Malformações congênitas no Rio de Janeiro Artigo de Pesquisa Original Research Artículo de Investigación PREVALÊNCIA DE MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL, ENTRE 2000 E 2006 PREVALENCE OF CONGENITAL MALFORMATIONS IN RIO DE JANEIRO, BRAZIL, BETWEEN 2000 AND 2006 PREVALENCIA DE MALFORMACIONES CONGÉNITAS EN RÍO DE JANEIRO, BRASIL, ENTRE 2000 Y 2006 Adriana Teixeira ReisI Rosângela da Silva SantosII Taiana Alves Ribeiro MendesIII RESUMO: Este estudo transversal descritivo objetivou apresentar um panorama da prevalência de malformações congênitas no município do Rio de Janeiro, no período de 2000 a 2006. Os dados foram coletados a partir da consulta à base eletrônica do DATASUS, entre julho e agosto de 2009. Foram notificados 665.419 nascidos vivos, sendo 5.798 portadores de malformações congênitas (8,7/100.000). Observou-se maior prevalência de malformações entre mulheres com idade inferior ou igual a 14 anos (11,0/100.000) e maior ou igual a 35 anos (10,4/100.000); idade gestacional menor ou igual a 36 semanas (23,9/100.000) e peso inferior a 2.500g (22,7/100.000); sexo masculino (9,5/100.000); raça indígena (11,4/100.000) e preta (10,9/100.000). As malformações do aparelho osteomuscular e articular foram predominantes: 2.312 39,8%). Os resultados mostraram prevalência de malformações superior à encontrada na literatura. Sugere-se a realização de novos estudos com vistas a esclarecer se ocorreu melhoria do sistema de notificação ou aumento dos casos. Palavras-chave Palavras-chave: Prevalência; enfermagem neonatal; enfermagem obstétrica; anormalidades congênitas. ABSTRACT ABSTRACT:: This cross-sectional descriptive study presents an overview of the prevalence of congenital malformations in Rio de Janeiro from 2000 to 2006. Data were collected from the national health electronic database, DATASUS, in July and August 2009. In all, 665,419 live births and 5798 congenital malformations (8.7/100,000) had been reported. A higher prevalence of malformations were found among women aged 14 years or less (11.0/100,000) and 35 years or more (10.4/100.000), live births with gestational age of 36 weeks or less (23.9/100.000) and weight less than 2,500 g (22.7/100,000), males (9.5/100,000), and indigenous (11.4/100.000) and black (10.9/100.000) individuals. Musculoskeletal and joint malformations predominated (2,312/ 39.8%). The results showed higher prevalence of malformations than found in the literature. Further studies are suggested in order to ascertain whether the notification system has improved or cases have increased. Keywords: Prevalence; neonatal nursing; obstetric nursing; congenital abnormalities RESUMEN: Este estudio descriptivo transversal tuvo como objetivo presentar una visión general de la prevalencia de malformaciones congénitas en Río de Janeiro – Brasil, entre los años 2000 y 2006. Los datos fueron obtenidos de la consulta a la base DATASUS electrónica entre julio y agosto de 2009. Se han notificado 665.419 nacidos vivos, siendo 5798 portadores de malformaciones congénitas (8,7/100.000). Se observó mayor prevalencia de malformaciones entre mujeres de edad igual o inferior a 14 años (11,0 / 100.000) y mayor o igual a 35 años (10,4/100.000); edad gestacional menor o igual a 36 semanas (23, 9/100.000) y peso inferior a 2.500 g (22,7 / 100.000); sexo masculino (9,5/100.000); raza indígena (11,4/100.000) y negra (10,9/100.000). Las malformaciones del aparato óseomuscular y articular fueron predominantes: (2.312/39,8%). Los resultados indicaron prevalencia de malformaciones superior al encontrado en la literatura. Se sugiere otros estudios para determinar si hubo una mejora en el sistema de notificación o un aumento de los casos. Palabras clave clave: Prevalencia; enfermería neonatal; enfermería obstétrica; anormalidades congénitas. INTRODUÇÃO Apesar da crescente sobrevida de recém-nasci- dos (RN), principalmente a partir da década de 1990 , a mortalidade neonatal brasileira ainda é considera1 da elevada2, comparada a indicadores internacionais. As malformações associam-se a altas taxas de mortalidade entre menores de 1 ano, podendo repre- Doutoranda pela Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Enfermeira do Instituto Fernandes Figueira – Fundação Oswaldo Cruz. Professora Assistente do Departamento Materno-Infantil da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected]. II Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Escola de Enfermagem Anna Nery – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora nível 1C do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Integrante do Núcleo de Pesquisa em Saúde da Mulher e Núcleo de Pesquisa em Saúde da Criança da Escola de Enfermagem Anna Nery. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected]. III Graduanda do 6o período do Curso de Graduação em Enfermagem e Obstetrícia da Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected]. I p.364 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janero, 2011 jul/set; 19(3):364-8. Recebido em: 28/01/2010 – Aprovado em: 28/08/2010 Reis AT, Santos RS, Mendes TAR Artigo de Pesquisa Original Research Artículo de Investigación sentar graves repercussões na vida da criança e de sua família. Graças aos avanços da medicina perinatal, a sobrevida de bebês portadores de malformações melhorou consideravelmente nos últimos anos3. Cerca de 2 a 5% de nascidos vivos, no mundo e no Brasil, apresentam algum tipo de malformação detectada ao nascimento, determinada total ou parcialmente por fatores genéticos4-6. Nos Estados Unidos, em 2002, mais da metade das mortes infantis no ano de 2002 foi atribuída a cinco principais causas, sendo as malformações congênitas responsáveis por 20% dos casos7. Em alguns estados brasileiros, chega a corresponder a 30% dos óbitos em menores de 1 ano, sendo a segunda maior causa de mortalidade nessa faixa etária. Na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, as malformações congênitas compõem a segunda causa de mortalidade infantil, perfazendo 15% da mortalidade em 2000 e 18% em 2003 entre menores de 1 ano8 e, apesar de estratégias preventivas, os índices de malformação têm aumentado espontaneamente6. Este estudo buscou apresentar um panorama da prevalência de malformações congênitas, no município do Rio de Janeiro, entre nascidos vivos nos anos de 2000 a 2006, segundo variáveis maternas e do RN. A realidade da malformação está presente e merece um olhar criterioso e multiprofissional, pois causam sofrimento e prejuízos à saúde da população4. Conhecer a epidemiologia dos casos de crianças portadoras de malformações e suas famílias é de suma importância para a enfermagem neonatal e obstétrica, pois constitui uma clientela com necessidades específicas de saúde. REFERENCIAL TEÓRICO Até o final do século XIX, o entendimento das causas de mortalidade neonatais ainda era bastante obscuro, sendo assim atribuído a causas inevitáveis. Graças ao avanço de novas práticas e intervenções, que tiveram seu ápice na segunda metade do século XX, pudemos observar um decréscimo das taxas de mortalidade neonatal9. No relatório Sobrevivência neonatal10 é evidenciado índice de mortalidade mundial alarmante: 38% em 2000. Estima-se que 4 milhões de bebês morrem ainda na primeira semana de vida. Quase todas as mortes (99%) ocorrem em países de baixo e médio rendimento. Em nível global, estima-se que as principais causas diretas de óbito neonatal sejam partos prematuros (27%), infecções severas (26%) e asfixia (23%). As causas congênitas correspondem a 7% da estatística, o que não deixa de ser menos relevante, pois também são causadoras de morbidades, quando não contribuem com os índices de mortalidade. As explicações sobre a ocorrência de malformações vieram se transformando ao longo dos séculos; entreRecebido em: 28/01/2010 – Aprovado em: 28/08/2010 tanto, certas crenças culturais ainda estão presentes, como: se uma gestante pendurar chaves no corpo durante a gravidez, pode gerar um filho com lábio leporino. As malformações são tratadas como um tipo de distúrbio congênito e, apesar de avanços da genética médica e molecular, sua etiologia ainda permanece parcialmente obscura. Podem ter origem genética (distúrbio em um único gene, aberrações cromossômicas), ambiental (exposição a teratógenos) ou multifatorial. Podem ser distúrbios esporádicos, de causa desconhecida7. O fato é que uma parte das causas que levam a esses distúrbios ainda permanece sem explicação. As malformações podem causar praticamente metade de todas as mortes em neonatos a termo e provocar sequelas múltiplas para muitos7. Podem ser neurais, cardíacas, intratorácicas, gastrointestinais, genitourinárias, esqueléticas e cromossômicas11. Algumas delas não são aparentes e requerem métodos de imagem para definição diagnóstica e conduta. Outras malformações são aparentes, como é o caso da gastrosquise, onfalocele, mielomeningocele, extrofia vesical, lábio leporino, podendo ser facilmente visualizadas. As malformações aparentes podem ser detectadas no período antenatal, a fim de ser feito um planejamento antecipado para o nascimento do bebê com oferecimento de suporte adequado e equipe multiprofissional experiente. Múltiplos defeitos podem estar associados com anomalias cromossômicas, por exemplo, uma obstrução duodenal associada à cardiopatia e Síndrome de Down11. Podem ser hereditários ou esporádicos, isolados ou múltiplos, aparentes ou ocultos, macroscópicos ou microscópicos7. A presença de uma malformação ao nascimento deve ser descrita no item 34 da Declaração de Nascido Vivo (DNV) brasileira, de acordo com a listagem que compõe o capítulo XVII – Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas da Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde – (CID-10)12. Estudos populacionais sobre malformações são raros no Brasil e são limitados a dados hospitalares que compõem o Estudo Colaborativo Latino-Americano de Malformações Congênitas/ Latin American Collaborative Study on Congenital Malformations (ECLAMC). METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal descritivo, realizado a partir de dados disponíveis on line pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Tal base de informação compila os dados informados pela emissão da DNV, formulário de preenchimento obrigatório institucional, para cada nascido vivo no município do Rio de Janeiro13. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 jul/set; 19(3):364-8. • p.365 Malformações congênitas no Rio de Janeiro A coleta dos dados eletrônicos foi realizada entre os meses de julho e agosto de 2009. As variáveis de interesse selecionadas para análise foram referentes ao tipo de malformação congênita (presença e aparelho ou sistema acometido), aos dados maternos (idade, escolaridade, estado civil, número de consultas pré-natais e tipo de parto) e aos do RN (maturidade, sexo, peso ao nascer e raça/cor). A partir da obtenção destes dados, calculou-se a prevalência total anual de defeitos congênitos para o período estudado, assim como as prevalências específicas segundo variáveis maternas, do RN e aparelhos ou sistemas acometidos, através da fórmula: Número de nascidos vivos malformados no período de 2000 -2006 x 100.000 Número de nascidos vivos no mesmo período O número de casos ignorados foi quantificado; entretanto, foram excluídos do estudo para efeito de cálculo. RESULTADOS E DISCUSSÃO No que tange a prevalência anual de malformações congênitas no período de 2000 a 2006, no Rio de Janeiro observa-se uma curva linear com tendência crescente. Os anos 2006 e 2004 apresentaram as maiores prevalências, correspondendo a 10,3/100.000 e 9,5/ 100.000 casos respectivamente, comparado aos demais anos: 2000 e 2002 (7,6/100.000 nascidos vivos), 2001 (8,3/100.000 nascidos vivos), 2003 (8,4/100.000 nascidos vivos) e 2005 (9,2/ 100.000 nascidos vivos), conforme mostra a Figura 1. Apesar de estratégias preventivas, os índices de malformação têm aumentado espontaneamente6. O preenchimento do campo 34 da DNV, que dispõe sobre a presença de malformações congênitas ao nascimento, interfere diretamente nesta estatística, podendo, o número total de casos de malformações, sofrer subnotificação. Fonte: DATASUS, julho-agosto 2009. FIGURA 1: Prevalência de malformações congênitas por 100.000 nascidos vivos no município do Rio de Janeiro, 2000-2006. p.366 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janero, 2011 jul/set; 19(3):364-8. Artigo de Pesquisa Original Research Artículo de Investigación Entre os anos de 2004 e 2006, por exemplo, houve um pico na taxa de prevalência (de 9,5 para 10,3/ 100.000), o que pode estar relacionado a uma melhor notificação do campo 34 e não a um aumento efetivo do número de casos. Assim, é válido ressaltar a importância do preenchimento correto e completo da DNV. As variáveis maternas Observa-se prevalência significativa de malfor-mações entre mulheres com idade inferior ou igual a 14 anos ( 11/100.000) e entre as com idade superior ou igual a 35 anos (10,4/100.000). O tipo de parto de maior prevalência foi o cesáreo, correspondendo a 10,3/100.000 casos. Os fatores geradores de risco podem ser agrupados em quatro grandes categorias: características individuais e condições sociodemográficas desfavoráveis, história reprodutiva anterior, doença obstétrica na gravidez atual e intercorrências clínicas, sendo a idade materna menor que 17 e maior que 35 anos, descrita no primeiro grupo14. Apesar de algumas malformações estarem relacionadas às mães jovens6, houve maior prevalência de casos entre aquelas com idade superior a 35 anos, o que coincide com o papel da mulher na sociedade atual: uma vez inserida no mercado de trabalho e em posse de métodos contraceptivos, a mulher adia o momento de gestar. Quanto à variável número de consultas pré-natal, foram encontrados 17,6/100.000 casos com uma a três consultas, seguidos de 10,7/100.000 entre quatro a seis consultas e uma relação preocupante de 8,3/ 100.000 gestantes sem nenhuma consulta. Quanto ao grau de instrução, chama a atenção a referência ao analfabetismo correspondendo a uma prevalência de 11/100.000, contra distribuições hegemônicas de prevalência entre os outros recortes. Houve maior prevalência de malformações entre as mulheres que realizaram de uma a três consultas pré-natais; número muito inferior ao preconizado pelo Ministério da Saúde, que recomenda um mínimo de sete consultas. O nível de instrução é um fator contribuinte para a garantia de um pré-natal de qualidade, além disso, o nível de educação das mesmas tem forte influência sobre a probabilidade de que seus filhos sobrevivam até os cinco anos de idade, que se desenvolvam e se alimentem adequadamente15. No que se refere ao estado civil, foi observada maior prevalência entre viúvas (10,9/100.000), seguida da união consensual (9,9/100.000) e solteiras (8,8/100.000), como expõe a Tabela 1. A baixa escolaridade e a situação conjugal instável são fatores de risco para a criança, sendo evidenciado no presente estudo maior taxa de prevalência entre analfabetas e aquelas ditas viúvas. Embora não se possa associar um diagnóstico de malformação a esses fatores, é importante ressaltar que muitas vezes a baixa escolaridade está diretamente relacionada ao perfil socioeconômico. Logo, devese considerar o impacto do nascimento de uma criança Recebido em: 28/01/2010 – Aprovado em: 28/08/2010 Reis AT, Santos RS, Mendes TAR Artigo de Pesquisa Original Research Artículo de Investigación TABELA 1: Prevalência de malformações congênitas conforme variáveis maternas no município do Rio de Janeiro, 2000-2006. Variáveis NVM Idade da mãe ≤ 14 anos 15-24 anos 25-34 anos ≥ 35 anos Ignorado Tipo de parto Cesáreo Vaginal Ignorado C onsultas onsultas// pré-natal Nenhuma 1a3 4a6 ≥7 Ignorado Instrução Nenhuma 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 11 anos ≥ 12 anos Ignorado Estado civil Solteira Casada Viúva Separada União consensual Ignorado Total (*) NV (**) PV (***) 64 2.624 2.259 838 13 5.814 299.704 278.362 80.303 1.236 11 8,7 8,1 10,4 - 3.330 2.446 22 320.780 341.899 2.740 10,3 7,1 - 224 773 1715 2812 274 26.923 43.899 158.979 416.850 18.762 8,3 17,6 10,7 6,7 - 57 321 1947 2306 956 211 5.169 34.886 205.598 246.616 154.936 18.214 11 9,2 9,4 9,3 6,1 - 3.331 1.646 24 57 576 164 375.346 209.400 2.184 7.330 57.711 13.448 8,8 7,8 10,9 7,3 9,9 - 5798 665.419 8,7 NVM=nascidos vivos malformados; (***) PV=prevalência (*) (**) NV= nascidos vivos; Fonte: DATASUS, julho-agosto 2009. malformada para uma família com menos recursos econômicos ou para uma mãe sem o apoio familiar do cônjuge, que muitas vezes provê a renda familiar. O RN não pode ser visto separadamente da mãe, ou melhor, de sua família. A falta de empoderamento da mulher, a não conscientização sobre as necessidades maternas e neonatais e a má qualidade dos serviços constituem barreiras que dificultam o acesso aos serviços de saúde16. O tipo de parto de maior prevalência foi o parto cesáreo, o que é motivo de preocupação, pois a prática indiscriminada de partos cesáreos não garante maiores benefícios ao RN, expondo-o a inúmeros riscos inerentes ao procedimento cirúrgico. epidemiológico. Apresentam maior prevalência as raças indígena (11,4/100.000) e preta (10,9/100.000), entre as demais, conforme apresentado na Tabela 2. A ausência de um diagnóstico antenatal inviabiliza o acompanhamento gestacional adequado, assim como o planejamento do parto em unidades com suporte assistencial, o que resulta em nascimentos de prematuros graves, longos períodos de internação e elevação das taxas de morbi-mortalidade. Ambos são achados pouco descritos na literatura, o que torna estudos direcionados para estes aspectos de suma importância. As malformações predominates foram aquelas relacionadas ao acometimento do sistema ósteo-muscular e articular (39,8%), seguido de outras malformações (22,8%); sistema nervoso central (13,8%); sistema geniturinário (11,5%); malformações crânio-faciais TABELA 2: Prevalência de malformações congênitas de acordo com variáveis do RN no município do Rio de Janeiro no período de 2000-2006. Variáveis Maturidade ≤ 36 semanas 37-41 semanas ≥ 42 semanas Ignorado Peso ao nascer < 2.500g > 2.500g Ignorado Sexo Masculino Feminino Ignorado Raça/cor Branca Preta Parda Amarela Indígena Ignorado Total NVM (*) NV (**) PV (***) 1.498 4.144 38 118 62.573 586.556 6.932 9.358 23,9 7 5,4 - 1626 4093 79 71.366 590.776 3.277 22,7 6,9 - 3.236 2.427 135 338.152 323.208 4.059 9,5 7,5 - 2.769 417 19 2.132 12 449 348.305 37.972 1.765 223.638 1.052 52.687 7,9 10,9 10,7 9,53 11,4 - 5798 665.419 8,7 NVM(*) = nascidos vivos malformados; NV(**) = nascidos vivos; PV(***) = prevalência Fonte: DATASUS, julho-agosto, 2009. Quanto à maturidade fetal, a maior prevalência evidenciada foi entre prematuros com idade gestacional menor ou igual a 36 semanas, correspondendo a 23,9/ 100.000 nascidos vivos, peso inferior a 2.500g (22,7/ 100.000) e entre sexo masculino (9,5/100.000). Em estudo anterior6, também foram ressaltadas as mesmas tendências, não tendo sido modificado, assim, o perfil (5,6%); sistema circulatório (3,1%) e sistema digestivo (3,0%). A predominância de malformações osteomusculares pode estar correlacionada à facilidade de diagnóstico e, consequentemente, ao diagnóstico precoce, antenatal e pós-natal imediato, pois se tratam de malformações macrossômicas, visíveis e facilmente detectáveis ao exame físico sumário. Estudo com 9.386 puérperas, internadas em maternidades do município do Rio de Janeiro, evidenciou uma prevalência de 1,7% de defeitos congênitos ao nascimento, sendo as malformações menores (polidactilia e pé torto congênito) mais frequentemen- Recebido em: 28/01/2010 – Aprovado em: 28/08/2010 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 jul/set; 19(3):364-8. As variáveis do RN • p.367 Malformações congênitas no Rio de Janeiro te encontradas e os defeitos do fechamento do tubo neural as principais anomalias maiores detectadas8 . Outras tipologias como malformações microssômicas e anomalias cromossômicas não aparentes requerem maior tecnologia diagnóstica e maior demanda de tempo, resultando em diagnóstico tardio e subnotificação dos casos. As malformações do sistema nervoso central, apesar de não serem as de maior prevalência, mas por suas consequências representam grande impacto epidemiológico e determinam, como política pública de saúde, o uso do ácido fólico durante o primeiro trimestre gestacional, a fim de minimizar a incidência de malformações do tubo neural. Assim, o preenchimento correto da DNV se faz novamente extremamente necessário, pois é o único meio de avaliar a efetividade da adoção desta estratégia 17. A categoria outras malformações congênitas, fornecida pelo DATASUS, é abrangente, impossibilitando a descrição das tipologias agregadas neste grupo, dificultando, assim, melhor categorização dos dados. CONCLUSÕES A malformação congênita segue uma tendência linear e crescente, o que implica uma mudança epidemiológica que reflete diretamente na assistência ao RN e suas famílias. Hoje, portadores de malformações consistem um novo perfil de clientela, com necessidades e demandas diversificadas e especiais de saúde. Ressalta-se a necessidade de serviços especializados que possam atender a estas demandas, assim como o aperfeiçoamento da equipe multiprofissional envolvida na assistência ao RN malformado e sua família. O preenchimento adequado da DNV, fonte primária dos estudos estatísticos, é passo importante na prevenção de subnotificações e no delineamento do perfil epidemiológico. Para tanto, os registros devem ser fidedignos e confiáveis, a fim de refletirem a realidade observada. É preciso estar atento para os avanços direcionados para a melhoria da saúde desta população no que se refere a métodos diagnósticos, acompanhamento pré-natal, aconselhamento genético e rastreamento. A realização de novos estudos sobre a temática, ainda escassos, é passo essencial para a elucidação de fatores causais mutáveis da malformação congênita. Novos resultados podem nortear ações estratégicas para o planejamento de uma assistência de maior qualidade à família, contemplando orientações que possam, inclusive, prevenir e rastrear a ocorrência de novos casos. REFERÊNCIAS 1.Lima EFA, Sousa AI, Caniçali Primo CC. Mortalidade neonatal em Serra, Espírito Santo, 2001-2005. Rev enferm UERJ. 2008; 16:162-7. p.368 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janero, 2011 jul/set; 19(3):364-8. Artigo de Pesquisa Original Research Artículo de Investigación 2.Araújo BBM, Rodrigues BMRD, Rodrigues EC. O diálogo entre a equipe de saúde e mães de bebês prematuros: uma análise freireana. Rev enferm UERJ. 2008; 16:180-6. 3.Ribeiro AM. Assistência ao recém-nascido com anomalias congênitas. In: Kopelman, BI, Santos AMN, Goulart AL, Almeida MFB, Miyoshi MH, Guinsburg R. Diagnóstico e tratamento em neonatologia. São Paulo: Atheneu; 2004. p. 45-55. 4.Horovitz DDG, Llerena Jr JC, Mattos RA. Atenção aos defeitos congênitos no Brasil: panorama atual. Cad Saúde Pública. 2005; 21:1055-64. 5.Horovitz DDG, Cardoso MHCA, Llerena Jr JC, Mattos RA. Atenção aos defeitos congênitos no Brasil: características do atendimento e propostas para a formulação de políticas públicas em genética clínica. Cad Saúde Pública. 2006; 22:2599-609. 6.Guerra FAR, Llerena Jr JC, Gama SGN, Cunha CB, Theme Filha MM. Defeitos congênitos no município do Rio de Janeiro, Brasil: uma avaliação através do SINASC: 20002004. Cad Saúde Pública. 2008; 24:140-9. 7.Ricci SS. Enfermagem materno-neonatal e saúde da mulher. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 8.Costa CMS, Gama SGN, Leal MC. Congenital malformations in Rio de Janeiro, Brazil: prevalence and associated factors. Cad Saúde Pública. 2006; 22:2423-31. 9.Gomes MAM. Organização da assistência perinatal no Brasil. In: Moreira MEL. O recém-nascido de alto risco: teoria e prática do cuidar. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2004; p. 21-48. 10.Organização Mundial de Saúde. Sobrevivência neonatal, 2006. [citado em 20 nov 2007]. Disponível em: http:// w w w. w h o . i n t / c h i l d - a d o l e s c e n t h e a _ l t h / N e w _ Publications/NEONATAL/The_Lancet/Neona tal_SS_pr.pdf. 11.Boxwell G. Neonatal intensive care nursing. London (UK): Taylor & Francis Group; 2006. 12.Organização Mundial de Saúde. Classificação estatística internacional para doenças e problemas relacionados à saúde (CID-10). São Paulo: Centro colaborador da OMS para a Classificação das doenças em português. Décima revisão. Versão 2008. [citado em 13 abr 2009]. Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/web help/ cid10.htm. 13.Departamento de Informática do SUS (DATASUS). [citado em jul-ago 2009]. Disponível em: http://w3.da tasus.gov.br/datasus/index.php. 14.Ministério da Saúde (Br). Gestação de alto risco. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2000. 15.United Nations Children’s Fund (UNICEF). Situação Mundial da Infância. Edição especial.2009. [citado em 20 set 2009]. Disponível em http://www.unicef.pt/ 18/ sowc_20anos cdc.pdf 16.Organização Pan-Americana da Saúde/ Organização Mundial da Saúde. Saúde neonatal no contexto da saúde materna, neonatal e da criança para o cumprimento das metas de desenvolvimento do milênio da declaração do milênio das Nações Unidas. Washington (DC) - 25-29 set 2006. [citado em 10 ago 2009]. Disponível em: http:// www.paho.org/spanish/ad/fch/ca/consejo.port.pdf. 17.Ministério da Saúde (Br). Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2000. Recebido em: 28/01/2010 – Aprovado em: 28/08/2010