UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO
LIÇÕES DE URBANISMO
Aula 8
por LUIZ CARLOS TOLEDO
ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
Podemos considerar que a palavra “urbanismo” surgiu após as transformações
tecnológicas, econômicas e sociais que moldaram a estrutura das cidades do
século XIX, antecessoras mais próximas das cidades atuais.
Os urbanistas têm, entre as suas principais preocupações, evitar, combater e
corrigir os problemas que afetam a qualidade de vida nas cidades, assim como
controlar o seu crescimento dentro dos princípios de sustentabilidade e de
preservação do meio ambiente.
Brasilia
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Zoneamento de Curitiba, 1965
LIÇÃO 8
ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O PRÉ-URBANISMO
A partir do século XIX, as principais propostas que integram o pré urbanismo,
segundo Françoise Choay, podem ser divididas em dois grupos:
O primeiro grupo, formado por Robert Owen, Charles Fourier, Saint-Simon,
Cabet, Proudhon, Godin, conhecidos como Socialistas Utópicos, foram os
autores de estudos teóricos e propostas físicas com o principal objetivo de
estabelecer uma crítica radical ao capitalismo e a cidade por ele criada.
New Harmony, Robert Owen
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Falanstério, Charles Fourier
LIÇÃO 8
ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O PRÉ-URBANISMO
Os estudos desenvolvidos pelos socialistas utópicos incluíam tanto
contribuições teóricas como a concepção de estruturas urbanas totalmente
novas. Apesar da maioria dessas propostas não ter a pretensão de ser
implantada, algumas o foram, como a cidade de New Harmony, criada por
Robert Owen e os Falanstérios de Charles Fourier.
Falanstério
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O PRÉ-URBANISMO
O segundo grupo é composto por proposições de caráter normativo que
pretendiam regular o processo de crescimento e ocupação das cidades através
de normas de higiene e regulamentos edilícios que criavam novos limites para a
especulação imobiliária e descontrole urbanístico, característicos da filosofia de
“laissez faire”.
Segundo Françoise Choay, os estudos e propostas integrantes do período pré
urbanístico também podem ser divididos entre os de caráter progressista,
culturalista e crítica sem modelo, divisão que, pelo menos, no que se refere aos
dois modelos permanecerá válida para o período que se segue - o urbanismo.
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O PRÉ-URBANISMO
Do modelo progressista fazem parte as contribuições de Owen, Fourier,
Richardson, Cabet e Proudhon:
``Todos esses autores têm em comum uma mesma concepção do homem e da
razão, que subtende e determina suas propostas relativas à cidade. Quando
fundam suas críticas da grande cidade industrial no escândalo do indivíduo
“alienado”, e quando se propõem como objetivo um homem consumado, isso se
dá em nome de uma concepção do individuo humano como tipo,
independente de todas as contingências e diferenças de lugares e tempo, e
suscetível de ser definido em necessidades-tipos cientificamente dedutíveis. Um
certo racionalismo, a ciência, a técnica devem possibilitar resolver problemas
colocados pela relação dos homens com o meio e entre si. Esse pensamento
otimista é orientado para o futuro, dominado pela idéia de progresso. A
revolução industrial é o acontecimento histórico-chave que acarretará o devir
humano e promoverá o bem estar. Essas premissas ideológicas permitirão que
chamemos de progressistas o modelo que inspiram`` (CHOAY, 2010, p. 8).
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O MODELO PROGRESSISTA
O espaço urbano dos pré-urbanistas progressistas é pautado por um pensamento
higienista, em que a malha urbana é entremeada de áreas verdes e vazios que
garantem a entrada do sol e da ventilação.
Hygeia
Esse era o pensamento de Richardson, criador de Hygeia, de Proudon que queria
transformar a França num imenso jardim, e de Godin para quem o progresso
seria atingido quando o ar, a luz e a água fossem distribuídos a todos.
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O MODELO PROGRESSISTA
A moradia individual, a habitação coletiva, a escola, hospital, exaustivamente
estudados produziriam tipos universalmente válidos, como a habitação
individual, o hospital e a lavanderia municipal concebidos por Richardson ou o
Falanstério, habitação coletiva criada por Fourier.
New Lanark, Robert Owen
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O MODELO CULTURALISTA
Do modelo culturalista fazem parte John Ruskin e William Morris e no fim do século
XIX Ebenezer Howard criador da “cidade jardim”. Se a preocupação dominante
no modelo progressista era a higiene, no modelo culturalista a estética era a
primeira questão a ser considerada.
Os culturalistas propunham um retorno a uma concepção medieval de arte,
valorizando o artesanato. O mesmo valia para as construções que deveriam ser
diferentes umas das outras abolindo os protótipos e os padrões adotados pelo
modelo progressista.
Catedral de São Marcos, John Ruskin
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Sociedade William Morris
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CRÍTICA SEM MODELO
A crítica sem modelo, desenvolvida por pensadores políticos como Mattew
Arnold, Fourier, Proudhon, Carlyle, Engels e Ruskin, reunia tendências diversas ou
mesmo antagônicas. Suas críticas destacavam as péssimas condições de
higiene, as moradias insalubres, as grandes distancias que os trabalhadores eram
obrigados a percorrer de casa para o trabalho, a falta de espaços e jardins
públicos nos bairros populares e o lixo lançado nos logradouros.
Condições de moradia na cidade Indstrial
Moradia de operários na cidade Indstrial
Engels, assim como Marx, não recorre ao mito da desordem urbana, nem
propõem um modelo futuro de cidade, já que esta seria o resultado de uma
sociedade sem classes. Engels, pelas pesquisas que realizou nas favelas (sluns)
de Londres, Edimburgo, Glasgow quando escrevia``A Situação da Classe
Trabalhadora na Inglaterra``, é um dos fundadores da sociologia urbana.
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O URBANISMO
Dando segmento aos estudos, propostas e concepções que marcaram o
período pré urbanístico, inicia-se no final do século XIX, com Ebenezer Howard, o
urbanismo, propriamente dito que, ao longo do século XX, adquirirá, para muitos,
o status de “ciência”.
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O URBANISMO
As contribuições feitas nesse período, em que a cidade é vista em permanente
evolução e passível de intervenções e controle, englobam estudos dedicados à
evolução e a história das cidades, propostas metodológicas de planejamento e
desenho urbano, estudos de mobilidade urbana, geografia, sociologia e
economia urbanas, planos diretores e a aplicação de outros instrumentos de
intervenção e controle do processo de urbanização. Desse conjunto de estudos
destacamos uma pequena amostra, torcendo para que a curiosidade do leitor
leve-o a continuar, por sua própria conta e risco, a viagem pelas cidades de
todas as épocas e pelas tentativas de torná-las melhores para todos nós.
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O URBANISMO
A Cidade Industrial de Tony Garnier (1869-1948)
Tony Garnier, discípulo de Paul Blondel entrou para a história do urbanismo com
um projeto revolucionário, para sua época, de um modelo de uma cidade de
35.000 habitantes, a Cidade Industrial.
O plano constando de um texto e de um conjunto de ilustração foi exposto em
1904 na Academia, nele as funções urbanas eram rigidamente separadas,
antecedendo as diretrizes de zoneamento da Carta de Atenas (1933).
Cidade Industrial
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Habitações da Cidade Industrial
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O URBANISMO
Método de Investigação Regional (Regional Survey) :
Em 1910, na Escócia, o cientista de múltiplas especialidades Patric Geddes
considerava que uma nova ordem mundial se anunciava: a ordem
“neotécnica”, sucessora da ordem “paleotécnica” que até então prevalecera.
Geddes lança sua tese “Método de Investigação Regional” na qual qualquer
ação de desenvolvimento urbano deveria basear-se em amplas e detalhadas
pesquisas na cidade e na região de atuação, antecipando-se às técnicas de
“survey”, utilizadas pelas escolas de planejamento urbano e regional que
surgiram no século passado.
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O URBANISMO
Método de Investigação Regional (Regional Survey) :
As idéias de Geddes foram desenvolvidas pelo urbanista grego Constantinos
Doxiadis, criador da Equística e autor do Plano Doxiadis (1963), feito para o
então Estado da Guanabara.
Plano Doxiadis, 1965
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O URBANISMO
A Cidade Jardim de Ebenezer Howard:
A idéia de cidade jardim surgiu em reação às péssimas condições de vida da
cidade industrial, com ruas estreitas cobertas de lixo, ausência de áreas verdes,
quarteirões ocupados por cortiços e sem nenhuma condição de higiene.
Em 1898, Ebenezer Howard, influenciado pelas idéias de Kropotkin, de James
Buckingham, criador da cidade ideal Victória, Edward C. Wakefield, estudioso
da organização de migrações e pelas idéias de Herbert Spencer sobre a
propriedade da terra, publicou o livro “Tomorrow , Apeaceful Path to Real
Reform”, revisto em 1902 e republicado com o nome Garden Cities of Tomorow”.
A cidade idealizada por Howard no centro de 2400 hectares, dos quais
ocuparia 400 hectares, cortados por seis bulevares com 36 metros de largura e
uma avenida central com 125 metros de largura, formando um parque.
Bairro da encarnação, Lisboa
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O URBANISMO
A Cidade Jardim de Ebenezer Howard:
No centro da cidade ficariam órgãos públicos e as instituições de cultura e lazer.
Também na área central seria construido o Palácio de Cristal onde seria
instalado o mercado e um jardim de inverno. A população da Cidade Jardim
seria de cerca de 30.000 pessoas, sendo que 2.000 morariam no campo. As
industrias se localizariam na periferia ao longo da linha férrea, facilitando o
escoamento da produção.
Letchworth
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O URBANISMO
A Cidade Jardim de Ebenezer Howard:
Pensando em como provar a viabilidade de sua idéia, funda em 1899 a
Associação das Garden-Cities, e chama os arquitetos Parker e Umwin para
projetar a cidade de Letchworth . Em 1919 Howard funda sua segunda cidade:
Welwin.
Planta Welwyn
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Vista aérea Welwyn
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O URBANISMO
Unidades de Vizinhança de Perry a Lucio Costa:
Clarence A. Perry em “The Wider Use of School Plant” (1910) recomendava que
a escola fosse utilizada como centro comunitário, tendo em vista dinamizar as
atividades de grupo e aproveitar seu potencial agregador. Em 1929, Perry
desenvolveu suas idéias na monografia “The Neigbourhood Unit a Scheme of
Arrangement for the Family Life Community``. A unidade de vizinhança abrigaria
5.000 habitantes, distribuídos no território de forma a que o trajeto casa-escola
pudesse ser feito a pé pelas crianças.
Planta e vista da unidade de vizinhança de Sunnyside
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O URBANISMO
Unidades de Vizinhança de Perry a Lucio Costa:
Enquanto Perry desenvolvia seus estudos, Henry Wright e Clarence Stein
utilizaram conceitos semelhantes nos conjuntos habitacionais de Sunnyside
Garden e Radburn em New Jersey, nos anos 1920. Radburn foi construída como
uma “cidade jardim” para abrigar uma população de 25.000 hab. A cidade,
formada por um núcleo central e três unidades de vizinhança, dispostas em
torno de três escolas/centros comunitários, com um raio de influência que não
ultrapassava 800 m.
Planta Radburn
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O URBANISMO
Unidades de Vizinhança de Perry a Lucio Costa:
As idéias de Perry relativas a hierarquização do sistema viário, afastando as vias
de maior movimento de tráfego das quadras foram adotadas pelos
modernistas, dentre eles Lucio Costa no projeto das Super Quadras de Brasília.
Super Quadra 202, Brasília
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O URBANISMO
As Cidades Novas da Inglaterra :
Na Inglaterra, o New Towns Act (1946) previa a implantação de 22 cidades
novas para abrigar uma população total de 1.500.000 pessoas. O programa
baseou-se em um conjunto de estudos em que se destacaram o relatório
produzido pela Comissão Marley em 1935, feito para avaliar os benefícios e
problemas das cidades-jardins; o Relatório Barlow (1940), que propunha a
descentralização industrial como vetor de equilíbrio regional e fator de
segurança em caso de guerra; o Plano para a Grande Londres (1944), que
previa a criação de cidades novas para conter a expansão de Londres.
Harlow, Inglaterra
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O URBANISMO
As Cidades Novas da Inglaterra :
As características principais das cidades novas inglesas eram o rápido
crescimento da população, atraída por melhores condições de vida e pela
oferta de empregos; a estrutura urbana planejada e implantada por uma
empresa pública; o distanciamento de 20 a 40 km da cidade polo; a ocupação
de terrenos mais baratos do que os da periferia da metrópole; a posse da terra
pela empresa pública e a auto-suficiência na oferta de empregos e atividades
sociais:
Basildon, Essex
Bracknell, Berkshire
Central Lancashire (Preston and Leyland), Lancashire
Corby, Northamptonshire
Harlow, Essex
Hatfield, Hertfordshire
Hemel Hempstead, Hertfordshire
Letchworth Garden City, Hertfordshire
Newton Aycliffe, County Durham
Peterlee, County Durham
Redditch, Worcestershire
Runcorn, Cheshire
Skelmersdale, Lancashire
Stevenage, Hertfordshire
Telford, Shropshire
Washington, County Durham
Welwyn Garden City, Hertfordshire
Brasildon, Inglaterra
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O URBANISMO
A Cidade Parque ou a Utopia Modernista:
Em 1932 Charles Edouard Jeaneret, conhecido como Le Corbusier, que se
tornaria o mais importante arquiteto do século XX, expõe os planos de uma
cidade capaz de abrigar três milhões de habitantes, chamada por ele de
“Cidade Contemporânea”.
Le Corbusier achava necessário estudar a grande cidade, pois reconhecia seu
papel de pólo magnético e a importância das altas concentrações
demográficas que os grandes centros apresentavam.
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ORIGENS DO URBANISMO MODERNO
O URBANISMO
A Cidade Parque ou a Utopia Modernista:
Alem de cidades com milhões de habitantes, Le Corbusier defendia a criação
de unidades de produção agrícola na forma de pequenos núcleos urbanos e
cidades industriais lineares, implantadas ao longo das vias de acesso às grandes
cidades.
Chandigarh
Palácio da Assembléia
Em seu livro “Urbanisme’’ (1925) escrevia que: “A grande Cidade comanda
tudo, a paz, a guerra, o trabalho. As grandes cidades são os ateliers espirituais
onde se produz a obra do mundo”
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O URBANISMO
A Cidade Parque ou a Utopia Modernista:
O zoneamento de usos extremamente rígido separava espacialmente as
funções urbanas de habitar, trabalhar, estudar e recrear, ligando-as por um
sistema viário composto por vias hierarquizadas e dimensionadas segundo sua
função. Nesse sistema de circulação o fluxo de veículos era totalmente
separado do de pedestres.
Zoneamento de usos – funções urbanas
O pensamento de Le Corbusier divulgado pelos livros que escreveu e por sua
obra como arquiteto e urbanista, influenciou enormemente os arquitetos do
século passado, que se reuniam nos Congressos Internacionais de Arquitetura
Moderna, os “CIAMS”, com destaque para o IV CIAM realizado na Grécia em
1933, que tem como principal resultado a publicação da famosa “Carta de
Atenas”, onde foram estabelecidas diretrizes que deveriam orientar os
planejadores responsáveis pela organização de novos núcleos urbanos.
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