DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL Bruna B. Medeiros DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL • Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa • Ocorrem pela interação de fatores genéticos, ambientais, microbiota intestinal e imunorregulação de mucosa DOENÇA DE CROHN DOENÇA DE CROHN • Conceito – – – – Processo inflamatório crônico Transmural Persistente ou recidivante Comprometendo mucosa e também parede intestinal, mesentério e os gânglios linfáticos – Pode ocorrer de forma descontínua – Acometendo qualquer região do TGI – Acometimentos extra-intestinais Gastroenterologia essencial, Renato Dani DOENÇA DE CROHN • Epidemiologia – Incidência está aumentando – Apresentação bimodal • Maior pico dos 20 aos 40 anos • Menor pico dos 60 aos 80 anos – Acometimento semelhante entre os dois sexos – Mais frequente em brancos – FR mais importante: predisposição familiar Gastroenterologia essencial, Renato Dani DOENÇA DE CROHN • Fisiopatologia – Pode ser afetada qualquer área do intestino – Áreas descontinuamente afetadas “lesão salteada” – 1ª anormalidade é o aumento dos folículos linfóides ↓ Ulceração aftóide ↓ Progride à ulcerações profundas- pedra em calçamento Gastroenterologia essencial, Renato Dani Lesões ulceradas, pseudopólipos, granulomas DOENÇA DE CROHN • Fisiopatologia – No início: Dor é decorrente de obstrução funcional, por espasmo e edema – No decorrer: • Obstrução torna-se orgânica por fibrose e estenose • Comprometimento seroso pela inflamação transmural lesa terminações nervosas Gastroenterologia essencial, Renato Dani DOENÇA DE CROHN • Quadro Clínico – Dor abdominal • Sintoma mais comum • Cólica, intensa e mais presente do que na RCU • Piora ao evacuar e pode acordar paciente pela noite • Tendência a se localizar no quadrante inferior direito pelo maior acometimento do íleo terminal • Acometimento ileocolônico tem maior risco de fistulizar Gastroenterologia essencial, Renato Dani DOENÇA DE CROHN • Quadro Clínico – Febre • 20 a 50% dos casos • Pelo processo inflamatório e pelas complicações – Supuração (abscesso, fístula) – Diarréia • Pode acompanhar dor abdominal • Moderada intensidade, geralmente intermitente Gastroenterologia essencial, Renato Dani DOENÇA DE CROHN • Quadro Clínico – Perda de peso • Pode ser sintoma inicial da doença • Várias causas – Redução de alimentos, perdas proteicas para luz intestinal, aumento das necessidades alimentares não atendidas, estado de catabolismo – Déficit de crescimento e retardo da maturação sexual • 6 a 50% dos casos de crianças Gastroenterologia essencial, Rento dani DOENÇA DE CROHN • Quadro Clínico – Doença perianal • 15 a 40% • Pode ser a 1ª manifestação da DC • Abscesso e fístula são os mais importantes • Maior risco com acometimento distal da doença – Chegando a 95% nos doentes com envolvimento retal – Incidência aumenta com o decorrer de anos da doença DOENÇA DE CROHN • Manifestações extra-intestinais – As mais frequentes correlacionam-se de com ativ. da doença – Cutânea • Eritema nodoso, pioderma gangrenoso – Articulações • Periféricas- artrites • Axiais-espondilite anquilosante e sacroileíte – Oculares • Conjuntivite e uveíte – Hepáticas • Colangite esclerosante primária Doença de Crohn intestinal: manejo DOENÇA DE CROHN • Diagnóstico – Em média 1 a 6 anos – História clínica • dor abd intensa, noturna, diarréia – Exame físico • dor à palpação, com ou sem massas, fissura, fístula ou abscesso perianal ou lesões perianais Kotze e Kotze. Dados em curitiba DOENÇA DE CROHN • Diagnóstico – Exames laboratoriais • Cultura e parasitológico de fezes • Hemograma – Fase aguda: leucocitose com desvio à esquerda, linfopenia, eosinofilia moderada ou acentuada, plaquetose. Anemia microcítica • VHS/ PCR – Indicativo de atividade da doença DOENÇA DE CROHN • Diagnóstico – Exames laboratoriais • Frações proteicas – Avaliam prognóstico e prenúncio da recidiva • Ferro, zinco, cálcio e magnésio baixos – Testes sorológicos específicos • ASCA – Marcador altamente específico para DC – Relacionado ao comprometimento do int. delgado – Frequentemente expresso em DC de início precoce- até 70% DOENÇA DE CROHN • Diagnóstico – Exames de imagem • RX simples de abdome – Para suspeita de obstrução intestinal • Seriografia – Espessamento de mucosa, estreitamento da luz intestinal • Enema opaco – Não pode ser realizado na fase aguda pelo risco de perfuração • TC e U.S. – Podem ser usados nas crises, presença de massas ou abscesso DOENÇA DE CROHN • Diagnóstico – Exames de imagem • RM – Pode ser usada em alérgicos à contraste e gestante – Pode ser usada para se conhecer o índice de ativ. da doença DOENÇA DE CROHN • Diagnósticos – Exames endoscópicos • Enteroscopia – Sangramento do delgado com falha de outros métodos • Colonoscopia – Confirmar suspeita clínica e coleta de biópsia – Auxilio no diagnóstico diferencial • Cápsula endoscópica – Informa sobre tipo de lesão, extensão – Realizar trânsito intestinal previamente evitando retenção da CE em áreas de estenose DOENÇA DE CROHN ÍNDICE DE ATIVIDADE DA DOENÇA DE CROHN Número de evacuações líquidas diariamente por 7 dias X2 Dor abdominal nenhuma=0; leve=1; moderada=2; intensa=3 X5 Sensação de bem-estar bem=0; desconfortavel=1; ruim=2; péssimo=3; terrível=4 X7 Número de complicações X 20 Uso de loperamina ou difenoxilato não=0 sim=1 X 30 Massa abdominal não=0 questionável= 1 certeza=5 X 10 Hematócrito homens 47% mulheres 42% X6 Peso 1-peso/ peso padrão x 100 X1 DOENÇA DE CROHN • Índice de atividade da doença de crohn – – – – Remissão quando inferior à 150 Leve a moderada 150 a 219 Moderada à grave 220 a 450 Grave ou fulminante valores maiores que 450 DOENÇA DE CROHN • Tratamento – Parar de fumar – Dieta • Retirada de lactose, sacarose • Hipoalergênica • Reduzida em fibra vegetal • Casos graves: nutrição parenteral total – Medicamentoso • Quando iniciar? DOENÇA DE CROHN • Tratamento medicamentoso – Corticosteróides • Induzem remissão de grade maioria dos pacientes • Ineficazes na terapia de manutenção da remissão • Reservado para formas moderadas à graves – Particularmente envolvimento do delgado • Prednisona ou Prednisolona 1 a 2 mg/kg/dia – Máximo 40 a 60 mg/dia – Quando alcança remissão: retirada gradual – Ideal é cessar seu uso DOENÇA DE CROHN • Tratamento medicamentoso – Corticosteróides • Deflazacort – – – – Glicocorticóide: ativ antiinflamatória e imunossupressora Reduzidos efeitos diabetogênicos 6 a 7 mg equivalem à 5 mg de prednisona Na fase aguda não é tão boa quanto a prednisona • Budesonida – 100 vezes mais potente que cortisona – 9 mg é tão eficiente quanto 40 mg de prednisona – Não é indicada para manutenção DOENÇA DE CROHN • Tratamento medicamentoso – Aminossalicilatos • Sulfasalazina – Terapia de escolha para formas leves envolvendo o colon – 2 a 4 g/dia até remissão 1 a 2 g/dia para manutenção – Imunomoduladores • 6- mercaptopurina e Azatioprina • Opções para tratamento prolongado • Para dependentes de corticosteroides, refratarios à este composto ou aminossalicilatos • Supressão de MO, neutropenia, plaquetopenia, pancreatite aguda • Metotrexate DOENÇA DE CROHN • Tratamento medicamentoso – Antimicrobianos • Efetivos na doença perianal • Uso principal na doença dos cólons • Metronidazol – Efetivo na doença fistulosa perianal • Ciprofloxacino – Opção para adultos intolerantes ao metronidazol DOENÇA DE CROHN • Tratamento medicamentoso: novos agentes TNF alfa – Infliximabe • 5 mg/kg IV em 2 horas • Indução: 3 doses (0,2 e 6 semanas) • Possibilidade de suspender corticosteroides • Ação favorável no fechamento de fístulas de difícil tto • Protelar ou abolir tratamento cirúrgico DOENÇA DE CROHN • Remissão – 5 ASA – Imunossupressores • Azatioprina e 6-mercaptopurina • Únicas drogas que induzem remissão clínica • Uso mínimo de 6 meses – Imunomoduladores • Infliximabe: benefício alcançado por até um ano DOENÇA DE CROHN • Cirurgia – 70% serão submetidos a uma cirurgia no decorrer da vida – Emergenciais • Oclusão intestinal, perfuração com peritonite, abscessos abd • Ocorrem em 20% dos casos – Pacientes crônicos • Instabilidade clínica, manifestações extra-intestinais de difícil controle, distúrbio de crescimento, córtico- dependência – Abscessos perianais multiplos devem ser drenados • Evolução RETOCOLITE ULCERATIVA RETOCOLITE ULCERATIVA • Conceito – – – – – Doença inflamatória Etiologia desconhecida, provavelmente multifatorial Acomete preferencialmente mucosa do reto e cólon E Eventualmente acomete todo cólon 27% dos casos há superposição entre DC e RCU RETOCOLITE ULCERATIVA • Epidemiologia – Ocorrência mundial – Incidência de 3 a 20 casos/ano para 100.000 habitantes – Acomete ambos sexos na mesma proporção • Tendência de ocorrer mais em mulheres – Distribuição • Para homens pico entre 15-35 anos e 60-70 anos • Para mulheres 15 -35 anos – Tendência a equiparar incidência de brancos e negros RETOCOLITE ULCERATIVA • Patogênese – Apendicectomia • Reduz possibilidade de desenvolver a doença • Associada a forma clínica menos severa da doença • Fator protetor ainda maior nos fumantes – Fumo • 2 a 6 vezes mais frequente em não-fumantes • 65% desenvolvem doença ao parar de fumar • Tendência a reativar doença quando não esta fumando RETOCOLITE ULCERATIVA • Patogênese – Fatores genéticos – Fatores imunológicos – Dieta – Infecções RETOCOLITE ULCERATIVA • Classificação – Forma leve • Sem alteração do estado geral, diarréia discreta, máx. 5 evacuações ao dia, períodos de acalmia • Resposta favorável ao tratamento clínico – Forma moderada • Alterações discretas do estado geral, evacuações líquidas com sangue e pus, 5 a 10 episódios/dia, raros períodos de acalmia • Resposta favorável ao tratamento clínico • Capacidade laborativa geralmente diminuida RETOCOLITE ULCERATIVA • Classificação – Forma grave • Grave comprometimento do estado geral, evacuações líquidas ou pastosas com sangue, pus, incontáveis exonerações diárias, sem períodos de acalmia • Febre, dor abdominal, tenesmo acentuado, astenia, anorexia, emagrecimento, anemia, proteinopenia, desidratação • Lesões endoscópicas e radiológicas são intensas e extensas • Baixa resposta ao tratamento clínico • Incapazes para o trabalho de maneira geral • Podem surgir complicações sérias RETOCOLITE ULCERATIVA • Quadro clínico – – – – – Sintomas variáveis Dependem da intensidade e extensão da doença QC pode ser insidioso ou abrupto Evolução com surtos de remissão e períodos de acalmia Diarréia • Inúmeras evacuações ao dia • Fezes líquidas misturadas com sangue, muco e pus RETOCOLITE ULCERATIVA • Quadro clínico – Fase aguda • Dor em cólica, febre, perda de peso, mal-estar • 75% apresentam remissão completa do quadro – 5 a 15% apresentarão sintomas contínuos – 5 a 10% apresentarão um surto, sem sintomas nos próximos 15 anos RETOCOLITE ULCERATIVA • Manifestações extra-intestinais 20% – Artrite ou artralgia • 10 a 20% • Não produz deformidades, migratória, assimétrica – Sacroileite ou espondilite anquilosante • Primeira manifestação da doença – Pele e mucosa • • • • 4 a 20% Aftas: acompanham atividade da doença Eritema nodoso Pioderma gangrenoso RETOCOLITE ULCERATIVA • Manifestações extra-intestinais – Oculares • • • • 1 a 10% Episclerite, uveíte, irite Podem preceder início dos sintomas intestinais Não tem relação com atividade da doença – Hepático • 15 a 50% • Colangite esclerosante A: sinovite B: entesite D: pioderma gangrenoso C: episclerite E: eritema nodoso RETOCOLITE ULCERATIVA • Diagnóstico – Exames laboratoriais • Avaliação global do paciente • Avaliar grau de atividade da doença • Alterações mais frequentes – Anemia ferropriva, leucocitose, plaquetose, hipoalbuminemia, aumento da VHS e PCR – Hipopotassemia, hipocloremia, hiponatremia RETOCOLITE ULCERATIVA • Diagnóstico – Exames laboratoriais- anticorpos • p- ANCA – 23 a 89% positividade (47 a 66%) – 4% nos indivíduos normais • ASCA – Uso limitado pela positividade em várias outras doenças – 6 a 14% RETOCOLITE ULCERATIVA • Diagnóstico – Exames de imagem • RX simples de abdome – Deve ser sempre realizada, principalmente nas formas graves • Enema opaco – Permite diagnóstico e avaliar extensão da doença – Não realizar nos casos graves: risco de perfuração – Aspecto granuloso da mucosa, consequente ao edema RETOCOLITE ULCERATIVA • Diagnóstico – Exames endoscópico • Retossigmoidoscopia – Fundamental, pois o reto esta quase sempre acometido – Realizar na primeira consulta, mesmo sem preparo • Colonoscopia – Geralmente não é necessária para o diagnóstico – Útil para estabelecer extensão da doença, para diagnóstico diferencial e nos programas de prevenção de câncer RETOCOLITE ULCERATIVA CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DA DOENÇA VARIÁVEIS DÇA MODERADA DÇA GRAVE DÇA FULMINANTE EVACUAÇÕES/DIA <4 >6 >10 SANGUE NAS FEZES INTERMITENTE FREQUENTE CONTÍNUO TEMPERATURA NORMAL >37,5ºC > 37,5ºC FC NORMAL >90 >90 VHS <30 >30 >30 RX SIMPLES NORMAL AR E EDEMA DILATAÇÃO HEMOGLOBINA NORMAL 75% VALOR NORMAL NECESSITA TRANSFUSÃO SINAIS CLÍNICOS - SENSIBILIDADE ABD DISTENSÃO E SENSIBILIDADE RETOCOLITE ULCERATIVA • Tratamento – Dieta • Deve ser obstipante, evitando alimentos irritativos, apimentados, frutas laxativas, carboidratos produtores de gás – AINE • Contra- indicados, pois pioram doença e nos pacientes em remissão induzem recidiva – Antidepressivos RETOCOLITE ULCERATIVA • Tratamento medicamentoso – Corticosteróides • • • • Substâncias mais efetivas na fase aguda Não podem ser usados na remissão Doses equivalentes a 20-60 mg de prednisona/dia Na melhora, deve ser trocada por salicilato para manutenção RETOCOLITE ULCERATIVA • Tratamento medicamentoso – Salicilatos • Sulfasalazina – Aceita no tratamento de casos leves e moderados, independente da extensão da doença – 2 a 4 g em 4 tomadas para tratamento – 1 a 2 g/ dia para manutenção RETOCOLITE ULCERATIVA • Tratamento medicamentoso – Imunomoduladores • Azatioprina, 6 mercaptopurina – Pode considerar sucesso ou falência da droga em 3 meses – Possibilidade de recidiva após parar droga é muito grande • Ciclosporina – Casos fulminantes – Tentar evitar evolução para tratamento cirúrgico RETOCOLITE ULCERATIVA • Complicações – Megacólon tóxico • Exige colectomia de emergência • Mortalidade alta – Carcinoma de cólon • • • • • • Após 15 anos de doença: 5 a 8% Após 20 anos de doença: 12% Após 25 anos de doença: 25 a 30% Tumor geralmente é agressivo, com metástases na laparotomia Colonoscopia com biópsia a cada 2 anos Colectomia profilática : dça universal com + de 10 anos de duração REFERÊNCIAS • GASTROENTEROLOGIA ESSENCIAL, – RENATO DANI, 2006 • DOENÇA DE CROHN INTESTINAL : MANEJO – SOCIEDADE BRASILEIRA DE COLOPROCTOLOGIA, 2008 • CONSENSO SOBRE TRATAMENTO DE DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL – GRUPO DE ESTUDOS DA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL DO BRASIL, 2009