UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO
LIÇÕES DE URBANISMO
Aula 10
por LUIZ CARLOS TOLEDO
Nessa aula vamos nos concentrar nos contrastes sociais e urbanísticos da
cidade contemporânea e na busca por estruturas urbanas sustentáveis.
A cidade contemporânea herdou do passado grande parte de suas
características urbanísticas e arquitetônicas, salvo aquelas que construídas
segundo projetos que, para atender as demandas do novo milênio, buscaram
configurações originais.
Foto aérea de Brasília
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Foto aérea de Chandigarh
LIÇÃO 10
A CIDADE CONTEMPORÂNEA
Muitos projetos não foram implantados, ora por terem como único objetivo
contestar os rumos tomados pela sociedade e pelo urbanismo em particular,
outros por serem inexequíveis, além daqueles que mesmo podendo contribuir
para a criação de cidades melhores e mais justas, foram rejeitados por
contrariarem os interesses políticos e econômicos que cercam a urbanização.
Projeto de expansão de Tóquio – Arquiteto
Kenzo Tange
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Moving Cities – Grupo Archigram
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
Alguns projetos foram implantados, como Brasília, inaugurada em 21 de abril de
1960, projetada por Lucio Costa, Chandigarh, na Índia, fundada em 1947,
projetada pelo arquiteto Le Corbusier. Outras ainda estão em construção como
Masdar City, nos Emirados Árabes, projetada por Norman Foster para ser a
cidade mais sustentável da atualidade.
Masdar City – Norman Foster
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
As ruas, os quarteirões edificados, praças e parques, a área central, os bairros,
as periferias são, entre muitos outros, componentes da paisagem urbana que
sobrevivem na cidade contemporânea, herdados na maioria dos séculos XIX
e XX, período em que o ritmo da urbanização em todo o mundo se acelerou
formando as metrópoles e megalópoles de hoje.
Mapa Centro do Rio de Janeiro
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Aterro do Flamengo – Foto aérea
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
Mike Davis lembra, no livro Planeta Favela, que em 1950 existiam 86 cidades no
mundo com mais de um milhão de habitantes e em 2015 serão pelo menos 550.
Dois terços da explosão populacional global foram absorvidos pelas cidades
desde 1950 e serão elas as responsáveis por quase todo o crescimento
populacional do mundo sendo que, 95% desse aumento deverá ocorrer nos
países em desenvolvimento. (DAVIS, 2006, p.p.13,14)
Nos Estados Unidos existem espaços com a
vocação de se transformarem em megalópoles.
Um é a zona altamente urbanizada no sul dos
Grandes Lagos, de Chicago a Pittsburgh,
a Chipitts, que abrange grandes cidades como
Milwaukee, Detroit e Cleveland.
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
Se nesse período o pensamento urbanístico buscou uma maior qualidade de
vida, a proteção do meio ambiente e estruturas urbanas sustentáveis,
infelizmente não podemos dizer o mesmo em relação às cidades. Enquanto os
investimentos alocados em serviços, equipamentos urbanos e na infraestrutura
não forem distribuídos igualmente por toda a cidade, as camadas populares
não terão acesso a esses benefícios e não seremos capazes de responder a
altura os desafios do milênio que se inicia.
A cidade formal e informal (São Conrado e Rocinha)
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
A Cidade Partida, titulo do livro do jornalista Zuenir Ventura sobre a chacina de
Vigário Geral – se tornou a melhor definição de cidades como o Rio que tem,
como muitas outras, parte de seu território regido por leis impostas pelo crime
organizado à revelia do Estado
Territórios dominados pelo tráfico
Aos moradores desses territórios, resta o papel de cidadãos de segunda classe
já que o Estado não lhes garante o direito de ir e vir, de expressar-se livremente,
entre tantos outros.
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
A política de retomada dos territórios dominados pelo tráfico com a criação, no
Rio de Janeiro, das Unidades de Polícia Pacificadora – UPP encontra-se ainda
em estágio inicial, 38 UPPs já estão implantadas e, ainda 2014, a previsão é de
que sejam mais de 40.
Infelizmente a implantação das UPPs não está sendo acompanhada de
infraestrutura de saneamento, habitação digna e acesso aos serviços e
equipamentos públicos, o que torna a política de segurança insuficiente para
garantir integralmente os direitos dos moradores das favelas que assim
continuam a ser tratados como cidadãos de segunda classe.
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
As questões relativas à favelização e à expansão das periferias estão
intimamente ligadas a um antigo problema nunca resolvido: a ocupação de
áreas impróprias à urbanização, áreas rurais e até mesmo áreas de
preservação, como a consequente formação das áreas de risco
A velocidade desse processo tem sido maior nas cidades do terceiro mundo,
onde estão incluídos países emergentes como o Brasil, a Índia, a China e Rússia.
Queda de barreira na cidade de Friburgo 2010
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Enchente em Moçambique
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
A maior parte desse crescimento se dá sem obedecer a nenhuma forma de
planejamento e controle pelo Estado, cuja ausência desses territórios abre
espaço tanto para sua ocupação informal, como para o crime organizado
que, no Brasil e, em especial na cidade do Rio de Janeiro, é constituído pelo
tráfico de drogas e pelas milícias.
Queda de barreira na cidade de Friburgo 2010
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
No Rio de Janeiro o surgimento das favelas, como opção de moradia para os
pobres, remonta ao início do século passado, assim como as políticas públicas
formuladas para equacionar a questão.
Ilustração do Morro da Favela – A primeira favela carioca ,
inicialmente ocupada por soldados que voltavam da
Guerra de Canudos
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
Políticas que variaram da erradicação das favelas, cortiços e casas de
cômodos levando seus moradores para áreas afastadas do centro da cidade,
até a urbanização dessas comunidades, como propõe o programa da
Prefeitura Morar Carioca que prevê a urbanização de todas as favelas cariocas
até 2020.
Demolições no centro da cidade feitas no governo Pereira Passos para abertura da Av. Rio Branco, no
início do século passado
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
DA REMOÇÃO À URBANIZAÇÃO, UM CAMINHO DE MUITAS VOLTAS
O Rio de Janeiro tem parte importante de seu território ocupado por favelas e
loteamentos irregulares. Nos últimos dez anos, parte dessas ocupações
tornaram-se territórios segregados, reféns do tráfico de drogas ou das milícias,
algozes de uma imensa maioria de trabalhadores que encontraram nesses
assentamentos as condições de moradia e sobrevivência que a cidade formal
não lhes oferece.
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
DA REMOÇÃO À URBANIZAÇÃO, UM CAMINHO DE MUITAS VOLTAS
A imundície dos becos do Vidigal, as montanhas de lixo nas calçadas da
Estrada da Gávea, na sua tortuosa passagem pela Rocinha, o mau cheiro que
vêm dos valões obstruídos pelo lixo, a infestação de insetos e ratazanas que
infernizam os moradores, são vistos como sinais da falta de educação e de
higiene dos favelados e não como a falta de políticas públicas para erradicar
esses problemas. Esse, entre outros tantos equívocos, têm contribuído para
aumentar o preconceito em relação aos favelados.
Acúmulo de lixo na Estrada da Gávea (à esquerda) e
num valão da favela de Manguinhos (à direita)
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
DA REMOÇÃO À URBANIZAÇÃO, UM CAMINHO DE MUITAS VOLTAS
Os Governos, historicamente alheios ao crescimento e as necessidade da
população favelada, têm agravado o problema com políticas excludentes
que, dificultam o acesso à terra e desalojam os pobres, sob os mais diversos
pretextos, ora para “modernizar” a estrutura urbana, como na abertura da
Avenida Rio Branco, ora levantando a bandeira higienista, como aconteceu no
desmonte do Morro do Castelo em 1920, que teve como justificativa “arejar” o
Centro da Cidade, ora para atender a interesses imobiliários, como nas
remoções dos anos sessenta, sob o manto protetor da ditadura.
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
DA REMOÇÃO À URBANIZAÇÃO, UM CAMINHO DE MUITAS VOLTAS
A política de remoções que desalojou os habitantes dos cortiços e casas de
cômodos da área central para a implantação da atual Avenida Rio Branco
(antiga Avenida Central) no início do século passado, ou a que despachou os
moradores das favelas das Zonas Sul e Norte para a Cidade de Deus e Vila
Kenedy na década de sessenta, além de brutais, revelaram-se inócuas para
conter o processo de favelização.
Cidade de Deus. Dos primeiros conjuntos ao momento atual
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
DA REMOÇÃO À URBANIZAÇÃO, UM CAMINHO DE MUITAS VOLTAS
Com o fim da ditadura, a Constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica da
Cidade do Rio de Janeiro e seu Plano Diretor Decenal e, principalmente a
atuação da Secretaria Municipal de Habitação a frente do Programa Favela
Bairro, afastaram o fantasma da remoção que, mesmo assim, ainda assusta a
população das favelas toda vez que o assunto volta à tona.
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
DA REMOÇÃO À URBANIZAÇÃO, UM CAMINHO DE MUITAS VOLTAS
Urbanizar as favelas, entretanto, não será suficiente para evitar seu crescimento
e a realimentação do problema, urge que desde já seja equacionada a oferta
de habitação para as camadas mais pobres da população e para que essa
questão seja levada a bom termo será necessário que, em paralelo à
urbanização das favelas, ocorra a oferta de moradias populares em locais
servidos por transporte, infra-estrutura e serviços urbanos.
Prédios projetados para a Favela da Rocinha
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LIÇÃO 10
A CIDADE CONTEMPORÂNEA
EM BUSCA DE UMA CIDADE SUSTENTÁVEL
A questão da sustentabilidade tomou força não só pela crise energética
provocada pelo rápido esgotamento das reservas mundiais de petróleo e gás,
mas também pelo desastre ambiental que já se anuncia com o aquecimento
do planeta decorrente da própria utilização desses recursos não renováveis.
Mesmo assim continuamos a derrubar as florestas, a poluir o ar e as águas e a
consumir os recursos naturais de forma predatória e com uma velocidade
nunca vista pela humanidade.
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A CIDADE CONTEMPORÂNEA
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