Avaliar Resultados em Gestão de Pessoas? Estado da Arte desta Prática nas Empresas Autoria: Patricia Morilha de Oliveira, Sérgio Nunes Muritiba, Ana Crisitina Limongi França Resumo Demonstrar e avaliar os resultados de Gestão de Pessoas é uma prática complexa e que se mostra um imperativo para a Gestão de Pessoas, que vem passando por uma transformação constante, e nem sempre atingida. Faz-se necessário analisar, dentre acadêmicos e profissionais, estudos acerca de sua possibilidade e das dificuldades envolvidas para sua aplicação. Este trabalho analisou o estado da arte da Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas, objetivando levantar e analisar os desafios para sua prática nas organizações. Isso se justifica pela possibilidade de que, identificados e analisados, tais desafios possam ser transpostos. Foram elaboradas variáveis de investigação através da literatura existente. Em seguida, elas formaram a estrutura de um levantamento quantitativo com 162 profissionais de Recursos Humanos, com o apoio da ABTD – Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento. O estudo demonstra que esta é ainda uma prática insipiente nas organizações, especialmente quando se trata de relacionar a Gestão de Pessoas aos objetivos estratégicos da empresa – uma evolução que já é constatada na teoria. A prática da avaliação passa pelos desafios da disseminação de um ferramental, da definição do que é esperado em termos de resultados da Gestão de Pessoas, e da capacitação dos profissionais. Introdução Demonstrar os resultados das decisões, práticas e políticas de Gestão de Pessoas é parte do processo de Gestão Estratégica de Pessoas, que vem sendo objeto de atenção de pesquisadores e profissionais. Alguns autores têm sido mais enfáticos à problemática pela qual RH vem passando. As pesquisas sobre a Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas vêm mostrando que esta prática pode ser uma das respostas para a efetividade e até continuidade da área de RH (Wright et alii., 2001). Mostra também, que existe um conjunto de ferramentas que respondem a este objetivo. No entanto, a utilização de tais ferramentas pelas organizações parece ser ainda insipiente, como demonstram algumas pesquisas realizadas (Brown, 2001). O desenvolvimento e a utilização de ferramentais para esta finalidade passam por diversas dificuldades colocadas pelos autores como, por exemplo, o mito de que todos os resultados de Gestão de Pessoas são intangíveis (Fitz-Enz, 1984), ou o baixo grau de participação do RH na estratégia das organizações (Kwasnika, 1987). Este trabalho tem por objetivo principal discorrer sobre o estado da arte da Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas. Deste objetivo central, decorrem os seguintes objetivos específicos: • Levantamento dos desafios para a prática da avaliação nas organizações. Estudos anteriores demonstram que a prática da avaliação nas organizações é insipiente. Sendo assim, quais os desafios que são enfrentados? • Análise dos desafios para a avaliação. Conhecendo-se os fatores levantados pela literatura, estes serão estudados com base em um levantamento quantitativo. 1 Como ponto de partida para atingir os objetivos citados, buscou-se uma visão do contexto contemporâneo da Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas, mostrando a evolução do ferramental para este fim. Em seguida, os estudos anteriores foram analisados, formando categorias de desafios para a avaliação. Estes desafios foram incorporados nas variáveis da pesquisa, e descritos em um levantamento quantitativo realizado com 162 profissionais de Recursos Humanos. Contexto Contemporâneo da Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas A Gestão de Pessoas está passando por um contexto em que há a preocupação de alinhar as políticas de RH com a estratégia de Negócios, o que foi afirmado por 76% das empresas pesquisadas por Fischer e Albuquerque (2001). Alinhar com a estratégia de Negócios é um fator apontado, nesta pesquisa, como sendo um dos principais objetivos das 120 empresas pesquisadas para o ano de 2010. O alinhamento com a estratégia de Negócios passa, arbitrariamente, pela determinação dos resultados que se espera atingir com a estratégia de Gestão de Pessoas. Neste sentido, surgiram ferramentas que objetivam avaliar os resultados da estratégia de Gestão de Pessoas, verificando assim seu alinhamento com a estratégia de Negócios. Encontra-se dificuldades quando se busca tais ferramentas em estudos anteriores. É grande a diversidade de termos adotados para se caracterizar a avaliação. Dentro do objetivo comum de avaliar a Gestão de Pessoas da empresa são utilizadas várias nomenclaturas pelos autores. Alguns se referem à mensuração da Gestão de Pessoas; estes buscam, em geral, ferramentas quantitativas para a avaliação. Outros estudam auditoria de RH, termo que geralmente se refere ao conjunto de práticas para verificar se as práticas de Gestão de Pessoas estão sendo executadas com eficiência na organização. A publicação Personael Management: Selected Readings (1971:342), sem autoria específica, traz estudos da época, que possuem o objetivo de “avaliar se seu departamento de administração de pessoal é ou não adequado, as atividades dele pertinentes, sua eficácia alta”. Analisando-se a cronologia dos estudos encontrados sobre o tema (Tabela 1), verificase que, na medida em que mudam os termos adotados, há uma evolução no sentido de se considerar para a avaliação não apenas aspectos técnicos e operacionais da Gestão de Pessoas, mas também seus impactos diretos e indiretos nos processos e resultados da empresa. Para Kwasnicka (1987), “a avaliação para a área de RH evoluiu somente a partir de uma visão de conjunto da empresa, que leva em conta a interdependência de todas as suas áreas e funções”. Nas publicações mais atuais, o Balanced Scorecard (BSC) é uma das ferramentas mais difundidas para a avaliação de resultados de RH. Becker, Huselid e Ulrich (2001) adaptaram a ferramenta de Kaplan e Norton (1996) para o uso em Gestão de Pessoas. Os indicadores estratégicos, como é o caso do BSC, vem sendo estudados desde meados da década de 80. No entanto, o BSC assumiu tal notoriedade que, muitas vezes, é comum que se pergunte a uma empresa se ela utiliza o Balanced Scorecard quando se afirma que ela tem boas práticas de avaliação de resultados de Gestão de Pessoas. É importante destacar que a variedade e evolução do ferramental de avaliação de resultados de Gestão de Pessoas é muito grande – sendo o Balanced Scorecard uma excelente alternativa a ser utilizada, mas não a única. Boa parte da literatura encontrada hoje descreve casos de utilização do Balanced Scorecard com relativo sucesso. Solomon (2000) apresenta o estudo do caso da GTE, uma empresa do ramo de eletrônicos, que se baseou nos trabalhos de Kaplan e Norton (1996) para modelar seu scorecard aplicado à área de Recursos Humanos, adotando uma abordagem desenvolvida pela própria empresa e adequada à sua cultura e processos internos. 2 Tabela 1 Evolução do ferramental de Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas Década de 70/80 Auditoria de RH: Exame dos objetivos, políticas, sistemas e controles dos recursos humanos, incluindo os estudos sobre contabilização de RH (Galicia e Muñoz, 1973; Werther e Davis, 1983; Kwasnicka, 1981 e 1987). Década de 80/90 Índicadores de avaliação de Gestão de Pessoas: Através de indicadores quantitativos, avaliar aspectos relativos às práticas de Gestão de Pessoas (Fitz-Enz, 1984; Indicadores do Prêmio Nacional da Qualidade, 2001) Década de 90 / 2000 Sistemas de medição estratégica: Atrelar os indicadores (e as práticas) de Gestão de Pessoas à estratégia da organização (Becker, Huselid e Ulrich, 2001; Kwasnicka, 1987; Fitz-Enz, 2001). Fonte: dados de pesquisa É possível também a apropriação de conceitos que foram, originalmente, designados a outras finalidades. Um exemplo de aplicação é a contribuição das teorias financeiras (Souza, Morilha e Materlac, 2003), ou da avaliação de ativos intangíveis (Sussland, 2001). No entanto, há poucos trabalhos nestes enfoques, e eles não serão abordados no presente artigo. Desafios para a Avaliação Analisando-se os autores consultados, pôde-se fazer uma síntese dos desafios por eles propostos em quatro blocos: (1) Histórico e requisitos necessários para a prática da avaliação O primeiro desafio à avaliação é o próprio histórico desta prática nas organizações. Não há, na maior parte das organizações, histórico de avaliação dos resultados de Gestão de Pessoas. Isso dificulta o estabelecimento de uma cultura de avaliação. Como esta é uma prática embrionária, estudos (Caster, 2001) demonstram que muitos profissionais de RH podem ter dificuldades em obter métricas quantitativas. Outros autores enfatizam certos requisitos para que a prática da avaliação seja efetiva. De maneira geral, eles ressaltam a importância de ter-se desenhado um bom plano operacional (Fitz-Enz, 2001). Legge (2000) alerta para a necessidade de se ter confiança nos dados de mensuração, e ressalta a raridade deste requisito nas empresas. Além disso, a autora também coloca a questão de que o impacto em um processo é mais fácil de visualizar do que o impacto sobre a empresa. Neste caso, avaliar a contribuição de RH para toda a empresa seria uma tarefa muito complexa. (2) Papel corporativo exercido pela área de Recursos Humanos Um segundo desafio é o próprio papel corporativo exercido pela Gestão de Pessoas. Os estudos anteriores (Wright et. alii., 2001) demonstram que esta prática pressupõe compromisso da alta gerência, disseminação da estratégia da organização, interesse e importância dada à Área de RH pela alta administração. (3) Crenças dos profissionais de RH sobre as possibilidades da Avaliação Muitos autores ressaltam uma questão cultural – as crenças dos profissionais que atuam na área de Recursos Humanos sobre a questão da Avaliação. De acordo com Fit-Enz (1984), há um mito difundido entre muitos profissionais de que todos os resultados da Gestão de Pessoas são subjetivos e, portanto, impossíveis de serem avaliados. Com a crença na impossibilidade da avaliação, não se utilizam novas práticas que procurem transpor as 3 dificuldades de avaliar. Autores também alertam para o fato de que muitos profissionais de RH podem temer a avaliação, ou desconhecerem metodologias para tal finalidade (Ahmed, 1999). (4) Não se tem clareza de quais os resultados que se espera alcançar Estudos anteriores, como a publicação Optmizing Human Resources: readings individual and organization development (1971) mostraram que, entre os profissionais de Gestão de Pessoas, não há clareza quanto a quais os resultados que se espera alcançar. É ainda comum que se espere atingir resultados que podem ser influenciados por outros aspectos que fogem ao controle das práticas de Gestão. É o caso, por exemplo, da motivação dos funcionários. Ela é influenciada, como mostra o estudo citado, por práticas de gestão, mas também por aspectos inerentes à vida pessoal dos funcionários, aos seus anseios pessoais e outros fatores intrínsecos. (5) Perfil do Profissional de RH pode não favorecer a prática da Avaliação A formação ou experiência do profissional de RH pode interferir sobre sua aptidão para a avaliação de resultados de Gestão de Pessoas, na medida em que ele terá maiores dificuldades para utilizar métricas quantitativas (Fitz-Enz, 1984). Metodologia Para analisar o estado da arte da Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas, em primeiro lugar contextualizou-se a evolução do ferramental desta prática. Como estudos anteriores (Brown, 2001) mostraram que avaliar resultados não é prática comum em muitas organizações pesquisadas, procurou-se levantar quais seriam os desafios para que isso ocorresse. A análise e síntese da literatura apresentada deu origem às cinco variáveis da pesquisa, expostas no item 0 (Desafios para a Avaliação). Tais variáveis foram descritas em uma pesquisa do tipo levantamento. Este tipo de pesquisa foi escolhido porque permite obter indícios de um grande número de respondentes, descrevendo-se assim as variáveis estudadas (Selltiz et alii,1974). Também permitiria inferir diferenças entre classes de empresas que avaliam os resultados de gestão de pessoas há algum tempo, e outras classes de empresas que não o fazem. Perde-se, numa pesquisa de levantamento, a profundidade de avaliação dos fatores estudados. Mas ganha-se, em troca, variedade de informações obtidas de diferentes sujeitos que participaram da amostra. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário semi-estruturado, composto por 5 variáveis que deram origem a 25 questões dirigidas ao tema, e 14 questões de dados pessoais. Algumas questões foram abertas, permitindo que o respondente expressasse suas opiniões. Outras utilizaram a escala do tipo Likert, indicada para medir percepções (Stevenson, 1981). A elaboração do instrumento de coleta de dados foi feita em conjunto com quatro especialistas em Gestão de Pessoas e Metodologia, professores da Universidade de onde provém os autores. Foi feito, depois disso, um pré-teste, que não ocasionou mudanças no conteúdo do Instrumento. A Tabela 2 mostra de maneira resumida as questões que explicaram cada uma das variáveis. 4 Tabela 2 Parâmetros que explicam as variáveis da pesquisa Grupos de Variáveis (1) Prática da Avaliação (2) Papel Corporativo (3) Crenças dos profissionais (4) Concepção de Resultado (5) Perfil do profissional Variáveis (V2) Em que profundidade avalia os resultados de Gestão de Pessoas? (V2a) Há quanto tempo isso é realizado? (V4) Utiliza ou planeja utilizar: índices, benchmark, Balanced Scorecard (V6c) Nunca tentou avaliar a Gestão de Pessoas antes (V6d) Já ocorreram tentativas frustradas de avaliação (V7) Conhece empresas que sejam referência em avaliação de resultados? (V6f) Há pressões da alta direção para que a avaliação de resultados ocorra (V6g) O sistema de informações disponibiliza dados confiáveis e rápidos (V6h) Os diretores de outras áreas e presidente participam das decisões de GP (V6j) Existe uma estratégia de GP documentada (V8) O departamento de RH é muito valorizado na organização (V11) A GP está claramente ligada à estratégia da organização (V3) Qual a maior dificuldade para avaliar os resultados da GP (questão aberta) (V6a) A equipe de RH é insuficiente (V6b) Desconhece-se metodologias para avaliar os resultados de GP (V6e) Não há interesse em avaliar os resultados (V9) A estratégia da organização é clara (V10) Os resultados das práticas de Gestão de Pessoas são muito subjetivos (V12) Sinto dificuldades em aplicar técnicas quantitativas para avaliar resultados (V13) Avaliar resultados de GP traz mais dificuldades que benefícios (V14) Os resultados de GP aumentam a participação da área na estratégia da empresa (V15) Os profissionais de RH temem uma avaliação dos projetos que desenvolvem (V16) É impossível mensurar os resultados dos investimentos em GP (V1) Quais os principais resultados que você acha que as práticas de GP devem trazer para a organização? (questão aberta) (V5) Assinale os maiores benefícios que você atribui à avaliação de resultados (D1) Idade (D2) Sexo (D3) Local (D4) Escolaridade (D5) Formação (D6) Trabalha atualmente com RH? (D7) Tempo de experiência em RH (D8) Função de especialização em Gestão de Pessoas (D9) Nível de atuação na empresa (D10) Experiência em outras áreas além de (estratégica, gerencial, técnica) RH anteriormente (D11) Ramo de atuação da empresa (D12) Principal produto que comercializa (D13) Porte da empresa (micro, pequeno, (D14) Número de funcionários médio ou grande) Coletou-se os dados através do envio de uma carta-convite por email aos participantes da amostra. O email apresentava um hiperlink para o questionário, que foi disponibilizado em uma página da Internet restrita vinculada à Universidade de onde vêm os autores. As respostas foram armazenadas automaticamente em um banco de dados que pôde ser consultado on-line a qualquer momento para monitorar as respostas. Foram tomadas também várias precauções com relação à tecnologia – a página da pesquisa não permitia, por exemplo, que o respondente enviasse respostas incompletas ou fora do padrão de resposta. 5 A amostra desta pesquisa consiste de profissionais e pesquisadores de Gestão de Pessoas vinculados à ABTD. Esta é “uma associação sem fins lucrativos, que procura criar condições facilitadoras para os profissionais de Recursos Humanos/Treinamento desempenharem seus papéis” (ABTD, 2005). A associação conta com 250 associados, para os quais foram enviados convites de participação, por email. Retornaram 131 questionários. O retorno das respostas, nesta pesquisa, foi de 51%. A amostra teve como uma das saídas mais indicadas considerar aqueles profissionais de RH que são vinculados a alguma Associação – já que o universo de profissionais da área é desconhecido. Várias associações de Recursos Humanos foram contatadas, e a ABTD – Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento concordou em apoiar a pesquisa. Como contraponto, a pesquisa também foi enviada para professores e pesquisadores de algumas universidades. Um teste bastante significativo mostrou que as respostas do grupo de profissionais eram semelhantes estatisticamente às respostas dos profissionais que não atuavam como pesquisadores. Isso permitiu trabalhar as análises com o total de 162 profissionais. Como se trabalhou com uma amostra não-probabilística, não foram realizados os testes de amostragem característicos. Marconi e Lakatos (2002:51-52), as técnicas de amostragem não-probabilísticas são aquelas cujos dados não podem ser submetidos a tratamento estatístico. Quanto às técnicas de análise, foram utilizadas principalmente escalas ordinais do tipo Likert de seis pontos. Este tipo de escala inviabiliza, de acordo com Norusis (1998), a utilização de várias técnicas estatísticas, como por exemplo as análises fatorial e de correlação, que são mais indicadas para escalas do tipo razão. Procurou-se, portanto, aplicar as técnicas estatísticas mais indicadas para a escala utilizada. Além da análise descritiva das variáveis, que incluiu tabelas de freqüência e análise cruzada de dados, foram realizadas técnicas mais robustas de análise, desde que apropriadas às escalas utilizadas. A técnica que trouxe resultados mais representativos foi o tratamento das informações para novas variáveis com a técnica do Código Qualitativo. Embora seja comum utilizar-se para o agrupamento de uma variável em categorias a análise fatorial, optou-se pela técnica do código qualitativo – uma técnica mais trabalhosa e demorada – por ser mais indicada, já que trabalha com os valores absolutos das variáveis. Norusis (1998) indica outras formas de análise somente para variáveis razão. Na pesquisa realizada, as variáveis utilizadas não permitem que sejam efetuadas operações matemáticas com seus valores, já que eles representam um ranking. De acordo com Goode e Haat (1969), “o código qualitativo é utilizado para todas as técnicas de classificar com precisão aqueles dados sociais, aos quais o pesquisador não deu com antecedência uma ordem”. Esta técnica permite ser mais fiel ao significado de cada categoria formada. Foram criadas quatro novas variáveis: P-Prática; RConcepção de Resultado; C-Crenças e PC-Papel Corporativo. Elas foram compostas pela composição escalonada das variáveis que faziam parte de cada grupo (e que podem ser consultadas na Erro! A origem da referência não foi encontrada.). Apresentação e análise dos resultados Contou-se com uma amostra bastante qualificada para as questões de Gestão de Pessoas. Basta observar o perfil dos respondentes. Em geral, são profissionais: • de alto nível de escolaridade. Pelo menos graduação completa (99,4%); muitos com PósGraduação ou doutorado (73,5%); 6 • • • • experiência profissional: experiência na área muitas vezes superior a 10 anos (46,9%); atuação estratégica nas organizações: 38,3% atuam de maneira estratégica e 32,1% de maneira gerencial na organização; têm experiência em outras áreas fora Recursos Humanos (79%) e atuam em empresas de médio (40,7%) ou grande porte (45,1%). Aproximadamente um terço dos participantes é o Diretor Geral de RH da empresa onde atua (29,6%), e 65,4% são Gerentes funcionais das diversas especializações de RH (Recrutamento e Seleção, Treinamento, Remuneração, Consultoria Interna etc.), além de 5% de consultores. Estas características fazem com que a amostra seja bastante qualificada para responder às questões propostas. Isso poderá ser percebido, mais adiante, pela qualidade das respostas obtidas. Prática da avaliação Os resultados da análise dos indicadores da variável Prática da Avaliação demonstraram que: • A prática de ferramentas de nível estratégico ainda é insipiente. O uso de indicadores de eficiência das práticas de Gestão de Pessoas, com relação à estratégia da organização, como um Scorecard, é prática adotada por somente 14,8% das empresas. • Apenas 24 profissionais das empresas pesquisadas (14,8%) avaliam resultados relacionando-os à estratégia da organização. Isso mostra que as práticas de avaliação estão sendo, aos poucos, adotadas nas organizações, e que muitas ainda não vinculam Gestão de Pessoas à estratégia. Muitas empresas (57,4%), inclusive, afirmaram não utilizar e nem pretender utilizar o Balanced Scorecard para a avaliação de resultados. Cabe lembrar que o BSC não é a única forma de alinhar Gestão de Pessoas à estratégia • 19,8% da amostra não praticam nenhum tipo de avaliação. E 27,2% avaliam somente as atividades específicas de Gestão de Pessoas, tais como os treinamentos, recrutamento e seleção, ou possuem avaliação de desempenho. • Quando se trata dos índices de avaliação, como turnover, absenteísmo, uma porcentagem relativamente alta dos profissionais utiliza estes índices: 38,3%. • Avaliar resultados de RH é um objetivo dos profissionais. Percebe-se que muitas empresas já tentaram avaliar os resultados da Gestão de Pessoas anteriormente (77%); no entanto, dois terços dos profissionais já passaram por tentativas frustradas de avaliação (66%). • Empresas que são referência em avaliação de resultados de Gestão de Pessoas: Foram citados um número significativo de empresas como sendo referência em avaliação de resultados de Gestão de Pessoas. Poucas foram elencadas mais de uma vez; destaca-se a Natura, com nove citações. Segue-se General Eletric, Gessy Lever, IBM e Unibanco com quatro citações cada uma. Papel corporativo Com relação ao papel corporativo das empresas, os resultados demonstraram que: • A Gestão de Pessoas é importante nas organizações onde os participantes da pesquisa atuam. Em geral, 58% dos participantes concordam que o departamento de RH é muito valorizado na organização onde atuam. Na amostra, em diferentes níveis, a soma 7 de 59,3% concordaram que a estratégia de Gestão de Pessoas se relaciona claramente à estratégia geral da organização, embora destes, 30,2% concordem apenas “parcialmente” com esta afirmação. • Há pressões da alta direção para que se avalie resultados de Gestão de Pessoas. Em muitas organizações (60%), há pressões da alta direção para que a avaliação de resultados ocorra. • É preciso melhorar o sistema de informações de RH. É uma possível dificuldade enfrentada pelos profissionais, já que em 56% da amostra não disponibiliza dados confiáveis e rápidos para tomada de decisões. Crenças dos profissionais Foi perguntado aos participantes “qual você acha que é a maior dificuldade para avaliar os resultados da Gestão de Pessoas?”. As respostas para esta questão foram as mais variadas, mas que podem ser agrupadas em 10 principais dificuldades, conforme mostra o Gráfico 1. Gráfico 1 Principais dificuldades para a Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas v3 1-Ferramentas 17 10,5% 2-Área de RH 23 14,2% 3-Apoio alta adm. 16 9,9% 4-Tempo Qual você acha que é a maior dificuldade 5-Subjetividade para avaliar os 6-Faltam indicadores resultados da Gestão de Pessoas? 7-Cultura 5 3,1% 47 29,0% 12 7,4% 17 10,5% 13 8,0% 9-Não responderam 9 5,6% 10-Estratégia da empresa 3 1,9% 8-Outros Não responderam 9 21 Outros 17 Cultura Faltam indicadores 12 Subjetividade Apoio alta adm. 23 Área de RH Ferramentas 47 16 17 Os resultados mostraram que: • A principal dificuldade de avaliação é a subjetividade dos resultados da Gestão de Pessoas. Conforme visto, 29% dos participantes apontaram esta dificuldade espontaneamente. E 63% concordam com a afirmação de que “os resultados das práticas de Gestão de Pessoas são muito subjetivos”. No entanto, 89% dos respondentes discordam da afirmação de que “é impossível mensurar os resultados dos investimentos em Gestão de Pessoas”, o que mostra que o mito da impossibilidade não se confirma. • É necessário reconfigurar a área de Gestão de Pessoas. A segunda dificuldade mais citada espontaneamente (14%) corresponde a despreparo da própria área de Recursos Humanos. Isso mostra uma capacidade de auto-crítica dos profissionais respondentes, que apontaram para “falta de comprometimento dos profissionais de RH”, ou mesmo “inexperiência”. Algumas frases dos respondentes são: • “Falta capacidade para a área de RH colocar aos executivos qual a devida importância e benefícios de uma Gestão de Pessoas bem coordenada” • “Falta de estrutura do departamento de RH para se dedicar a ações estratégicas” 8 • • “Acredita-se que não é possível avaliar os resultados da área por se tratar de ‘algo muito subjetivo’, além do despreparo dos profissionais da área para desenvolver políticas e práticas de avaliação” “Há problemas na formação dos profissionais de RH”´ • Há necessidade de desenvolver e difundir ferramental de avaliação. • A cultura dos profissionais deverá se adaptar à avaliação. Um dado que chama a atenção é o fato de que um terço da amostra concorda com a afirmação de que os profissionais de RH temem uma avaliação dos projetos que desenvolvem (Gráfico 2). Gráfico 2 Resistência à avaliação v15 Discordo totalmente 30 18,5% Discordo 35 21,6% Discordo parcialmente Total parcial Os profissionais de RH temem uma avaliação dos projetos que desenvolvem 36 22,2% 101 62,3% Concordo C oncordo parcialmente 34 21,0% Concordo parcialmente C oncordo 17 10,5% Discordo parcialmente 3 1,9% Discordo Total parcial 54 33,3% Discordo totalmente Desconheço 7 4,3% C oncordo totalmente 7 Desconheço Concordo totalmente 3 17 34 36 35 30 • A formação dos profissionais deverá se adaptar à avaliação. Mesmo nos casos em que se conhecem metodologias para a avaliação, as técnicas quantitativas são fontes de dificuldades para muitos profissionais. Os resultados mostraram que 62,3% dos participantes afirmaram sentir dificuldades para aplicá-las. Além disso, é preciso capacitar a área de RH, já que 50% dos respondentes afirmaram que a equipe de recursos humanos não é suficiente para conduzir um processo de avaliação. Quanto à especialização dos profissionais, o desconhecimento de metodologias é menos comum entre os profissionais de Administração (28% desconhecem), Direito, Engenharia e Contabilidade (11% desconhecem). Esses dados podem ser comparados com os 48% de psicólogos que desconhecem as metodologias de avaliação de resultados. • Há interesse e condições corporativas para realizar a avaliação. Uma possível dificuldade estudada por esta pesquisa foi a falta de interesse para a avaliação. Esta possibilidade não se comprovou, uma vez que apenas 15% da amostra afirmam não haver interesse em avaliar os resultados da Gestão de Pessoas. A estratégia da empresa foi considerara clara em 59,3% dos casos. Isso demonstra que, embora a prática da avaliação tenha se demonstrado pouco profunda em grande parte das organizações pesquisadas, existe a compreensão da estratégia da organização. Concepção de resultado Os respondentes foram questionados sobre quais os três principais resultados que acham que as práticas de GP devem trazer para a organização. Como a literatura havia enfatizado, o conceito do resultado que é esperado da Gestão de Pessoas não é um consenso entre os profissionais. Isso mostra que, por um lado, existem muitos resultados que podem ser fruto de uma Gestão de Pessoas bem elaborada. Por outro, os profissionais esperam resultados muito diferentes, o que deixa mais complexo o processo de avaliação. 9 Os resultados foram classificados de acordo com seu enfoque: (1) Impacto das funções de Gestão de Pessoas: são resultados diretos das funções de Gestão de Pessoas, como por exemplo, ter funcionários capacitados ao final de um treinamento. Esta classe de resultados se relaciona, na teoria, com o ferramental de avaliação da auditoria de RH e dos indicadores de resultados (Fitz-Enz, op.cit.; Kwasnicka, op.cit.). Nesta categoria, os mais citados foram: a. Desenvolvimento dos funcionários (44 citações); b. Comprometimento dos funcionários (26 citações) e c. Clima organizacional (19 citações). (2) Resultados do negócio: são resultados da organização como um todo, e que são fruto de um esforço conjunto de várias áreas da empresa. Assim sendo, a Gestão de Pessoas se relaciona indiretamente com estes resultados. Na teoria, correspondem ao ferramental de avaliação de indicadores de eficiência estratégica, como o Balanced Scorecard (Becker, Huselid e Ulrich, op.cit.). Nesta categoria, os mais citados foram: a. Resultados financeiros (37 citações) b. Produtividade (31 citações) c. Aumento da competitividade da empresa (22 citações) (3) Resultados com alto grau de intangibilidade: esta última classificação de resultado consiste em resultados que são bastante intangíveis, ou que dependem de fatores externos à Gestão de Pessoas. É o exemplo da “motivação dos funcionários”, o mais citado nesta categoria, e que, conforme aceito atualmente por vários teóricos do tema, é um fator intrínseco a cada funcionário – cabendo à empresa poucas alternativas para influenciá-lo (Bergamini, 1990). Nesta categoria, os mais citados foram: a. Motivação (23 citações) b. Realização pessoal (10 citações) c. Satisfação (9 citações) d. Felicidade (9 citações) Resultados das análises cruzadas e correlações de postos Uma relação entre a prática da avaliação (P) e as variáveis (C) Crenças, (PC) Papel Corporativo e (R) Concepção de resultado poderia ser esperada. Se isso ocorresse, significaria que as melhores práticas de avaliação se encontram entre os profissionais com crenças mais favoráveis, ou empresas onde o RH exerce um papel corporativo mais expressivo, ou ainda , quando os resultados esperados são mais mensuráveis. No entanto, a análise de tabelas cruzadas, bem como a correlação de postos, mostrou não haver relação significativa entre as variáveis em questão. Algumas tênues relações foram, no entanto, sugeridas. Nas empresas onde as práticas de avaliação são mais desenvolvidas: • Encontram-se 23% dos profissionais com as crenças mais favoráveis; • Há concepções de resultados das três categorias propostas (impacto das funções; resultados do negócio; resultados com alto grau de intangibilidade); • A estratégia da organização é clara (V9), com coeficiente de spearman=0,4 – o maior índice; • O departamento de RH é valorizado (V8), com coeficiente de spearman=0,36; • A atuação do profissional é estratégica (D9), com coeficiente de spearman=0,34 10 Análise do modelo conceitual da pesquisa Este trabalho foi fundamentado no modelo conceitual que considera o estado da arte da avaliação e os desafios para a avaliação como parte do sistema de Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas. Procurou-se, como uma contribuição adicional ao trabalho, tecer análises acerca das variáveis estudadas relacionando-as ao sistema de Avaliação de Resultados (Ilustração 1). Ilustração 1 Modelo conceitual da pesquisa I. RESULTADOS ESPERADOS DA GESTÃO DE PESSOAS • Desafio: Concepção de Resultado • Que resultados são esperados? É preciso minimizar a subjetividade II. AÇÕES DE GESTÃO DE PESSOAS Estratégias, políticas e práticas de Gestão de Pessoas na empresa • Melhores práticas • Alinhamento com os resultados esperados E E D B A C K DESAFIOS INTERVENIENTES • Crenças dos profissionais III. PRÁTICA DA AVALIAÇÃO DE RESULTADOS DA GESTÃO DE PESSOAS • Desafio da Prática da Avaliação: Escolha ou composição do método de avaliação mais adequado para cada situação • Contabilização – Auditoria – Indicadores – Scorecard – Avaliação financeira – Avaliação de intangíveis IV. OBSERVAR OS IMPACTOS DA GESTÃO DE PESSOAS • Resultados obtidos • Efeitos de gerir pessoas estrategicamente Fonte: elaborado pelos autores O modelo conceitual considera que o processo de Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas se estrutura em quatro etapas: (I) Definição dos resultados que são esperados (II) Ações de Gestão de Pessoas – estratégias, políticas e práticas organizadas geralmente pelo Departamento de Recursos Humanos nas empresas. (III) Prática da Avaliação dos Resultados da Gestão de Pessoas (IV) Observar os impactos da Gestão de Pessoas – analisar quais resultados se obteve, e a partir da daí rever os resultados que são esperados. A análise dos resultados deste trabalho, sintetizados em cada uma das etapas, mostra que: 11 • É preciso definir os resultados que se espera da Gestão de Pessoas. As expectativas dos profissionais com relação aos resultados de Gestão de Pessoas mostraram-se bastante amplas – vários resultados foram citados pelos profissionais. Estes resultados variam dos mais intangíveis – como a felicidade dos funcionários, ou sua motivação – aos mais ligados a aspectos do Negócio – como a produtividade ou resultados financeiros. Ocorre que, de acordo com o resultado esperado, varia o nível de dificuldade para a avaliação, bem como o ferramental mais indicado. No caso dos resultados ligados à eficiência das práticas de Gestão, avaliações mais simples já verificariam seus impactos. É o caso da qualificação dos funcionários, que pode ser avaliada e até mensurada após um programa de treinamento. Os resultados do Negócio são altamente mensuráveis – a dificuldade nestes casos está em analisar a contribuição da Gestão de Pessoas, que ocorre de maneira indireta. Para se aumentar a produtividade de uma organização, por exemplo, vários fatores são influentes e, dentre eles, estão as práticas de Gestão de Pessoas. Já os resultados que foram neste trabalho classificados como intangíveis ou subjetivos, estes são mais difíceis de serem mensurados. E não exatamente porque sejam subjetivos, mas principalmente porque existem muitas variáveis que os influenciam, e sobre as quais não se possui controle – como é o caso da motivação dos funcionários. • É preciso estabelecer uma cultura de avaliação. Os resultados mostraram que uma das principais dificuldades é a falta de cultura de avaliação nas organizações. Há pressões da Alta Direção para que isso ocorra. No entanto, é preciso que a Gestão de Pessoas seja enfatizada como estratégica na organização, para que ela possa cumprir seu papel. Outro aspecto importante é a resistência à avaliação. Este é um desafio comum quando se trata de avaliação, mas que precisa ser transposto. • É preciso estrutura para a avaliação. A prática da avaliação, por si só, já apresenta alguns aspectos que dificultam sua existência hoje nas organizações. Isso porque as empresas que decidem avaliar resultados de Gestão de Pessoas devem, primeiramente, lidar com suas próprias dificuldades operacionais. Dentre estas, podem-se citar a necessidade de um bom plano operacional, um sistema de informações que apresente dados confiáveis, a estrutura do departamento de Recursos Humanos, que deve possibilitar o investimento de tempo que a avaliação demanda. • É preciso formar os profissionais de Gestão de Pessoas. Muitos demonstraram não conhecer ferramentas de avaliação; outros têm dificuldades em aplicar técnicas quantitativas. Os resultados da pesquisa mostraram que é preciso disseminar o ferramental de avaliação existente entre os profissionais, para que estes possam adequá-los às suas necessidades. • É preciso adequar o ferramental de avaliação. A literatura mostra que existem várias ferramentas para esta finalidade. Mas cada uma delas mostra uma indicação de uso diferente. À medida que o ferramental for se difundindo, é preciso que se decida qual aspecto se quer avaliar. E a partir daí, escolha-se o ferramental adequado. Conclusões Um antigo provérbio chinês diz que “se não mudarmos de direção, provavelmente terminaremos onde começamos” (Barbosa, 1997). Este trabalho mostra que Recursos Humanos está, em muitas organizações, limitando sua atuação aos problemas cotidianos, sem atingir o potencial de contribuição para os resultados organizacionais mais ousados. A mudança para um papel mais estratégico passa pela Avaliação de Resultados de Gestão de 12 Pessoas. Compreendendo os desafios para a avaliação, espera-se que seja possível transpô-los com maior facilidade. Este foi o objetivo principal deste estudo: discorrer sobre o Estado da Arte da Avaliação dos Resultados de Gestão de Pessoas. A primeira etapa desta pesquisa ateve-se a compreender o histórico da Gestão de Pessoas e a busca por um ferramental de avaliação. Os resultados de um levantamento teórico mostraram que a busca pelo ferramental de avaliação remonta à década de 70, no Brasil. São, atualmente, mais de 30 anos de estudos que atuam sobre essa demanda. Na década de 70, no entanto, a finalidade dos estudos de “auditoria de RH” era de dar um enfoque profissional à área, exercendo a função de controle preconizada pela Administração Clássica (Ferreira, Reis e Pereira, 2002). Atualmente, o ferramental de Avaliação de Resultados evoluiu, buscando o alinhamento das ações de Gestão de Pessoas com os resultados da organização. Neste enfoque, tem sido bastante difundida a aplicação do Balanced Scorecard. O primeiro objetivo específico do trabalho foi o de levantar, na literatura, possíveis desafios para esta prática nas organizações. Com isso, esperava-se encontrar possíveis razões para que a Prática da Avaliação não fosse comum nas organizações, apesar de sua importância. As contribuições dos autores foram sintetizadas em quatro classificações, que mais tarde se tornaram os parâmetros da pesquisa de campo. O segundo objetivo específico foi o de analisar os desafios para a avaliação, previamente levantados pela literatura, nas empresas pesquisadas. Contou-se, para isto, com uma amostra bastante qualificada de profissionais que atuam em Gestão de Pessoas nas organizações. A análise dos resultados, adicionalmente, considerou a hipótese de que os fatores estudados – Papel Corporativo, Crenças dos Profissionais e Concepção de Resultado – poderiam estar relacionados à prática da avaliação de resultados nas organizações. Isso, contudo, não se confirmou. A análise de correlação de postos e as tabelas cruzadas mostraram que os fatores acima não têm uma relação forte com melhores ou piores Práticas da Avaliação. Embora os resultados dos testes de correlação não tenham sido estatisticamente significativos, algumas características distinguiram – tenuamente – as empresas que avaliam resultados de maneira mais profunda, ou seja, ligada à estratégia da organização. Estas características foram: Crenças favoráveis: não há uma relação forte entre crenças favoráveis à avaliação e nível de profundidade quando são avaliados todos os níveis de prática. Mas considerando-se apenas as empresas que estão nos melhores níveis de práticas, é mais comum encontrar-se crenças favoráveis. Gestão de Pessoas mais valorizada na organização: As tabelas cruzadas mostraram que é mais comum encontrar práticas profundas de avaliação, relacionadas com a estratégia, quando o Papel Corporativo da área de RH foi classificado como estratégico também. Profissionais que atuam de maneira estratégica: embora estes profissionais estejam em empresas que, muitas vezes, não avaliam a Gestão de Pessoas, entre as empresas que avaliam resultados de maneira profunda eles são a maioria. Clareza da estratégia da organização: uma das poucas correlações mais significativas da amostra foi entre a variável “clareza da estratégia” e a “Prática da Avaliação”, mostrando que, entre as empresas que avaliam mais profundamente resultados de Gestão de Pessoas, a estratégia da organização é mais clara. 13 Independe do porte: avaliar resultados de maneira mais profunda independe do porte da empresa, ao menos na amostra estudada. Das empresas que estão nos melhores níveis de prática, a maioria é de grande porte, mas podem-se encontrar empresas médias e pequenas. Uma das principais limitações deste estudo é que seus resultados devem ser tomados com ressalva, uma vez que a amostra da pesquisa de campo não é probabilística. Além disso, a população pesquisada foi escolhida intencionalmente. Dentre as empresas que participaram da pesquisa, conta-se, provavelmente, com uma amostra diferenciada, já que os profissionais pesquisados são também pesquisadores de Gestão de Pessoas, ou filiados a Associações de Recursos Humanos, que têm por finalidade estudar e difundir conhecimentos da área. Vistos com essas ressalvas, espera-se que os resultados tragam indícios sobre a questão da Avaliação de Resultados em Gestão de Pessoas. Ao final deste trabalho, conclui-se que a Avaliação de Resultados de Gestão de Pessoas já não enfrenta tanto o desafio da descoberta de metodologias. A contribuição dos autores sobre métodos de avaliação e a pesquisa de campo demonstram que, um dos grandes desafios dos profissionais de Recursos Humanos é redefinir seus conceitos e suas crenças. Um primeiro conceito que necessita de redefinição é o resultado que é esperado da Gestão de Pessoas. Quanto mais subjetivo, mais difícil de avaliar. Fatores subjetivos de grande importância, como o bem-estar geral dos funcionários, provavelmente serão traduzidos em indicadores objetivos. É preciso, assim, que se difunda a crença de que avaliar resultados é possível, além de investir em sua formação para aprender técnicas quantitativas, libertar-se do mito da subjetividade. É preciso redefinir os resultados que se espera da Gestão de Pessoas, conhecendo aqueles sobre os quais a área pode interferir, e escolhendo, dentre estes, os que trazem resultados para o Negócio e para as pessoas que nele estão envolvidas. Bibliografia ABTD – Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento. Site na Internet: www.abtd.com.br . Consultado em 19/02/2005. AHMED, S.. The emerging measure of effectiveness for human resource management: an exploratory study with performance appraisal. The Journal of Management Development, Bradford: 1999. BARBOSA, C. A. Pensamentos em Recursos Humanos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. BECKER, B. E.; HUSELID, M. A. ULRICH, D.. Gestão Estratégica de Pessoas com Scorecard: interligando pessoas, estratégia e performance. Rio de Janeiro: Campus, 2001. BERGAMINI, C. W. Motivação: mitos, crenças e mal-entendidos. Revista de Administração de Empresas, FGV, v. 30, n.2, abr/jun 1990a. BROWN, D. The measure of a function. Canadian HR Reporter, Toronto: nov 5th., 2001. CASTER, M. Survivor: How HR can survive and thrive in the organization. Organization Development Journal, Chesterland (USA): Summer, 2001. FERREIRA, A. A., REIS, A. C. F. e PEREIRA, M. I. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias: evolução e tendências da moderna administração de empresas. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. FISCHER, A. L. e ALBUQUERQUE, L. G. Tendências Que Orientam as Decisões dos Formadores de Opinião em Gestão de Pessoas no Brasil - RH 2010. Anais do ENANPAD 14 - Encontro Nacional dos Programas de Pós Graduação em Administração. São Paulo: 2001. FITZ-ENZ, J.. How to measure Human Resources management. New York: Mc Graw-Hill Inc, 1984. FITZ-ENZ, J.. Retorno do investimento em capital humano: medindo o valor econômico do desempenho dos funcionários. São Paulo: Mackron Books Ltda, 2001. GOODE, W. J. e HATT, P. K. Métodos em pesquisa social. São Paulo: Editora Nacional, 1969. KAPLAN, R. S. NORTON, D. P. The Balanced Scorecard. Boston, MA: Harvard Business School Press, 1996, p. 31 KWASNICKA, E. L. A avaliação das decisões estratégicas de Recursos Humanos: em busca de um modelo conceitual. Tese de Livre-Docência apresentada à Universidade de São Paulo. São Paulo: FEA/USP, 1987. KWASNICKA, E. L. O impacto da utilização de um sistema de contabilização de Recursos Humanos na organização. Tese de Doutorado apresentada à Universidade de São Paulo. São Paulo: FEA / USP, 1981. LEGGE, K. Silver bullet or spent round? Assessing the meaning of the ‘High Commitment Management’/ Performance relationship. In: STOREY, J. Human Resource Management: a critical text. London: Thomson Learning, 2000. MARCONI, M. A. e LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. São Paulo: 5ª ed., Atlas, 2002. NORUSIS, M. Guide to data analysis. New Jersey: Prentice Hall, 1998. SELLTIZ et alii. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: EPU, Editora da Universidade de São Paulo, 1974. SOLOMON, Charlene M. Putting HR on the scorecard. Costa mesa: Workforce, mar., 2000. SOUZA, A. F.; MORILHA, P. MARTELAC, R.. Contribuição das principais teorias financeiras de avaliação de ativos para a avaliação de programas de Gestão de Pessoas. Seminários em Administração de Empresas da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, Anais do SEMEAD. São Paulo: SEMEAD, 2003. STEVENSON, W. J. Estatística aplicada à administração. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1981. SUSSLAND, W. A. Management through measurement: creating business value through intangibles. Jornal of Business Strategy: November/December, 2001. WRIGHT, P. M; McMAHAN, G.; SNELL, S. A GERHART, B.. Comparing line and HR executives' perceptions of HR effectiveness: Services, roles, and contributions. 2001 -----------. Personael Management: Selected Readings. Harmondsworth: Penguin Books, 1971. -------------. Optmizing Human Resources: readings individual and organization development. Addison-Wesley, 1971. 15