Milton Friedman e a História do Pensamento Econômico Contemporâneo Edson Ronaldo Nascimento 1 www.editoraferreira.com.br 1. Milton Friedman (1912 2006) Friedman foi um economista que ficou conhecido por seus trabalhos sobre a análise do consumo e sobre a Teoria Monetária. Defensor dos princípios do liberalismo, lecionou na Universidade de Chicago entre 1946 e 1977, foi professor em Cambridge e recebeu em 1976 o Prêmio Nobel de Economia, em especial por seu livro “Capitalismo e Liberdade” e por sua influência nas práticas atuais das ciências econômicas. Sua maior realização, no entanto, foi a "Teoria da Função 1 Economista, Especialista em Finanças Públicas, autor dos livros Gestão Pública, Ed. Saraiva, São Paulo, 2006, e Finanças Públicas para Concursos, Editora Ferreira. 1 de Consumo", que ele desenvolveu e publicou em 1957, trabalho mencionado com destaque na citação para o Prêmio Nobel. Milton Friedman, sempre foi considerado um economista de teorias controversas. Ferrenho defensor da liberalização econômica e entusiasta dos supostos poderes mágicos do livremercado, Friedman notabilizouse como pilar de um revisitado “laissezfaire” que, rebatizado de “neoliberalismo”, abriu caminho na área das ciências econômicas no último século. Nesse campo as idéias de Friedman estão associadas às de Adam Smith (Escócia, 1723 – 1790), pai do liberalismo e da teoria da “mão invisível do mercado”. A Friedman costumase atribuir a conhecida frase “não existe almoço grátis”. Embora alguns defendam não ser o economista o verdadeiro autor dessa expressão, Friedman possui o mérito de ter sido o primeiro a colocála em contexto. Em um mundo de relações mediadas pelo mercado, a consciência moral tornase artigo de luxo. E, às supostas bondades, acabam atrelados, objetivos considerados muitas vezes nebulosos. 2. Neoliberalismo O prof. Milton Friedman encabeça também a chamada “Escola de Chicago” que combateu a política de New Deal do Presidente F.D.Roosevelt por ser esta intervencionista e prósindicatos. Friedman sempre foi contrário a qualquer regulamentação que viesse a inibir as empresas e condenou a utilização do saláriomínimo como garantia de subsistência ao trabalhador, na medida em que, segundo ele, essa prática altera artificialmente o valor da mãodeobra pouco qualificada. Nesse campo, a teoria de Friedman está associada ao pensamento econômico de Nassau Sênior (Inglaterra, 17901864) e sua “economia política da pobreza”. A fixação de uma renda para os pobres, de acordo com Sênior, era contrária as leis naturais de mercado de oferta e procura pelos fatores de produção, incluindo nesse caso o fator trabalho. 2 De fato, a Escola de Chicago sempre se opôs a qualquer piso salarial fixado pelas categorias sindicais na medida em que esse termina por adulterar os custos produtivos, gerando alta de preços e inflação. Devido à longa era de prosperidade quase 40 anos de crescimento que impulsionou o mundo ocidental depois da segunda guerra, graças às diversas adoções das políticas keynesianas e sociaisdemocratas, os neoliberais por algum tempo mantiveramse na “clandestinidade”. Mas a partir da crise do petróleo de 1973, seguida pela onda inflacionaria que surpreendeu os estados de Bemestar social, o neoliberalismo de Milton Friedman gradativamente voltou à cena. A partir daí, denunciou a inflação como resultado do estado demagógico perdulário, “’chantageado ininterruptamente pelos sindicatos e pelas associações de trabalhadores”. Friedman responsabilizou os impostos elevados e os tributos excessivos, juntamente com a regulamentação das atividades econômicas, como os culpados pela queda da produção. O mau desempenho das forças de mercado se devia à “aliança espúria entre o Estado de Bemestar social e os sindicatos”. Para os chamados “neoliberais”, o Estado deve ser desmontado e gradativamente desativado, com a diminuição dos tributos e a privatização das empresas estatais, enquanto os sindicatos deveriam ser esvaziados a partir de uma retomada da política de desemprego, contraposta à política keynesiana do pleno emprego. De acordo com os preceitos mais radicais da teoria neoliberal, enfraquecendo a classe trabalhadora e diminuindo ou neutralizando a força dos sindicatos, haverá novas perspectivas de investimento, atraindo novamente os capitalistas de volta ao mercado. O primeiro governo ocidental democrático a inspirarse em tais princípios foi o de Margareth Tatcher na Inglaterra, a partir de 1980. Enfrentou os sindicatos, fez 3 aprovar leis que lhes limitassem a atividade, privatizou empresas estatais, afrouxou a carga tributária sobre os ricos e sobre as empresas e estabilizou a moeda. O governo conservador de Tatcher serviu de modelo para as políticas que se seguiram posteriormente em alguns países. A hegemonia do neoliberalismo hoje é tamanha, que países de tradições completamente diferentes, governados por partidos os mais diversos possíveis, aplicam a mesma doutrina. Existe no Brasil um paradoxo entre a implementação de um “neoliberalismo eficiente”, capaz de reduzir a presença estatal na economia e de controlar o endividamento público, contra a necessidade premente de grandes investimentos em obras públicas. De fato, um país em desenvolvimento carece da presença do setor público para a distribuição justa dos seus recursos que são tão escassos. Além disso, de acordo com Richard Musgrave, somente o setor público é capaz de desempenhar a função chamada por ele de “distributiva (de riquezas)”. Por outro lado, como a concentração de renda em nosso país é uma dos maiores do mundo, é de se perguntar se o setor público brasileiro vem conseguindo cumprir esse papel. Proposições e análises como essas mostram que a discussão sobre a maior ou menor presença do Estado na economia está longe de se encerrar. Nesse campo das idéias não se pode negar que a contribuição de Milton Friedman foi fundamental para a evolução da história do pensamento econômico. Curiosamente, nas duas décadas finais de sua vida, Friedman manteve distância da economia neoclássica. Como ele mesmo escreveu em “Capitalismo e Liberdade”, não era de fato capaz de oferecer uma regra clara quanto aos limites de intervenção governamental. Friedman atribuía a difusão do livre mercado e das idéias monetaristas a um reconhecimento tardio das conseqüências dos gastos públicos descontrolados e da inflação elevada. Vaise o gênio, mas ficam as idéias. 4