para os sujeitos, definimos como professores aqueles que
ensinam e estudantes aqueles que aprendem; da outra parte, para a
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educação tratamos como mestre os educadores e discípulos seus
aprendizes. Os verbos adequados podem ser ensinar e educar, onde o
primeiro verbo prepara para uma profissão e o segundo para a vocação.
Ambos são graduados para servirem os irmãos.
Vamos compreender, assim, que os currículos destas duas ações
humanas, são bem diversos e diversificados. Vamos assumir a
compreensão mais aberta de curriculum, para integrar o itinerário
propício para a educação educativa.
Tomemos, para iniciar, o conteúdo da ação de ensinar. Esta
determina temas e objetos bastante variados, desde competências e
destrezas físicas a conhecimentos teoréticos ou regras de
comportamento social. Determinamos assim o conteúdo de ensinar.
Assim,
O sentido essencial do processo da educação não decorre dos
produtos de uma ciência isolada e nem de produtos somados de
várias ciências: ele só se constitui mediante o esforço de uma
concorrência solidária e qualitativa de várias disciplinas. Essa malha
de interdisciplinaridade na construção do sentido educacional é
tecida fundamentalmente pela reflexão filosófica.... [...] gerando
uma atitude de abertura e de predisposição à intersubjetividade.
(SEVERINO, 1990).
Para que o ensino seja harmônico, aqueles que ensinam devem
ter conhecimento real dos conteúdos necessários para aquele tema
geral, ou mesmo, aquela disciplina. Os conteúdos são progressivos e
evolutivos, exigindo, muitas vezes, pré-requisitos objetivos. Existe neste
campo, uma evolução das atividades mentais abstratas e os
conhecimentos básicos, que passam aos médios e aos superiores. Existe
um complexo de conteúdos que devem ser cumpridos, para que haja
parâmetros e níveis a serem comparados e organizados. É preciso que a
formação técnica e científica seja ordenada, para que os níveis
profissionais sejam equivalentes. Assim, quando falarmos de
profissionais, como advogados, professores, dentistas, jornalistas,
administradores, pedagogos, técnicos de computação, entende-se que
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existe uma equivalência entre eles quanto ao nível de estudos e
pesquisas. Imprescindível ainda que a mesma profissão tenha
equivalência numa mesma nação ou região geográfica. Neste sentido,
surgiram os Conselhos regionais e alguns casos os conselhos nacionais.
Estes conselhos estão servindo para garantir o nível acadêmico e
profissional das profissões. Pode ser que chegaremos ao ponto que não
bastará ter o certificado acadêmico para exercer a profissão, mas ser
aprovado num exame promovido pelo conselho específico daquela
profissão, com a aprovação do ministério público.
Com esta prática que vai se aprofundando cada vez mais, com
certeza estamos perdendo a autonomia das faculdades, que se
preparam e se programam em vistas do exame de seus conselhos, do
mesmo modo que os cursos de ensino médio passaram a organizar seus
programas a partir dos exames públicos de vestibular.
Neste reducionismo, os cursos não visam um ensino mais
confessional e mais humanista, mas em vistas dos exames seletivos para
a universidade. Esta realidade, que ainda é complicada, era ainda pior
quando estes exames seletivos eram de múltipla escola, eliminando o
raciocínio mais amplo e a literatura mais discursiva.
Em relação aos exames de aprovação dos conselhos de área
profissional, devemos reconhecer que serviram para suprir ou punir
cursos institucionais incompetentes ou “caça níqueis”, como se diz na
crítica popular. Existe, ao menos, como tentativa institucional, o
ordenamento de todas as profissões, que devem estar incluídas num
cânon jurídico, também para sua regulamentação nacional.
Se este é o verso institucional, é preciso reconhecer que existem
profissões onde o certificado jurídico é irrelevante. Podemos citar os
jornalistas, professores de línguas, técnicos nas áreas de informática,
entre outros. Nestes casos, mesmo a tentativa de encastrar as atividades
profissionais, gera mediocridade na profissão. Um exemplo simples é
que jamais (para exagerar) um estudante de uma faculdade ou
universidade aprendeu uma língua estrangeira. Todos os alunos dos
cursos de línguas e literatura devem freqüentar cursos especializados
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para aprender as línguas modernas. Esta prática tornou-se comum e
repetitiva, mas é por si mesma escandalosa.
Esta anotação, para efeito de compreensão da realidade do
ensino, serve para mostrar que a formatação jurídica é um instrumento,
mas não garante a eficiência das práticas de ensino na realidade
educacional.
Um outro elemento ainda serve para iluminar a formatação do
conteúdo do aprendizado. Não bastam os certificados. Estes podem
garantir a aquisição do conhecimento, mas não a eficiência do
ensinamento. Desta feita, compreendemos que existe outro filtro para a
aplicação dos conteúdos, quer seja o exercício profissional. Quando o
profissional adquire maior conhecimento e habilidade para sua
aplicação, vai construindo uma imagem positiva, que lhe proporciona
maior sucesso e espaço profissional.
Na mesma referência da compreensão do conteúdo de ensinar,
podemos refletir que o conteúdo vai além da conquista de
conhecimentos técnicos ou científicos. Portanto, no tocante ao conteúdo
destes conhecimentos, refere-se ainda que à transmissão de
informações e conhecimentos adquiridos pela humanidade, que se
torna seu patrimônio. Vamos insistir com P. Freire que, “o verdadeiro
diálogo não pode existir se os que dialogam não se comprometem com o
pensamento crítico”.(FREIRE, 1996).
Não basta conhecer, é preciso transmitir o conhecimento. Este
objetivo faz parte do conteúdo do conhecimento. Não que os
conhecimentos não tenham sentido como posse de um bem pessoal,
mas normalmente não devem servir para próprio deleite. Antes, deve-se
transmitir estes conteúdos, para que os estudantes iniciem sua pesquisa
a partir dos conhecimentos adquiridos e não façam pesquisas para
descobrir conhecimentos já adquiridos e sistematizados.
Os meios de transmissão destes conteúdos passam por várias
vias instrumentais. De fato, podemos transmitir ensinamentos por teoria
e por prática. Assim, os conhecimentos se realizam pela memorização,
pela reflexão, pela compreensão intuitiva e outros meios cognitivos.
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Outras possibilidades de conhecimento dos conteúdos são as
experiências e relação com o meio ambiente, com a sociedade e com o
universo como um todo. Todos estes meios permitem adquirir
conhecimentos e compõem um rico arsenal de conteúdos que servem
para sobreviver, para criar meios de crescimento e de melhoramento da
forma de viver.
Acrescentamos ainda que o conteúdo se refere ao conjunto de
teorias, o comportamento social e uma destreza corporal. Fica assim
evidente que se trata de um conjunto de conteúdos que compõem um
arsenal pessoal de capacidades pessoais e sociais.
Passamos a tocar o conteúdo da ação de educar, recordando as ressalvas
que foram referenciadas, uma vez que entendemos conteúdo como um
conceito mais amplo. Não significa apenas as atividades mentais da
abstração, advindas das experiências, memorizações ou outros
mecanismos gnosiológicos.
De fato, definimos como conteúdo da ação educativa os valores
fundamentais da vida que equilibram o ser humano em suas relações,
prepara para enfrentar as adversidades e fortalece seus sentimentos
para confrontar-se diante das perdas e das decepções. Educar assume
uma função gnosiológica existencial ou vivencial. Não são
conhecimentos adquiridos e arquivados na mente, que estão à
disposição de nossas atividades corporais individuais e sociais.
Toda ação educativa exige que nossos dons sejam explicitados e
transformados em matéria prima para a boa vivência de nossos valores, a
integração ética de nossos dons humanos e a concretização do sentido
de nossa vida, mormente a construção dos meios do próprio bem e do
bem comum.
Em torno da categoria primeira de Bem organiza-se, pois, o conjunto
dos valores fundamentais do saber ético dos gregos, que a Ética
herdará e no qual deverá introduzir a ordem das razões. A categoria
de Bem apresenta estruturalmente uma dupla face: o bem em si e o
bem no indivíduo ou na cidade, uma face objetiva e uma face
subjetiva do Bem. Essas duas faces do Bem receberão desde o início
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seu perfil conceptual próprio: em si o Bem (agathon) é o Fim último, a
que todo ser tende (Aristóteles); no indivíduo o Bem é areté, termo
impropriamente traduzido por 'virtude'; na cidade o Bem é nomos ou
'lei' Areté e agathon são vocábulos que passam a fazer parte da
linguagem ética a partir de uma significação originariamente física.
Areté designa primeiramente a excelência das qualidades físicas que
concorrem para a perfeição de um ser, segundo sua natureza
específica. No plano moral, a areté do ser humano exprime a
perfeição de seu agir, segundo o predicado que lhe é próprio e só a ele
convém. Para os gregos esse predicado é o sábio uso da razão, o
exercício da phronesis, da sabedoria. Ora, a perfeição é o bem no
indivíduo enquanto sujeito ético, e esse bem lhe advém do exercício
da areté pela conformidade com o Bem objetivo sob a norma da
sabedoria (LIMA VAZ, 1999).
A precisão destes conceitos fundamenta a conquista dos bens
que são necessários para a vida. O bem que é conquistado pela busca do
ser humano de se realizar e dar sentido à própria existência nasce das
ações de ensinar e de educar, que são ambas as ações de conhecimento.
Nestes casos, recordamos a importância de transmitir às crianças
e jovens os valores fundamentais da vida, como o respeito e a dignidade,
assim como ensinar os mandamentos da Lei divina, a partir das próprias
experiências cotidianas. É parte integrante da ação educativa igualmente
demonstrar os valores inalienáveis à própria vida, buscando suas razões
nas próprias opções fundamentais.
Interação Entre Ensinar e Ensinar
Tendo, com detalhamento lógico, definido os conceitos, objetos e
métodos destas ações em estudo, encontramos um elemento
fundamental para determinar a validade e a eficácia no ensino e na
educação, numa ação interativa entre pessoas, ambiente e situações
envolvidas nestas ações. Para encontrarmos os sujeitos de toda
aprendizagem, retomamos a definição fundamental, onde recordamos
que o ensino é uma atividade mental, que prevê resultados intelectuais,
com interesse instrutivo. Vamos pensar num caso, como a sobrevivência
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em alguma situação vital, como numa catástrofe ou num ambiente de
perigo. Temos então vários sujeitos envolvidos nesta ação, como os
líderes, os professores, as próprias pessoas envolvidas e os ambientes
naturais, como os acontecimentos e os momentos históricos. Os sujeitos
nos levam ao conhecimento dos conteúdos programáticos, os saberes
temáticos e teoréticos e às várias ciências.
Reconhecemos que a ação de aprendizagem envolve os vários
sujeitos que estão relacionados aos processos instrutivos. O primeiro
sujeito é sempre a pessoa que se coloca na condição de conhecer,
buscando crescer e se transformar interiormente, adquirindo mais
capacidades que possam servir para o bem próprio e de seu universo.
Podemos apresentar, para aprofundar nossa reflexão, dois
grandes filósofos gregos, que nos ajudam a fortalecer a relação vertical
da aprendizagem, bem como a sua horizontalidade, para não se perca
nem a figura do mestre-discípulo e se valorize as relações de trocas
pessoais na formação. Em primeiro lugar, buscamos em Sócrates a
definição de virtude, que é um dos objetivos da educação:
A virtude é um agir ótimo, é procurar fazer o bem, que é o correto, o
ideal. Ser virtuoso é o máximo que se pode ser. O ato virtuoso
depende do fim que se colocar para ele. As coisas são virtuosas a
medida que elas fazem bem as coisas para as quais elas foram feitas.
O caminho para a virtude não é só o intelecto, razão, é o
conhecimento místico também. (J. PAULUS, 2005)
Para Platão, a educação deve preparar o ser humano para viver as
virtudes, fortalecendo-o contra os vícios, que desumanizam. O mestre
ensina, assim como o professor teoriza, mas a interação entre
companheiros é fundamental. Seu texto é muito esclarecedor:
As principais virtudes são: força, coragem, justiça e piedade. A virtude
da alma é a sabedoria, que é o que a aproxima de Deus. A sabedoria
tem a ver com humildade intelectual e não com a quantidade de
saber. (Os Pré-socráticos, vol. II, 1973).
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Assim, o objetivo do ensino é coletar conhecimentos, enquanto a
educação lhe garante o bom uso, para que sirvam ao bem, seja pessoal,
quanto intelectual. Recebemos muitos valores de nosso universo vital,
mas apreendemos com a convivência e as descobertas dos iguais, sejam
os companheiros que descobrem conosco, nos desafios cotidianos, bens
e valores que nos servirão para sempre.
Protagonistas da Educação
Não é diferente a relevância dos sujeitos educativos quando se
trata da ação educativa. Esta, a Educação, é uma atividade do espírito,
que edifica o interior do ser humano, com interesse mormente
formativo, mais que informativo. A exemplificação, a partir de uma
realidade habitual, poderá facilitar a compreensão destes sujeitos?
Tratemos de um fato real, embora hipotético: supomos que um pai que
repreende seu filho por seu comportamento agressivo. Não se trata de
ensinar que isto é contra a regra, que as normas jurídicas legais ou
normas de trato social, mas fazê-lo compreender que este ato é contra a
grandeza da humanidade. Os sujeitos da educação são o pai, o filho, as
circunstâncias e os próprios fatos que envolvem esta ação educativa. A
vida dos sujeitos da educação está plenamente integrada nestes
argumentos. Nesta situação, como em outras situações educacionais,
não emerge o tem espaço formal, mas a própria realidade existencial.
Neste momento, encontramos algumas figuras de interação. Por
exemplo, na relação escolar, a interação se relaciona entre o aluno e o
professor, o instrutor e o aprendiz, o monitor e o estagiário. Temos outras
duplas interativas: pais e filhos, catequista e catequizando, padre e fiel,
idosos e jovens. A vida é uma grande escola, onde aprendemos a cada
instante. Todas estas figuras se tornam sujeitos ativos da educação, como
sujeitos do ensino. Quando falamos, afinal, de sujeitos do ensino e da
educação, propomos a noção de protagonismo. Para a educação, o
protagonista principal é o próprio educando, mas igualmente importante
é o educador, o professor e todos os membros e situações envolvidas
nestas ações de aprendizagem.
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Voltando as figuras de interação, compreendemos que são as
mesmas para o ensino e a educação, naturalmente com posturas
diferentes. Para a educação, os papéis mais presentes podem ter títulos
específicos: mestre e discípulo, idoso e jovem, pais e filhos, comunidade
educativa e comunidade discente. De uma parte, está o educando, da
outra, o educador, e ao redor destes, todas as pessoas e realidades
circundantes.
Sitz In Leben da Aprendizagem
Quando falamos em “sitz in leben” estamos querendo
compreender como se dá a implicação deste conceito da hermenêutica
bíblica na área pedagógica. De fato, este conceito é uma expressão
alemã utilizada na exegese de textos bíblicos e se traduz-se comumente
por "contexto vital". De uma forma simples, o “sitz im leben” descreve
em que ocasião uma determinada passagem da Bíblia foi escrita. Assim,
abordaremos o contexto vital da educação partindo deste conceito, com
o propósito de entender o contexto vital onde as definições e as
características dos métodos educacionais foram elaborados.
Naturalmente, como na elaboração e na pesquisa da ciência
bíblica, os conceitos, objetivos e conteúdos das ações de aprendizado
são influenciadas pela situação onde se realiza concretamente. Cada
versículo bíblico repercute o seu contexto. Por esta razão, fala-se sempre
em texto e contexto. O texto é influenciado pelo contexto e vice-versa.
Nossas concepções são lapidadas pela realidade concreta onde vivemos.
A realidade forma nossos pensamentos e nossas concepções
fundamentais. Como entendemos que os conteúdos dos textos bíblicos,
bem que revelados misteriosamente, são respostas à situação concreta
do povo, respondendo às suas necessidades e sua espiritualidade
própria. Do mesmo modo, inferimos que os conceitos e os conteúdos
estão em relação direta com o ambiente que os elabora. Isso nos
obrigada a compreender o “sitz in leben” das ações de ensino e de
educação.
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Quando falamos da ação de ensinar, pensamos que seu lugar
privilegiado é o espaço acadêmico, como as escolas e universidades, os
cursos profissionalizantes e os laboratórios. Aprendemos nos estágios,
nas experiências acadêmicas, nas visitas a museus e espaços livres.
Aprendemos nas excursões e nos esportes. De fato, os grandes
educadores contemporâneos acreditam na ousadia e na
espontaneidade do aprendizado. Vejamos uma passagem de P. Freire,
É preciso ousar, no sentido pleno desta palavra, para falar em amor
sem temer ser chamado de piegas, de meloso, de a-científico, senão
de anticientífico. É preciso ousar para dizer cientificamente que
estudamos, aprendemos, ensinamos, conhecemos com nosso corpo
inteiro. Com sentimentos, com as emoções, com os desejos, com os
medos, com as dúvidas, com a paixão e também com a razão crítica.
Jamais com esta apenas. É preciso ousar para jamais dicotomizar o
cognitivo do emocional (FREIRE, 1993).
Estes lugares são importantes para organizar os conhecimentos
e, sobretudo, elaborar sua sistematização na mais lógica abstração.
Outros lugares, definidos não acadêmicos, podem ser destacados como
espaços de ensino, pois são aptos para concretizar o conceito, objetivo e
conteúdo da aprendizagem. Podemos aprender nas experiências de cada
dia, no contato com os mais velhos e na convivência com tantas pessoas.
Aprendemos também na situação concreta da vida, quer sejam, as
aventuras, as descobertas, as tentativas inusitadas e os desafios que a
realidade nos impõem.
Muitos educadores consideram mesmo que os espaços vitais de
nossa existência são mais adequados e intensivos para a formação do
conhecimento que os próprios lugares acadêmicos. Do ponto de vista do
conhecimento, acredita-se que é fundamental o espaço que
denominamos existencial, onde vivemos e convivemos, pessoalmente e
em relação. Para a sistematização dos conhecimentos, é propícia a
atividade acadêmica. Esta permite o ordenamento dos conteúdos, bem
como a sua transmissão, que se torna uma herança patrimonial das
gerações.
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Educar e Ensinar: Profissão e Missão
Se a priorização é dada ao espaço acadêmico para o
ensinamento, bem diferente é a atividade educativa. Podemos
concretizar a compreensão de educação como uma atividade mormente
existencial, onde se apreende mais pela vida que pela educação
bancária, como ensinava sempre Paulo Freire, que assim se dirige aos
educadores. Nas palavras de um seu estudioso, ele ensina que:
Ao educador compete refazer a educação, reinventá-la, criar
condições objetivas para que uma educação realmente democrática
seja possível, criar uma alternativa pedagógica que favoreça o
aparecimento de um novo tipo de pessoas, solidárias, preocupadas
em superar o individualismo.Esse novo projeto, essa nova alternativa
possível e necessária, precisa ser pensada, refletida pelos
educadores. (GADOTTI, 1998).
Neste momento, fazemos uma breve incursão, para integrar
sucintamente um conceito integrativo, que é a ação de instruir, seja a
instrução. Falamos do instrutor de motorista ou o pintor a ensinar como
se pintam telas a óleo. Quais os conteúdos desta iniciação? É o saber
fazer, a destreza corporal, que o instrutor tenta passar ao aprendiz. No
entanto, não vamos considerar a tarefa dos instrutores como sendo
ensino. Pelo que já vimos anteriormente, no ensino os conteúdos são
saberes teoréticos e temáticos, enquanto que na instrução são saberesfazer (o savoir-faire dos franceses ou o know-how dos ingleses) e
destrezas corporais.
Podemos determinar como lugar privilegiado da educação lá
onde a vida se dinamiza e se cultiva, com seus caminhos, propósitos e
busca de plenitude. Somos educados em casa, na rua, ao ver televisão e a
ouvir rádio. Assim, os lugares são os mais variados, os responsáveis são
os mais diversos. Tal como os pais e os familiares são responsáveis pela
educação o lar, os mestres nas escolas e nos trabalhos, . Também a
televisão, os vizinhos, os amigos ou o empregado de balcão estão
permanentemente a educar quem com eles interage.
Na ação do ensino considera-se que os professores tornam-se
proprietários do conhecimento que depois os transmite aos seus alunos;
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na prática educativa, os educadores não são possuidores de dados
incorporados, mas comunicam valores, vivências, ideais e utopias.
Retornando aos primeiros momentos dos conceitos, o lugar do ensino é
direcionado para a prática da própria profissão, enquanto o lugar da
educação é direcionado para a própria vida.
Aprendizado Como Fonte De Sabedoria
Na atividade educativa, mais ainda que na ação de ensinamento,
os mestres marcam decisivamente a personalidade dos seus discípulos.
Esta influência se dá pela palavra e pelo exemplo. A forma de agir do
mestre, que se percebe sutilmente no olhar, no tom da voz, nas breves
reações e nos colóquios mais simples são marcas que adentram o
espírito de todos os estudantes. De fato, se passarmos a limpo nossas
memórias de infância e juventude, perceberemos que estes mestres
deixaram marcas indeléveis em nossa vida. Estes nomes extrapolam os
bancos escolares e vão para a vizinhança, para as praças e para a
comunidade. Normalmente são pessoas que estiveram num contato
mais imediato com nosso cotidiano. Muitas vezes, era o bedel da escola,
o porteiro do prédio, o líder da comunidade ou pessoas que tinham algo
para comunicar. Esta comunicação não se restringia jamais à palavra, mas
à forma peculiar de ser e agir.
Na verdade, a família, a comunidade e a escola são elementos
convergentes nos processos de formação da personalidade de cada ser
humano, pois realizam a convergência da ação educativa. De fato,
ensinar é muito mais que instruir e educar é mais que ensinar. Na
instrução se aprende as formas de operar os bens naturais da vida, no
ensino se teoriza e se formula seus conhecimentos, por meio da
abstração e na educação se prepara para a vida, dentro dos ambientes
culturais e religiosos. Recordamos o grande educador Paulo Freire,
considerado um grande sintetizador entre os verbos ensinar e educar.
Neste entendimento, temos que ensinar não é transmitir
conhecimentos, mas criar as possibilidades para a produção do saber.
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Educar e Ensinar: Profissão e Missão
Uma das primeiras exigências é a rigorosidade metódica. O Educador
norteando-se por este saber deve reforçar a capacidade crítica do
educando auxiliando-o a tornar-se criador, investigador, inquieto,
rigorosamente curioso, humilde e persistente. Deve ensinar os
conteúdos, mas também ensinar a pensar certo. Os conhecimentos
contidos nos livros são muito importantes, porém não basta ter estes
saberes e não estar integrado com a realidade do seu mundo. Ensinar
exige ética e estética. A prática educativa tem a obrigação moral de ser
um testemunho rigoroso de decência e de beleza. Educar com arte é a
arte de educar.
Retomamos suas palavras objetivamente:
Ensinar é assim a forma como toma o ato de conhecimento que o (a)
professor (a) necessariamente faz na busca de saber o que ensina
para provocar nos alunos seu ato de conhecimento também. Por isso,
ensinar é um ato criador, um ato crítico e não mecânico. A
curiosidade do (a) professor (a) e dos alunos, em ação, se encontra na
base do ensinar-aprender (FREIRE, 2002).
Do mesmo modo, como se considera que é fundamental
estimular a aprendizagem dos saberes, sabemos que é indispensável a
apreensão dos valores que estruturem o comportamento ético desde os
primeiros momentos da vida. Neste processo é importante aquisição de
novos saberes e novos valores. Os mestres permanecerão sempre
presentes no espírito dos estudantes, assim como os professores terão
parte em suas memórias.
Palavras Finais
Nesta trajetória, onde aproximamos e desaproximamos os
verbos educar e ensinar, percebemos quão próximos eles estão e quão
diversos eles são. Na verdade, eles se integram e se servem, mas têm
conceitos próprios e diferentes lugares pedagógicos. Anotamos ainda
que seus objetivos e seus conteúdos se integram, mas não se
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confundem, ocorrem simultaneamente mas não se impõem. Eles se
propõem.
Digamos, à guisa de conclusão, que a educação para a condição
humana exige um esforço pedagógico, pois considera a uno-diversidade
do ser humano. Nesta unidade plural, valoriza igualmente o
desenvolvimento de uma consciência lúcida.
A lucidez está na relevância da complexidade humana. Urgem
assumi-la com seriedade e desenvolver um esforço educativo, para
religar os saberes fragmentados. Não descartamos as áreas e suas
disciplinas, mas as conectamos na unidade fundamental da vida. Como
se fosse um holograma, onde cada parte representa a totalidade e a
totalidade é composta de suas pequenas partes.
Na nossa missão educativa, para além dos ceticismos
contemporâneos, percebemos a validade da integração religiosa, como
ensina o grande pensador e psicólogo C. Jung, para o qual, não é possível
integrar a pessoa humana sem considerar seus valores espirituais, quer
dizer, sua busca incessante de transcendência. Vamos ilustrar com uma
passagem de M. Gadotti:
Eu penso que no momento em que você entra na sala de aula, no
momento que você diz aos estudantes, Oi! Como vão vocês?,Você
inicia uma relação estética. Nós fazemos arte e política quando
ajudamos na formação dos estudantes, sabendo disso ou não.
Conhecer o que de fato fazemos, nos ajudará a sermos melhores
(GADOTTI, 1996).
Toda nossa existência tem sua finalização na própria essência,
quer dizer, a vida que nasce de Deus e que emana em todas as nossas
ações. Mais que existir, nós somos, pois nosso ser se realiza em Deus. Ele
é e nós somos n'Ele. Toda ação educativa deve convergir para a plenitude
do ser humano, que é sua felicidade. Sua felicidade está em Deus, seu
princípio fundamental e seu epílogo, que dizer sua plena realização.
Nossa ação educativa deve considerar a formação religiosa, pois
é parte inerente neste processo, uma vez que a transcendência é um
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Educar e Ensinar: Profissão e Missão
elemento constitutivo do ser humano. Considerando a pessoa em sua
complexidade e cumprindo o dever de animar todas as dimensões do ser
humano, o verdadeiro educador se faz mestre e insere seus discípulos na
vida de Deus, que em Cristo revela sua nobreza, sua harmonia e sua
perfeição.
Vejamos um texto do Papa João Paulo II, que ilumina esta
reflexão:
A verdade da revelação cristã, que se encontra em Jesus de Nazaré,
permite a quem quer que seja perceber o « mistério » da própria vida.
Enquanto verdade suprema, ao mesmo tempo que respeita a
autonomia da criatura e a sua liberdade, obriga-a a abrir-se à
transcendência. Aqui, a relação entre liberdade e verdade atinge o
seu máximo grau, podendo-se compreender plenamente esta
palavra do Senhor: « Conhecereis a verdade e a verdade libertar-vosá » (Jo 8, 32). (JOÃO PAULO II, Encíclica Fides et Ratio, 2002, n. 15).
Deus torna-se, como evidência epistemológica, o ponto de
partida do mestre e o ponto de chegada de seus discípulos. As condições
humanas são referentes à própria realidade, os objetivos são a
construção de novos saberes e a elevação da existência e o conteúdo é o
sentido cristão da vida.
A presença divina na criação se revela no ato criador e conservador
de Deus. Pela educação ao verdadeiro sentido de nossa existência
histórica, somos elevados necessariamente à resposta da fé, uma vez
que Deus é o autor da natureza tanto revelada mediatamente,
quanto imediatamente, permanecendo sempre como o ser
substancial da alma humana.(BOGAZ, A.S.– SIGNORINI, I., 2003).
Na dimensão religiosa mais ampla e ecumênica, sempre é bom
recordar que educar é preparar o discipulado para defender o direito à
vida, justiça, igualdade social e a paz entre as nações. O educador
verdadeiro crê na capacidade de cada ser humano de aprender e ensinar,
mas também, proporcionar meios para crescer e ser feliz. A ação
educativa deve ainda levar os aprendizes a rejeitar todos os tipos de
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acepção e de preconceitos pessoais. Ainda é missão de o mestre
promover o ser humano por sua essência e sua grandeza. O conteúdo da
educação quando impresso pelo espírito cristão procura valorizar a
caridade, a bondade, a empatia e os valores mais grandiosas da vida
humana, como a amizade, a honestidade e a felicidade. Na dimensão
religiosa, a formação leve a desenvolver a crença num mundo melhor,
mais justo, igualitário e ético, conforme os princípios cristãos. O
educador é um arauto de um mundo melhor e de pessoas mais felizes.
Nossos educadores ficarão gravados em nossa história, pois sua
missão é educar e, podemos concluir que educar é formar para a vida,
que na sua realidade se concretiza na transformação da própria pessoa
como imagem de Deus e do mundo como seu Reino.
Poema ilustrativo:
SER EDUCADOR
Ser educador é ser profeta da história,
Clareando, pelo testemunho de seu viver,
Os rumos das decisões humanas e o destino dos povos.
Ser educador é ser farol,
Decifrando as trilhas de nossos caminhos tortuosos,
Ancorando o barco de nossas vidas em portos luminosos.
Ser educador é ser modelador de espíritos,
Transformando os espíritos mais áridos
Em oásis de perene sabedoria
Ser educador é ser criador de parábolas,
Conscientizando para os valores éticos,
Através das ciências que culminam na sintaxe do bem querer
Ser educador é ser navegante do espírito
Buscando raios de claridade na alma
Para libertar as vidas tristes das trevas amargas.
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Educar e Ensinar: Profissão e Missão
Ser educador é ser fonte de inspiração,
Despertando nos corações da humanidade
A arte de amar, com gestos de carinho e de bondade
(frase opcional, se a estrofe “ser educador é ser modelador...não
estiver legal)
Ser educador é ser estrela guia
Ensinando que a noite é um cenário de amor
Que eleva as estrelas em seu esplendor
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