VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X A IMPORTÂNCIA DAS FAMÍLIAS COMO REDE DE APOIO NO TRABALHO COM CRIANÇAS PRECOCES: IMPACTOS DE INTERVENÇÃO Elaine Cristina Batista Borges de OLIVEIRA1 - UNESP – Marília/SP Fabiana Oliveira KOGA2 - UNESP – Marília/SP Miguel Claudio Moriel CHACON3 - UNESP – Marília/SP CAPES INTRODUÇÃO O desenvolvimento de crianças saudáveis e harmoniosa em seus aspectos biológicos, psicológicos e sociais é uma meta importante e aspiração de qualquer sociedade. Porém, a desestrutura familiar, social, a desinformação, a violência e tantos outros fenômenos com impactos negativos torna o desenvolvimento infantil vulnerável mesmo diante de diversos instrumentos legais e sociais criados para sua proteção. No caso das crianças com características de precocidade ou com suspeita de altas habilidades/superdotação4, há uma série de fatores e especificidades que podem influenciar negativamente ou positivamente essa criança em seu desenvolvimento cognitivo e biopsicossocial, nesse caso, importa que evitemos os aspectos negativos em detrimento dos aspectos positivos. Considerando que importa que toda criança desenvolva uma vida mais produtiva, harmônica e satisfatória. Para isso, é imprescindível ter a família como rede de apoio sendo orientada para observar, cuidar e direcionar os passos dessas crianças. Segundo Germani e Stobaus, (2006, p. 128) as tendências atuais, após o surgimento de resultados de pesquisas, que consideraram mais eficazes as intervenções centradas na família do que aquelas centradas apenas na criança vem ampliando os atendimentos compartilhando momentos entre as crianças e as famílias. Partindo do pressuposto que a criança vive, convive e se desenvolve em constante interação com o meio ambiente familiar ou escolar, supõe-se que há uma constante influência destes em seu desenvolvimento biopsicossocial e cognitivo. Por isso, a importância de valorizar a presença familiar nos trabalhos de atenção às crianças com necessidades educativas especiais, nesse caso, das crianças precoces ou com suspeita de superdotação. O psicanalista Winnicott, afirma que os vínculos familiares tornam o ambiente facilitador do crescimento e desenvolvimento infantil. (GERMANI e STOBAUS 2006, p. 128). É notável a necessidade dos pais e/ou responsáveis por crianças precoces ou com suspeita de superdotação de demonstrar ansiedade, preocupação e angústias para saber como agir no 1 Mestranda em Educação na linha de pesquisa: Educação Especial no Brasil, pelo Programa de Pós-graduação da UNESP/Marília. [email protected]. 2 Mestranda em Educação na linha de pesquisa: Educação Especial no Brasil, pelo Programa de Pós-graduação da UNESP/Marília. [email protected]. 3 Docente do Departamento de Educação Especial do Programa de Pós-graduação em Educação da UNESP/Marília. [email protected]. 4 A terminologia empregada será Altas Habilidades/Superdotação, com base no conceito empregado pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008). 2875 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X cotidiano vivido com essas crianças, realidade que é agravada pela falta de informação e assessorias que os auxiliem e os orientem. Na intervenção centrada na família, é imprescindível que, desde os primeiros encontros, haja tempo para que as famílias explanem suas preocupações e expectativas. Só assim pode-se tanto quanto possível, adequar às orientações ao que as famílias desejam ou consideram importante. Neste sentido, o Programa de Atenção ao Aluno Precoce com Indicativos de Altas Habilidades/Superdotação - PAPAHS que é um Projeto de Extensão da Faculdade de Filosofia e Ciências - FFC, que atualmente funciona no Centro de Estudos da Educação e da Saúde - CEES, na Universidade Estadual Paulista - UNESP/Marília, tem se colocado como um local de oportunidade para auxiliar pais e/ou responsáveis por crianças identificadas como precoces ou com indicativos de altas habilidades/superdotação. O PAPAHS tem como objetivo trabalhar junto ao meio educacional na identificação, avaliação diagnóstica de alunos; oferecimento de atenção educacional especializada; capacitação de professores; e no meio familiar oferecer orientação e enriquecimento com a temática focada na precocidade e nas altas habilidades/superdotação. Partindo das questões relacionadas à variedade de temas e dúvidas surgidas durante o momento em que os alunos recebiam atenção especializada, elencaremos os principais temas sugeridos pelos pais e/ou responsáveis para serem discutidos nas orientações que recebiam durante os atendimentos das crianças no PAPAHS. Sobre a terminologia e as características de altas habilidades/superdotação As variações quanto às terminologias que se relacionam com o conceito de altas habilidades/superdotação são os mesmo utilizados como adjetivos de termos utilizados para denominar pessoas que apresentam inteligência acima da média - superdotados, gênios, mais capazes, muito capazes, bem dotados, dotados, talentosos entre outros, porém podem ter significados diferentes para designar algumas especificidades quando relacionadas a níveis de inteligência. Enquanto alguns pesquisadores utilizam os termos talento e superdotação como sinônimos, outros estudiosos estabelecem diferenças entre eles, isso é problemático e dificulta muitas vezes as discussões neste aspecto. A preferência no Brasil segundo a legislação brasileira utiliza simultaneamente o termo altas habilidades/superdotação, e significa uma característica de desempenho superior. No presente texto, o termo Altas Habilidades/Superdotação será, em algumas ocasiões, substituído pela sigla AH/SD. Segundo Silva e Fleith (2008), esse conceito vem se ampliando e passou a designar as habilidades em diversos domínios: No Brasil, nas diretrizes básicas estabelecidas pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e Desporto, é adotada a seguinte definição: São consideradas crianças portadoras de alta habilidade as que apresentam notável em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: (a) capacidade intelectual; (b) aptidão acadêmica ou específica; (c) pensamento criador ou produtivo; (d) capacidade de liderança; (e) talento especial para artes visuais, artes dramáticas e música; (f) capacidade psicomotora. (Brasil, 1995, p. 11). 2876 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X Em 2003, o Conselho Brasileiro para Superdotação-ConBrasSD, em meio às discussões sobre a terminologia visando contemplar a maioria significativa dos pesquisadores para identificar essas pessoas, concluíram que o termo adequado seria Altas Habilidades/Superdotação – AH/SD. Termo também utilizado nos documentos oficiais do Ministério da Educação e Cultura – MEC e que será adotado ao longo deste trabalho. Sobre a legislação Constatam-se avanços na legislação brasileira de atendimento e apoio educacional as necessidades educativas aos alunos com altas habilidades/superdotação no Brasil, porém ainda é incipiente quando se observa o caso de profissionais para trabalhar com esses alunos, aumentando os desafios no sentido de auxiliar e orientar pais e/ou responsáveis destas crianças em questões relacionadas com informações para educação de crianças diagnosticadas com indicativos de altas habilidades/superdotação. A atual LDB 12.796/13 especifica o atendimento aos superdotados no art.4º, III, como a seguir: “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação [...] preferencialmente na rede regular de ensino”. Outro importante documento denominado Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, informa no item II, que a implantação dos Núcleos de Atividades de Altas habilidades - NAAH/S em todos os estado e no Distrito Federal em 2005 era uma das formas de garantir o atendimento aos alunos com AH/SD no Brasil, além disso, no item IV, indica como que o documento objetiva a promoção do acesso à aprendizagem e do desenvolvimento pedagógico desses alunos, abordando a garantia do direito a aprendizagem através da transversalidade, com professores especializados e com a participação da família e da comunidade (BRASIL, 2008). Sobre as características das altas habilidades /superdotação Proporcionar a estes alunos diagnosticados com AH/SD, a atenção adequada é necessário primeiro identificá-los e isso também é dos principais desafios. Para isso os três anéis de Renzulli indicam que pessoas que apresentam ao mesmo tempo, alto nível de criatividade, elevado envolvimento com a tarefa e habilidade acima da média são pessoas superdotadas. Para Renzulli, é a interligação destes três traços que a define, portanto, a presença isolada de um desses traços não é suficiente para definir a superdotação, pois a interação entre eles que representa de fato a caracterização completa do sinal de AH/SD. Contudo, Freitas e Pérez (2010) alertam que, a habilidade acima da média deve ser identificada tendo como parâmetro o contexto no qual a criança se insere e por isso são muitas variáveis que envolvem esse processo de identificação, não sendo um trabalho simples nem para os pais nem para os professores. Virgolim (2007) confirma essa complexidade ao afirmar as diversas variáveis que envolvem as características de pessoas com AH/SD. As pessoas com altas habilidades formam um grupo heterogêneo, com características diferentes e habilidades diversificadas; diferem uns dos outros também por seus interesses, estilos de aprendizagem, níveis de motivação e de 2877 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X autoconceito, características de personalidade e principalmente por suas necessidades educacionais. Entendemos que é tarefa dos educadores, sejam eles professores ou pais, compreender a superdotação em seus aspectos mais básicos e assim se tornarem agentes na promoção do desenvolvimento dos potenciais, de forma a poder atender as necessidades especiais desta população. (VIRGOLIM, 2007, p. 11). Sendo assim, é preciso aprimorar a compreensão como professores, pais ou amigos para identificar as crianças com AH/SD, pois são indivíduos com necessidade de atenção, incentivo, estímulo e ambientes adequados para seu desenvolvimento potencial. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), conceitua as altas habilidades/superdotação como: Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. (BRASIL, 2008, p. 15). Conhecer e informar os pais e/ou responsáveis sobre as características que podem identificar essas crianças é mais uma das formas de dividir a responsabilidade com a família para confirmar o sinal de AH/SD no sujeito e buscar auxilio para atender a essas necessidades com eficiência e qualidade. Uma das formas de encontradas por Galbraith e Delisle (1996) para identificar talentos e altas habilidades em sala de aula é através da lista de comportamentos a seguir: 01 Aprende fácil e rapidamente; 02 Original, imaginativo, criativo, nãoconvencional; 03 Amplamente informado; informado em áreas não comuns; 04 Pensa de forma incomum para resolver problemas; 05 Persistente, independente, auto-direcionado (faz coisa sem que seja mandado); 06 Persuasivo, capaz de influenciar os outros; 07 Mostra senso comum; pode não tolerar tolices; 08 Inquisitivo, cético, curioso sobre o como e porque das coisas ; 09 Adapta-se a uma variedade de situações e novos ambientes; 10 Esperto ao fazer coisas com materiais comuns; 11 Habilidades nas artes (música, dança, desenho etc.); 12 Entende a importância da natureza (tempo, lua, sol, estrelas, solo, etc.);13 Vocabulário excepcional, verbalmente fluente; 14 Aprende facilmente novas línguas; 15 Trabalhador independente, mostra iniciativa; 16 Bom julgamento, lógico; 17 Flexível, aberto; 18 Versátil, muitos interesses, interesses além da idade cronológica; 19 Mostra insights e percepções incomuns; 20 Demonstra alto nível de sensibilidade, empatia com relação aos outros; 21 Apresenta excelente senso de humor; 22 Resiste à rotina e repetição; 23 Expressa idéias e reações, freqüentemente de forma argumentativa; 24 Sensível à verdade e à honra. (VIRGOLIM, 2007, p. 44) Segundo as autoras o aluno não precisa exibir todas as características. Contudo, caso seja observado consistentemente vários destes comportamentos, a possibilidades de confirmar os indicativos de AH/SD são fortes. A característica da precocidade como sinal de superdotação 2878 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X Ao referir-se às diferentes nuançes do fenômeno das altas habilidades, o ConsBraSD conceitua a precocidade como “[...] a criança que apresenta alguma habilidade específica prematuramente desenvolvida em qualquer área do conhecimento, seja na música, na matemática, na linguagem ou na leitura”. (CUPERTINO, 2008, p. 22). A precocidade pode ser um dos indicativos apontados como sinal de AH/SD, porém deve ser considerada com relatividade, pois depende de fatores ambientais internos e externos e além disso, pode englobar características de algo inato ou treinado, por isso, não é suficiente para definir que o indivíduo precoce seja uma criança com AH/SD. Mesmo apontado por Winner (1998) que a precocidade também é umas das características que toda criança superdotada possui, ela alega que é mais facilmente observada nas áreas acadêmicas (WINNER, 1998, p. 29). Gama (2006), já alega que a precocidade é apenas uma das características da criança AH/SD, ou seja, é necessário observar outros fatores para confirma-la. Em todo caso, a confirmação de sinais de precocidade, já que os mesmo ocorrem em idades iniciais do desenvolvimento humano, são alvo de observações de quem convive mais tempo com a criança nessa fase, no caso a família ou a escola que poderiam confirmar a época de aparecimento desses traços. MÉTODO Participantes A pesquisa se desenvolveu junto a 15 pais e/ou responsáveis cujos filhos frequentam o programa PAPAHS, oficializado em 2011 na Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), UNESP, Campus de Marília, sediado no Centro de Estudos da Educação e da Saúde (CEES). Neste programa, a proposta é de que, os pais e/ou responsáveis possam participar do processo de enriquecimento, no instante, em que seus filhos também estivessem em atendimento. Portanto, desde o início as famílias tem a oportunidade de participar deste processo podendo sanar dúvidas e aliviar angústias com relação à orientação de seus filhos precoces. As famílias do programa PAPAHS participam das mesmas atividades que seus filhos, nas mais diversas áreas do conhecimento como: informática, música, sudoko, origami, desenho, inglês, discussão de textos referentes à precocidade e altas habilidades/superdotação, entre outros. Além de contarem com o apoio profissional de uma equipe multidisciplinar do programa e do CEES. Processo de coleta de dados Por meio de um questionário semi-estruturado, constituído de perguntas abertas e composto por 11 questões, buscou-se observar o olhar dos pais e/ou responsáveis para os indicativos precoces de seus filhos. E assim, obter informações da perspectiva que eles tinham das manifestações dos indicadores precoces, no convívio diário com a criança. Antecedendo a coleta desta pesquisa, procurou-se garantir todos os cuidados éticos e metodológicos necessários, através do preenchimento do termo de consentimento livre e esclarecido, para que, todos os pais e/ou responsável pudessem se resguardar e decidir sua participação no presente estudo. 2879 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X Antes da aplicação o questionário foi submetido à avaliação e julgamento de juízes pertencentes ao grupo de estudos da linha de Educação Especial com ênfase no estudo das altas habilidades/superdotação, e também foi avaliado por juízes da disciplina ofertada pelo programa de pós-graduação “Coleta de Dados por Meio de Diálogos e Entrevistas”. A aplicação do questionário junto aos pais e /ou responsáveis foi realizada em uma sala do CEES, durante o momento em que as crianças recebem atendimento. Vale lembrar que, o dia foi previamente agendado, para que, todos pudessem comparecer de acordo com suas possibilidades. A duração média para o preenchimento do questionário foi em torno de uma hora e meia. RESULTADOS Inicialmente, percebeu-se que alguns pais e/ou responsáveis folhearam o questionário para observá-lo e outros leram todas as perguntas para analisar o conteúdo por elas apresentado. Em geral, o que foi perguntado esteve em torno de coisas que a criança gostava de fazer, interesses manifestos, habilidades, diferentes formas de pensar, entre outros, como a seguir: Na questão Quais são os passatempos preferidos de seu/sua filho(a)? De um modo geral todos os participantes fizeram observações bastante semelhantes. No entanto, houve convergência entre a maioria dos participantes, oito disseram que o passatempo preferido de seus filhos foram jogos, uso do computador, brincar com outras crianças, assistir televisão, e jogos no vídeo games e no tablet. Contudo, alguns participantes acrescentaram alguns itens diferentes como: três participantes mencionaram a dança, um participante mencionou o canto, um citou experiências químicas e atividades com dobradura, produção artesanal e outro desenho de mangá. Passando para a questão Relate de maneira clara quais foram os interesses manifestados por seu/sua filho(a) recentemente. As respostas foram as mais variadas com algumas correlações em determinados itens. Seis participantes indicaram que a criança manifestou interesse recente por livros, biblioteca, pesquisa na internet, interesse por atividades ligadas a informática e jogos, um participante por assuntos voltados para a cultura japonesa e ética, um interessado pelo ballet, outro interessado por trabalhos manuais, um interessado por números, letras, frases, skate, recortes e higiene pessoal. Ainda, um participante manifestou interesse por teatro, dois interessados em escrever um livro, sendo que um desses dois ainda possui interesse por tocar guitarra e aprender inglês. Também, outro participante interessado por histórias, esporte, TV (assuntos bem seletivos como, por exemplo, culinária) e ainda experiência com pó de giz para produzir tinta. Um dos participantes apresentou uma resposta inadequada que não respondeu ao objetivo da pergunta. Na questão Você identifica alguma(s) habilidade(s) em seu filho? Qual/Quais? Como ela(s) é/são observadas? As respostas foram: seis participantes alegaram que a criança possui habilidades acadêmicas, quatro participantes habilidades acadêmicas e artísticas, três participantes com habilidades comportamentais, um com habilidade criativa e outro participante com habilidade artística. Na questão Em sua opinião, que atividades a criança realiza quando está sozinha? Como se comporta nessas ocasiões? Três participantes disseram que a criança realiza atividades de produção de leitura e desenho, seis participantes realizam tarefas ligadas a eventos 2880 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X domésticos, como, fazer sua própria refeição independentemente e tarefas escolares. Ainda, dois participantes realizam a atividade de brincar, três participantes realizam atividades artísticas, sendo que um ainda se interessa por jogos quando está sozinho. No entanto, um dos participantes enfatizou a disciplina como um comportamento que a criança manifesta na atividade individual. Na questão A criança demonstra formas diferentes de pensar e resolver problemas? Oito participantes disseram que se sentem impressionados com a maneira, na qual as crianças demonstram suas formas de pensar. E ainda destacam a facilidade delas durante o pensar e resolver problemas. No entanto, três participantes destacaram o pensamento questionador de seus filhos, um identificou essa habilidade, mas não destacou nenhuma outra informação, dois participantes que não foram muito claros na exposição da resposta e um participante que disse: “Ela estuda para as provas cantando. Porque ela diz que guarda melhor as informações quando está cantando”. Já na questão A criança demonstra grande concentração durante a realização de alguma atividade? Qual?Sete participantes disseram que a concentração da criança é global, dois disseram que a concentração se manifesta em questões artísticas e escolares, três quando a criança está jogando e três em atividades acadêmicas. Na questão Você considera que seu/sua filho(a) desenvolve tarefas com rapidez, lentidão ou dentro da média do tempo esperado? Seis participantes disseram que a criança desenvolve suas tarefas as vezes rápido e as vezes lento, sete reconhecem que os filhos realizam as tarefas com rapidez, um que as tarefas são realizadas de acordo com o tempo esperado e um reconheceu que a rapidez com a qual a criança realiza suas atividades, acaba não favorecendo para que a produção seja bem realizada. Disse um dos participantes: “Rápido...as vezes até mal feito por não ter paciência. Mas costuma terminar o que começou”. Na questão Como foram os anos escolares da criança? O que vocês consideram importante relatar? Três participantes relataram que a criança foi bem, até determinado ponto, e depois decaiu em seu rendimento, cinco disseram que as crianças sempre foram bem e com grande destaque acadêmico, um participante apontou que, desde os primeiros anos escolares, a criança foi identificada por sua habilidade artística, três participantes disseram que seus filhos possuem bons anos escolares, no entanto, certa vez manifestaram o desejo de não irem à escola por ela ser desinteressante, um participante apontou que o filho sempre teve um bom desempenho, mas nunca estudou para provas ou trabalhos, mas sempre conseguiu grandes notas, outro participante destacou a habilidade do filho para as questões acadêmicas, mas com muita dificuldade motora e um participante que não soube responder a questão. Na questão O que, na opinião de vocês, é importante oferecer para seu/sua filho(a) para que cresça bem? Onze pais e/ou responsáveis responderam que é importante oferecer boa alimentação, afetividade, boa escolarização e oportunidades, três participantes enfatizam a questão disciplinar e limites para as questões comportamentais e um participante respondeu que é importante que a criança decida por si mesma, conforme o relato: “Deixar ele bem à vontade nas decisões dele, nunca forçar a fazer nada que ele não queira...”. E na questão O seu/sua filho(a) possui algum problema ou necessidade especial que você considera pertinente mencionar? Sete participantes mencionaram que seus filhos não possuem nenhum problema relevante, um participante disse que o filho possui dificuldades por conta do nascimento precoce que lhe causou falta de oxigênio no cérebro, um outro 2881 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X mencionou que o filho possui intolerância a lactose e que só aprendeu a falar com dois anos de idade, um participante que alegou que o filho é profundamente emotivo, um participante que diz que a criança fica estressada ao ter que realizar alguma tarefa, um que diz precisar de ajuda para poder ensinar o filho a lidar com frustrações e outro participante que disse precisar de um psicólogo para seu filho, para que ele, possa ter melhor qualidade de vida. A última questão consistia em um momento, o qual estava destinado aos pais e/ou responsáveis, para que eles pudessem dizer e/ou expressar, livremente mais algum dado extra que não foi perguntado até então. Sendo assim, oito participantes não tiveram nada a declarar, cinco participantes solicitaram ajuda para questões relacionadas ao comportamento da criança, um participante mencionou não perceber a precocidade em seu filho, assim, constatando que ele pode estar de acordo com a normalidade e outro participante que alegou ser importante a participação deles no grupo de enriquecimento das famílias. DISCUSSÃO Quando nascem crianças com más-formações e deficiências físicas explicitadas por sintomas ou síndromes muito conhecidas, imediatamente a condição de criança com necessidades especiais pode ser identificada, diagnosticada e, suas famílias, orientadas para o atendimento mais adequado. Contudo, o nascimento de crianças que virão a ser identificadas por suas altas habilidades/superdotação não traz evidências imediatas ou pistas prenunciadas [...]. (DELOU, 2007. p. 51). Ao analisar as resposta das onze questões, pode-se perceber alguns dos efeitos do processo de intervenção. Isso pelo fato de que as famílias nunca tinham ouvido falar sobre precocidade, altas habilidades/superdotação e, muito menos como tais indicadores apareciam por meio de produções, comportamentos e atitudes demonstrados e apresentados pela própria criança. Para identificar tal mudança no comportamento observacional das famílias, basta observar a fala de um dos participantes que disse “...para mim, ele é uma criança normal”. Na verdade, ele não conseguia entender porque a sua criança havia sido escolhida para um programa no qual era destinado para crianças precoces ou “especiais”. Ele alegou muitas vezes que acha que o irmão da criança era mais capaz do que a própria criança, sendo que o filho havia passado por uma avaliação minuciosa por parte da equipe multidisciplinar, que não deixava a menor dúvida de sua participação no programa. Após o processo de enriquecimento para os familiares, o participante, anteriormente citado, passou a identificar os elementos precoces de seu filho. Afinal, ao que parece, pela resposta dada ao questionário, é que a criança possui uma tendência artística, e como se sabe, crianças com habilidades artísticas não são destaques em habilidades acadêmicas algumas vezes. “... Portanto, um dom singular forte pode passar despercebido se tudo que procurarmos é um QI geral” (WINNER, 1998, pag.85). E não é só neste caso anterior, que o descrédito acontece, há outro caso, no qual, a criança possui uma forte habilidade para o desenho e informática e sua família também, por questões de desempenho acadêmico, não acreditavam na precocidade de seu filho. Eles tinham em suas concepções a ideia de que a criança precoce é aquela que estuda com afinco para as provas, sentada em uma mesa por horas com o seu caderno completo e cujo comportamento é motivo de orgulho devido ao seu equilíbrio emocional. Fato esse oposto ao que a criança apresentava, ela era uma criança que estudava de véspera, em frente à televisão ou andando pela casa e às 2882 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X vezes realizava três operações simultâneas fora o estudar para a prova. Relato esse feito pela própria mãe em uma das discussões dos textos referentes a altas habilidades/superdotação e precocidade, experiência, na qual, não somente ela, bem como todos os pais puderam refletir um pouco com relação a sua criança e perceberam que antes de generalizar ou assumir qualquer posição com relação à precocidade da criança, é preciso conhecer bem quais são os indicadores. ... O fenômeno das altas habilidades/superdotação produz um impacto nos papéis exercidos pelos pais e pela criança no contexto familiar, demandando mudanças nas interações entre pais e filhos. [...] Entretanto, os pais, geralmente, têm poucas informações acerca das características e necessidades de seu filho com altas habilidades. [...] Neste sentido, pais de crianças e jovens com altas habilidades /superdotação podem se sentir isolados e sem apoio. (FLEITH, 2007, p. 09). Não há dúvida, basta observar os resultados para perceber que muitas das características das crianças citadas pelos participantes, possuem características precoces bem significativas. Haja vista, que muitas famílias colocaram questões comportamentais como “teimosia”, o não querer ir à escola porque é desinteressante, as questões suscitadas referente às artes, compromisso em realizar as atividades individuais de estudo, enfim, todos esses já mencionados que a literatura nomeia como indicativos precoces. Inclusive Winner (1998) confirma tais comportamentos em relação à escola: Frequentemente, estas crianças percebem que sabem mais que os professores e os professores frequentemente sentem que estas crianças são teimosas, arrogantes, desatentas ou desmotivadas [...] a maioria ia mal na escola não por carecer de habilidade mas porque consideravam a escola não desafiadora e consequentemente perderam o interesse. (WINNER, 1998, p. 195). Inicialmente percebemos que os pais, ainda que timidamente, tem conseguido identificar algumas preferências de seus filhos. Como eles mesmos disseram, houve uma mudança no trato com as crianças. Foram modificados hábitos do cotidiano para proporcionar uma melhor qualidade de vida e desenvolvimento. Como citado anteriormente houve adequações em relação à alimentação mais saudável, atenção, respeito mútuo, amor, qualidade educacional, liberdade de expressão, entre outros fatores. Mas, talvez a grande dificuldade encontrada por alguns pais e/ou responsáveis é o estabelecimento de regras e limites e a dificuldade de não supervalorização da criança precoce. “Não só a família afeta a criança e o desenvolvimento de sua potencialidade, como a criança afeta a organização da família, mas nem um nem o outro é o responsável pelo surgimento e desenvolvimento de tais talentos” (Dessen, 2007, p. 26). As famílias nos apresentam que os indicadores de precocidade existem e se correlacionam com as características dos Três Anéis de Renzulli (1986) demonstrado nas falas dos participantes, ainda que alguns deles não se deem conta. Algumas crianças manifestaram indicativos precoces a nível artístico, acadêmicos, criativos e o assincronismo percebido nos exemplos comportamentais e intelectuais. “O assincronismo, termo acunhado por Terrassier, é a carência de sincronização nos ritmos de desenvolvimento intelectual, afetivo e motor em relação ao desenvolvimento considerado “normal”, costuma ocorrer em crianças com AH/SD, 2883 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X e pode causar problemas de desempenho, de personalidade e sociais” (FREITAS e PÉREZ, 2012, p. 20). Enfim, o que se percebe é que as famílias possuem uma vasta rede de informações referentes à criança precoce. Estreitar essa relação programa e famílias tem sido para o PAPAHS de suma importância. Não só, por que assim podemos observar a relação que crianças e as famílias estabelecem, mas pelo simples fato, de que imersas em seu ambiente familiar, a criança pode manifestar seus indicadores precoces com muita intensidade. “Quando estudantes altamente superdotados em qualquer domínio falam sobre o que foi mais importante para o desenvolvimento de suas habilidades, eles tendem muito mais a mencionar suas famílias do que suas escolas ou professores” (Winner, 1998, p. 195). Sendo assim, se o propósito do programa é estudar tais indicadores que compõem o quadro da precocidade, a família torna-se o elemento fundamental associado a outros instrumentos de identificação. CONCLUSÕES Não há modelo perfeito de enriquecimento, mas sabemos que atender somente a criança tornaria nosso trabalho superficial. É preciso conhecer suas origens e como suas famílias se organizam. Não bastam algumas entrevistas com essas famílias, mas é a convivência semanal que nos garante um entendimento qualitativo do sistema educacional e comportamental de cada criança. Para o programa PAPAHS esse contato semanal foi decisivo em algumas intervenções. Ao conhecer o que cada família pensava referente à precocidade de seus filhos, tivemos suporte para entendermos como deveríamos abordar determinados assuntos e quais temas abordar durante o enriquecimento das famílias. O grupo de familiares do programa PAPAHS é composto por uma diversidade de pais, uma parcela deles são idealistas, outros são realistas e ainda uma parcela é apática quanto a sua participação no programa. No entanto, acreditamos que sem a sensibilização da família, a qualidade do desenvolvimento das crianças seria difícil, em alguns casos. É por meio dessa parceria que temos avançado dia após dia e atribuímos tudo isso ao envolvimento dessas famílias nesse processo, e ao enriquecimento que recebem durante o atendimento das crianças. Atualmente, as famílias do programa PAPAHS tem experimentado o papel de desempenho como rede de apoio para seus filhos colaborando para que o trabalho iniciado no programa possa ser continuado em seu ambiente familiar. E isso traz para as crianças efeitos benéficos, afinal, os conhecimentos adquiridos e as observações pontuais passam a ser parte do cotidiano corroborando para o desenvolvimento saudável de ambos. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília, DF, 2008. _______.Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Altas habilidades/superdotação: encorajando potenciais. 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