UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOPEDAGOGIA AURIA CAROLINA AMADORI A FUNÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO ACOMPANHAMENTO DA CRIANÇA PORTADORA DO TDAH CURITIBA 2012 A FUNÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO ACOMPANHAMENTO DA CRIANÇA PORTADORA DO TDAH CURITIBA 2012 2 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ AURIA CAROLINA AMADORI A FUNÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO ACOMPANHAMENTO DA CRIANÇA PORTADORA DO TDAH Trabalho de conclusão de curso de Pós-graduação Lato Sensu em Psicopedagogia na Universidade Tuiuti Paraná. Orientadora: Profª. Mestre Laura Bianca Monti. CURITIBA 2012 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA.....................................................................6 2. OBJETIVOS..........................................................................................................7 2.1. GERAL.................................................................................................................7 2.2. ESPECÍFICO........................................................................................................7 3. PROBLEMA...........................................................................................................8 4. HIPÓTESES............................................................................................................8 4.1. BÁSICA.................................................................................................................8 4.2. SECUNDÁRIAS....................................................................................................9 5. MÉTODOS, TÉCNICAS e FONTES....................................................................9 6. REVISÃO LITERÁRIA........................................................................................10 6.1. HISTÓRICO........................................................................................................,.10 6.2. DEFINIÇÃO..........................................................................................................12 6.3. ETIOLOGIA..........................................................................................................18 6.4. FARMACOLOGIA E PSICOTERAPIA...............................................................19 6.5. O TDAH NO CONTEXTO ESCOLAR.................................................................21 6.6. O TDAH E O PSICOPEDAGOGO.......................................................................26 7. CONCLUSÃO.........................................................................................................37 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................39 4 RESUMO Para muitos pesquisadores, o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) não é considerado uma síndrome bem definida, baseado na falta de uniformidade nas visões para o mesmo quadro. O objetivo deste trabalho é buscar, a partir de revisão bibliográfica, dados pertinentes à síndrome TDAH. Assim, expor sua definição, esclarecer motivos e causas, formas de diagnóstico e classificação de um verdadeiro TDAH. Ademais, colocar o papel do psicopedagogo no acompanhamento de pessoas e principalmente de crianças portadoras da síndrome. PALAVRAS - CHAVES: TDAH, Hiperatividade, Psicopedagogia, Infância. 5 1. INTRODUÇÃO/ JUSTIFICATIVA: De acordo com Vilanova e Gomes (2005), o TDAH ocorre em cerca de 3% a 5% das crianças em idade escolar. É um número bastante elevado, considerando o quanto os sintomas apresentados podem afetar essas crianças em seu cotidiano. O TDAH caracteriza-se por três sintomas essenciais: a hiperatividade, a impulsividade e distraibilidade excessiva (Braga, 1999). Tais características são naturalmente expressas pelas crianças. Razera (2001) afirma que o comportamento hiperativo é sinal de saúde na infância. Entretanto, algumas dessas crianças têm dificuldades em se adequar ao cotidiano escolar e em outros ambientes de seu convívio. São excessivamente agitadas, impulsivas e distraídas, apresentando problemas com algumas regras, como por exemplo ficar sentada numa sala de aula por um longo período de tempo. Não se envolvem em atividades como as outras crianças e, às vezes, até parece que não escutaram nada do que lhes foi dito. Ou seja, ao apresentarem essas características essenciais persistentemente, passa a não ser mais comportamento normal da infância. Todavia, o que é o TDAH ainda não foi elucidado, sendo sua identificação difícil por a tênue linha com a normalidade. Porém, se criança portadora não é assistida por profissionais orientados, pode vir a apresentar fracasso escolar, problemas na socialização, baixa autoestima, etc (Razera, 2001). No caso de muitas das crianças portadoras da síndrome, é necessário uma equipe multiprofissional trabalhando conjuntamente para seu bom desenvolvimento. 6 Zorzan (2010) e Vila Nova e Gomes (2005) afirmam que pode vir apresentar junto com a síndrome problemas de aprendizagem, dificuldades motoras (apraxia), dificuldades no processamento da fala e percepção visual. Em se tratando de dificuldades de aprendizado, entra aí o papel do psicopedagogo. Dessa forma, a apresentação deste estudo justifica-se pelo número crescente de crianças nas clínicas com tais características, muitas vezes com um diagnóstico equivocado ou com professores mal orientados de como lidar com a situação, até mesmo porque ela pode comprometer uma turma inteira dentro da escola. A literatura ainda não obteve um consenso no que concerne o TDAH, o que é evidente haja vista o grande número de classificações, as quais serão apresentadas no trabalho. Por tais razões, mostra-se importante a elaboração deste, expondo o que os pesquisadores estão descobrindo sobre a síndrome de forma a contribuir com os psicopedagogos. 2. OBJETIVOS: 2.1. GERAL: Definir o TDAH por meio de revisão bibliográfica, buscando colaborar na atuação dos psicopedagogos no trabalho individual com a criança e na equipe atuante. 2.2. ESPECÍFICOS: 7 Provocar o questionamento quanto ao uso excessivo da terapia medicamentosa para crianças portadoras do TDAH. Promover o trabalho preventivo do psicopedagogo como meio de evitar sofrimento futuro e buscar a autonomia da criança no aproveitamento de suas próprias características, potencialidades, no autoconhecimento e autocontrole. E por fim, proporcionar material para entender do que realmente se trata o TDAH, podendo-se, assim, identificar adequadamente quem são as crianças portadoras. Como forma de ajudar os professores na compreensão dos comportamentos e orientá-los no trato com essas crianças e no trabalho clínico elaborando estratégias para autocontrole e melhor aproveitamento das aulas. 3. PROBLEMA: Até que ponto o psicopedagogo desempenha papel fundamental no acompanhamento de crianças portadoras do TDAH? 4. HIPÓTESES: 4.2. BÁSICA: Espera-se que com o acompanhamento psicopedagógico, as crianças portadoras do TDAH obtenham desenvolvimento de diversas habilidades, como a atenção, a organização, o aproveitamento das aulas, etc. 8 4.3. SECUNDÁRIAS: A partir do reconhecimento de cada caso de crianças portadoras da síndrome, este trabalho visa mostrar que o uso de medicações para os sintomas do TDAH podem ser reduzidos consideravelmente, ou seja, em muitos casos, com o trabalho dos profissionais, talvez o uso do medicamento seja dispensável. Muitos autores acreditam que uma das características do TDAH seja a desatenção. Porém há evidências de que tal problema não exista. A dificuldade está em se manter o foco em apenas um objeto. O trabalho do psicopedagogo está atrelado a aprendizagem deficitária. Logo, a criança hiperativa só vai para a clínica psicopedagógica se apresentar algum atraso na escola. Defende-se nesta monografia, o trabalho do psicopedagogo como agente de estímulo de potenciais, pois as características que prejudicam podem vir a ser encaradas positivamente e colaborar no desempenho escolar e futuro. 5. MÉTODOS, TÉCNICAS e FONTES: Este trabalho foi realizado mediante a revisão de literatura e entrevista com profissionais relacionados (médicos, farmacêuticos, professores e psicólogos). 9 6. REVISÃO DE LITERATURA 6.1 HISTÓRICO Muitos acreditam que o TDAH é uma síndrome recente. Zainab (2012) faz referência a esse fato discordando do que a mídia vem mostrando sobre o assunto, pois ele já vem sendo estudado há muito tempo. A autora Folquitto (2009) expõe que a primeira descrição foi realizada em 1798, a partir do Inquiry, manual publicado pelo médico escocês Alexander Crichton. Este manual refere-se a diversas afecções mentais. No capítulo voltado para atenção,é descrito um distúrbio onde o sujeito é incapaz de manter o foco em um único objeto. Estes demonstravam uma “intranquilidade mental” anormal, decorrente de uma “super excitação dos nervos”. Entretanto, a maioria dos pesquisadores coloca que a primeira descrição foi realizada pelo pediatra inglês George Still, no jornal médico Lancet, em 1902(Rohde e Halpern, 2004). De acordo com Caliman (2010), ele foi o primeiro a vincular o transtorno de atenção a um defeito da vontade inibitória. Foi Still que forneceu as bases clínicas para o diagnóstico do TDAH. Braga (1998) relata que, por volta da década de 20, a hiperatividade foi associada a lesões cerebrais. Observou-se que as crianças com encefalite letárgica, posteriormente, apresentavam sintomas comportamento instável. 10 semelhantes àquelas crianças com O mesmo autor afirma que, em 1947, os educadores Strauss e Lehtinen trabalhavam com crianças que apresentavam lesões cerebrais, e observaram que haviam crianças de comportamento difícil e inexplicável. Eles tentaram explicar isso a partir das lesões cerebrais e perceberam que não havia correlação, refutando essa teoria. Para isso, surgiu um novo termo, a Disfunção Cerebral Mínima. Segundo Soreff (2011) o termo Disfunção Cerebral Mínima foi publicado no DSM-III. Porém na revisão do DSM-III (DSM-III-R) o termo foi modificado para TDAH( Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Em 1980, foi proposto, a partir da Associação Americana de Psiquiatria, o termo Síndrome de Déficit de Atenção (SDA). Em 1994, a Associação propôs o termo utilizado na atualidade, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Porém alguns países europeus ainda utilizam termos anteriores, como o DCM e Hiperatividade, com exceção da França que designa a Hiperatividade como Síndrome Hipercinética (Braga, 1998). Na literatura científica ainda há inúmeras nomenclaturas sendo utilizadas, como a Disfunção Cerebral Mínima (DCM); O Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA); Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); A Síndrome Hipercinética (SH) ou Transtorno Hipercinético (TH); A Síndrome da Criança Hiperativa; Instabilidade Psicomotora da Criança; O Transtorno da Desordem da Atenção e Hiperatividade; O Déficit de Atenção e Hiperatividade (DAH). 11 6.2. DEFINIÇÃO Segundo Vila Nova e Gomes (2005) o TDAH é um quadro sindrômico, ou seja, não é uma doença propriamente dita, mas sim um conjunto de sintomas e sinais observados que devem estar presentes para sua identificação. Os sintomas ou “trio de base alterada”, como Silva (2010) denomina, são: o alto nível de atividade, impulsividade e falta de atenção. Estes devem ter padrão persistente, portanto, de acordo com o DSM–IV(2000), eles devem estar presentes em pelo menos dois contextos (por exemplo, casa e escola) e ocorrer por seis meses ou mais. Tais sintomas devem aparecer antes dos sete anos de idade. O alto nível de atividade, ou comportamento hiperativo, refere-se à grande dificuldade do indivíduo em permanecer parado, isto é, em diferentes ambientes ele é irrequieto. Expô-lo a uma tarefa que necessite de autocontrole é uma grande e complicada exigência para esse indivíduo (Braga, 1999). No DSM-IV(2000) a criança hiperativa é descrita como aquela que não consegue ficar parada na cadeira, se remexe e senta na beira dela, costuma balançar seus braços e pernas excessivamente, levantase no meio de atividades como a refeição, tarefa de casa ou, até mesmo, assistindo televisão, fala excessivamente e produz muitos ruídos (mesmo em atividades tranquilas). Impulsividade de acordo com o dicionário Michaelis (2010) significa: “1 Que dá impulso, impele, põe em movimento. 2 Que se encoleriza e explode facilmente. 3 Que age e reage sem refletir, obedecendo ao impulso do momento; impetuoso”. Segundo Braga (1999) a criança impulsiva age impensadamente, tem 12 ações rápidas, sente a necessidade de cometer infrações sem pensar previamente sobre elas, é impaciente, costuma antecipar respostas, apresenta grande dificuldade em esperar sua vez. E a falta de atenção é caracterizada pela dificuldade de permanecer atento por até mesmo um curto período de tempo em apenas um estímulo (Silva, 2010). É uma tarefa bastante penosa prestar atenção em algo que lhe é dito ou ensinado, distraindose facilmente com outros estímulos (Vila Nova e Gomes, 2005). De acordo com Braga (1999), a criança com o déficit de atenção demonstra a falta de persistência para finalizar tarefas passando de uma atividade para outra, cometendo erros por pouco cuidado, apresentando dificuldades em manter a atenção em atividades lúdicas, falta de organização e descuido ao se manusear objetos. Alguns autores percebem o déficit de atenção (DA) diferenciadamente. Montauk (2010) destaca que o termo déficit de atenção é errôneo, pois não haveria falta de atenção e sim atenção a muitos estímulos ao mesmo tempo, resultando em falta de foco. A falha ocorre na regulação da atenção, assim o portador de DA percebe os estímulos, inibindo que lhe é relevante, ou seja, o que desperta menor interesse e objetivando apenas naqueles que lhe importam. Essas três características, dentro da sociedade moderna, acabam por prejudicar fortemente a vida das crianças portadoras do TDAH. Topczewski (1999) descreve o que é a Hiperatividade, e o cotidiano da criança hiperativa da seguinte forma: “A Hiperatividade é um desvio comportamental, caracterizado pela excessiva mudança de atitudes e de atividades, acarretando pouca consistência em cada tarefa a ser realizada. Portanto, isto incapacita o indivíduo para se manter quieto por um 13 período de tempo necessário para que possa desenvolver atividades comuns do seu dia-a-dia. Este padrão de comportamento se mostra incompatível com sua organização do seu ambiente e com determinadas circunstâncias. Crianças e adolescentes hiperativos frequentemente são considerados como pessoas inconvenientes”. Rothenberger e Banaschewski (2005) descrevem as crianças com TDAH como impacientes, esquecidas, costumam atrapalhar os outros, têm dificuldades de respeitar limites, tomam decisões precipitadas, fazem brincadeiras bobas e alteram rapidamente seu humor. Porém, em muitos momentos tem comportamentos normais, como quando exigem atenção delas por um curto período de tempo ou se forem estimuladas dentro da atividade, como ao assistir televisão ou dentro de uma brincadeira. Vale ressaltar que o TDAH não está relacionado à falta de limites, segundo Callegari (2011) esse é um mito que ocorre diante de comportamentos vistos. A síndrome é de ordem neurológica, dessa forma seus sintomas primariamente não estão relacionados à falta de limites sobre a criança. Esse comportamento justifica-se, de acordo com Zorzan (2010), por uma falha na capacidade de controlar o que muitos pesquisadores chamam de “freio inibição”. Esse déficit na inibição geraria como resultado um comportamento hiperativo maior. Assim, como a dificuldade não está em prestar atenção, mas em manter o foco por um longo período de tempo em tarefas que parecem menos interessantes. A autora sublinha que em estudo norte-americano foram acompanhadas crianças com e sem TDAH enquanto assistiam a um show na televisão. Primeiramente, estavam em um ambiente sem brinquedos apenas vendo televisão. Quando as crianças foram questionadas sobre a programação indiferenciadamente souberam responder as 14 questões. A partir do momento que foram colocados brinquedos na sala, as crianças portadoras do transtorno passaram a se entreter com os brinquedos ao contrário das crianças que não apresentam o transtorno. Passando da programação de comédia para um programa educativo, as crianças portadoras conseguiram responder consideravelmente menos que as crianças que não apresentam a síndrome. Deste modo, levando a acreditar que para se manter atenção focalizada é necessária uma capacidade de inibição sustentada. Segundo Zanaib (2012) as áreas do cérebro afetadas estão ligadas as áreas executivas, portanto são afetadas as áreas de atenção e de inibição. O pesquisador afirma que: “Executive functions are major tasks of the frontal lobes. MRI of the right mesial prefrontal cortex in persons with ADHD (ADD) strongly supports decreased activation (low arousal) during tasks that require inhibition of a planned motor response and timing of a motor response to a sensory cue. MRI in persons with ADHD (ADD) also strongly supports weakened activity in the right inferior prefrontal cortex and left caudate during a task that involves timing of a motor response to a sensory cue.” Em muitos casos, o TDAH pode acarretar diversos prejuízos para a criança, assim como para o adolescente e adulto. Vila Nova e Gomes (2005, p.1275) relatam que comorbidades como “alteração na sociabilidade, labilidade emocional, baixa tolerância às frustrações, baixa autoestima e comportamento desafiador” podem vir a ocorrer. Além disso, dificuldades de aprendizado, motoras e no processamento auditivo (Zorzan, 2010 e Vila Nova e Gomes, 2005). 15 Razera (2001) afirma que, na visão evolucionista a hiperatividade já foi de grande importância para a sociedade e evolução do homem. Os hiperativos são destemidos e com atenção multifocal (considerada atualmente como déficit de atenção) e, isso, dava-lhes o poder de líderes de bando. O autor assinala que a América deveria ser grata aos portadores de TDAH, pois foram eles que povoaram os continentes. A sua característica de impulsividade era vista como alguém que não mede riscos, com virilidade e coragem. A falta de atenção, não era por falta e sim por excesso, super atenção, onde podiam controlar vários estímulos ao mesmo tempo. Entretanto, Vilanova e Gomes (2005) relatam que na sociedade moderna a vida acadêmica é fortemente prejudicada e insatisfatória, podendo ocasionar muitos conflitos entre família e instituição de ensino. No CID 10, o TDAH (com a nomenclatura de Transtorno Hipercinético) é descrito como: “... falta de perseverança nas atividades que exigem um envolvimento cognitivo, e uma tendência a passar de uma atividade a outra sem acabar nenhuma, associadas a uma atividade global desorganizada, incoordenada e excessiva...”. Segundo Silva (2010) a alteração da atenção é o sintoma mais importante do TDAH, onde nem todas as crianças com esse distúrbio sofrem da excessiva atividade motora, porém jamais deixaram de apresentar a falta de atenção. Contudo, a autora Zorzan (2010) classifica o TDAH em três tipos: Predominante desatento, predominantemente hiperativo/ impulsivo e tipo misto. Ou seja, alguns indivíduos apresentam desatenção, mas não são hiperativos, outros 16 apresentam a hiperatividade sem a desatenção e por fim há aqueles que apresentam todos os sintomas respectivamente. Braga (1999) menciona sobre as crianças TDAH hiporreativas e hiperreativas: Hiporreativas são aquelas que não apresentam comportamento hiperativo (predominando a desatenção ou falta de foco em apenas um objeto). E já as hiperreativas apresentam esse comportamento. Razera (2001) refere-se a crianças hiporreativas como sendo introvertidas e as hiperreativas, extrovertidas. Segundo Rothenberger e Banaschewski (2005) o TDAH é diagnosticado em cerca de 2% A 5 % dos indivíduos de 6 a 16 anos. Sendo aproximadamente 80% meninos. No entanto, Silva (2010) afirma que para cada menina, três meninos são diagnosticados com TDAH. Isto ocorre porque a menina portadora, em sua maioria, tem comportamento predominantemente desatento, passando desapercebidas por “incomodarem” pouco. Já Folquitto (2009) acredita que essa desigualdade entre meninos e meninas que chegam as clínicas ocorre porque é mais fácil “tolerar” uma pessoa apenas desatenta. Diferentemente Rohde e Halpern (2004) estima que na população existam dois meninos TDAH para uma menina, controversamente nas clínicas há nove meninos para uma menina. Segundo Silva (2010) as meninas ficam imersas em seus pensamentos, sofrendo com sua própria desorganização. Elas trazem consigo os esquecimentos, a sensação de abandono, apresentam dificuldade em cumprir com horários e de se adaptar. Por essas razões citadas a síndrome é de difícil identificação, pois muitas meninas passam despercebidas por não apresentar a hiperatividade e também os 17 sintomas do TDAH são comuns a todos os indivíduos em algum momento da vida ou até de outra etiologia. 18 6.3. ETIOLOGIA A maioria dos autores diz que o TDAH é de causa genética. Segundo Vilanova e Gomes (2005) os atuais estudos genéticos creem na existência de genes relacionados à transmissão dopaminérgica. Acredita-se que são genes que estão envolvidos na transmissão de informações entre os neurônios e parte deles estariam envolvidas na transmissão de dopamina. Assim como, o mesmo parece ocorrer com a noradrenalina de acordo com Rothenberger e Banaschewski (2005). Assim, sendo a transmissão de caráter hereditário, algum familiar do indivíduo portador da síndrome deve também apresentá-la. Entretanto, Razera (2001) sublinha que nem todos portadores têm familiares também portadores. O autor acredita que o TDAH seja multicausal, relacionando razões psicossociais ou situacionais (como parasitas). Zorzan (2010) afirma o mesmo, dizendo que a síndrome é heterogênea, resultado de fatores genéticos, adversidades biológicas e psicossociais. Braga (1999) classificou três tipos de TDAH, diferenciando o TDAH de causa genética do relacionado a outras causas. O TDAH foi divido em “hiperatividade verdadeira”, “hiperatividade situacional” e “hiperatividade reacional”. Na “hiperatividade verdadeira” o indivíduo herda geneticamente tendência a vir apresentar o TDAH ou por situações na gestação e concepção. A “hiperatividade situacional” ocorre devido a algum agente tóxico alimentar ou alguma patologia. Essa hiperatividade apresenta melhora quando se é retirado o agente estressor, como por exemplo, algum alimento inadequado. 19 “Hiperatividade reacional” é, segundo o autor, uma das maiores causas do comportamento hiperativo. Ela ocorre por dificuldades nas relações sociais e interacionais. Diante de dificuldades emocionais e afetivas, pode iniciar-se o comportamento hiperativo. E a partir do momento que essas questões são resolvidas, há maior possibilidade de não haver mais o comportamento hiperativo. Para essa hiperatividade, há dois fatores desencadeantes, os problemas psicoafetivos e psicoeducacionais. 20 6.4. FARMACOLOGIA E PSICOTERAPIA A farmacologia para o TDAH é motivo para muitos questionamentos entre profissionais que trabalham com a síndrome. Muitos acreditam que há um uso abusivo de tais medicamentos. Tal afirmação pode ser vista no debate publicado na revista “Viver mente & cérebro”, na edição de Janeiro de 2005 (p. 52-55), entre o psicólogo Manfred Döpfner e o pediatra Dietrich Schultz. Döpfner defende a psicoterapia, pois vê a importância de levar em consideração os sentimentos e emoções do portador do TDAH, já Schultz defende o acompanhamento do pediatra com o uso da medicação. As medicações para essa síndrome baseiam-se em estimulantes para o Sistema Nervoso Central (Vila Nova e Gomes, 2005). Segue abaixo tabela com dados pertinentes as medicações mais utilizadas. TABELA 1 - MEDICAÇÕES QUE PODEM SER UTILIZADAS NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS DA ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE, QUANDO INDICADO Droga Duração do Dose total Dose Doses Nome efeito diárias comercial® 60mg 1a3 Ritalina 50mg 1 Ritalina LA sugerida máxima diária Metilfenidato 1 a 4 horas Metilfenidato de 8 liberação a 5 a 20mg 12 18 a 40mg horas Concerta controlada 21 Dextroanfetamina 1 a 8 horas 2,5 a 10mg 40mg 1a2 Dexedrine Pomeline 37 a 75mg 112,5mg 1 Cylert 1a3 Tofranil 7 a 9 horas Imipramina, 0,5 a 3mg/kg cloridrato 1,5mg/kg FONTE: Tabela extraída do Guia de Pediatria, Barueri, 2005, p. 1279. Segundo o autor, o uso de tais medicamentos melhora significativamente a vida dos portadores de TDAH, onde cerca de 70% respondem a eles. E o efeito chega a atingir, com menor intensidade, as comorbidades. De acordo com Shultz (2005) o uso de medicamentos é reservado para os casos mais graves, onde o sintoma aparece muito forte. Já os casos de menor gravidade não se utilizam da medicação, pois a terapia comportamental apresenta bons resultados para estes. O pediatra também afirma que metade das crianças que tomam os psicoestimulantes durante um ano e receberam aconselhamento intensivo de seu médico apresentaram grande melhora nos sintomas, em comportamentos que eram inadequados, desempenho escolar e relação com sua própria família. Shultz (2005) destaca que o uso desses medicamentos reduz a necessidade da movimentação excessiva da criança, porém não obtiveram efeito para a falta de atenção quando esta ocorre predominantemente. Segundo Callegari (2010), o uso de medicamentos é necessário em cerca de 80% dos casos, e o uso dele não está relacionado com a gravidade dos sintomas. A autora acredita também que o acompanhamento da terapia comportamental cognitivo 22 tem levado a bons resultados em se tratando dos adultos. Já no caso das crianças seria de utilidade no tratamento de sintomas secundários, traumas devido à presença da doença ou as comorbidades. Há divergências, Döpfner (2005) assinala que as crianças portadoras também têm desejos e desamparo, e por isso se deveria dar crédito a sua criatividade e não ser entregue a técnica comportamental em que se estipula regras e buscasse a melhor forma de cumpri-las. Sroufe (2012) afirma que a Ritalina aumenta a concentração por um curto período de tempo, mas quando ela é administrada por um longo tempo sua eficácia se perde, ou seja, ela não colabora para a melhora no rendimento escolar e nem comportamental. O autor relata que em 2009 foi publicado um estudo no qual foram acompanhadas crianças portadoras do TDAH por uma década. Neste chegaram à conclusão que de início o uso da ritalina foi positivo, entretanto após três anos diagnosticou-se que não havia mais efeito dela e após oito anos não foi mais observada quaisquer evidência de melhoria no desempenho acadêmico e comportamental. O mesmo autor relata que a falha nas pesquisas está em não estudar longitudinalmente os efeitos desses medicamentos. De fato são visíveis as diferenças entre a mesma criança medicada e sem a medicação para esse transtorno, mas essa eficácia se perderia com o tempo se apenas medicá-la. Vilanova e Gomes (2005) relatam que há alguns efeitos colaterais que atingem a maior parte das crianças, cerca de 80% delas tem pequena redução de apetite no período de efeito do medicamento, a insônia está presente em 35% a 80% dos casos, e 23 também há alguns sintomas menos frequentes como dor abdominal, irritabilidade, cefaleia, boca seca, tontura e depressão. No site médico Emedicine são citados os efeitos adversos que ocorrem em usuários de metilfenidato, estes são: Comprimido • Dor de cabeça (10 -15%) • Insônia (6 - 13%) • Anorexia (1-5%) • Tonturas (1-5%) • Insônia (1-5%) • Dor abdominal (6-10%) • Vômitos (1-5%) Patch • Perda de apetite (26%) • Insônia (13%) • Náusea (12%) • Vômitos (10%) 24 • Anorexia • Perda de peso Barkley, em 2011, na IX Jornada Fundación Educacion Activa, discorreu sobre a importância das emoções para o TDAH. Segundo ele as áreas cerebrais relacionadas ao transtorno estão também ligadas à elas. Como resultado as emoções também se apresentam alteradas, isto é, essas crianças são mais emotivas e têm maiores dificuldades para controlá-las. Para Barkley isso justifica comorbidades como o TOD (Transtorno Opositor e Desafiador). Segundo o pesquisador, elas regulam pior as emoções negativas e melhor as positivas. Quando um portador se frustra, ele rejeita aquilo e isto não seria devido a falta de atenção, mas sim à fúria. Ou seja, a dificuldade em controlar as próprias emoções primárias leva a alteração no estado de ânimo, temperamento, personalidade e todas elas por um longo prazo apresentam-se persistentes. Barkley conclui que o foco do tratamento está errado, deveria ser dada mais importância as emoções. 25 6.5. O TDAH NO CONTEXTO ESCOLAR Como já mencionado no trabalho, o cotidiano normal da criança portadora da síndrome fica afetado devido suas características. Dentro do ambiente escolar a criança necessita estar atenta e parada por um longo período de tempo, isto para ela pode ser um grande sacrifício. Zorzan (2010) assinala que a adaptação dessa criança não é fácil em qualquer ambiente de seu convívio, seja em sua própria casa, na escola ou na vida social e os comportamentos acabam muitas vezes se agravando por não saberem lidar com ela. No ambiente escolar, muitas vezes, há uma classe heterogênea com as mais diferentes dificuldades, ou com excessivo número de alunos. O aluno com transtorno pode mexer, provocar ou até mesmo bagunçar uma sala inteira e aí entra o dilema do professor em saber como lidar com essa situação. Deve estar claro que como qualquer portador ou não portador de necessidades especiais educativas, precisam ter suas habilidades e capacidades trabalhadas a fim de buscar uma vida melhor e mais feliz. Deve-se valorizar sua sensibilidade, criatividade e aprendizagem. Contribuindo assim, para o desenvolvimento da humanidade. Além do comportamento agitado/desatento das crianças portadoras do TDAH, nas escolas é possível observar dificuldades que se ressaltam. A autora citada acima afirma, “Educadores reconhecem que os transtornos de aprendizagem mais comuns nos alunos que apresentam TDAH são os atrasos e déficit na aquisição da fala, transtornos de leitura e escrita, dificuldade de memorização e concentração...” 26 Segundo artigo da Fundación CADAH (2012), as crianças portadoras demonstram desorganização, impulsividade e ineficácia. As dificuldades de atenção, de motivação e de manter o esforço mental mostram-se presentes nas tarefas mais repetitivas e monótonas, interferindo na sua execução. E devido a isso seu rendimento escolar fica comprometido. A distração faz a criança levar mais tempo para realizar suas tarefas, necessitando de mais tempo para realizá-las. Elas apresentam padrão de pensamento indefinido, perdendo o rumo da tarefa, mudam constantemente suas impressões, há dificuldades em nomear e descrever algo. A hiperatividade e a impulsividade fazem a criança sentir-se inquieta, pedindo por descanso. O comportamento dela interfere em seu rendimento e também dos outros alunos da sala de aula, pois devido a sua impulsividade não consegue inibir a primeira resposta espontânea que vem a mente. Essas crianças querem se comportar e portar-se bem. Entretanto, necessitam de maior estrutura e organização nas aulas, maior supervisão, maior divisão das tarefas longas, maior reforço positivo para manter sua conduta e consequências negativas para comportamentos inadequados. É necessário que o professor perceba rapidamente momentos em que deve reforçar algo ou também ajudá-lo na interação social. E para isso deve haver professores treinados para tal. Rodrigues (2007) assinala que as características dessas crianças se sobrepõem às suas vontades. Na sua investigação, viu que cabe ao uso do medicamento e a mudança de comportamento daquelas pessoas do convívio da criança, ou seja, 27 perceber que nem tudo está ao alcance da criança. Podem-se usar estratégias como negociar, exigir períodos curtos da atenção dessa criança, estimular a aprendizagem através do prazer, dentre outros; como meio de se estimular o desenvolvimento cognitivo delas. Devido ao atraso da criança portadora, muitas dessas acabam reprovando na escola. Barkley, em 2011, na IX Jornada Fundación Educacion Activa, expõe, em estudo realizado com mais de cem crianças, que reprovar uma criança portadora do TDAH gera danos irremediáveis e permanentes nelas. Na reprovação espera-se que a criança amadureça e está seria a estratégia educacional para que ela faça o mesmo ano de forma mais adequada. Entretanto, reprovar o portador dessa síndrome traz índices alarmantes segundo o pesquisador. Isto é, 25% dessas crianças acabam em centros de educação especial; 60% são expulsos da escola; e de 23% a 40% nunca terminam os estudos. Destes que abandonaram os estudos, era esperado que o retomassem, entretanto nenhum dos participantes da pesquisa retomou. Segundo o pesquisador referido, nos Estados Unidos dentro das escolas há um professor especializado no trabalho com crianças com este transtorno, e este orienta os demais professores. Toda essa recepção à criança portadora ocorre sem burocracia, pois o sistema já oferece este atendimento em cada escola. Hallowell e Ratey (1992) oferecem sessenta recomendações de como tratar um portador do TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), elas são: 1- Assegurar que o Transtorno realmente existe; 28 2- Assegurar que há apoio dos pais e da escola. E apoio de um especialista que oriente quando necessário; 3- Conhecer as limitações da criança; 4- Perguntar a criança de como se pode ajudá-la; 5- Lembrar que as crianças com TDA precisam de estrutura (fazer listas pode ajudar muito); 6- Lembrar da parte emocional da aprendizagem; 7- Lembrar as crianças das regras (para que elas saibam o que o professor espera); 8- Repetir instruções (escrever, repetir, o portador do TDA precisa escutar mais de uma vez); 9- Ter contato visual freqüente com as crianças; 10- Colocar a criança perto dos lugares onde o professor passa mais vezes; 11- Estabelecer limites; 12- Fazer um calendário de atividades, colocando-as assim que é possível; 13- Ajudar as crianças a fazer seu próprio calendário de atividades; 14- Reduzir a quantidade de provas (pois elas não demonstram o que a criança sabe); 15- Permitir válvulas de escape (é melhor deixar a criança sair um pouco da sala, do que simplesmente ela fugir); 16- Valorizar mais as tarefas pela qualidade e não pela quantidade; 17- Monitorar os progressos frequentemente; 18- Dividir as atividades longas em atividades mais curtas; 29 19- Não ser convencional, ser chamativo (pessoas com TDA adoram inovações); 20- Não superestimule; 21- Buscar o êxito da criança tanto quanto possível (pessoas com TDA convivem muito com suas falhas, elas precisam do reforço positivo); 22- Ensinar estratégias de memorização; 23- Usar esquemas, como sublinhar (estratégias assim não são fáceis para eles, mas assim que aprendem são de grande utilidade); 24- Anunciar o que irá dizer antes de falar sobre; 25- Simplificar as instruções; 26- Utilizar de feedback que ajude as crianças a serem auto observadores; 27- O professor deve se expressar de forma clara e objetiva; 28- O sistema de recompensas funciona bem para crianças com TDA; 29- As crianças portadoras muitas vezes têm dificuldades de entender o que as outras pessoas falam, vale orientá-las para escutar os outros falarem, e deixar outras crianças contarem suas histórias antes de elas contarem a delas próprias; 30- Ensinar estratégias para resolver questões; 31- Fazer jogos com as coisas. A motivação ajuda a prestar atenção; 32- Separar duplas, trios ou grupos que não funcionem bem juntos; 33- Dar atenção para os vínculos; 34- Dar responsabilidades; 35- Ter um caderno de comunicação entre a casa e a escola; 36- Tentar informar diariamente sobre seus progressos; 30 37- Incentivar as crianças a criarem sua própria organização; 38- Essas crianças necessitam de previsão, precisam saber o que virá posteriormente; 39- Premiar, alimentar, aprovar e estimular; 40- Incentivar o respeito com crianças maiores e em muitos casos pode escrever o que eles falam. Assim ajudará a que escutem melhor e compreenda melhor; 41- A escrita pode estar muitas vezes comprometida. Assim, utilizar também outras formas avaliativas, como prova oral; 42- Estabelecer o silêncio da classe antes de começar a ensinar; 43- Cuidar que cada criança tenha um companheiro para os trabalhos; 44- Explicar e dizer que ele é normal, para evitar que ela seja estigmatizada; 45- Reunir-se com os pais frequentemente. 46- Promover a leitura em voz alta em casa e em sala de aula quando possível; 47- Repetir, repetir e repetir; 48- As crianças devem fazer exercícios físicos, gastando a energia excessiva; 49- Prepare previamente os alunos para a atividade; 50- Buscar nessas crianças seus momentos brilhantes. Elas muitas vezes são dotadas de muita criatividade, espontaneidade e bom humor; 51- Não tentar mudar as condutas não desejadas todas ao mesmo tempo, elegendo uma ou duas condutas; 52- As recompensas devem ser dadas no momento imediato ao comportamento adequado; 31 53- É preferível utilizar da premiação em vez de castigos; 54- Tentar evitar situações onde essas crianças passem muito tempo inativas, situações que elas não podem controlar; 55- Fazer o possível para não prestar atenção somente nas condutas indesejadas, ressaltando as desejadas; 56- Ter em mente a falta de capacidade da criança em muitos momentos, pois ela pode agir inadequadamente não por má fé e sim por causa da sua impulsividade; 57-Organizar a sala em fileiras; 58- O professor deve conseguir mover-se com facilidade na sala de aula; 59- Os alunos TDA devem estar perto do professor; 60- Colocar ao lado da Criança TDA um aluno que seja modelo apropriado. 32 6.6. O TDAH E O PSICOPEDAGOGO De acordo com Zorzan (2010) a psicopedagogia foi construída a partir de duas áreas, a pedagogia e a psicologia. Onde também teve influência da psicanálise, da lingüística, da semiótica, da neuropsicologia, da psicofisiologia, da filosofia humanista-instrumental e por fim da medicina. A psicopedagogia, segundo Leite e Ferreira (2008), trabalha diretamente com a dificuldade de aprendizagem da criança. Supre a defasagem, dando base e possibilitando a aprendizagem de novos conteúdos. Para Santos (2011) a psicopedagogia é uma ciência que se ocupa com o problema de aprendizagem, tendo em vista os seguintes pontos: “Como a criança aprende?”; “Como sua aprendizagem varia?”; “Como se produzem as alterações de sua aprendizagem?”; “Como reconhecer, tratar e prevenir os problemas de aprendizagem?”. No caso do portador do TDAH, segundo Leite e Ferreira (2008), pode vir a apresentar uma defasagem dos conteúdos devido a sua desatenção, falta de autocontrole, podendo assim, causar dificuldades específicas na aprendizagem. De acordo com Koenig (2010) essa síndrome é uma doença educacional tratável, no intuito de amenizar os sintomas por ela apresentados, pois ela não tem cura. Atualmente muitas curiosidades sobre o processamento cognitivo dos portadores do transtorno são escritas pelos autores. Eles acreditam que seu pensamento se processa de forma diferenciada fazendo com que tenham características que os 33 tornam especiais. Apesar de não existir comprovação científica para tais afirmações, este assunto será abordado como forma de se entender como ocorre o pensamento da criança TDAH e também como interesse sobre afirmações recentes sobre a síndrome. Bueno (2005) faz a seguinte relação. A atenção é a via de entrada na vida intelectual da criança. E como visto no trabalho, a criança TDAH tem sua atenção deficitária frente à estímulos. A atenção inicia-se a partir do objeto concreto e posteriormente ao abstrato. E é a partir do pensamento abstrato que a criança alcança a fonte de grande poder intelectual e de criatividade. Quanto ao pensamento da criança portadora do TDAH sabe-se que ela apresenta dificuldade em prestar atenção em apenas um estímulo, mediante a sua sensibilidade aos estímulos externos, dessa forma ela traça um emaranhado de associações que se acercam da abstração. A autora acredita que a criança TDAH tem uma capacidade de abstração imensa que a leva a uma capacidade intelectual e criativa elevadas. Porém, Barkley (2011) discorda assinalando que afirmações sobre as capacidades especiais referidas por diversos autores são equivocadas, de caráter apenas especulativo, sem base científica. Segundo o pesquisador, não há nenhuma vantagem ou habilidade especial em ser portador do TDAH. E a síndrome deve ser levada a sério, pois ela é um transtorno que traz muitos prejuízos na vida de uma pessoa. A Associação CAHAD (2012) publicou afirmando que golfe é o esporte perfeito para a pessoa TDAH. Que em muitos momentos ela terá dificuldade em se focar, entretanto em campeonatos onde os estímulos são imensos, a pessoa portadora 34 consegue se focar melhor, apresentando uma super atenção no jogo. Onde muitos famosos do esporte são portadores. Apresentando ou não capacidades especiais, é fato que tais características o prejudicam ativamente na aprendizagem. Os exercícios propostos dentro da sala de aula em muitos momentos são monótonos, as são formadas por alunos que conversam ou levantam das carteiras em momentos inadequados. Ou seja, são diversos os estímulos dentro de uma sala de aula. Vale assinalar que o método de ensino atual se utiliza do construtivismo como base filosófica. Mortimer (1996) descreve o construtivismo como o momento em que o aluno gostaria de fazer um comentário sobre determinado assunto ou acrescentar alguma informação sobre, passaria a ganhar valor e ser como instrumento ativo no processo da educação. No método o aluno passa a ter voz ativa, e ele faz sua própria busca pelo conhecimento. O professor tem papel de mediador entre o aluno e o conhecimento. De acordo com Zorzan (2011) a psicopedagogia tem como pressuposto de que para ocorrer a aprendizagem deve haver uma relação entre o nível cognitivo e a motivação, além do organismo e do corpo. Os quais é a mesma concepção do construtivismo, onde ocorre a circulação dos saberes entre o mediador e a criança. Portanto, se há um profissional como o psicopedagogo que entende meticulosamente sobre a aprendizagem de uma criança portadora do TDAH, será possível gerar uma inclusão mais adequada dessa criança na sala de aula. O professor pode ser orientado por este profissional e assim se criar um trabalho interdisciplinar 35 para promover o desenvolvimento dessa criança. Como o método da educação é o construtivismo, fica facilitada a inclusão dela se for trabalhada estrategicamente. Segundo Leite e Ferreira (2008) pode-se usar técnicas na clínica psicopedagógica como o trabalho com jogos que possuam regras, como forma de internalizar regras e limites, saber ganhar e perder, desenvolver cognitivamente e identificar onde cometeu o erro corrigindo-o. Outro método de trabalho é a partir da escrita, como escrever um livro e ilustrá-lo, como meio de despertar a admiração pela criação de um trabalho seu, podendo estender isto para as lições de casa. Pode-se despertar o gosto pela leitura a partir de temas de seu interesse. Aguçar sua curiosidade pelos livros, revistas e gibis. E outra possibilidade é o uso de contos de fadas e dramatização deste. 36 7. CONCLUSÃO Na busca por material sobre a síndrome pude levantar diversos dados que antes da elaboração deste trabalho eram desconhecidos para mim, fazendo com que algumas hipóteses tenham se confirmado ou ganhado uma nova configuração. Como problema deste trabalho, “Até que ponto o psicopedagogo desempenha papel fundamental no acompanhamento de crianças portadoras do TDAH?”. O psicopedagogo possui um papel essencial. Muitos psicopedagogos acreditam que todas as pessoas deveriam ter um psicopedagogo por de trás delas. Mas ao menos digo que a criança portadora do TDAH deve ter um psicopedagogo por detrás delas. Faço tal afirmação como forma de proteger a criança. Atualmente a indústria de medicamentos se mostra forte, as crianças são críticas e cheias de opinião sobre as coisas e o método atual de ensino é o construtivismo. Ou seja, os professores têm que ter muito “jogo de cintura” para dar conta de uma sala de aula. Situações como “falta de limites”, “desmotivação”, muitas vezes podem ser solucionadas em uma reunião com os pais. Ou apenas estabelecendo limites claros. Entretanto, vale lembrar que o TDAH é de base neurológica e ultrapassa o querer da criança. Então por mais que o professor insista em certos comportamentos do aluno, possivelmente ele não vai conseguir atingi-los. Podendo gerar uma grande frustração para a criança, pois por mais que ela se esforce ela não consegue. Nesses momentos é natural pensar em um “botão de desliga” para esses comportamentos da criança ou um medicamento que faça o mesmo. 37 Mas, como foram expostos no trabalho, tais medicamentos são limitados. Sua ação é curta e em pesquisa longitudinal, percebeu-se que sua eficácia acaba por se perder. Sem considerar ainda os efeitos colaterais causados. Ou seja, não faz sentido apenas medicá-la, pois ela não está aprendendo a lidar com o seu próprio TDAH. Não está aprendendo a conviver com ele e criar estratégias que facilitem sua vida. Por tais razões é necessária a colaboração de um profissional como o psicopedagogo, vendo que a criança dificilmente criaria métodos para lidar consigo mesma. Há grande probabilidade de que ela apenas permaneça em seu sofrimento e atraso, caso não puder contar com profissionais que a compreendam e colaborem de forma positiva para seu desenvolvimento e ganho de autonomia. Talvez nas afirmações especulativas sobre super habilidades dos portadores tenham um fundo de verdade quanto à possibilidade de eles explorarem formas de pensar que sem o TDAH possivelmente não seriam experimentadas. E o psicopedagogo torna-se importante no momento de se explorar tais habilidades. Concluo também que a dificuldade está na regulação do foco, ou seja, não é desatenção. A criança tem atenção, mas em muitas coisas ao mesmo tempo. Ela pode estar desatenta para uma atividade, mas está atenta para alguma outra coisa. 38 8. 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